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EDUCAÇÃO BÁSICA PÚBLICA DE QUALIDADE PARA TODOS:

ALGUNS IDEÁRIOS PEDAGÓGICOS

NASCIMENTO, Franc-Lane Sousa Carvalho do1 - UFRN

MAGALHÃES, Nadja Regina Sousa2 - UFSC

CRUZ, Maria Áurea Mascarenhas3 - EMJS

Grupo de Trabalho - História da Educação


Agência Financiadora: não contou com financiamento

Resumo

O presente artigo analisa a educação básica pública de qualidade para todos, seus desafios e
perspectivas no processo de democratização. Compreendemos que o Brasil em nível de oferta
de vagas para a educação básica tem cumprido seu objetivo, mas a qualidade social oferecida
relacionada às dimensões: formação inicial e continuada; gestão; financeira; infraestrutura;
dentre outras, tem deixado a desejar. Nesse estudo analisamos a formação, profissionalização
docente na interface com a qualidade da educação. Para tanto, seguimos os princípios e
ideários pedagógicos de teóricos reconhecidos como os clássicos e os contemporâneos da
educação, os quais nos possibilita descobrir e redescobrir as concepções que marcaram o
processo de transformação do cidadão. Assim, partimos do seguinte problema de pesquisa:
Qual a concepção de formação e como está sendo desenvolvida para favorecer no processo de
ensino e aprendizagem na interface com a qualidade da educação básica pública?
Delimitamos como objetivo: Discutir as concepções dos teóricos clássicos e contemporâneos
sobre formação e a profissionalização docente tendo em vista a qualidade da educação básica
pública e o processo de democratização. Portanto seguimos os princípios teórico-
epistemológicos de autores renomados nesta área, tais como: Coménio (1985); Pestalozzi
(1996); Lutero (2000); Freire (1995); Miguel (2004); Teixeira (1968); Mesquida (1994);

1
Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN. Integrante do Núcleo de
Pesquisa Formação e Profissionalização Docente - UFRN. Mestre em Educação pela Universidade Federal do
Piauí - UFPI. Professora Assistente I da Universidade Estadual do Maranhão - UEMA. Curso de Pedagogia
(2000). Coordenadora Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Caxias. Coordenou o Núcleo de
Educação a Distância - UEMANET de 2002 a 2011. franclanecarvalhon@gmail.com.
2
Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Integrante do Núcleo Vida e
Cuidado: Estudos e Pesquisas Sobre Violências – NUVIC. Graduada em Pedagogia (2001). Trabalhou no Curso
de Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, Núcleo de Tecnologias para Educação –
UEMANET. (2010). nadjamagalhaes@yahoo. com.br.
3
Graduada em Geografia e Especialista em Educação Ambiental pela Universidade Estadual do Maranhão -
UEMA. Professora da Educação Básica do Sistema Pública Municipal de Coelho Neto, Escola Municipal José
Sarney. Trabalhou no Curso de Pedagogia pela Universidade Estadual do Maranhão - UEMA, pelo Núcleo de
Tecnologias para Educação - UEMANET. maureamc@hotmail.com.
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Araújo (2009); entre outros. Compreendemos que ao longo da trajetória histórica não
dispomos de uma educação básica pública de qualidade para todos, por não ser uma
prioridade das políticas educacionais, em consequência a sociedade e os profissionais da
educação reivindicam uma educação de excelência. A sociedade, Estado e a universidade
devem assumir sua responsabilidade social diante do ensino público, de forma que a escola
possa estabelecer um diálogo com o professor e a família, pois, acreditamos na reflexão
coletiva para o desenvolvimento de políticas educacionais mais eficientes e democráticas.

Palavras-chave: Educação Básica. Qualidade. Formação. Profissionalização.

