Plano de Aula - Tráfico Negreiro e Racismo

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Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB/VC -BA

Docente: Lídia Nunes Cunha

Discentes: Ana Kelly Meira, Taiana Santos Gomes e Tiago Moraes

Disciplina: Ensino de História - Teoria e Metodologia (DH 0130)

Semestre: 2020.1

PLANO DE AULA

Tema: O Tráfico Negreiro para o Brasil

Corrente historiográfica escolhida: Escolas dos Annales

Série: 7° ano do Ensino Fundamental

N° de alunos: 30 alunos

N° de horas/aulas: 60 min/1 aula

OBJETIVO GERAL:

Pensar o processo de escravização dos africanos no Brasil, seus desdobramentos e


cicatrizes na sociedade atual, a partir do tráfico negreiro.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Apontar/destacar as consequências da escravidão na sociedade brasileira


atual;
 Traçar a variedade/diversidade étnica dos africanos escravizados no Brasil,
com o intento de desconstruir visões homogêneas sobre os mesmos;
 Demonstrar como as diversas fontes historiográficas contribuem para a
compreensão do passado à medida que responde as questões do presente.
CONTÉUDO PROGRAMÁTICO:

1 – Apresentar a temática “O Tráfico Negreiro para o Brasil”, a partir do livro didático


“História, Sociedade e Cidadania” de Alfredo Boulos;

2 – Discutir o conceito de escravidão e como se movimenta ao longo da história da


humanidade;

3 – Destacar os argumentos e motivações para a dominação dos africanos no


período de escravização bem como identificar os agentes responsáveis pelo tráfico;

4 – Localizar as regiões de procedência dos escravizados a partir da leitura e


interpretação de mapas;

5 – Analisar os mecanismos e as dinâmicas de comércio dos escravizados;

6 – Analisar fontes iconográficas;

7 – Identificar e considerar as diferentes etnias dos africanos a partir da dinâmica do


comércio de escravizados;

8 – Pensar como o racismo se faz presente no imaginário social e cultural do nosso


povo.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS:

1 – O docente deverá trabalhar o capitulo 10 intitulado “Africanos no Brasil”, do livro


“História, Sociedade e Cidadania” de Alfredo Boulos, apresentando uma exposição
com fontes escritas e visuais. Tempo sugerido: 30 minutos.

2 – Esclarecer que a escravidão é uma instituição antiga, existindo nos mais


diferentes períodos históricos e nas mais diferentes partes do mundo, inclusive na
África, antes da chegada dos europeus no século XV.

3 – Citar e explicar os motivos pelos quais as pessoas das sociedades tradicionais


africanas podiam ser escravizadas. Dentre os motivos estavam a fome, a guerra,
punição judicial e a penhora humana.

4 – É imprescindível ressaltar que após a chegada dos portugueses à África no


século XV a escravidão e a guerra se intensificaram, ao passo que os europeus
desejavam escravos e parte dos líderes africanos desejavam armamento bélico para
manter e ampliar seus poderes, acarretando assim mudanças bruscas na dinâmica
da escravidão.

5 – Com o interesse cada vez maior dos europeus em adquirir mão-de-obra para
atuarem nos engenhos de açúcar no nordeste brasileiro, iniciou o comércio de
africanos para a América portuguesa, denominado de tráfico negreiro ou tráfico
atlântico.

6 – Apresentar o mapa (anexo 1) com intuito de situar os alunos no espaço, para


que os mesmos possam compreender as regiões de origem dos africanos trazidos
ao Brasil. É importante expor também dados estatísticos apresentados pelo livro
didático, ressaltando o quantitativo de africanos trazidos para o nosso país, um total
de 4 860 000 africanos.

7 – Acentuar que os escravizados não vieram para a América por vontade própria,
mas foram trazidos à força para trabalhar no Brasil, não apenas na lavoura, mas
também nas mais diferentes áreas da economia.

8 – Ressaltar que a vinda dos africanos, tanto de homens quanto mulheres e


crianças, se deu por meio de navios conhecidos como navios negreiros (o professor
deverá retomar o conceito de tráfico negreiro apresentado no ponto 5).

9 – Enfatizar também as condições insalubres e a diversidade étnica presente dentro


dos navios, visto que os africanos vieram de diversas regiões da África, como
mostra o mapa do anexo 1, apresentado no item 6.

10 – Deverá ser apresentado o conjunto de retratos de negras e negros feito pelo


fotógrafo Alberto Henschel (anexo 2) para visualizar e compreender essas diversas
características dos africanos enviados e escravizados no Brasil, ao passo que a
historiografia eurocêntrica, que por muito tempo não levou em consideração a
diversidade dos povos africanos, acaba contribuindo para que os alunos enxerguem
os africanos escravizados como um grupo único e homogêneo.

