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Paulo Roberto, o fenômeno neopentecostal e

o futuro das Assembléias de Deus


12 de outubro de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

No decorrer de sua história, o pentecostalismo apresentou crias personalistas, que


com seus dotes carismáticos fizeram e fazem sucesso em todo o mundo. A versão
pentecostal tupiniquim apresentou dezenas de novos nomes entre pregadores que se
tornaram grandes conferencistas. Assim foi com Geziel Gomes, Hidekasu Takayma,
Abílio Santana, Napoleão Falcão e mais recentemente com Marco Feliciano. A
eloqüência, no sentido coloquial da palavra, e os sinais miraculosos são marcas
desses pastores que espalham suas mensagens por meios de cd´s, DVD´s e internet.
Um novo nome no cenário assembleiano é de um controvertido pregador de milagres
estranhos. O pastor Paulo Roberto promove sua “campanha dos milagres” no maior
templo do país, pertencente às Assembléias de Deus de Cuiabá, cujo dirigente é o
pastor Sebastião Rodrigues de Souza. Em seu site [1], testemunha vários casos de
curas e eventos extraordinários, onde até mesmo já relatou que Deus falou com ele,
em um momento de dificuldade, usando algumas galinhas que falavam em línguas
com interpretação de um galo [2]! Paulo Roberto relata que foi curado de vários
tumores malignos.
Paulo Roberto tem sido convidado para vários congressos e festas em igrejas
pentecostais, onde relata testemunhos, canta, ora para que Deus coloque dinheiro em
contas bancárias e dê dentes de ouro. De calvície até câncer são relatados como
curas em suas reuniões de milagres. Paulo Roberto advêm de uma geração
“milagreira” e pragmática, pois a avaliação de seu ministérios e suas verdades
doutrinais advêm de sua facilidade com a manipulação do transcendental.

O milagreiro controvertido

Dentes de ouro? Dinheiro em conta bancária? Galinhas que falam em línguas?


Bizarrices é o que não falta do ministério do pastor Paulo Roberto! Suas
reuniões são sempre lotadas e marcadas por um emocionalismo histérico
diante do “show pessoal” que esse pregador faz após o suposto milagre.
Sempre alega que quem criticar suas práticas bizarras e anti-bíblicas são os
fariseus, frios, incrédulos, ímpios e usa até palavras de baixa calão, como
vagabundos etc. As advertências para os críticos vem de palavras
ameaçadoras, que ele interpreta como autoridade advinda do céu. As suas
pregações são marcadas por uma superficialidade gritante, onde os textos
bíblicos são usados como meros incertos para seus sermões.

Conseqüências para a denominação


A tolerância para sujeitos como Paulo Roberto, que ocupa púlpitos, dirige
reuniões em igrejas importantes e ainda é convidado especial de grandes
congressos; mostra como a principal igreja evangélica do Brasil precisa
urgentemente de uma revisão de suas prioridades. Muito se discute no seio da
Assembléia de Deus sobre a conservação de uma identidade, que é
confundida por muitos como conservação dos mesmos “usos e costumes”.
Enquanto o debate controvertido e infrutífero da “identidade assembleiana” é
levantado em convenções politizadas e divididas em partidos, nada é feito
concretamente para impedir o avanço de pastores que pregam heresias e
bizarrices.
Como uma denominação como as Assembléias de Deus, depois de tanto
avanço quanto ao conhecimento bíblico e despertamento para uma maior
maturidade, ainda mantém em seu quadro de obreiros, pastores que
promovem suas superstições? Porque não há boicotes e repreensões públicas
com uma convenção estadual que tolera e incentiva tais práticas? São
questões difíceis de entender… Tal fato mostra como o discurso da “identidade
assembleiana” é mero discurso retórico vazio e sem sentido, que só pega
mesmo em tempo de pleito eleitoral.
A tolerância para com os modismos e heresias do pastor Paulo Roberto
contraria fortemente as orientações da Convenção Geral, que sendo ele
ministro filiado, deveria ao mesmo considerar. A CGADB (Convenção Geral
das Assembléias de Deus no Brasil) é contra uma série de práticas promovidas
pelo pastor Paulo Roberto. Na oitava ELAD, que é um encontro de pastores
assembleianos ligados a CGADB, na cidade de Porto-Seguro- BA, em outubro
de 2002, foi reafirmado a posição contrária da Assembléia de Deus em relação
aos modismos neopentecostais. No relatório da ELAD, está escrito:

Sob o esfuziante tema “Não extingais o Espírito” o 8° ELAD trouxe a tona os


fenômenos promovidos pelos movimentos neo-pentecostais como: “cair no
Espírito”, “sopro do Espírito”, “benção de Toronto”, “dançar no Espírito”,
“dentes de ouro” e outras enxurradas de práticas inovadoras que andavam
perturbando o seio da igreja. Nas palestras ministradas pelos pastores José
Wellington Bezerra da Costa, Antonio Gilberto, Elienai Cabral e Elinaldo
Renovato de Lima, os mais de 700 pastores e evangelistas inscritos no
encontro, puderam constatar que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para
tais acontecimentos e reafirmaram que o autêntico mover do Espírito é aquele
que traz avivamento espiritual, batismo no Espírito Santo e transformação na
vida do homem.

Identidade falha, igreja fraca

Enquanto os maiores líderes da denominação continuarem perdendo o seu


tempo discutindo pormenores em relação à liturgia (como pode ou não poder
bater palmas?) ou em relação aos usos e costumes (como pode ou não usar
adornos?), as Assembléias de Deus regredirão e produzirão outros pregadores
bizarros. É preciso corrigir os erros do passado, como o legalismo e o anti-
intelectualismo e manter as benesses dos pioneiros, como o zelo missionário e
a busca intensa do poder de Deus para testemunhar o evangelho. Não se pode
ter uma visão romantizada e saudosista, assim como não se deve desprezar o
legado da tradição!
Qual o caminho que a Assembléia de Deus quer seguir?

Será que o futuro assembleiano continuará com o obscurantismo teológico e


seu legalismo retrógrado? Ou será que os assembleianos do século XXI serão
marcados por uma mística supersticiosa, onde a espiritualidade é medida pelo
barulho e a reflexão teológica é nula?
Bom seria que as Assembléias de Deus no Brasil caminhassem para o
aprofundamento doutrinário-teológico com busca de uma autentica
espiritualidade pentecostal, sem amarras de modismos e anacronismos.
Teologia e espiritualidade equilibradas por um pentecostalismo que dialoga
com outras confissões protestantes, como os reformados, batistas, anglicanos
e até, quem sabe um dia, com os fechados fundamentalistas.
A esperança é viva para uma Assembléia de Deus livre de superstições
pseudo-pentecostais, com maior reflexão teológica, mas também que nunca
deixe seu zelo evangelizador e a busca pelos dons do Espírito, que sempre
serviram para a edificação constante da congregação. A sustentação do
passado, com uma contextualização presente!

Conclusão:

Não se pode falar em uma denominação forte e sadia, com um ufanismo cego,
quando se tem em seu quadro, com uma tolerância absurda, pessoas que
promovem confusão no seio da igreja.

Notas e Referências Bibliográficas:

1- http://www.pastorpauloroberto.com/

2- No seu testemunho, o pastor Paulo Roberto descreve como foi sua experiência com
as galinhas que falavam em línguas. Vejam só o relato:
Quando aquela mão branca me levou no galinheiro, de repente, não era mais uma
mão, era um homem de branco, que me disse: – Paulo, você iria se suicidar por causa
do silêncio de Deus?
– Sim, respondi somente no pensamento, mas ele entendeu.
– Paulo, os profetas te abandonaram e ainda dizem que o teu Deus te abandonou?
– Sim, respondi novamente só no pensamento, porque não tinha forças para abrir a
boca.
– Paulo, hoje você vai saber que quando falta profetas para falar, O Senhor Deus usa
quem Ele quer e da maneira que lhe aprás.
Naquele momento, um poder de Deus tão grande desceu sobre o galinheiro e todas
as galinhas começaram a falar em línguas angelicais. De repente uma galinha do
outro lado do puleiro, começou a falar com mais autoridade e todas as outras galinhas
pularam do puleiro em reverência, enfiaram o bico na terra, cruzaram as asas e
gemiam dizendo: Hummm, hummm, fala com o Teu filho Senhor. Naquele momento
aquela galinha que falava com mais autoridade, veio rodeando um lado do puleiro e
um galo a acompanhava do outro lado, quando chegaram onde eu estava, a galinha
colocou a asa na minha testa, falava em línguas angelicais e o galo interpretava, e a
interpretação de Deus no bico do galo foi esta: “MEU FILHO PAULO, NÃO
PRATIQUES O SUICÍDIO, NESTE MOMENTO ESTOU TE CURANDO DE CÂNCER,
TE LEVANTANDO UM PREGADOR DA MINHA PALAVRA. VOU CUIDAR DA SUA
AGENDA, PORQUE O MUNDO CONHECERÁ O SEU NOME, TE USAREI COMO
MÉDICO NO MEIO DO MEU POVO, POR ONDE TU PASSARES, CURAREI OS
ENFERMOS . E naquele momento eu fui radicalmente, totalmente curado de câncer
pelo poder de Deus. Extraído do site
pessoal: http://www.pastorpauloroberto.com/index.php?
pg=mostra_paginabd.php&c=1#

Análise crítica do Congresso de Missões


dos GMUH
21 de outubro de 2007Gutierres Fernandes Siqueira

Os Gideões Missionários da Última Hora (GMUH) é uma organização


evangélica que faz um ótimo trabalho de missões por todo o mundo. Há vários
missionários sustentados por esse ministério e os GMHU, tem feito um trabalho
eficaz na Amazônia e no Nordeste. O propósito desse artigo não é contestar o
trabalho missionário dos GMUH e nem a seriedade dos integrantes desse
ministério, mas sim, analisar de maneira crítica, um evento anual e de grande
sucesso: O congresso de missões dos GMUH.
Esse congresso reúne milhares de pessoas na cidade de Camburiú, em Santa
Catarina , e é até prestigiando pelo governo local, pois há uma grande
movimentação na cidade. É um dos eventos mais disputados por cantores e
pregadores de cunho “avivalista”. Além disso, o congresso conta com a
participação de famosos pregadores, como Marco Feliciano, Hidekasu
Takaiama, Gilmar Santos etc.
Antes da análise é preciso esclarecer que esse texto foi escrito por um
pentecostal, pertencente à Igreja Evangélica Assembléia de Deus e que o
objetivo não é ofender pessoas, mas como acima está foi exposto, o propósito
é analisar esse congresso anual do GMUH.
Quais são os pontos críticos do evento?

01) Promove os manikos do pentecostalismo.

Manikos é uma expressão na teologia pentecostal para designar as


manifestações extravagantes atribuídas ao poder do Espírito Santo. Essas
manifestações nada tem haver com os dons espirituais, mas são extra-bíblicos,
e baseados em experiências de homens do passado. O fenômeno do “cair no
espírito”, “risada santa”, “êxtase”, “unção dos animais” podem ser classificadas
como manikos, pois não há base bíblica para tais manifestações.
No congresso dos GMHU é comum a promoção desses fenômenos, herdadas
da “bênção de Toronto”. É certo que, esse congresso foi o maior divulgador de
tais fenômenos no Brasil.

02) Não há visão apologética e de preservação doutrinária.


O evento é promovido por uma congregação pertencente à Assembléia de
Deus, denominação pentecostal clássica. Apesar dessa base, não há visão
apologética no congresso, exemplo disso foi à participação do Pr. Carlos
Móises, líder unicista de uma seita que nega a doutrina da Santíssima
Trindade.
A “renovação apostólica” tem o seu espaço no evento do GMUH. Geziel
Gomes e Oriel de Jesus, agora dizem que são “apóstolos”. Esses dois
pastores, que moram nos Estados Unidos, e os seus liderados, são constantes
no congresso.
Um líder muito celebrado nos GMUH é Benny Hinn; sempre há menção
honrosa ao seu nome por alguns pregadores. Benny Hinn é um dos mais
controvertidos dos pregadores contemporâneos.

03) Promove um culto exclusivamente emocional

É claro que o homem é um ser emocional, isso faz parte da natureza humana.
Mas não se pode esquecer que junto com a Queda de Adão, as emoções
foram afetadas pelo pecado, assim como a racionalidade. Uma fé baseada em
emoções tende ao fracasso.
O estilo de pregação no congresso é altamente emocional e pouca reflexiva.
Os assuntos abordados nos sermões, isso quando há sermões, são de auto-
ajuda ou triunfalistas. É claro que não são todos. Há pregações que, às vezes,
são altamente sensacionalistas.

04) Crítica sem fundamento aos “não alinhados”.

Muitos pregadores desse congresso criticam duramente a quem não está


alinhado com a forma adotada por eles. Um dos preletores há alguns anos,
criticou o Congresso Mundial Pentecostal, realizado pela Assembléia de Deus
em 1997, na cidade de São Paulo, pois “ali não houve milagres”.
Só é pentecostal quem se encaixa a aquela maneira extravagante de
pentecostalismo, adotada pela maioria dos pregadores desse evento. Eles, na
verdade, já criaram um estilo que permeia por todo o Brasil.
Os tradicionais já foram chamados de igrejas “sorveterianas”, isso é uma falta
de respeitos aos irmãos tradicionais, que também são habitação do Espírito
Santo, pois foram regenerados por Cristo.

Conclusão:

Tudo na vida cristã deve ser analisado a luz da Escrituras, mesmo que a
verdade não agrade a alguns. Esse texto encerra com essa forte frase paulina:
“Nada podemos contra a verdade, senão pela verdade”.

Doutrina, usos e costumes


27 de agosto de 2007Gutierres Fernandes Siqueira

Por Gutierres Siqueira

O tema “usos e costumes” é uma velha questão nos círculos pentecostais. A tradição faz
parte de todas as instituições e sociedades. Assim, é correto afirmar que todas as igrejas
têm os seus costumes, impostos ou espontâneos, mas igualmente estabelecidos. Por muito
tempo se confundiu costumes com doutrina, mas há diferenças significativas entre esses
dois conceitos.

O que é costume? O lexicógrafo Aurélio Buarque de Holanda definiu costume como “uso,
hábito ou prática geralmente observada” [1]. O dicionarista Adriano da Gama Cury definiu,
de maneira mais completa, a palavra costume como “uso, prática habitual; modo de
proceder; característica, particularidade; prática jurídica ou religiosa não escrita, baseada
no uso; moda; traje característico ou adequado…” [2]. Essas definições mostram que o
costume é um hábito repetidamente adotado por um determinado grupo social. Os costumes
fazem parte da identidade de uma instituição.

O que é doutrina? No Novo Testamento a palavra mais usada para doutrina é didache e
significa ensino, instrução, tratado ou doutrina. Segundo o teólogo Claudionor Corrêa de
Andrade, doutrina é a “exposição sistemática e lógica das verdades extraídas da Bíblia,
visando o aperfeiçoamento espiritual do crente” [3]. Doutrina, portanto, é o resultado do
um ensino teológico, adotado por uma denominação ou religião.

O pastor Antonio Gilberto apresentou em seu livro Manual da Escola Dominical [4], algumas
diferenças entre usos e costumes, e neste artigo será apresentada outras diferenças, além
da lista exposta pelo teólogo pentecostal.

a) A doutrina é de origem divina, o costume é de origem humana. A doutrina é divina


pois está baseada na inspirada Palavra de Deus. Para uma ideia ser doutrina bíblica é
preciso que ela esteja exposta por todo o texto sagrado. Nunca uma verdadeira doutrina é
baseada em textos isolados.

O costume é imposto por convenções humanas de maneira espontânea ou obrigatória, sendo


assim, o costume é humano. Há muitos que tentam achar textos bíblicos para justificar a
perpetuação de sua tradição, mas normalmente praticam a eisegese [5], ou seja, dizem o
que bem querem e tentam justificar na Bíblia. O teólogo Esdras Costa Bentho, escrevendo
sobre a eisegese, disse:

O intérprete está cônscio de que a interpretação por ele asseverada não está condizente
com o texto, ou então está inconsciente quanto aos objetivos do autor ou do propósito da
obra. Entretanto, voluntária ou involuntariamente, manipula o texto a fim de que sua
loquacidade possa ser aceita como princípio escriturístico. [6]

Tentar justificar na Bíblia as tradições é uma tarefa que tem levado a muitas distorções
bíblicas. O melhor é reconhecer a humanidade do costume.
b) A doutrina é imutável, o costume muda. A doutrina é permanente, ela nunca muda. A
doutrina da “justificação pela fé”, exposta principalmente nos primeiros capítulos de
Romanos, nunca mudou e nem deve ser mudada. Doutrina (bíblica) mudada é heresia.
Quando Lutero resgatou a doutrina da justificação pela fé, ele orientou a igreja a voltar na
perspectiva bíblica sobre o assunto. São passados mais de dois mil anos e essa doutrina
nunca mudou no verdadeiro cristianismo.

O costume não é imutável. No Brasil era comum os cidadãos andarem pelas ruas de chapéus,
tanto homens como mulheres, passados os anos não há mais esse costume no país.
Antigamente, os pais escolhiam com quem a sua filha casaria, mas também esse costume
mudou. É necessário que o costume mude, pois ele está ligado à cultura local, e toda cultura
é dinâmica. Mudar alguns costumes não significa passar do são para o diabólico, como
muitos pregam. A mudança é inevitável e deve ser bem orientada, mas como enfatizado, é
sempre necessária. É bem relevante o que o teólogo britânico John Stott escreveu no seu
livro Cristianismo Equilibrado [7]:

Quando resistimos a mudanças- sejam elas na igreja ou na sociedade devemos perguntar-


nos se são na realidade, as Escrituras que estamos defendendo (como é nosso costume
insistir ardorosamente) ou, se ao contrário, é alguma tradição apreciada pelos anciãos
eclesiásticos ou de nossa heranças cultural. Isto não quer dizer que todas as tradições,
simplesmente por serem tradicionais, devam a qualquer custo ser lançadas fora.
Iconoclasmo sem crítica é tão estúpido quanto conservantismo sem crítica, e é algumas
vezes mais perigoso. O que estou enfatizando é que nenhuma tradição pode ser investida
com uma espécie de imunidade diplomática à examinação. Nenhum privilégio especial pode
ser-lhe reivindicado.

Algumas igrejas estão impondo mudança de costumes, isso é um erro, que sempre levará a
exageros. Os costumes mudam naturalmente, mas devem seguir orientação para não levar a
práticas antibíblicas. As igrejas sem orientação pastoral tem aderido a costumes
extravagantes, como bailes funks em meio ao culto. Tudo deve ser feito com equilíbrio,
nada de permissividade em excesso e nem de legalismo. A igreja, também, não pode impor
“tabus comunais”. [leia mais aqui].

c) A doutrina é universal, o costume é local.

A doutrina é universal no sentido que é para todos os povos em todas as culturas. Proclamar
Jesus como Salvador faz sentido no Brasil em 2007, como para os indianos que foram
evangelizados pelo apóstolo Tomé, o primeiro missionário daquela nação, ainda no primeiro
século da Era Cristã.

O costume é local. Os homens na Escócia usam um tipo masculino de saia. No Siri Lanka é,
também, costume para homens a vestimenta com saias. Enquanto a saia, na maior parte do
Ocidente, é uma roupa exclusivamente feminina. No Brasil é comum comer peixe cozido ou
frito, mas no Japão se come peixe-cru.

d) A doutrina santifica, o costume não santifica .


A doutrina bíblica santifica o crente mediante a Palavra de Deus. Jesus disse: “Santifica-os
na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17). O ensino da Palavra de Deus, ou seja, das
doutrinas bíblicas, é um dos meios que Deus usa para levar o crente a uma vida reta, assim
como escreveu o salmista: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o
conforme a tua palavra”(Sl 119.9). John Henry Jowett disse: “Você não pode abandonar os
grandes temas doutrinários e ainda assim produzir grandes santos”. O pastor A. W. Tozer
escreveu: “O propósito que está por trás de toda doutrina é garantir a ação moral”. Por
isso, é bom lembrar que a doutrina bíblica produz, naturalmente, bons costumes.

