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Contemporânea
Objetivos da Unidade:
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
1 /3
ʪ Material Teórico
Passou-se a questionar todo conhecimento que antes era empírico e nada teria valor para a
ciência se não fosse pesado, medido e quantificado; era, assim por dizer, o estabelecimento do
método científico, como viria a ser detalhado por Descartes no seu discurso do método.
Descartes rompeu com o empirismo dando lugar ao racionalismo, criando o método científico
baseado em quatro preceitos básicos: não aceitar as verdades estabelecidas anteriormente se
não tivessem sido provadas como verdadeiras; esmiuçar as dificuldades propostas, dividindo-as
em quantas partes fossem possíveis, para resolver de forma mais adequada cada uma delas;
iniciar elucidando os problemas mais simples e, como quem põe tijolo sobre tijolo, ir
ascendendo os graus de dificuldade, partindo do pressuposto de que existe uma ordem entre
eles, mesmo que não pareça; cercar o problema com revisões bem completas e em grande
número de forma a não deixar nenhum detalhe escapar, para que não se tivesse nada mais o que
ocultar diante dos resultados.
A influência desse pensamento renascentista sobre a ciência, sobre a medicina e tudo que a
rodeava, como a cirurgia e os barbeiros-cirurgiões, por exemplo, teve um impacto muito grande
e que reverbera até os dias atuais, fomentando o surgimento das especialidades médicas que
visavam entender as partes e saber como lidar com cada uma delas, para se chegar ao sistema
como um todo. Talvez daí, o barbeiro-cirurgião tenha começado a deixar de ser um faz-tudo,
aquele que cortava os cabelos, fazia a barba, cuidava dos dentes, fazia sangrias, tratava de
hemorroidas, obstruções uretrais, amputações, calos, unhas encravadas e um grande et cetera, e
tenha iniciado a fragmentação do corpo humano para se conhecer os detalhes e trabalhar sobre
eles, cada um na sua especialidade. Talvez, nesse momento tenha surgido o podólogo ou
podiatra, ainda que não fosse sob a mesma denominação, como conhecemos hoje, assim como
surgiu o dentista, o oftalmologista e outras especialidades da área da saúde. Contudo, veremos
mais adiante que esse modo de pensar tem encontrado esgotamento na sociedade, porque o ser
humano está sempre buscando responder àquelas primeiras questões com as quais ele se
deparou quando contemplou o Universo há milhares de anos: qual é a natureza do Universo?
Quem eu sou? De onde vim e para onde vou?
fragmentar o máximo possível o ser humano para chegar ao local exato da lesão ou
doença, e um paradigma (holístico) que analisa e observa principalmente o doente,
não sua doença, que aborda o ser humano de forma global, corpo físico, mental e
emocional.”
É certo dizer que na Idade Moderna abandonamos o pensar de que a doença era um castigo de
Deus e uma enfermidade da alma, e passamos a dar valor ao modo de pensar mecanicista, que
enxergava a doença como um problema físico a ser desvendado e, para isso, era necessário
dividir ao máximo o indivíduo para conhecer e saber como tratar cada doença. Não foi do nada
que no final da Idade Moderna surgiu um movimento liderado por um mecanicista extremado,
La Mettriê (1709), médico e filósofo francês, cujos escritos demonstravam a existência tão
somente do “homem máquina”, reduzindo o ser humano apenas aos aspectos materiais e
sensoriais.
Por um lado, a Idade Média levou o homem ao beco do obscurantismo, dos dogmas religiosos
que se sobrepunham ao conhecimento científico, conhecimento este que era desprovido de
método e comprovação. Por outro lado, ao romper com o passado, esses homens modernistas
desenvolveram o método científico, encontraram grande oposição da Igreja constituída, alguns
sofreram perseguição, como Galileu Galilei, julgado e condenado à prisão por defender achados
científicos, como aquele que diz que a Terra se move ao redor do Sol, o heliocentrismo. Ao sair
da inquisição da Igreja Católica, Galileu Galilei teria dito “eppure se muove” (no entanto ela se
move).
