Você está na página 1de 30

1

Uni-Anhanguera CENTRO UNIVERSITÁRIO DE GOIÁS


CURSO DE DIREITO

O MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO DIREITO PENAL COMO FORMA DE


RESSOCIALIZAÇÃO DO INDIVIDUO À SOCIEDADE

ETIENY DE MELO QUEIROZ

GOIÂNIA/GO
Setembro / 2016
2

ETIENY DE MELO QUEIROZ

O MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO DIREITO PENAL COMO FORMA DE


RESSOCIALIZAÇÃO DO INDIVIDUO À SOCIEDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Centro Universitário de Goiás – Uni-
ANHANGUERA, sob orientação do Professor
Frederico de Castro Silva, como requisito
parcial para obtenção do bacharelado em
Direito.

GOIÂNIA/GO
Setembro / 2016
3

TERMO DE APROVAÇÃO

ETIENY DE MELO QUEIROZ

O MONITORAMENTO ELETRÔNICO NO DIREITO PENAL COMO FORMA DE


RESSOCIALIZAÇÃO DO INDIVIDUO À SOCIEDADE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à banca examinadora como requisito parcial


para obtenção do Bacharelado em Direito do Centro Universitário de Goiás - Uni-
ANHANGÜERA, defendido e aprovado em _____ de ____ de _______ pela banca
examinadora constituída por:

____________________________________________
Professor Frederico de Castro Silva
Orientador

____________________________________________
Prof.
Membro

____________________________________________
Prof.
Membro
4

Dedico este trabalho e a minha carreira jurídica


primeiramente a Deus e a minha família, pelas
infindáveis vezes que acreditaram que seria
possível eu chegar lá.
É com muita honra que dedico esta pesquisa à
minha família, que esteve ao meu lado nesta
longa missão de me tornar uma nobre formada.
5

AGRADECIMENTOS

Agradecer é pouco, diante da grandiosidade recebida por


Deus. Sabedoria, discernimento, perseverança,
entusiasmo, coragem, todos esses dons adveio de ti meu
Deus, que esteve comigo desde o primeiro dia de aula, não
tenho palavras, somente gratidão, e a meu orientador pela
excelente orientação prestada diante dos seus orientandos.
6

“Aquele que apenas enxerga o óbvio, vence


suas batalhas com dificuldade, aquele que
olha abaixo da superfície das coisas ganhas
com dificuldade; aquele que olha abaixo da
superfície das coisas ganha com facilidade”

Sun Tzu – A arte da guerra.


7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................10

CAPÍTULO I - O CONTROLE SOCIAL POR MEIO DO DIREITO PENAL...............11


1.1 O DIREITO PENAL BRASILEIRO - CONSIDERAÇÕES INICIAIS.........................11
1.2 RELATO HISTÓRICO SOBRE O DIREITO PENAL..................................................12
1.3 CONCEITUANDO O DIREITO PENAL POR SEU SISTEMA LEGAL....................15
1.3.1 Fontes de Direitos do Arguido.....................................................................................16
1.3.2 Princípio da legalidade ou da Reserva Legal...............................................................16
1.3.3 Retroatividade do Direito Penal...................................................................................17
1.3.4 Devido Processo...........................................................................................................17
1.35 Presunção de inocência e encarceramento....................................................................17
1.4 MONITORAMENTO ELETRÔNICO - CONCEITO EVOLUTIVO...........................18

CAPÍTULO II - REINSERÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE ATRAVÉS DO


MONITORAMENTO ELETRÔNICO................................................................................22
2.1 Nomenclaturas do monitoramento eletrônico................................................................22
2.2 Gastos com a nova tecnologia.........................................................................................25
2.3 Ressocialização e reinserção laboral do apenado..........................................................26

REFERÊNCIAS......................................................................................................................29
8

RESUMO
9

ABSTRACT
10

INTRODUÇÃO
11

CAPÍTULO I - O CONTROLE SOCIAL POR MEIO DO DIREITO


PENAL

1.1 O DIREITO PENAL BRASILEIRO - CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A principal meta desse capítulo visa à demonstração entre o estabelecimento do


perfil do Direito Penal brasileiro, com fulcro numa retrospectiva de seus princípios que, em
sua maior parte, embasa-se na Constituição Federal de 1998, Constituição esta, redigida após
o sistema da ditadura militar, onde na época, vários direitos fundamentais do ser humano
foram violados de forma arbitrária.
Assim Alexi (2008, p. 45) define a ditadura militar:

Meios de comunicações controlados pela ditadura, julgamentos sem nexo causal,


torturas, prisões adversas sem motivos específicos, dominaram a época da do regime
militar, demonstrando assim, um sistema antidemocrático e autoritário, esquecendo-
se do principio da dignidade da pessoa.

Após este devaneio anti-social, nossa Carta Maior foi criada, onde o legislador
atentou-se na dignidade da pessoa humana, respeitando os direitos sociais e uma perfeita
funcionalidade de um sistema penal. Nesta ótica assim define Bueno (2013, p. 61) quando
refere-se ao andamento do direito penal:

Um sistema penal eficiente e funcional aberto, isto é, um sistema de direito penal


estruturado nos valores político-criminais que vise a uma construção dogmática
vizinha ou próxima da realidade. Um Direito Penal que seja concomitantemente
garantidor e funcional no sentido de proteção dos valores essenciais.

Nesta premissa também, criou-se os Juizados Especiais e as penas alternativas,


demonstrando a ideia de Estado Democrático Social e de Direito Jurídico, sendo a forma
penal, eficaz, legítima e mínima, observando lealmente os artigos de 1º a 4º da Constituição
da Republica Federativa do Brasil, assim regido pela Constituição Federal do ano de 1988:

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de
Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade
da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o
12

pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por
meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Art. 2º
São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o
Executivo e o Judiciário. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir
o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º
A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos
seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos
humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não-intervenção; V - igualdade
entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII -
repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso
da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República
Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos
povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana
de nações.