O costume não pode santificar. Quem acredita na santificação por meio dos costumes,
normalmente, é um escravo do legalismo. O pastor Antonio Gilberto escreveu a respeito dos
erros em relação a santificação e citou o engano de associar exterioridade com santidade:
“Usos, práticas e costumes. Esses últimos, quando bons, devem ser o efeito da santificação,
e não a causa dela”[8]. E bem relevante o que escreveu o pastor Ciro Zibordi no prefácio do
livro Verdades Pentecostais:

Conservar não significa possuir uma falsa santidade, fazendo dos usos e costumes uma
causa, e não um efeito. Como pode ser ao longo dessa obra , a observância da sã doutrina
leva-nos a ter santidade interna e externa, o que implica vida santa a partir do espírito
(1Ts 5.23) e manutenção dos bons costumes. Estes, pois, não devem gerar doutrinas, como
vem acontecendo em algumas igrejas não legitimamente avivadas, para prejuízo de seus
membros. [9]

O farisaísmo se caracterizava por associar sua obras com salvação. Há muitos que fazem
dos costumes “doutrinas” e, assim, pensam que para serem salvos precisam fazer isso ou
aquilo. Como dizia Lutero: “As boas obras não fazem o homem bom; mas o homem bom
pratica as boas obras”. A inversão dessa ordem cria escravos do farisaísmo e não servos do
Altíssimo.

e) A doutrina é um princípio, o costume é um preceito .

Há diferença entre princípio e preceito? Sim. O pastor José Gonçalves escreveu: “Os
preceitos apontam para princípios e não o contrário. Um princípio é aquilo que está por trás
do preceito ou norma”[10]. Por exemplo, usar uma roupa social em um tribunal é uma norma,
um preceito. O princípio ou doutrina por trás dessa norma é que o tribunal é um lugar sério
e não ambiente de entretenimento, onde se possa ir de jeans ou short.

f) A doutrina é verdade absoluta, o costume é uma verdade relativa .

A doutrina é sempre verdade absoluta, ou seja, é para todos, em todas as épocas e em


todos os lugares. O costume é relativo, como lembra Geremias do Couto:

Ao insistirmos nos absolutos, não queremos afirmar que não haja também conceitos
relativos. Essa diversidade se manifesta, por exemplo, nas comidas típicas de cada país, nos
estilos da arquitetura, no estilo da vestimenta e até mesmo em relação à hora de dormir,
que depende do fuso horário. Mas tais circunstâncias relativas acabam apontando para
princípios biológicos absolutos; todos precisam alimentar-se, todos precisam dormir. [11]

O costume, por ser relativo, não deveria ser imposto como obrigação. Era comum
missionários europeus tentarem impor os costumes do norte em países da Ásia e da
América. Hoje, o conceito de “transculturação” está ajudando muito em relação a esse
problema.

Há muitas outras diferenças entre doutrina e costumes, mas fica apontado que ambas não
são a mesma coisa, porém estão ligadas. O bons costumes são aqueles que não escravizam o
crente, colocando um jugo que Jesus tirou na cruz, mas sim, é resultado da boa doutrina.

Notas e Referências Bibliográficas: 

1- HOLANDA, Aurélio Buarque de. Mini-Aurélio Século XXI Escolar. 3 ed. Rio de Janeiro:
Editora Nova Fronteira, 2000. p. 190.

2- KURY, Adriano da Gama. Minidicionário Gama Kury da Língua Portuguesa. 1 ed. São
Paulo: FTD, 2001. p.265.

3- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. 12 ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2003, p. 128.

4- Publicado pela CPAD(Casa Publicadora das Assembléias de Deus).

5- Prática de forjar o texto a fim de que justifique o pensamento próprio. Não confunda
com exegese.

6- BENTHO, Esdras Costa. Hermenêutica Fácil e Descomplicada. 3 ed. Rio de Janeiro:


CPAD, 2005. p. 69.

7- Publicado pela CPAD (Casa Publicadora das Assembléias de Deus).

8- GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 142.

9- ZIBORDI, Ciro Sanches. Idem, pp 3,4.

10- GONÇALVES, José. Voto de Nazireado, prática judaizante que despreza a doutrina da
graça. Resposta Fiel, Rio de Janeiro, Ano 4, n. 12, p. 26, Jun-Jul-Ago/2004.

11- COUTO, Geremias do. E agora, como viveremos? Lições Bíblicas, Rio de Janeiro, p. 39,
4. trimestre de 2005.

Novo visual, uma mudança litúrgica?


24 de agosto de 2007Gutierres Fernandes Siqueira
Uma mudança no penteado, novas cores em um terno tradicional, lentes
verdes em lugar de óculos…Vaidade? Não necessariamente, mas mudança
litúrgica e pastoral. Alguns pregadores tem aderido a uma novo visual, que
reacende em páginas da internet, o eterno debate sobre usos e costumes. Mas
esse novo visual é somente questão de usos e costumes? A resposta é não.
Essa transformação estética é a clara demonstração da mudança na liturgia: do
culto cristocêntrico para o culto antropocêntrico.
O pregador com uma estética exagerada, certamente será o centro das
atenções no culto. O papel de qualquer pregador é apresentar a Cristo, como o
único digno de adoração. A palavra, o louvor a Cristo e a oração perdem
espaço para a nova sensação do momento. Um terno vermelho chama mais
atenção do que o papel da adoração no culto.
Os modismos como cair no espírito, angelomania, nova unção etc; fazem com
que o pregador se torne uma sensação no culto, a atenção sempre será do
super-pregador, capaz de mandar no céu, no inferno e na terra, com os super-
poderes. O que parece é que esses propagadores do triunfalismo assistiam
muito desenho animado!
O exorcismo em muitos púlpitos, a luta com os demônios, o diálogo com
Satanás e a frases de efeito como “o diabo debaixo dos meus pés”; são
demostrações para a glória do Senhor ou para a glória do pregador? Isso
mostra o poder de Deus ou o “poder” do super-”apostolo”? Neste caso, quem é
o centro do culto: Cristo, o homem ou o diabo?
O “louvor” tornou-se uma imitação de gestos, manias, coreografias de um
entretenimento secular. O cantor é mais importante que o objeto do louvor. As
letras mostram, também, a mudança do culto cristocêntrico para
antropocêntrico. Os hinos de vitória, valorizam mais o homem do que a
soberania divina; os hinos de fogo, valorizam mais poder de Deus do que o
Deus de todo poder.
O “receba” é mais enfatizado do que o “entregue”. O ato de oferecer a vida em
consagração é substituída pelo receba poder. O receber poder é bíblico e
necessário, mas esse poder é para servir no Reino de Deus e não para
aumento de “status espiritual”.
A palavra do Senhor tem sido substituída por mensagens de auto-ajuda, o
estudo bíblico é trocado pelo louvorzão, a genuína vigília de oração é trocada
pelo monte místico ou por uma balada gospel. O homem se tornou o centro na
igreja, que está cada vez mais humanista.
O problema na extravagância no visual não é a questão chave, mas a mudança
do centro do culto. Há igrejas em que o púlpito, ou melhor, o palco tem uma luz
especial para ressaltar o iluminado. Em várias igrejas, é comum ver cartazes
do tipo: “Pregador Fulano de Tal, conferencista internacional, pregador
avivalista, onde pede e Deus concede” ou “Venha, traga coxos, mancos,
surdos, aleijados, que o Ungido de Deus vai orar por você”. Os incautos e
desavisados enchem as galerias dessas igrejas, ou melhor, hospitais ou salão
de beleza, pois alguns vão receber dentes de ouro.
Diante desse quadro lamentável, o que fazer? A única solução para a Igreja é o
ensino sistemático, ordenado e constante na igreja, alimentado por oração, em
uma verdadeira espiritualidade. Há esperança! O resgate do culto cristocêntrico
é o caminho para preservar a igreja dos enganos pós-modernos. Que o centro
do culto não seja o poder, o miticismo, o novo visual, os modismos doutrinários,
a “intelectualidade”, a eloquência, o ritmo da música, a auto ajuda, o
triunfalismo etc, mas que seja Cristo e a teologia da cruz, “que é escândalo
para os judeus e loucura para os gregos”(1Co 1.23).

Liturgia Pentecostal (Parte 1)


14 de abril de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

Um dos campos onde o Pentecostalismo enfrenta mais problemas é na liturgia.


Uns, adeptos de um sobrenaturalismo anti-bíblico só consideram o valor de um
culto onde há manifestações de poder, seja humano ou supostamente divino.
Outros, vêem um culto como um lugar de receber presentes celestiais, sendo
pessoas que sempre levantam a mão quando um pregador diz: “quem veio
receber uma bênção essa noite?” Há ainda aqueles que confundem culto com
um programa de entretenimento, onde o espetáculo é a ordem que rege o
momento de adoração.
Culto vem das palavras gregas latréia e proskyneo, portanto cultuar significa
adorar, reverenciar, render homenagem etc. O culto é apresentado no Novo
Testamento com alguns elementos para o sua direção. Os elementos do culto
são a oração ( At 12.12; 16.16), a exposição da Palavra ( Rm 12.17; Hb 13.7 ),
os cânticos ( I Co 14.26; Cl 3.16), a contribuição (I Co 16.12 ) e dons espirituais
( I Co 14.26-32).
Mas além da importância de conhecer os verdadeiros elementos de um culto é
preciso refletir sobre a natureza dessa adoração prestada a Deus. Tanto para
pentecostais, como para não-pentecostais é necessário refletir que:

01) O culto cristão é racional (Rm 12.1)

O culto de Deus é racional. Não há lógica os dirigentes de culto incentivarem


uma reunião em que a mente não seja cultivada. Em muitos cultos há um
reverência para a irracionalidade, pois os louvores nada dizem e são meros
sons jogados ao vento, onde ninguém entende a nada da mensagem musical.
Os supostos arrebatamentos de sentidos além das glossolalias sem
interpretações, fazem sentido em um culto racional? O culto anti-litúrgico, onde
não há ordem e muito menos decência, condiz com um culto em que se usa a
razão? As supostas “danças, caídas, sopros, pulos, cambalhotas, retetés… no
espírito” se encaixam no culto que se deve cultivar a racionalidade?
Em Romanos 12.1, Paulo adverte a igreja para oferecer um culto logikos, que
pode ser traduzido por “relativo à razão, racional…”[1] O uso da mente, tão
desprezado no meio evangélico, é totalmente incentivada pelo doutor dos
gentios. Tanto os louvores, a exposição da Palavras e as manifestações
carismáticas devem seguir uma lógica compreensível a todos os presentes no
culto.

02) A exposição da Palavra é o ápice do culto (At 20.7-8).


A pregação expositiva, onde o texto é discorrido com esmero exegético e
hermenêutico, debaixo de oração constante para o quebrantamento dos
corações ouvintes é o ponto máximo da adoração cultual. O tempo do culto tem
sido substituído por pregações artificias, que mais parecem programas de
auditório, onde o propósito é animar os presentes. A Palavra de Deus precisa
ser pregada com o máximo de preparo e o pregador nunca deve substituir
o khronos kerigmático por testemunhos, campanhas, cantorias etc. John Piper
escreve: “A Palavra significa para a adoração o que o oxigênio significa para a
respiração”.
O pastor inglês John Stott relacionou muito bem o culto a pregação:

Adoração pertencem indissoluvelmente uma à outra. Toda a adoração é uma


resposta inteligente e amável à revelação de Deus, porque é a adoração de
seu nome. Portanto, a adoração aceitável é impossível sem a pregação.
Pregar é tornar conhecido o nome de Deus, e adorar é louvar o nome do
Senhor sobre o qual fomos informados. Ao invés de ser uma intrusão
alienígena à adoração, o ler e o pregar a Palavra são realmente indispensáveis
à adoração. As duas não podem ser divorciadas. [2]

Na igreja hodierna a pregação nunca foi tão carente e desprezada. Apesar do


grande número de “pregadores”, “conferencistas internacionais”, “profetas” etc,
a pregação bíblica expositiva e bem explicada, é cada vez mais rara nos
púlpitos das igrejas.

Continua…

Referências Bibliográficas:

1- RIENECKER, Fritz e ROGERS Cleon. Chave Linguística do Novo


Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova, 1995. p 276.

2- STOTT, John R. Between TwoWorlds. Grand Rapids: Eerdmans, 1982. p.


82. cit. MacARTHUR, John in Como devemos cultuar a Deus?

Liturgia Pentecostal (Parte 2)


20 de abril de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

“O fato é que muitos gostariam de unir igreja e palco, baralho e oração, danças e
ordenanças. Se nos encontramos incapazes de frear essa enxurrada, podemos, ao
menos, prevenir os homens quanto à sua existência e suplicar que fujam dela.
Quando a antiga fé desaparece e o entusiasmo pelo evangelho é extinto, não é
surpresa que as pessoas busquem outras coisas que lhes tragam satisfação. Na falta
de pão, se alimentam com cinzas; rejeitando o caminho do Senhor, seguem
avidamente pelo caminho da tolice”. (Charles Haddon Spurgeon)
No post anterior foram analisados dois aspectos da liturgia cristã. Continuando
o estudo é preciso refletir sobre outras questões relacionadas ao culto.

c) Danças no culto?

Nunca na história da Igreja Cristã houve o elemento da dança no culto. A


dança não esteve presente nos cultos dos Apóstolos, Pais da Igreja, Idade
Média, Reforma, Grande Despertamento de século XVII etc. Não há bases
neotestamentárias para introduzir as danças no culto cristão. O culto racional
( Logikem Latria) não necessita de manifestações estéticas ou locais fixos, pois
se adora a Deus em “espírito e em verdade”(Jo 4.23).
A dança sempre esteve presente no Antigo Testamento. O cotidiano
veterotestamentário havia a dança como parte das expressões de alegria do
povo de Israel, mas essas danças nunca foram introduzidas dentro do Templo,
era algo fora do arraial. A dança no Antigo Testamento era expressão de
alegria patriótica, agrícola, nacionalista e de guerra (Ex. 15.20; Jz 11.34; Jz
21.21; I Cr 13.8; 15.29; II Sm 6. 14); era uma forma de louvar ao Senhor pelas
vitórias e conquistas do povo. Mas a dança nunca foi litúrgica, em ambos os
testamentos.
A dança é uma expressão de arte, assim como esculturas, arquitetura, pintura,
poemas etc. Portanto, a dança apresenta o seu valor como uma manifestação
da arte clássica e contemporânea. O fato da dança ser arte, não faz dela
elemento de culto, assim com a arte de pintar, também não é elemento para
cultuar a Deus no momento da adoração. O cristão pode e deve valorizar a
arte, mas não pode colocar todas as manifestações de arte no culto.
Assim como é errado introduzir danças no culto, pois ele tem um propósito
racional, é igualmente errado “demonizar” toda expressão artística da dança. É
preciso distinguir a dança como arte do mero requebrado sensual-libertino. O
dualismo platônico (corpo x espírito) que influenciou a igreja da Idade Média
(vide Tomás de Aquino) e ainda influência boas parte dos cristãos, condena a
dança simplesmente por ser algo “da carne”(leia corpo humano), mas antes de
se “demonizar” essa expressão corporal, é preciso lembrar que ela tem
validade, mas não no culto ao Senhor. As artes podem se contempladas como
parte da criação de Deus e o cristão deve fazer parte da construção de uma
arte sadia, como lembra Nancy Pearcey: “O melhor modo de repelir uma
cosmovisão ruim é oferecendo uma boa, e os cristãos devem deixar de criticar
a cultura e passar a criar cultura”[1] e Charles Colson diz: “Mas Deus não
chama o seu povo simplesmente para ficar por aí apagando o fogo depois que
o mundo secular o acendeu. Ele nos chama para acendermos o nosso próprio
fogo, para renovar a cultura. E a melhor maneira para acabar com a arte ruim é
incentivar a boa arte”[2]. Ver o corpo e aquilo que apresenta relação corporal
como diabólico é totalmente antibíblico(Cl 2.20-23; I Tm 4.1 ); mas é claro que
a tudo tem limites e princípios bíblicos que devem nortear o espírito, a alma e o
corpo (I Ts 5.23).

d) Oferta ou negociata?(II Co 9.1-15)

A oferta é um ato de louvor e mordomia cristã. A oferta é importante no culto,


mas não sua parte principal, pois em muitas igrejas a oferta ganhou o maior e
mais rentável espaço do culto. Em uma reportagem sobre o “comércio
evangélico”, um repórter de uma revista secular calculou que um pastor, de
uma gigantesca igreja neopentecostal, gastou 80% do culto pedindo dinheiro.
Uma igreja que adora a um deus mercantilista e é presa a “teologias”
materialistas dará muita vazão para as ofertas, acima do que a Bíblia exige
como um ato de amor (II Co 9.7). Deus quer é um coração generoso e não se
move pelo dinheiro de ninguém. Deus não trabalha com barganha.
Muitos praticamente obrigam as pessoas a ofertarem por meio de falsas
profecias. Há um pastor-radialista na cidade de São Paulo que todos os dias
pede oferta para pagar o seu programa, que sempre está atrasado nos
pagamentos. Esse pastor-radialista sempre diz: “Oferte, pois daqui cinco dias
Deus te dará uma grande bênção”. Nunca muda o seu discurso e prega um
deus que se move pelo dinheiro.
O evangelho de Jesus Cristo é o evangelho da Graça, portanto Deus não é
comprado por boas obras e nem por um corpo queimado em oferta se a
motivação para tal é egoísta (I Co 13.1-3).

e) Milagres.

Os dons espirituais é parte do culto ( I Co 14.26), mas o culto não se resume


em manifestações carismáticas e de milagres extraordinários. A desordem do
culto é um dos maiores problemas para a igreja atual, pois há uma tendência
de valorização da bagunça denominada de “reteté”. Os dons devem existir
segundo as ordens estabelecidas pela Palavra ( Cf. I Co 14). Dons sem ordem
trazem confusão e não edificam a Igreja, sendo essa a principal função dos
carismas.
A igreja precisa entender a razão de seu culto, que é adorar e bendizer ao
Deus Todo-Poderoso. Os elementos são importantes para o exercício cultual e
forma estabelecidos por Deus para edificação da igreja.

Referências Bibliográficas:

1- PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p


63.

2- COLSON, Charles e PEARCEY, Nancy. O Cristão na Cultura de Hoje. 1


ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 261-262.

“Receba a porção dobrada do Espírito


Santo”! Ou, veja porque essa declaração é
uma bizarrice!
4 de fevereiro de 2013Gutierres Fernandes Siqueira
Por Gutierres Fernandes Siqueira

Você certamente já ouviu algum pregador pentecostal orando para que a plateia ou uma
pessoa específica recebesse a “porção dobrada do Espírito Santo”. A base é 2 Reis 2, mas a
interpretação é equivocada. Nesse texto, temos a história do profeta Elias designando a
continuidade de seu ministério para Eliseu antes de ser transladado. Nos versículos 9 a 11
lemos:

Sucedeu, pois, que, havendo eles passado, Elias disse a Eliseu: Pede-me o que queres que te
faça, antes que seja tomado de ti. E disse Eliseu: Peço-te que haja porção dobrada de teu
espírito sobre mim. E disse: Coisa dura pediste; se me vires quando for tomado de ti, assim
se te fará; porém, se não, não se fará. E sucedeu que, indo eles andando e falando, eis que
um carro de fogo, com cavalos de fogo, os separou um do outro; e Elias subiu ao céu num
redemoinho.

Bom, vejamos o que a expressão “porção dobrada” significa.

1. Quando Eliseu pede a “porção dobrada”, na verdade, ele está requerendo o direito
de progenitura sobre os demais profetas da escola de Elias.

Elias foi líder de uma “escola de profetas”, e Eliseu era um dos seus alunos. O ambiente da
escola lembrava uma fraternidade onde os membros eram chamados de “filhos dos
profetas” (v. 3,5). Ora, com a trasladação de Elias quem seria o seu substituto? Ou seja,
quem havia de ser o novo líder? Então, Eliseu baseado na lei mosaica (cf. Dt 21.17) pede a
Elias a “porção dobrada”, ou seja, os direitos de um filho primogênito. O primeiro filho
recebia o dobro das riquezas do pai em relação aos seus irmãos, e isso implicava mais
responsabilidade para a manutenção da família. Donald J. Wiseman lembra que esse filho
primogênito “tinha a responsabilidade de perpetuar o nome e o trabalho do pai” [1].

Nesse sentido, a tradução da Nova Versão Internacional (NVI) traz mais luz para a
interpretação: “Depois de atravessar, Elias disse a Eliseu: ‘O que posso fazer por você
antes que eu seja levado para longe de você?’ Respondeu Eliseu: ‘Faze de mim o principal
herdeiro de teu espírito profético’”. [grifo meu].

2. A “porção dobrada”, portanto, em um primeiro momento, não significava “mais


poder” para milagres. Significa, isso sim, mais responsabilidade como o novo líder a
representar o legado do antigo líder. Assim, por que os pregadores atuais falam em
“porção dobrada” como “poder em dobro” para milagres, mas esquecem da
responsabilidade de um legado na substituição de uma liderança?

Repito: a expressão não significa, a princípio, um poder dobrado para milagres ou um


ministério ainda mais poderoso em sinais e maravilhas do que o de Elias. É tão verdade que
Eliseu continua o trabalho de Elias, mas não se tornou um profeta mais importante do que o
seu “pai espiritual”. Ele é usado por Deus em continuidade, mas não se sobrepõe ao seu pai
na fé. Quem é o profeta mais lembrado depois de Moisés na história e literatura hebraica?
Elias é a resposta. Eliseu certamente pensava que a continuidade do ministério de Elias
implicaria grandes sinais, mas a expressão em si não indica essa questão, mas sim o direito
de substituí-lo como líder.

3. Elias não concede o pedido a Eliseu porque tal atribuição era divina, e não humana.
Como os pregadores atuais podem oferecer o que não é prerrogativa deles?

Eliseu recebe a “porção dobrada” da parte de Deus, mas não de Elias. O profeta Elias
mostra a Eliseu que a resposta ao pedido não dependia dele, mas sim do Senhor. “ Coisa dura
pediste”, diz Elias, indicando que Eliseu seria o seu substituto mediante a observação de
seu arrebatamento. O teólogo pentecostal Wilf Hildebrandt escreve sobre essa passagem:

A dificuldade de honrar o pedido é demonstrada por Elias, que faz com que o direito de
sucessão dependa do avistar de sua partida por parte de Eliseu. Elias indica que não é uma
prerrogativa sua o responder ao pedido e sim uma prerrogativa de Deus. Assim, o pedido
por “uma porção dupla” não é concedido por ele, mas depende da permissão de Iahweh para
que Eliseu testemunhe sua partida e ‘abra os seus olhos’ para a seleção de Deus. Somente
Deus poderia escolher um sucessor para Elias e transferir se o Espírito para o profeta
escolhido.   [2]

É interessante observar que um pregador que acredita atribuir o Espírito Santo em dobro
para outras pessoas não traz essa ideia da cosmovisão bíblica, mas sim de uma cosmovisão
animista, portanto, pagã. É necessário rejeitar qualquer tentativa de interpretar o texto
bíblico segundo padrões mágicos que arranham a correta interpretação do mesmo. Ninguém
pode “jogar” o Espírito Santo em dobro no outro. O Espírito Santo enche o verdadeiro
crente segundo a graça divina para o serviço do Senhor. “Mas a manifestação do Espírito é
dada a cada um, para o que for útil” [1 Co 12.7].

Referências Bibliográficas:

[1] WISEMAN, Donald J. 1 e 2 Reis. Introdução e Comentário. 1 ed. São Paulo: Edições
Vida Nova, 2006. p 172.

[2] HILDEBRANDT, Wilf. Teologia do Espírito de Deus no Antigo Testamento. 1 ed. São
Paulo: Editora Academia Cristã e Edições Loyola, 2008. p 195.

A pobreza da Música Pentecostal
8 de dezembro de 2012Gutierres Fernandes Siqueira

Por Gutierres Fernandes Siqueira

A Música Pentecostal é um gênero bem específico. Se você é de uma igreja tradicional ou


até mesmo neopentecostal raramente ouvirá esse ritmo. A chamada Música Pentecostal é
marcante no ambiente assembleiano e em igrejas de liturgias parecidas com as Assembleias
de Deus. As principais expoentes são as cantoras Cassiane, Lauriete, Damares, Elaine de
Jesus, Vanilda Bordieri etc.

O principal compositor desse gênero é o pastor Elizeu Gomes. O músico Gomes estudou no
Hosanna International Seminar, o mesmo seminário que publica a “Bíblia Revelada”.
Revelada? O nome já diz tudo. O seminário é uma versão “pseudoerudita” de um
pentecostalismo dado a extravagâncias litúrgicas e pregações cheias de analogias abusivas.
É um daqueles seminários que oferece “mestrado” em um kit com 25 apostilas.

Mas por que falo em pobreza? Ora, a chamada Música Pentecostal é incrivelmente pobre:
tanto em estilo como em teologia.

Estilo

É incrível como todas as músicas são perecidas. O ritmo começa lento como se fosse uma
seresta (espécie de serenata) ou um brega melódico e depois parte para uma agitação
repentina. A agitação normalmente vem em ritmo de forró, sertanejo, axé ou como marcha.
A previsibilidade do ritmo é altíssima. Você sempre sabe que na metade da música haverá
uma mudança. As notas musicais variam pouco entre uma e outra música. Não é à toa que as
igrejas pentecostais estejam cheias de “vocais” e com raros corais.

Teologia

Bom, quem faz mestrado com apostilas recebidas pelo correio não pode ser considerado um
mestre. Falta, no mínimo, honestidade intelectual. E fazer músicas com uma teologia pobre
de Bíblia e sem a correta interpretação? Ora, são músicas que falam em uma “porção
dobrada do Espírito” como se a expressão referisse a todos nós. Onde anda a correta
interpretação bíblica? Bom, e eu nem preciso falar sobre a ênfase na vitória, a centralidade
nas necessidades humanas, a exaltação da vingança, a ausência de um culto a Deus etc. e
tal.

Vale lembrar o velho Donald Gee, ainda na década de 1930, alertava os pentecostais sobre
o desvio em sua música:

Gostaria que os nossos hinos fossem mais de adoração. Setenta e cinco por cento de nossos
cânticos hoje falam mais sobre nós mesmos, sobre nossos sentimentos e experiências. É
tempo de chegarmos à igreja para cantarmos ao Senhor. Seria uma boa coisa realizar uma
ou duas reuniões onde chegássemos para ministrar ao Senhor, onde chegássemos para
trazer-lhe algo. [1]

Portanto, a pobreza da música torna a nossa igreja pentecostal mais pobre.

Referência:

[1] GEE, Donald. Como Receber o Batismo no Espírito Santo: Vivendo e Testemunhando
com Poder. 6 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 71. O título original é Pentecost
(Pentecostes, em português). A partir do ano 2000 a editora trocou o título pelo descrito
acima. O título é muito infeliz, já que o próprio autor condena a ideia de uma “fórmula” para
receber o “revestimento de poder”.
Neo-pós-pseudo-pentecostalismo Parte 02
12 de novembro de 2007Gutierres Fernandes Siqueira

Continuando o artigo anterior, onde a abordagem sobre o neopentecostalismo


não é sociológica, mas uma avaliação teológica, partindo da premissa que o
pentecostalismo clássico difere do neopentecostalismo na sua essência
doutrinária. O neopentecostalismo, que surgiu em meados dos anos 70, é o
grupo cristão que mais cresce no Brasil e o crescimento desperta o interesse
de sociólogos, historiadores, teólogos católicos e protestantes tradicionais. Os
pentecostais, também, precisam fazer avaliações teológicas do movimento
neopentecostal, e diferenciar esses dois grupos, mas com um sentimento
pastoral.

a) o neopentecostalismo tem uma hermenêutica diferente do cristianismo


histórico.

Se você já ouviu pregações em igrejas neopentecostais, percebeu que a maior


parte das pregações são no Antigo Testamento? Já viu que os pregadores
“avivalistas” gostam de textos que abordam a história da Abraão, Elias, Eliseu,
Davi, Daniel, Jeremias etc? Percebeu que o ministério profético do Antigo
Testamento é muito abordado nas preleções dos “conferencistas
internacionais”? Se não, ouça e verá!
Em trabalho acadêmico para a Faculdade Teológica Batista de Campinas,
sobre o neopentecostalismo, o professor Isaltino Gomes Coelho observa que “a
leitura bíblica neopentecostal é atomizada…isto é, fragmentada, de versículos
isolados, é desculturada, desarrigada de seu contexto e usada
alegoricamente¹. Sendo assim, prega excessivamente no Antigo Testamento.
Abusa dos símbolos vero-testamentário e aplica a simbologia judaica de forma
distorcida na igreja hodierna, que é ou deveria ser neotestamentária. Como
observou o teólogo Esequias Soares: “Seus líderes inventam campanhas,
tentando realçá-las em textos e personagens do Antigo Testamento,
empregando figuras e símbolos, completamente fora do contexto bíblico, como
ponto de contato para estimular a fé, e também para arrecadar fundos”². São
campanhas dos “318 pastores”, “Unção apostólica de Elias”, “Azeite da Viúva”,
“Porção dobrada de Eliseu”, “Derrubando as muralhas de Jericó”. O teólogo
Paulo Romeiro, que é de confissão pentecostal, observa:

As campanhas semanais, os cultos “de libertação”, “da vitória”, “da conquista”


e “da prosperidade” se multiplicam na disputa de fiéis. Tudo isso dirigido a um
público despreocupado também com as regras de interpretação bíblica, pouco
afinado com a reflexão, mas numa busca constante e intensa de solução. Os
pregadores farão tudo para atrair seus “clientes”, muito disputados hoje em dia
no mercado evangélico.³
Quando se quer extrair, de modo legítimo, um ensinamento bíblico; se parte
para a hermenêutica histórica, contextual, linguística e teológica, mas a
analogia é o aspecto central na hermenêutica neopentecostal. Em vez de uma
exegese, para extrair do texto bíblico o que ele diz, se pratica a eisegese,
colocando no texto o seu próprio pensamento, ou seja, se tenta justificar por
meio da Bíblia. A Bíblia para o neopentecostalismo é indicativa, ou seja, se
recorre a ela como justificadora de suas práticas, mas não normativa, ou seja,
determinando as doutrinas e práticas da igreja. A Bíblia, no
neopentecostalismo, é um simples amuleto e enfeite de emaranhados de
doutrinas estranhas as Sagradas Escrituras.
Uma questão importante na hermenêutica neopentecostal é que ele é
pragmática e empírica. Pragmática se entende que a interpretação bíblica do
neopentecostalismo busca praticidade ou funcionalidade de sua crença; se
algo é prático e dá certo, então é preciso inserir na doutrina neopentecostal.
Quando algum apologista critica as experiências e crenças no
neopentecostalismo, os seus promotores vem com os seguintes argumentos:
“mais as pessoas são curadas”, “mas isso tem dado certo”, “explique os
milagres de meu ministério” etc. Sempre se recorre a funcionalidade de suas
doutrinas. A experiência sempre procede a doutrina no neopentecostalismo. O
Rev. Alderi Sousa de Matos observa:

No neopentecostalismo – inclusive nos seus enclaves nas denominações


históricas -, por mais que seus integrantes se declarem defensores das
Escrituras, a importância atribuída as fenômenos, maravilhas e novas
revelações os empurrarão à incômoda consequência prática de terem na Bíblia
a sua “fonte secundária” de conhecimento. 4

No contexto na interpretação bíblica, a experiência conta como a mais alta


autoridade, determinando os sentido de um texto. A Bíblia, nessa situação, não
é a regra de fé e prática. Kenneth Hagin estabeleceu a fórmula de fé da
confissão positiva, baseado em um suposto encontro com Jesus, por meio da
visão ele criou uma nova doutrina. A revelação, as crenças pessoais, as
profecias, as visões tomam o lugar da Palavra de Deus, no momento em que
elas estabelecem doutrina.
A hermenêutica neopentecostal é individualista e mística. Quando se lê a
Bíblia, não procuram compreender o significado original que o escritor,
inspirado pelo Espírito Santo, escreveu. Cada crente que leia a sua Bíblia e
interprete da maneira transcendental, por meio de uma revelação interior.
Procuram sempre achar novas verdades, e dizem ser portadores de nova
revelações, desprezadas pela igrejas durante séculos. Sendo esse
entendimento, sempre individual, por meio de uma iluminação. Na leitura
neopentecostal, o Espírito Santo, dá o significado de um texto para
necessitadas específicas de várias pessoas, ou seja, o versículo passa a não
ter uma significação absoluta, mas é uma mensagem diferente em cada
revelação. Um pregador neopentecostal, instruindo novos convertidos, disse:
“Vocês precisam ouvir a voz de Deus, ser guiados pelo Espírito Santo. Para
isso, orem nas madrugadas e peça que Deus revele a Sua vontade para a sua
vida. Então Deus vai te acordar pelas madrugadas e te dirá aquilo que tu
precisas fazer.” Esse pregador dá a entender que a sua vida é guiada por
revelações, quando esse não é o propósito das revelações (dom da palavra do
conhecimento). A vida do cristão é guiada pelo Espírito Santo, que usa a sua
Palavra, para direcionar segundo as Suas diretrizes.

b) a demonologia neopentecostal

Os neopentecostais tem uma visão dualística do cosmo, ou seja, há uma


constante luta
entre o Bem e o Mal, e tudo aquilo que não é de Deus, logo é do Diabo. Para a
cosmovisão neopentecostal, o mundo está dividido por essas duas forças
equivalentes. Para eles a doença nunca vem de Deus, logo, todas as doenças
são diabólicas. Para eles a pobreza não pode vir de um Deus riquíssimo, logo,
a pobreza é do Diabo. Nesse pensamento, chamado dualismo, o mundo está
bem dividido entre o Bem e o Mal, entre Deus e o Diabo. O dualismo fere a
revelação bíblica, onde o Deus, o ser bondoso por natureza, é infinitamente
maior do que o mal provocado pelo Diabo.
O exorcismo nas igrejas neopentecostais, é uma prática midiática e um
verdadeiro espetáculo, onde pessoas (seres-humanos) são expostos ao
ridículo, com muitas luzes e câmeras. O teólogo assembleiano Claudionor
Corrêa de Andrade, em uma linguagem pastoral, escreveu:

Há muitos obreiros que, para cevar o marketing pessoal, fazem uma


verdadeira campanha publicitária para libertar os oprimidos do Diabo.
Perguntam o nome do demônio e querem saber a sua procedência. Em
seguida, interrogam-no acerca de sua missão, como se ninguém soubesse ser
o trabalho do Diabo matar, roubar e destruir (Jo 10.10). E com isto desperdiça-
se todo o tempo da exposição da Palavra de Deus, introduzindo o povo a uma
macabra distração. 5

Os neopentecostais, em especial Kenneth Hagin, acreditada que um cristão


verdadeiro pode ser possesso por um demônio, mas não no seu espírito, e sim
no seu corpo ou em sua alma; fazendo uma separação inexistente na Bíblia.
Como pode um cristão ter demônios em seu corpo ou em sua alma, enquanto o
seu espírito está livre sendo
habitação do Espírito Santo? Só uma demonologia distante das Escrituras para
afirmar tamanho engodo. Um cristão verdadeiro, por ser habitação do Espírito
Santo, não pode ter em seu ser um demônio.
O neopentecostalismo tem muitas doutrinas estranhas a Bíblia e cabe a cada
pentecostal, uma posição apologética e de oração pela mudança e
sedimentação desse movimento.
A análise sobre o neopentecostalismo termina nesse texto, mas esse assunto
será discutido por meio de outros artigos no Blog Teologia Pentecostal.

Referências Bibliográficas:

1- COELHO, Isaltino Gomes. Neopentecostalismo. Acesso em 09/11/2007.


Disponível em http://www.ibcambui.org.br/artigos/art57.pdf
2- SOARES, Esequias. Heresias e Modismos. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2006. p. 319.

3- ROMEIRO, Paulo. Decepcionados com a Graça. 1 ed. São Paulo: Mundo


Cristão, 2005, p. 123.

4- MATOS, Alderi Sousa de. Fé Cristã e Misticismo, p. 58. Citado por


ROMEIRO, Paulo. Idem, p. 122.

5- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Judas, Batalhando pela Genuína Fé


Cristã. Lições Bíblicas,Rio de Janeiro, p. 43. 1° trimestre de 2002.

Cheio do Espírito: Hermenêutica, Promessas


do Antigo Testamento e
Terminologia Alternativa
3 de maio de 2018Gutierres Fernandes Siqueira

Por Anthony D. Palma/ Tradução: Moisés Xavier

Esta é a primeira parte de uma série de artigos que explorará aspectos do


ensino pentecostal sobre o batismo no Espírito Santo. Ela lidará com as duas
questões relacionadas a essa experiência, como a posterioridade em relação à
salvação e seu acompanhamento pelo falar em línguas. A parte um trata de
considerações hermenêuticas básicas, a promessa do Espírito no Antigo
Testamento e uma terminologia alternativa para batismo no Espírito. [1]

CONSIDERAÇÕES HERMENÊUTICAS

Quando relacionadas à doutrina do batismo do Espírito, questões


hermenêuticas devem receber atenção dobrada por duas razões: (1) O
crescente movimento pentecostal/carismático/de terceira onda não é unificado
no entendimento do batismo no Espírito. (2) Desafios sérios de três fontes
foram direcionados à doutrina do ponto de vista hermenêutico: (a)
cessacionistas, que argumentam a favor da cessação dos dons extraordinários
após o primeiro século; (b) não-cessacionistas (continuístas) que não são parte
do movimento, os quais acreditam na continuação dos dons espirituais, mas
que rejeitam o entendimento pentecostal do batismo no Espírito; (c) alguns
exegetas dentro do movimento que questionam a validade hermenêutica da
doutrina.

Os seguintes pressupostos e principais pontos hermenêuticos guiaram a


escrita desta série. Eles são tratados brevemente a fim de fornecer um plano
de fundo e uma estrutura para o entendimento do restante da série. [2] Os
pontos não estão, necessariamente, listados em ordem de importância ou em
uma ordem estritamente lógica. Há uma sobreposição de um no outro.

