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Introdução
tanto os estudos de gênero como os estudos pós-coloniais são áreas vitais de pesquisa à
forma, este trabalho é revelador de narrativas que tentam abafar ou degradar a mulher
como sujeito engajado nas suas práxis sociais. Através de recortes das obras referidas,
representações do amor, como uma imagem que tece o imaginário erótico ou exótico, e
das narrativas que circundam essas identidades culturas. A dupla presença deste tema
demonstra um ato de resistência e busca por um espaço para voz feminina nas literaturas
como os frutos.
Contextualização
Portugal, sua escrita literária preocupa-se com o seu lugar de origem: o Timor-Leste.
construída tanto por ficção quanto por uma realidade pertinente à consciência coletiva
protagonista Catarina, que a ilha é descrita como ―um navio encalhado no fim do mundo
onde nada havia para fazer e tudo estava por fazer, doce encanto dos territórios do além-
casa com gatos e descobre que a realidade não é exatamente como seu pai e sua
educação europeia a havia descrito. A protagonista depara-se com um lugar no qual é
indesejada, estrangeira e degradada: ―Você não devia ter vindo Cathy‖, o que revela um
imaginário contaminado por imagens sonhadoras que não constituem de forma alguma a
evidenciadas pela literatura de Paula Tavares. Assim como Cardoso, a autora também
vive em Portugal, e sua criação literária produz predominantemente conexões com o seu
do resgate tanto entre as sensações de seu corpo e o espaço físico quanto com os ritos
que abre o livro, encontra uma série de poemas cujos títulos trazem vegetais. Os
vegetais, contudo, funcionam como metáforas ao corpo, uma vez que, sinestésica e
contornos anatômicos e das texturas da pele do corpo feminino. Alguns exemplos disso
está traduzida pelo provérbio da filosofia cabinda, prenunciado antes dos primeiros
contextos coloniais. Dessa forma, pretendeu-se observar de que forma alguns aspectos
Sexualidade e Patriotismo‖, Dóris Sommer coloca o amor como parte importante para a
consolidação dos Estados nacionais da América Latina no século XIX. A autora analisa
a questão por meio dos romances fundacionais latino-americanos, nos quais constata a
uma consolidação não violenta dos incomensuráveis conflitos integradores das nações
que o amor funciona como forma de pacificação e de uma ideia de união frente à
romance de Cardoso traz uma personagem que vive uma história em que esse
imaginário também é construído nas suas vivências, entretanto, de forma que o autor
um enlace amoroso para a sua vida. Assim, ela tinha ciência de que só poderia realizar o
que almejasse depois de satisfazer o desejo de seus pais ―fazendo um príncipe feliz‖
personagem, como ideal romântico de resolução dos conflitos que afetam de diversas
daquela que havia sido idealizada por seus pais e encontrada nos romances: ―Lamentei
que a minha preceptora não me tivesse dito que os contos de fadas só existem mesmo
destruição do ideal de resolução de conflitos coloniais por meio do amor. Nesse sentido,
o autor revela o jogo de interesses por trás dessas relações, demonstrando que o amor
ironia latente no romance, que abre espaço às ideias trazidas por Sommer (1994) a
respeito do papel dos romances nacionalistas: "bons negócios geram sempre bons
casamentos, dizem os cânones entoados com abusivas repetições antes de cada enlace"
diferente, uma vez que é violentada pelo marido, apesar de ter seguido o ideal imposto
colonial. Para a angolana, nas sociedades coloniais, o amor não consegue ser visto como
meio de situações relacionadas à condição social, quando ter muitos filhos, por
amor, desencadeado principalmente pelo forte desejo e paixão. Além disso, a mulher
adquire, em muitos poemas, um caráter libertador frente ao que seria imposto enquanto
amoroso. O poema ―Devia olhar o rei‖ é emblemático, nesse sentido, pois apresenta um
eu lírico que se sente interpelada socialmente a amar o rei, e que, no entanto, deseja e
realiza o amor com o escravo: ―Devia olhar o rei/Mas foi o escravo que chegou/Para me
nesse caso, não apenas sujeitado pelo desejo, mas é corpo sujeito de desejo: ―O escravo
era novo/Tinha um corpo perfeito/As mãos feitas para a taça de meus seios‖
A esses movimentos produzidos por nações hibridas, caracterizadas por marcas tanto da
invasores da terra. Mais especificamente, estão sob controle dos homens (detentores do
traumas que atravessa na ilha. Mesmo após muitos enfrentamentos, como o seu estupro,
o rapto do filho, a perda da casa em chamas e a morte de sua melhor amiga e filha
adotiva, Catarina ainda assim não se dá por vencida: desejava recuperar seu filho.
