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MINISTÉRIO DA DEFESA

EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA E CONSTRUÇÃO
DIRETORIA DE PATRIMÔNIO
"Sv O Fort Ex/1946"

Nota Técnica nº 045/2020 – DPIMA.AsseApAsJurd Brasília, 1 de outubro de 2020.

1. EMENTA

CONCESSÃO DE DIREITO REAL DE USO RESOLÚVEL (CDRUR)


– LINHAS DE TRANSMISSÃO – POSSIBILIDADE – ENTENDIMENTO DPIMA NA
MODALIDADE ONEROSA.

2. RELATÓRIO

A Chefe da Assessoria de Apoio para Assuntos Jurídicos da DPIMA,


recebeu consulta da Seção de Patrimônio a fim de que fosse procedida a análise jurídica do
questionamento realizado pelo Chefe do Estado-Maior da 2ª Região Militar acerca da possibilidade
ou não de realização de CDRUR em área sob administração do Exército.

Diante disso, ficou a cargo desta Assessoria de Apoio para Assuntos


Jurídicos a análise dos referidos documentos objetivando a possibilidade do feito, conforme
justificativas e considerações a seguir.

3. LEGISLAÇÃO PERTINENTE -

a. Constituição da República Federativa do Brasil CF/88;


b. Lei 8666/93;
c. Lei 9636/98;
d. Decreto-Lei 9760/46;
e. Decreto-Lei 200/67;
f. Decreto-Lei 1310/74;
g. Decreto 77095/76;
h. Instruções Gerais 10-03; e
(Continuação da Nota Técnica nº 045 – DPIMA.AsseApAsJurd, de 1 de outubro de 2020....................Fl 2)

i. Instruções Reguladoras 50-13.

4. APRECIAÇÃO

a. O presente estudo se prestará a analisar a documentação trazida à baila


pelo DIEx nº 13848-SvPatmMA/2RM, de 16 de junho de 2020, de modo a observar a possibilidade
ou não de realizar o CDRUR e a cobrança pela passagem de linha de transmissão em área
jurisdicionada ao Exército sob a responsabilidade administrativa do Cmdo da 11ª Bda Inf L.

b. Inicialmente, cabe apresentar o contexto do caso em tela que


compreende a ocupação irregular de área militar pela passagem de linha de transmissão
administrada por empresa privada de geração de energia. A área compreende três glebas (SP 02-
0183, SP 02-0184 e SP 02-0185), sendo que, atualmente, apenas uma delas está de posse direta do
EB (SP 02-0183).

c. A gleba SP 02-0184, trata-se de imóvel permutado pelo EB com a


POUPEx em 2004, cuja alienação foi contestada judicialmente e, atualmente, o processo encontra-
se concluso para julgamento. Já a terceira gleba (SP 02-0185), trata-se de terreno ocupado pela
estrada SP-083 (anel viário de Campinas-SP).

d. A legislação que melhor atende aos interesses do Exército Brasileiro


(EB), para a regularização da ocupação da área pela CPFL (Companhia Paulista de Força e Luz), é
a que versa sobre CDRUR, prevista nos termos da Lei 9.636 de 15 de maio de 1998 a seguir:

“Art. 18. A critério do Poder Executivo poderão ser cedidos, gratuitamente


ou em condições especiais, sob qualquer dos regimes previstos no Decreto-
Lei no 9.760, de 1946, imóveis da União a:

II - pessoas físicas ou jurídicas, em se tratando de interesse público ou social


ou de aproveitamento econômico de interesse nacional.

§ 1o A cessão de que trata este artigo poderá ser realizada, ainda, sob o
regime de concessão de direito real de uso resolúvel, previsto no art. 7o do
Decreto-Lei no 271, de 28 de fevereiro de 1967, aplicando-se, inclusive, em
terrenos de marinha e acrescidos, dispensando-se o procedimento licitatório
para associações e cooperativas que se enquadrem no inciso II do caput
deste artigo.