Historicamente o direito penal lançou mão de meios que a Constituição de 1988


aduziu. Houve no Direito Penal o extermínio da outra parte: trabalhos forçados, penas cruéis,
cuja finalidade era de humilhar a pessoa. Na Constituição Federal de 1988, o subsistema penal
serve a pessoa humana, mas também serve ao capitalismo.
A doutrina de Beccaria (1996, p. 148), costuma dividir a história do Direito Penal em
três períodos: da vingança, humanitário e científico, definido desta maneira na ótica do autor:

No período da vingança pode ser subdividido em vingança: privada, divina e


pública. Por se tratar dos primórdios da civilização não há de se entender que essas
três espécies de vingança se sucederam no tempo de forma exata e cronológica
sendo que o começo de uma não põe fim, necessariamente, a outra. No período
humanitário ocorreram mudanças drásticas no pensamento, sobretudo graças a
crescimento da importância da burguesia, classe social que comandou o
desenvolvimento do capitalismo, com isso cresceram os conflitos entre essa classe e
a nobreza. O período científico é o que podemos dividir em duas partes: o
Determinismo e o Positivismo no Direito penal. No determinismo o delito, assim
como o fato jurídico seriam determinados pelas razões que haviam para a ocorrência
do crime. No positivismo, começaram a pensar no crime como não sendo um fato
isolado e, sim, como um conjunto de fatos e condições antropológicas, sociais e
físicas.

Deve também considerar que o direito penal serve à defesa da sociedade de classes,
pois o subsistema penal segue a opção constitucional pela economia capitalista e pelos
princípios da proteção da ordem econômica.

1.2 RELATO HISTÓRICO SOBRE O DIREITO PENAL

Numa primeira etapa, define-se o que é crime no âmbito dos direitos e garantias
individuais, artigo 5º, inciso XXXIX, da Constituição Federal de 1988; estabelecendo-se às
13

penas aos delitos numa etapa na Legislação Federal, dessa forma, a ideia de pena pressupõe a
ideia de crime. No Plano Coletivo, tem-se o crime pela meta individual, consistindo-se na
resposta a expressão dos direitos e deveres do plano coletivo do artigo 5º, da Constituição
Federal.
A partir da Baixa Idade Média, reavivou-se o estudo dos textos antigos,
principalmente os referentes ao Direito Romano. O estado, devido o fim do escravismo e a
expansão do capitalismo, adequou a punição à nova estrutura social e econômica, idealizando
o trabalho, sem, no entanto, manter uma racionalidade na punição.
Aduz Comparato (2012, p. 105):

A tarefa de conter os distúrbios sociais, fez surgir à necessidade de humanizar a


punição. Os novos ideais exigiam a transformação do modelo punitivo. A sociedade
burguesa emergente estava mais interessada na plenitude, rapidez e reabilitação da
justiça penal do que em severidade

A realidade social do século XVIII adquiriu um novo perfil socioeconômico, pois


fora recuperada a fase de escassez de mão-de-obra, surgindo à classe trabalhadora, agora com
mão-de-obra excedente. O capitalismo trouxe consigo o empobrecimento da classe
trabalhadora. A diferença social entre os burgueses e o proletariado se acentuava cada vez
mais, aumentando os delitos contra a propriedade.
Afirma Prado, et al (2013, p. 11):

Na nova realidade, onde o capitalismo se fortalecia, e os trabalhadores eram


explorados, travou-se uma discussão sobre a efetividade do sistema punitivo. Alguns
até clamavam pelo retorno do antigo sistema, onde eram cometidas as formas mais
variadas de barbáries, pena de morte, açoite, etc.

Sob a ótica de Costa Júnior (2010, p. 151):

Observa-se que a maioria dos delitos, por que não dizer quase todos, é devido à crise
econômica, ou seja, as disputas entre as classes. Aí entra em cena o sistema penal
como forma de controle social. O sistema punitivo não só alarga suas funções, como
também o faz de forma mais severa.

Com a finalidade dirigida para o trabalho e para o lucro, a casa de correição teve sua
degeneração estrutural, acontecendo o mesmo com as fábricas, que foram as suas sucessoras.
Na realidade, quando a necessidade de mão-de-obra era preocupação do poder, a casa de
correição servia de disciplinamento e tratamento da aceitação da ideologia do trabalho. Com a
mudança nas condições de produção e o excesso de mão-de-obra, foi o trabalhador quem
passou a exigir garantias e formalização do trabalho.
14

A luta passou a ser pelo direito ao trabalho. Nesse processo, também, iniciou-se a
deterioração da casa de detenção, o cárcere já utilizado como punição.
Segundo Nery Júnior (2014, p. 102):

Até o inicio da idade moderna, as prisões eram utilizadas como locais de


aprisionamento antes do julgamento e não como punições. O aparecimento do
cárcere como punição após a sentença se deu pela necessidade de tornar todo o
sistema penal como parte do programa mercantilista do estado, ou seja, visando o
lucro, tanto no sentido restrito de fazer produtiva a própria instituição, quanto no
sentido amplo de aproveitamento de mão-de-obra.

Foi à evolução de um negócio judicial que não gerava nenhum retorno para o estado
por um sistema que era parcialmente, do ponto de vista financeiro e da parte da indústria
nacional, auto-sustentado. Também, preparou o caminho para a introdução do aprisionamento
como uma forma regular de punição, do ponto de vista da política mercantilista.
Em relação à preservação humana dos prisioneiros, o que se pode perceber no
decorrer da história, segundo Capez (2013) relata é na nova forma de encarceramento, ou seja,
da casa de correição ao cárcere, foi o mais absoluto abandono das classes dominantes;
abandono alimentar, degradação física e psicológica, falta de incentivos a políticas
carcerárias, etc. O sentimento ideológico que permeia esta política desumana, com relação à
deterioração do cárcere, é o fato de a justiça penal manter incorporada a si, até hoje em pleno
Século XXI, um tratamento diferenciado entre as classes sociais.
Foucault (2008, p. 171), colabora no entendimento do desenvolvimento do
funcionalismo da prisão, não só como repressão da estrutura social e econômica, mas também
como expressão da dominação do poder e do saber:

Forma-se uma nova estratégia para o exercício do poder de castigar. O novo poder
de punir surge como estratégia da conservação e da produção das novas relações de
produção social. Na redistribuição das ilegalidades definiu-se a forma penal, ou seja,
no processo de reprimir as ilegalidades populares até então toleradas e conjugadas
com o poder do soberano. Em modificando o perfil das ilegalidades que faziam parte
da vida política e econômica da sociedade, tais como ilegalidade fiscal, à ilegalidade
aduaneira, ao contrabando, ao saque, à luta armada contra os agentes do fisco depois
contra os próprios soldados, à revolta, enfim, havia uma continuidade onde as
fronteiras eram difíceis de marcar, não mais toleradas no novo modo de produção
capitalista, que visava necessariamente à preservação da propriedade dos bens de
produção.

A grande maioria da população carcerária era pertencente às classes sociais menos


favorecidas, e o tratamento a que eram submetidos não podia ser melhor que o que já viviam
em suas realidades.
15

Foucault (2008, p. 175) ainda modelando um novo poder punitivo da nova reforma
penal, deixa claro o seu comprometimento com a preservação da ilegalidade de direitos com a
preservação da ilegalidade de direitos próprios capitalistas e o que ele chama de “ilegalidade
popular”:

A ilegalidade dos bens foi separada da ilegalidade dos direitos. Divisão que
corresponde a uma oposição de classes, pois, de um lado, a ilegalidade mais
acessível às classes populares será a dos bens - transferência violenta das
propriedades; de outra burguesia, então se reservará a ilegalidade dos direitos: a
possibilidade de desviar seus próprios regulamentos e a suas próprias leis; de fazer
funcionar todo um imenso setor da circulação econômica por um jogo que se
desenrola nas margens da legislação – margens previstas por seus silêncios, ou
liberadas por uma tolerância de fato.

Sobre a ótica do autor pode-se concluir que um sistema penal deve ser concebido
como um instrumento para gerir diferencialmente as ilegalidades, não para suprimi-las a
todas. Por sua ideologia Foucalt (2008, 181) afirma que:

Essa grande redistribuição das ilegalidades se traduzirá até por uma especialização
dos circuitos judiciários; para as ilegalidades de bens – para o roubo – os tribunais
ordinários e os castigos; para as ilegalidades de direitos – fraudes, evasões fiscais,
operações comerciais irregulares – jurisdições especiais com transações,
acomodações, multas atenuadas, etc. a burguesia se reservou o campo fecundo da
ilegalidade dos direitos. E ao mesmo tempo em que essa separação se realiza,
afirma-se a necessidade de uma vigilância constante que se faça essencialmente
sobre essa ilegalidade dos bens.

Observa-se que a relação existente entre a finalidade da prisão e as condições sociais


e materiais é que elas sempre tendem a exclusão, a segregação do outro, que não tem
condições de se inserir economicamente no sistema capitalista.

1.3 CONCEITUANDO O DIREITO PENAL POR SEU SISTEMA LEGAL

O Brasil adotou o sistema de direito civil inspirado pelas leis Romano-Germânico.


Embora a jurisprudência seja considerada em algumas circunstâncias, o sistema favorece leis
codificadas mais de precedente judicial.
Dantas (2011, p. 67), argumenta que:

A Constituição reconhece que todos os cidadãos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer espécie. Ela garante aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade. A Constituição também garante defesa legal para
indivíduos que enfrentam acusações criminais.
16

O Brasil tem a quarta população maior encarcerados no mundo, atrás dos Estados
Unidos, China e Rússia. Há cerca de cinco centenas de milhares de indivíduos encarcerados
no país com um déficit de duzentas mil vagas. De acordo com o Departamento Penitenciário
Nacional (Depen), em 2010, o Brasil tinha uma população de encarcerados, 66% maior do
que a sua capacidade para abrigá-los. Esta problemática é um dos principais focos das críticas
das Nações Unidas sobre o desrespeito do país aos direitos humanos.
Para Oliveira (2000, p. 115):

O direito penal deve intervir apenas quando absolutamente necessário para uma
existência pacífica da comunidade. Assim, o direito penal é aplicado apenas como
último recurso. É com base neste princípio que algumas ações e / ou omissões são
selecionados para permanecer sob a tutela pública. Considerado como um princípio
importante é também como o legislativo torna-se ciente das mudanças na sociedade.

Assim, como a sociedade evolui e as mudanças de interesse público, o direito penal


pode remover certas incriminatórias ações / omissões do Código Penal. Quando uma ação /
omissão não é um crime, a lei pode retroagir para beneficiar o acusado, mesmo que o acusado
já foi condenado. Esta é uma exceção à retroatividade da lei criminal.

1.3.1 Fontes de Direitos do Arguido

Os direitos do réu em processo penal são encontrados no artigo 5º, inciso LV, da
Constituição e no Código de Processo Penal (CPP). O artigo 5º, inciso LV estabelece o
seguinte: Litigantes, em processo e acusados no geral judicial ou administrativos são
assegurados o contraditório e defesa completa com os meios e recursos inerentes a ele.
O CPP brasileiro reconhece várias garantias constitucionais para assegurar a
integridade de um indivíduo. Especificamente, o CPP reconhece os direitos ao devido
processo legal, incluindo a presunção de inocência; direito a um advogado; proteção contra a
auto-incriminação; proteção contra o uso de provas obtidas ilegalmente; e a proteção contra as
sentenças irrazoáveis e desproporcionados.

1.3.2 Princípio da legalidade ou da Reserva Legal

O princípio da legalidade exige a lei para ser claro, garantido, e não retroativa. A
Constituição e o Código Penal (CP) estipulam que não há crime sem lei anterior que o defina
17

o que o crime é, nem pena sem prévia cominação legal. Este princípio de salvaguardas quatro
ideias fundamentais:

(1) proíbe a retroatividade da lei penal;


(2) proíbe a criação de crimes por meio de costumes da sociedade;
(3) proíbe o uso de analogia para criar crimes ou agravar as sanções; e
(4) proíbe frases vagas e indeterminadas.

1.3.3 Retroatividade do Direito Penal

A lei só irá retroagir se for para favorecer o acusado. Este princípio garante que
ninguém será punido com uma ação, em que, no momento do seu compromisso ou omissão,
foi considerado criminalmente indiferente dada a ausência de qualquer lei que define o crime.
Neste sentido o princípio da determinação estipula que a lei criou deve ser
suficientemente clara e precisa em seu conteúdo legal e estabelecimento de sanções em
garantia fim a segurança jurídica. O princípio da determinação é imposta ao legislador na
elaboração das leis para tentar uma precisão máxima de seus elementos. Ele também favorece
o Judiciário que interpreta as leis de forma restritiva para preservar a eficácia do princípio.