Através da memória, retorna aos saberes ancestrais passados pela mãe, que através do
poder das palavras, detêm um poder curativo da alma e do espírito, para, dessa forma,
- Se não tens todos os meios para lutar contra um dragão, não o enfrentes.
Procura antes dotar-te com os meios necessários. (...) Eu tinha a consciência
de que eram apenas palavras como tantas outras repetidas pelos devotos nos
cantos, salmos e orações, mas naquele momento era um conforto lembrar-me
delas. Ensinaram-me que as palavras curam tanto como os remédios
(CARDOSO, 2009, p.54).
feriu-se na pedra/ a pedra produziu lume/ a rapariga provou o sangue/ o sangue deu
vinho/ o vinho cresceu o canto/ o velho começou o círculo/ o círculo fechou o princípio/
dos homens estrangeiros que chegam à ilha. A obra destaca muitas vezes a
representação do olhar masculino frente ao corpo da mulher oriental. A personagem
Ocorreu-lhe acrescentar que a sedução é uma mulher vestida de seda, saboreando uma
chávena de café de Timor e fumando tabaco de Java num salão de homens em Xangai.
O visitante, durante todo o tempo em que esteve em nossa casa, não tirou os olhos nem
de mim nem de uma peça amarela que não era de pedra, mas de carne e osso, e
representava uma menina chinesa com pretensões culturais exóticas (CARDOSO, 2009,
p. 20).
como ―uma das contradições internas do racismo que mascaram com frequência uma
atração pelo objeto detestado‖ (SHOHAT; STAM, 2006, p. 47). Na obra de Cardoso,
essa atração não é mascarada no que se refere às mulheres, dado que a ficção erótica é
retratada pelo masculino sem sutilezas em relação a ver as mulheres como exóticas.
Para Shohat e Stam (2009), o ―racismo pode ser, portanto, adepto da arte do falso
masculinas que ouve: "os ingleses amavam a Índia mas detestavam os indianos.
especiarias, sendo a mais picante delas, a morena de Goa mais o seu delicado umbigo
2009, p. 33). Como apontam Shohat e Stam, ―o exotismo utiliza seu objeto para o prazer
do dominador, tomando o outro colonizado como uma ficção erótica que mistifica o
A obra poética de Paula Tavares, por sua vez, não traz representações exóticas
por meio do erotismo, dado que este parte do anseio do corpo feminino, que descobre a
si mesmo e celebra o desejo do corpo. Se existe, dessa forma, um erotismo latente, pela
corpos.
Considerações finais
amor, nas atividades pedagógicas de um espaço cultural, assim como no discurso racista
práticas pedagógicas. Para isso, precisa narrá-lo e destituí-lo de sua subjetividade. Nesse
representação desses sujeitos femininos nos dois contextos literários difere-se em alguns
sentidos.
mulher enfatiza o domínio do seu corpo como seu. Este caminho de reapropriação está
colocado tanto pelos caminhos do desejo quanto pela busca do sagrado. Apesar de
aparentar não ter uma atividade política de resistência, a subjetividade do sujeito
Tavares, pois baseia-se em uma denúncia dos horrores coloniais, retratando como
sua criação, passa por um processo de engessamento para que não questione ou coloque
em cheque os poderes vigentes. O exotismo, portanto, pode ser entendido como uma
Tavares em sua poesia, são conscientes dos horrores e das violências trazidas pela
reguladoras operam nos melindres sociais que vivemos e afastam a mulher de certas
imaginário misógino do homem branco heterossexual? E, por fim, de que forma essas
narrativas possibilitam revelar a opressão para que a mulher possa, efetivamente,
REFERÊNCIAS: