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A Neurose Obsessiva :Charles Melman

A N.O é mais fácil de entender do que a Histeria, porque na n.o não há a passagem para o somático.

A histérica está sempre a serviço dos outros; especialmente do desejo dos mestres. Quando a histérica aceita satisfazer o mestre, ela se torna o falo deste. Ela se torna o cetro do mestre, ou o mestre do mestre.

O obsessivo pretende tudo saber. O histérico quer se mostrar, o obsessivo quer se esconder.

O obsessivo é alguém que vai muito bem, e que tem, com frequência, um grande senso moral. Ele é, com frequência, uma pessoa religiosa, se não for, vai respeitar bastante a racionalidade, querendo assegurar o domínio de

si mesmo; ele é partidário da discrição; cheio de pudores; tem escrúpulos morais, não quer ferir nunca o outro; com frequência ele é culto.

Sacrifica sempre o seu desejo pelo bem dos outros. Tem a alma do funcionário público, mas na família; ele é o funcionário do pai. É o que quer ser melhor. Sofrem terrivelmente. E qto mais tentam ser melhores, eles sofrem

terrivelmente. Quanto mais tentam ser morais, tanto mais são parasitados por pensamentos obscenos e escondem sempre sua doença. A histérica mostra doenças que não existem; o obsessivo tem um sofrimento verdadeiro que

sempre tanta esconder.

Isso é uma defesa contra a castração, e essa defesa sempre tem consequências patológicas.

O Real, o Simbólico e o Imaginário de Lacan:

O simbólico é significante de uma ausência.

Ex. A bandeira é o símbolo, o significante da presença da pátria, que está invisível, ausente. O mesmo acontece com a Cruz, o crucifixo, que é o símbolo de Deus, mas Ele não está aqui. Mas está presente graças ao símbolo.

Mas o símbolo dos psicanalistas remete a um puro vazio. E este vazio é essencial porque, sem ele, não posso desejar. Quando uma criança tem um ambiente que não teve nenhuma falta, nenhum furo, esta criança se tornará

louca, psicótica ou obsessiva.

O simbólico é essencial para nossa possibilidade de viver, de desejar, de ter relações.

Lacan diz à "Carta Roubada", que em todo manuseio da língua há sempre letras que caem. Essas letras e tudo aquilo que é recalcado cai no buraco cavado no Real pelo Simbólico.

O Real, o Simbólico e o Imaginário se encontram no Inconsciente.

A histérica é espetacular, tem cores, é viva,faz movimento, perturba e incomoda um pouco. Mas o obsessivo é cinza, anónimo e não demonstra nenhuma singularidade, é como se ele não tivesse sujeito. É por isso que se há

um mal estar estudá-lo, porque ele se esconde. A impressão que dá é que vamos causar uma violência a ele, ao estudá-lo. Que vamos fazer uma penetração. Evidentemente é o que ele quer, mas também se protege. Para um

freudiano eles parecem em uma caverna, ao olhar para um fantasma de um orifício, um fantasma da vida intra uterina. O feto quer impedir o pai de ir lá. O feto se prepara para se proteger de tudo aquilo que lhe vai acontecer [assim

como o obsessivo]. Na N.O. o recalcado volta no real. Não podemos nunca nos defender contra aquilo que está recalcado; não podemos impedir que volte.

Há no Real tudo aquilo que é recalcado e forcluido. Ou seja, tudo aquilo que não foi admitido no campo do Real. É algo que jamais entrou no campo da realidade. É próprio do Forcluido penetrar no campo da realidade.

Precisamos distinguir o que é Forcluido e se encontra no Real, e o que é recalcado e que pertence a realidade.

Lacan disse que o obsessivo é vitima de uma Forclusão da castração. Isso é enigmático porque a forclusão só pode dizer respeito a um significante. E qual seria o significante da castração? Sabendo que cada significante é o

símbolo da ausência, pode se dizer que cada significante é o agente da castração.

Como a Forclusão (forclusão do nome-do-pai) é da Psicose, e a Obsessão é da Neurose, Lacan consegue arrumar uma semelhança entre esses dois (neurose obsessiva e psicose) . O pai que o obsessivo busca, é o pai que está

no Outro.

O Outro em Lacan:

Outro é o lugar em que se situa a cadeia do significante que comanda tudo que vai poder presentificar-se do sujeito, é o campo desse vivo onde o sujeito tem de aparecer.