1.3.4 Devido Processo

Nucci (2013) afirma que de acordo com a Constituição, "ninguém será privado de
seu / sua liberdade ou propriedade sem o devido processo". No entanto, a valorização de
outros princípios é importante para garantir a aplicação dos direitos ao devido processo legal,
como o direito a um advogado, publicidade e persuasão livre e racional do juiz.
O direito do acusado de ter um julgamento rápido é uma garantia constitucional. Esta
garantia assegura os meios para garantir uma velocidade razoável para uma ação penal. No
entanto, há uma omissão do legislador em relação ao que seria um período de tempo razoável
para uma ação penal.

1.35 Presunção de inocência e encarceramento

No Brasil, o processo penal favorece o acusado. Portanto, o acusado é presumido


inocente até prova em contrário. Para Ramos (2010) uma suposição de que o acusado cometeu
um crime não é suficiente; prova factual é necessária para garantir que o indivíduo é culpado.
18

O objetivo do encarceramento do infrator é reabilitar o indivíduo volta para a


sociedade, em vez de punir ele / ela. Estas humanitárias intenções abordagem para assegurar a
aplicação de uma pena apenas que é proporcional à do indivíduo injusta ação / omissão.
Para Queiroz (2015, p. 98):

O tempo máximo de prisão no Brasil é de 30 anos. Um juiz pode condenar o


transgressor a mais de 30 anos de prisão, mas o indivíduo permanecerá preso por 30
anos no máximo. Desde o tempo de prisão pode diminuir devido ao bom
comportamento do indivíduo, aqueles que cometem crimes hediondos podem
receber sentenças superiores a 30 anos para superar os benefícios de cometer ou
omitir uma ação errada e ser libertado muito cedo.

Conforme previsto na Constituição de 1988, não há permissão para a aplicação da


pena de morte no Brasil. A única exceção é durante os tempos de guerra declarada. No
entanto, a última vez que o Brasil lutou uma guerra foi em 1823.

1.4 MONITORAMENTO ELETRÔNICO - CONCEITO EVOLUTIVO

O monitoramento eletrônico foi criado com a finalidade de fazer com que o


condenado não fosse retirado, abruptamente, do seu meio social. Muitos dos seus direitos,
como acontece com nossos filhos durante a sua correção, passam a ser limitados. No entanto,
o convívio em sociedade ainda permanece. Não é dessocializado, mas sim educado a não
praticar o ato que o levou a ter suspensos alguns desses direitos.
O monitoramento eletrônico em presos tem início na década de 60, com o
desenvolvimento de um dispositivo eletrônico, criado pelo psicólogo americano Robert
Schwitzgebel e seu irmão Ralf Schwitzgebel, o objetivo era, segundo Mendes (2013) era ter
uma boa alternativa ao cárcere, tornando o caráter da pena mais humana e com a recessão ao
convivo da sociedade, com menor custo econômico.
Em 1979, inspirado em uma história em quadrinhos, onde o vilão conseguiu localizar
o super-herói homem aranha graças a um dispositivo colocado em seu punho, o Juiz
norteamericano da cidade de Albuquerque do estado do Novo México, Jack Love, persuadiu
um perito em eletrônica, chamado Michael Goss, a projetar e manufaturar um dispositivo de
monitoramento semelhante àquele visto na história em quadrinhos (NUCCI, 2013).
Para Marcão (2014) o conceito de Monitoramento Eletrônico de Reeducandos é
facilmente esboçado, tendo em vista que se trata de mera medida acautelatória à conduta
ilícita do agente ofensor controlando e fiscalizando seu posicionamento por meio de
tecnologia de transmissão de dados, sujeitando-o a utilização de aparelho emissor de sinal
19

(tornozeleiras ou braceleiras eletrônicas) para uma central de monitoramento que é capaz de


controlar fora das unidades prisionais sua exata localização a qualquer tempo.
Já Oliveira (2010, p. 105) explica que:

O monitoramento eletrônico consiste em fiscalizar extra muros o cumprimento da


reprimenda imposta pelo exercente do poder punitivo, mediante equipamentos
tecnológicos que permitem saber a exata localização em que o indivíduo se
encontra.

Diversamente dos Estados Unidos e de alguns países da Europa, o monitoramento


eletrônico de presos no Brasil começou a ser discutido em meados de 2001, com os projetos
de lei n.º 4.342/2001, de autoria do Deputado Marcus Vicente, e n.º 4.834, cuja autoria é do
Deputado Vittorio Medioli. Os dois projetos de lei, já naquela época, apresentavam
praticamente a mesma proposta dos que foram aprovados pelo Congresso Nacional em 2007,
ou seja, uma solução com o uso da tecnologia para reduzir o número de presos nos presídios
brasileiros, viabilizando o seu retorno à sociedade de forma mais digna e humana.
Por fim, sem apresentar vícios de constitucionalidade, e por tratar de uma questão
que necessita de uma solução urgente, o Projeto de Lei do Senador Magno Malta foi aprovado
pelo Congresso Nacional, sendo convertida na Lei 12.258/2010, a Lei que aborda o
monitoramento eletrônico dos presos no Brasil. A importância é amenizar a situação atual de
crise no sistema penitenciário tendo em vista à qualidade e a qualidade de vida as mudanças
que esse meio ocasiona no detento tanto no âmbito psicológico e comportamental.
Para Mariath (2010, p.4), por sua vez, a questão é puramente pragmática, pois, mais
relevante do que conceituar é classificar as principais finalidades do Sistema que, segundo se
observa serve a três finalidades específicas: detenção, restrição e vigilância.

O monitoramento visa manter o indivíduo em lugar predeterminado (normalmente


em casa). Esta foi a primeira forma de utilização da solução tecnológica,
permanecendo até hoje a mais comum; restrição - alternativamente, o
monitoramento é utilizado para garantir que o indivíduo não entre (freqüente)
determinados locais, ou ainda se aproxime de determinadas pessoas, mormente
testemunhas, vítimas e co-autores; vigilância - Nessa ótica, o monitoramento é
utilizado para que se mantenha vigilância contínua sobre o indivíduo, sem a
restrição de sua movimentação.

