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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

Faculdade de Direito

Direito Fiscal

IMPOSTOS E CONSTITUIÇÃO

Universidade Caólica de Angola, Faculdade de Direito DCJEE


Fevereiro 2019
Actividade Financeira do Estado e Tributos
• Actividade Financeira do Estado - a actividade que o Estado desenvolve com vista à arrecadação de receitas
para a realização de despesas públicas.
• Para financiar as despesas públicas, o Estado pode recorrer a vários tipos de receitas, nomeadamente:
Receitas Patrimoniais (provenientes da gestão do património), Empréstimos Públicos (interno e externo) e
Receitas Tributárias (impostos e taxas).
• Não sendo o Estado moderno um estado patrimonial, as receitas patrimoniais terão pouca relevância;
• O empréstimo público não é aconselhável na medida em que onera o Estado com a restituição e os juros
remuneratórios o que, no futuro vai onerar os cidadãos com mais impostos. Daí o dizer-se que “os
empréstimos de hoje são impostos de amanhã”;
• A taxa onera o Estado com a realização de uma contraprestação na medida em que, quem paga uma taxa,
espera uma contrapartida, podendo ser: a prestação de um serviço público (emissão do B.I.), o acesso a um
bem do domínio público (visita a um museu) ou a remoção de um limite jurídico à actividade dos
particulares (emissão de alvará commercial).
• O imposto é a receita privilegiada do Estado, não o onerando com qualquer contrapartida imediata e
individual. Por outro lado, apenas o imposto garante a cobertura de despesas que não são susceptíveis de
serem divididas pelos beneficiários (defesa, segurança).

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Fevereiro 2019
NOÇÃO DE IMPOSTO

Imposto é uma prestação geralmente pecuniária, unilateral e


definitiva, estabelecida por lei a favor de uma pessoa colectiva de
direito público, com vista à prossecução de fins públicos e sem
carácter sancionatório.

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Fevereiro 2019
FIGURAS AFINS DO IMPOSTO
Noção e Tipos de Tributos (artigo 2º alína x) e nº 4 do artigo 3º do Código
Geral Tributário)

Figuras Afins do Imposto:


• Taxa (nº 7 do artigo 4º CGT);
• Contribuições para a Segurança Social;
• Contribuições Especiais – de melhoria, por maior despesa e outras
contribuições financeiras (nº 6 do artigo 4º do CGT).

Artigo 103º da CRA e nºs 8 e 9 do artigo 4º do CGT.


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Fevereiro 2019
A CONSTITUIÇÃO – FUNDAMENTOS DO
ESTADO FISCAL E LIMITES DA TRIBUTAÇÃO

A Constituição da República de Angola, enquanto lei fundamental,


contém princípios aplicáveis à matéria de tributação em geral e aos
impostos em particular.
No quadro das disposições constitucionais destacamos os fundamentos
do Estado Fiscal e os limites da tributação, nomeadamente, o Princípio
da Legalidade Fiscal, o Princípio da Igualdade Fiscal, o Princípio da
Capacidade Contributiva e o Princípio da Não Retroactividade da Lei
Fiscal.

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Fevereiro 2019
ESTADO FISCAL SOCIAL
• Estado Fiscal – é aquele que tem no imposto o principal meio de
financiamento das despesas públicas. O Estado Fiscal pressupõe, assim, a
liberdade, maxime, económica, dos particulares, que participarão nas
despesas públicas, entregando ao Estado uma parte dos seus rendimentos.
Podemos dizer que o Estado participa dos resultados da actividade
económica dos particulares pela via do imposto.
• Estado Social – é aquele que, ao contrário do estado liberal, se preocupa
com o bem-estar dos cidadãos, não se limitando a garantir o
funcionamento de serviços públicos mínimos, mas assumindo a garantia da
satisfação das necessidades dos cidadãos chamando a si os encargos com a
educação, saúde e outros bens e serviços cujos encargos eram
tradicionalmente assumidos pelos interessados.

