Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Autor
Joana Magalhães Francisco
Aluna do curso de Doutoramento em Design 5ª edição
Faculdade de Arquitectura | Universidade Técnica de Lisboa
jmf@joanafrancisco.com
Tel.: +351 964 923 197
Resumo
Abstract
Starting from the idea that there are insufficient conditions at urban equipment suitable for
the city of Lisbon and its users, caused by space disorganization, the aging population, the
increase in people with reduced mobility, among others, this article aimed, to understand how
the inclusiveness concept in the draft design of urban equipment, may make the metropolis
more friendly for the entire population, regardless of age, physical condition, social, ethnic,
and others. To understand more easily this issue, we will make a short reading of some
approaches undertaken by various authors who have focused on it, trying to make a
comparative study between the various points of view on the urban infrastructure and public
space. It is expected, to better understand the role of inclusive design as a core concept of
planning cities, expecting to contribute to a new vision of the urban public space as an
inclusive society.
2
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Introdução
Nos actuais grandes centros urbanos, tais como Lisboa, a qualidade de vida tem vindo a
decrescer. Problemas como a desorganização do espaço público, traduzem-se no aumento das
barreiras urbanísticas, que impedem o acesso ao usufruto da cidade, por parte das pessoas com
mobilidade reduzida e em particular de uma população que tem vindo a envelhecer de forma
constante. Este tipo de factores, resultantes dos problemas das cidades contemporâneas
emergentes, revelam-se como desafios estimulantes para o Design, quer do ponto de vista social
quer do ponto de vista do planeamento urbanístico, para a construção de uma cidade mais
acessível a todos. Nesta perspectiva torna-se imperativo que o desenho urbano tenha de ser
obrigatoriamente pensado e projectado de forma inclusiva, desde o plano à sua execução.
Tendo em conta estes desafios, o equipamento urbano é parte fundamental da vida quotidiana
das pessoas. Hoje em dia é impossível ignorar a sua existência e a importância da relação que
temos com o mesmo. Para uma melhor compreensão, podemos partir da seguinte premissa:
De que forma se deverá projectar equipamento urbano inclusivo para cidade tornando-a mais
amistosa para a sua população?
O equipamento urbano esteve “sempre presente nas cidades como complementação da sua
urbanização…” (Mourthé, 1998; p.1), enquanto conjunto de objectos que compõem a paisagem
citadina, e que pretendem facilitar e trazer conforto aos seus utilizadores.
Observa-se no entanto, que uma parte dos sistemas actuais de equipamento urbano da cidade de
Lisboa, apresentam-se como uma solução pontual dos locais de implantação e que nem sempre
atendem às necessidades dos utilizadores, apesar de serem um factor importante de
dinamização.
Assim sendo, a cidade torna-se num espaço de intervenção extraordinariamente importante para
o Design que pode aí contribuir de forma relevante no sentido de melhorar a qualidade de vida.
Sendo a cidade um espaço que todos habitam, visitam e vivenciam, será incontornável abordar-
se o conceito da inclusividade como elemento fundamental ao desenho do equipamento urbano.
3
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Este artigo, irá abordar sucintamente algumas perspectivas acerca da inclusividade no desenho
do equipamento urbano desde o momento projectual e a sua ligação com a cidade. Pretende-se
estabelecer, que a inclusividade aplicada ao equipamento urbano, pode ser um factor
determinante para a melhoria da legibilidade e compreensão desses elementos e da qualidade de
vida dos utilizadores.
As cidades da Idade Média eram caracterizadas pela sua continuidade, densidade urbana
elevada, multifuncionalidade e diversidade de espaços e vivências, reflectidos no desenho da
malha urbana. Na visão de Jacques Le Goff (1998; p.139), as cidades medievais tinham a sua
população mudada a cada duas gerações, o que significava a renovação da aparência das
cidades, desta maneira não existia tanto apego aos equipamentos e estruturas construídas, e
assim as cidades medievais eram objecto de uma intervenção constante.
Até ao início do século XIX as limitações dos transportes locais e regionais restringiram o
crescimento das cidades. É com a Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX, que
aparecem novos padrões de mobilidade e surgem pela primeira vez os grandes conflitos no
espaço urbano, devido ao grande êxodo rural para as cidades. Com a entrada do século XX
surge "…a era das metrópoles" (Choay, 1979; p.1), a cidade passa a ser vista de uma forma mais
atenta pela sociedade, como um todo, assiste-se ao retorno aos espaços públicos como
elementos centrais dos projectos urbanos (Castro, 2002; p.56).
