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TEXTOS DE DIFERENTES TIPOLOGIAS

3. Relê o excerto: «Não conhecemos nós sorrisos que são rápidos clarões, como esse brilho súbito e

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inexplicável que soltam os peixes nas águas fundas?» (linhas 17-18) E as palavras escorrem, tão fluidas como o «precioso líquido». Escorrem interminavelmente,
alagam o chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o dilúvio uni-
versal, um coro desafinado que jorra de milhões de bocas. A terra segue o seu caminho envolta
3.1. Transcreve uma metáfora. 20 num clamor de loucos, aos gritos, aos uivos, envolta também num murmúrio manso, represo e
Cenário de resposta: «(Não conhecemos nós) sorrisos que são rápidos clarões […]» conciliador. Há de tudo no orfeão: tenores e tenorinos, baixos cantantes, sopranos de dó de peito
fácil, barítonos enchumaçados, contraltos de voz-surpresa. Nos intervalos, ouve-se o ponto. E
3.2. Transcreve uma dupla adjetivação. tudo isto atordoa as estrelas e perturba as comunicações, como as tempestades solares.
Porque as palavras deixaram de comunicar. Cada palavra é dita para que não se oiça outra
Cenário de resposta: «[…] (como esse brilho) súbito e inexplicável (que soltam os peixes nas águas 25 palavra. A palavra, mesmo quando não afirma, afirma-se. A palavra não responde nem pergunta:
fundas?)».
amassa. A palavra é erva fresca e verde que cobre os dentes do pântano. A palavra é poeira nos
olhos e olhos furados. A palavra não mostra. A palavra disfarça.
3.3. Explica de que forma a expressão «[…] sorrisos que são rápidos clarões […]» valoriza a descrição Daí que seja urgente mondar2 as palavras para que a sementeira se mude em seara. Daí que as
de «sorriso».
palavras sejam instrumento de morte – ou de salvação. Daí que a palavra só valha o que valer o
Cenário de resposta: A descrição é valorizada através da identificação de sorriso com «rápidos clarões», 30 silêncio do ato.
ficando assim o sorriso associado a velocidade/movimento/e a brilho/luz do clarão. O sorriso transmite Há também o silêncio. O silêncio, por definição, é o que não se ouve. O silêncio escuta, exa-
algo de inesperado e surpreendente. mina, observa, pesa e analisa. O silêncio é fecundo. O silêncio é a terra negra e fértil, o húmus3
do ser, a melodia calada sob a luz solar. Caem sobre ele as palavras. Todas as palavras. As palavras
4. No final do texto, o autor declara: «Sorrir assim, mesmo sem olhos que nos recebam, é o verbo boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.
mais transitivo de todas as gramáticas. Pessoal e rigorosamente transmissível. O ponto está em José Saramago, «As palavras», Deste Mundo e do Outro,
haver quem o conjugue» (linhas 27-28). 5.ª edição, Lisboa, Editorial Caminho, 1997
Explica o sentido deste excerto. VOCABULÁRIO
1
Cenário de resposta: As expressões significam que sorrir é o ato mais transmissível de todos e que, melífluas (linha 6) – doces.
2
mondar (linha 28) – limpar.
embora pessoal, é um ato necessariamente partilhável. Acrescenta que, para tal, é necessário alguém 3
húmus (linha 32) – matéria negra, orgânica.
dispor-se a sorrir, mesmo que não tenha a quem.
Exame Nacional de Língua Portuguesa, 3.º Ciclo – 1.ª Chamada – 2008 (adaptado)
Responde, de forma completa e bem estruturada, aos itens que se seguem.
Agora faz tu
1. O autor começa por enumerar diferentes tipos de palavras.
Lê o texto. Em caso de necessidade, consulta o vocabulário apresentado. Explica o que ele pretende mostrar com essa enumeração.

2. Relê o excerto:
As palavras
«E as palavras escorrem tão fluidas como o «precioso líquido». Escorrem interminavelmente, alagam o
As palavras são boas. As palavras são más. As palavras ofendem. As palavras pedem desculpa.
chão, sobem aos joelhos, chegam à cintura, aos ombros, ao pescoço. É o dilúvio universal, um coro desa-
As palavras queimam. As palavras acariciam. As palavras são dadas, trocadas, oferecidas, vendi-
finado que jorra de milhões de bocas.» (linhas 17-19)
das e inventadas. As palavras estão ausentes. Algumas palavras sugam-nos, não nos largam: são
como carraças: vêm nos livros, nos jornais, nos slogans publicitários, nas legendas dos filmes, 2.1. Transcreve uma metáfora.
5 nas cartas e nos cartazes. As palavras aconselham, sugerem, insinuam, ordenam, impõem,
segregam, eliminam. São melífluas1 ou azedas. O mundo gira sobre palavras lubrificadas com 2.2. Transcreve uma enumeração.
óleo de paciência. Os cérebros estão cheios de palavras que vivem em boa paz com as suas con- 2.3. Explica de que forma a frase «E as palavras escorrem tão fluidas como o “precioso líquido”» valoriza a
trárias e inimigas. Por isso as pessoas fazem o contrário do que pensam, julgando pensar o que descrição do discurso do presidente da junta.
fazem. Há muitas palavras.
10 E há os discursos, que são palavras encostadas umas às outras, em equilíbrio instável graças 3. No terceiro parágrafo, o autor declara que as palavras deixaram de comunicar.
a uma precária sintaxe, até ao prego final do Disse ou Tenho dito. Com discursos se comemora,
Indica em que medida as palavras deixaram de ter essa função.
se inaugura, se abrem e fecham sessões, se lançam cortinas de fumo ou dispõem bambinelas de
veludo. São brindes, orações, palestras e conferências. Pelos discursos se transmitem louvores,
agradecimentos, programas e fantasias. E depois as palavras dos discursos aparecem deitadas em 4. No final do texto, o autor declara: «Caem sobre ele [o silêncio] as palavras. Todas as palavras. As
papéis, são pintadas de tinta de impressão – e por essa via entram na imortalidade do Verbo. Ao palavras boas e as más. O trigo e o joio. Mas só o trigo dá pão.» (linhas 33-34)
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lado de Sócrates, o presidente da junta afixa o discurso que abriu a torneira do marco fontanário. Explica o sentido deste excerto.

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