Você está na página 1de 4

Guionismo

18 Fevereiro 2013
Modo de funcionamento das aulas (em geral):
1. Visualização dos filmes.
2. Distinção do princípio, meio e fim da história.
3. Identificação das ideias principais.

“A poética” de Aristóteles – 1ª tentativa de estruturar a narrativa

Ideias passadas por Aristóteles fundamentais para a cadeira:

1ª. Segundo Aristóteles, uma história (o muthos) só pode ter na tragédia o efeito
estético pretendido se possuir um nó e um desenlace.
 O nó existe se o início estiver construído ou estruturado numa pergunta ou
numa situação problemática que exige a tentativa de resposta por parte do
espectador. Ou seja, quem escreve a história tem de pensar em algo que
aconteça (numa acção) que coloque uma pergunta, tendo, posteriormente, de
dramatizar/ fazer acontecer a pergunta. Deste modo, cria-se expectativa.
 Aristóteles afirma que toda a continuação de uma história (o que se segue ao
nó) tem de corresponder a um “desatar” do nó ou a uma apresentação das
consequências que se entendem como tal – o espectador deve acabar por
entender a história na sua totalidade através do desenlace.

2ª. Não existe estrutura narrativa ou um efeito estético com base nesta se não houver
personagens ou caracteres. Isto é, para se conceber uma acção que seja um
problema tem de se pensar em alguém e no que lhe possa acontecer. Para tal, é
necessário o conflito.

Conflito – tipo de evento através do qual uma personagem é posta em causa. Esta
possui determinadas características e o que acontece afecta-as, entrando em
conflito com as mesmas. Ex: No “Édipo Rei” de Sófocles o “saber”, que é a
característica essencial do protagonista, é posto em causa. O conflito permite criar
expectativa, tornando uma conversa aparentemente banal em algo interessante.

Nota: No Cinema Clássico, o nó requer a consciência de pelo menos um


personagem (normalmente esta personagem corresponde ao protagonista).

3ª. Na concepção de uma narrativa o nó tem de despertar em pelo menos um


personagem (normalmente a principal) o “desejo”. De seguida, gera-se uma
identificação por parte do espectador em relação ao “desejo” do personagem.
Segundo Aristóteles, uma história só tem um efeito estético se tiver uma direcção
– série de eventos que progride num determinado sentido:
Tragédia = Felicidade Infelicidade
Comédia = Infelicidade Felicidade

Uma das teses mais famosas n’“A Poética” Aristóteles é a de que “uma história tem de
ter um princípio, um meio e um fim” e esta tese representa uma descoberta essencial:

 Princípio – consiste no nó que pode ser construído ou definido em variados


períodos de tempo, consoante o tempo que mais se adequa à história.
 Meio – consequências/efeitos imediatos em relação ao princípio (logo, ao nó).
Ocorrem necessariamente.
 Fim – efeitos finais que respondem definitivamente à pergunta inicial,
“desenlaçando” o nó. Como fecha a história, só o fim faz com que tudo o que
vem para trás faça sentido e seja necessário nesse momento.

Esta sequência introduz a ideia de causalidade (nexos-causais). Tal como diz


Aristóteles, uma história não pode ser episódica ou desconexada. Deve existir uma
relação entre os eventos da história devido à causalidade.
Todas as situações têm de acontecer umas por causa das outras mas de modo a que
vão contra as expectativas dos espectadores – deve ocorrer ao mesmo tempo o
necessário e o inesperado.

Esta forma de estruturar a história é particularmente eficaz por várias razões: prende
os espectadores que é atraído por uma história simultaneamente necessária e
inesperada. Além disso, só se uma história estiver estruturada desta forma é que a
mesma ganha uma força demonstrativa – só assim se pode demonstrar uma ideia.
Deste modo, a história passa a ter a capacidade de evocar uma condição universal, um
paradigma.
Por outras palavras, o sentido de uma história segundo Aristóteles é fazer dela a
demonstração de uma ideia ou de um paradigma.

O drama da história está nos próprios eventos e no modo como se ligam entre si.
Aristóteles diz que no caso de uma tragédia, a história é um todo orgânico. Isto é, há
uma única acção composta pela unidade da acção.

“Sunset Boulevard” de Billy Wilder


O preâmbulo não acrescenta nada à estrutura da história do filme; contudo, define o
seu sentido. Este elemento aumenta as expectativas do espectador.
Quando se vê o desejo do Joe Gillis (protagonista) de se “safar” da má situação em que
se encontra, o espectador identifica-se com este e quase deixa de acreditar que a sua
morte, apresentada no início do filme, seja verdade.

A escolha que o cineasta faz acerca do que o espectador pode saber ou não é
importante para a estruturação da história – colocar o conhecimento do espectador ao
mesmo nível do conhecimento das personagens é algo difícil de decidir.

Plot Points:

 Aparecimento de Betty (love interest de Gillis) quando esta “arrasa” o guião do


protagonista.
 Apresentação do carro de Norma Desmond (protagonista) que mais tarde serve um
propósito na história.

Nos filmes de Billy Wilder a história costuma estar estruturada de modo a que o
espectador esteja numa posição de preencher as elipses.

Os dois protagonistas são rejeitados pelo sistema de Hollywood.

Norma não aceita a sua finitude: quer ser um eu de celuloide.

Desenlace: Norma Desmond mata Joe Gillis e depois chega a um ponto irreversível de
loucura.

11 Março 2013

“Ninotchka” de Ernst Lubitsch


O Lubitsch Touch é uma técnica que está relacionada com a capacidade de comunicar,
de sentir de forma puramente visual, sendo que há algo de indirecto neste tipo de
comunicação porque esta implica uma elipse, pelo que só demonstra a acção ao
apresentar os efeitos dessa mesma acção (quando se trata da revelação do carácter da
personagem é a dimensão simbólica que se apresenta).

Exemplos da aplicação do “Lubitsch Touch”:

 Porta fechada no hotel quando os “camaradas” beneficiam do que o capitalismo


pode oferecer – só depois de ser apresentada uma imagem que apela à imaginação
do espectador é que surge a acção real por detrás das portas fechadas.
 O chapéu – no primeiro momento que surge, simboliza um capitalismo que, aos
olhos da protagonista, está muito perto da extinção. Dá-se uma repetição da
relação de Ninotchka tem com o sentido simbólico que o chapéu representa para
ela quando, já num segundo momento, ela olha para o chapéu e abana a cabeça
com ar reprovador.
No terceiro momento em que o chapéu aparece, o próprio está a ser retirado de
uma gaveta para que a protagonista possa colocá-lo na cabeça; apresenta uma
certa vergonha por ter comprado o chapéu, sentimento comprovado pelo facto de
ter trancado as portas do seu quarto de hotel. Isto significa que, por um lado,
Ninotchka já cedeu à sua paixão por Leon e pelo romantismo parisiense e que, por
outro, do ponto de vista simbólico, há uma indulgência ao privado e ao desejo
individual (subjectividade).
Nesta linha de pensamento, o ponto principal da crítica ao comunismo no filme é
feito em relação à supressão que efectuada do privado, do individual, do
subjectivo.

A ideia reguladora do filme está presente nos três episódios do chapéu e também
na questão do riso que representa uma leveza moral e politicamente incorrecta
tendo em conta que a protagonista é uma oficial soviética – a oposição entre sério
e frívolo é essencial para o filme (e o riso é fundamentalmente um símbolo de
frivolidade).

Você também pode gostar