Perceber este processo envolve questões relativas à leitura dos espaços, quer em termos físicos
mensuráveis, como o equipamento urbano, que compõem a forma urbana, quer quanto aos
aspectos que envolvem a percepção e cognição através da utilização dos sentidos.
1
A Teoria das Representações Sociais, preconizada pelo psicólogo social Serge Moscovici, está relacionada com o estudo das
trocas simbólicas realizadas no ambiente social; das nossas relações interpessoais, e a forma como influenciam a construção do
conhecimento, da cultura, o que nos leva a situar o autor supracitado entre os chamados interacionistas simbólicos tais como
Peter Berger, George Mead e Erving Goffman.
4
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
ser visto como um todo social, biológico e físico. Para isto acontecer existem diversas formas de
apreensão e análise dos espaços urbanos com diferentes abordagens e metodologias. No entanto
à que ter em conta que todas elas procuram entender o todo a partir do estudo das partes (Lynch,
1985; p.43).
Isabel Cotrim et. al.(2005), por sua vez refere que o espaço público é “composto, ordenado e
mantido” em torno do uso do equipamento urbano e da sua percepção social, isto significa que é
concebido como um todo e abrangendo todos os elementos que o constituem (desde o
tratamento do solo à envolvente arquitectónica, equipamento urbano até à arborização urbana).
Numa outra visão da percepção da cidade, Maria Elaine Kohlsdorf (1996; p.21), considera que
os marcos temporais mostram o processo evolutivo das intervenções urbanas, os geográficos
consideram as transformações do sítio e por fim os culturais associam-se à identidade urbana.
Este trio define a necessidade da história, do conhecimento físico-territorial e das características
da sociedade para compreender a cidade em si.
Na perspectiva de Gordon Cullen (1983; pp.9-10), o conceito de cidade vai além da percepção
visual por parte dos cidadãos. Do seu ponto de vista a urbe vai para lá do bem-estar e das
facilidades que levam a maioria das pessoas a preferirem – independentemente de outras razões
– viver em comunidade ao invés do isolamento. Segundo o autor
(...) o objeto mais móvel numa cidade é o ser humano e, por razões possivelmente diferentes,
ele próprio necessita de poder ancorar-se nas várias actividades exteriores, comerciais,
recreativas e sociais. Prever unicamente espaços livres de modo a que estas actividades
possam simplesmente existir não é em si suficiente. O espaço livre como elemento duma
cidade é essencial, mas necessita também de ser povoado com objectos de modo a separar os
fluxos dissociados de pessoas em grupos. (...) (Cullen, 1983; p. 106),
Sendo assim, o papel que o espaço público desempenha, bem como o conteúdo e a interacção
social que nele se encontra, na opinião de Gloria Levitas (1986), varia consoante a classe, grupo
étnico, idade e estruturas. Por outro lado no parecer de Nan Ellin (1996) o aumento da divisão
das actividades sociais contribuiu para a deslocação dessas mesmas, que tinham lugar na rua,
para o interior dos edifícios da urbe, tornando a sociedade actual numa sociedade mais
individualista. Sintetizando estas ideias o espaço público urbano tem por objectivo a promoção
da interactividade entre os cidadãos e as suas estruturas, como uma maneira de criar uma
sociedade mais participante, dinamizadora e conhecedora das suas características culturais e
históricas. Nesta medida, as zonas principais da urbe devem-se assumir como importantes
centros de interacção propiciando a oportunidade das pessoas interagirem (Tibbalds,1992).
A melhoria da qualidade de vida dos utentes da urbe torna-se numa obrigação cívica para todos
os que a pensam e a usufruem. “As cidades na sua grande maioria, não correspondem às reais
5
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
necessidades da sua população.”(Teles, 2005; p.27). As urbes levam por vezes séculos a serem
construídas. As “vilas e as cidades continuam a ser desenhadas a pensar no “homem médio””
(Teles, 2005; p.27), desta forma torna-se indispensável perceber e conhecer bem a situação no
terreno quer a física quer a social, como forma de propor novas soluções mais adequadas.
Paula Teles (2005), indica-nos as possíveis causas de exclusão, tais como o envelhecimento da
sociedade e as novas exigências das pessoas com mobilidade reduzida. Estas perspectivas de
exclusão de acessibilidade e mais ainda de mobilidade, tornam-se grandes desafios para o
planeamento da cidade, como a autora refere “a cidade não pode ter limites de mobilidade”.
Torna-se então importante desenhar o espaço público com qualidade, que seja acessível a todos,
independentemente da idade, capacidades físicas, etnia ou estatuto social. Jane Jacobs (1962)
mostra-nos alguns objectivos para a construção do espaço público de qualidade:
a vivência; a identidade e o controle; o acesso a oportunidades, imaginação e distracção; a
autenticidade e significado; a vida pública e comunitária; a autoconfiança urbana; e o bom
ambiente para todos.
Resumindo, podemos dizer que para ir cada vez mais ao encontro do que agrada aos utentes que
usam no dia a dia o espaço público, à que perceber como se relaciona o utente com o espaço
público e com o contexto urbano onde se encontra inserido, por forma a analisar as mudanças
culturais e da vida urbana que os utentes promovem individualmente ou colectivamente, pois
serão essas mudanças que criam novos espaços e utilidades. Desta forma dever-se-á incentivar o
processo de desenho do espaço público inclusivo no âmbito de facultar a cidade a todos.
A utilização do termo “equipamento urbano” para nos referirmos aos vários objectos que
enquadram as ruas e parques da cidade é a expressão que Márius Quintana Creus (1996, pp.6-
13) defende, em detrimento de “mobiliário urbano” que está ligado à ideia de mobilar ou
decorar a cidade o que não corresponde de todo às necessidades cada vez mais intrínsecas e
complexas da actualidade. Maria Elaine Kohlsdorf (1996; pp.160-161), por sua vez, usa o
termo “mobiliário urbano” em vez de “equipamento urbano” referindo-se aos elementos que
complementam a cidade, afirmando que estes contém “características de maior mobilidade e
menor escala” e que muitas vezes são “os principais responsáveis pela imagem dos lugares”.
6
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Por outro lado João Batista Guedes (2005) prefere usar o termo “equipamento urbano” pois no
seu parecer entende que este deverá abranger também os objectos de maior dimensão com o
propósito do uso urbano. Porém a natureza utilitária faz parte do conceito de “mobiliário
urbano”, para Glielson Montenegro (2005) que o define, não como elementos mas sim como
artefactos direccionados para o conforto dos utentes. Este autor assegura que o “mobiliário
urbano” “compõe o ambiente no qual está inserido” e faz parte do desenho das cidades,
interagindo com os seus utentes e com o contexto sócio-cultural e ambiental (Montenegro,
2005; p.29).
Projectar o espaço público, como nos indica o arquitecto Pedro Brandão no seu trabalho “O
Chão da Cidade”, deverá ajudar à criação e consolidação da rede urbana, como tal dever-se-á
perceber o contexto e identificar as características de cada local e a maneira como estes se
agrupam para a formação do todo que a urbe é.
Este abrange a evolução urbana, quer através da adequação do seu uso, quer na introdução de
novas funções, sejam elas na alteração da configuração, estrutura, ou no uso de materiais e
7
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
tecnologias inovadoras na sua fabricação. Keates e Clarkson (2003; pp.69-76) e Keates et. all.
(2000; pp.45-52) procuram criar uma maior consciência da exclusão que determinadas
propostas de design podem provocar conforme as decisões que se tomam durante o
desenvolvimento de um produto, dentro das suas capacidades perceptuais, cognitivas e motoras.
O equipamento urbano como elemento da cidade não deve ser um obstáculo à livre circulação
dos indivíduos, nem pode ser inacessível ou inadequado ao uso. Se este não for adequadamente
projectado e implantado, poderá tornar-se um elemento obstrutivo para as pessoas com
mobilidade reduzida (Montenegro, 2005; Ribeiro et. al., 2008).
“Almost all of us become adolescent, middle-age, and old. We all need the services and help of
teachers, doctors, dentists, and hospitals. We all belong to special need groups. … If we then lump
together all the seemingly little minorities of the last few pages, if we combine all these “special”
needs, we find that we have designed for the majority after all.”2 (Papanek, 1985; pp. 67-68)
Márius Quintana Creus (1996; pp.6-14) indica-nos três critérios para a elaboração de
equipamento urbano, são elas: a funcionalidade (do elemento e do espaço onde se insere); a
racionalidade (da sua construção e da sua forma); e a emoção (que desperta sensações no
indivíduo). Este último critério mostra justamente a ligação entre o valor de uso e o valor
artístico, pois disso depende a sua melhor relação com o espaço onde se encontra inserido.
Na opinião de Jorge Boueri (2007), há outros dois pontos fundamentais para a concepção de
equipamento urbano, o primeiro a frequência de uso do mesmo e o segundo o agrupamento
funcional (deve arranjar os equipamentos relacionados à actividade e afins de modo a que
fiquem próximos uns dos outros). O autor refere que a interacção entre o equipamento urbano
compreende a sequência de uso e a intensidade de fluxo, pelo que a instalação deste tipo de
equipamento deve ter em conta a ordem normal de operação dos mesmos. Em relação ao fluxo é
importante que o equipamento urbano seja colocado segundo critérios de proximidade e
acessibilidade para que tenham , um melhor desempenho.
José Carlos Vaz (1995; p.2) contraria os dois autores anteriormente mencionados ao afirmar que
existem diversas formas de se executar um projecto de intervenção de espaço urbano, onde
destaca “o tratamento estético e funcional de edificações, equipamento urbano e elementos
publicitários”.
2
Tradução livre: Quase todos nós somos adolescentes, adultos e idosos. Todos nós necessitamos dos serviços e da
ajuda dos professores, médicos, dentistas e hospitais. Todos nós pertencemos a grupos de necessidades especiais.
... Se, então, agruparmos todas as minorias das últimas páginas, se combinarmos todas essas necessidades
"especiais", deparamo-nos que afinal projectamos para a maioria de nós.
8
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Dentro desta perspectiva o desenho aplicado ao equipamento urbano deve atender a questões
funcionais, simbólicas, históricas e culturais do ambiente (Montenegro, 2005). Sendo assim o
equipamento urbano para além de corresponder às funções para as quais se destina, afecta o uso
do espaço público na medida em que pode levar à criação de novas possibilidades de uso do
espaço assim como o inverso, de impedir ou diminuir esse uso. Segundo Ricardo Luiz
Brancaglion (2006) e João Batista Guedes (2005) a existência do equipamento urbano está
condicionada às funções para que este foi projectado.
Podemos referir então que para projectar equipamento urbano adequado, o designer deverá
considerar além do contexto do espaço público, onde aquele se irá inserir, o utente e as suas
necessidades. Pelo que o equipamento urbano terá de ser estudado e projectado desde o início de
uma forma inclusiva (forma, função e materiais) e contextualizada, com o propósito de
contribuir para a construção de espaços adequados, inclusivos e de qualidade, das pessoas e para
as pessoas. Resumindo o projecto destes elementos deverá ter em conta não só o seu aspecto
visual, mas também a sua adequação aos diversos componentes da paisagem urbana, aos
requisitos funcionais e ao uso do espaço citadino na adaptação às suas funções e actividades, à
dinâmica social do espaço, e o mais importante ao utilizador do mesmo no que se refere à
mobilidade e acessibilidade.
“As cidades na sua grande maioria, não correspondem às reais necessidades da sua
população.”(Teles, 2005; p.27)
O espaço público funciona como base da vida colectiva da cidade e é onde se reflectem os
hábitos e a cultura da sociedade que os vive. A forma como nos apropriamos do espaço público
depende do tipo de conforto que este oferece aos seus utentes (Marcus e Francis, 1998; p.366).
9
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Deste modo , torna-se essencial pensar a cidade de Lisboa de uma forma mais inclusiva através
do seu equipamento urbano.
Em primeiro lugar será importante, como Pedro Brandão nos mostra, perceber o contexto da
cidade de Lisboa e identificar os seus problemas. Analisando o espaço público lisboeta, este não
oferece condições de conforto satisfatórias à sua população, como resultado da falta de relação
entre a componente física, social e do espaço.
Uma outra causa do abandono da vida colectiva na cidade deve-se à falta de condições para a
apropriação do espaço. Nesta cidade, a escala do espaço público suscita no utente o efeito de
enclausuramento, falta de segurança e controlo sensitivo muito devido à morfologia em que
estão inseridos e da relação que é estabelecida entre a massa edificada e o vazio (Krier, 1979;
pp.2-17).
Após a identificação destes problemas poderemos concluir que para a criação de espaços
inclusivos, teremos que relacionar o espaço público com o utente, para isso o equipamento
urbano tem uma contribuição decisiva na inclusividade.
Inicialmente, como Creus nos indica, é importante perceber a função do objecto, atribuir-lhe
racionalidade e emotividade. De um ponto de vista mais prático teremos que entender a
dinâmica do local onde aquele será inserido para percebermos qual a sua frequência de uso,
como Boueri nos fala. Vaz, por sua vez, não descura o tratamento estético como indicador da
identificação do objecto com o utente. A ergonomia terá que estar latente, na opinião de
Brancaglion, a acessibilidade também, para que todos possam usufruir da mesma forma destes
elementos, como Teles no refere. Por fim, na perspectiva de Montenegro, este engloba algumas
10
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
premissas dos anteriores autores como a função, a estética e a ergonomia, acrescentando ainda a
simbologia, a história, a cultura e o ambiente.
