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EDITAL DO PROCESSO SELETIVO PARA O PREENCHIMENTO DE VAGAS NO

PROJETO SOCIAL “ELAS APOIAM”.

O movimento “Elas pelo MPMG” torna público o Edital do Processo Seletivo para o
preenchimento de vagas no Projeto Social “Elas Apoiam”.

1. Das disposições iniciais

1.1. O “Elas pelo MPMG” é um movimento feminista, antirracista e contra qualquer forma de
discriminação, composto por membras ativas e inativas do Órgão, orientado pelos princípios da
lealdade, sororidade, suprapartidarismo, respeito à diversidade, pluralidade, horizontalidade,
comunicação-não-violenta, diálogo, transparência, igualdade, valorização da perspectiva
feminista no exercício do poder, com a finalidade de impulsionar a transformação das estruturas
institucionais e sociais para o alcance de uma sociedade livre, justa, solidária e sem preconceitos
de gênero, raça e qualquer outra forma.

1.2. O Projeto Social “Elas Apoiam”, cujo plano de trabalho segue detalhado no Anexo 1, deste
edital, é uma iniciativa do “Elas pelo MPMG” que tem por objetivo principal fomentar o
ingresso na Carreira do MPMG por mulheres pretas, pardas, indígenas e de baixa renda, através
da concessão de bolsas de estudo, em instituições de ensino voltadas para aperfeiçoamento
jurídico (Cursinhos), a graduadas no curso de Direito, com a devida experiência jurídica, em
consonância com os objetivos da República Federativa do Brasil, as normativas e resoluções
sobre o assunto e a Recomendação CNMP n° 79, de 30 de novembro de 2020, visando à
promoção da igualdade de gênero e de raça no âmbito da Instituição.

1.3. O escopo do projeto compreende: a concessão de bolsas de estudo em instituições de ensino


voltadas para aperfeiçoamento jurídico (Cursinhos) em cursos preparatórios para concursos
públicos; a realização de rodas de conversas e aulas extras pelo grupo de voluntários/as do
projeto; a doação de materiais de estudo (livros e apostilas).

2. Das vagas

2.1. A seleção regulada por este Edital destina-se ao preenchimento de 40 (quarenta) vagas para
inclusão nas ações do Projeto Social “Elas Apoiam”.

2.2. As candidatas aprovadas farão jus a uma bolsa de estudo numa instituição de ensino voltada
para aperfeiçoamento jurídico (Cursinho) em curso preparatório para concurso público e às
demais ações descritas no item “1.3.” deste Edital.

§1º As vagas estarão sujeitas à disponibilidade nos cursos oferecidos pelos parceiros.

§2º Os cursos preparatórios para concurso público e as demais ações do projeto serão ofertadas
na modalidade virtual.
§3º As vagas disponíveis no âmbito do projeto serão distribuídas às candidatas através de sor-
teio, por serem ofertadas por diversos parceiros, com propostas curriculares diferentes.

3. Dos requisitos para a seleção

3.1. Para ser selecionada, a interessada deverá: a) ser mulher; b) se autodeclarar preta, parda ou
indígena; c) se autodeclarar de baixa renda; d) ter graduação em Direito em instituição reco-
nhecida pelo MEC; e) ter no mínimo 2 (dois) anos de experiência jurídica; e f) manifestar inte-
resse em prestar o concurso para ingressar na Carreira do MPMG.

4. Das inscrições

4.1. As inscrições serão realizadas no período de 01 a 30/06/2021.

4.2. Para requerer sua inscrição, a candidata deverá preencher o seguinte formulário:
https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeMdsoATG9K0NoHFClWGFJpnAE-
H9qvZzHifh9QO-OwCFh4sw/viewform?usp=sf_link

4.3. Para a solução de qualquer problema na inscrição, a candidata deverá entrar em contato
pelo meio eletrônico elasapoiam@gmail.com.

4.4. As informações sociais fornecidas no formulário se darão por autodeclaração e serão con-
sideradas o suficiente para fins desta seleção, considerando-se a boa-fé das candidatas.

4.5. É de responsabilidade da candidata a manutenção do e-mail, telefone e dados curriculares


atualizados, para viabilizar os contatos necessários.

5. Do processo de seleção

5.1. O processo de seleção compreenderá a avaliação das informações autodeclaradas pelas


candidatas no formulário pelo Movimento “Elas pelo MPMG”.

