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920
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
PODER JUDICIÁRIO
São Paulo
Registro: 2021.0000103036
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1053517-30.2019.8.26.0100 e código 1428085C.
ACÓRDÃO
Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ROBERTO NUSSINKIS MAC CRACKEN, liberado nos autos em 17/02/2021 às 14:38 .
ACORDAM, em 22ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de
Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos, Deram
provimento ao recurso, vencidos o 3º e 4º desembargadores, ambos com
declaração.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
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São Paulo
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Apelantes: Eduardo José de Farias e Isabella Guerra de Farias
Apelado: Intl Fcstone Markets Llc
Comarca: São Paulo
Voto nº 35.302
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em recuperação judicial. Execução em face do avalista.
Expressa previsão no plano de recuperação judicial
homologado de suspensão da execução em face do avalista
(art. 49, §2º, da Lei 11.101/05). Ausência de oposição do
credor. Peculiaridade fática que distingue o litígio das
hipóteses de incidência da Súmula 581 e do Resp
1333349/SP (recurso representativo de controvérsia
repetitiva), ambos do C. STJ. Precedente nesse sentido do
C. STJ (REsp 1700487/MT). R. sentença reformada.
Recurso de apelação provido.
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O embargante recorre, alegando, em síntese, que é necessária a suspensão da
execução, uma vez que o crédito está sujeito à recuperação judicial da Anicuns
(devedora principal), havendo cláusula expressa no plano de recuperação judicial
homologado (cláusula 15.2) no sentido de determinar a suspensão da execução em
face da devedora principal e dos avalistas; que há competência exclusiva do Juízo
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Recuperacional para discutir acerca da legalidade das cláusulas do plano de
recuperação homologado; que há nulidade do título exequendo, ante a ausência de
liquidez, bem como em razão da inexigibilidade do crédito decorrente da novação
operada com a homologação do plano de recuperação, em especial ante o disposto
em cláusula expressa (15.2); e, que há excesso de execução pela data de fixação da
conversão do câmbio e ante os valores já adimplidos pela Anicuns após a
homologação do plano de recuperação.
Contrarrazões recursais apresentadas às fls. 861/885, alegando, em síntese,
que há ilegalidade da previsão contida no plano de recuperação, em que constou que
as execuções em curso contra seus sócios seriam suspensas a partir da decisão
homologatória; que, em face da r. decisão de homologação do aludido plano de
recuperação judicial foram interpostos recursos de Agravo de Instrumento por
alguns credores e estes ainda aguardam julgamento; que a Nota Promissória
representa crédito autônomo e, por isso, diversamente do apontado pelo devedor,
não requer a demonstração de causa debendi para ajuizamento de execução; e, que o
ônus de sucumbência deve ser mantido.
R. Parecer da Douta e Nobre Procuradoria Geral de Justiça, manifestando-se
pelo desprovimento do recurso.
Recurso regularmente processado.
Do essencial, é o relatório, ao qual se acresce, para todos os fins próprios, o
da r. sentença, ora recorrida.
Trata-se de embargos à execução de nota promissória opostos pelo avalista.
O título executado é líquido, certo e exigível (art. 784, I, do CPC). A empresa
devedora principal está em recuperação judicial. O embargante avalista pleiteia a
extinção da execução e, alternativamente, sua suspensão em face da aprovação
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É cediço que a recuperação judicial do devedor principal não impede o
prosseguimento da execução ajuizada contra avalista. O tema está pacificado em
súmula e recurso repetitivo:
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impede o prosseguimento das ações e execuções ajuizadas contra
terceiros devedores solidários ou coobrigados em geral, por
garantia cambial, real ou fidejussória.
De fato, o artigo 49, §1º, da Lei nº 11.101/05, dispõe que “Os credores do
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coobrigados, fiadores e obrigados de regresso”.
Todavia, o §2º do mencionado artigo 49, da Lei nº 11.101/05, também dispõe
que “As obrigações anteriores à recuperação judicial observarão as condições
originalmente contratadas ou definidas em lei, inclusive no que diz respeito aos
encargos, salvo se de modo diverso ficar estabelecido no plano de recuperação
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judicial".
No caso, o plano de recuperação, aprovado em assembleia de credores e
homologado judicialmente (fls. 529/532), suspendeu a execução em face dos
avalistas. In verbis:
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1.333.349/SP, ambos do Colendo Superior Tribunal de Justiça. Nesse sentido:
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devidamente representados pelas respectivas classes, o que
importa na vinculação de todos os credores, indistintamente.