Neurose - Ego Enfraquecido

Psicose - Ego Derrotado

Perversão - Falha do Superego

Requisitos Cronológicos/Etiologia das Psiconeuroses:

Histeria - cena até os 4 anos - Recalque


Neurose Obs. - cena até os 8 anos - Recalque
Paranóia - cena até os 14 anos - Recalque
Recalque - Sublima (Form. de Caráter) - Fantasia
Recalque - Retorno do Recalcado (Neurótico) - Sintoma

Neurótico obsessivo – a obrigatoriedade do pensamento, a sensação de ser coagido, de ter que pensar coercitivamente.
Freud nos apresenta no texto O recalque (1915/1974), sobre a neurose obsessiva. Freud no início do trecho sobre a neurose obsessiva (p.180) vem nos dizer de sua dúvida, se o que é recalcado é um anseio sádico ou hostil do

representante, e ao longo do texto nos apresenta que na verdade um anseio sádico entrou no lugar de um anseio amoroso [Formação Reativa], e é exatamente este anseio hostil contra uma pessoa amada que sofre o recalque. O N.O.

é um sádico.

Existiam relatos da Neurose Histérica desde os filósofos gregos e dos médicos egípcios (estes diziam que os úteros deveriam ser "regados" assim como as plantas). Mas não existem relatos desse tipo da Neurose Obsessiva.

Para Charles Melman a N.O. surgiu da religião judaico/cristã, uma vez que seus adeptos se cobram de uma moral , de uma lei, que eles nunca conseguem alcançar e amam.

Freud dizia que a N.O era uma religião privada. O obsessivo é aquele que cometeu um assassinato sem sabe-lo, e nem sabem de quem. É um assassinato que foi cometido atrás de si, não no agora. O N.O vive a sua religião

do Deus do Antigo testamento (pela lei). Ele não consegue viver o Deus que ama, do Novo testamento. No A.T. (judaismo) Deus não tem amor algum pelos pecadores, já no N.T. (Cristianismo) o fiel é pecador.

Com a presença desse pai forcluido (morto) não consigo usar a metonímia e a metáfora.

Metonímia - substantivo feminino

figura de retórica que consiste no uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, por ter uma significação que tenha relação objetiva, de contiguidade, material ou conceitual, com o conteúdo ou o referente

ocasionalmente pensado. Relação metonímica de tipo qualitativo (causa, efeito, esfera etc.): matéria por objeto: ouro por 'dinheiro'; pessoa por coisa; autor por obra: adora Portinari por 'a obra de Portinari'; divindade: esfera de suas

funções; proprietário por propriedade: vamos hoje ao Venâncio por 'ao restaurante do Venâncio'; morador por morada; continente pelo conteúdo: bebeu uma garrafa de aguardente por 'a aguardente de uma garrafa'; consequência

pela causa: respeite os meus cabelos brancos por 'a minha velhice'; a qualidade pelo qualificado: praticar a caridade por 'atos de caridade' etc.

Metonímia é uma figura de linguagem ou de palavra que consiste na substituição de uma palavra ou expressão por outra, havendo entre elas algum tipo de ligação. A palavra “metonímia” tem origem no grego e significa

“além do nome”, ou seja, um nome cujo significado vai além. A substituição não é meramente de uma palavra por outra, pois também pode ser uma substituição de expressões com mais de uma palavra.

A posição de um pai ideal é a posição de um pai morto. Desejamos um pai morto.


Textos de Freud que falam da N.O. - "O Homem dos Ratos" e "O Homem dos Lobos".
O que é próprio da n.o. é que o paciente ouve comandos, ordens e nunca os toma como fenômenos alucinatórios. Ele não sabe quem fala, ou de onde vem isso. Na obsessão, com frequência, há manifestações hipocondríacas.

Porquê uma criança que tem uma mãe que dá tudo, que é solícita, que dá tudo à criança, pode ter um filho obsessivo? Pq o menino advinha a falta e procura reparar essa falta. Ele procura reparar essa ferida de sua mãe. O

menininho compreende que esta generosidade da mãe em relação a ele é um modo da mãe mascarar sua própria falta, a dela. Ela lhe dá tudo o que ela não tem. Em Lacan, dar o que não se tem é a definição de amor. Se ele percebe

essa falta nela, ele se comportará como um obsessivo e querer reparar essa falta nela.