O sistema penitenciário atual passa por varias dificuldades sendo uma delas a
principal superlotação que resultada as más condições estruturais e de funcionabilidade, deste
modo o monitoramento eletrônico veio com forma da possibilidade de atender as expectativas
20

de solucionar parte dos problema já mencionados.


Adentra neste sentido, as argumentações de Queiroz (2010, p. 111):

O desprestígio do Sistema Penal brasileiro, somando à estatística crescente dos


crimes violentos, muitos dos quais praticados por condenados que se encontram no
gozo de saídas temporárias ou em regime aberto domiciliar, motivou o debate sobre
a necessidade de aprimoramento da vigilância sobre aqueles que, a despeito da
pratica delitiva e da condenação criminal, permanece em liberdade por alguns dos
benefícios previstos em nossa legislação.

Alguns presos têm o beneficio de saídas, que são concedidas por lei, só que há
muitos presos que aproveitam dessas saídas para cometer novas infrações ou ficarem
foragidos, entretanto o monitoramento eletrônico serve como forma de monitorar essas
pessoas, para assegurar que não haverá reincidência e retornaram para local determinado pelo
Juiz.
Com fulcro na Lei nº 12.258, de 15 de junho de 2010, o monitoramento eletrônico e
cabível nas hipóteses de autorização de saída temporária no regime semiaberto e prisão
domiciliar, conforme o dispositivo legal artigo 146-B da Lei de Execução Penal.
Bem como a Lei 12. 403, de 04 de maio de 2011, modificou a redação do legislado
ao artigo 319 do Código de Processo Penal, implementou a monitoração eletrônica, como
espécie de medida cautelar, substituindo a prisão preventiva de acordo com inciso IX do
citado artigo.
Segundo Ramos (2010) os princípios que sustentam a aplicação do monitoramento
eletrônico são o da proporcionalidade e da eficiência, através da economia dos gastos com o
presidiário, nota-se o beneficio as em relação ao custeio que variam em, o custo médio de
manutenção de uma vaga no sistema prisional brasileiro fica entre R$: 800,00 a R$2.000,00,
enquanto o monitoramento eletrônico o valor e de R$ 430,00 por preso mais a manutenção
que é feita uma vez ao mês que sai por R$360.00.
Em alguns Países como Estados Unidos da América, França, Espanha, Inglaterra,
Suécia, Portugal, Austrália, Escócia, Argentina etc ; o monitoramento eletrônico foi aplicado
gerando resultados. Tudo teve inicio com o fundador da vigilância eletrônica, segundo
Zaffaroni (2011, p.142):

Como medida de controle penitenciário, foi o professor de biologia da Universidade


de Harovard, Ralph Schwitzgebel, quem nos anos 1960, propôs medidas eletrônicas
como método de controle de delinquentes e enfermo mentais. A autorização para
aplicação da monitoramento eletrônico no detento cabe a competência do Juiz da
21

execução penal ou o juiz criminal da comarca ( juízo de conhecimento) que vai


prolatar a autorização da fiscalização pelo referido método.

O detento tem deveres e cuidados a cumpri com o aparelho eletrônico assim como
receber as visitas do técnico responsável pela manutenção do aparelho, não podendo:
remover, violar, modificar ou danificar de qualquer forma o equipamento ou permitir que
outro o faça; conforme preconiza o artigo 146-C da Lei de Execução Penal.
Alega Britto (2007, p. 35):

Se violado os deveres e cuidados para com o equipamento assim como a


monitoração, nos termos do artigo acima, em seu parágrafo único, incisos I a VII da
Lei de Execução Penal, acarretara nas seguintes punições: a regressão do regime, a
revogação da autorização de saída temporária, a revogação da prisão domiciliar,
bem como advertência por escrito, na hipótese do juiz da execução penal decidir não
aplicar nenhuma das medidas supra.

Prevê, ainda, a Lei enfocada, em seu artigo 146-D, a revogação da monitoração


eletrônica, nas hipóteses dela tornar- se desnecessária ou inadequada (inciso I) ou quando o
acusado ou condenado violar os deveres já referidos ou cometer falta grava (inciso II).
Embora a disposição normativa artigo 146-C menciona a expressão será instruído,
considerando que a violação ao deveres já enfocados motivara a aplicação de uma das
medidas citadas, deve o juiz da execução penal formalizar a audiência de advertência na
presença de executado, Ministério Público e defensor.
Será observado no próximo Capítulo, o fator ressocialização, através do
monitoramento eletrônico para reinserção do indivíduo na sociedade.
22

CAPÍTULO II - REINSERÇÃO DO INDIVÍDUO NA SOCIEDADE ATRAVÉS DO


MONITORAMENTO ELETRÔNICO

Apesar da busca incessante por novas maneiras de punir as condutas criminosas de


forma mais condizente com a Dignidade da Pessoa Humana o curso da história se encarregou
de provar que a manutenção das penas restritivas de liberdade não deve ser uma opção por
não se mostrarem reeducadoras além de serem extremamente dispendiosas para o Estado.
A levar em consideração o nível de sensibilidade de cada cultura o direito natural
impõe o veredicto de que aprisionar qualquer ser vivo é ameaçador, antissocial e animalesco
apesar de ser amplamente utilizado na contemporaneidade. Neste diapasão, a tecnologia do
rastreamento por satélite de seres-humanos se mostrou uma opção de aplicação de pena, pois,
de uma vez que a humanidade ainda não conseguiu viver pacificamente, talvez nunca consiga,
ao menos precisa, com a máxima urgência, cessar a legitimação de comportamentos
antissociais por parte do próprio Estado.
Em relação ao livramento condicional, o monitoramento, a fim de conferir
efetividade a condições impostas, pode ser utilizado para acompanhar as condições
facultativas elencadas no § 2° do art. 132 da LEP, a saber: a) recolher-se à habitação em hora
fixada; e b) não freqüentar determinados lugares.
Com a tecnologia disponível de GPS, pode a autoridade judiciária facilmente
monitorar os locais e horários onde o condenado deve estar ou permanecer. Em suma, o juiz
aferirá em tempo real se condições impostas estão sendo fielmente observadas. Além disso,
evitará que servidores do Estado, no exercício de suas funções (por exemplo, verificar se
determinado condenado, que reside em local reconhecidamente perigoso, encontra-se
recolhido em casa no período noturno), sejam expostos a riscos de toda sorte.

