Agamenon Magalhães Júnior Ensaísta, gramático e educador
Existem países no mundo em que a intolerância, o preconceito e a discriminação estão
tão enraizados na própria história que fica difícil fazer uma análise honesta sobre esses lugares. Cuba é um bom exemplo disso. Personagens como Fidel Castro e Che Guevara ou expressões como Havana e socialismo sempre carregam consigo um considerável erro de apreciação. Um olhar estigmatizado se volta à ilha caribenha sem nenhum compromisso com a justiça ou com a descrição verdadeira daquele lugar. O professor Marcos Damasceno minimiza essas marcas negativas com o livro “Vá pra Cuba! – a Cuba que vi, ouvi e senti” (Ed. Imprensa Oficial Graciliano Ramos). A obra é o resultado de três viagens a Cuba, de uma admiração àquela cultura e – principalmente – do sentimento de indignação contra julgamentos desconexos a respeito do povo cubano. O livro nasceu com essa proposta. Nada mais razoável. Chamou-me a atenção, já no início do livro, o capítulo “A geografia de Cuba”, em que Damasceno não só descreve a localização da ilha (com outras informações técnicas), mas também dá às palavras um aspecto nostálgico, como quem relatasse uma localidade propícia à sua resistência político-administrativa. As grandes conquistas começam com a demarcação de território. Assim feito, inicia-se uma aventura autoral pela ilha, passando por fatos históricos, acontecimentos culturais e experiências de viagens cujas constatações nos fazem refletir sobre alguns conceitos malformados. Gosto da seção “Fidel estava na praça” (em que o autor descreve seu encontro com o líder revolucionário) por dois motivos: primeiro, Damasceno não deixa de ser leal à verdade, mesmo que Fidel seja um de seus ídolos: a exposição daquela experiência é condizente com que se passara ali, sem exageros ou idolatrias. O segundo aspecto desse texto que me surpreendeu foi justamente a emoção por que passou o autor e, sem dificuldade, esse arrebatamento pelo país é transmitido ao leitor. “Fidel falou de muitos temas durante as duas horas que permaneci na ‘Plaza da La Revolución’, desde a necessidade de uma maior eficiência do Estado cubano, na prestação dos serviços essenciais ao povo, até uma avaliação da conjuntura internacional (...). Na tribuna, não havia cobertura para nenhuma das personalidades presentes (...), todos, sem exceção, estavam expostos ao sol (...). Naquele instante, não me dei conta que estava presenciando um dos legados da revolução, que é o de: ‘ou se tem para todos ou não se tem para ninguém’. Não há privilégios em Cuba (...)”, conta-nos Damasceno. Fiquei tocado com o texto “As igrejas em Cuba”: o autor começa a narrativa explicando, de modo simples, a contextura da Teoria da Libertação relacionada à realidade revolucionária cubana, e a conclui com uma fantástica história da qual participou, dentro dum ônibus em Cuba, quando conheceu um homem, filho de um pastor que salvara, num ato de coragem, a vida de Fidel. Fantástico. O livro de Damasceno é uma pérola literária na edificação da imagem de Cuba. Obra da qual deixaria o próprio Fidel orgulhoso.