 Toda a Escritura é divinamente inspirada. O Espírito Santo, o autor


Divino, não irá contradizer a si mesmo nas Escrituras. Portanto, um escrito
ou escritor da Bíblia não irá contradizer outro.
 Um entendimento correto da disciplina da teologia bíblica deve controlar
a exegese da Escritura. A definição de teologia bíblica pode variar, mas sua
essência é que esses ensinos devem emergir do texto e não serem lidos
nele.
 Um autor específico da Bíblia deve ser entendido nos seus próprios
termos. Uma expressão paulina não deve sobrepor a Lucas, nem a de
Lucas a Paulo. Como a Bíblia não é um trabalho sobre teologia dogmática
ou sistemática, escritores bíblicos diferentes podem, às vezes, usar uma
terminologia similar, porém com significados variados. Ilustração: Receber o
Espírito pode ter nuances diferentes em Lucas, Paulo e João. O que cada
um quer dizer com seu uso do termo?
 Escritores bíblicos diferentes frequentemente têm ênfases diferentes. O
evangelho de João, por exemplo, destaca a divindade de Cristo; Paulo
enfatiza a justificação pela fé; Lucas (tanto no evangelho quanto no livro de
Atos) concentra no aspecto dinâmico do ministério do Espírito Santo. Como
Lucas foca neste aspecto da obra do Espírito, é importante entender o que
ele diz sobre o assunto.
 Depois que um escritor da Bíblia é primeiramente entendido por si só,
então seus ensinos devem ser relacionados aos de outros escritores e de
toda a Escritura.
 Complementaridade, não competição ou contradição, geralmente
caracteriza aparentes diferenças irreconciliáveis. Qual é a perspectiva de
um escritor em particular? Por exemplo, Tiago contradiz Paulo na relação
entre fé e obras? Ou suas declarações são guiadas por sua razão para
escrever sobre o assunto e, então, devem ser interpretadas sobre essa luz?
Paulo e Lucas realmente se contradizem no ministério do Espírito?
 Os escritos de Lucas pertencem ao gênero literário de história. Porém, o
livro de Atos é mais do que a história da Igreja Primitiva. Eruditos da
atualidade, em especial, admitem Lucas como sendo teólogo por si só,
assim como um historiador. Ele usa história como um meio para apresentar
sua teologia.
 No contexto do método histórico crítico de interpretação das Escrituras,
a disciplina chamada crítica textual ganhou grande aceitação nos últimos
anos. Sua premissa básica é que o escritor bíblico é um editor, e sua escrita
apresenta sua teologia. Ele pode pegar o material que tem a mão e moldá-
lo de uma maneira que apresenta uma visão teológica predeterminada. Na
sua forma básica, a crítica textual é um empreendimento legítimo e
necessário. Mas em sua forma mais radical, permite ao autor alterar fatos e
até criar uma história e apresentá-la como um fato, a fim de promover seus
propósitos teológicos. Para ilustrar como isso pode funcionar: Paulo não
poderia ter perguntado aos homens de Éfeso, “Tendo crido, vocês
receberam o Espírito Santo?” (At 19.2; tradução minha), porque ele ensina
nas suas cartas que a pessoa que crê recebe o Espírito na mesma hora.
Lucas, portanto, criou o incidente ou alterou as palavras reais de Paulo,
para que sua narrativa refletisse sua compreensão (de Lucas) da obra do
Espírito. Esta forma radical de crítica textual é inaceitável para aqueles que
têm uma elevada consideração da inspiração divina da Bíblia. O
superintendente Espírito Santo não permitira que um dos escritores da
Bíblia apresentasse como fato algo que realmente não aconteceu.
 Naturalmente, a escrita da história é seletiva e subjetiva, sendo
influenciada pelo ponto de vista e predileções do escritor. É assim com o
livro de Atos, mas com a ressalva de que a historiografia de Lucas, em
última análise, não é dele, mas do Espírito Santo.
 A teologia narrativa é uma abordagem relativamente recente da
hermenêutica. Um de seus aspectos é chamado analogia narrativa. Ao
utilizar isto, o autor convida o leitor a fazer um estudo comparativo de
histórias similares para descobrir quaisquer padrões ou ecos, como temas
ou frases repetidas. [3] Esse aspecto da analogia na teologia narrativa está
intimamente relacionado à abordagem pentecostal tradicional sobre o
entendimento do batismo no Espírito em termos das narrativas de Atos.
 Uma objeção ao entendimento pentecostal do batismo no Espírito é que
ele é baseado em precedentes históricos, os quais, conforme alguns
afirmam, não pode ser usado para estabelecer doutrina. De acordo com
essa visão, pode ser verdade que Lucas registre uma experiência do
Espírito subsequente a Sua obra na regeneração e até mesmo que a
experiência inclua glossolalia, mas é impróprio formular uma doutrina a
partir disso. Em outras palavras, as narrativas são descritivas, não
prescritivas, visto que não há uma declaração proposicional que diga que as
experiências dos discípulos são para todos os crentes.

A indução, entretanto, é uma forma legítima da lógica. É a formação de uma


conclusão geral a partir do estudo de determinados incidentes ou declarações.
De que outra forma alguém pode justificar a doutrina da Trindade ou da união
hipostática – que Cristo é ao mesmo tempo totalmente homem e plenamente
Deus, ainda que seja uma só pessoa. O Novo Testamento não tem nenhuma
declaração proposicional sobre qualquer uma dessas doutrinas. Portanto, é
legítimo fazer um estudo indutivo dos incidentes de Atos para determinar a (s)
lição (ões) teológica (s) dessas narrativas.

Uma objeção frequentemente levantada pelos críticos é que, se nós insistimos


em precedentes históricos para uma experiência pós-conversão do Espírito,
devemos segui-los consistentemente, por exemplo, reunindo todos os nossos
recursos financeiros ou lançando sortes para tomar decisões. Porém, em
nenhum lugar Deus falou a Igreja Primitiva ou a usou para fazer essas coisas,
nem existe um padrão recorrente delas. Elas eram atividades pensadas e
realizadas pelo povo por conta própria. Mas Jesus ordenou aos discípulos que
esperassem até que fossem cheios do Espírito. Além disso, ser cheio do
Espírito é uma atividade divina, não humana.    

 Outra objeção à posição pentecostal está baseada na intenção


autoral. A questão é levantada: Qual foi o propósito/intenção de Lucas ao
escrever Atos? A resposta dada é que foi para registrar a propagação do
evangelho em todo o mundo romano; não foi para ensinar o batismo do
Espírito. No entanto, como a disseminação do evangelho pode ser
entendida à parte do ímpeto por trás dela – o poder do Espírito Santo? Atos
1.8 é texto chave do livro de Atos. As duas cláusulas principais no versículo
estão inter-relacionadas e não podem ser separadas uma da outra: “Vocês
receberão poder” e “Vocês serão minhas testemunhas”. [4] Se a ordem “Ide
por todo o mundo” ainda for verdade, então a capacitação para fazer isso
será a mesma que Jesus prometeu.
 Relacionada à objeção anterior, está a ideia de que somente grupos
representativos em Atos tinham uma experiência especial do Espírito, para
mostrar a expansão e inclusão do evangelho – Judeus em Jerusalém
(capítulo 2), Samaritanos (capítulo 8), Gentios (capítulo 10), discípulos de
João (capítulo 19). Há várias críticas a essa posição: (1) Muitas vezes, após
a conversão de Paulo, sua experiência pessoal (9.17) de ser cheio do
Espírito é ignorada ou negligenciada. Não fazia parte de uma experiência
em um grupo. (2) Os primeiros pregadores não encontraram alguns dos
discípulos de João Batista durante os 20 anos entre Atos 2 e Atos 19? (3)
Além disso, aqueles homens eram realmente discípulos de João? Ou eles
eram discípulos de Jesus precisando de mais instrução? [5]

A PROMESSA DO ESPÍRITO NO ANTIGO TESTAMENTO

O Antigo Testamento é um prelúdio indispensável para uma discussão sobre o


batismo no Espírito Santo. Os eventos do Dia de Pentecostes (Atos 2) foram o
clímax das promessas de Deus feitas séculos antes da instituição da nova
aliança, que também inauguraria a era do Espírito. Duas passagens são
proeminentes: Ezequiel 36.25-27 e Joel 2.28-29.

A passagem de Ezequiel fala sobre ser aspergido com água limpa e assim ser
purificado de toda imundície espiritual. Ele prossegue dizendo que o Senhor
removerá o coração de pedra de seu povo, dará a eles “um novo coração” e
colocará dentro deles “um novo espírito”. A habitação do Espírito é o meio pelo
qual isto acontecerá: “Eu vou colocar Meu Espírito dentro de vocês” (versículo
27). O resultado é que eles “andarão em meus estatutos” e “terão o cuidado de
observar minhas ordenanças”.

A promessa está claramente relacionada ao conceito de regeneração do Novo


Testamento. Paulo fala sobre “a lavagem da regeneração e a renovação do
Espírito Santo” (Tito 3.5), ecoando a declaração de Jesus sobre a necessidade
de ser “nascido da água e do Espírito” (Jo 3.5). A transformação que ocorre
com o novo nascimento resulta em uma mudança no estilo de vida,
possibilitado pela habitação do Espírito. O Espírito Santo habita em todos os
crentes (Romanos 8.9,14-16; 1 Coríntios 6.19). Portanto, a ideia de um crente
sem o Espírito Santo é uma contradição em termos.

A profecia de Joel é bastante diferente da de Ezequiel. Não fala sobre


transformação interior, uma mudança no estilo de vida, ou a habitação do
Espírito Santo. Em vez disso, o Senhor diz: “Derramarei o meu Espírito sobre
toda a humanidade.” O resultado será dramático; aqueles que receberem esse
Espírito profetizarão, sonharão e terão visões. Esta profecia recorda o desejo
intenso de Moisés: “Que todo o povo do Senhor fosse profeta, para que o
Senhor lhes colocasse o seu Espírito.” (Números 11.29). Os paralelos entre a
profecia de Joel e o desejo de Moisés são inconfundíveis. Diferentemente da
profecia de Ezequiel, aqui os resultados da atividade do Espírito são bem
diferentes; eles são dramáticos e carismáticos por natureza. O Espírito vem
sobre o povo de Deus principalmente para capacitá-los a profetizar. Isso é
evidente na citação de Pedro de Joel em seu discurso de Pentecostes (Atos
2.16-21). Pedro insere: “E eles profetizarão” (versículo 18) no meio da citação,
repetindo e destacando que “vossos filhos e vossas filhas profetizarão”
(versículo 17). No dia de Pentecostes, os discípulos foram “cheios do Espírito
Santo”, eles não foram regenerados por essa experiência.

Devemos concluir, então, que haveria duas vindas históricas e separadas do


Espírito Santo, dada a diferença substancial entre as profecias de Joel e
Ezequiel? A resposta deve ser não. É melhor falar de uma promessa geral do
Espírito que inclui tanto a Sua habitação quanto capacitação/preenchimento do
povo de Deus. São dois aspectos do trabalho prometido do Espírito Santo na
nova era.

A promessa do Espírito não foi completamente cumprida até o dia de


Pentecostes (Atos 2). Mas a concepção virginal de Jesus pelo poder do
Espírito foi o alvorecer da nova era. A descida do Espírito sobre Ele naquele
tempo, juntamente com a atividade do Espírito através dele por todo o seu
ministério terreno (Mateus 3.16; Lucas 4.18,19; Atos 10.38,39), serve como um
modelo para todos os crentes a quem o Senhor do Antigo Testamento
prometeu habitação capacitação do Espírito Santo.

TERMINOLOGIA PARA BATISMO DO ESPÍRITO

O livro de Atos contém mais de 70 referências ao Espírito Santo. Visto que


registra a vinda do Espírito e dá exemplos dos encontros do Espírito com as
pessoas, é natural recorrer a este livro para uma terminologia específica para o
batismo do Espírito. As seguintes expressões são usadas de forma
intercambiável:

 Batizado no Espírito (1.5; 11.16);


 Espírito vindo, ou caindo sobre (1.8; 816; 10.44; 11.15; 19.6);
 Espírito derramado (2.17,18; 10.45);
 Promessa do Pai (1.4) – o Pai fez a promessa;
 Promessa do Espírito (2.33,39) – o Espírito é a promessa;
 Dom do Espírito (2.38; 10.48; 11.17) – o Espírito é o dom;
 Dom de Deus (8.20) – o dom é de Deus;
 Receber o Espírito (8.15-20; 10.47; 19.2);
 Cheio do Espírito (2.4; 9.17);
Do ponto de vista da frequência, a expressão batizado no Espírito é usada com
mais frequência e ocorre em cada um dos evangelhos (Mateus 3.11; Marcos
1.8; Lucas 3.16; João 1.33). Cheio do Espírito ocorre frequentemente, mas tem
um significado mais inclusivo, que será discutido mais adiante nesta série.

Batismo no Espírito Santo, o substantivo equivalente do batismo verbal do


Espírito Santo, não ocorre no Novo Testamento, mas para facilidade de
expressão e identificação, é frequentemente usado em seu lugar. O
termo batismo no Espírito também serve a um propósito útil.

Nenhum termo transmite totalmente tudo o que está envolvido na experiência.


Os termos não devem ser levados à risca; são simplesmente tentativas dos
escritores bíblicos para nos ajudar a entender melhor o significado da
experiência. Expressões como batizado, cheio e derramado, por exemplo,
enfatizam que é uma experiência na qual o crente é completamente dominado
ou inundado pelo Espírito Santo. Entre outras coisas, a experiência aumenta e
intensifica o trabalho do Espírito que habita em nós.

BATISMO DO E NO ESPÍRITO SANTO

O Novo Testamento faz distinção entre ser batizado pelo Espírito Santo e ser
batizado no Espírito Santo? Sete passagens contêm tanto o verbo batizar
quanto o substantivo Espírito Santo ou Espírito. Todos esses versículos
ensinam a mesma coisa sobre a relação entre os dois termos?

Nenhum Batismo do Espírito. Os escritores do Novo Testamento nunca falaram


sobre o batismo do Espírito Santo. O termo é ambivalente e pode ser usado
para qualquer uma das duas experiências do Espírito. Uma delas é um Batismo
pelo Espírito que incorpora alguém no corpo de Cristo. O outro é um batismo
no Espírito que capacita a pessoa para o serviço.

Batizado no Espírito. A experiência Pentecostal é mencionada adequadamente


como sendo “batizado no Espírito Santo” (preposição grega en; Mateus 3.11;
Marcos 1.8; Lucas 3.16; João 1.33; Atos 1.5, 11, 16; veja também Lucas 24.49;
Atos 1.8). Este termo traduz mais claramente o grego e transmite de forma
mais adequada o significado da experiência. Ele é preferível por dois motivos.

Em primeiro lugar, a preposição en é a mais versátil no Novo Testamento e


pode ser traduzida de várias formas: em, com, por, entre, dentro, dependendo
do contexto. Podemos eliminar as das últimas porque não são adequadas em
nenhuma das passagens que estamos discutindo. Podemos também eliminar
por nas passagens dos Evangelhos e Atos, visto que Jesus, não o Espírito
Santo, é Aquele que batiza. É um batismo de Jesus no Espírito Santo.

Em segundo lugar, em é preferível porque transmite a ideia de batismo. O


verbo baptizo significa imergir ou mergulhar. Seria estranho dizer: “Ele imergirá
(ou mergulhará) com o Espírito Santo”. A tradução mais natural é “no Espírito
Santo”. A preferência por “no Espírito Santo” é fortalecida pela analogia com
batismo nas águas, que acontece na água.

Uma preferência por em como a correta tradução das passagens dos


Evangelhos e Atos envolve mais do que um preciosismo semântico. Reflete um
entendimento correto da natureza do Espírito Santo, enfatizando que é uma
experiência na qual um crente está totalmente imerso no Espírito.

Batizado pelo Espírito. Ser batizado no Espírito Santo deve ser distinguido de


ser batizado pelo Espírito no corpo de Cristo (1 Coríntios 12.13). [6] A mesma
preposição en ocorre neste versículo; a primeira parte diz, “Pois por [um]
Espírito todos fomos batizados em um corpo”. Tal passagem aponta o Espírito
Santo como o meio ou o instrumento pelo qual esse batismo acontece. A
experiência da qual Paulo fala é diferente da experiência mencionada por João
Batista, Jesus e Pedro em outras seis passagens.

Os dois grupos de passagens que estamos discutindo (as seis nos Evangelho
e Atos, e uma em 1 Coríntios) tem alguns termos semelhantes. Mas é
questionável insistir que, como certas combinações de palavras ocorrem em
diferentes passagens, sua tradução e significado devam ser as mesmas em
todas. Além das semelhanças, os dois grupos de passagens têm pouco em
comum. Por exemplo, Paulo menciona um Espírito. Ele não usa a designação
completa de duas palavras “Espírito Santo”. Além disso, a frase preposicional
“en um Espírito” precede o verbo batizar. Em todas as outras passagens ela
segue o verbo (a única exceção é Atos 1.5 onde, curiosamente para alguns, a
expressão vem entre Espírito e Santo).

O contexto frequentemente determina a escolha de alguém na tradução de


uma palavra ou expressão. Portanto, precisamos ver como Paulo usa
expressões similares ou idênticas a “en um único Espírito”. O contexto
imediato, contendo quatro frases desse tipo, deve ser determinante.

Primeira Coríntios 12.3 diz: “Ninguém falando pelo Espírito de Deus diz: ‘Jesus
é amaldiçoado’; e ninguém pelo pode dizer: ‘Jesus é Senhor’, exceto pelo [en]
Espírito Santo.” O versículo 9, que dá continuidade à lista de Paulo dos dons
espirituais, diz: “A outro fé, pelo [mesmo] Espírito; e a outro dons de cura, pelo
[en] mesmo Espírito.” Esta última frase é idêntica a do versículo 13. A única
exceção é que o texto grego contém a palavra o. Em todas essas ocorrências
no contexto imediato em que está ligado ao Espírito Santo, a tradução vem
com muita mais facilidade e é mais prontamente compreendida do que
qualquer outra tradução. Além disto, o capítulo inteiro fala sobre a atividade do
Espírito Santo. Portanto, a leitura “por um só Espírito” é preferível.

Este conceito é mencionado de maneira ligeiramente diferente em Romanos


6.9, que fala sobre ser “batizado em Cristo Jesus”. Gálatas 3.27 também é
diferente do batismo mencionado por João Batista, Jesus e Pedro nos
evangelhos e em Atos. De acordo com João Batista, é Jesus quem batiza no
Espírito Santo. Segundo Paulo, é o Espírito Santo que batiza em Cristo ou no
corpo de Cristo. Se esta distinção não for mantida, temos a estranha ideia de
que Cristo batizou em Cristo!

Resumo. A distinção entre ser batizado pelo Espírito e ser batizado no Espírito
não pode ser atribuída a um viés hermenêutico pentecostal. A comparação da
tradução de en em 1 Coríntios 12.13 em versões principais mostra uma
decidida preferência pela tradução por, até mesmo por estudiosos não
pentecostais. As seguintes versões e traduções principais tem a
palavra por: King James Version, New King James Version, New American
Standard Bible, New International Version, Revised Standard Version, The
Living Bible, Today’s English Version, The New Testament in Modern English.

Há uma distinção clara no propósito de cada um dos batismos. Incorporação,


ou batismo, em Cristo ou no corpo de Cristo é encontrado em 1 Coríntios
12.13. Isto difere do batismo no Espírito Santo cujo propósito primário é o
recebimento de Poder (Lucas 24.49; Atos 1.8)

Referências:

[1] A parte 2 lidará com a questão da subsequência. A parte 3 abordará a


questão das línguas como um acompanhamento necessário. A parte 4 discutirá
os propósitos do batismo do Espírito e também a terminologia de estar
preenchido com, ou cheio, do Espírito Santo.

[2] Estudiosos dentro do pentecostalismo clássico escreveram bem e


detalhadamente nesta área. Eu menciono alguns: French L. Arrington, Donald
A. Johns, Robert P. Menzies, William W. Menzies, Douglas A. Oss, Roger
Stronstad.

[3] Para uma discussão mais aprofundada da teologia narrativa, ver Douglas A.


Oss, “A Pentecostal/Charismatic View”, em Are Miraculous Gifts for
Today? Ed. Wayne Grudem, (Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing,
1996), 260-262; and Donald A. Johns, “New Directions in Hermeneutics,” Initial
Evidence, ed. Gary B. McGee, (Peabody, Mass.: Hendrickson Publishing,
1991), 153-156. (em português: Cessaram os Dons Espirituais? 4 Pontos de
Vista, Editora Vida; Evidência Inicial: Perspectivas Históricas e Bíblicas
sobre a Doutrina Pentecostal do Batismo no Espírito, Editora Carisma).

