Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Objetivos da Unidade:
Formar uma visão crítica sobre o que é história e o que não é história da
podologia;
ʪ Material Teórico
ʪ Material Complementar
ʪ Referências
1 /3
ʪ Material Teórico
Introdução
Documentos produzidos entre os anos de 1930 d.C. e 1940 d.C. nos fazem entender que o início
da corrida pela regulamentação da podologia no Brasil teve início nesses anos,
coincidentemente próximo à regulamentação da podologia nos Estados Unidos, guardadas as
devidas diferenças, que eram muitas, como veremos.
Nos Estados Unidos, a formação do podólogo já vinha sendo regulamentada desde o início do
século XX. Ainda em 1918 d.C., já existia uma ordem para a formação do profissional podólogo,
que adota o termo Podiatria. Em 1925, a carga horária para um estudante se tornar podólogo era
de 2.100 horas de teoria mais 1.000 horas de prática. Já em 1930, o podólogo (podiatra) passou a
fazer cirurgias e, em 1932, os podólogos dos Estados Unidos deram um passo maior, pleiteando
entrar para a Associação Médica Americana – AMA, o que foi indeferido por essa associação,
mas os podólogos recorreram da decisão, e o Conselho Judicial da AMA proferiu uma célebre
decisão favorável aos podólogos, que passaram a integrar a AMA, mesmo sem serem médicos:
No Brasil, a história seria diferente, dois fatos marcaram essa década. Um deles foi a chegada ao
Brasil das lojas Dr. Scholl, na cidade do Rio de Janeiro e, posteriormente, na Rua do Arouche em
São Paulo; e o outro fato foi a publicação do Decreto 10.068, de 23 de março de 1939. Esse decreto
estabelecia como seria a formação do pedicuro ou calista, que mais tarde seria o podólogo.
Estabelecia-se um vínculo da Podologia com a Enfermagem, decretando, em seu artigo
primeiro, que se considerava atividade de enfermagem “a exercida pelos enfermeiros
propriamente ditos e pelos seguintes profissionais: parteiras, massagistas, duchistas, calistas
ou pedicuras” (SÃO PAULO, 1939, n. p.), nascendo, assim, a denominação profissional de
“enfermeiro pedicuro”, assim escrita àquela época. O decreto regulava como seria a formação
desses profissionais, mas foi necessário, no ano de 1941 d.C., fazer um novo decreto-lei
instituindo modificações no Decreto 10.068 de 1939.
Se por um lado havia essa regulamentação para o exercício da profissão de enfermeiro pedicuro,
por outro lado, a chegada das lojas Scholl ao País trouxe o conceito do quiropodista, que era o
mesmo enfermeiro-pedicuro, mas treinado nas próprias lojas Scholl pelo enfermeiro pedicuro
“Sr. Moura”, com teoria e prática por dois ou três meses e posterior inserção para atendimento
como quiropodista nas lojas Dr. Scholl. Essas lojas foram se espalhando pelo Brasil e saindo do
eixo Rio-São Paulo, foram para Minas Gerais, Região Nordeste do País e assim foram se
ramificando, levando para o Brasil afora a formação dos quiropodistas, calistas ou pedicuros,
treinados dentro da própria instituição para atender a clientela que buscava cuidados com os
pés.
Tínhamos o exemplo dos Estados Unidos na mesma época, mas resolvemos seguir o modelo de
colônia, muito parecido com o que a arte retratou numa minissérie televisiva chamada “A
Muralha”, retratando a São Paulo dos idos anos do século XVI, numa cena em que uma pessoa
está doente na Vila de São Paulo de Piratininga e pedem para chamar o “barbeiro”, a fim de fazer
uma sangria e cuidar do doente.
Não podemos esquecer que a Podologia tem sua raiz numa das mais antigas profissões da área
da saúde, tendo surgido para atender necessidades humanas básicas na promoção da saúde e
muito depois na prevenção de doenças, por isso, essas profissões sempre estiveram evoluindo,
paralelamente à evolução humana e, mesmo atrasados no tempo, não poderíamos ficar fora
dessa evolução. Sendo assim, foi no ano de 1961 que o presidente da República Federativa do
Brasil, Juscelino Kubitscheck de Oliveira, regulamentou a Lei 2.312, de 3 de setembro de 1954, de
Normas Gerais sobre a Defesa e Proteção da Saúde, vinda do governo do presidente Café Filho,
que governou o Brasil entre os anos de 1954 e 1955, e a Lei 41.904 de 29 de julho de 1957, do
governo do próprio Juscelino Kubitscheck. Nascia, assim, o Decreto 49.974-A, de 21 de janeiro
de 1961, chamado de Código Nacional da Saúde. O capítulo VII desse código versava sobre a
fiscalização da medicina, e o seu artigo 55 precisa ser transcrito na íntegra para que não restem
dúvidas sobre o seu completo teor:
- BRASIL, 1961, n. p.
E o artigo 57 dizia:
- BRASIL, 1961, n. p.
Vê-se, em especial, pelo artigo 57 do capítulo VII desse decreto que o “pedicuro” já aparecia
como profissão e desvinculada da enfermagem, contudo, como explicita o próprio texto, como
uma profissão afim da medicina.