Dentro desta ideia e como resposta à permissa inicial deste artigo (De que forma se deverá
projectar equipamento urbano inclusivo para cidade tornando-a mais amistosa para a sua
população?) teremos que ter em consideração, para a criação do projecto de equipamento
urbano, nove pontos distintos, são eles: a acessibilidade, a função do objecto, frequência de uso
(dinâmica do local), o tratamento estético, a ergonomia, a simbologia, o contexto histórico, a
cultura e o ambiente.
No entanto não se pode descurar a opinião dos utentes desde o primeiro momento projectual,
pois na avaliação de um projecto de equipamento urbano “faltam-nos muitas vezes perspectivas
decisivas, como por exemplo, a avaliação directa junto dos utentes” (Brandão; p.98). Estes irão
ser os verdadeiros intervenientes do espaço público e utilizadores do seu equipamento. Sem a
intervenção destes, desde o ínicio do processo projectual de equipamento urbano para a cidade
de Lisboa, as respostas continuarão a ser apenas soluções pontuais de intervenção.
CONCLUSÃO
A criação de equipamento urbano inclusivo para a cidade terá de incluir desde o início do
processo projectual o utente, bem como os princípios de acessibilidade, o contexto histórico, a
apropriação do espaço e seus componentes, a sua simbologia associada, a morfologia, e a
dinâmica social e funcional (o modo como os utentes usam a cidade), interligando todos estes
factores.
Aplicando estes principios à cidade de Lisboa, esta deverá ser (re)pensada na (re)criação de
novos espaços, como forma de aumentar a qualidade de vida urbana, tornando a cidade mais
amistosa e inclusiva, e não apenas uma cidade de trabalho que envia diariamente os seus utentes
para zonas dormitório. Para que isto aconteça será necessária a requalificação do espaço público
no que respeita ao equipamento urbano. Este terá, necessariamente, de ser pensado e projectado
de forma inclusiva de modo a estabelecer uma identificação entre a cidade e os seus utentes,
proporcionando melhores condições de conforto que são imperativas à vida em comunidade na
cidade. A preocupação com a criação de equipamento inclusivo contribuirá para a construção de
uma Cidade das Pessoas e para as Pessoas.
11
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
Referências bibliográficas
12
A Cidade das Pessoas, para as Pessoas - projectar equipamento urbano Setembro de 2011
MOURTHÉ, Claudia Rocha, (1998). Mobiliário urbano em diferentes cidades brasileiras: um estudo
comparativo. Dissertação (Mestrado em Arquitetura e Urbanismo). Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo. p.280.
MARCUS, Clare C. e FRANCIS, Carolyn, (1998). People Places. Design Guidelines for Urban Open Space.
2ª edição. Van Nostrand Reinhold. United States of America. p. 366.
NOJIMA, Vera Lúcia, (1999). Linguagens e Leitura do Design Urbano: caracterização da identidade dos
lugares. Estudos em Design. Rio De Janeiro, Volume 7, nº 3, p. 25-40.
PAPANEK, Victor, (1983). Design for Human Scale, New York, Van Nostrand Reinhold.
BRANDÃO, Pedro, (2002). O Chão da Cidade – Guia de avaliação do design de espaço de espaço público.
Centro Português de Design, Lisboa. pp.187
RIBEIRO, Gabriela Sousa; MARTINS, Laura; MONTEIRO, Circe Gama, (2008). Acessibilidade em Olinda –
PE: és para quem Oh linda cidade? In: ENTAC - Encontro Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído, XII,
2008, Fortaleza. Anais do ENTAC 2008. Fortaleza: ANTAC.
TELES, Paula (2005). Os territórios (sociais) da mobilidade. Lugar do plano, Aveiro.
TIBBALDS, Francis, (1992). Making people-frendly towns. Improving the public environment in towns and
cities. Spon Press, Londres.
VAZ, José Carlos, (1995). Vida nova para o centro da cidade. BNDES. Dicas Instituto Polis. São Paulo. Secção
Desenvolvimento Urbano. Disponível em: <http://federativo.bndes.gov.br/dicas/D031.htm>. Visualizado o em: 06
Julho 2011.
13