Mas esse movimento não se deu como num piscar de olhos. Ele foi lento, foi o surgimento da
Podologia, posto que antes o que tínhamos era um profissional, se assim podemos dizer, que
tratava dos pés à cabeça, aprendendo e ensinando de pai para filho, treinando por empirismos,
suprindo uma lacuna que a medicina havia deixado de lado, mas que no Renascimento se deu
conta dessa dicotomia, cirurgião x médico, e foi buscar preenchê-la, resgatá-la.
Diz-se que Jacobus Maximus (1622), italiano radicado na Alemanha, teria sido o precursor da
Podologia, o primeiro podólogo, de fato, da Europa. O grande feito de Jacobus Maximus teria sido
utilizar uma pedra chamada “pedra de safonya”, um tipo de pedra-pomes para desbastar
calosidades, e ele teria se ocupado de apenas cuidar dos pés das pessoas.
Conforme a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna foi acontecendo, a maneira de
formar um barbeiro-cirurgião e as regulamentações foram se tornando mais claras.
Em alguns lugares, ainda prevalecia uma forma medieval de formação, o que nos faz inferir que
não se passou de uma fase para a outra como num passe de mágica.
Existem relatos de formas ainda medievais de formação, como acordos em que um pai levava o
filho a um barbeiro-cirurgião professor, e todos iam a um cartório lavrar um documento com a
passagem da guarda e dos direitos paternos desse filho ao barbeiro-cirurgião por um período de
dois ou três anos, a fim de que o barbeiro-cirurgião ensinasse a esse filho a “arte” de fazer as
cirurgias e de curar. Pelo documento lavrado em cartório, ficava expresso que, em troca desses
ensinamentos, o barbeiro-cirurgião teria os direitos paternos sobre o aprendiz, que por sua vez
deveria cuidar de todas as atividades domésticas, como um servo, durante esse tempo de
aprendizagem, isso no ano de 1536 (BLÁZQUEZ, 2008).
Também no início do século XVI, foram instituídas, por alguns governos, regras mais formais
para o exercício da profissão de barbeiro-cirurgião. Uma delas era o “Protobarberato” (órgão
que regulamentava e onde se fazia o exame para trabalhar como barbeiro), para separar as
atividades de vários barbeiros, como o barbeiro simples, que fazia atividades mais básicas como
barbear e cortar os cabelos, e o barbeiro-flebotomista, que fazia as sangrias e as cirurgias
(também conhecido como barbeiro-sangrador), a quem era permitido desbastar calos, extrair
dentes, colocar sanguessugas para a sangria e outras atividades afins (BLÁZQUEZ, 2008).
A tentativa de regulamentar o exercício da cirurgia não era uma tarefa simples, e ficavam à
margem da regulamentação muitos profissionais práticos, como parteiras, algebristas
(colocavam ossos no lugar), litotomistas (desobstruíam a uretra), hernistas (faziam cirurgias
de hérnias, e, segundo Blázquez, muitas vezes, acabavam por “castrar” o paciente), batedores
de catarata (tratavam das cataratas), “sacamuelas” e calistas (dentistas e calistas) (BLÁZQUEZ,
2008).
No ano de 1700 d.C., havia na França um convento católico que seguia a ordem de Santa Anna,
cujo lema era “praticar o bem-estar do silêncio, o regime do pão preto e fazer a pedicuria aos
pobres e doentes” (BLÁZQUEZ, 2008, p. 80). Num dia de 26 de julho, teria entrado para esse
convento uma jovem chamada Clotilde Heristal, que teria levado muito a sério os cuidados com
os pés dos pobres até o fim da sua vida e, inclusive, teria deixado como legado alguns escritos
sobre esse tema. Por isso, a França adotou o dia 26 de julho, dia de Santa Anna, como o dia dos
profissionais que cuidam dos pés, e muitos países teriam adotado essa data comemorativa.
Na mesma França, tendo nascido por volta de 1700, Laforest, que era cirurgião-pedicuro de Luís
XVI, publicou, em 1781, o livro “A Arte de Curar os Pés”. Talvez tenha surgido, então, o primeiro
livro escrito por um pedicuro, um precursor da Podologia, da Podiatria.
Pouco depois, na Inglaterra, Low David, publicou, em 1785, um livro chamado “Quiropodologia”.
Sobre isso, Thomas Urien Blázquez lança dúvidas se essa obra teria sido publicada por Low
David ou se seria uma tradução da obra de Laforest, antes publicada na França (BLÁZQUEZ,
2008).
Vamos atravessar o Oceano Atlântico e viajar pelo sul do continente americano, para ver o que
estava acontecendo no Brasil, no império e, posteriormente, na república.
Sabe-se que o Brasil era muito influenciado pela corte portuguesa e pelos acontecimentos da
Europa, mas essas influências estavam mais direcionadas para a elite branca que havia
colonizado a terra nova e havia escravizado o “negro da terra”, o índio, e trazido para cá o negro
africano, também na condição de escravo. Dessa inevitável mistura estava surgindo o brasileiro,
mas ainda assim as novidades que atravessavam o oceano chegavam antes para a elite.
Certamente, não foi diferente com a pedicuria, com a quiropodia.
Antes mesmo de chegar o “operador de calos”, como se intitulava Luiz Keller, pela sua
publicidade na florescente cidade de São Paulo, turbinada financeiramente pela cultura do café e
pelo início da industrialização, já existia a figura do barbeiro-cirurgião desde séculos anteriores,
como demonstrou a criação artística livre, mas baseada na história do desenvolvimento da Vila
de São Paulo de Piratininga e da história dos bandeirantes, intitulada “A Muralha”, explicitada
numa cena que retrata o barbeiro-cirurgião, típico da Idade Média, para acudir a uma senhora
doente, aplicando sanguessugas para lhe fazer sangria.
No final do século XIX, havia a prosperidade para os senhores da terra, ainda que problemas
relacionados à falta de saneamento básico e à miséria ocupassem as mesmas cidades, o mesmo
País, com o surgimento das favelas, a falta de hospitais, as doenças infectocontagiosas e a
ignorância do povo, que em 1904 se revoltou contra o sanitarista Oswaldo Cruz para que não
fossem vacinados contra a varíola, uma epidemia que viria a matar milhares de brasileiros,
exatamente por não terem se vacinado, uma vez que o governo da época capitulou diante da elite
e, contrariando Oswaldo Cruz, tornou a vacina facultativa, algo parecido com o que vivemos no
ano de 2020 em relação à pandemia do coronavírus Sars-CoV-2, causador da doença Covid-19.
Para o ser humano, parece que 120 anos se passaram e foi muito tempo, que o povo aprendeu,
evoluiu, mas para a humanidade, o tempo, esse tempo, é um sopro, porque pouco mudamos,
inclusive no que diz respeito à luta pela regulamentação da profissão de podólogo, como
veremos a seguir.
Assim chegamos em 1890, cidade de São Paulo, e nos deparamos com uma publicidade:
59. Interior, quarto número 1, onde acaba de abrir um modesto gabinete para o
exercício da sua profissão, sendo encontrado das 11 da manhã às 4 da tarde.”
Quem lesse essa publicidade entenderia que o “calista” brasileiro seria uma profissão igual a do
calista ou cirurgião-pedicuro europeu, pois dizia que Luiz Keller era um “operador de calos”.
Mas algo aconteceu nesse percurso e o que viria a ser a Podologia não se desenvolveu como sua
irmã primogênita da Europa. É certo, pois, dizer que, com o passar do tempo, criamos uma crise
de identidade que vem dificultando o estabelecimento da Podologia como uma profissão
regulamentada, nos moldes da maior parte dos países europeus, dos estados do Canadá, da
África do Sul e da Oceania. Enquanto a formação dos pedicuros, calistas, quiropodistas,
cirurgiões-pedicuros já era, em muitos desses países, levada a sério pelas autoridades, com uma
carga horária de aproximadamente 3 mil horas, com o desenvolvimento de competências que
levariam à cirurgia, à biomecânica e à prescrição de medicamentos, no Brasil o pedicuro era
subordinado a outras profissões e já no início dos anos 1930, do século XX, pouco se exigia para
exercer a pedicuria, pouco mais do que um exame sobre higiene e algumas doenças superficiais,
além do testemunho de clínicos, para obter um título de enfermeiro-pedicuro.
Isso foi um terreno fértil para o desenvolvimento de uma pedicuria que se distanciava das raízes
históricas da Podologia e culminou numa divisão da Podologia, tendo, de um lado, aqueles que
procuram seguir a ciência e, do outro lado, os que se intitulam “podólogos de resultados”,
aqueles que dão menor valor à ciência, mas precisam dela para se dizerem podólogos. Uma
terceira corrente ainda surgiu, aproveitando o menosprezo à ciência por parte de um grupo dos
que se intitulam podólogos. Por outro lado, essa terceira corrente também se aproveitou da
ambiguidade que desde a década de 1930 do século XX tomou conta da profissão precursora da
Podologia no Brasil, não assumindo a sua autossuficiência no âmbito das competências e da
formação, como ocorrera na Europa e na maior parte da América do Norte, e vem buscando
mesclar a Podologia com neologismos ocupacionais, como os que se intitulam quirodatilogistas,
aqueles que misturam a Podologia com os cuidados das mãos, indo na contramão do
desenvolvimento da Podologia mundial, bem como os enfermeiros que buscam ocupar o espaço
do podólogo se intitulando podiatras, como se fossem graduados em Podologia/Podiatria e não
como especialização da Enfermagem.
Como se não bastasse, ainda existem aqueles que levam a Podologia para dentro da área da
beleza. Com todos os avanços da Podologia brasileira que, como veremos, foram muitos nas
últimas décadas, inclusive nos equiparando aos centros mais avançados da Podologia mundial,
coexistimos com uma Podologia medieval e “pré-contemporânea”.
Fazendo uma busca sobre precursores da Podologia no Brasil, deparei-me com uma publicação
falando sobre um profissional que viveu em Santa Catarina na primeira metade do século
passado, e que pela sua prática nos faz lembrar os pedicuros do final da Idade Moderna e início
da Idade Contemporânea na Europa. Trata-se do “Certificado de Aptidão” de um profissional
que, no início do século XX, dedicou-se à arte dentária em Blumenau, foi expedido na região de
Cöhn, na Alemanha, e encontra-se datado de 1906. Segundo o certificado, a aptidão foi
concedida mediante prova escrita e permitia ao profissional o direito de ser titulado “auxiliar de
cura público, testado, massagista e calista qualificado”.
A Associação Brasileira de Pedicuros foi criada no dia 4 de dezembro, de 1964, e esse dia seria
formalizado como o dia do podólogo no Brasil, em homenagem à fundação da ABP,
diferentemente de outros países, que comemoram o dia do podólogo em 26 de julho, dia de
Santa Anna ou no dia 8 de outubro, este último instituído pela Federação Internacional de
Podólogos e Podiatras. Até então, como podemos perceber, pouco se sabe sobre a Podologia do
passado no Brasil, a não ser por documentos institucionais e por um ou outro fato que se
conseguiu buscar em registros publicados ou histórias contadas que foram passando pelo
tempo.
A fundação da Associação Brasileira de Pedicuros, que mais adiante teve seu nome mudado para
Associação Brasileira de Podólogos, contou com a presença de renomados pedicuros calistas da
época, nomes como Ary de Araújo Silva, Lacy Neves de Azevedo, Mário Coelho Avellar, José de
Aguiar, Atílio Gomes Benites, José Bertoni, Carlos Alberto da Silva, Joaquim Irineu Galvão,
Scipião Fernando Pugliese, Benito Marcos Peres, Jorge Lima, Rafael A. De Souza Toledo,
Fernando Bedoya de Obra, Francisco de Assis Caldeira Brandt, José Ferreira Silva, Fernando
Caruso Filho, Ismael Bosch, Elias Pistori, Wilma Abranches, Liebrino Eberhardt Winter, Dirce
Winter, Alfredo Domingos Pistori, João F. Costa, Luís Fernandes da Silva e José Antônio Castella,
reuniram-se na noite do dia 4 de dezembro de 1964, no centro da cidade São Paulo, à Rua 24 de
Maio, nº 35, conjunto 1.203.
Assim, fizeram uma assembleia e fundaram a ABP, tendo como primeiro presidente Lacy Neves
de Azevedo, que eu tive o prazer de conhecer no seu último ano de vida, em 1988, quando ele
ainda era professor de Podologia, então pedicuro, no Serviço Nacional de Aprendizagem
Comercial – Senac, na Avenida Tiradentes, próximo à região central da cidade de São Paulo.
Figura 2 – Acervo ABP – Associação Brasileira de
Podólogos
Fonte: Reprodução
Nos meados da década de 1990, do século XX, a pedicuria muda de nome e assume a
denominação de Podologia quando o curso de Pedicuro do Senac foi transformado em curso
técnico de Podologia, aliás, a mudança de nome de pedicuro para podólogo, oficialmente, se deu
no ano de 1997, e esse curso formava técnicos de Podologia com uma carga horária de 940
horas, sendo aumentada para 1.200 horas, no ano 2000, a fim de seguir a Lei de Diretrizes e
Bases dos Cursos Técnicos.
Muitos pedicuros calistas fizeram o complemento da carga horária para se tornarem técnicos de
Podologia, não só nessa primeira escola, mas em outras escolas técnicas que começaram a
surgir no País, como o CR Curso de Cabeleireiro e Podologia, que mais tarde viria a se dedicar
somente aos cursos de Podologia e se transformaria no Instituto Brasileiro de Podologia –
IBRAP, com sede no Rio de Janeiro, uma das primeiras escolas a ter o curso técnico de Podologia,
além do Senac. Essas escolas técnicas se multiplicariam nos anos seguintes e hoje somam
dezenas delas espalhadas pelo Brasil, mas ainda assim, em muitos lugares seguem existindo o
curso profissionalizante e os cursos livres de Podologia, com cargas horárias inferiores a 1.200
horas, aproveitando-se de brechas da legislação ou mesmo da falta de regulamentação da
profissão.
Nesse mesmo ano, Armando Bega, Camilo Azevedo, Marcelo Azevedo e Damaris Damiani
apresentaram um tema sobre as órteses ungueais no Seminário de Pedicuros no Senac em São
Paulo, cabendo a Armando Bega e a Damaris Damiani apresentarem as órteses metálicas e
elásticas. Camilo Azevedo e Marcelo Azevedo apresentaram as órteses acrílicas, que haviam sido
aprimoradas por Lacy Azevedo, pai de ambos. No final do seminário, foi feita uma enquete entre
os participantes para saber que curso de extensão eles gostariam de ter e, por quase
unanimidade (eram aproximadamente 120 participantes), foi escolhido o curso de órteses
ungueais metálicas e elásticas.
A partir dessa data, em 1993, Armando Bega passou a ministrar cursos de extensão de
ortoniquia metálica e elástica para cada turma que se formava como pedicuro, e Camilo Azevedo
ensinava a ortoniquia acrílica. Assim foi até o ano de 1996, quando foi fundada a Sociedade
Científica de Podologia do Brasil – SCPB e esses cursos passaram a ser ministrados pela SCPB,
bem como teve início a realização das Jornadas Internacionais de Podologia, no mês de fevereiro
de 1996, em São Paulo, também organizadas pela SCPB, que viria a se transformar no Instituto
Científico de Podologia – ICP, e, entre outros feitos na Podologia brasileira, passaria a organizar
as jornadas internacionais de Podologia, depois renomeadas como “Congresso Internacional de
Podologia”, organizado, anualmente, na cidade de São Paulo e responsável por trazer para o
Brasil podólogos e podiatras do mundo todo, incorporando técnicas avançadas de Podologia e
equiparando a Podologia brasileira aos avanços tecnológicos e científicos da Podologia mundial.
Foi um marco para a modernização da Podologia brasileira.
Naquela época, Armando Bega dava aulas de extensão no Senac, ensinando as órteses ungueais
metálicas e elásticas. Durante o curso, Carlos Rodriguez teceu uma crítica às órteses metálicas e,
no dia seguinte, Armando Bega apresentou dezenas de casos, moldes mostrando a unha antes e
depois das órteses, demonstrando o sucesso com o tratamento da ortoniquia metálica. Carlos
pediu para fotografar esses moldes e continuou ensinando a usar as fibras e a confeccionar e a
aplicar as órteses de silicone. Alguns dias se passaram e Carlos Rodriguez chamou os pedicuros
Maísa Horner e Armando Bega para estagiarem no consultório dele em Buenos Aires, Argentina,
e na Podologia do Hospital Italiano de Buenos Aires.
Figura 5 – Estágio Hospital Italiano de Buenos Aires, 1995
Fonte: Acervo do Conteudista
Figura 6 – Estágio Consultório Carlos Alberto Rodriguez,
1995
Fonte: Acervo do Conteudista
Figura 7 – Estágio em Buenos Aires, 1995
Fonte: Acervo do Conteudista
Figura 8 – Estágio no Hospital Italiano de Buenos Aires,
junho de 1995
Fonte: Acervo do Conteudista
Alguns dias depois, esse estágio aconteceu e, durante a estadia dos pedicuros brasileiros em
Buenos Aires, Carlos Rodriguez propôs que eles organizassem no Brasil a 1ª Jornada
Internacional de Podologia, a fim de impulsionar a Podologia brasileira inserindo novas técnicas
e colocando os brasileiros em contato com os mais importantes avanços da Podologia mundial.
Nesse congresso, discutiu-se a criação de uma associação no Brasil para organizar as jornadas
internacionais de Podologia e fomentar o desenvolvimento podológico brasileiro e, para esse
fim, foi criada a Sociedade Científica de Podologia do Brasil – SCPB, que organizaria, nos dias 2,
3 e 4 de fevereiro de 1996, a 1ª Jornada Internacional de Podologia, um marco para a profissão
no Brasil, pois com esses eventos, que se tornaram anuais, os pedicuros e depois técnicos de
Podologia e podólogos brasileiros teriam a oportunidade de ver o universo da Podologia mundial
dentro do Brasil, abrindo as portas para novas técnicas, para a busca por mais conhecimento,
por competências e pela ciência, nascendo, daí, o anseio por um curso de graduação em
Podologia, além de um grande rol de tecnologias e técnicas que, paulatinamente, seriam
implantadas no cotidiano do podólogo.
Em 1997, aconteceu a 2ª Jornada Internacional de Podologia, na cidade de Itapecerica da Serra,
no estado de São Paulo e, daí em diante, esse evento passou a ser organizado pelo Instituto
Científico de Podologia – ICP.
Muitos avanços surgiram nos anos de realização dos Congressos Internacionais de Podologia do
Brasil (Jornada Internacional). Foi a abertura para o universo da Podologia, bem como a própria
Podologia do mundo, que permitiu esses avanços.
A ideia era simples: seria muito caro sair do Brasil para participar de um congresso
internacional, então, por que não trazer os podólogos do mundo para fazerem esses congressos
aqui? E assim foi feito.
Figura 12
Fonte: Acervo do Conteudista
São algumas dessas técnicas e tecnologias que chegaram ao Brasil pelas Jornadas
Internacionais de Podologia: uso do micromotor elétrico e a aposentadoria dos antigos motores
de chicote; uso do micromotor pneumático (que já havia sido apresentado pelo pedicuro Scipião
Fernando Pugliesi, nos anos de 1970 e 1980, como uma técnica que ele utilizava em seu
consultório, embora não tivesse sido ensinada para outros pedicuros brasileiros); a laserterapia,
iniciada por Armando Bega entre os anos de 1995 e 1996; o uso do doppler vascular portátil e a
verificação do índice tornozelo braço; o uso e a popularização das lâminas descartáveis, porque
até então apenas se utilizavam bisturis reutilizáveis e que necessitavam de afiação (alguns
podólogos e pedicuros saudosistas ou não afeitos aos avanços da tecnologia ainda utilizam e
passam o tempo ensinando técnicas de afiação, como se fossem modernas técnicas
podológicas); o uso das cadeiras podológicas, feitas a partir das cadeiras odontológicas (Heloísa
Cazuza Veronesi pediu para uma empresa chamada Odontolíder fazer uma adaptação em sua
cadeira odontológica e daí surgiu a marca Podontolíder, que modernizou as cadeiras de
Podologia no Brasil, deixando de lado as antigas cadeiras de barbeiro que eram adaptadas para a
Podologia); a ortoplastia; a Podopediatria; a Podogeriatria; a avaliação do pé diabético; os
avanços das órteses ungueais; a reforma das bases curriculares dos cursos de Podologia; a busca
pela graduação; a inserção da biomecânica como um dos pilares da Podologia; os intercâmbios
internacionais; as órteses plantares, desde a avaliação da marcha até o diagnóstico de Podologia
e a confecção das órteses plantares funcionais; a Podoposturologia; os avanços da Podologia
Esportiva; as inquietações para que no futuro o podologista brasileiro possa ter uma
regulamentação que permita mais avanços, como a cirurgia podológica; o uso da termografia; da
ozonioterapia; o uso do baropodômetro como uma ferramenta para a avaliação da marcha, de
alterações biomecânicas e da distribuição das pressões plantares; os testes para avaliação do
aparelho locomotor, entre outros tantos avanços que chegaram à Podologia brasileira por meio
das Jornadas, hoje transformada em Congresso Internacional de Podologia.
O primeiro curso de Graduação em Podologia foi criado em 2008, e a elaboração do curso foi feita
pelo podólogo e professor Armando Bega, na cidade de São Paulo, na Universidade Anhembi
Morumbi. Posteriormente, diversas instituições criaram o curso de graduação em Podologia,
inclusive a Universidade Cruzeiro do Sul.
Figura 14 – Curso de Biomecânica, 1996
Fonte: Acervo do Conteudista
Chegou o ano de 1997, a Podologia estava se desenvolvendo rapidamente, mas a SCPB começou
a sofrer ataques vindos da própria diretoria da ABP, não de todos, mas de alguns membros, que
chamavam os podólogos da SCPB de “deslumbrados”, por terem visto os avanços da Podologia
em outros países e quererem trazer muitos desses avanços para o Brasil, pois segundo eles
“estávamos invadindo a área médica e de outras profissões”. Surgia, ali, uma cisão na Podologia
brasileira, originada já alguns anos antes, quando o curso de extensão em Ortoniquia foi
proposto e iniciado no Senac, pois havia, por parte do então presidente da ABP naquela época, o
desejo de que fossem eles os ministrantes do curso no Senac. Porém, essa divisão era mais uma
questão pessoal e não era o pensamento de uma parte dos diretores da ABP, que em dado
momento chegaram a ser ameaçados com a expulsão do quadro associativo da ABP caso
participassem das Jornadas Internacionais de Podologia.
Os membros da SCPB não conseguiram manter a associação, que acabou ficando sob a
responsabilidade de Armando Bega e de Maísa Hörner. Eles acabaram não aguentando a pressão
e a SCPB chegou ao fim, sendo transformada no Instituto Científico de Podologia – ICP, sob a
responsabilidade de Armando Bega, que seguiu com a organização da Jornada Internacional de
Podologia e, mais adiante, a transformou no Congresso Internacional de Podologia.
ʪ Material Complementar
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ʪ Referências
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