[4] Citações da Escritura são da New American Standard Version, salvo


indicação em contrário.

[5] Esse ponto será abordado na Parte 2.

[6] Alguns estudiosos respeitados na tradição pentecostal clássica preferem a


tradução em e interpretam a sentença para significar o batismo pentecostal no
Espírito.
——————————————-

Autor: Anthony D. Palma, professor de Novo Testamento e Língua Grega.


Mestre em teologia pelo New York Theological Seminary e doutor em teologia
pela Concordia University. Texto originalmente publicado no Enrichment
Journal com o título Filled with the Spirit Part 1: Hermeneutics, Old Testament
Promises, and Alternate Terminology. 

Tradutor: Moisés Xavier, estudante no Instituto Militar de Engenharia e


membro da Assembleia de Deus em Nova Iguaçu (RJ). É colaborador em
traduções do blog.

Subsequência na Relação do Batismo


no Espírito
12 de maio de 2018Gutierres Fernandes Siqueira

Série: A Pessoa e a Obra do Espírito Santo. Cheio do Espírito – parte 2


PARTE 2: Subsequência na Relação do Batismo no Espírito

Por Antony D. Palma/ Tradução: Moisés Xavier

O artigo aborda a questão sobre a subsequência em relação ao Batismo no


Espírito Santo. Existe, para um crente, uma experiência distinta e identificável
do Espírito separada da regeneração? A tese apresentada aqui é dupla: (1) O
Novo Testamento ensina a existência, disponibilidade e atratividade de tal
experiência para todos os cristãos. (2) Esta experiência é logicamente e
teologicamente separada da experiência da conversão, embora possa ocorrer
imediatamente após a conversão ou após um lapso de tempo. O foco neste
artigo será sobre o fato de tal experiência.
Nos estudos bíblicos é axiomático, para qualquer área da teologia, a
necessidade em ir primeiramente às passagens bíblicas que tratam do assunto
extensivamente. Lucas, especialmente no livro de Atos, lida com o assunto do
batismo do Espírito mais do que qualquer escritor bíblico. Sua reputação como
historiador preciso foi adequadamente estabelecida; portanto, incidentes que
ele registrou devem ser vistos como genuínos. Além disto, ele também é um
teólogo, usando o meio da história para transmitir a verdade teológica.
Portanto, o que Lucas diz e ensina deve ser colocado ao lado de outros
escritos bíblicos e não deve ser interpretado como antitético para eles. Os
escritores bíblicos complementam uns aos outros – eles não se contradizem.
Procedimento apropriado é determinar o que um escritor ou escrito diz e depois
relacioná-lo a outras partes da Escritura.

EXEMPLOS NARRATIVOS EM ATOS

O livro de Atos é mais do que um registro objetivo da história da Igreja


Primitiva. Muitos dos eventos que ele contém tem um propósito teológico –
para mostrar a propagação do evangelho por todo o mundo mediterrâneo pela
capacitação do Espírito Santo (1.8). Os dois temas de evangelização e
capacitação do Espírito Santo estão tão interligados que um não pode ser
entendido à parte do outro. Lucas certamente estava ciente de outros aspectos
da obra do Espírito; sua estreita associação com Paulo o teria exposto a muitos
dos pensamentos de Paulo sobre o Espírito Santo. Mas no livro de Atos, Lucas
escolheu se concentrar no aspecto dinâmico, alguns dizem carismático, do
ministério do Espírito.

O primeiro exemplo de discípulos que receberam uma experiência de


fortalecimento do Espírito ocorreu no Dia de Pentecostes, conforme registrado
em Atos 2.1-4. Lucas relata mais tarde quatro outros incidentes nos quais os
convertidos têm experiências espirituais iniciais semelhantes às do dia de
Pentecostes. 1 Será instrutivo rever e investigar esses cinco exemplos, depois
serão tiradas inferências e conclusões.2

O DIA DE PENTECOSTE (ATOS 2.1-4)

A chegada do Espírito Santo sobre os discípulos que esperavam no Dia de


Pentecostes não teve precedentes. Em um sentido muito importante, houve ali
um evento único, uma vez por todas profetizado especialmente por Joel
(2:28,29) e concedido pelo Jesus ascendido (Atos 2:33). Os fenômenos
audiovisuais do vento e do fogo lembram o recebimento da Lei no Monte Sinai
(Êxodo 19.18; Deuteronômio 5.4) e outras manifestações especiais do Antigo
Testamento (teofanias) da presença de Deus (2 Samuel 22.16; Jó 37.10;
Ezequiel 13.13). O vento é um símbolo do Espírito Santo (Ezequiel 37.9; João
3.8); de fato, a palavra hebraica ruach significa tanto vento quanto o espírito,
assim como a palavra grega pneuma. A palavra pno (usada em Atos 2.2) é
uma forma da mesma palavra grega. O fogo também é associado com o
Espírito Santo no Antigo Testamento (Juízes 15.14), na promessa de que
Jesus batizaria no Espírito Santo e fogo (Mateus 3.11; Lucas 3.16), e na
identificação das “sete lâmpadas de fogo” com o Espírito Santo (Apocalipse 4.5
; note que a menção do Espírito Santo em conexão com a visão de Zacarias
das sete lâmpadas [Zacarias 4.25-6]).

O significado histórico do Dia de Pentecostes não pode ser subestimado.


Alguns consideram como o aniversário da Igreja, outros como a contrapartida
do recebimento da Lei e, portanto, a instituição da nova aliança. Nossa
preocupação neste artigo é com o significado pessoal do Dia de Pentecostes
para os discípulos a quem o Espírito veio.

A experiência do Pentecostes dos discípulos avonteceu após a conversão


deles? Se aqueles discípulos tivessem morrido antes do derramamento do
Espírito, eles teriam ido com o Senhor? A resposta é óbvia. Em certa ocasião,
Jesus disse aos setenta: “alegrai-vos, antes, por estar o vosso nome escrito
nos céus” (Lucas 10:20).3 Mas os seguidores de Jesus, antes do Dia de
Pentecostes, experimentaram a regeneração no sentido neotestamentário
dessa expressão?

Pentecostais frequentemente apontam João 20.22 como o ponto no tempo em


que eles experimentaram a regeneração. Jesus “assoprou sobre eles e disse-
lhes: Recebei o Espírito Santo.”. O raciocínio é que eles foram cheios do
Espírito sete semanas depois. Na minha opinião, é questionável se o evento
registrado em João 20.19-23 deve ser identificado como o novo nascimento.

Os seguintes pontos devem ser observados:


1. O verbo incomum para assoprar (emphysao) ocorre somente aqui no Novo
Testamento, mas é encontrado na Septuaginta em conexão com a criação do
homem: “o SENHOR Deus … soprou em seus [do homem] narizes o fôlego da
vida;” (Gênesis 2.7). Alguns argumentam que, assim como, o sopro de Deus
deu vida a Adão, o sopro de Jesus deu vida espiritual àqueles dez apóstolos.
Embora exista um paralelo verbal entre as duas passagens, isso em si não
pode sustentar a posição de que os discípulos nasceram de novo. Os
escritores do Novo Testamento costumam usar a linguagem do Antigo
Testamento quase inconscientemente.
2. Uma tradução alternativa diria: “Ele respirou [exalou] e disse a eles: ‘Recebei
o Espírito Santo’” (tradução minha)
3. Apenas 10 pessoas teriam nascido de novo nessa ocasião. Quando todos os
outros crentes nasceriam de novo?
4. O contexto não diz que aconteceu alguma coisa àqueles discípulos naquele
momento. O sopro de Jesus era antecipatório do que aconteceria no dia de
Pentecostes. O fenômeno de “um ruído como um vento veemente e impetuoso”
(Atos 2.2) muito provavelmente os lembrou do sopro de Jesus sete semanas
antes.
5. O contexto imediato, tanto antes como depois, relaciona a fala de Jesus ao
serviço, não à salvação: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a
vós.” (João 20.21). “Àqueles a quem perdoardes os pecados, lhes são
perdoados; e, àqueles a quem os retiverdes, lhes são retidos” (versículo 23).
Isso é semelhante à afirmação posterior de Jesus: “Mas recebereis a virtude do
Espírito Santo… e ser-me-eis testemunhas” (Atos 1.8).
6. Pentecostais devem ser cautelosos ao tentar provar o conceito de
subsequência com base em João 20.22. Uma alternativa, que eu sugiro, é que
não somos obrigados a apontar o momento em que os discípulos de Jesus
experimentaram um novo nascimento no sentido do Novo Testamento. É
possível, em vista da situação histórica única na época, que a descida do
Espírito no Dia de Pentecostes incluísse sua obra regeneradora, tipificada pelo
vento (João 3.8), que precedeu a experiência de ser cheio do Espírito. Porém,
devemos notar que o vento e o fogo não faziam parte dos discípulos quando
foram cheios do Espírito. 4

A questão permanece, no entanto, porque houve um intervalo de 10 dias entre


a ascensão de Jesus e a descida do Espírito Santo. Jesus instruiu os
discípulos: “ficai, porém, na cidade de Jerusalém até que do alto sejais
revestidos de poder” (Lucas 24.49). A explicação mais satisfatória é que a festa
de Pentecostes teve um significado tipológico que foi cumprido no Dia de
Pentecostes, assim como a festa da Páscoa foi cumprida na morte de Jesus.
Tanto a morte de Jesus como a descida do Espírito Santo foram divinamente
marcadas para coincidir com as festas do Antigo Testamento que as
prenunciavam. A festa de Pentecostes era uma festa da colheita, na qual as
primícias eram oferecidas ao Senhor. Atos 2 celebra uma colheita de 3000
almas que foram reunidas no reino de Deus. Vale a pena notar que peregrinos
de todas as partes do Império Romano estariam em Jerusalém.

O PENTECOSTE SAMARITANO (ATOS 8.14-20)

Se devemos procurar por um incidente que ilustra a doutrina da subsequência,


nenhum é mais decisivo do que a experiência dos samaritanos. Esta passagem
é a mais clara de todas para os pentecostais e a mais problemática para os
não pentecostais.

Considere minhas observações e comentários.

1. A mensagem de Felipe para os samaritanos foi clara. Ele proclamou Cristo a


eles (Atos 8:5); ele pregou as boas novas sobre o reino de Deus e o nome de
Jesus Cristo (versículo 12).
2. O ministério de Filipe foi atestado pelos “sinais que ele fazia” (versículo 6),
que incluíam expulsões de demônios e curas.
3. Os samaritanos que acreditavam foram batizados. É impensável que Filipe
os tivesse batizado ou permitido que eles fossem batizados se não tivessem
sido genuinamente convertidos.
4. Os apóstolos em Jerusalém ouviram que Samaria “recebera a palavra de
Deus” (versículo 14). Esta expressão é sinônima de ser convertido (Lucas 8.13;
Atos 2.41; 11.1; 17.11, 12; 1 Tessalonicenses 1.6; 2.13; Tiago 1.21).
5. A aprovação da liderança de Jerusalém era de fato desejável, quase
imperativo, em vista da antiga rivalidade entre judeus e samaritanos. Este
incidente mostra que nem a conversão, nem o batismo implicam em receber o
Espírito no sentido em que Lucas usa a expressão.
6. As Escrituras em nenhum lugar ensinam ou implicam que a salvação é
recebida pela imposição de mãos (Atos 8.17). O livro de Atos mostra, no
entanto, que às vezes uma experiência pós conversão do Espírito é recebida
após a imposição de mãos (9:17;19:6).
7. Essa experiência do Espírito pelos samaritanos não foi a mudança interna
que ocorre na conversão. Ela tinha um aspecto externo e observável. Como
F.F. Bruce, um eminente estudioso do Novo Testamento, comenta: “O
recebimento do Espírito Santo em Atos está conectado com a manifestação de
algum dom espiritual”.6

A experiência incomum e identificável dos samaritanos com o Espírito, algum


tempo depois de sua conversão e batismo, é um forte argumento a favor da
doutrina da subsequência.

SAULO DE TARSO (ATOS 9.17)

Três dias após sua conversão, Saulo foi visitado por Ananias que impôs suas
mãos nele e disse: “O Senhor Jesus… me enviou, para que… sejas cheio do
Espírito Santo.”

Minhas observações incluem:

1. Ananias não convocou Saulo a se arrepender, mas disse a ele para ser
batizado, o que simbolizaria a lavagem dos pecados de Saulo (Atos 22.16).
2. A imposição das mãos de Ananias era para que Saulo fosse cheio do
Espírito, não para ser salvo. A imagem de ser cheio do Espírito ocorre no Livro
de Atos primeiramente em Atos 2.4. As Escrituras em nenhum lugar usam essa
terminologia “de ser preenchido” como sinônimo “de ser salvo”.
3. Houve um intervalo de tempo de três dias entre a conversão de Saulo e o
fato de ele ser cheio do Espírito.
4. Um indivíduo, não um grupo, é cheio do Espírito. Muitas vezes, aqueles que
enfatizam a abordagem histórico-redentora concentram-se apenas em grupos,
que eles dizem ser representativos, sobre os quais Deus concedeu o Espírito
de maneira especial quando os incorporou à Igreja.

CORNÉLIO E SUA FAMÍLIA (ATOS 10.44-48)

A narrativa intrigante sobre Cornélio atinge seu ponto alto com o derramamento
do Espírito sobre ele e sua família. Cornélio não era cristão antes da visita de
Pedro; ele era um gentio que havia abandonado o paganismo e abraçado o
judaísmo, na medida em que era um homem temente a Deus. No momento em
que Pedro falou de Jesus como aquele através do qual “todos os que nele
creem receberão o perdão dos pecados” (versículo 43), Cornélio e sua casa
aparentemente responderam com fé. Simultaneamente, ao que parece, eles
experimentaram um derramamento especial do Espírito semelhante ao
recebido pelos discípulos no Pentecostes, como Pedro disse mais tarde à
liderança em Jerusalém. (11.17; 15. 8,9).

A terminologia empregada por Lucas para descrever esta experiência do


Espírito não é usada em outros lugares no Livro de Atos para descrever
alguma conversão: “o Espírito Santo desceu sobre” (10.44), “o dom do Espírito
Santo” (10.45), “batismo com o Espírito Santo” (11.16). Essas expressões são
intercambiáveis com termos como “cheios do Espírito Santo”, encontrados em
conexão com o Pentecostes e Saulo (2.4; 9.17) e “receber o Espírito Santo”,
encontrada na narrativa de Samaria (8.15,17,19). Além disso, o incidente de
Samaria fala do Espírito “caindo sobre” os crentes (8.16), bem como a
experiência sendo um “dom” (8.20) – duas conexões terminológicas com o
relato de Cesareia.

A experiência do Espírito dos novos crentes em Cesareia é semelhante à dos


seus antecessores em Jerusalém, Damasco e Samaria. Mas, diferentemente
das experiências dos samaritanos e de Paulo, sua ocorrência foi praticamente
simultânea com a experiência da salvação.

OS HOMENS DE ÉFESO (ATOS 19.1-7)

Duas importantes questões inter-relacionadas são cruciais para um


entendimento apropriado desta passagem: (1) No momento em que Paulo
encontrou estes homens, eles eram discípulos de Jesus ou de João Batista?
(2) O que Paulo quis dizer quando os perguntou “vocês receberam o Espírito
Santo?”. Precisamos lembrar a nós mesmos que Lucas, escrevendo com
precisão, sob a inspiração do Espírito Santo, deu essência ao questionamento
de Paulo.

Quando Paulo chegou em Éfeso, ele encontrou “alguns discípulos”. A palavra


discípulo (grego mathetes) ocorre 30 vezes no Livro de Atos. Tanto antes como
depois dessa passagem, significa discípulo de Cristo7. Não há razão para que
Lucas tenha se desviado de sua aplicação consistente da palavra. Alguns
argumentam que seu uso da palavra algum/certo (o pronome indefinido grego)
implica que eles não eram discípulos de Jesus. Mas Lucas usa a mesma
palavra no singular quando fala a Ananias e Timóteo chamando cada um de
“um certo discípulo” (9.10; 16.1). A explicação mais simples para seu uso de
“alguns” é encontrada em Atos 19.7, que diz que havia “cerca de doze
homens”; Lucas não tinha certeza do número exato.

A situação desses homens é comparável a de Apolo (18:24-28), que já era um


crente que “falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo
somente o batismo de João” (versículo 25). Priscila e Áquila “o levaram consigo
e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus” (versículo 26). Ele era
um cristão que precisava de mais instrução, assim foi com os homens de
Éfeso.

Uma discussão considerável gira em torno da pergunta de Paulo: “Recebestes


vós já o Espírito Santo quando crestes?” (Atos 19:2). Algumas traduções têm
“desde” ou “depois” ao invés de “quando”. Uma tradução mais precisa, e que
evita favorecer determinada linha de interpretação teológica, é “vocês
receberam o Espírito Santo tendo acreditado” (tradução minha). No Livro de
Atos, a terminologia de “receber o Espírito” é encontrada nos relatos de
Samaria e Cesareia (8.15,17,19; 10.47; ver também 2.38). Paulo, portanto, está
perguntado aos homens de Éfeso se eles tiveram uma experiência do Espírito
comparável a dos crentes de Cesareia e samaritanos.

Paulo não estava jogando um jogo de palavras teológicas com esses homens.
Ele reconhece que eles realmente acreditavam. Muito tem sido escrito sobre os
tempos das duas formas verbais na pergunta de Paulo e se, do ponto de vista
gramatical, o recebimento do Espírito deve ser entendido como ocorrendo no
momento que se tem fé ou, alternativamente, em um momento posterior ao
crente. 8
O contexto fornece a melhor resposta. A experiência do Espírito sobre a qual
Paulo perguntou é a experiência registrada no versículo 6. Nesse caso, ela
surgiu pela imposição de suas mãos e foi acompanhada por manifestações
externas, semelhantes àquelas previamente experimentadas pelos crentes
(2:4; 10:46). A experiência registrada em 19.6 não coincidiu com a salvação
deles. Mesmo se alguém esteja convencido de que Paulo, por sua pergunta,
tenha reservas quanto à veracidade da salvação dos efésios, permanece o fato
de que essa experiência do Espírito seguiu o batismo em nome do Senhor
Jesus e foi precedida pela imposição de mãos.
Sustenta-se frequentemente que o retrato que Lucas faz do Espírito Santo,
especialmente com referência a ser cheio do Espírito, difere do de Paulo em
suas cartas. O incidente em Éfeso, no entanto, mostra que Paulo, assim como
Lucas, acreditavam em uma experiência do Espírito para os crentes que se
distingui da obra do Espírito na salvação.

É significativo que esse incidente tenha ocorrido mais de 20 anos após o Dia
de Pentecostes. Entre outras coisas, ensina que a experiência pentecostal
ainda estava disponível para os crentes bem afastados daquele dia, tanto
temporal como geograficamente.

DECLARAÇÕES SUMÁRIAS

A experiência pós conversão de ser batizado no Espírito é uma obra do Espírito


distinta da regeneração. Isto não implica que a salvação é um processo em
dois estágios.

Em três dos cinco exemplos (Samaria, Damasco, Éfeso), as pessoas que


tiveram uma experiência identificável do Espírito já eram crentes. Em Cesareia,
a experiência foi praticamente simultânea à fé salvadora de Cornélio e sua
casa. Em Jerusalém, os receptores já eram crentes em Cristo, embora seja
difícil (é mesmo necessário?) determinar com absoluta precisão o ponto no
tempo em que nasceram de novo no sentido neotestamentário. Há uma
variedade de terminologia intercambiável que é usada para a experiência:
“batizado no Espírito”, “recebendo o Espírito”, “cheio do Espírito” e “o Espírito
vem sobre”.