5.2. Será feita uma classificação das candidatas, selecionando-se as 40 (quarenta) em situação
de maior vulnerabilidade social.

5.3. Os critérios adotados para aferição de situação de maior vulnerabilidade social perpassam
o conteúdo das perguntas e respostas do formulário a ser preenchido pelas interessadas e serão
avaliados pelo Movimento “Elas pelo MPMG” de maneira global para a classificação das can-
didatas.

5.4. O resultado do processo de seleção com a lista com os nomes das candidatas selecionadas
será divulgado na página do Instagram @elaspelompmg e por meio do endereço eletrônico
informado na inscrição até o dia 15 de julho de 2021.
5.5. As candidatas classificadas fora das vagas disponibilizadas estarão inscritas automatica-
mente em cadastro de reserva.

5.6. O recurso contra o resultado do processo seletivo deverá ser apresentado fundamentada-
mente, em até 3 (três) dias a contar da sua divulgação, pelo seguinte meio eletrônico: elasa-
poiam@gmail.com (assunto: RECURSO – Projeto Social Elas Apoiam).

5.7. O resultado final do processo seletivo será divulgado em 23 de julho de 2021, também na
página do Instagram @elaspelompmg e por meio do endereço eletrônico informado na inscrição

6. Da convocação

6.1. As 40 (quarenta) selecionadas serão convocadas para reunião de apresentação do Projeto


Social “Elas Apoiam”, ocasião em que será detalhada a programação inicial das ações.

6.2. A convocação oficial será feita por meio do endereço eletrônico informado na inscrição.

6.3. Após a reunião de apresentação do projeto, as candidatas terão o prazo de 2 (dois) dias úteis
para se manifestar, podendo: a) aceitar a vaga ofertada; ou b) desistir do processo seletivo e ser
automaticamente excluída do projeto.

6.4. Em caso de recusa, será convocada para a vaga a candidata seguinte na ordem de classifi-
cação.

6.5. A desistência tratada no item 6.3.b é irretratável.

6.6. Será considerada desistente a candidata que não responder a convocação no prazo estipu-
lado no item “6.3.” ou que não comparecer à reunião de apresentação do projeto sem justifica-
tiva comprovada.

6.7. Caso aceite a vaga ofertada, a candidata receberá a bolsa de estudo na instituição de ensino
voltada para aperfeiçoamento jurídico (Cursinho) em curso preparatório para concurso público
e será inclusa em grupo formado em aplicativo de mensagens para celular em que serão tratados
os assuntos sobre a execução das ações o projeto.

7. Das responsabilidades das candidatas selecionadas

7.1. São responsabilidades das candidatas selecionadas:

I - participar das atividades do Projeto Social “Elas Apoiam”.

II - zelar pela frequência regular às aulas e pelo acompanhamento integral das atividades do
Projeto Social “Elas Apoiam”;

III - permanecer no Projeto Social “Elas Apoiam” pelo prazo mínimo equivalente a 12 (doze)
meses depois do início das atividades.
7.2. As hipóteses a seguir, verificadas cumulativa ou alternativamente, implicam a eliminação
automática da candidata selecionada e a obrigação de ressarcimento ao “Elas pelo MPMG” do
valor da bolsa de estudos recebida, referente aos meses não cursados:

I - ausência nas atividades superior a 25%, salvo em razão de faltas justificadas;

II - desistência não justificada ou não aceita em decisão fundamentada do movimento “Elas


pelo MPMG”;

III - constatação de falsidade sobre os requisitos para participação do projeto.

§1º A justificativa deverá ser enviada ao movimento “Elas pelo MPMG” por meio físico ou
digital, sempre que uma das aludidas hipóteses impedir o comparecimento ou a continuidade
da participação nas atividades do Projeto Social “Elas Apoiam”.

§2º O prazo para apresentação da justificativa é de 15 dias, contados a partir do primeiro dia
útil depois da falta ou desistência das atividades do Projeto Social “Elas Apoiam”.

§3º A justificativa deverá ser devidamente comprovada.

8. Das disposições finais

8.1. O processo seletivo para o preenchimento de vagas do Projeto Social “Elas Apoiam” se
encontra disciplinado neste Edital.