A força da tragédia antiga, o herói antigo pode ser levado a se destruir por causa de sua culpa, como Édipo. O herói antigo comete uma falta e ele pode se sentir culpado, mas o herói moderno, quanto mais ele procura ser

perfeito e ideal mais ele é culpado. Ele se culpa de um crime que nunca cometeu.

Segundo alguns relatos (de adultos e crianças), o pai e mãe eram tão ligados, que formavam uma verdadeira unidade. Ou seja, eles não precisavam se relacionar com um pai e uma mãe, mas com uma autoridade única.

O falo, ou o grande Outro, ou o pelo-menos-uma ocupa um lugar no real. É onde fazemos Deus habitar. Para o homem, a mulher é seu Outro. Para uma criança, o seu primeiro Outro é a mãe.

Na forclusão da castração, pai e filhos são amigos, eles estão no mesmo terreno. Não há separação, nenhum corte entre pai e filho.

O Real seria o que eu costumo chamar de Vazio Existêncial. Aquilo que me falta.

O escrúpulo contábil no obsessivo - ele sempre tem medo de não ter pago tudo o que tem que pagar e de que não tenha sido pago de tudo o que lhe devem. O obsessivo qdo fala parece estar lendo um enunciado. O obsessivo

quer que se esqueça do sujeito. Quando uma frase é pronunciada, o que faz sua autoridade? Há apenas duas possibilidades para ela fazer autoridade. Ou bem esta frase se apoia na autoridade daquele que a pronuncia, por exemplo,

aqui estou falando a vocês e, se vocês confiarem em mim, o valor, o caráter verídico e justo do que digo pode depender da autoridade que vocês reconheçam ou não em mim. Outro meio de fazer reconhecer a validade de uma frase é

sua consistência lógica. Se eu ordeno uma sequência de frases que são logicamente irreprováveis, a autoridade vem da consistência da realização lógica de minha formulação. Vejam que não é a mesma autoridade. Para o obsessivo,

a autoridade da frase vem sempre de sua pura consistência lógi-ca e ele recusa a autoridade daquele que enunciou esta frase. Quer dizer, que ele quer sempre suprimir, suturar o sujeito da enunciação.

E para o obsessivo o que é formidável é verificar como na clínica isso se ilustra porque ele não sabe nunca se a proposição que ele produziu é verdadeira já que a precedente pode ser falsa.

Então, ele é obrigado todo o tempo a refazer toda a cadeia de pro-posições precedentes para verificar se ali não há uma falsa que se introduziu na cadeia. E este é o tormento obsessivo bastante frequente e notável, quer dizer,

ser obrigado a refazer toda a cadeia para verificar se não houve a introdução de uma proposição falsa em toda a seqüência que formulou. E é isso que introduz a dúvida obsessiva nele pois ainda que haja uma proposta falsa na

cadeia, o resultado pode ser verdadeiro. Então, ele não sabe mais o que é verdadeiro, o que é falso. Como vocês sabem, para ele isto é um grande tormento. Isso nos lembra uma coisa: que a verdade está sempre do lado do sujeito da

enunciação. Por que? E que verdade é esta? A verdade está do lado do sujeito que está à procura do conceito ou do sentido que seria adequado, ou seja, do sujeito que tem que responder a uma ausência, um furo, a uma falha radical.

É isso 0 que, enquanto psicanalistas, nós reconhecemos como verdade, ou seja, o esforço que faz um sujeito para responder à falha que constitui a sua existência.

E quando o obsessivo quer suprimir esta existência do sujeito e substituir as enunciações unicamente pelos enunciados, ele duvida de tudo, não está mais seguro de nada, não tem mais certeza de nada. Esse foi um antepasto,

apenas para começar. O que é pedido em troca é que nos neguemos, para que nossas vontades morram [não é tão literal assim].

Quanto é que o amor é provocado? Amamos alguém por sua fraqueza, por aquilo que lhe falta, por aquilo que ele não tem. E o que amamos na falta do Outro é a nossa própria falta. Lacan dizia que que o amor é dar o que

não se tem. No amor a Deus, não o amamos por sua força, seu poder e sua riqueza mas o amamos pelo que Ele não tem.
Lacan diz que o que é Forcluido no Simbólico retorna do Real. Aquilo que o obsessivo forcluiu vai retornar sob a forma de comando. O obsessivo sempre fala com a voz muito doce, ele não suporta a violência; se alguém se

manifesta com autoridade, ele o odeia imediatamente. Lacan diz que a voz é um dos melhores representantes do falo. No obsessivo o comando aparece no Real. O objeto do Perverso é o objeto que ele imagina ser demandado e

desejado pelo outro.

