Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
page 1 / 3
M
horas de trabalho, uma média de oito horas por dia, sete dias por semana. Após o trabalho na ISI, Gates
foi convidado por um de seus sócios a se mudar por um período de três meses para Bonneville, cidade ao
sul do estado de Washington, para desenvolver os programas para a enorme usina de energia da cidade.
Durante uma primavera inteira ele desenvolveu os sistemas sob a supervisão desse sócio da ISI, John
Norton, uma das pessoas de que, segundo ele, mais aprendeu sobre programação. Como você pode
perceber, este seria apenas o início de uma longa jornada que levaria Bill Gates a cumprir suas mais de
10 mil horas de treinamentos, antes de acumular conhecimentos para revolucionar a informática. Também
foi assim com os Beatles, um dos maiores grupos de rock de todos os tempos, que mudaram a música
popular americana a partir de 1964, quando desembarcaram nos Estados Unidos pela primeira vez. O
que poucas pessoas sabem é que essa invasão britânica só foi possível depois de uma incontável
quantidade de horas de ensaios e shows. Lennon e McCartney começaram a tocar juntos em 1957, mas
seriam necessários mais três anos até que o quarteto (além deles havia Ringo Star e George Harrison)
encontrasse seu caminho para o sucesso em um bar de Hamburgo, na Alemanha. Segundo Philip Norton,
autor de Shout!, a biografia dos Beatles, o dono de uma boate de strip-tease na cidade alemã teve a ideia
de levar bandas de rock para tocar em diversas casas de show de uma forma muito peculiar. As
apresentações seriam ininterruptas, praticamente 24 horas por dia, para atrair quem estivesse passando
na frente das boates, a qualquer hora do dia ou da noite. Os Beatles tocaram em Hamburgo durante cinco
temporadas, entre 1960 e 1962. Na primeira, eles tocaram um total de 106 vezes, sendo que cada
apresentação durava no mínimo cinco horas. Quando o quarteto começou a fazer sucesso, Lennon e
seus amigos acumulavam 1.200 shows, volume que muitas bandas não chegam a alcançar durante sua
carreira inteira. Se fizermos uma analogia entre os grandes empreendedores que estão no Startup Brasil
e as histórias do livroOutliers, veremos que todos tiveram uma grande exposição ao mundo profissional
desde muito cedo. Ou seja, antes que se dessem conta, a quilometragem de sua experiência estava rodando
desde muito cedo, em alguns casos ainda na infância. Vejo esses estímulos mentais que são desenvolvidos
na infância e juventude como algo que pode ser comparado ao aprendizado de um novo idioma. Da mesma
forma que é muito mais fácil aprender uma nova língua nos primeiros anos de vida do que na vida adulta, o
contato com os negócios ainda cedo certamente foi vital no aprendizado dos nossos personagens. Um novo
jeito de fazer negócios Outra característica marcante desses grandes empreendedores de sucesso é a
dedicação total aos seus negócios. No dia a dia das empresas, isso significa que muitas vezes eles
colocam em segundo plano outros componentes importantes de suas vidas, como família, amigos, lazer e
até a própria saúde. É comum isso acontecer pelo menos até que eles alcancem o topo de suas
ambições, quando finalmente começam a dedicar mais tempo a si mesmos. Muitos têm dificuldade em
manter uma vida equilibrada e acabam se distanciando de questões pessoais. No entanto, vários dos
empreendedores que contam suas histórias no Startup Brasil têm um perfil mais humanista, conseguindo
lidar com um intenso volume de trabalho sem deixar de se dedicar também a família, lazer e saúde. Isso é
mais presente em parte deles, porém todos parecem conseguir (ou ao menos buscar) certo equilíbrio em
suas vidas. Talvez exatamente por esse motivo tenham conseguido levar suas empresas a um estágio
tão bem sucedido. Marcus Hadade, da Arizona, por exemplo, tem a busca por uma vida equilibrada como
uma de suas prioridades. Embora trabalhe quase doze horas por dia, ao deixar o escritório ele faz
questão de se entregar verdadeiramente à vida pessoal. “Se tenho meia hora com minha esposa,
esqueço o telefone e o e-mail. Fico com ela de verdade. Três vezes por semana, reservo um horário para
me exercitar. Nesses momentos, da mesma forma, fico absolutamente focado na minha prática. Enxergo
claramente a importância de ter disciplina, dividir bem o tempo e estabelecer prioridades. E felizmente
tenho conseguido praticar isso na minha vida”. Para Vasco Carvalho Oliveira Neto, da AGV Logística,
esse equilíbrio é mais desafiante. Sua jornada diária de trabalho costuma tomar quase todo seu tempo e,
para compensar, ele procura preservar os finais de semana para o convívio com a família. Além disso, já
faz alguns anos que não abre mão dos trinta dias de férias anuais, tempo em que fica com a família e se
desliga totalmente da empresa, sem fazer contatos por telefone nem por e-mail. O fato é que esses
empreendedores já descobriram que sucesso sem equilíbrio é algo momentâneo, sem bases sólidas para
se perpetuar. Se o ritmo da empresa for alucinado, com horas intermináveis de trabalho, a equipe não
aguenta a pressão e vai embora. Com a troca constante de profissionais, a única cultura que se perpetua
é a do estresse. Identificamos na maioria dos presentes no Startup Brasil uma visão mais ampla
das relações com familiares, amigos, clientes, fornecedores e colaboradores. São
empreendedores que mantêm um canal aberto para certa sensibilidade e que buscam uma vida
equilibrada com bom relacionamento com as pessoas que os cercam. São pessoas que
page 2 / 3
M
claramente têm um sucesso pautado em bases sólidas e, portanto, “sustentável”. Empreendedores de alma ou
excelentes planejadores Outra característica notória entre esses grandes empreendedores, com
exceção de Vasco Oliveira, da AGV Logística, é a ausência de planejamento no início dos negócios.