Introdução

A educação básica públicas de qualidade para todos faz parte de uma política pública
que precisar ser melhor discutida, visto que existem grupos da sociedade que ainda não teve
seu direito resguardado, quando refletimos sobre educação de qualidade para todos, nos
deparamos com um problema recorrente que vem sendo analisado pelos teóricos clássicos e
os contemporâneos, neste trabalho temos como objetivo também ressaltar na visão
epistemológica dos teóricos da educação a concepção sobre a democratização de uma
educação de qualidade, mesmo sabendo da complexidade e dos desafios que nos remetem
esta investigação. Pois, no ideário da modernidade já encontramos algumas perspectivas de
superação da desigualdade educacional, a história pode favorecer no entendimento deste
paradoxo e possivelmente encontramos algumas respostas para a educação do futuro.
Etimologicamente a palavra qualidade segundo Ferreira (1986, p. 165) significa, “1.
Propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas que as distingue das outras e lhes
determina a natureza.” Neste sentido, qualidade é uma condição de excelência, de alguém ou
de alguma coisa. É um predicado de ser ou está bem feito. Afirmamos que a qualidade
discutida neste trabalho não é sinônimo de "qualidade total", pois, a educação de qualidade
defendida, é compreendida como aquela que cria condições de aprendizagem para a formação
de um cidadão crítico e participativo nas decisões sociais e políticas.
Portanto, uma escola e uma educação de qualidade é aquela que: tem compromisso
político e social com a aprendizagem dos alunos, os professores e gestores acreditam e
promovem um trabalho diferenciado e os alunos vão à instituição sabendo que atenderá às
suas necessidades. Para Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 32-33) “A transformação da
realidade educativa passa por um exercício da docência e das ações educativas na sala de aula,
na escola e na sociedade como espaço de interação e interdependência; [...].” Desta forma,
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uma educação de qualidade passa pela primazia das atividades educativas, favorecendo na
aprendizagem significativa do aluno.
Esta política pública educacional de busca pela qualidade tendo em vista a trajetória
história da educação brasileira é importante e atual, pois, a formação do professor e a
qualidade da educação pública é uma preocupação para a sociedade e até mesmo para o poder
público que sente a necessidade de oferecer uma formação sólida para que o professor possa
desenvolver suas funções e acompanhar as transformações das relações sociais e do trabalho
da sociedade globalizada.
A formação profissional é entendida por Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 84)
como: “[...] o processo permanente de aquisição, estruturação e reestruturação de condutas,
saberes, habilidades, ética, hábitos inerentes ao desenvolvimento de competências para o
desempenho de uma determinada função profissional.”Assim no processo da
profissionalização docente é necessário à mobilização de saberes, competências e habilidades,
os quais devem ser fundamentais e obrigatórios na organização do currículo da formação. É
uma relação de subordinação do ato de ensinar ao ato de aprender.
Assim, em um estudo minucioso, baseado em fontes estatísticas e iconográficas,
Mesquida (1994) preenche uma lacuna na história da educação brasileira que, dimensiona
com pertinência a educação de orientação católica. Tendo em vista a complexidade da cultura
brasileira que evidencia a necessidade de estudos que dinamizem os interstícios da história. O
autor defende que não existe um curso unívoco na história e que cabe à pesquisa identificar e
explicar as configurações sociais e culturais peculiares na vida dos homens. Especificamente
no segundo capítulo, “Os espaços da formação: desenvolvimento qualitativo e quantitativo da
educação na região sudeste – 1820-1890”, constrói uma síntese histórica que ressalta a
tentativa de secularização da educação brasileira pela Reforma Pombalina e descreve a
criação das Academias no período da transferência da Corte para o Brasil até a Independência.
Desta forma, especificamos este segundo capítulo por considerar sua importância para
a discussão sobre a qualidade da educação básica pública, tendo em vista os primórdios da
educação brasileira, sabendo que a realidade sócio-cultural demonstra à necessidade de ações
efetivas e de políticas públicas que sejam direcionadas as necessidades de formação do
professor e da aprendizagem dos alunos das classes menos favorecidas, para que não temos
como referencia a dualidade do sistema educacional brasileiro, presente durante toda a
história da educação, a mudança é necessária e urgente.
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Educação básica pública de qualidade e o processo de democratização

