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Abstract: Brazilian lower house of the Parliament does analyse three projects of amendment
of the Article 71 of the Intellectual Property Statute: the statutes’ drafts 1.184/20, 1.320/20 and
1.462/20. The focus of the proposed reforms is to implement the automatic issue of compulsory
licences in the case of health emergencies, both national (declared by Federal Government)
and international (declared by the World Health Organisation). The project 1.462/20 is syste-
matically interpreted and its rules are contrasted to the Trade Related Intellectual Property
Agreement articles 31 and 31 bis. It results in the detection of potential breach of article 31 (a)
of the TRIPs, as far as no blanket licensing is authorised therein. Finally, some considerations
on the economic effects of a potentially amended Intellectual Property Statute are discussed,
particularly the importance of taking into account the need to foster the development of a
national Health Economic Industrial Complex (HEIC).
Summary: Introduction. 1. The draft laws 1,184, 1,320 and 1,462 of 2020. 2. The compatibility
with TRIPs. 3. The industrial economic health complex and the compulsory licensing. 3.1 PL
1.462 / 20 in health emergencies. 3.2 The PL 1,462 / 20 and the Brazilian Economic Health
Industrial Complex. Conclusion.
Resumo: A Câmara dos Deputados brasileira analisa três projetos de alteração do artigo 71
da Lei da Propriedade Intelectual: os projetos de lei 1.184/20, 1.320/20 e 1.462/20. O foco
das reformas propostas é a implementação da emissão automática de licenças compulsórias
no caso de emergências de saúde, tanto nacionais (declaradas pelo Governo Federal) quanto
internacionais (declaradas pela Organização Mundial da Saúde). O projeto 1.462/20 é inter-
pretado sistematicamente e suas regras são contrastadas com os artigos 31 e 31 bis do Acordo
de Propriedade Intelectual Relacionada ao Comércio (TRIPs). Esse estudo tem por resultado a
detecção de possível violação do artigo 31 (a) do TRIPs, pois nenhum licenciamento inespecífico
é permitido nessa regra. Finalmente, algumas considerações sobre os efeitos econômicos de
uma Lei da Propriedade Intelectual alterada nos termos do projeto são discutidas, particular-
*
Professor de Direito do Comércio Internacional da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
Professor da Faculdade de Direito de Sorocaba e da Universidade CEUMA (São Luís – MA). Bolsista de
produtividade CNPq. Advogado.
**
Professor Titular de Direito Econômico e Economia Política da Faculdade de Direito da Universidade
de São Paulo. Professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Universidade Nove de Julho
(Uninove). Advogado.
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Introdução
1
https://www.camara.leg.br/noticias/689119-camara-comeca-a-debater-quebra-de-patente-
de-vacinas-contra-a-covid-19/?fbclid=IwAR002XEYVr5J7wVYujRIsk54Kvqy8A3Wk_
Lj1EPz9mBDMHaBvTOtuYCV8t8; https://www.camara.leg.br/noticias/689553-governo-descarta-
quebrar-patentes-para-assegurar-acesso-a-vacina-contra-covid-19/?fbclid=IwAR002XEYVr5J7
wVYujRIsk54Kvqy8A3Wk_Lj1EPz9mBDMHaBvTOtuYCV8t8; https://www1.folha.uol.com.br/
equilibrioesaude/2020/05/especialistas-pressionam-maia-por-projeto-que-quebra-patente-em-razao-
da-covid-19.shtml, consultados em 11 de setembro de 2020.
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2
A lei aponta “a comercialização que não satisfizer às necessidades do mercado,” o que não é consistente
em termos microeconômicos, pois o mercado do bem ou serviço relacionado à patente apenas arbitraria o
preço e a quantidade comercializados. Para dar sentido à determinação legal, portanto, é preciso interpretar
as tais “necessidades do mercado” em termos diversos do uso normal, o que parece indicar uma distorção
da relação de oferta em um sentido idêntico ou muito similar ao do exercício de preços de monopólio.
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3
A questão de se a exigência do uso não-comercial pode ser imediatamente transposta para o Direito
brasileiro é um tema importante e complexo, o que impede sua discussão no âmbito desse artigo. Opina-
-se, porém, que a ausência de exigência na legislação brasileira implica não haver exigibilidade interna de
exclusividade de uso não-comercial, havendo eventual violação de regra do TRIPs se houver concessão
de licença compulsória em contrariedade com as regras desse Acordo, ainda que harmônicas com as
exigências da Lei 9.279/96.