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Fevereiro 2019
• O Estado Fiscal Social é, assim, um estado que financia as suas despesas
maioritariamente com receitas provenientes de impostos e intervém na
economia e na vida da sociedade com o objectivo de garantir a justiça social,
esbatendo as desigualdades sociais. Quanto mais prestações o estado garantir
aos seus cidadãos maior será o volume de receitas de que necessita, ou seja, mais
impostos terá de cobrar. É assim que se diz que “Os impostos são o preço que
pagamos pela sociedade que temos”. Maior Liberdade, melhor sociedade, mais
impostos.

Os estados modernos são na generalidade estados fiscais, assumindo-se alguns


como verdadeiros estados de bem-estar (atingiram níveis elevados na satisfação
das necessidades dos cidadãos). Como cabe ao Estado Fiscal pagar a factura do
Estado Social, nesses estados os impostos atingem níveis muito elevados.

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Fevereiro 2019
O Estado Fiscal Social à Luz da Constituição da
República de Angola
Do estabelecido nas normas constitucionais podemos retirar o
seguinte:
1 – Consagra-se o direito à propriedade privada (artigo 37º) e à livre
iniciativa económica privada (artigo 38º) assim como a coexistência de
sectores (artigo 92º), podendo dizer-se que está consagrado o primeiro
pressuposto para a cobrança de impostos: a economia de Mercado,
que permitirá a tranferência de meios financeiros dos particulares para
o Estado para que este disponha das receitas necessárias para fazer
face às despesas públicas.
Justifica-se, pensamos, a transcrição do nº 1 do artigo 89º de CRA que
dispõe:
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Artigo 89º
(Princípios Fundamentais)
1. A organização e regulação das actividades económicas assentam na garantia geral dos direitos e
liberdades económicas em geral, na valorização do trabalho, na dignidade humana e na justiça social, em
conformidade com os seguintes princípios fundamentais:
a) Papel do Estado de regulador da economia e coordenador do desenvolvimento económico nacional
harminioso, nos termos da Constituição e da lei;
b) Livre iniciativa económica e empresarial, a exercer nos termos da lei;
c) Economia de Mercado, na base dos princípios e valores da sã concorrência, da moralidade e da ética,
previstos e assegurados por lei;
d) Respeito e protecção à propriedade e iniciativa privada;
e) Função social da propriedade;
f) Redução das assimetrias regionais e desigualdades sociais;
g) Concertação social;
h) Defesa do consumidor e do ambiente.

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2 – Reflecte a ideia do Estado Fiscal, na medida em que estabelece que “O
Sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado e outras
entidades públicas, (…)”(artigo 101º 1ª parte), consagrando igualmente o
dever geral de contribuição para as despesas públicas e da sociedade (…)
através de impostos (…) (artigo 88º 1ª parte).
3 – Reflecte a ideia do Estado Social, ao impor ao Estado, entre outros, o
dever de: i) esbater as assimetrias e desigualdades sociais (artº 89º nº 1
al.f)); ii) promover o desenvolvimento social através de adopção de critérios
de redistribuição da riqueza que privilegiem os cidadãos e em particular os
extractos sociais mais vulneráveis e carenciados da sociedade (art. 90º al. a))
e, iii) promover o bem-estar, a solidariedade social e a elevação da qualidade
de vida do povo angolano, designadamente dos grupos populacionais mais
desfavorecidos (art. 21º al. d)).
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• Podemos concluir que a CRA consagra um projecto de Estado Fiscal
Social em que, impondo aos cidadãos o dever de pagar impostos,
garante ao Estado as receitas necessárias, impondo-lhe ainda o dever
utilizar as receitas tributárias para promover a justiça social. Nesta
senda, a alínea b) do artigo 90º estabelece que o Estado promove o
desenvolvimento social através de “promoção de justiça social (...),
através de uma política fiscal que assegure a justiça, a equidade e a
solidariedade, em todos os domínios da vida nacional.

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Fevereiro 2019
O Artigo 101º da Constituição da República de Angola, com a epígrafe
“Sistema fiscal” estabalece uma ligação incontornável entre os
impostos e a justiça social ao dispor que:

“O Sistema fiscal visa satisfazer as necessidades financeiras do Estado


e outras entidades públicas, assegurar a realização da política
económica e social do Estado e proceder a uma justa repartição dos
rendimentos e da riqueza nacional”.