2.1 Nomenclaturas do monitoramento eletrônico

Vários são os nomes que se tem dado ao sistema de monitoramento eletrônico de


presos, o que na verdade representa um único objeto. Os nomes mais corriqueiros usado por
doutrinadores, reportes, autoridades policiais, em fim, por toda sociedade, são eles: A
23

Tornozeleira Eletrônica: “Primeiramente a legislação estadunidense optou por implantar a


"tornozeleira eletrônica" nos menores infratores, posto que seja nesta população carcerária
que estava concentrado um número maior de suicídios. ”(OLIVEIRA, 2007, p. 30).
O Sistema de Posicionamento Global (GPS): “Já o Sistema de Posicionamento
Global (GPS) é composto basicamente por três elementos: satélites, estações de terra
conectada em rede e dispositiva móveis. Pode ser este considerado o mais completo dos
sistemas de monitoramento eletrônico.” (MARIATH, 2010).
As Algemas Eletrônicas: “O Ministério da Justiça, os juízes poderão determinar o
uso das "algemas eletrônicas" para presos do regime semi aberto, durante a saída temporária
--como em dias das Mães e dos Pais, Páscoa e Natal. (Secretário de Assuntos Legislativos do
Ministério da Justiça, Felipe de Paula. 2010)
Pulseira Eletrônica: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou nessa quarta,
dia 16, o projeto que permite a implantação de sistemas de vigilância indireta de presos com
pulseiras eletrônicas.” (Presidente da OAB - Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir
Cavalcante, 2010).
A Prisão Virtual: Segundo o doutrinador Edmundo Oliveira, em obra Direito Penal
do Futuro: “A prisão virtual, ao entender que o monitoramento eletrônico de presos inaugurou
novo estilo de sanção útil, com portas de saída rumo ao futuro de esperanças. “(OLIVEIRA,
2007, p.18)
O Big Brother Penitenciário: Segundo o autor Carlos Weis: “Por mais facilidade que
ofereça ao Estado, o recurso está longe de ser unanimidade. "O Big Brother Penitenciário",
como é chamado são os mais comuns, já utilizados por toda sociedade brasileira. ”(WEIS,
2007).
Contudo, no momento os nomes colocados ao sistema de monitoramento eletrônico,
não será o mais importante para a população carcerária, e sim sua eficácia, recuperando, por
sua vez, a situação degradante em que se encontra o sistema prisional brasileiro.
O monitoramento eletrônico parece ser uma ferramenta que possibilita uma
alternativa ao cárcere provisório proporcionado por prisões cautelares (não raras vezes,
advindas de decisões teratológicas), bem como a oportunidade de antecipar o fim da
segregação do condenado, permitindo de plano o retorno ao convívio familiar, o acesso a
programas de tratamento disponibilizados pelo Estado e ao meio escolar, em suma, facilitando
sua reinserção na sociedade.
24

Deve-se observar que, se de um lado, o monitoramento eletrônico pode marcar o


usuário, uma vez que, dependendo do sistema utilizado, ao seu corpo é fixado um dispositivo
que não poderá ser violado enquanto perdurar a condição imposta ou a execução de sua pena,
estigmatizando-o; de outro, permite ao Estado aprimorar o dever de vigilância que lhe é
imposto pela Constituição Federal e pela Lei de Execução Penal.
Afirma Gomes (2013, p. 122):

No caso, estamos diante de suposto conflito de princípios (mormente, da intimidade,


da privacidade, da reintegração social, da supremacia do interesse público, da
dignidade da pessoa humana, da proporcionalidade e da razoabilidade). Ocorre que
diversamente das regras, que normatizam determinada situação fática e vale a lógica
do tudo ou nada, os princípios não conflitam, “colidem”; e quando colidem, não se
excluem. Como expressam critérios e razões para uma determinada decisão, os
princípios podem ter incidência em casos concretos (por vezes, concomitantemente).

Vale mencionar que o Estado possui a real dimensão de seu sistema prisional. A
Cartilha Conselhos da Comunidade (Ministério da Justiça – 2006), elaborada pela Comissão
para Implementação e Acompanhamento dos Conselhos da Comunidade, desvela:

Assistimos hoje a um fenômeno que afeta toda sociedade: cadeias, presídios e


penitenciárias superlotados, muitos desses estabelecimentos em condições precárias,
sem uma proposta de trabalho adequada àquilo que prevê a Lei. A prisão tem sido
tão degradante para as pessoas que o simples fato de ser submetido a um processo
penal e acusado formalmente da prática de um delito já traz para o indivíduo uma
carga estigmatizante, produzida pelo seu contato com o sistema prisional.

Em suma, a estigmatização já é decorrência do próprio processo criminal; não é a


utilização de um dispositivo eletrônico que trará um gravame indelével. Ao contrário, a busca
por soluções de difícil implementação mantém o status quo, expondo o indivíduo às mazelas
já mencionadas ou dificultando seu retorno ao meio social. Por fim, sabe-se que o ser humano
não se adequa ao cárcere, além de ser levado a condições bem distintas de seu dia a dia, sofre
com falta de amparo estatal
Assim, qualquer solução, que venha a rechaçar o encarceramento ou a proporcionar a
extração do sistema para reintegração à sociedade deverá ser acolhida, ainda que
experimentalmente.
25

2.2 Gastos com a nova tecnologia

Um dos pontos vantajosos do sistema de monitoramento eletrônico considerado é o


custo econômico aos cofres públicos. Importante ressaltar, que o grande mérito é que o
sistema possa satisfazer plenamente a necessidade de punição do condenado pelo Poder
Público, sem, no entanto, lançar mão do cárcere. Neste contexto, o custo da nova tecnologia,
surge como uma alternativa economicamente considerável, uma vez que as condições
conferidas pela solução tecnológica são capazes de potencializar a reintegração social do
apenado, afastando o preso das nefastas conseqüências do encarceramento efetivando uma
economia significativa aos cofres públicos.
Alguns dados demonstram o custo de um preso ao cárcere, (BORGES, 2010):

O custo mensal de cada preso hoje, na cadeira, gira em torno de R$ 1,5 mil. Com a
nova tecnologia, a expectativa é de que esse gasto caia, em média, para um terço –
R$ 500/mês. D’URSO, Luiz Flávio Borges. Lei do Monitoramento Eletrônico:
Avanço na Execução Penal. Editora Magister - Porto Alegre - RS. Publicado em: 14
jul. 2010.