Nas religiões romanas e gregas não há o amor relacional entre seus seguidores e seus deuses. O medo é sempre que esses os abandonem, assim também é nas religiões orientais e africanas, e até no judaísmo, onde o que

importa é seguir as leis. Só no cristianismo o amor, como forma de relacionamento, é importante.

O objeto do perverso é o objeto que ele imagina ser demandado e desejado pelo Outro, dessa forma ele quer guardar esse gozo para ele. Existe um pouco perversão no obsessivo. Lacan chama o Real de - a este impossível.

Na cultura, o nosso motor, nossa fonte de energia é o impossível, e todos os meios que tomemos para tentar curar este impossível custa muito caro.

A N. O. é mais rara nas mulheres. A cura da N.O. vem da histericização do obsessivo (torná-lo "apaixonado" por algo). O que os obsessivos querem é que sempre dê certo.

Para Lacan, a mulher não é inteiramente submetida à questão fálica, deixando - a sem pertencer a uma classe, sem um traço que a garantiria quanto a sua identidade feminina. Dessa forma, ela não se sentirá fundada em sua

existência, por isso que ela está sempre tão pouco segura do lugar que ocupa, o que nos permite compreender o esforço das feministas de tentar fundar uma classe, um esforço que se revelou inútil, porque suporia uma excessão: a

mãe mitica, fundadora da comunidade e detentora de todo poder.

[A falta, o Real ou o vazio sempre existirá em uma torneira que nunca é completamente fechada, sempre caindo uma gota. Uma porta que não é totalmente fechada, um gás que sempre escapa. Um lugar que sempre precisará
ser limpo.]
O obsessivo se recusa a o ocupar o lugar de viril; ele o renuncia para passar para o lado feminino [não fálico]. Ele não se apresenta como um macho; ele não quer mostrar seus músculos, sua força. Ele é mais discreto sobre os
sinais da virilidade, ele quer apagá-los. Ele é um pequeno instrumento "sexual".
A análise de um obsessivo é algo muito difícil. O analista terá que estar atento as modulações de uma demanda e erotismo anal [fase/estágio psicossexual de Freud].
Lacan diz que: "ao obsessivo não se deve dar nenhum encorajamento, desculpabilização, até mesmo comentário interpretativo que avance um pouco de mais. Se o fizerem, então deverão ir muito mais longe, e vão se ver
acedendo, para o maior dano de vocês, a este mecanismo precisamente pelo qual ele quer fazê-los comer seu próprio ser - uma merda".
Sobre a pulsão invocante [ativada pelo som da voz, e que para Lacan ativa a cadeia significante no processo de formação do sujeito, ajuda a estruturar seu psiquismo]. - no obsessivo, as manifestações de ordem e comando
que ele recebe. Nós não nnossatisfazemos com o eterno silêncio. Gostaríamos muito que alguém nos respondesse, e principalmente, gostaríamos muito de ouvir a sua voz. O cristianismo é uma religião revelada, seu instrumento e
sua força é a voz. O primeiro instrumento de comando e de sedução é a voz [teria isso a ver com a primeira voz que ouvimos, a voz da mãe?]. Ao mesmo tempo, nós gozamos de forma dolorosa e insuportável, por conta da voz; é o
gozo extremo.

As vozes no psicótico quando param é uma catástrofe; é uma angústia insuperável. No obsessivo essas vozes não são alucinatórias mas se apresentam sob a forma de comandos. A estrutura psíquica em Freud baseava-se na

questão do Édipo, e em Lacan fica em relação a função paterna. A estrutura neurótica em Freud baseava-se na questão do Édipo, e em Lacan fica em relação a função paterna. A difusão da teoria psicanalítica na cultura contribuiu

para a degradação da figura paterna. O trajeto da pulsão é dar volta em torno do objeto e faltar.

O obsessivo sabe distinguir as vozes da sua cabeça e as vozes alucinatórias. A difusão da teoria psicanalítica na cultura contribuiu para a degradação da figura paterna.
Hoje, o pai da nova patologia, não tem mais o seu poder advindo da instância fálica, mas é o juiz que vai dizer o que ele deve fazer, como está acontecendo na França, onde sociólogos estão escrevendo o novo código da
família, que vai dizer qual é o papel de cada um (pai e mãe, do marido e da mulher) em relação aos filhos.
Os obsessivos, as vezes, possuem demandas com questão da homossexualidade - entre ser e não ser.
Lacan antes de começar uma análise, fazia uma entrevista, ou seja, ele não começava a análise antes de ter um diagnóstico.

A histeria em Lacan é uma forma de laço social, uma forma de se dirigir ao Outro [lugar].

"Quem faz revisão é o obsessivo".

Dr Ana Beatriz Barbosa

O sujeito em Lacan - individuo empírico que se submete à experiência e a instância que se deduz da mesma experiência, instância suposta ao saber inconsciente, ao inconsciente como saber”.

Assim, quando Lacan posiciona o inconsciente como o corte entre o sujeito e o Outro, ele situa a sexualidade como limiar do inconsciente, na medida em que ela “se reparte de um lado a outro de nossa borda”.

O sujeito da psicanálise é o sujeito do desejo, delineado por Freud através da noção de inconsciente, marcado e movido pela falta, distinto do ser biológico e do sujeito da consciência filosófica.

O eu

Segundo Freud (1933/1932, p. 39), o eu é aquela parte do Id que foi modificada pela influência direta do mundo externo e que visa aplicar a influência da realidade externa sobre o Id.

O Eu tem seu núcleo no sistema perceptivo–consciente. Ele é, sobretudo, um “Eu corporal”, uma projeção psíquica da superfície do corpo. O Eu origina–se do contato do indivíduo com a realidade – ainda é responsável pelo

teste de realidade.

Para formar um Ego forte não temos que lutar contra o nosso Id ou Superego. Trata-se de alcançar um equilíbrio adequado entre essas forças: uma harmonia entre necessidades e obrigações. Para reconciliar essas energias, as

dimensões reprimidas devem ser trazidas à luz, tanto do Id quanto do Superego.

O Outro:

O psicanalista Jacques Lacan dizia que "o Eu é um Outro". A frase, de sonoridade quase mística, significa que nossa identidade - quem pensamos ser, e aquilo que achamos muitas vezes ser nossa mais íntima essência -

possui uma relação de exterioridade a nós mesmos.

O pequeno outro é aquele cuja palavra não faz muita diferença na minha vida. E não faz diferença porque, no fim das contas, as pessoas que estão nessa posição funcionam basicamente como extensões ou projeções de nós

mesmos. O grande Outro é o inconsciente. É uma Outra cena. Não que o inconsciente seja a condição da linguagem, mas que a linguagem seja a condição do inconsciente. Aquele que é convidado a falar, na cura, é o sujeito, não o

eu.
Um perverso vai expressar de modo histérico aquilo que é da sua perversão. A histeria, em Lacan, é uma forma de laço social, uma forma de de se dirigir ao [grande] Outro. A N.O. não é um discurso, não é uma forma de se

dirigir ao Outro.

Se as mulheres fossem homens, o problema estaria resolvido. Ser homem como objeto fálico. Lembrando que os N.O. se colocam como mulheres (isso explica a homossexualidade).

O menininho, que se tornará obsessivo descobre que há um ferimento em sua mãe, uma falha. A mãe para ele é o Outro, e nesse Outro há uma falha, então, por amor à mãe, ele vai fazer tudo para tentar reparar esta ferida. E

para isto, ele é capaz de ocupar a posição feminina para mostrar que é perfeitamente possível a uma mulher ter este pequeno objeto [Falo]; ele se devota e mostrar -lhe que é possível.

Temos medo de autorizarmos nossa existência, somente de nós mesmos, por isso precisamos nos construir no outro, uma instância que iria limitar nosso gozo.

Nós reclamamos de ser livres, e em realidade, procuramos sempre um guia. Sempre queremos alguém que nos diga o que devemos fazer. É por isso que o obsessivo precisa que alguém lhe diga o que fazer. Ele não pode ir

sozinho. É preciso que ele receba o comando. Precisamos que o Outro diga como nos guiarmos, qual é o nosso direito, os limites do nosso gozo e saibamos qual é o nosso gozo.