§ 2o O espaço aéreo sobre bens públicos, o espaço físico em águas públicas,


as áreas de álveo de lagos, rios e quaisquer correntes d’água, de vazantes, da
plataforma continental e de outros bens de domínio da União, insusceptíveis
de transferência de direitos reais a terceiros, poderão ser objeto de cessão de
uso, nos termos deste artigo, observadas as prescrições legais vigentes.
[...]
(Continuação da Nota Técnica nº 045 – DPIMA.AsseApAsJurd, de 1 de outubro de 2020....................Fl 3)

§ 5o A cessão, quando destinada à execução de empreendimento de fim


lucrativo, será onerosa e, sempre que houver condições de competitividade,
deverão ser observados os procedimentos licitatórios previstos em lei.
[...]
§ 7o Além das hipóteses previstas nos incisos I e II do caput e no § 2o deste
artigo, o espaço aéreo sobre bens públicos, o espaço físico em águas
públicas, as áreas de álveo de lagos, rios e quaisquer correntes d’água, de
vazantes e de outros bens do domínio da União, contíguos a imóveis da
União afetados ao regime de aforamento ou ocupação, poderão ser objeto de
cessão de uso.”

e. Para tanto, vejamos o que diz o art. 7º e seguintes do Dec-Lei 271, de


28 de fevereiro de 1967, a seguir:

“Art. 7. É instituída a concessão de uso de terrenos públicos ou particulares


remunerada ou gratuita, por tempo certo ou indeterminado, como direito
real resolúvel, para fins específicos de regularização fundiária de interesse
social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra,
aproveitamento sustentável das várzeas, preservação das comunidades
tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse
social em áreas urbanas.
§ 1º A concessão de uso poderá ser contratada, por instrumento público ou
particular, ou por simples têrmo administrativo, e será inscrita e cancelada
em livro especial.
§ 2º Desde a inscrição da concessão de uso, o concessionário fruirá
plenamente do terreno para os fins estabelecidos no contrato e responderá
por todos os encargos civis, administrativos e tributários que venham a
incidir sôbre o imóvel e suas rendas.
§ 3º Resolve-se a concessão antes de seu têrmo, desde que o concessionário
dê ao imóvel destinação diversa da estabelecida no contrato ou têrmo, ou
descumpra cláusula resolutória do ajuste, perdendo, neste caso, as
benfeitorias de qualquer natureza.
§ 4º A concessão de uso, salvo disposição contratual em contrário, transfere-
se por ato inter vivos , ou por sucessão legítima ou testamentária, como os
demais direitos reais sôbre coisas alheias, registrando-se a transferência.
§ 5o Para efeito de aplicação do disposto no caput deste artigo, deverá ser
observada a anuência prévia:
I - do Ministério da Defesa e dos Comandos da Marinha, do Exército ou da
Aeronáutica, quando se tratar de imóveis que estejam sob sua
administração; e
II - do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência de República,
observados os termos do inciso III do § 1o do art. 91 da Constituição
Federal.” (Grifos Nossos)
(Continuação da Nota Técnica nº 045 – DPIMA.AsseApAsJurd, de 1 de outubro de 2020....................Fl 4)

f. Desse modo, fica clara a legalidade para se realizar o presente


procedimento de CDRUR, na modalidade onerosa, tendo em vista que a Companhia Energética que
detém o controle e administração da linha de transmissão aufere lucro com essa prática, resultante
da própria atividade exercida. Frisa-se que o contrato de CDRUR aqui proposto não se confunde
com o contrato de concessão para prestar serviço público assumido pela empresa ganhadora da
licitação. O contrato de CDRUR visa regularizar o uso de área militar, que apesar de ser
propriedade da União, possui afetação especial para atendimento dos interesses militares.

g. Em outras palavras, os imóveis militares possuem especial tratamento


por serem considerados bens de uso especial, vocacionados a atender os interesses, em última
análise, da defesa nacional e soberania nacional, cumprindo destacar que os interesses das Forças
Armadas, são vinculados a valores primordiais do Estado Brasileiro, posto que conforme
disciplina o artigo 142 da Constituição Federal, cabe as Forças Armadas a proteção, entre outros, da
segurança nacional.