De acordo com a citação mencionada, além de ser melhor para a ressocialização


desse tipo de preso, o uso dessa tecnologia é mais barato que mantê-lo no presídio. Todavia,
essa questão econômica não tem sido tão bem vista para aqueles autores desfavoráveis a nova
tecnologia. Segundo esses autores, contra essa nova medida tecnológica, o fim de oferecer
mais segurança pública, para eles seria um gasto a mais, que outra liberdade condicional. O
que para eles, os gastos empregados irão aumentar com a nova tecnologia.
O artigo menciona um fato curioso que é levantado pelo pesquisador,
(MAINPRIZE, 1992, p. 145):

Uma análise de custo comparando monitoramento eletrônico com prisão é


irrelevante porque os presos que seriam normalmente agraciados com livramento
condicional ou outra espécie de liberdade condicional e não aqueles que estão
encarcerados estão sendo incluídos no programa de monitoramento eletrônico.
Considerando que o monitoramento eletrônico é mais custoso per capita do que
qualquer outra forma de liberdade condicional, o sistema pode se apresentar não
econômico. Comparado com prisão domiciliar, por exemplo, o programa é mais
caro, pois requer a aquisição ou aluguel de equipamento para monitoração.

Conforme a opinião mencionada, evidencia outro lado da questão econômica,


referente ao monitoramento eletrônico. Polemica como está, é apenas uma das muitas, pois se
26

trata de uma novidade na Lei de Execução Penal, e para se chegar ao um consenso só o tempo
irá revelar.
Diz o Celuy Roberta Damásio, (DAMÁSIO, 2005, p. 68):

Muitos argumentos favoráveis à utilização desse tipo controle penais são trazidos à
baila, tais como a melhoria da inserção dos condenados, evitando-se a ruptura dos
laços familiares e a perda do emprego, a luta contra a superpopulação carcerária e,
além do mais, economia de recursos, visto que a chamada pulseira eletrônica teria
um custo de 22 euros por dia, contra 63 euros por dia de detenção.

Autores como Celuy Damásio, acreditam que os gastos com a nova tecnologia é
menos que a detenção.

2.3 Ressocialização e reinserção laboral do apenado

O monitoramento eletrônico é uma medida que possibilita ao condenado, a


oportunidade de cumprir o fim de sua pena fora do cárcere, permitindo-lhe de plano, o retorno
a sociedade e ao convívio familiar. Todavia, o Estado deverá cumprir seu papel facilitando ao
apenado o acesso a programas de tratamento psicológicos, bem como reinseri-lo no mundo do
trabalho. Para tanto, é preciso que a pessoa presa, tenha o devido tratamento, pois é sempre
punitiva de concessão. São anuladas a capacidade de iniciativa, os estimulos e são poucos que
resta de valores morais e éticos, quando retornam ao convívio social.
Diante desse quadro, muitas discussões ainda convergem à idéia de que a solução do
problema está na construção de mais estabelecimentos prisionais. Acredita-se, porém, que a
questão penitenciária não se resolverá unicamente através da criação de vagas em
estabelecimentos penais. A superlotação nos presídios tem sido mais do que um problema
institucional, é um problema social, pois, quando a cadeia não cumpre seu objetivo de
correção de indivíduos moral e socialmente “desajustados”, é a sociedade civil que sofre, com
a ameaça e a insegurança crescentes.
Um dado revelador acrescenta tal afirmação, do Advogado criminal; Mestre e Doutor
pela USP; Presidente da OAB/SP, Dr. Luiz Flávio Borges D'Urso. (D’URSO, 2009, p. 145):

A nova lei toca em uma questão urgente, mas de adiada solução: a superlotação
carcerária. Dados do Ministério da Justiça do final de 2009 apontam a existência de
473 mil presos no sistema penal brasileiro, 43% deles provisórios, para pouco mais
de 300 mil vagas. Para garantir espaço para todo esse universo de apenados, seria
27

necessário construir outros 340 estabelecimentos penais com 500 vagas cada.
Somadas a superlotação e a exposição a outras mazelas como ameaças sexuais,
doenças como a Aids e a tuberculose, o crime organizado e o risco de rebeliões,
impossível garantir a integridade física dos custodiados.

Com essa revelação, a alternativa do sistema de monitoramento eletronico, é de


convim, que o melhor, para esse caos é a reeducação, tornando fundamental, e deverá ser feita
através da implantação de frentes de trabalho, cujo objetivo não se resume a retirar a pessoa
presa da ociosidade, mas também a abrir perspectivas de sua inserção futura na sociedade, por
meio da profissionalização e da perspectiva de emprego digno. É nesse sentido que acredita-
se, poder reduzir o circuito vicioso e reiterado do mundo do crime que se mantém na maior
parte dos presídios brasileiros. O trabalho é o principal fator de reajustamento social.
Representa um dever social e condição de dignidade humana, com finalidade
educativa e produtiva, conforme definido na Lei de Execução Penal. Importante ressaltar, o
tratamento psicológico do preso. É sabido que o preso, quando ele sai da penitenciária,
apresenta comprometimento psíquico, decorrente do encarceramento. A terapia de grupo seria
um dos instrumentos para diminuir danos e contribuir para a construção de novas posturas e
perspectivas de vida em sociedade.
No Brasil, atualmente, a discussão acerca do tema não é pacífica. Os que se
posicionam favoravelmente a implantação da tecnologia, argumentam, em tese, que
ocorreriam algumas benesses com o advento do monitoramento, tais quais: redução
significativa de população carcerária; menor dispêndio econômico para o Estado; reduções
nas taxas de reincidência e; o afastamento do apenado das nefastas conseqüências que o
cárcere ocasiona. Todavia, os que discordam da utilização do monitoramento eletrônico,
invocam o argumento de que o dispositivo infringe a liberdade do indivíduo e que acarretará
uma enorme estigmatização sobre a pessoa do condenado.
Sabe-se que o Congresso Nacional a muito sinaliza ser favorável ao monitoramento
eletrônico de detentos, alias não apenas com relação a esta medida, mas a muito se mostra
favorável a descarcerização enquanto primado das execuções penais. Há mais de duas décadas
todas as alternativas possíveis em termos de política criminal e opção legislativa penitenciária
devem raciocinar no sentido do atual movimento de descarcerização, já teve oportunidade de
se pronunciar “profeticamente” acerca do tema, ainda no ano de 2000 o Doutor Procurador
Oliveira (2013, p. 69):
28