A experiência é registrada por grupos (Jerusalém, Samaria, Cesareia, Éfeso)


assim como por um indivíduo (Paulo em Damasco).
A imposição de mãos é mencionada em três exemplos (Samaria, Damasco,
Éfeso) – pelos apóstolos em duas ocasiões (Samaria, Éfeso) e por um não
apóstolo em uma (Damasco).

Em três exemplos houve um claro lapso temporal entre a conversão e batismo


no Espírito (Samaria, Damasco e Éfeso). O intervalo de espera pelo
derramamento de Jerusalém foi necessário para que o significado tipológico de
Pentecostes fosse cumprido. No caso de Cesareia, não houve lapso de tempo.

Essa experiência após a conversão é chamada de dom (2.38; 8.20; 10.45;


11.17). Portanto, não pode ser conquistada, nem é uma recompensa ou crachá
de santidade.

É uma dádiva, mas é inapropriado chamá-la de “uma segunda obra da graça”.


Tal linguagem implica que um crente pode não ter experiências da graça de
Deus entre a fé inicial em Cristo e o preenchimento inicial do Espírito. No
entanto, toda benção recebida vem do Senhor como resultado de Sua graça.
Essa obra distinta após a conversão não descarta outras experiências do
Espírito que possam precedê-la ou segui-la. 9

Um padrão emergiu desse estudo indutivo apontado para uma realidade de


uma obra do Espírito, identificável e após a conversão na vida de um crente,
que às vezes é chamada de Batismo no Espírito Santo.

NOTAS FINAIS

1. Em 22:1–4; 8:14–20; 9:17; 10:44–48; 19:1–7.

2. 2. Para facilitar a expressão, as seguintes designações abreviadas para


eventos nos respectivos capítulos serão algumas vezes usadas:
Jerusalém ou Pentecostes (capítulo 2); Samaria (capítulo 8); Damasco
ou Paulo (capítulo 9); Cesaréia (capítulo 10); Éfeso (capítulo 19).
3. Citações da Escritura são da New American Standard Bible, salvo
indicação em contrário.
4. Uma investigação complementar sobre o significado do fogo é
legítima. Um ponto de partida é uma consideração do fogo nas
escrituras como um elemento purificador e santificador.
5. Os pentecostais responsáveis ensinam que uma pessoa é habitada
pelo Espírito no momento da conversão (Romanos 8:9; 1 Coríntios
6:19), mas que o batismo no Espírito é uma experiência do Espírito
distinta da Sua habitação.
6. F.F. Bruce, The Acts of the Apostles: The Greek Text With
Introduction and Commentary, 2nd ed. (Grand Rapids: Eerdmans, 1952),
187. Veja a parte 1 desta série Enrichment Journal, Summer 98) que
trata da diferença entre as profecias de Joel e Ezequiel, quando se
referem ao prometido Espírito Santo.
7. A única exceção é 9:25, onde os “discípulos” são qualificados por
“seus”, significando que eles são discípulos de Paulo.
8. Uma discussão das questões na gramática grega, embora necessária,
não pode ser abordada neste breve artigo. A mesma construção
gramatical ocorre duas vezes mais nessa passagem, e, em ambos os
exemplos, indica uma ação que segue, e não acompanha, a ação do
particípio. Os homens foram batizados no nome de Jesus depois que
ouviram, não enquanto ouviam (versículo 5). O Espírito Santo veio sobre
eles depois que Paulo colocou suas mãos sobre eles, não
necessariamente no momento em que suas mãos os tocaram (versículo
6)
9. A parte 4 dessa série abordará aspectos mais amplos da terminologia
“preenchido pelo Espírito” e “cheio do Espírito”.

O Batismo no Espírito Santo (Parte 01)


31 de julho de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

A diferença do pentecostalismo para outros grupos protestantes reside na


doutrina do Batismo no Espírito Santo com evidência física inicial de falar
noutras línguas. A sistematização e estudo sobre o assunto é objeto recente,
mas seus desdobramentos correm pelos séculos da cristandade. O estudo
superficial e preconceituoso sobre o assunto tem imperado em muitos arraiais,
onde o pentecostalismo soa como movimento emocionalista para uns e heresia
para outros. No decorrer desse artigo, algumas questões serão levantadas e
respondidas à luz das Escrituras.

O que é Batismo no Espírito Santo?

A expressão substantiva “Batismo no Espírito Santo” é teológica e não bíblica,


pois nas Escrituras só há menção da forma verbal. O assunto é descrito em
boa parte do livro de Atos dos Apóstolos, mas também apresenta seus
prólogos doutrinários nos Evangelhos. A expressão usada por Mateus para
descrever as palavras de João Batista são baptismos pneuma hagion (βαπτισει
εν πνευματι αγιω), traduzida verbalmente em português por “batizado no
Espírito Santo” (Mt 3.11-12).
O Batismo no Espírito Santo pode ser definido, segundo o teólogo Antonio
Gilberto, como “um revestimento e derramamento de poder do Alto, com a
evidência física inicial de línguas estranhas, conforme o Espírito Santo
concede, pela instrumentalidade do Senhor Jesus, para o ingresso do crente
numa vida de mais profunda adoração e eficiente serviço para Deus” [1]. A
expressão é ainda conhecida como “revestimento de poder”, “ser cheio do
Espírito”, “segunda bênção” etc.
A expressão “Batismo no Espírito” é uma metáfora, significando que o crente é
imerso no Espírito Santo ou recebe dEle um derramamento como aspersão.
Sendo uma metáfora e não expressão usual para a doutrina do revestimento
de poder, ela não é usada exaustivamente nas Sagradas Escrituras. Alguns
conceitos determinados como fé, graça, lei, sábado, ofertas, resgate,
regeneração etc., são expressos em todas as partes da Bíblia, mas a metáfora
“Batismo no Espírito Santo” ficou registra aos evangelistas, para expressar uma
“experiência” normativa na vida do cristão. A literalidade da expressão pode
causar estranheza, mas como figura de linguagem há um desvio no significado
das palavras a fim de reforçar a idéia da experiência. A palavra “batismo” deixa
seu contexto de ordenança litúrgica sacramental, para subjetivamente designar
a idéia de “revestimento de poder”.

Várias expressões e um só significado; um só significado e várias


expressões!

A terminologia “cheio do Espírito Santo” é a mesma coisa nos escritos de


Lucas e Paulo? Parte dos exegetas respondem que não, pois em Lucas ser
“cheio do Espírito Santo” está relacionado ao serviço e mordomia cristã,
enquanto em Paulo ser “cheio do Espírito Santo” está implicitamente ligada em
questões de caráter e santidade. Longe de ser uma contradição, há um
verdadeiro complemento, pois como servir sem o caráter cristão? Como
manifestar os traços de Cristo e ainda permanecer inerte diante do serviço para
o Reino de Deus? O que deve ficar claro na mente dos leitores da Bíblia é que
“Batismo no Espírito Santo” pode ser associado a “ser Cheio do Espírito” em
Lucas, mas não nas epístolas paulinas. Certamente o contexto ministerial de
ambos determinou a ênfase diferenciada.
Muitos contestam o fato do “Batismo no Espírito Santo” ser uma terminologia
quase que exclusivamente lucana, contestando o fato das epístolas do
apóstolo Paulo não incentivar a busca pelo revestimento de poder. Ora, o que
determina a biblicidade de uma doutrina não é a exuberância de citações nas
Escrituras, mas a clareza sobre o assunto onde o texto menciona os fatos. Se
os números de citações determinassem a importância doutrinária, ofertas
seriam mais interessantes do que regeneração ou as mobílias do Tabernáculo
estariam em um patamar acima do “fruto do Espírito” ou quem sabe as
genealogias deveriam substituir as pregações sobre a divindade de Cristo!? Tal
idéia certamente seria classificada, e com razão, como um absurdo! A unidade
das Escrituras também se manifestam no apoio silencioso das demais páginas
sagradas.

Declaração explicitamente doutrinária ou indução com exercício de


lógica?

Muitos cristãos acham que a Bíblia é um compêndio doutrinário ou um credo


formulado em algum concílio. Ora, não é assim que Deus se revelou nas
Sagradas Escrituras e nem a maioria de suas doutrinas foram dessa forma
sistematizada. Diante desse quadro, como escreveu Eugene Peterson, as
“pessoas tratam a Bíblia como uma coleção de oráculos sibilinos, versículos ou
frases sem contexto ou conexão” [2]. Acostumados com uma leitura cartesiana
da vida, onde a organização em versículos e capítulos são parte da leitura
bíblica e as importantes “teologias sistemáticas” resumem o pensamento
cristão; muitos esperam declarações explícitas de doutrinas e normas nas
Sagradas Letras, mas o leitor atencioso do texto bíblico logo percebe que isso
não existe.
Exigir uma declaração doutrinária sobre o Batismo no Espírito Santo é
desnecessário e foge de normalidade escriturística. Assim com a doutrina da
Trindade ou a doutrina da natureza hipostática de Cristo, o Batismo no Espírito
Santo precisa ser estudado indutivamente, pois faltam declarações
proposicionais; pois como observa o teólogo assembleiano Anthony D. Palma,
a “indução, no entanto, é a legítima forma de lógica. Ela é a formação de uma
conclusão geral a partir do estudo de incidentes particulares ou de
declarações” [3].

PS: Acompanhe a segunda parte desse artigo.

Notas e Referências Bibliográficas:

1 GILBERTO, Antonio. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD,


2006. p 57.
2 PETERSON, Eugene. Maravilhosa Bíblia. 1 ed. São Paulo: Mundo Cristão,
2008, p 117.
3 PALMA, Anthony David. O Batismo no Espírito Santo e com Fogo. 4 ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 13.
O Batismo no Espírito Santo (Parte 02)
4 de agosto de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

O Batismo no Espírito Santo deve ser entendido como um revestimento de


poder para testemunho evangelístico, portanto tem seu propósito bem definido
nas Sagradas Escrituras. Longe de ser uma mera experiência subjetiva,
beirando o esoterismo, o Batismo no Espírito Santo é uma graça para o
desenvolvimento serviçal. Como no artigo anterior, esse texto tem por objetivo
discutir mais algumas questões relacionadas a essa doutrina.

Batismo no Espírito Santo: Qual o seu propósito?

A experiência normativa do Batismo no Espírito Santo tem um propósito bem


claro nas Escrituras, com qualificação para o serviço cristão (cf. At 1.8). Uma
maior eficácia na evangelização dos povos se dá por meio da experiência
pentecostal; portanto, o Batismo no Espírito Santo apresenta uma relação
missionária com os seus objetivos.
Os que buscam o Batismo no Espírito Santo por mera curiosidade esotérica,
onde querem experiências místicas e transcendentais, distorcem
completamente o propósito do Batismo no Espírito Santo. Essa experiência
deve ser buscada para aqueles que têm o coração no Reino de Deus e lutam
por sua expansão. Lembrando que um não-batizado não está impossibilitado
de fazer grandes trabalhos evangelísticos, pois nunca as Escrituras colocam
que a evangelização está restrita aos que experimentam um poder carismático,
mas é claro que o Batismo serve como um bom reforço!
A distorção principal nos dias atuais referente ao propósito do Batismo no
Espírito Santo é denominado de “reteté de Jeová”. Esse movimento prega
experiência por experiência, sem propósito, cheio de desordem no culto e
ainda associa espiritualidade com barulho. O “reteté”, longe de ser um reforço
ao pentecostalismo, é uma verdadeira aberração que atrapalha o
desenvolvimento de uma doutrina pentecostal sadia e bíblica, onde os dons e o
Batismo no Espírito é pregado dentro dos limites das Sagradas Escrituras.

Batismo no ou com Espírito?

A diferença entre os termos intercalados batismo no ou batismo com tem


suscitado dúvidas e debates. Nas traduções bíblicas comuns no Brasil, como
as de Almeida, a expressão comum é “batismo com o Espírito Santo”, mas em
obras e textos de teólogos pentecostais há uma predominância do termo
“batismo no Espírito Santo”. Não importa a terminologia, pois o conceito
doutrinário é o mesmo.
Certamente a preferência pelo termo “batismo no Espírito Santo” é forçado pela
comparação com o “batismo nas águas”. A maioria esmagadora dos
pentecostais são adeptos do batismo por imersão, ou seja, onde o corpo do
batizando é colocado inteiro nas águas batismais. Como a comparação com o
batismo nas águas é inevitável (Jo 1.33; cf. Mt 3.11), os pentecostais preferem
a preposição NO do que COM. Usando a preposição “com a água” dá espaço
para uma interpretação mais aberta sobre fórmulas do batismo em águas,
podendo abraçar até mesmo o batismo por aspersão ou efusão.
Longe de ser uma questão que mudará o significado do Batismo no/com o
Espírito, essas preposições são usadas para reforçar ou trabalha
conjuntamente com outra doutrina: O batismo nas águas por imersão.

Evidência física inicial?

Um dos pontos mais controvertidos na doutrina do Batismo no Espírito Santo


refere-se à problemática de sua evidência. Esse assunto tem dividido até
mesmo os pentecostais clássicos. O próprio William J. Seymour defendia que
as línguas não eram a única evidência física do Batismo no Espírito Santo [1],
mas outras manifestações poderiam ser encaradas como essa evidência.
Acompanhando Seymour nesse raciocínio, denominações inteiras com a Igreja
de Deus em Cristo [2] pregam que existem mais de uma evidência para o
Batismo. Hoje, a maioria das igrejas neopentecostais não defende que as
línguas são a única evidência.
Esse ponto é defendido principalmente pelo texto de Atos 10.46, onde Lucas
relata a admiração dos judeus que viram os gentios receberem “o dom do
Espírito Santo”, isso “porque os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus”.
Baseados nesse texto, os pentecostais defendem a evidência física para o
Batismo no Espírito Santo [3].
Para mais detalhes sobre o assunto, leia o artigo Falar em Línguas, a
evidência física inicial [4].

PS: Acompanhe a terceira parte desse artigo e não deixe de ler a primeira


parte.

Notas e Referências Bibliográficas:

01- ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1 ed. Rio de


Janeiro: CPAD, 2007. p 295.

02- Na declaração de fé da Igreja Deus em Cristo, a maior denominação


pentecostal dos EUA, há uma clara demonstração da mudança em relação a
evidência física inicial: “Cremos que o dom de falar em outras línguas um dos
sinais de uma vida cheia do Espírito Santo”. Para o entendimento do corpo
doutrinário dessa denominação, que vem desde Seymour, as línguas podem
ser um sinal físico, mas não o único.

03- French L. Arrington, professor da Church of God School of Theology,


escreve: “Os discípulos no Dia de Pentecostes e os crentes em Cesaréia
respondem de modo semelhante: falando em línguas (At 2.4; 10.46) e louvando
a Deus (At 2.11; 10.46). in ARRINGTON, French L. e STRONSTAD, Roger
(Ed.) Comentário Bíblico Pentecostal. 4 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p
685.
04- http://teologiapentecostal.blogspot.com/2007/12/falar-em-lnguas-evidncia-
fsica-inicial.html

O batismo no Espírito Santo é condição


necessária para o recebimento dos
dons espirituais?
14 de abril de 2014Gutierres Fernandes Siqueira

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Não há nenhuma evidência bíblica que indique o Batismo no Espírito Santo como uma
condição necessária (conditio sine qua non) para o recebimento dos dons espirituais.
Essa “doutrina” não é nem bíblica-teológica e nem oficial na Igreja Evangélica
Assembleia de Deus, como alguns erroneamente pensam, porém é mais uma “ensino”
popular e fruto da oralidade que ganha um contorno de autoridade e oficialidade. O
Antigo Testamento é cheio de exemplos de dons espirituais em ação, ainda que o
Batismo no Espírito como revestimento de poder não havia sido concedido, logo
porque não existia a Igreja com a missão gentílica.

O respeitado teólogo assembleiano Anthony D. Palma escreveu:

“O Batismo no Espírito Santo é um pré-requisito para receber os dons


espirituais”. Mas onde encontramos isso nas Escrituras? O povo de Deus
experimentou todos os dons nos séculos anteriores ao Dia de Pentecostes. É
mais correto dizer que o batismo no Espírito Santo intensifica a sensibilidade e
a receptividade espirituais, fazendo da pessoa um candidato mais propenso aos
dons espirituais. Isso é amplamente demostrado pelo fato de que há maior
incidência dos dons entre aqueles que foram batizados no Espírito Santo do que
entre os que não foram. [1]

Outros teólogos assembleianos que trabalham essa questão são William e Robert
Menzies. Eles lembram que associar o Batismo no Espírito Santo (isto é, o dom do
revestimento) no texto lucano com os dons espirituais ensinados pelo apóstolo Paulo é
não respeitar os respectivos contextos [2]. O batismo no Espírito Santo, nunca custa
lembrar, não mantém uma ligação direta com os dons. Sim, é possível falar que o
Batismo ajuda na recepção de experiências, mas não é condição nata. Isso porque o
batismo é um revestimento de poder para testemunho do Evangelho entre aqueles que
ainda não abraçaram Cristo como Salvador (cf. Atos 1.8). Enquanto isso, os dons visam
a edificação da Igreja (cf. 1 Co 14.12). O batismo capacita a Igreja para a evangelização,
enquanto os dons edificam a Igreja entre os já convertidos e, assim, é parte do
discipulado. E, também, é necessário lembrar que o próprio Batismo no Espírito Santo
é um dom.

E as línguas? Bom, é possível falar em línguas sem o batismo no Espírito Santo? Essa é
uma questão controversa e para resolver o empasse a teologia assembleiana [3]
costuma diferenciar a língua estranha como sinal e/ou dom. Enquanto sinal, todos os
batizados recebem como evidência física inicial no momento do revestimento de poder.
Agora, como dom alguns recebem em forma de variedade. O sinal é normalmente um
louvor, ou seja, uma proclamação para Deus, enquanto o dom de variedade de línguas é
normalmente equivalente a uma profecia, portanto, uma mensagem para homens (cf.
Atos 2.11 comp. 1 Coríntios 14.2, 5). Essa diferenciação é bem carente da base
escriturística sólida, pois a variedade de línguas pode- muito bem-  ser um louvor
ampliado e, mesmo interpretado para edificação coletiva, seria um cântico ou oração de
engradecimento (e não uma mensagem profética) em idioma local. Por exemplo, não
somos edificados com os Salmos? A língua interpretada pareceria mais um salmo do
que uma profecia, logo porque as referências bíblicas indicam que a língua tem uma
direção vertical e não, necessariamente, horizontal (cf. Atos 2.11; Romanos 8.26; 1
Coríntios 14,2, 14, 15; Efésios 6.18; Judas 20).  

Agora, é sim possível dizer que o dom de línguas tem uma relação especial com a
natureza do próprio Batismo no Espírito Santo, diferente dos outros dons que em nada
dependem dessa experiência. O apóstolo Paulo indica que a língua é um “sinal para os
infiéis” (cf. 1 Coríntios 14. 21,22) e o Batismo no Espírito Santo é um revestimento de
poder para testemunhar àqueles que não se converteram (Atos 1.8, 2. 1-47). Não é à toa
que a língua sempre está presente no Batismo do Espírito Santo (cf. Atos 2.1-13; 8.4-25;
9.24-48; 19.1-6). Portanto, é possível concluir que, excetuando o falar em línguas, os
demais dons em nada dependem do Batismo no Espírito Santo.

Referências Bibliográficas:
[1] PALMA, Anthony D. Os dons e o fruto do Espírito. Em: Mensageiro da Paz. Rio
de Janeiro: CPAD. Ano 77, n. 1465, Julho de 2007, p. 18.

[2] MENZIES, William W. e MENZIES, Robert P. No Poder do Espírito:


Fundamentos da Experiência Pentecostal: um chamado ao diálogo. 1 ed. São
Paulo: Editora Vida, 2002. p 237- 249. 

[3] Essa diferenciação entre línguas como sinal e dom é mais uma doutrina
assembleiana do que pentecostal. Muitos pentecostais, incluindo o reverendo William
Seymour, não colocavam (ou atualmente colocam) as línguas como o sinal definitivo do
Batismo no Espírito Santo. Logo, não fazem diferenciação entre sinal ou dom.

Uma introdução sobre os Dons Espirituais


12 de dezembro de 2009Gutierres Fernandes Siqueira

A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito, visando ao bem comum. (1 Co


12.7 NVI)

Durante sua vida na terra, Jesus foi ungido pelo Espírito Santo para desenvolver o seu
ministério. Jesus disse que um dia os cristãos fariam maiores obras do que Ele (João
14:12).Todavia, isso não significa que os cristãos são maiores que Jesus, mas sim que
os crentes são igualmente capacitados e fortalecidos pelo Espírito Santo para
ministrar a mais pessoas do que Jesus fez, porque atualmente há milhares de milhões
de cristãos espalhados por todo o mundo. Portanto, quando começamos nosso estudo
sobre dons espirituais é primeiramente necessário perceber que o nosso ministério
pessoal é a continuação do ministério de Jesus. Ou, para resumir, os dons de Deus
são dispensados pelo Espírito de Deus para que a igreja de Deus possa ministrar como
o Filho de Deus.

Existem quatro posições básicas sobre os dons espirituais:


Carismaníaca

Dons Espirituais são dados a cada geração. Revelações contemporâneas estão em pé


de igualdade com as Escrituras.

Carismática

Dons Espirituais são dados a cada geração e devem ser praticados hoje, de acordo
com os limites das Escrituras.

Cessacionista

Dons Espirituais (por exemplo, as línguas e profecias) funcionavam apenas no início


da igreja e a prática não é mais para os nossos dias.

Pentecostal

Essencialmente a mesma posição carismática, mas apenas acrescentando que o sinal


físico e inicial do Batismo no Espírito Santo é o falar em novas línguas.
Mark Driscoll é pastor da Mars Hill Church. Driscoll pode ser definido como um
calvinista carismático emergente.

Fonte: The Resurgence Blog

Comentário:

Quando Driscoll divide nesse post as quatro posições sobre os dons espirituais, ele
escreve a posição dos carismaníacos, ou seja, aqueles que acreditam em um poder
sobrenatural sem parâmetro bíblico, sem limites impostos pela maior revelação que
já está nas Escrituras. É importante destacar a diferença entre
pentecostais/carismáticos, desses sujeitos que acreditam em novas verdades
reveladas.

Infelizmente muitos esqueceram a função real dos dons espirituais é continuar a obra
de Cristo na terra, fazendo o bem e libertando todos os oprimidos, mas sem
invencionices personalistas.

O que é unção?
26 de maio de 2007Gutierres Fernandes Siqueira

Leia mais sobre unção:http://teologiapentecostal.blogspot.com/2008/02/nova-


uno.html

Introdução

“E vós tendes a unção do Santo” (1Jo 2.20)


O que é unção? Essa foi uma pergunta feita a várias pessoas que saiam de um
culto por um programa de tv evangélica. Em meio às respostas, houve as mais
variadas definições; porém muitos, após bastante reflexão, diziam que não
sabiam responder. Afinal, o que é unção? A unção é o próprio Espírito Santo
que habita no regenerado. Dessa forma, todo verdadeiro cristão é ungido por
Cristo, com o Espírito de Deus.

01. “E vós tendes a unção do Santo”

Há uma tendência de dividir a Igreja entre grupos especiais. É comum separar


os espirituais dos não-espirituais, os santos dos não-santos e os ungidos dos
não-ungidos. Essas linhas divisórias são, na maioria das vezes, frutos de idéias
humanas sem nexo com a Bíblia. O corpo de Cristo difere do modus vivendi
que reina na sociedade, a Igreja é santa. O viver em santidade não pode levar
o cristão a se auto-classificar com “um ser especial”, pois todos aqueles que
experimentaram o novo nascimento, são santificados em Cristo (1Co 6.11) e o
Espírito Santo passa a habitar nessa nova criatura (Rm 8.1 e 1Co 6.15-20).
Sendo assim todo cristão nascido “da água e do Espírito” é um ungido de Deus
(cf. 2Co 1.21-22). O fato do cristão ser ungido por Cristo com o Espírito Santo,
denota uma separação para o serviço divino, assim como os objetos no Antigo
Testamento eram separados na utilização litúrgica no templo. A unção está
totalmente ligada ao processo de santificação e serviço. Como John L.
Mackenzie escreveu: “É evidente que uma pessoa ou coisa era ungida com a
intenção de torná-la sagrada.” (1) A principal obra do Espírito Santo no crente é
a santificação, e santidade está totalmente ligada ao serviço cristão; Jesus foi
ungido par servir em seu ministério terreno (At 10.38). A rotulação de “ungido”
em pessoas específicas dentro da igreja é biblicamente errado, pois a unção,
como lembra o pastor Paulo Romeiro: “não é privilegio de um grupo”(2). Alguns
pastores adeptos da confissão positiva e outras distorções doutrinárias
costumam apelar para o Salmo 105.15, todas as vezes que são questionados.
Sempre dizem: “não toqueis nos ungidos de Deus” e ainda contam
testemunhos de pessoas que desafiaram a autoridade de “mestres da fé” e
morreram. Tudo isso não passa de pressão psicológica. Esses tele-profetas
confundem o conceito de unção do Novo Testamento com do Antigo
Testamento, pois na Velha Aliança, somente reis e sacerdotes eram ungidos,
mas hoje, todo salvo é um rei e sacerdote, uma habitação da Trindade (1Pe 2.9
e Ap 1.6). Portanto, não há categorias de crentes de primeira classe. Esses
que auto se proclamam de “ungidos”, normalmente se comportam como
infalíveis e até divinos, quanta soberba!

02. “E sabeis tudo”

O apóstolo João, alertou sobre os perigos dos ensinos heréticos pelos


“anticristos” que estão enganando nessa última hora. Cada crente necessita de
discernimento para distinguir entre o falso e o verdadeiro. O Espírito Santo, é
aquele que guia o crente “em toda a verdade”(Jo 16.13) e o ungido, por ser
habitado pelo Espírito da verdade, tem capacidade de discernimento.O crente,
cheio do Espírito, tem fome pela Palavra de Deus, que o instrui em toda a
verdade, assim o Espírito Santo fará lembrar aquilo que o crente já aprendeu
na leitura das escrituras. A unção proporciona sabedoria, que é produzida e
alimentada pela meditação nas Sagradas Escrituras.Para que o cristão esteja
salvo dos erros doutrinários, ele precisa da Revelação Bíblica e da capacitação
do Espírito Santo, é a união entre a ortodoxia e a verdadeira espiritualidade.
Essa necessidade é permanente, pois os falsos profetas estão cada vez mais
sutis e numerosos.

03. “E a unção… fica em vós” (1 Jo 2.27)

A unção é permanente. Essa verdade contradiz com o conceito de “nova


unção” . O Espírito Santo está habitando no crente e mediante isso, o filho de
Deus, não necessita de uma “nova unção”. O pastor Antonio Gilberto lembra
que “Deus restaura, sim, a nossa unção recebida Dele, mas isso não significa
‘uma nova unção'”(3).É necessário muito cuidado com esse clichês gospel, tais
como “unção da conquista”, “unção de ousadia”, “unção do profeta Elias”,
“unção dos quatro seres” etc. Por traz dessas expressões estão um falso
conceito de unção, além da distorções doutrinárias. Unção, para muitos, é um
poder mágico que capacita a pessoa a ser um mini-deus, é uma sede por
espiritualidade desassociada de Deus.

04. “A unção vos ensina todas as coisas”

Por meio da Palavra, o Espírito Santo ensina as verdades de Deus. João alerta
que os cristãos precisam tomar cuidado com os falsos ensinos, e devem
rejeitar lições que provem de uma fonte diferente da que é dada pelo Espírito
Santo, isto é, a Santa Palavra. Esse texto ensina que as verdades divinas são
absolutas e infalíveis, ou seja, não é preciso ir além da revelação escrita na
Bíblia.Esse texto não está ensinando que é proibido uma pessoa estudar e
examinar a Palavra, pois o Espírito Santo ensina tudo. O que este texto passa
é uma advertência contra os ensinamentos extra-bíblicos dos falsos profetas.
Meditar na Palavra e examiná-la com humildade é o meio do Espírito Santo
guiar o crente em toda a verdade.

Conclusão

A unção é “verdade e não mentira”, portanto o Espírito de Deus está


preocupado com a verdade e guia o seu povo para ela. A unção está ligada a
ortodoxia doutrinária e não aos vários modismos pós-modernos, que invadem
as igrejas nesses últimos dias.Buscar a cada dia ser cheio do Espírito é ser
cada dia cheio da unção de Deus. deve-se buscar a unção, não para ter um
poder místico, alheio ao ensinado na Bíblia. Sendo assim, deve-se buscar ser
cheio da unção para não se desviar das verdades bíblicas. Senhor, enche-nos
da tua Unção, isto é, do teu Espírito!

Referências Bibliográficas:

1) Mackenzie, John L. Dicionário Bíblico, Paulus, SP, 1983.


2) Romeiro, Paulo. Resposta Fiel (entrevista), CPAD, ano 5, n° 17, p 11.

3) Gilberto, Antonio. Ensinador Cristão, CPAD, ano 8, n° 29, p 20.

O que é ser cheio do Espírito Santo?


9 de julho de 2009Gutierres Fernandes Siqueira

– Ser cheio do Espírito Santo não é adotar “usos e costumes” de uma denominação
legalista.

– Ser cheio do Espírito Santo não é manifestar dons carismáticos no culto, tais como
profecias, curas, revelações, milagres e línguas. A igreja de Corinto manifestava os
dons e ao mesmo tempo a carnalidade.

– Ser cheio do Espírito Santo não é participar de liturgias estranhas e bizarras, tais
como “unção do leão, da lagartixa, da gargalhada” etc.

– Ser cheio do Espírito Santo não é adotar o evangeliquês (idioma dos evangélicos),
usando expressões como “varão”, “fogo”, “vaso”, “mistério”, “êita glória” etc.

– Ser cheio do Espírito Santo não é histeria e nem gritaria. Para mostrar a
espiritualidade não é necessário partir para shows pessoais.

– Ser cheio do Espírito Santo não é nostalgia, ou seja, aqueles que só gostam de
coisas do passado.

– Ser cheio do Espírito Santo não é o mesmo que ser pentecostal.

– Ser cheio do Espírito Santo não é adotar um eterno estado de tristeza e desprezo
pela alegria.

– Ser cheio do Espírito Santo não é passar muito tempo como membro de uma igreja
evangélica.

Então, o que é ser cheio do Espírito Santo?

É o manifestar do caráter de Jesus Cristo em nosso viver diário. Deixar o controle do


Espírito Santo em nossas vidas. Manifestar o fruto do Espírito. Simples assim!
Cair no espírito
2 de janeiro de 2008Gutierres Fernandes Siqueira

Irmãos… aprendais a não ir além do que está escrito!


(Apóstolo Paulo aos Coríntios)

O “cair no espírito” é um dos mais famosos e proliferados modismos na igreja


evangélica. Em várias reuniões e cultos, pessoas caem após sopros,
empurrões e jogadas de paletós de pregadores sensacionalistas. Hoje,
inúmeros crentes estão em busca desse novo e conhecido movimento. Mas
onde começou essa onda? Quais os termos que o descreve? Esse fenômeno
faz parte do pentecostalismo? O cair no espírito tem apoio escriturístico e
histórico? 

Divulgação do “cair no espírito”

No ano de 1994, na Toronto Airport Chiristian Fellowship (Comunhão da


Videira do Aeroporto de Toronto), o fenômeno do cair no espírito começou a
ser divulgado por meio de um conferência ministrada pelo pastor Randy Clark,
convidado do pastor John Arnott e da pastora Carol Arnott, dirigentes da igreja
em Toronto. Antes, os Arnott já tinham conhecido esse fenômeno por meio do
evangelista neopentecostal Benny Hinn, que já praticava o “cair no espírito” em
suas reuniões[1]. Benny Hinn aprendeu essas manifestação exóticas por meio
do ministério de Kathryn Kuhlman, uma famosa “evangelista” norte-americana
que morreu em 1976, onde em sua reuniões, dezenas de pessoas caiam ao
mesmo tempo mediante sua oração.

Classificações do fenômeno na Teologia Pentecostal

 Na teologia pentecostal, o modismo de “cair no espírito” é classificado como


“pentecostalismo manikos”, que segundo Joseph L. Castleberry – Deão
acadêmico do Seminário Teológico das Assembléias de Deus em Springfield,
Missouri (EUA)- é uma “adoração caracterizada por manifestações maníacas
que distorcem e abusam dos dons espirituais”[2]. O hermeneuta Esdras Costa
Bentho, pastor de confissão pentecostal, lembra outro termo que pode
descrever manifestações excêntricas: a carismania. Carismania é mistura de
carismata (dons) e manikos (manifestações exóticas). Bentho comenta:

Não é sem razão que manifestações pseudo-pneumáticas


(espiritualmente falsas), que geralmente são gerenciadas por
“figurões” do pentecostalismo, são chamadas de “carismania”-
uma mistura de charismata com manikos. [3]
 Esses fenômenos neopentecostais, são também conhecidos como “Bênção de
Toronto”, devido a divulgação dessas práticas pela igreja da Videira localiza em
Toronto- Canadá, como acima descrito. Alguns apologistas (a maioria
pentecostais) preferem chamar, de forma irônica, o “cair no espírito” de
movimento “cai-cai”.

A posição dos neopentecostais em relação ao fenômeno

 Apesar de vários nomes ligados ao “cair no espírito”, com Kathryn Kuhlman,


Benny Hinn, Kenneth Hagin, Charles Hunter, foi a igreja de Toronto por meio
do pastor John Arnott, que espalhou o fenômeno do “cair no espírito” para o
mundo inteiro, como um grande avivamento do Espírito Santo. Hoje, esse
modismo é amplamente aceito na maioria da denominações neopentecostais,
com exceção da Igreja Universal do Reino de Deus[4] e da Igreja Internacional
da Graça de Deus[5]. Muitas paróquias que pertencem a RCC (Renovação
Católica Carismática) praticam o “cair no espírito”, que entre os católicos
carismáticos é denominado de “repouso no espírito”.

Posição dos Pentecostais Clássicos em relação ao fenômeno

Algumas igrejas ou instituições relacionadas a denominações pentecostais


incentivam a prática do cair no espírito. Todavia, a Assembléia de Deus, por
meio da CGADB (Convenção Geral das Assembléias de Deus no Brasil) é
contra o “cair no espírito”. Na oitava ELAD, que é um encontro de pastores
assembleianos ligados a CGADB, na cidade de Porto-Seguro- BA, em outubro
de 2002, foi reafirmado a posição contrária da Assembléia de Deus em relação
aos modismos neopentecostais[6]. No relatório da ELAD, está escrito:

Sob o esfuziante tema “Não extingais o Espírito” o 8° ELAD


trouxe a tona os fenômenos promovidos pelos movimentos
neo-pentecostais como: “cair no Espírito”, “sopro do Espírito”,
“benção de Toronto”, “dançar no Espírito”, “dentes de ouro” e
outras enxurradas de práticas inovadoras que andavam
perturbando o seio da igreja. Nas palestras ministradas pelos
pastores José Wellington Bezerra da Costa, Antonio Gilberto,
Elienai Cabral e Elinaldo Renovato de Lima, os mais de 700
pastores e evangelistas inscritos no encontro, puderam
constatar que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para tais
acontecimentos e reafirmaram que o autêntico mover do
Espírito é aquele que traz avivamento espiritual, batismo no
Espírito Santo e transformação na vida do homem.

 Por meios dos periódicos oficias, a Assembléia de Deus tem se colocado


contra essas práticas. Exemplo disso é o Jornal Mensageiro da Paz, que na
edição de Setembro de 2007, trouxe uma matéria de capa sobre o pastor Paul
Gowdy, um ex-líder da igreja em Toronto, que hoje revela a farsa do
movimento. Vários teólogos assembleianos e pentecostais se posicionaram
contra o “cair no espírito”. O renomado pastor assembleiano Antonio Gilberto
comenta de forma crítica:

“Cair no Espírito” é cair e ficar inconsciente; cair não


subjetivamente; cair à toda hora; cair em grupos; cair por
manipulação de alguém esperto, e ainda mais citando textos
bíblicos truncados [7]. E continua: Nas reuniões de “riso no
Espírito” há pouco ou nada de leitura bíblica, de pregação e
ensino da Palavra de Deus. Durante essas reuniões, eles
proferem repetidamente frases como: -Não tente usar sua
mente para entender isso, Não ore agora; beba! Receba!
Receba um pouco mais. Ora tudo isso é contrário aos ensinos
da Palavra de Deus, pois a fé abrange a mente.[8]

O teólogo pentecostal Claudionor Corrêa de Andrade escrevendo sobre o “cair


no espírito”, cita exemplo de Gunnar Vingren, um dos fundadores das
Assembléias de Deus no Brasil, que viajou em 1923 de Belém do Pará até
Santa Catarina para combater o que hoje é conhecido com “Bênção de
Toronto”, e Andrade comenta:

Embora fervoroso pentecostal, Gunnar Vingren não se deixou


embair pelo emocionalismo nem pelas aparências. Ele sabia
que nem tudo o que é místico, é espiritual; pode brilhar, mas
não é avivamento. O misticismo manifesta-se também em
rebeldias e mentiras. Haja vista as seitas proféticas e
messiânicas. [9]

O Dr. Paulo Romeiro, professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e


pastor de uma igreja pentecostal em São Paulo, lembra do equilíbrio em
relação ao assunto, mas sem deixar de destacar as mazelas que fenômeno
tem trazido ao evangelicalismo, ele diz:

Reconheço que Deus tem poder para tocar alguém hoje de tal
forma que a pessoa venha a cair. De modo algum sou contra a
verdadeira manifestação do poder de Deus. Esta não me
preocupa nem um pouco, pois quanto mais, melhor. O que
realmente me preocupa são os abusos gerados em torno de tal
prática. Estes trazem mais transtornos e divisões para o Corpo
de Cristo do que edificação espiritual. [10]
José Gonçalves, pastor da Assembléia de Deus no Piauí, escrevendo sobre
fenômenos neopentecostais, lembra do perigo do sensacionalismo e pauta o
assunto pelo equilíbrio. Em artigo, escreveu sobre a possibilidade de alguém
cair sob influência divina assim como nos avivamentos do Século 19, mas
reconhece os atuais exageros sobre o fenômeno. Gonçalves escreve:

Há o perigo dos “pneumatismos” que conduzem à anarquia


espiritual. Na gênese das seitas que dizem ser criação do
Espírito de Deus, encontra-se com abundância as mais
insidiosas aberrações teológicas. Esse é um problema que não
pode ser simplesmente ignorado por se desejar preservar um
evangelicalismo ou um suposto avivamento. [11]

Outra observação importante de um teólogo pentecostal, é o que está descrito


no Dicionário do Movimento Pentecostal, em relação ao “cair no espírito”. Isael
de Araújo escreve:

A comprovação para o fenômeno está inconclusiva. Do ponto


de vista experimental, é inquestionável que, ao longos dos
séculos, crentes venham experimentando fenômenos
psicofísicos nos quais caem no chão. Além disso, eles sempre
atribuem a experiência a Deus. É igualmente inquestionável
que não existe nenhuma prova bíblica para a experiência como
norma para a vida cristã. [12]

É um consenso no pentecostalismo clássico a condenação desse fenômeno.