4.1 Em regra (e no silêncio do plano de recuperação judicial), a
despeito da novação operada pela recuperação judicial, preservam-
se as garantias, no que alude à possibilidade de seu titular exercer
seus direitos contra terceiros garantidores e impor a manutenção
das ações e execuções promovidas contra fiadores, avalistas ou
coobrigados em geral, a exceção do sócio com responsabilidade
ilimitada e solidária (§ 1º, do art. 49 da Lei n. 11.101/2005). E,
especificamente sobre as garantias reais, estas somente poderão
ser supridas ou substituídas, por ocasião de sua alienação,
mediante expressa anuência do credor titular de tal garantia, nos
termos do § 1º do art. 50 da referida lei.
4.2 Conservadas, em princípio, as condições originariamente
contratadas, no que se inserem as garantias ajustadas, a lei de
regência prevê, expressamente, a possibilidade de o plano de
recuperação judicial, sobre elas, dispor de modo diverso (§ 2º, do
art. 49 da Lei n. 11.101/2009).
4.3. Por ocasião da deliberação do plano de recuperação
apresentado, credores, representados por sua respectiva classe, e
devedora, procedem às tratativas negociais destinadas a adequar
os interesses contrapostos, bem avaliando em que extensão de
esforços e renúncias estariam dispostos a suportar, no intento de
reduzir os prejuízos que se avizinham (sob a perspectiva dos
credores), bem como de permitir a reestruturação da empresa em
crise (sob o enfoque da devedora). E, de modo a permitir que os
credores ostentem adequada representação, seja para instauração
da assembléia geral, seja para a aprovação do plano de
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45, o respectivo quorum mínimo.
4.4 Inadequado, pois, restringir a supressão das garantias reais e
fidejussórias, tal como previsto no plano de recuperação judicial
aprovado pela assembleia geral, somente aos credores que tenham
votado favoravelmente nesse sentido, conferindo tratamento
diferenciado aos demais credores da mesma classe, em manifesta
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contrariedade à deliberação majoritária.
4.5 No particular, a supressão das garantias real e fidejussórias
restou estampada expressamente no plano de recuperação
judicial, que contou com a aprovação dos credores devidamente
representados pelas respectivas classes (providência, portanto,
que converge, numa ponderação de valores, com os interesses
destes majoritariamente), o que importa, reflexamente, na
observância do § 1º do art. 50 da Lei n. 11.101/2005, e,
principalmente, na vinculação de todos os credores,
indistintamente.
5. Recurso especial parcialmente provido.”
(REsp 1700487/MT, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva,
Rel. p/ Acórdão Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira
Turma, julgado em 02/04/2019, DJe 26/04/2019)
No mesmo sentido:
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judicial da empresa devedora principal, homologada pelo juízo
recuperacional, que previu supressão das garantias fidejussórias e
reais Debate jurisprudencial acerca de sua possibilidade e
abrangência em caso de aprovação da renúncia pela maioria da
respectiva classe de credores Inteligência dos arts. 49, § 2º e 50,
§ 1º da Lei 11.101/2005 Precedentes do STJ no julgamento do
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REsp nº 1.532.943/MT e do REsp nº 1.700.487/MT Caso dos
autos em que tal hipótese se configurou Prevalência da coisa
julgada perante o juízo recuperacional Extinção da execução
contra os sócios coobrigados. Recurso provido.” (TJSP;
Apelação Cível 1035209-35.2018.8.26.0114; Relator (a): Helio
Faria; Órgão Julgador: 18ª Câmara de Direito Privado; Foro de
Campinas - 7ª Vara Cível; Data do Julgamento: 27/07/2020; Data
de Registro: 28/07/2020)
Registre-se que este juízo não apresenta competência para apreciar a alegada
ilegalidade da cláusula “15.2” ou de qualquer outra disposição contida no plano
homologado de recuperação judicial.
Assim, nesse contexto, o presente recurso merece provimento, para julgar
procedente os presentes embargos à execução, determinando-se a suspensão da
execução até o cumprimento do plano de recuperação judicial.
Ante o exposto, nos exatos termos acima lançados, dá-se provimento ao
recurso para julgar procedente os embargos à execução, determinando-se a
suspensão da execução até o cumprimento do plano de recuperação judicial. Em
razão do ora decidido, o ônus de sucumbência é invertido e os honorários
advocatícios são arbitrados por equidade em R$ 30.000,00 (trinta mil reais),
considerando os parâmetros do artigo 85, §2º, do Código de Processo Civil,
precipuamente a complexidade da causa, valor este que deve ser corrigido pela
Tabela Prática do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo a partir da
data de publicação do presente acórdão.
Por derradeiro, dá-se provimento ao recurso.
9
fls. 928
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