O sujeito se dirige ao Outro, dizendo: "o que queres?" e a única resposta que tem é "o que você quer?" [espelho]. Nenhum de nós é livre porque somos alienados em função de nossa relação com o Outro.

As crianças e os adolescentes não assumiram subjetivamente a castração, e dessa forma, tudo é possível e factível para eles, não há nenhum limite. Eles se recusam a assumir a existência do Outro.

A piedade no obsessivo é exagerada, porque ela é defensiva. A piedade é uma forma de amor, do amor no lugar de Deus.

Há toda uma relação do obsessivo com a merda [fase anal - fase psicossexual]. Que causa um gozo desagradável.

Com sua piedade exagerada, somado ao gozo pela merda, o obsessivo será acompanhado de pensamentos sacrílegos com Deus; quanto mais piedade ele tiver, mais ele irá se defender contra esses pensamentos sacrílegos e

mais pensamentos sacrílegos e obscenos ele tem. De algum modo, o obsessivo é sempre um sujeito dividido. Não é um indivíduo.

Para Freud, a cura (na neurose) acontecia quando o paciente realizava o desejo de um bom pai (casar, trabalhar, ter filhos).

Lacan dizia que a cura não advinha dos desejos da pessoa, mas do desejo específico do analista. De levar o analisando para um lugar que nenhuma outra pessoa poderia conduzi-lo. E qual é este lugar? É o constatar que no

Outro não há ninguém que me espera, não há ninguém que me olha, não há ninguém que me deseja, não há ninguém que eu possa seduzir, não há ninguém que possa me servir de guia. Ele dizia qua a cura lacaniana podia gerar uma

depressão. [Neste caso, o desejo do analisando é se tornar o analista].

O pai no Simbólico, no Real e no Imaginário:

O pai Simbólico :

Para um psicanalista, o significante é o simbolo de uma ausência. Então, o pai simbólico seria ele o simbólico de uma pura ausência.

O pai Imaginário

É o pai todo poderoso. É o pai não castrado, que pode tudo.

O pai real:

É o pai que está na realidade da casa, e não o pai que está no real (este seria o pai da psicose).

Para o ser humano, o problema do desejo é que seu objeto se situa fora da lei. A lei é necessária para constituí-lo, para estabelecer o real, mas o seu objeto está fora da lei. O pai precisa me dá sua autoridade para que eu me

autorize a ultrapassar a lei e realizar o meu desejo. A mulher está fora da lei, por isso as mulheres possuem uma relação muito complexa com a lei. Essa é a função do pai tal como Lacan estabeleceu.

Em Freud, o desejo se realiza no interior da lei [castração]. Em a Interpretação dos Sonhos, Freud fala constantemente de sua infelicidade com sua mulher Marta. Ele preferiu parar sua vida sexual quando tinha um pouco

mais de 40 anos, em vez de ultrapassar aquilo que ele acreditava ser uma incorreção insuportável em relação a sua mulher. Freud era contra o coito interrompido, por razões metapsicológicas, pois para ele isso provocava angústia,

provocando uma retenção da libido. Marta não aguentava mais ter tantos filhos. Por isso Freud ficava até as 3 hs da manhã em seu escritório trabalhando, e é por isso que temos a psicanálise.

Toda família conspira para que o pai seja castrado. As crianças amam muito o pai Imaginário mas se o pai real não é castrado as crianças não o amam muito; eles gostariam mesmo que o pai fosse castrado.

Um dos problemas da patologia de hoje, é que o objeto não está mais fora da lei, já que a castração é forcluida por nossa cultura. Este objeto, por tanto, tem dificuldades para nos satisfazer uma vez que não está fora dos

limites, por não ser fundado pela castração.

É preciso dar a esse objeto características físicas bastante particulares, especiais para que ele excite nossos sentidos e para que ele pareça como se fosse um objeto do desejo, enquanto ele é essencialmente um objeto de

demanda. Há essa capacidade em fabricar objetos que venham responder à demanda mas que tenham particularidades físicas que nos executem como se fossem objetos fundados pelo desejo.

Linguagem de Lacan:

Necessidade - o mínimo necessário para manter a sobrevivência física e psíquica (ex. Alimento).

Desejo - necessidade satisfeita com um plus de prazer e gozo, e que faz o sujeito querer voltar a experimentar.

Demanda - satisfação dos desejos é insaciável, pois o verdadeiro significado da demanda é um pedido de desespero por reconhecimento e amor para preencher uma cratera narcísica.
Lacan dizia que o que a anorexia quer é o nada. É por isso que ela come muito e vomita de volta.

O obsessivo possui um objeto nojento por excelência e que não quer largar. Ele é um constirpado. Há um objeto que ele não quer ceder. Ele não o larga porque acha que é o objeto que o Outro lhe pede. Ele guarda esse

objeto por achá-lo demasiado precioso. Isto tudo vem da educação anal que a criança teve [fase psicossexual]. O obsessivo é avarento no sentido de retenção.
Ele sabe que o objeto deve ir para o real, apagado do campo da realidade, deve ir para o esgoto e desaparecer, ao mesmo tempo ele tem medo de sujar aquele que está no Outro, por quem no real ele tem piedade, onde ele não

pode cometer sacrilégio.

Os pensamentos obscenos não são recalcados, mas novos, como se eles fossem criados por um tipo de sujeito maldoso. Há nele um tipo de zona, uma, espécie de ponto que faz com que cada vez que ele tenha um pensamento
terno em relação a sua dama, e imediatamente lhe vem que ela morra. O real é a zona que sempre faz objeção a tudo o que o que se puder dizer na cadeia simbólica. É o lugar de onde sempre se diz não. Se o sujeito quer manifestar
sua existência, só poderá dizendo não ao que se formula na cadeia simbólica.
É preciso que o obsessivo aceite a dimensão do real e do impossível.
Ele considera que o seu sacrifício é que permite ao pai se manter viril, ele aceita essa feminilização para assegurar a virilidade do pai. Mas ele toma cuidado para não ultrapassar o pai, uma vez que isso seria sua própria
queda, sua própria perda. Ao mesmo tempo, que ele espera que o pai morra, pois acha que ppde tomar o lugar desse. A morte de uma imagem ideal.
O que dá o estilo da relação do obsessivo com outrem é o se anular, se apagar, como se ele deixasse a força ao outro, ao mesmo tempo em que se esse outro morrer, ele toma seu lugar.

Qual é o tipo de pai que cria o obsessivo? É o pai para o qual se experimenta o ódio edipiano, mostrado por Freud, porque ele o priva de sua mãe. Ele tem o cuidado de estar sempre em posição de inferioridade em relação a
este ideal para preservar esta imagem do pai.
Há no obsessivo sempre uma indecisão, esperando sempre que haja um outro para decidir por ele. Uma decisão sempre implica em uma renúncia, quando se toma uma decisão não se pode manter tudo junto. O obsessivo não
pode respeitar essa decisão primeira, que é a matriz de todas as outras decisões, ou seja, a renúncia ao objeto pequeno a (o objeto inatingível do desejo). É após a morte de um irmão que a criança se tornará obsessiva.

Pacientes que vieram de outros terapeutas terão problemas com a nova terapia que não tiver um tempo fixo, e esse método é bom, [uma vez que ele pode até não controlar sua fala, mas controlará] o tempo, não há a

necessidade de trabalhar, só deixar o tempo necessário chegar. Com a sessão com o tempo indeterminado, o terapeuta coloca um "ponto [final onde não deveria existir]; dito de outra maneira, com o tempo, meu pai terminará por

morrer e eu vou chegar e não vou ter feito nada, nada será por minha culpa. O uso do tempo nunca é inocente.

[Se em um obsessivo o tempo seria um não fazer nada, esperar pela morte do pai, seria então no histérico que vive atrasado, e que geralmente faz bastante coisa para se atrasar, um prolongamento da vida do pai?]
A verdade não pode ser individual, não podemos ter razão sozinhos [por isso precisamos muito falar sobre determinadas questões?].
Na histeria - um desejo insatisfeito
Na obsessão - um desejo impossível.

O desejo da histeria é um desejo pela castração que viria fundar seu desejo próprio e não ser sempre tributária, ser um eco em resposta ao desejo dos outros e dever gozar segundo o gozo dos outros.

O desejo impossível de ser satisfeito para o obsessivo é que quando ele atinge o objeto pequeno a , o sujeito se eclipsa, desaparece, morre. O gozo do obsessivo, mesmo quando perverso, é um gozo que nunca consegue ser

perfeito.

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