Compreendemos que o processo de transformação da educação básica pública de


qualidade para todos, exige ações consolidadas na melhoria das condições de trabalho do
professor, mais recursos financeiros para melhorar a infraestrutura das escolas, recursos
didáticos, bibliotecas, formação docente consolidada em teorias críticas. Nesta perspectiva a
formação docente deve ser associada às necessidades do ofício de ensinar, buscando práticas
de excelência que garantem e resultem na efetiva aprendizagem dos alunos.
Estas diretrizes foram também defendidas por Coménio (1985), quando propõe que
todos os homens fossem educados plenamente de forma integral, desenvolvesse a capacidade
de saber a verdade e não ficassem iludidos pelo que é falso; deveriam falar sabiamente sobre
tudo. Esta Pedagogia é baseada na máxima, de "Ensinar Tudo a Todos", estes fundamentos
permitiriam ao homem colocar-se no mundo como autor. O professor passaria a ser um
profissional bem remunerado e reconhecido socialmente.
O ideário pedagógico deste autor quando estudado com as concepções dos teóricos
contemporâneos, observamos o paradoxo das relações sociais dos profissionais da educação e
da sociedade enfrentados na atualidade, tais como: a função social e política da escola
pública, a universalização do acesso como uma dimensão da qualidade que emergi como
elemento da democratização do saber, que ainda não se efetivou em sua plenitude, sendo
imprescindível a discussão sobre as diretrizes da qualidade da educação e a expansão da
escolarização. Como são consolidadas as políticas públicas educacionais e qual a visão do
Estado (governo) sobre a qualidade dos serviços oferecidos a população?
Nesta perspectiva o governo para Erasmo (s/d) deveria zelar pela imagem do educador
e o Estado fazer parceria com os órgãos privados visando à melhoria das condições tanto do
educador como do educando. Defendia os seguintes princípios: que o homem tornava-se
humano por meio da educação; a democratização da educação; os pais deveriam providenciar,
já nos primeiros anos de vida da criança, um competente pedagogo; o processo de ensino e
aprendizagem deveria ser baseado nos fundamentos filosóficos e no controle racional, pelo
contrário, ficaria propícia a erros e perigos. De acordo com Erasmo (s/d, p.53) “A filosofia
ensina mais em um único ano do que em trinta anos a mera experiência por enriquecedora que
seja. Seu ensinamento põe segurança onde muitos, assistidos apenas pela prática, mais
fracassam triunfam.” Acreditava na sistematização do conhecimento através da razão e na sua
democratização para todos, pobres e ricos.
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Estes fundamentos ainda são defendidos na atualidade, pois estamos em busca: da


democratização da educação de qualidade; formação consolidada em princípios técnicos e
científicos para o professor; melhores condições de trabalho e salários justos. Para Erasmo
(s/d), as características indispensáveis do pedagogo são: a maturidade, a afetividade e o saber
conviver com as diferenças, ou seja, não discriminar os alunos pobres ou ricos, incentivar o
aluno mesmo diante de um erro, instruindo-o a agir de modo correto. Desta forma, aquele que
ensina não é apenas um transmissor de conhecimentos, mas sim, aquele que servirá de modelo
para o educando, já que transmite valores e modos de vida.
Assim, o professor deve ser correto, ter maturidade e afetividade, pois, é um modelo
que o aluno pode ter como referencia na vida adulta. Sendo indispensável que sua formação
possa assegurar além do domínio dos conteúdos, a possibilidade de conhecer e criar
sequências didáticas centradas na aprendizagem significativa dos alunos. Pressupostos
defendidos nos fundamentos educacionais da Didática Magna, assim, nós,

[...] ousamos prometer uma Didática Magna, isto é, um método universal de ensinar
tudo a todos. E de ensinar com tal certeza, que seja impossível não conseguir bons
resultados. E de ensinar rapidamente, ou seja, sem nenhum enfado e sem nenhum
aborrecimento para os alunos e para os professores, mas antes com sumo prazer para
uns e para outros. E de ensinar solidamente, não superficialmente e apenas com
palavras, mas encaminhando os alunos para uma verdadeira instrução, para os bons
costumes e para a piedade sincera (COMÉNIO, 1985, p. 45-46).