Surge, então, o problema da adequação das atuais regras processuais ao crescente


movimento despenalizador ou descarcerizador despertado com a Lei 9.099, de 26 de
setembro de 1995, agora ampliado pela recente lei 9.714/98, cujas disposições
trouxeram alterações profundas na estrutura sancionatória do Direito Penal
Brasileiro. Nascido em contraponto à já apontada manipulação política-eleitoreira da
legislação penal, o tão ansiado movimento traz consigo a reabertura da discussão em
torno do sistema penitenciário, atingido, aqui e praticamente em todo o mundo, por
males incuráveis.

Portanto, a implantação de políticas públicas tais como o monitoramento eletrônico


nada mais é do que uma tendência vivenciada desde há muito no sistema processual penal
brasileiro. A saída temporária do estabelecimento penal, mais precisamente a denominada de
“saidão”, tem sido encarada por alguns condenados como uma oportunidade para prática de
novos delitos.
O monitoramento convencional de tal benefício impõe ao Estado a alocação de
grandes recursos, conforme noticiou em 09/05/2007 o Jornal de Brasília:

Os detentos do Complexo Penitenciário da Papuda liberados para passar o Dia das


Mães em casa serão monitorados de perto pelos órgãos de Segurança Pública do
Distrito Federal. De 11 a 14 de maio, cerca de mil sentenciados serão beneficiados
com o "saidão", concedido em feriados. O acompanhamento reforçado dos presos
deve garantir que todos retornem à prisão no dia estipulado. Durante o saidão,
funcionários da Gerência Penitenciária de Operações Especiais (GPOE), com
agentes das delegacias do DF, farão visitas às residências dos presos beneficiados
para conferir se eles estão hospedados no local que indicaram.

Por outro lado, o monitoramento eletrônico permite ao Estado acompanhar


simultaneamente um grande número de sentenciados em tempo real a custos mais baixos,
sem, conforme já noticiado, expor desnecessariamente seus servidores, os quais deveriam
estar prestando outros serviços em prol da comunidade. Da mesma forma, pode-se estender o
monitoramento para os que trabalham externamente; freqüentam a curso supletivo
profissionalizante, bem como de instrução do 2º grau ou superior; e para aqueles que
participam de atividades que concorram para o retorno ao convívio social.
29

REFERÊNCIAS

ALEXI, Robert. Teoria dos Direitos Fundamentais. São Paulo: Malheiros, 2008.

BATISTA, Weber Martins. Liberdade Provisória. Rio de Janeiro: Forense, 2015.

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das penas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1996.

BRASIL. Código Penal. Decreto – Lei n. 2.848, de 7 de dezembro de 1940.

__________. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. São Paulo: Saraiva,


2015.

__________. Lei n.º 12.258/10. Altera o Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940


(Código Penal), e a Lei no 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal), para prever
a possibilidade de utilização de equipamento de vigilância indireta pelo condenado nos casos
em que especifica. Senado Federal: Brasília, 2010.

__________. Lei nº 12.403/11. Altera dispositivos do Decreto-Lei no 3.689, de 3 de outubro


de 1941 - Código de Processo Penal, relativos à prisão processual, fiança, liberdade
provisória, demais medidas cautelares, e dá outras providências. Senado Federal: Brasília,
2011.

__________. Lei de Execução Penal. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de
Execução Penal. Senado Federal: Brasília, 1984..

__________. Ministério da Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Senado Federal:


Brasília, 2010.

BRITTO, Cesar. Pulseira eletrônica é Big Brother e não ressocializa preso. OAB Conselho
Federal. 2007. Disponível em: http://www.direitonet.com.br/noticias/x/10/23/10237/. Acesso
em: 09-ago-2016.

BUENO, Celso Scarpinella. Curso Sistematizado de Direito Processual Penal. São Paulo :
Saraiva, 2013.

CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. São Paulo. Saraiva. 2013

COMPARATO, Fábio Konder. Direito, moral e religião no mundo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2012.
30

COSTA JUNIOR, Paulo José. Curso de Direito Penal. São Paulo: Saraiva, 2010.

DANTAS, Ivo. Constituição E Processo. Curitiba: Juriuá, 2011.

FOUCAULT, M. Punir e vigiar. Petrópolis: Vozes, 2008.

GOMES, Luiz Flávio. Limites do “Ius Puniendi” e Bases Principiológicas do Garantismo


Penal. Curso de Especialização em Ciências Penais - UNISUL– IPAN – REDE LFG. 2013

MARIATH, Carlos Roberto. Monitoramento eletrônico: liberdade vigiada. 2010. Disponível


em: https://jus.com.br/artigos/17196/monitoramento-eletronico-liberdade-vigiada. Acesso em:
11-ago-2016.

MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. São Paulo: Saraiva, 2014.

MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. São Paulo : Saraiva, 2013.

NERY JÚNIOR, Nelson. Princípios de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais,
2014.

NUCCI, Guilherme de Souza. Prisão e Liberdade: de acordo com a Lei 12.403/2011. São
Paulo :Editora dos Tribunais, 2013.

OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Regimes constitucionais da liberdade provisória:


doutrina, jurisprudência e legislação. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.

PRADO, Luiz Regis; HAMMERSCHMIDT, Denise; MARANHÃO, Douglas BolnaldI;


COIMBRA, Mário. Direito de Execução Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013.

QUEIROZ, Paulo. Direito Penal: parte geral. São Paulo: Saraiva, 2015.

RAMOS, Elival da Silva. Ativismo judicial: Parâmetros dogmáticos. São Paulo: Saraiva,
2010.

ZAFFARONI, Eugênio Raul. A perda da legitimidade do sistema penal. Rio de Janeiro:


Renavan, 2011

Você também pode gostar