Bases bíblicas e evidência histórica

Fica bem claro, que a posição oficial dos pentecostais clássicos, é que não se
deve ir além do que está escrito, como bem recomendou o apóstolo Paulo(I Co
4.6) . A Bíblia menciona nove dons espirituais (carismata pneumatikos), mas
não cita o cair no espírito como evidência da plenitude do Espírito Santo. Não
há nenhum textos não escrituras que dê espaço para essa manifestações.
Muitos neopentecostais insistem que há base bíblica e história para as suas
atuais práticas de jogar paletó nas pessoas e essas caírem ou soprar sobre um
publico e esses serem cheios do Espírito.

Para muitos neopentecostais, os textos em que personagens bíblicos caem


prostrados, como Gn 15.12; I Sm 19; II Cr 5.13,14; Dn 8.17; Mt 2.11; Mt 28.4;
At 10.10 e Ap 1.7 são evidências do atual cair no espírito. Ora, nenhum desses
personagens bíblicos caíram por ter recebido poder ou algum vigor espiritual,
mas antes caíram diante de um estado de reverência ou medo. Eles caíram
diante de serem angelicais e com o rosto em terra, não para trás como
acontece hoje. Esses versículos nada provam! São textos fora de um contexto,
gerando pretextos. Um texto que esses “apologistas” não citam é João 20.22,
onde Jesus sopra sobre os apóstolos e disse: “Receberei o Espírito Santo”,
mas ninguém caiu! Muito bem leciona o pastor pentecostal Ciro Zibordi:

Os que defendem a “queda no poder” ignoram os fatos de que


o culto a Deus é racional (Rm 12.1) e de que o espírito do
profeta está sujeito ao profeta (I Co 14.32). Isso significa que,
por mais que sintamos a presença do Senhor, em um culto,
devemos ser prudentes quantos às reações. Devemos ser
meninos apenas na malícia, e adultos no entendimento (I Co
14.20)[13].

 Não há evidência bíblicas, mas há evidências históricas? O pastor


neopentecostal Marco Feliciano diz que sim, pois no seu livro Chamada de
Fogo, Feliciano cita que várias pessoas caiam nas reuniões de D. L. Moddy,
Charles Finney e John Wesley. Isso é verdade, mas as pessoas que caiam nas
reuniões de Finney, Edwards, Spurgeon, Moddy, Wesley e outros, caiam de
maneira diferente ao que acontece hoje. Hoje as pessoas caem por receber
alguma coisa, no tempo dos grandes avivalistas as pessoas caiam por
convicção de pecado. Hoje as pessoas caem após mensagens de auto-ajuda e
triunfalismo, no tempo dos avivalistas as pessoas caiam mediante mensagens
como “Pecadores na mão de um Deus irado”. Hoje as pessoas caem após
empurrões ou por causa de paletós de pregadores sensacionalistas, no tempo
dos avivalistas os que caiam não caíram por causa de gerenciamento,
provocações e manipulações de pastores. Hoje os pregadores propagam o
cair, no tempo dos avivalistas os grandes homens de fé procuravam
desencorajar essas manifestações. Hoje as pessoas tornam o cair um
espetáculo, no tempo dos avivalistas esses fenômenos não eram casos de
exibicionismos.

O teólogo Erwin Lutzer lembra outra diferença:

Os superapóstolos de hoje afirmam fazer em questão de


minutos o que pregadores mais antigos nos dizem que apenas
pode ocorrer por quebrantamento diário e submissão a Deus,
em geral por sofrimento. Atualmente, nos dizem que só
podemos ter poder sendo tocados por um apóstolo supercheio
de unção. Eles têm poder próprio. [14] 

 Portanto, o atual movimento de “cair no espírito” e fenômenos relacionados como:


“riso santo”, “dança do Espírito”, “aviãozinho”, “unção da lagartixa”, “reteté de Jeová”
etc, não apresentam nenhuma evidência bíblica e chegam a ferir vários princípios
bíblicos, como o culto racional, decente e com ordem (Rm 12.1, I Co 14.40).

Conclusão:
Qual é a causa para tanto sucesso de fenômenos excêntricos, extravagantes,
exóticos, anti-bíblicos, irracionais, no evangelicalismo?

01. A busca pela espiritualidade superficial. Hoje a dedicação de tempo à


oração, meditação bíblica e comunhão entre irmãos é cada vez mais raro no
meio evangélico, então a busca por soluções espirituais mais rápidas e
instantâneas são frequentes nos cultos.

02. Desequilíbrios eclesiásticos. Como é difícil ser equilibrado no meio


evangélico, pois muitos em busca de uma “cristianismo racional”, buscaram um
racionalismo cético, naturalista e anti-bíblico denominado de liberalismo
teológico. Em contrapartida, outro extremo se levantou, que é a busca por um
“cristianismo emocional”, onde o emocionalismo contamina as mentes que
pararam de pensar e refletir na Palavra de Deus.

03. Pragmatismo e empirismo evangélico. Um legião de pessoas buscam


aquilo que é prático e experimental, sendo presas fáceis de pregadores
sensacionalistas, que buscam produzir shows em lugar de cultos. O
espetáculos dos anfiteatros tomam conta dos púlpitos que deveriam ser
destinados à Palavra.

04. Falta da consciência na suficiência da Palavra. Ir além do que está escrito é


a grande moda dos evangélicos contemporâneos, sendo que a Bíblia deixa de
ser a regra de fé e prática das liturgias e manifestações espirituais. Já não é
suficiente os dons espirituais descritos em diversos textos das Sagradas
Escrituras? Para que buscar mais coisas que fogem da Palavra?

Notas e Referências Bibliográficas:

1- Benny Hinn, em 1992, veio ao Brasil em um congresso da ADHONEP


(Associação de Homens de Negócios do Evangelho Pleno), onde “derrubou”
muita gente!

2- CASTLEBERRY, Joseph L. Pós-Pentecostalismo: Estranha moda tenta


apagar as manifestações espirituais na igreja. Revista Manual do Obreiro. Rio
de Janeiro: CPAD, Ano 27, n° 32, 2005.

3- BENTHO, Esdras Costa. A Bíblia tem a resposta: Há respaldo para “cair no


poder”? In Mensageiro da Paz. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 76, n° 1458,
Novembro de 2006, p. 17.

4- Edir Macedo, pontífice máximo da IURD, é contra o modismo de “cair no


espírito”. Na IURD, dificilmente um membro será incentivado a exercer os dons
espirituais, consequentemente, os exageros relacionados aos dons são
ausentes. Mas a IURD não escapa de uma demostração exótica de
experiências, aja vista a prática de exorcismos, que é um verdadeiro
espetáculo!
5- R.R. Soares, apesar de ter sua teologia moldada por Kenneth Hagin, é
contra o “cair no espírito” e disse no Jornal Show da Fé, que quem cai são “os
endemoninhados”.

6- Alguns estudiosos preferem chamar as igrejas praticantes desses modismos


de “ultra-pentecostais”.

7- GILBERTO, Antonio. Desvios da Doutrina Bíblica. in Revista Ensinador


Cristão. Rio de Janeiro: CPAD, Ano 7, n° 28, p. 19.

8- Idem, n° 29, p. 20.

9- ANDRADE, Claudionor Corrêa de. Fundamentos Bíblicos de um


Autêntico Avivamento. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2004, p. 142.

10- ROMEIRO, Paulo. Evangélicos em Crise. 4. ed. São Paulo: Mundo


Cristão, 1999, p. 77.

11- GONÇALVES, José. Espiritualidade, Avivamento e Equilíbrio. Revista


Manual do Obreiro. Rio de Janeiro: CPAD, ano 27, n° 29, Janeiro-Março, p.
40-45.

12- ARAÚJO, Isael de. Dicionário do Movimento Pentecostal. 1 ed. Rio de


Janeiro: CPAD, 2007, p. 616.

13- ZIBORDI, Ciro Sanches. Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria. 1 ed.


Rio de Janeiro: CPAD, 2006, p. 34.

14- LUTZER, Erwin W. Quem é Você Para Julgar? 1 ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2005, p. 104.

Batismo com fogo?


3 de abril de 2016Gutierres Fernandes Siqueira

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Como entender a expressão “Ele (Jesus) vos batizará com Espírito Santo e com fogo”
nos textos de Mateus 3. 11-12 e Lucas 3. 15-17? Será que o batismo no Espírito Santo
tem um aspecto purificador (santificador) do homem já regenerado ou esse fogo é
simplesmente escatológico e, portanto, indica o juízo futuro sobre o ímpio?
Como aprendemos no último Batman versus Superman, a ignorância não é sinônimo
de inocência. Muitos especialistas em detratar o pentecostalismo, mesmo sem nunca
tê-lo estudado a partir das suas fontes teológicas, dizem por aí que a primeira
interpretação é consenso entre os pentecostais (e somente entre eles). Não é bem
assim. A questão é bem mais complexa do que esse preconceito rasteiro costuma
admitir. Em primeiro lugar, não há consenso entre os exegetas sobre a interpretação
correta do texto em apreço. Em segundo lugar, nem mesmo entre os próprios
pentecostais há unanimidade sobre a interpretação mais adequada.

Vejamos os pontos de vistas divergentes entre os intérpretes e comentaristas, sejam


eles pentecostais ou não.

1ª opção: “O batismo com fogo é o aspecto purificante e esplêndido do batismo


no Espírito”

Assim é o entendimento do exegeta pentecostal canadense French L. Arrington, por


exemplo, onde ele faz uma relação de uma continuidade temática em Lucas entre
“batismo com fogo” (Lucas 3.16) e “línguas de fogo” (Atos 1.5; cf. 2. 1-4)[1]. O fogo,
portanto, antes de indicar o juízo seria a própria representação da glória divina. Daí
que podemos destacar o batismo efetuado por Jesus como superior ao ministrado por
João Batista. O primeiro como expressão do arrependimento e o segundo indicando a
própria plenitude de uma vivência com o Deus vivo tanto no Espírito como no fogo da
glória divina.

A questão é: a quem João Batista se dirige nesse discurso? Se o foco é a própria


comunidade de crentes a menção ao fogo não seria mais litúrgica do que
escatológica? O fogo no Antigo Testamento muitas vezes indica juízo, mas quase
sempre aponta para a purificação (cf. Números 31.23; Isaías 6.6; Êxodo 29.34 etc.). Já
no contexto litúrgico o fogo remete à ideia da presença divina (cf. Levítico 6.12) que,
naturalmente, leva o homem à santidade. A presença de Yahweh acompanhava a
comunidade de Israel no deserto como uma “coluna de fogo” (Êxodo 13.21, 22; 14.24),
ou seja, não indicando juízo, mas sinalizando a presença e a proteção do Senhor. Os
eleitos também tinham relações de experiência com o “fogo” não no sentido de juízo
aos impenitentes, mas de depuração da vida diante do Santo de Israel. O fogo
simbolizava, inclusive, o beneplácito de Deus diante do sacrifício que Lhe agradava
(Gênesis 15.7; Levítico 9.24; Juízes 6.21; 1 Reis 18.38). Em o Novo Testamento o
fogo igualmente indica a glória de Cristo (cf. Apocalipse 1.14; 2.18).
D. A. Carson chama a atenção para a expressão grega βαπτίσει ἐν Πνεύματι Ἁγίῳ καὶ
πυρί (Mateus 3.11) onde a preposição ἐν (com) não aparece antes da
palavra πυρί (fogo). Logo, a palavra com que liga dois elementos de uma frase,
estabelecendo uma relação entre eles, está apenas após “do Espírito”, indicando
assim a natureza dupla de um único batismo. Sem uma segunda preposição a
tradução poderia ser: “batismo no Espírito, ou seja, fogo”. Carson comenta: “O batismo
de água de João relaciona-se com arrependimento; mas aquele de quem ele prepara
o caminho administra o batismo de Espírito-fogo que purifica e refina a pessoa”[2]. Ou
ainda como escreveu Leon Morris: “Parece melhor entender que João está pensando
nos aspectos positivos e negativos da mensagem do Messias. Os que O aceitam
serão purificados como pelo fogo e fortalecidos pelo Espírito Santo”.[3]

Interpretes já no século XIX apontavam nessa direção. Exemplo é o exegeta inglês


Henry Alford (1810-1871). Ele via esse batismo como único em uma dupla função e
achava um erro básico separar o público destinatário de cada elemento (Espírito e
fogo) se o texto em grego assim não o faz. Alford dizia que essa promessa foi
plenamente cumprida no Dia de Pentecostes (Greek Testament Critical Exegetical
Commentary). Entre outros exegetas antigos que concordaram com essa posição
temos nomes como de George Campbell Morgan (1863-1945) e Philip Arthur Micklem
(1876–1965)[4].

2ª opção: “O batismo de fogo é uma metáfora escatológica que indica o juízo


vindouro sobre os ímpios”

Orígenes de Alexandria (185-254) já defendia essa interpretação nos primórdios do


cristianismo. E assim se repete na maior parte dos comentários, sejam eles
devocionais ou exegéticos. Não seria exagero afirmar que 80% dos comentários ou
mais seguem a interpretação do fogo como juízo. O ponto alto dessa interpretação é
justamente o contexto (cf. Mateus 3.12; Lucas 3.17).

Há pentecostais que seguem essa linha? Sim, ninguém menos que Stanley M. Horton,
o maior teólogo assembleiano do pós-guerra, assim pensava e defendia. Em um longo
comentário Horton rebate cada ponto exposto acima como a associação do “batismo
de fogo” com “língua de fogo” ou sobre a falta de preposição antes da expressão como
indicador de um único batismo. Para Horton “quando Jesus fala sobre fogo refere-se
ao do juízo ou da destruição, especialmente o Inferno”[5]. Outro teólogo pentecostal
que concorda com Stanley M. Horton é James B. Shelton: “O foco da mensagem de
João Batista para os impenitentes é o batismo de julgamento, e para os arrependidos,
o batismo de arrependimento”[6].
E é bem verdade que na maioria das vezes quando a palavra fogo é mencionada em o
Novo Testamento há a ideia de juízo embutida (cf. Mateus 7.19; 13.40; Lucas 9.54;
17.29; João 15.6; 1 Coríntios 3. 13, 15; Hebreus 10.27; 12.29; Tiago 5.3; 2 Pedro 3.7;
Apocalipse 8.7; 9.17; 11.5). Além disso, os textos de Mateus 3. 11-12 e Lucas 3. 15-17
não apresentam conotação litúrgica ou sacramental, mas preditiva. O fogo como
elemento litúrgico está tão somente associado ao altar e, nesse ponto, essa figura
perde sentido como elemento do culto neotestamentário.

Não é possível afirmar que o auditório de João Batista fosse constituído apenas de
crentes (cf. Mateus 3.7). A mensagem de juízo fazia todo o sentido para uma “raça de
víboras” que ouvia João na busca de implicá-lo em um crime. O contexto como um
todo aponta para a ideia de juízo dos fariseus e saduceus. A mensagem de João,
assim como de Jesus, sempre foi muito dura para essa classe de religiosos.

Então por que João Batista coloca na mesma frase uma promessa que se concretiza
na festa de Pentecostes (cf. Atos 1.5; 2.1-4) e uma sentença de juízo que se realizará
apenas no final dos tempos? Stanley Horton responde que João Batista fazia parte do
profetismo veterotestamentário onde “não foi relevado o intervelo entre a primeira e a
segunda vinda de Cristo”[7].  Assim como a profecia de Joel no Antigo Testamento
relacionava o derramamento do Espírito e o juízo sobre o mundo (cf. Joel 2, 28-32) e
os discípulos relacionaram a promessa do derramamento do Espírito ao fim dos
tempos (cf. Atos 1. 1-14), João não discernia entre os intervalos do Dia do Senhor.

Outro ponto importante: relacionar a ideia de purificação com o Batismo no Espírito


Santo, que é um dom de poder testemunhal, cria mais problemas do que soluções
exegéticas para a própria teologia pentecostal. É bom lembrar que a teologia
assembleiana rejeita a ideia wesleyana de “segunda obra da graça” onde a
santificação é vista como definitiva. Os wesleyanos afirmam que “ninguém tem sido
santificado gradualmente”. Os pentecostais assembleianos desde a década de 1960
reafirmam a crença na santidade progressiva segunda a perspectiva reformada[8]. E,
na teologia assembleiana, o Batismo no Espírito Santo não é santificador[9]. Ou como
escreveu William e Robert Menzies: “O batismo no Espírito não pode servir como
emblema de santidade, marca de maturidade cristã. Em vez disso, deve ser visto de
acordo com o propósito que Lucas afirma que de ser: a fonte de intrepidez e poder em
nosso serviço e testemunho. Não deve ser confundido com a maturidade cristã”[10]. E
Robert P. Menzies complementa: “Nós procuramos em vão por uma referência sobre o
derramar messiânico do Espírito que purifica e transforma moralmente o
indivíduo”[11].
Associar o “batismo de fogo” com “línguas de fogo”, como faz alguns exegetas, é bem
problemático. Como lembra o teólogo pentecostal Anthony D. Palma: “precisamos
perceber; no entanto, que o vento e o fogo precederam o enchimento do Espírito; não
foram parte dele”[12]. Ou ainda, as línguas de fogo foram uma imagem associada
unicamente ao evento do Pentecostes sem uma ligação de continuidade entre outras
manifestações do Espírito no decorrer do livro de Atos.

Conclusão

Diferente de alguns teólogos que vivem de polêmicas e tratam opiniões contrárias com
gracejos vemos que, em matéria exegética, muitas vezes há mais complexidade do
que simplicidade diante de textos difíceis das Escrituras. Outrossim, o pentecostalismo
é complexo e não é unânime nessa questão, como já visto acima, e indica que
associar uma interpretação ao nosso grupo só demonstra ignorância. Eu, apesar dos
bons argumentos do primeiro grupo, concordo com Stanley Horton e a maioria dos
exegetas: o “batismo de fogo” é o juízo escatológico do Senhor.

[1]ARRINGTON, French L . Lucas. Em: ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger


(Ed). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 4 ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006. p 335.
[2]    CARSON, Donald Arthur. O Comentário de Mateus. 1 ed. São Paulo: Shedd
Publicações, 2010. p 135.
[3]    MORRIS, Leon. Lucas: Introdução e Comentário. 1 ed. São Paulo: Edições
Vida Nova, 1983. p 94.
[4]  Um resumo da posição desses autores pode ser visto em: EARLE, Ralph;
SANNER, A. Elwood; CHILDERS, Charles L. Comentário Bíblico Beacon: Mateus a
Lucas. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2006. p 42.
[5]HORTON, Stanley M. A Doutrina do Espírito Santo: no Antigo e Novo
Testamento. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1993. p 97.
[6]SHELTON, James B. Mateus. Em: ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger
(Ed). Comentário Bíblico Pentecostal do Novo Testamento. 4 ed. Rio de Janeiro:
CPAD, 2006. p 26.
[7]HORTON, Stanley M. Idem. p 94.
[8] HORTON, Stanley M. Santidade: A Perspectiva Pentecostal. Em: GUNDRY,
Stanley. Cinco Perspectivas sobre a Santificação. 1 ed. São Paulo: Editora Vida,
2006. p 125-140.
[9]  SILVA, Antonio Gilberto da. Verdades Pentecostais. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2006. p 60. Teólogos assembleianos como Stanley Horton, Antonio Gilberto, Robert
Menzies e William Menzies criticam a associação entre santidade e Batismo no
Espírito Santo. Uma exceção é Donald Stamps, escritor da popular Bíblia de Estudo
Pentecostal, que era de origem da Igreja do Nazareno, portanto, wesleyano.  Veja:
STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. 1 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1995.
p 1629.
[10]  MENZIES, Robert e MENZIES, William. No Poder do Espírito. 1 ed. São Paulo:
Editora Vida, 2002. p 254.
[11]  MENZIES, Robert. Empowered for Witness. 1 ed. Sheffield: Sheffield Academic
Press, 1994. p 128.
[12] PALMA, Anthony D. O Batismo no Espírito Santo e com Fogo. 4 ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2006. p 58. Lembrando que a obra de Palma em inglês possui como
título apenas a expressão Baptism in the Holy Spirit.

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