Segundo este teórico a Didática Magna seria a efetivação de um método universal para
ensinar tudo a todos sem distinção de sexo e poder aquisitivo, confirma ainda, Coménio
(1985, p. 139), “Que devem ser enviados às escolas não apenas os filhos dos ricos ou dos
cidadãos principais, mas todos por igual, nobres e plebeus, ricos e pobres, rapazes e raparigas,
em todas as cidades, aldeias e casais isolados [...].” Neste ideário pedagógico encontramos um
processo de democratização da educação já que defendia também fundar escolas universais.
Compreende que ensinar e aprender é um trabalho sério e exige perspicácia de juízo, para se
ensinar: os fundamentos; as razões; os objetivos das ciências e as coisas principais tanto da
natureza como as construídas pelo homem.
Mesmo diante das mudanças sociais não podemos esquecer os fundamentos dos
teóricos clássicos que já defendiam uma educação de qualidade para todos, com condições de
aprendizagem de forma integral e professores bem formados em princípios éticos e políticos.
Na atualidade com o esvaziamento da qualidade da educação pública, vem ocorrendo um
direcionamento de propostas alternativas para a escola associado à urgência, que segundo
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Rios, (2001, p.21) de “[...] qualificar a qualidade, refletir sobre a significação de que ela se
reveste no interior da prática educativa.” São necessárias iniciativas que possam favorecer na
consolidação de uma educação de qualidade, sendo preciso o envolvimento de todos neste
processo, inclusive o professor. Para que, o desempenho escolar dos alunos alcancem
melhores resultados, são necessários professores que sejam: competentes, comprometidos e
apoiados pedagogicamente pela direção da escola e pelos órgãos centrais.
Por tanto, cabe ao poder público estabelecer políticas educacionais de formação de
professores associada à produção de conhecimento reflexivo, crítico, político e transformador,
o que somente se conseguirá a partir da melhor qualidade da prática de ensino e
aprendizagem, em todos os níveis do sistema público de ensino. À sociedade cabe assumir sua
responsabilidade de participação na educação pública, pois essa é a principal forma de
controle da qualidade das atividades pedagógicas desenvolvidas e da aplicação de recursos
educacionais dentro de cada realidade.
O ideário pedagógico de uma educação pública de qualidade e a democratização de
acesso e permanência não é novo, já defendia esta proposta o Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova (1984), este documento público teve grande repercussão, tinha como objetivo
precisar a nova política educacional defendia que: a diversidade de conceitos da vida provém
das diferenças de classes, da variedade de conteúdos com “qualidade socialmente útil”,
conforme a visão de cada um dos grupos sociais. O Estado em face da educação tem uma
função pública devendo oferecer: uma escola única; a laicidade, gratuidade, obrigatoriedade e
a coeducação. Defende a formação de professores em nível universitário e a unidade de
espírito, sendo o único meio de, elevar a cultura, e a vida sobre todos os horizontes, propõe
ainda uma obra educacional para todos, mas na sua trajetória existem suas controvérsias:

A Escola Nova no Brasil, não logrou a mudança da educação brasileira para um


patamar de qualidade extensivo a todos os cidadãos, ou seja, não conseguiu compor
um sistema de educação pública para todos, como desejavam os signatários do
Manifesto da Educação Nova (1932). As mudanças de conceitos atingiram as
Escolas Normais e conviveram com as práticas tradicionais na escola brasileira
(MIGUEL, 2004, p. 13).

Portanto, segundo a pesquisadora Miguel (2004), a Escola Nova no Brasil pode ser
compreendida como uma pedagogia burguesa que buscou expandir a escolarização até os
limites permitidos pelo capitalismo, representou a forma mais acabada que tomaram, no plano
educacional, as ideias do Humanismo Moderno, ou seja, o predomínio da Razão Humana.
Procurou manter a divisão entre as classes sociais, justificada pelas diferenças individuais;
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conviveu com a estrutura patriarcal e oligárquica, fundamentada no Liberalismo e na


expressão de uma nova classe que surgia. Mas, baseado na concepção dos Pioneiros da Escola
Nova para Miguel (2004, p. 13) “[...] surgiram novos conceitos, incontestáveis e irrevogáveis,
que marcaram definitivamente a história da educação, abrindo-lhe um novo rumo”.
Tendo em vista os princípios do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1984), e
sua repercussão a nível nacional, buscamos o que passa a defender a Constituição Federal de
(1988) sobre educação de qualidade, propõe uma educação como um direito subjetivo do
cidadão, sendo dever do Estado garantir o cumprimento deste direito. Na realidade ao se
democratizar a educação, nem sempre se pautou pela busca da qualidade de ensino. Por tanto,
ainda não se cumprio suas determinação, pois, as escolas públicas da educação básica não
oferecem ainda uma educação de qualidade a todos.
Educação básica pública de qualidade é uma das propostas da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional - LDB n. 9394 de 20 de dezembro de 1996 em seu Art. 3. “O
ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: IX - garantia de padrão de
qualidade” (BRASIL 1996, p. 01). A LDB trouxe alguns avanços para a educação, mas, está
sendo incapaz de garantir o objetivo de: oferta de educação básica público de qualidade para
todos. A qualidade do ensino só pode ser compreendida sob a concepção da aprendizagem
desenvolvida pelos alunos, sendo que não há qualidade de ensino quando o aluno deixa de
apreender, tendo como base esse princípio à educação ainda deve melhorar na qualidade.
Desta forma, não pode existir uma expansão da educação desordenada, sem
planejamento, seguindo critérios puramente quantitativos, sendo fundamental uma
democratização embasada em uma ampla discussão comprometida com critérios de qualidade.
Pois, pensar a educação escolar como um direito que deve ser estendido a toda a população,
demanda escolas gratuitas de qualidade de todos os níveis de ensino, assim,

[...] nunca houve, de fato, um debate público consistente sobre a melhoria da


qualidade do ensino oferecido pela escola pública brasileira. Os nossos políticos
primaram pela construção de escolas para toda a população, sem que fosse dada a
ênfase necessária na questão da qualidade do ensino [...] (OLIVEIRA E ARAÚJO,
2005, p. 09).

O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova (1984), tornou-se um ideário


pedagógico que orienta a educação até a atualidade, já que pensava em sua democratização.
Para Teixeira (1968, p. 99) a relação entre democracia e educação, só pode existir se houver
educação para todos, afirma ainda que, a forma democrática implica um, "[...]
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desenvolvimento social e político, que tem por base a educabilidade humana, e no qual a
educação é concebida como processo deliberado, sistemático, progressivo e, praticamente,
indefinido de formação do indivíduo e de realização da própria forma democrática." Contrário
a este ideário, na atualidade vivenciamos uma educação que apresenta oferta de vagas para a
população, mas a qualidade ainda não está consolidada na prática.

Formação, profissionalização e a educação básica pública de qualidade

Os estudos sobre formação, profissionalização docente e a qualidade da educação


básica pública, nos apresentam controversas que ainda precisam ser analisadas, segundo Paro
(2001), a escola pública tem baixa qualidade, porque, em seus métodos e conteúdos, não
favorece a atualização histórico e cultural do aluno, de modo a se construírem como sujeitos
históricos e para a vivência da cidadania. É urgente a necessidade da consolidação de uma
política pública que valorize a qualidade em detrimento da quantidade. Nos ideários de Lutero
(2000, p. 05) defende que “Quis, isso sim, seguir estimulando a sociedade a empenhar-se por
uma educação formal de qualidade.” Segui os princípios da qualidade e da democratização.
Na atualidade é vivenciado o paradoxo da valorização e desvalorização social e salarial do
professor, sendo também abordado por Lutero (2000, p. 110),

[...] nunca se pode recompensar o suficiente um professor ou mestre dedicado e


piedoso ou quem quer que eduque fielmente os meninos. Não há dinheiro que pague
isso, como também diz o pagão Aristóteles. No entanto, essa tarefa continua
desprezada tão escandalosamente entre nós, [...].

Baseado nos fundamentos de Lutero, a pesquisadora Araújo (2009, p. 02) esclarece


que “[...] a educação escolar era tarefa estrita de profissionais especializados.” É
impressionante perceber que é um discurso atual diante da situação vivenciada pelo professor
que ainda passa pela mesma desvalorização social e profissional e que continua lutando por
melhores condições de trabalho e reconhecimento por seu fazer pedagógico.
Por tanto, é necessário profissional especializado, é preciso que o Estado evidencie sua
importância como articulador de políticas educacionais. Pois, historicamente a educação
absorveu significados distintos de qualidade, construídos, condicionados pela oferta limitada
de escolarização, definido pela quantidade de alunos aprovados ou não, é a qualidade
associada a medidas de desempenho. Concorda com essa posição Beisiegel (2005, p. 160)
acrescenta que: “Não foram investidos no ensino os recursos exigidos pela dimensão do
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processo de democratização das oportunidades.” A expansão da educação se desenvolveu sob


pressão social, o que ocasiona escassez de recursos materiais e humanos.
Tendo como base os problemas apresentados relacionados à formação do professor e a
implementação de políticas públicas que tem como prioridade a quantidade em detrimento da
qualidade da educação, para Freire (1995, p. 50), é preciso "[...] trabalhar lucidamente em
favor da escola pública, em favor da melhoria de seus padrões de ensino, em defesa da
dignidade dos docentes, de sua formação permanente.” A transformação dos padrões de
quantidade e qualidade da educação para todos é necessário e urgente.
Na escola deve ser mudado as relações sociais, a forma de compreender o ato
educativo, pois, o desenvolvimento se efetiva pelo processo de reorganização e reconstrução
da experiência. O ato educativo é contínuo para transformação da vida, educar é crescer no
sentido humano, em um mundo adaptado e propício, para o homem se relacionar com o outro
e o meio, de acordo com Dewey (1978, p. 21),

[...] é pela educação que a sociedade se perpetua, se é pela educação que à geração
mais nova se transmitem as crenças, os costumes, os conhecimentos e as práticas da
geração adulta – educação é o processo pelo qual a criança cresce, desenvolve-se,
amadurece, poderia dizer-se.

Diante do exposto observamos a falta de preocupação do poder público com a


educação e com a qualidade das atividades desenvolvidas, para Pestalozzi (1996), a educação
é uma arte e deve ser cultivada em todos os aspectos, para se tornar uma ciência construída a
partir do conhecimento profundo da natureza humana, o professor deve ter uma formação
específica. Portanto, além das crianças, colocadas pelos pais em seu instituto, era frequentado
por jovens encaminhados pelos governos da Europa, destinados a serem professores da
instrução pública. Fica evidente neste contexto a preocupação com a formação do professor
da educação pública, o qual deveria ter uma formação integral, para trabalhar com a educação
das crianças e jovens em idade escolar, tendo em vista, as fazes de desenvolvimento bem
como a natureza de cada ser humano.
Podemos perceber de acordo com os ideários pedagógicos estudados tanto os clássicos
como os contemporâneos defendem uma educação pública de qualidade para todos é um
processo recorrente, que muitos educadores e pensadores brasileiros e estrangeiros lutaram e
propuseram diretrizes para a educação, mas que muitas não foram atendidas e levadas em
consideração, por não ser o objetivo maior da sociedade e do Estado, a oferta de uma
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educação que forme o cidadão integralmente, valorizando o ser humano como um ser críticos,
participativo, construtor e mobilizador de saberes.

Considerações Finais

Compreendemos nesta pesquisa que ao mesmo tempo em que se busca uma educação
de qualidade visamos automaticamente uma transformação social, visto que uma pessoa bem
formada fica mais consciente de seus direitos e do exercício da cidadania, enquanto um
espaço de participação social e política. Assim, para se consolidar uma educação básica
pública de qualidade como base na democratização do ensino, é importante: mais
investimentos, formação, valorização profissional e condições de trabalho, ou seja, a
implementação de políticas públicas educacionais igualitárias.
Neste estudo elegemos a dimensão formação na interface com a qualidade da
educação básica pública, é importante confirmar que a prática pedagógica e a formação de
professores devem está inter-relacionadas, já que o sucesso do trabalho pedagógico depende
de uma boa formação, ou seja, de um saber bem elaborado que corresponda aos desafios e as
expectativas da sociedade. A qualidade da educação está associada à aprendizagem do aluno,
o que requer do profissional uma ampla visão sobre as constantes mudanças educacionais e
sociais, assim, o professor deve estar em permanente formação.
Para alcançar o objetivo da democratização da educação básica pública de qualidade é
necessária a garantia de políticas públicas, favoráveis as reais necessidades das instituições
formativas de todos os níveis de ensino, valorizando os ideários pedagógicos tanto dos
pensadores clássicos como dos contemporâneos, pois, muitos estudos têm corroborado na
solução dos problemas educacionais. A escola pública como parte de um contexto social,
precisa está atenta para as mudanças relacionadas à construção do processo de
democratização de uma educação de melhor qualidade sendo imprescindível a participação
dos envolvidos no processo. A qualidade pode ser entendida como oportunidade de
emancipação do trabalho educativo, de forma que o aluno possa aprender.

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