8.2. Para o esclarecimento de dúvidas, a candidata deverá entrar em contato pelo seguinte meio
eletrônico: elasapoiam@gmail.com

8.3. Os casos omissos serão resolvidos pelo movimento “Elas Pelo MPMG”.

Belo Horizonte/MG, 27 de maio de 2021.

MOVIMENTO “ELAS PELO MPMG”


ANEXO 1 – PROJETO SOCIAL “ELAS APOIAM”

PROJETO SOCIAL

ELAS APOIAM

Abril de 2021
SUMÁRIO

I. Identificação da coordenação e parcerias ........................................................... 3


II. Introdução .......................................................................................................... 3
III. Justificativa........................................................................................................ 4
IV. Objetivo Geral ................................................................................................... 9
IV.1. Objetivos Específicos ..................................................................................... 9
V. Desenvolvimento do Projeto ............................................................................. 10
VI. Cronograma de execução ............................................................................... 13
VII. Orçamento ..................................................................................................... 16
Referências .......................................................................................................... 16

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I. IDENTIFICAÇÃO DA COORDENAÇÃO E PARCERIAS
I.1. Coordenação
Elas pelo MPMG

I.2. Parcerias
• Instituições de ensino voltadas para o aperfeiçoamento jurídico (Cursinhos).
• Voluntários (pessoas físicas e jurídicas).

II. INTRODUÇÃO
Historicamente, no mundo do trabalho, têm sido reproduzidas desigualdades
de gênero, que se manifestam a partir de relações de poder desiguais entre homens
e mulheres no ambiente profissional e, também, de condições desfavoráveis e
assimetrias em termos de acesso ao emprego, de obtenção de rendimentos ou de
promoção e melhoria em carreiras para as mulheres, sobretudo quando pretas, pardas
e indígenas.
Apesar do importante avanço normativo em prol da igualdade de gênero,
materialmente ela não tem sido verificada nas relações de trabalho existentes no país,
inclusive no âmbito do Ministério Público. O tema, tão relevante no plano
constitucional, sendo, inclusive, um dos objetivos fundamentais da República
Federativa do Brasil, é invisibilizado, havendo uma enorme diferença da participação
dos homens e das mulheres na Instituição e, principalmente, em suas instâncias
decisórias.
Diante dessa constatação, em meados de 2016, mulheres integrantes do
MPMG uniram-se por meio do “Elas pelo MPMG”, movimento feminista, antirracista e
anti qualquer forma de discriminação, composto por membras ativas e inativas do
Órgão, orientado pelos princípios da lealdade, sororidade, suprapartidarismo, respeito
à diversidade, pluralidade, horizontalidade, comunicação-não-violenta, diálogo,
transparência, igualdade, valorização da perspectiva feminista no exercício do poder,
com a finalidade de impulsionar a transformação das estruturas institucionais e sociais

7
para o alcance de uma sociedade livre, justa, solidária e sem preconceitos de gênero,
raça e qualquer outra forma.
No bojo desse movimento, recentemente, foi concebida a ideia do presente
projeto social, protagonizada por um grupo de Promotoras de Justiça, tratando-se,
portanto de uma iniciativa independente, sem vínculo com o MPMG. Tem como
objetivo principal fomentar o ingresso na Carreira da Instituição por mulheres pretas,
pardas e indígenas de baixa renda através da concessão de bolsas de estudo à
graduadas no curso de Direito, que atendam aos critérios exigidos, bem como a sua
qualificação profissional, em parceria com instituições de ensino voltadas para o
aperfeiçoamento jurídico (Cursinhos) e com outras pessoas físicas e jurídicas
voluntárias.
Essa iniciativa visa, portanto, promover a proteção e a efetivação dos direitos e
das garantias constitucionais fundamentais, sobretudo às atinentes à equidade de
gênero e de raça no contexto do MPMG.

III. JUSTIFICATIVA
O tema da igualdade de gênero tem sido objeto das normativas desde meados
da segunda metade do século XX.
Nesse sentido, a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra a Mulher adotada e aberta à assinatura, ratificação e adesão
pela Resolução 34/180, da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 18 de dezembro
de 1979 e ratificada pelo Brasil no Decreto 4.377, de 13 de setembro de 2002, declara
em seu art. 7º, que os Estados-Partes tomarão todas as medidas apropriadas para
eliminar a discriminação contra a mulher na vida política e pública do país e, em
particular, garantirão, em igualdade de condições com os homens, o direito a votar em
todas as eleições e referenda públicos e ser elegível para todos os órgãos cujos
membros sejam objeto de eleições públicas; participar na formulação de políticas
governamentais e na execução destas, e ocupar cargos públicos e exercer todas as
funções públicas em todos os planos governamentais; participar em organizações e
associações não-governamentais que se ocupem da vida pública e política do país.