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Fevereiro 2019
PRINCÍPIO DA LEGALIDADE FISCAL
O Princípio da Legalidade Fiscal assenta na ideia de autotributação, ou seja, da necessidade de
haver consentimento dos contribuintes, através dos seus representantes, para a cobrança de
impostos. A sua concepção clássica resume-se na máxima anglo-saxónica no taxation without
representation.
A ideia de autotributação reconduz-se, actualmente, a dois institutos diferentes: a votação anual da
cobrança de impostos, através da aprovação anual do orçamento pelo parlamento e a exigência de
os impostos serem criados e disciplinados, nos seus elementos essenciais, através de lei do
parlamento e aqui temos, nesse segundo instituto, o Princípio da Legalidade Fiscal.
O Princípio da Legalidade Fiscal desdobra-se em dois segmentos: a reserva de lei formal (implica
que haja intervenção do parlamento) e a reserva material de lei (implica que a lei contenha a
disciplina tão completa quanto possível da matéria reservada)
Este Princípio constitui um limite formal ao poder de tributar na medida em que vem definir quem
pode criar impostos e de que forma o pode fazer.

(Vide Casalta Nabais, Direito Fiscal, Almedina, 9ª edição pag 138)

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Fevereiro 2019
Na Constituição da República de Angola, o Princípio da Legalidade Fiscal está consagrado no nº 1 do
artigo 102º que dispõe:

“Os impostos só podem ser criados por lei, que determina a sua incidência, a taxa, os benefícios
fiscais e as garantias dos contribuintes”.

Do Princípio da Legalidade Fiscal derivam dois subprincípios:


• O Princípio da Tipicidade – Segundo o qual os impostos só podem ser criados por lei;
• O Princípio da Determinação dos Elementos Essenciais do Imposto – Segundo o qual, os
elementos essenciais do imposto têm que ser determinados por lei. Assim, a incidência (definição
dos sujeitos e do objecto do imposto) a taxa (elemento quantificador do imposto), os benefícios
fiscais (desagravamentos ao regime regra da tributação, v.g. isenções, reduções da taxa) e as
garantias dos contribuintes (mecanismos que a lei põe à disposição dos contribuintes para evitar
ou sancionar a violação dos seus direitos ou interesses legalmente protegidos por actos da
Administração Tributária) devem ser determinados pela mesma lei (o mesmo tipo de lei) que cria
o imposto.
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A que tipo de lei se refere o nº 1 do artigo 102º?

Sabendo que a lei pode ter diferentes sentidos, importa indagar a que lei se refere o nº 1 do artigo 102º da
CRA. Tal indagação remete-nos para a questão das competências constitucionais para regular a matéria coberta
pelo Princípio da Legalidade Fiscal, ou seja, para a questão de saber quem tem competência para criar
impostos e determinar os seus elementos essenciais e de que forma o poderá fazer. A questão é respondida
pela alínea o) do nº 1 do artigo 165º que estabelece:
Artigo 165º
(Reserva relativa de competência legislativa)
1. À Assembleia Nacional compete legislar com reserva relativa, salvo autorização concedida ao Executivo,
sobre as seguintes matérias:
o) criação de impostos e Sistema Fiscal (…).

Resulta desta disposição que, integrando a matéria em causa a reserva relativa de competência legislativa da
Assembleia Nacional, a competência originária é da Assembleia que pode regular directamente, através de
uma Lei (art. 166º nº 2 al. d)) ou, através de uma Lei de Autorização Legislativa (art.166º nº 2 al e)) e 161º al.c),
conceder autorização ao Titular do Poder Executivo que, no caso, regulará a matéria através de um Decreto
Legislativo Presidencial Autorizado (note-se que o artigo 125º da CRA, referente à forma dos actos do
Presidente da República, omite completamente o Decreto Presidencial Autorizado).

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As leis de autorização legislativa não conferem ao Titular do Poder Executivo
um poder ilimitado para tratar das matérias objecto da autorização. Impõe a
lei fundamental que as leis de autorização legislativa estabeleçam os
parâmetros dentro dos quais o Titular do Poder Executivo vai legislar,
definindo, nomeadamente, o seu objecto, sentido, extensão e duração (artº
170). A não observância desses limites resultará numa inconstitucionalidade.
Podemos então dizer que a criação de impostos e a definição do Sistema
fiscal (determinação dos elementos essenciais do imposto) só podem ser
tratados por uma Lei da Assembleia Nacional ou por um Decreto Legislativo
Presidencial Autorizado, ou seja, por um diploma com força e forma de lei.

• 102º nº 3
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• Sobre esta matéria, é pertinente levantar a questão da possibilidade de o
Presidente da República aprovar Decretos Legislativos Presidenciais
Provisórios, com fundamento no disposto no artigo 126º da Constituição
da República de Angola.
Não nos parece haver razão para, à partida, negar essa possibilidade

(Tema para discutir)

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Interesses subjacentes à legalidade Fiscal

O Princípio da Legalidade Fiscal tem, na sua base, a necessidade de


protecção da confiança do contribuinte, proibindo ao Estado e outros
entes públicos intromissões arbitrárias no património do contribuinte
pela via da cobrança do imposto.
O princípio da Legalidade Fiscal constitui, por si mesmo, uma das
principais garantias dos contribuintes e da segurança jurídica na
medida em que ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não
tenham sido estabelecidos de acordo com a constituição (alína a) do nº
1 do artigo 23º do Código Geral Tributário).
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Princípio da Legalidade e outros tributos
Nos termos do estabelecido na segunda parte da alínea o) do nº 1 do
artigo 165º da Constituição da República de Angola, à Assembleia
Nacional compete legislar com reserva relativa, salvo autorização
concedida ao Executivo sobre o regime geral das taxas e demais
contribuições financeiras a favor de entidades públicas.
Constata-se a diferença do grau de exigência relativamente à lei que
cria e regula outros tributos, nomeadamente as taxas e a lei que cria o
imposto e determina os seus elementos essenciais.
Os outros tibutos poderão ser criados por lei em sentido material,
estando a sua criação e regulação limitadas pelo estabelecido no
diploma com força e forma de lei que aprova o seu regime geral.
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PRINCÍPIO DA IGUALDADE FISCAL
O Princípio da Igualdade Fiscal corresponde à expressão do princípio geral da
igualdade entendido, não no seu sentido formal (igualdade perante a lei, artº 23º
CRA), mas no seu sentido material (igualdade na lei) e constitui um limite material
ao poder de tributar, na medida em que determina quem vai ser tributado e como
(em que medida) se fará a tributação, ou seja é determinante na repartição dos
encargos tributários pelos contribuintes.
O Princípio da Igualdade Fiscal traz em si as ideias da generalidade e da
uniformidade, impondo que todos os cidadãos contribuam para as despesas
públicas mediante um mesmo critério e pode resumir-se na seguinte enunciação:

“Todos devem pagar impostos segundo um critério uniforme”

Podemos questionar: Quem faz parte desses “todos” e qual o “critério” para
determinar o dever de pagar impostos?
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A Constituição da República de Angola estabelece:
Artigo 88º:
(Dever de contribuição)
“Todos têm o dever de contribuir para as despesas públicas e da
sociedade, em função da sua capacidade económica e dos benefícios
que aufiram, através de impostos e taxas, com base num Sistema
Tributário justo e nos termos da lei”.

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Quem? Princípio da Capacidade Contributiva
Importa analisar a disposição do artigo 88º da CRA e destacar os
aspectos relevantes para responder à questão de saber quem deve
pagar impostos.
Podemos, da disposição constitucional referida, destacar o seguinte:
• Todos devem contribuir para as despesas públicas e da sociedade,
em função da sua capacidade económica (…) através de impostos
(…) com base num Sistema tributário justo e nos termos da lei.
Então, nos termos do disposto no artigo 88º da Constituição, devem
pagar impostos aqueles que manifestem capacidade económica
(contributiva) sendo esta o pressuposto e a medida do imposto a pagar.
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Ao contrário, têm o dever de contribuir para as despesas públicas
através de taxas aqueles que retiram benefícios dos bens e serviços
públicos.
Podemos, assim, afirmar que o critério para determinar quem deve
pagar impostos e em que medida o fará é a capacidade contributiva,
sendo certo que o Princípio da Igualdade Fiscal é indissociável do
Princípio da Capacidade Contributiva.
Fica a questão de saber: atendendo ao acima dito, como fazer a
repartição (justa) dos encargos fiscais pelos contribuintes, respeitando
os princípios da Igualdade Fiscal e da Capacidade Contributiva?
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O critério da capacidade contributiva (revelada através do rendimento, da
sua utilização (consumo) e pelo património) implica:
• igual imposto para os que disponham de igual capacidade contributiva
(igualdade horizontal);
• Imposto diferente (em termos quantitativos ou qualitativos) para os que
disponham de diferente capacidade contributiva (igualdade vertical).
Acapacidade contributiva constitui, assim, o pressuposto e o critério da
tributação. Como pressuposto, exige que os impostos tenham como objecto
“bens fiscais”, excluindo da tributação tanto o mínimo existencial como o
chamado máximo confiscatório. Como critério rejeita que os impostos
tenham por base qualquer outro critério (Casalta Nabais … pag.152).