4
Duncan Matthews. Globalising intellectual property rights: the TRIPs Agreement, Routledge, Londres,
2002, pp. 60-61. UNCTAD-ICTSD. Resource book on TRIPS and development, Cambridge University Press,
Cambridge, 2005, em particular, p. 468: “The ordinary sense of this would be that governments should
not attempt to grant blanket authorizations of compulsory licence pertaining to types of technologies
or enterprises, but instead should require each application for a licence to undergo a process f review to
determine whether it meets the established criteria for the granting of a licence”.
5
Brasil, Projeto de Lei n. 1.462/2020, Câmara dos Deputados, Brasília, 2020, pp. 5-6.
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6
Antony Taubman. A practical guide to working with TRIPS, Oxford University Press, Oxford, 2011, em
particular, p. 49: “The Doha Declaration therefore served the interesting function of adjusting a received
or ‘oral’ jurisprudence of TRIPS, a perceived or asserted legal scope attributed inaccurately to the treaty
language, so as to align it more accurately with the black letter law of TRIPS as a legal text: to synchronize
political perceptions of the law with its actual legal reach. Doha provided a political gloss on the text of
TRIPS by referring to a ‘right to grant compulsory licences’ and ‘the freedom to determine the grounds
upon which such licences are granted’. By doing so, the Declaration did not rewrite TRIPS; it simply made
explicit what was implicitly there, so as to dispel avoidable confusion and contention.”
7
Carlos M. Correa, Implications of the Doha Declaration on the TRIPS Agreement and Public Health,
Organização Mundial da Saúde, Genebra, 2002, pp. 9-12.
8
Muhammad Zaheer Abbas/ Shamreeza Riaz, “Compulsory licensing and access to medicines:
TRIPS amendment allows export to least-developed countries”, JIPLP, 12, 6 (2017), pp. 451-452.
9
Carolyn Deere, The implementation game: the Trips agreement and the global politics of intellectual
property reform in developing countries, Oxford University Press, Oxford, 2009, p. 101.
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11
Entre outros, Wilson CAno, “A desindustrialização no Brasil”, Economia e Sociedade [online], 21 (2012),
n.spe, pp.831-851, disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-
06182012000400006&lng=pt&nrm=iso, ISSN 0104-0618, https://doi.org/10.1590/S0104-
06182012000400006 (consultado aos 11 de setembro de 2020); Paulo César Morceiro,
Desindustrialização na economia brasileira no período 2000-2011: abordagens e indicadores, Cultura Acadêmica,
São Paulo, 2012; José Alderir da Silva/André Luís Cabral de Lourenço, “Desindustrialização
em debate: teses e equívocos no caso da economia brasileira”, Indicadores Econômicos da Fundação de Economia
e Estatística, 42, 2 (2014), pp. 57-76.
12
Um tratamento simples e claro desses conceitos pode ser encontrado, i. a., em Paul Krugman/Robin
Wells, Introdução à Economia, Elsevier, Rio de Janeiro, 2011.
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13
Carlos A. Grabois Gadelha, A dinâmica do sistema produtivo da saúde: inovação e complexo econômico
industrial, FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2012, pp. 13-18. Também Marco R. di Tommaso/ Stuart
O. Schweitzer, Health policy and high-tech industrial development: learning from innovation in the health
industry, Elgar Publishing, Cheltenham, 2005, pp. 7 e ss.
14
Padmashree Gehl Sampath, Reconfiguring Global Health Innovation, Routledge, London/New York,
2011, pp. 3-4, 13, 17-20.
15
Gilberto Bercovici, “Complexo industrial da saúde, desenvolvimento e proteção constitucional
ao mercado interno”, Revista de Direito Sanitário. 14, 2 (2013), pp. 9-42.
16
Gilberto Bercovici/Marco Aurélio Cezarino Braga, “Contribuições para a reforma da
lei de propriedade industrial: a adequação da forma jurídica à Ordem Econômica constitucional”, in:
A revisão da lei de patentes: inovação em prol da competitividade nacional (Org. Centro de Estudos e Debates
Estratégicos), Câmara dos Deputados, Brasília, 2013, pp. 159-164.
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Conclusão
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