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A mesma Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação
contra a Mulher declara em seu art. 7º, item 1., que os Estados-Partes adotarão todas
as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher na esfera do
emprego a fim de assegurar, em condições de igualdade entre homens e mulheres,
os mesmos direitos, em particular o direito ao trabalho como direito inalienável de todo
ser humano; o direito às mesmas oportunidades de emprego, inclusive a aplicação
dos mesmos critérios de seleção em questões de emprego; o direito de escolher
livremente profissão e emprego, o direito à promoção e à estabilidade no emprego e
a todos os benefícios e outras condições de serviço, e o direito ao acesso à formação
e à atualização profissionais, incluindo aprendizagem, formação profissional superior
e treinamento periódico; o direito a igual remuneração, inclusive benefícios, e
igualdade de tratamento relativa a um trabalho de igual valor, assim como igualdade
de tratamento com respeito à avaliação da qualidade do trabalho.
A Declaração de Pequim, de 1955, aponta como essencial o fortalecimento e
plena participação das mulheres, em condições de igualdade, nos processos de
decisão e acesso ao poder para alcance da paz e desenvolvimento sustentável.

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece, em seu artigo 5º,


o princípio da igualdade, que visa a construção de uma sociedade justa e igualitária
em sentido material, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação, nos termos do art. 3º, incisos I e IV, da Constituição.
Nesse contexto, a igualdade de gênero constitui-se como expressão da cidadania e
da dignidade humana, as quais são princípios fundamentais da República e bases do
Estado Democrático de Direito, nos termos do art. 1º, incisos II e III, da Constituição.

A busca pela equidade de gênero e a promoção da igualdade com respeito às


diferenças encontram fundamento no ordenamento jurídico nacional, sendo certo que
a Constituição não apenas reconhece a igualdade de homens e mulheres em direitos
e obrigações (art. 5º, I), como estabelece que um dos objetivos fundamentais da
República Federativa do Brasil é promover o bem-estar de todos, sem preconceitos
de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º,
IV).

9
No ano 2000, a ONU, através do Relatório de Direitos Humanos reconheceu a
importância da promoção da igualdade entre homens e mulheres, ao concluir que a
discriminação histórica contra a mulher causa um impacto negativo no crescimento
econômico e social dos países e do mundo, mensurável mediante indicadores
econômicos.

Mais recentemente, os Princípio do Desenvolvimento Sustentável da agenda


de 2030 da ONU, de número 5.5, se traduz: “Alcançar a igualdade de gênero e
empoderar todas as mulheres e meninas, garantindo a participação plena e efetiva
das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança em todos os níveis e
tomada de decisão na vida política, econômica e pública” 1;
Apesar de todos esses avanços, em termos normativos, materialmente essa
igualdade não se verifica, seja no âmbito do Ministério Público, seja no âmbito das
demais relações de trabalho existentes no país.
O último Global Gender Gap Report 2020, emitido pelo Fórum Econômico
Mundial que analisa a (des)igualdade entre homens e mulheres em 144 países,
mostra que o Brasil se encontra na 92ª posição desse Ranking, e pode demorar mais
de cem anos para alcançar a igualdade de gênero nos critérios de participação
econômica e oportunidades, acesso à educação, saúde, sobrevivência e participação
política2;
De acordo com estudo, inserido no âmbito do Sistema Nacional de Informações
de Gênero – SNIG do IBGE, e baseado nos resultados do Censo Demográfico de
20103, apesar de constada a superioridade escolar das mulheres, que têm maiores
níveis de instrução que os homens, os resultados no mercado de trabalho não as
favorece. As desigualdades de gênero e cor ou raça são características estruturais do
mercado de trabalho brasileiro, evidenciadas pelos indicadores de inserção e de
rendimento que serão detalhados a seguir (IBGE, 2014, p. 132).
Apesar do aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho
brasileiro entre 2000 e 2010, foram mantidas diferenças significativas dessa inserção