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Princípio da Capacidade Contributiva e
Tributação do Rendimento
Em conformidade com a Constituição da República de Angola, o Sistema Fiscal visa
a repartição justa dos rendimentos e da riqueza (artigo 101º) e todos devem
contribuir para as despesas públicas em função da sua capacidade económica
(artigo 88º). Destaca a relevância do rendimento como índice da capacidade
contributiva e medida da tributação.
Para alguns autores, além da exigência da tributação incidir sobre o rendimento
líquido (deduzidas as despesas, nomeadamente, com a sua obtenção), estas
disposições determinam a aplicação de taxas progressivas na tributação do
rendimento (taxas que se elevam à medida que aumenta o rendimento). Segundo a
doutrina referida só a progressividade garante “uma situação depois da tributação
do rendimento em que as desigualdades económicas sejam menos intensas do
que antes dessa mesma tributação”, indo de encontro ao objectivo da repartição
justa dos rendimentos e da riqueza (art. 101º CRA) e da contribuição para as
despesas públicas em função da capacidade económica (art. 88º CRA).
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Um sistema progressivo de tributação dos rendimentos garante a
diminuição das desigualdades e contribuirá, assim, para a construção
do modelo de estado instituído na Constituição da República de
Angola, o Estado Social de Direito.

(Vide Saldanha Sanches e João Taborda da Gama, Manual de Direito


Fiscal Angolano, Coimbra Editora, pag. 184)

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PRINCÍPIO DA NÃO RETROACTIVIDADE DAS
NORMAS FISCAIS
A CRA dispõe, no artigo 102º nº 2:

“As normas fiscais não têm efeito retroactivo, salvo as de carácter


sancionatório, quando sejam mais favoráveis aos contribuintes”.

A não retroactividade da lei fiscal assenta na necessidade de proteger


interesses ligados à segurança jurídica e à confiança dos contribuintes que
não podem ver a sua situação tributária substancialmente alterada por força
de uma disposição que não existia no momento em que praticaram o facto
tributário.
A incerteza relativamente à continuidade e estabilidade dos regimes de
tributação afecta, de forma negativa as decisões de investimento e de
consumo.
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Terão efeitos retroactivos, nos termos da CRA, as normas de natureza
sancionatória (que tipificam infracções fiscais e estabelecem as
respectivas sanções) quando sejam mais favoráveis aos contribuintes,
estabelecendo-se um paralelo ao princípio da aplicação da lei penal
mais favorável.

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CONCLUSÃO
A Constituição da República de Angola consagra, nas suas disposições,
vários princípios informadores do Sistema de Tributação.
O repeito por esses princípios garantirá a justiça tributária, a segurança
jurídica em sentido lato e, muito particularmente, a materialização do
princípio da protecção da confiança dos contribuintes, o que
contribuirá, indubitavelmente, para a promoção dos investimentos, tão
necessários para o desenvolvimento económico e social do país.
Cabe aos órgãos competentes a aplicação e execução correcta das
normas para que, com passos seguros, se faça a construção do Estado
Social.
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BIBLIOGRAFIA

• NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, Almedina, 9ª Edição;


• SANCHES, Saldanha e GAMA, João Taborda da, Manual de Direito
Fiscal Angolano, Coimbra Editora;
• Nunes, Elisa Rangel, Lições de Finanças Públicas e de Direito
Financeiro.

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MUITO OBRIGADA

LUANDA, FEVEREIRO DE 2019

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