Muitos começaram sem planos de negócio detalhados, análises de mercado ou planilhas de fluxo de
caixa. Foram empreendedores que começaram com a alma e a mais pura intuição, inserindo só
mais tarde o planejamento em suas rotinas. Elói D’Ávila de Oliveira, da Flytour, é um exemplo disso.
No início, a experiência de vida foi seu maior ativo. Para dar o pontapé inicial, contou com seus
desejos e intuições, além de uma rede razoável de contatos. Assim como em outras histórias
contadas aqui, a partir de determinado estágio de amadurecimento do negócio, Elói passou a
incorporar o planejamento como importante ferramenta para o crescimento de suas operações. Esta
decisão surgiu depois, e não antes, que ele fizesse as bases de sua bem sucedida operadora de
turismo. Esse perfil confirma uma das bases de um recente estudo publicado por Saras D.
Sarasvathy, uma proeminente pesquisadora do comportamento empreendedor e professora da
Darden Graduate School of Business, da Universidade de Virginia. Seu livro “Effectuation, Elements of
Entrepreneurial Expertise” apresenta uma tese controversa, segundo a qual a maioria dos
empreendedores norte-americanos parte para a execução sem um planejamento prévio. Isso ocorre pelo
simples fato de suas ideias embrionárias terem variáveis demais para serem pensadas dentro de um plano
de negócio. Por isso, eles preferem construir seu futuro a pensar nas chances de cada uma das variáveis
dar certo ou errado. Esse grupo de empreendedores é classificado por ela com sendo do tipo
“effectuation”. Seus negócios não são fruto da causa, mas sim dos efeitos de suas ações. Pessoas com
esse perfil são responsáveis pela criação da maior parte dos negócios no mundo. Do outro lado, estão os
empreendedores classificados como “causation”, aqueles que buscam primeiro entender a causa por trás
de seus negócios por meio de planejamentos mais profundos na tentativa de controlar todas as variáveis
necessárias para a empresa dar certo. Embora minoria, sua atuação pode influenciar os empreendedores
tipo “effectuation” a darem o salto seguinte em seus negócios já iniciados, rumo a um bom planejamento e
plano de negócios. Diante disso, arriscamos afirmar que sair da inércia e fazer acontecer é muito mais
importante no início de um negócio do que fazer business plan e pesquisas que demandam muito tempo e
dinheiro. Isso não significa uma postura contrária ao planejamento, de forma nenhuma. Embora muitas
empresas do Startup Brasil tenham tido grandes conquistas sem o auxílio de qualquer plano de negócios,
elas passaram a adotar sofisticadas ferramentas de planejamento à medida que os negócios cresceram e
se solidificaram. Depois que a empresa subiu os primeiros degraus, em todos os casos ficou clara a
importância do investimento em planejamento, para conseguir um crescimento sustentável e consistente. Pedro
Mello lidera o Grupo Quack e comando o famoso Blog do
Empreendedor (exame.abril.com.br/rede-de-blogs/empreendedor) e o
canal Empreendedorismo do YouTube (www.youtube.com/empreendedorismo). Lança em março seu
novo livro, “Startup Brasil”, em coautoria com a jornalista Marina Vidigal e sob o selo Ediouro, que aprofunda os
temas aqui abordados retratando os empresários Miguel Krigsner, Alexandre Costa (Cacau Show - rede de
franquias de chocolate), Daniel Mendez (Gran Sapore – restaurantes corporativos), Elói D’Ávila de Oliveira
(Flytour – operadora de turismo), Maurício de Sousa (Turma da Mônica – histórias em quadrinhos e
licenciamento de personagens), Marcus Hadade (Arizona – tecnologia para agências de publicidade), Pedro
Cabral (Agência Click – agência digital), Romero Rodrigues (Buscapé – site de comparação de preços), Gilberto
Mautner (Locaweb – hospedagem de sites) e Vasco Oliveira (AGV Logística – operador logístico). Leia mais
Vinho e espumante estão na mesa dos brasileiros Vanguarda tecnológica e calor humano Das aulas particulares
de inglês a empreendedor de sucesso
page 3 / 3