h. Assim, qualquer interpretação que subjugue o interesse das Forças


Armadas a um plano secundário, inclusive com relação ao uso de suas áreas, se choca
flagrantemente com a própria Constituição Federal de 1988, conforme se vê:

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988


TÍTULO I - Dos Princípios Fundamentais

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos


Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático
de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
(...)
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela
Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com
base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da
República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes
constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. (grifou-se)

i. Da transcrição acima, verifica-se que a Constituição define de forma


irretorquível a soberania como importante valor fundamental. Além disso, atribui às Forças
Armadas a defesa da nação para proteção, em última análise, da própria Soberania Nacional. Diante
da inegável importância das Forças Armadas, os imóveis a elas jurisdicionados também devem ter
um tratamento especial como de fato o tem.

j. Em razão disso, há que haver não só anuência do Comandante do


Exército para a passagem das linhas de transmissão em áreas militares, mas também a devida
regularização do uso por meio de CDRUR onerosa, conforme legislação aplicável presente neste
documento.

k. Assim, desde que devidamente atendidos os interesses da Força


Terrestre poderá ser efetivado a CDRUR oneroso, contanto que não ofenda a operacionalidade da
estrada SP-083 (anel viário de Campinas-SP). Ainda sobre o tema, observa-se a necessidade de uma
ressalva na minuta do contrato a ser assinado pelas partes interessadas, deixando expressos os
imbróglios que envolvem a gleba SP 02-0184, referentes à alienação em face da POUPEx.
(Continuação da Nota Técnica nº 045 – DPIMA.AsseApAsJurd, de 1 de outubro de 2020....................Fl 5)

l. Neste desiderato, será necessária a submissão do processo


administrativo, incluindo a minuta de contrato, à Advocacia Geral da União, responsável pela
consultoria e pelo assessoramento jurídicos do Poder Executivo, nos termos da LC nº 73/93. Será
atribuição da Consultoria Jurídica da União (CJU), órgão da Advocacia Geral da União, do Estado
onde se situa a área a ser cedida, a confecção de parecer recomendando ou não a cessão.

m. Cumpre salientar que, a passagem dessas linhas de transmissão, pelas


áreas militares, geram uma restrição considerável nas terras que, conforme já asseverado, são de
afetação especial, com destinação específica para atendimento das finalidades militares. Tudo isso
gera um custo operacional e financeiro significativo para a Força Terrestre, pois implica em
inviabilização dos locais para as atividades finalísticas do EB, já que nas áreas contiguas dos locais
energizados, não se podem realizar uma série de exercícios militares.

n. Ademais, as áreas militares nas quais há passagens de linhas de


transmissão deverão suportar eventuais atividades de manutenção técnica por civis alheio a caserna,
o que também requer cuidados específicos em prol da segurança orgânica da OM que abriga as
citadas linhas de transmissão.

o. Diante disso, uma contraprestação financeira pelas consequências


causadas pelas linhas de energia se mostra adequada medida compensatória lógica e legal, em
benefício da Força Terrestre.

p. Assim, acatadas as solicitações da CJU-SP, entende-se estar fechado o


ciclo da presente CDRUR, com o atendimento de toda legislação de referência.

5. CONCLUSÃO

a. Por todo exposto, esta Assessoria de Apoio para Assuntos Jurídicos


entende pela possibilidade e necessidade de possível celebração de Concessão de Direito Real de
Uso Resolúvel (CDRUR), em modalidade ONEROSA, a ser firmado entre o Exército Brasileiro e a
CPFL.

b. Por fim, tendo em vista o exposto no presente documento, entende-se


por tal possibilidade, desde que atendidas as sugestões a serem trazidas pela CJU-SP, e observando-
se, ainda, o aduzido no presente parecer.

É o Parecer, salvo outra apreciação.

_______________________________________________
JULIANA ALBERTO COSTA– 2º Ten
Adjunto da AssApAsJurd DPIMA
De acordo:

_________________________________________________
FLORA REGINA CAMARGOS PEREIRA – Cap
Chefe da AssApAsJurd DPIMA

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