1
Disponível em http://www.agenda2030.com.br/ods/5/
2
Disponível em: http://www3.weforum.org/docs/WEF_GGGR_2020.pdf
3
Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv88941.pdf
10
em relação aos homens, mas também houve diferenças entre as mulheres brancas e
as de cor ou raça preta ou parda. A taxa de atividade das mulheres, sua participação
no mercado de trabalho, aumentou nesse período, atingindo 54,6% em 2010,
percentual baixo quando comparado com o obtido pelos homens, de 75,7%. A
inserção das mulheres em ocupações com posse da carteira de trabalho assinada
também foi verificada como inferior à dos homens, sendo maior ainda a proporção de
mulheres pretas ou pardas sem o emprego formal (IBGE, 2014).
A distribuição da população ocupada por nível de instrução também revelou
relevante participação no mercado de trabalho das mulheres pretas ou pardas sem
instrução e com nível fundamental incompleto (42,5%) quando comparadas com as
mulheres brancas (28,2%). No caso da taxa de inserção de mulheres com nível
superior, o inverso foi constatado, apontando-se a taxa de 26,0% de brancas e de
11,2% de pretas ou pardas (IBGE, 2014).
Há, portanto, maior predominância de mulheres pretas e pardas em ocupações
precárias, de baixa qualificação, pouco formalizadas e majoritariamente no setor de
serviços, como o trabalho doméstico (IBGE, 2014).
O estudo também apontou que o nível de ocupação de mulheres de 16 anos
ou mais de idade com filhos de 0 a 3 anos que frequentam creche (65,4%) é bem
superior ao daquelas cujos filhos não frequentam (41,2%) ou apenas algum filho
frequenta creche (40,3%), mostrando a necessidade de ampliação da política de
oferta de creches, o que impacta diretamente na autonomia das mulheres e suas
possibilidades de inserção no mercado de trabalho, uma vez que o cuidado da família
e de pessoas com maior vulnerabilidade ainda é uma atribuição destinada quase
exclusivamente para as mulheres. A maternidade, em suma, sobretudo nas faixas
etárias mais jovens, afeta a permanência escolar, bem como a inserção e a
manutenção no mercado de trabalho (IBGE, 2014).
Com relação à renda, a literatura aponta que o rendimento no mercado de
trabalho é mais baixo quando se trata de mulheres jovens, pretas e pardas. Os dados
do Censo Demográfico 2010 indicaram que 30,4% das mulheres de 16 anos ou mais
de idade não tinham nenhum tipo de rendimento, percentual acima do observado para
o total da população nessa faixa etária (25,1%) e para os homens (19,4%) (IBGE,

11
2014). Esta condição de baixo rendimento no grupo de mulheres pretas ou pardas é
maior ainda.
Em 2010, o rendimento médio mensal de todas as fontes das mulheres de 10
anos ou mais de idade com rendimento era de R$ 1.074,00, enquanto o dos homens
era R$ 1.587,00. O rendimento médio das mulheres pretas ou pardas correspondia a
35,0% do rendimento médio dos homens brancos (IBGE, 2014). Os menores
rendimentos, portanto, têm sexo, cor ou raça.
Internamente ao Ministério Público, a desigualdade de gênero possui diversas
manifestações e essas disfunções não se visualizam apenas na ocupação de cargos
e posições de liderança, mas também em situações como ingresso na Carreira,
condições de trabalho, permanência e movimentação na Carreira do MPMG, dentre
muitas outras vertentes.
Conforme dados de 2018, há 13.011 membros ministeriais, dos quais 5.114
(39%) são Promotoras e Procuradoras de Justiça e 7.897 (61%) são Promotores e
Procuradores de Justiça, o que, de saída, revela uma constatação óbvia de que a
participação feminina nos órgãos ministeriais não reflete a realidade da população
brasileira, na qual 51.8% são mulheres, segundo a PNAD 2019.
Cerca de 37% de todos os membros do Ministério Público de Minas Gerais são
mulheres, conforme a tese jurídica aprovada por unanimidade no XXI Congresso
Nacional do Ministério Público, denominada “Santo de Casa Não Faz Milagre?” 4;
Segundo pesquisas desenvolvidas pelo Conselho Nacional do Ministério
Público, em 2018, que visou mapear o cenário dos Ministérios Públicos em âmbito
nacional em relação a representatividade de gênero, 39% dos membros do Ministério
Público é formado por mulheres, o que corresponde à 39% do total de Promotores de
Justiça atuando no Brasil. (Cenário de Gênero CNMP/2018 5).
No que diz respeito à representatividade feminina nos cargos e funções de
gestão institucional no órgão, desde a Constituição de 1988: 52 mulheres foram

4
Tese jurídica aprovada por unanimidade no XXI Congresso Nacional do Ministério Público, denominada “Santo de Casa Não
Faz Milagre?” de Maria Clara Costa Pinheiro de Andrade (MPMG), Daniela Campos de Abreu Serra (MPMG), Hosana Regina
Andrade de Freitas (MPMG), Maria Carolina Silveira Beraldo(MPMG), Monica Louise de Azevedo (MPPR) e Ana Teresa
Silva de Freitas (MPMA)
5
Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/20180622_CEN%C3%81RIOS_DE_G%C3%8ANERO_v.FINAL_2.pdf
12
Procuradoras-Gerais versus 240 homens, representando percentual de cerca de 18%
versus 82%; houve 105 mandatos de mulheres como Corregedoras-Gerais versus 363
mandatos de homens, o que representa cerca de 22% de representação feminina e
78% de representação masculina; houve apenas 73 mandatos de mulheres como
Procuradoras-Gerais, enquanto houve 413 mandatos de Homens, (15% de lideranças
femininas e 85% de lideranças masculinas). (Cenário de Gênero CNMP/2018).
Esses estudos revelaram, portanto, uma significante assimetria entre o número
de mulheres e de homens nos vários ramos e unidades da Instituição. Essas questões
e às atinentes ao acesso à Carreira é mais significante, ainda, no que se refere ao
ingresso por mulheres pretas, pardas e indígenas.
O Censo realizado em 2019 pelo MPMG, baseado em respostas concedidas e
autodeclaradas por membros e membras do MPMG, acerca de sua cor da pele, obteve
o seguinte resultado: 72,4% de branca; 19,5% parda; 1,7% preta; 2% amarela; 0,1%
indígena. Observa-se que 578 pessoas responderam à pesquisa, representando
cerca de 50% do total de membros e membras.
Diante do cenário exposto, a presente iniciativa tem a pretensão de fomentar o
ingresso de mulheres pretas, pardas e indígenas de baixa renda na Carreira do MPMG
em consonância com o objetivo constitucional da igualdade, das normativas sobre o
assunto e, inclusive, com a recente expedida Recomendação CNMP n° 79, de 30 de
novembro de 2020, que recomenda a instituição de programas e ações sobre
equidade de gênero e raça no âmbito do Ministério Público da União e dos Estados e
que especifica, como uma de suas diretrizes, o fomento a inscrição e o ingresso de
mulheres nos concursos públicos promovidos pelo Órgão.

IV. OBJETIVO GERAL


Fomentar o ingresso na Carreira do MPMG por mulheres pretas, pardas e indígenas
de baixa renda através da concessão de bolsas de estudo, em instituições de ensino
voltadas para aperfeiçoamento jurídico (Cursinhos), à graduadas no curso de Direito,
com a devida experiência jurídica, em consonância com os objetivos da República
Federativa do Brasil, as normativas e resoluções sobre o assunto e a Recomendação

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CNMP n° 79, de 30 de novembro de 2020, visando à promoção da igualdade de
gênero e de raça no âmbito da Instituição.

IV.1. Objetivos Específicos


• Identificar os principais gargalos e dificuldades enfrentadas por mulheres pretas,
pardas e indígenas de baixa renda ao ingresso na Carreira do MPMG, visando
à busca de soluções para tais questões, no âmbito do aperfeiçoamento e
qualificação para o concurso do órgão.
• Contribuir com o aperfeiçoamento e qualificação profissional de mulheres
pretas, pardas e indígenas graduadas em Direito que pretendam prestar o
concurso para ingresso na Carreira do MPMG.
• Assegurar condições diferenciadas para que, dentro do público-alvo
estabelecido, mulheres que sejam mães também possam ter oportunidades de
aperfeiçoamento profissional bem como ingresso na Carreia do MPMG.
• Promover o efetivo acompanhamento das mulheres selecionadas, quanto às
demandas e necessidades que apresentarem, atinentes ao preparo para o
Concurso do MPMG, inclusive no âmbito psicossocial.

V. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO
Trata-se de iniciativa independente, protagonizada por mulheres, Promotoras
de Justiça, integrantes do MPMG, como já foi supramencionado, que compõem um
grupo de trabalho visando à elaboração, planejamento, acompanhamento e
monitoramento do presente projeto.
O público-alvo do projeto são mulheres autodeclaradas pretas, pardas e
indígenas, que tenham o interesse em prestar o concurso para ingresso na Carreira
do MPMG, abarcando-se, prioritariamente, as que já tenham a experiência jurídica de
no mínimo dois anos, tendo em vista a exigência de três anos constante nos critérios
do concurso.

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Para tanto, já foram angariadas 40 bolsas de estudo em instituições voltadas
para aperfeiçoamento do ensino jurídico (Cursinhos). O grupo de trabalho do projeto
seguirá divulgando a proposta com o objetivo de arrecadar doações e viabilizar bolsas
e voluntários para a iniciativa. Além do pagamento dos estudos, as doações serão
necessárias para compra de materiais, livros e apostilas, apoio para pagamento de
taxas de inscrições no concurso, entre outras.
Visando atingir o objetivo principal do presente projeto, inicialmente, o grupo de
trabalho elaborará e publicará o edital para seleção de 40 mulheres pretas, pardas e
indígenas para serem contempladas com as bolsas de estudo.
A seleção se dará por critérios referentes às condições socioeconômicas das
mulheres, bem como por critérios étnico-raciais, priorizando-se mulheres pretas,
pardas e indígenas de baixa renda. A análise se dará com base em informações
autodeclaradas pelas mulheres, por meio de formulário socioeconômico a ser
elaborado e disponibilizado no ato da publicação do edital de seleção.
Após a seleção, será criado um grupo em aplicativo de mensagens de celular,
que reunirá as Promotoras de Justiça que coordenam o projeto, as 40 mulheres
selecionadas, bem como eventuais parceiros e voluntários que venham a aderir a
iniciativa. Esse grupo garantirá o fluxo de informações e efetivo acompanhamento das
mulheres, até que elas prestem o concurso para ingresso na Carreira do MPMG. Por
meio desse grupo também serão articuladas as ações que serão detalhadas a seguir.
Primeiramente, as mulheres receberão as bolsas das instituições de ensino
voltadas para aperfeiçoamento jurídico, Cursinhos parceiros dessa iniciativa. Todo o
custeio dos cursos será proveniente das bolsas concedias, somadas aos montantes
que já estão sendo arrecadados por meio de doações de pessoas, físicas e jurídicas,
que estão aderindo à iniciativa.
A principal via de aperfeiçoamento jurídico continuado será, portanto, prestada
por essas instituições de ensino (Cursinhos). Paralelamente, além das aulas dos
Cursinhos, serão ofertadas aulas às mulheres selecionadas, pelo próprio grupo de
Promotoras de Justiça que estão protagonizando a iniciativa e/ou outros
membras/membros que eventualmente possam se voluntariar. As aulas terão como
assuntos os temas relevantes no âmbito do concurso do MPMG, desde estratégias de

15
estudo até as questões de atuação prioritária do órgão. Será feito um cronograma das
aulas com calendário e indicação do responsável por temática (que serão distribuídas
de acordo com a afinidade do voluntário/professor. As aulas serão gravadas e
transmitidas às mulheres, através do grupo criado no aplicativo de mensagens.
Além das aulas, serão realizadas rodas de conversas com temáticas que
extrapolem à preparação para o concurso, tais como as questões de igualdade de
gênero e de raça, relatos de experiências de aprovação com cotas em concursos do
MPMG, entre outras.
Outra ação do projeto será a distribuição de livros e materiais pertinentes aos
temas do concurso para a Carreira do MPMG, oriundos de doações dos parceiros
(voluntários).
Também serão organizados simulados de prova, escrita e oral, com o objetivo
de preparar as mulheres selecionadas para o concurso do MPMG.
Outras deficiências e necessidades, que eventualmente possam ser
identificadas, como, por exemplo, dificuldade com Língua Portuguesa e de produção
de textos e problemas de ordem psicossocial, o grupo de trabalho buscará solucionar
intermediando a colaboração de voluntários para apoio às mulheres.
Às selecionadas que forem mães e que eventualmente apresentarem
demandas e/ou dificuldades quanto aos cuidados de seus filhos durante as aulas e
atividades, serão asseguradas condições para a sua permanência no projeto, através
da garantia de vagas em creches, auxílios e/ou parcerias e voluntários para essa
finalidade.
A implementação do projeto será acompanhada e monitorada durante as
reuniões periódicas e por meio de grupo criado em aplicativo de mensagens do grupo
de trabalho formado pelas Promotoras de Justiça idealizadoras desta iniciativa.
Também serão feitas rodas de conversa e aplicação de formulários eletrônicos
visando à avaliação do presente projeto social por parte das mulheres beneficiadas
pela iniciativa, com o objetivo de aprimoramento da ação, que pretende-se extrapolar
ao presente cronograma, podendo-se ser contínua e replicável para os próximos anos.

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VI. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
2021 2022
Etapas/Ações
Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul

Escrever e
X X
elaborar o projeto.

Apresentar o
projeto e
X X
arrecadar bolsas
e doações.
Apresentar o
projeto e recrutar X X
voluntários.
Elaborar edital e
Formulário
X X
socioeconômico
virtual.

Publicar o edital X

Selecionar as
X X
mulheres
Criar grupo no
aplicativo de
mensagens de
X
celular com as
mulheres
selecionadas.

17
Implementar as
bolsas e
X ‘
matrículas nos
Cursinhos.
Acompanhar as
aulas dos X X X X X X X X X X X X
Cursinhos
Elaborar o
cronograma de
aulas gravadas a
serem ofertadas X X
pelos membros e
membras
voluntárias/os.
Executar o
cronograma de
aulas gravadas a
serem ofertadas
pelos membros e X X X X X X X X X X X X
membras
voluntárias/os
(gravação e
disponibilização).
Realizar rodas de
conversa X X X X X X
temáticas
Distribuir
materiais de
X X X X X X X X X X X X
estudo (livros e
apostilas).

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Realizar reuniões
de
acompanhamento X X X X X X X X X X X X X X X X
e monitoramento
do projeto.
Realizar roda de
conversa de
avaliação do
X
projeto com as
mulheres
selecionadas.
Aplicar formulário
virtual de
avaliação do
X
projeto pelas
mulheres
selecionadas.

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VII. ORÇAMENTO
Os recursos serão oriundos das bolsas concedidas pelas instituições de ensino
voltadas para aperfeiçoamento do ensino jurídico (Cursinhos) parceiras e de doações
de voluntários/as (pessoas físicas e jurídicas).
Ressalta-se que o grupo de trabalho composto pelas Promotoras de Justiça,
responsável por esta iniciativa, não fará a gestão de recursos financeiros. Todas as
doações recebidas serão destinadas diretamente às mulheres recebedoras ou à
instituição de ensino parceiras (para fins de complemento das bolsas concedidas).
Caberá às Promotoras de Justiça, portanto, coordenar e intermediar o contato com os
Cursinhos para a obtenção e efetivação das bolsas e das demais doações (materiais
de estudo, livros e apostilas).

Referências

AZEVEDO, Maria Clara Costa Pinheiro de; SERRA, Daniela Campos de Abreu;
FREITAS, Hosana Regina Andrade de; BERALDO, Maria Carolina Silveira; AZEVEDO,
Monica Louise de; e FREITAS, Ana Teresa Silva de. Diagnóstico e Perspectivas da
Desigualdade de Gênero nos Espaços de Poder do Ministério Público: “santo de casa
não faz milagre”? Tese apresentada no Congresso da AMMP, 2017. Disponível em:
https://congressonacional2017.ammp.org.br/public/arquivos/teses/55.pdf. Acesso em:
12 abr. 2021.

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO [CNMP]. Cenários de Gênero.


Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal/images/20180622_CEN%C3%81RIOS_DE_G%C3%
8ANERO_v.FINAL_2.pdf Acesso em: 12 abr. 2021.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA [IBGE]. Estatísticas de


Gênero. Uma análise dos resultados do Censo Demográfico 2010. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv88941.pdf Acesso em: 12 abr. 2021.

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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDA [ONU]. Agenda 2030. Os 17 Objetivos do
Desenvolvimento Sustentável. Disponível em: http://www.agenda2030.com.br/
Acesso em: 12 abr. 2021.

WORLD ECONOMIC FÓRUM. Global Gender Gap Report 2020. Disponível em:
http://www3.weforum.org/docs/WEF_GGGR_2020.pdf Acesso em: 12 abr. 2021.

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