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FONTE:

http://blog.kanitz.com.br/erro-ditadura-militar/

O Grande Erro da Ditadura Militar

Uma semana depois de assumirem o


governo, os militares patrocinaram uma
emenda constitucional número 9, que se
tornaria o maior erro deles.
Promoveram a emenda constitucional
número 9 de 22 Julho de 1964, e logo
aprovada 81 dias depois, que passou a
obrigar todo jornalista, escritor e
professor deste país a pagar imposto
de renda, algo que nenhum destes
faziam desde 1934.
Este é um dos segredos mais bem
guardado pelos nossos professores de

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história, a ponto de nem os novos
militares, jornalistas, professores de
história e escritores de hoje sabem o que
ocorreu de fato.
Os militares terminaram com o Artigo 113
n 36 da Constituição de 1934 e o mesmo
artigo 203 da constituição de 1946.
“Nenhum imposto gravará diretamente a
profissão de escritor, jornalista ou
professor.”
Por 30 anos foi uma farra, algumas
faculdades vendiam diplomas de
jornalista “até arcebispo era jornalista.” 5
Só que com esta medida os militares de
1964 antagonizaram, em menos de dois
meses de poder, toda a
elite intelectual deste país.

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Antagonizaram aqueles que até hoje
fazem o coração e as mentes das novas
gerações.
Estes, obviamente, se revoltaram
imediatamente, afinal “A maior parte da
grande imprensa participou do movimento
que derrubou o Presidente João Goulart e
foi, sem dúvida, um dos vetores de
divulgação do fantasma do comunismo”,
vide João Amado – Historiador.
“Grande parte dos jornalistas que tiveram
suas crônicas coletadas para este livro,
Alceu de Amoroso Lima, Antônio Callado,
Carlos Drummond de Andrade, Carlos
Heitor Cony, Edmundo Moniz, Newton
Rodrigues, Otto Lara Resende, Otto Maria
Carpeaux, entre outros, foram aqueles que
logo se arrependeram do apoio dado ao
golpe.”

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“Jornalistas que apoiaram o golpe de 64,
antes dele fazer aniversário, já eram
adversários do regime que ajudaram a
instalar”, continua Alzira Alves.
“Ao perseguir figuras que nada tinham de
comunistas ou subversivas, eram apenas
liberais e até apoiaram o golpe, a ditadura,
por assim dizer, perdia a razão.”
De fato, comunistas são contra uma
sociedade de classes, privilégios
classistas, e renda mal distribuída para
algumas classes.
Quem se considera superior, a ponto de
não pagar imposto de renda, não é
socialista muito menos comunista.
Mas notem que Amado, professor de
História, considera ter que pagar imposto
de renda uma “perseguição” classista.

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Antonio Calado, professor, escritor e
professor escreveria:
“O Golpe foi certo, mas seus
desdobramentos errados”. Calado se
tornou um de seus grandes opositores, um
ano depois.
Se os militares fossem de fato de direita,
como jornalistas, professores de história e
escritores não pararam de divulgar, eles
provavelmente teriam incluído nesta lista
classista.
Razões e apoio para isto não faltavam nos
primeiros dias do “Golpe”.
“Golpe” de mau gosto, de fato.
Os militares traíram justamente quem os
haviam inicialmente apoiado.

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E não há ninguém mais odiado neste país
que um traidor.
Jornalistas também não pagavam imposto
predial1, imposto de transmissão1,
imposto complementar2, isenção em
viagens de navio, transporte gratuito ou
com desconto nas estradas de ferro da
União, 50% de desconto no valor das
passagens aéreas e nas casas de
diversões. 3,4
Devido a estas isenções na compra de casa
própria, a maioria dos jornalistas tinha
pesadas dívidas, e a queda de 15% nos
seus salários causou sérios problemas
financeiros e familiares.
Some-se a inflação galopante que se
seguiu, o baixo crescimento do PIB, e
levaria uns 10 a 15 anos para jornalistas,
escritores e professores recuperarem o

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padrão de vida que tinham antes do duro
“golpe” financeiro que os militares
causaram.
Não é de se espantar que passado 50 anos
os militares continuam sendo perseguidos
por comissões da verdade, reportagens, e
tudo o mais, apesar dos militares hoje
serem outros.
Foi uma desfeita e tanto. Colocaram estas
classes a nu.
Nenhum jornalista, professor ou escritor,
nem mesmo os de esquerda escreveram
um artigo sequer contra este privilégio
que desfrutavam que durou quase 30
anos.
Enquanto IPI e ICMS pagos pelas
empresas servem para financiar
infraestrutura, estradas, portos, etc, é
justamente o imposto de renda que

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usamos para reduzir a pobreza, cuidar
dos inválidos, pagar o Bolsa Família.
Dispensar jornalistas cegos, professores
paraplégicos, escritores com deficiências
mentais de pagar imposto de renda seria
mais do que justificável, afinal são estes
que merecem ajuda para poderem
competir com jornalistas, professores e
escritores de posse de tudo que é
necessário para serem autossuficientes
do estado.
Mas é justamente o imposto de renda que
nossos intelectuais brilhantemente
conseguiram burlar, e por sinal reclamam
até hoje.
Em 2013, a Revista Exame da Editora
Abril, comenta esta isenção da seguinte
forma.