11 – Mostrar como essas diferenças étnicas, bem como, a importância, as heranças,


o passado e as posições que o escravizado possuía na África foram negadas a
serviço da dominação europeia, ao passo que o homem branco justificava para o
mundo que os africanos estavam sendo dominados e escravizados por serem
inferiores aos europeus.

12 – Compreender que a partir dessa justificativa política de dominação, se deu a


construção negativa de tudo que pertence ao negro, a cor da pele, a religião, o
cabelo, e os estereótipos;

13 – Perceber que mesmo após mais de trezentos anos de escravidão o racismo


ainda está enraizado na sociedade atual, seja nos ditados populares, nas redes
sociais, nas piadas, nos livros, na música, nas relações sociais, nos programas de
televisão, nos padrões estéticos, no mundo da moda, no nosso vocabulário e dentre
outros.

14 – Dado o exposto, a sala deverá ser dividida em cinco grupos composto por seis
integrantes. Cada grupo ficará responsável por analisar uma fonte historiográfica, os
tipos de fontes serão sorteados entre as equipes. Tempo sugerido: 5 minutos.

15 – Compreendendo que o professor de História não dispõe de muito tempo em


sala de aula, será proposta uma atividade para aprofundar o conhecimento sobre as
diversas características dos africanos e para apresentar os dois tópicos seguintes do
capítulo: Travessia e Resistência.

16 – O professor deverá explicar que a atividade consiste na utilização, análise e


crítica de diversas fontes historiográficas e que será preciso estabelecer conexões
com o contexto histórico. Os alunos terão que se organizar e desenvolver a atividade
proposta e apresentar na aula seguinte, que consiste em duas aulas geminadas.
Tempo sugerido: 10 minutos.

17 - Caso haja necessidade, o professor deverá fazer uma breve explanação sobre
o significado e os diferentes tipos de fontes utilizadas pelo historiador e da
importância das mesmas no estudo do passado para compreensão do presente.
Tempo sugerido: 5 minutos.

Grupo 1 – Fonte Visual

A equipe ficará responsável por analisar a gravura “Escravizados de


Benguela, Angola, Congo e Mojolo” (anexo 3) e apresentar a biografia de Johann
Moritz Rugendas, elencando as diferenças e semelhanças entres os africanos
escravizados retratados pelo fotografo. Além disso, a apresentação da equipe
deverá conter as respostas para as seguintes questões:

Questão 1: Por que as pessoas representadas são nomeadas benguela, angola,


congo e mojolo?

Questão 2: De que forma essas nomeações contribuíam para o apagamento da


memória desses escravizados?

Grupo 2 – Fonte Oral

O grupo deverá assistir o documentário “Pele negra, máscaras brancas”


(anexo 4) e apresentar um resumo do que é tratado no documentário fazendo uma
reflexão a partir dos conceitos de racismo, estética negra, desigualdade e
representação do negro nos meios de comunicação e na literatura.

Grupo 3 – Fonte Escrita

Os componentes deverão declamar a parte II do poema “Navio Negreiro”


(anexo 5), fazendo uma análise crítica do poema, apresentando os acontecimentos
ocorridos dentro do navio e apresentar um pouco da vida de Castro Alves e, por fim,
o grupo deverá fazer uma análise crítica do poema, analisando a relação existente
entre texto e contexto histórico.

Grupo 4 – Fonte Oral

A equipe ficará responsável por apresentar e analisar a letra da música


“Olodumaré” (anexo 6) e uma breve biografia do cantor Antonio Nóbrega. Ao
analisar a letra, o grupo deverá estabelecer conexões com o tema da aula e o
contexto histórico.

Grupo 5 – Fonte Escrita

A equipe ficará com o tema “resistência” e deverá apresentar e analisar os


tipos de resistência cultural praticados pelos escravizados no Brasil como o jogo da
capoeira, a formação de quilombos, os festejos e dentre outras manifestações que
contribuíram para o fortalecimento da identidade e como forma de resistência às
condições aos quais eram submetidos.
Como material de apoio o professor poderá sugerir as seguintes leituras:

 “O que é um quilombo? Origem, exemplos e características”, publicado no


site escola Kids. Disponível em: O que é um quilombo? | Origem, exemplos,
características - Escola Kids (uol.com.br)

 “Capoeira: um jogo de resistência e cultura”, publicado no site Joaquim


Nabuco. Disponível em: http://www.joaquimnabuco.edu.br/noticias/capoeira-
um-jogo-de-resistencia-e-cultura

 “Congada”, publicado pelo site Toda Matéria. Disponível em: Congada: origem,
dança e festa - Toda Matéria (todamateria.com.br)

RECURSOS:

1 - Livro didático

2 - Quadro branco

3 – Piloto

4 – Projetor

5 – Notebook

AVALIAÇÃO:

A avaliação será feita a partir da apresentação do trabalho proposto, levando em


consideração alguns critérios: clareza na apresentação do tema, habilidade em
desenvolver o tema apresentando ideias organizadas e a capacidade de estabelecer
conexões com o contexto histórico em questão e a sociedade atual.
ANEXOS:

Anexo 1:

Anexo 2

Disponível em: File:Alberto Henschel - Pernambuco 4.jpg - Wikimedia Commons


Anexo 3

Disponível em: Johann Moritz Rugendas | Enciclopédia Itaú Cultural (itaucultural.org.br)

Anexo 4

Ficha Técnica do Filme

Gênero: Documentário

Tempo de duração: 18’18

Ano e país de lançamento: Brasil, 2015,


Direção: Conrado Krainer

Disponível em: Pele Negra Máscara Branca on Vimeo

Sinopse

O documentário foi produzido com base no livro “Pele negra, máscaras brancas” de
Frantz Fanon (1925-1961). Fanon foi um intelectual negro, médico psiquiatra
martinicano. Atuou como diretor do Departamento de Psiquiatria do Hospital Blida-
Joinville e foi membro da Frente de Libertação Nacional, movimento revolucionário
da Argélia. Suas obras são consideradas cânones filosóficos da diáspora africana,
destacando-se os seguintes títulos “Pele negras, máscaras Brancas, 1952” e “Os
condenados da terra, 1961”. Suas ideias influenciaram significativamente o
pensamento político social, a teoria literária, os estudos culturais, a filosofia e as
recentes correntes teóricas; pós-coloniais e decoloniais. No campo da educação, as
ideias de Fanon influenciaram o pensamento de Paulo Freire, como pode ser
identificado nos livros; Pedagogia do oprimido e Pedagogia da esperança. No livro
“Pele negra, Máscaras Brancas”, Fanon trata da relação entre racismo e
colonialismo, com argumento de que o racismo foi um elemento central para o
desenvolvimento e manutenção do sistema colonial. Para Fanon, o colonialismo
engendrou formas de ver o mundo e construiu o Outro (africano) como não civilizado
e selvagem, por meio da linguagem, da subordinação material e da destruição dos
seus sistemas de referências em que “seus costumes e instâncias de referência
foram abolidos porque estavam em contradição com uma civilização que não
conheciam e que lhes foi imposta” (FANON, 2008, p. 104).

Disponível em: NEABI-Indica-N2---2017.pdf (ifsp.edu.br)


Anexo 5

O Navio Negreiro

Parte IV

Era um sonho dantesco... o tombadilho

Que das luzernas avermelha o brilho.

Em sangue a se banhar.

Tinir de ferros... estalar de açoite...

Legiões de homens negros como a noite,

Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas

Magras crianças, cujas bocas pretas

Rega o sangue das mães:

Outras moças, mas nuas e espantadas,

No turbilhão de espectros arrastadas,

Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais ...

Se o velho arqueja, se no chão resvala,

Ouvem-se gritos... o chicote estala.

E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,


A multidão faminta cambaleia,

E chora e dança ali!

Um de raiva delira, outro enlouquece,

Outro, que martírios embrutece,

Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,

E após fitando o céu que se desdobra,

Tão puro sobre o mar,

Diz do fumo entre os densos nevoeiros:

"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!

Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .

E da ronda fantástica a serpente

Faz doudas espirais...

Qual um sonho dantesco as sombras voam!...

Gritos, ais, maldições, preces ressoam!

E ri-se Satanás!...

Disponível em: Navio Negreiro - Castro Alves - poesia word.doc - Documentos Google
Anexo 6

Olodumaré (Antonio Nóbrega)


Vou me embora dessa terra...
- olodumaré...
Para outra terra eu vou...
- olodumaré...
Sei que aqui eu sou querido...
- olodumaré...
Mas não sei se lá eu sou...
- olodumaré...
O que eu tenho pra levar...
- olodumaré...
É a saudade desse chão...
- olodumaré...
Minha força, meu batuque...
- olodumaré...
Heranças da minha nação...

Ainda me lembro
Do terror, da agonia,
Como um louco eu corria
Para poder escapar.
E num porão
De um navio, dia e noite,
Fome e sede e o açoite
Conheci, posso contar.
Que o destino
Quase sempre foi a morte,
Muitos só tiveram a sorte
De a mortalha ser o mar.

Na nova terra
Novos povos, novas línguas,
Pelourinho, dor, à mingua,
Nunca mais pude voltar.
E mesmo escravo
Nas caldeiras das usinas,
Nas senzalas e nas minas
Nova raça fiz brotar.
Hoje essa terra
Tem meu cheiro, minha dor,
O meu sangue, meu tambor,
Minha saga pra lembrar.
Disponível em: Olodumaré - Antonio Nóbrega - LETRAS.MUS.BR

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BOULOS JÚNIOR, ALFREDO. História sociedade e cidadania: 7º ano: ensino


fundamental: anos finais / Alfredo Boulos Júnior. - 4. ed. - São Paulo: FTD, 2018.

BLOCH, Marc Leopold Benjamin, Apologia da história, ou, O ofício de historiador. —


Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.

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