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A isenção (infelizmente) foi revogada em
1964, por meio da Emenda Constitucional
nº 9 de 22 de julho de 1964.
Alberto Dines, do Observatório de
Imprensa, em 2012 comenta:
“Getúlio, muito inteligentemente, atuou
para melhorar o padrão social do
jornalista. A legislação do Getúlio deu
grandes vantagens.”
Em discurso no dia do Professor na
Associação do Ensino Superior, conclama:
“Os professores mais antigos devem sentir
saudades dos tempos em que os professores
eram realmente respeitados e
valorizados, como acontecia, por
exemplo, durante a vigência da
Constituição Federal de 1946 artigo
203.“

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Por que então os militares foram tão
burros, segundo Alberto Dines, de se
indispor justamente com a imprensa?
De serem acusados de desrespeitar e não
valorizar os professores deste país?
Por que foram fazer esta medida logo no
início, quando ainda estavam com outros
problemas para resolver, e não cinco anos
depois?
Duas possibilidades.
Uma é que este privilégio classista estava
na garganta de todo militar, advogado,
médico, enfermeira, bombeiro, policial,
pela sua hipocrisia e pelo seu abuso onde
até arcebispo estava sendo beneficiado.
A segunda hipótese, é que Castelo Branco
de fato pretendia ficar 18 meses, somente
até o fim de mandato de João Goulart.

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Tanto é que manteve o Congresso, mudou
algumas leis como esta, e aboliu 13
partidos, achando que o problema do
Brasil era a profusão de partidos, e que a
solução seria forçar a ter dois, como na
maioria dos países do mundo.
Prever o passado é um exercício fútil, mas
se os militares tivessem sido mais
maquiavélicos, não teríamos a reação
contrária que surgiria anos depois,
quando o imposto de renda de fato
começou a ser cobrado.
Os poucos jornalistas de direita da época,
ficaram mudos e inertes. Os jornalistas de
esquerda tinham razão, e puderam
exercer o seu papel de oposição e
influenciar toda uma nova geração de
jornalistas.

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E foi esta súbita mudança de tom dos
jornalistas, professores de Sociologia,
História, Política e Ciências Sociais, que
assustou a ala mais radical do Exército a
não devolver o poder como Castelo
pretendia e ficar 21 anos.
Me lembro de que na época de se propor
uma nova constituinte ou não, para
derrubar a Constituição de 1967 votada
na época dos militares, vários professores
de Ciência Política sugeriram que
deveríamos é reinstituir a de 1946.
Na época eu não sabia deste artigo 203.
Quero deixar bem claro que não conheço
nenhum militar, jamais fui procurado na
vida por um militar para discutir assuntos
de administração, professor que era.
Tudo aqui é fruto de pesquisa na Internet,
que quatro anos atrás havia uma única

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referência, muito pouco para ser prova
histórica. Hoje já temos umas 34
referências, é só pesquisar o trecho da
Constituição suprimido.
Para os militares se redimirem e
reerguerem a imagem do Exército e das
Forças Armadas, seu orçamento e
capacidade de combater o narcotráfico
internacional e outros problemas, acho
que deveriam ser também tão cínicos
quanto e assim proporem a volta do artigo
203.
E desta vez, para garantir que ela nunca
mais seja revogada, incluir a classe de
militares, já que ética no Brasil não vale
para nada.
art 203. “Nenhum imposto gravará
diretamente a profissão de escritor,

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jornalista, professor, militar, médico,
enfermeira e policial.”
Algo para os jovens militares, jornalistas,
médicos, enfermeiras pensarem.
1 Art 27 – Durante o prazo de quinze anos,
a contar da instalação da Assembleia
Constituinte, o imóvel adquirido, para sua
residência, por jornalista que outro não
possua, será isento do imposto de
transmissão e, enquanto servir ao fim
previsto neste artigo, do respectivo
imposto predial.
2. LEI Nº 986, DE 20 DE DEZEMBRO DE
1949.
3. Jânio de Freitas “Até a década de 60, os
jornalistas gozaram do privilégio, por
exemplo, de não pagar Imposto de Renda e
de só pagar 50% das passagens aéreas.
Uma das consequências, para citar uma de

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tantas, era o grotesco princípio de gratidão
que proibia publicar-se o nome da
companhia de avião acidentado.”
4. Alberto Dines “O Sindicato dos
Jornalistas do Rio de Janeiro era
uma agência de viagens. Era
uma corrupçãotremenda.”
5. O Luto dos Jornalistas Em Santa
Catarina, antes da regulamentação, todo
mundo era “jornalista”. Queriam os
privilégios da isenção do Imposto de
Renda e desconto de 50% nas passagens
aéreas. Até o arcebispo tinha carteira de
jornalista.

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