Figura 1 – Forma de habilitação do pedicuro anos 30 do
século XX
Fonte: Acervo do Conteudista
Figura 2 – Forma de habilitação do pedicuro anos 30 do
século XX (continuação)
Fonte: Acervo do Conteudista
Figura 3 – Regras para pedicuros nos anos 30, século XX
Fonte: Acervo do Conteudista
Na década de 1960 do século XX, no ano de 1968, o Ministério da Saúde baixou normas para a
formação e o exercício da profissão de pedicuro, tendo como base a Lei 41.904, de 29 de julho de
1957, e o Decreto 49.974-A, de 21 de janeiro de 1961. Está publicada no Diário Oficial da União a
portaria 16, de 23 de setembro de 1968 (BRASIL, 1968) normatizando que os pedicuros deveriam
ser formados por escolas devidamente reconhecidas pelo Serviço Nacional de Fiscalização de
Medicina e Farmácia, mas também reconhecendo a atuação daqueles que comprovassem o
exercício profissional há pelo menos cinco anos antes da publicação dessas normas. Segundo
essa portaria, os pedicuros deveriam aprender a tratar de várias lesões podais e a usar
medicamentos de venda livre no mercado.
Podemos perceber que a instabilidade da aplicação das leis e as mudanças constantes nestas
sobre as profissões da saúde no Brasil, com muitas profissões ainda tentando ocupar seu
espaço na sociedade, produziam regulamentações e desregulamentações às quais a Podologia,
ainda como pedicuria, era submetida devido a interesses diversos, como a proliferação das lojas
do tipo Scholl, que era a própria loja Scholl e outras que foram surgindo nos mesmos moldes, a
mercantilização dos serviços de cuidados com os pés, de um lado, e os consultórios de
Podologia, do outro. Travava-se de uma disputa, ainda que velada, sobre o que seria a Podologia,
como deveria ser a Podologia e quais seriam os destinos dessa área.
Na área sindical, a Podologia vem sendo disputada por vários sindicatos que a perceberam sub-
representada pelo sindicato que deveria representá-la, conforme primeira determinação vinda
de 1973, processo MTPS 334.949/1972, publicado no Diário Oficial da União em 11 de setembro
de 1973, páginas 9.084 e 9.085 (BRASIL, 1973), momento em que os pedicuros passaram a
constituir uma categoria dissociada e enquadrada na categoria profissional “enfermeiros e
empregados em hospitais e casas de saúde”.
Muitas foram as tentativas de se criar sindicatos para abrigar os pedicuros, hoje podólogos,
fossem eles técnicos ou graduados, como classe dissociada, assim como fizeram os
enfermeiros em 1979, mas o único sindicato que conseguiu esse feito foi o Sindicato dos
Podólogos do Estado do Rio de Janeiro – SINPOERJ, criado em 2001, após iniciativa do Sindicato
dos Podólogos do Estado de São Paulo – SINPOESP, nesse mesmo ano e anterior ao SINPOERJ.
O SINPOESP foi fundado no ano de 2001, numa assembleia com a presença de dezenas de
podólogos, tendo sido eleito Armando Bega como seu primeiro presidente e o pedido de registro
foi solicitado em 2001. Vale salientar que o SINPOESP foi impugnado pelo SinSaúde São Paulo,
pois este último alegou que já representava a Podologia e, portanto, havia conflito de interesses
entre ambos os sindicatos paulistas, embora o SinSaúde fosse o representante de direito, mas de
fato não apresentava nenhuma defesa da classe dos pedicuros e, posteriormente, dos
podólogos. Infelizmente, a classe podológica não se uniu em torno da defesa do SINPOESP e,
anos depois, mesmo conseguindo um acordo com o SinSaúde, por meio de tratativas da
presidente do SINPOERJ, Janaína de Menezes, em conjunto com Armando Bega, já havia sido
arquivado o pedido de registro do SINPOESP pelo Ministério do Trabalho, o que impediu a
obtenção da carta sindical, carta esta que foi obtida pelo SINPOERJ no final do ano de 2001, como
mostram os documentos fotocopiados e aqui publicados. A desunião da classe levou, sim, à
tentativa de se criar outro sindicato em São Paulo, no ano de 2008, o Sindicato dos Profissionais
de Podologia do estado de São Paulo – SINPROPESP, também sem sucesso. Outros sindicatos
foram criados no Brasil, como no Distrito Federal (SINPODF), mas não se tem informação de
que tenham prosperado com a obtenção da carta sindical, uma vez que um sindicato só funciona
como sindicato se tiver a carta sindical. Barbeiros, cabeleireiros e outros sindicatos tentaram,
também, abraçar a Podologia. Esse movimento sindical esfriou diante das mudanças nas leis
trabalhistas que diminuíram a relevância dos sindicatos e aumentaram a importância dos
acordos individuais sobre as convenções sindicais, em particular, após o ano de 2016.
No ano de 1978, foi criado o curso de Pedicuro do Senac em São Paulo, e foi assumido pelo
podólogo (então denominado pedicuro) Lacy Neves de Azevedo, como primeiro docente de
Pedicuro daquela instituição, até o ano de 1986, sendo substituído por Camilo Tomás Gonçalves,
e daí em diante vieram outros docentes. O curso, depois de passar para o Técnico de Podologia,
em 1998, teve como primeira docente Maria Aparecida Bombonato e, a partir de então, também
foi levado para outras unidades. No Rio de Janeiro, seria criado o segundo curso de calista
pedicuro pelo Senac, ainda na década de 1980, e esse curso deixou de ser ofertado em 1987, com
o Senac reabrindo o curso como Técnico de Podologia, no ano 2001, tendo à frente Flávia Cunha
como primeira docente no bairro de Bonsucesso, posteriormente Jacira Costa e, depois, outros
docentes deram continuidade. Em 2007, outras unidades começaram a ministrar o curso de
Podologia, também no Rio de Janeiro.
Foi também nos anos 1990 que começaram a surgir escolas de pedicuro e de calista, como o CR
Curso de Qualificação Profissional de Calista, por meio de uma iniciativa de Célia Regina Campos,
no Rio de Janeiro, em 1991, e de Calista com especialização em Podologia, no ano de 1996. No
ano de 1998, o CR Cursos passou a se chamar Instituto Brasileiro de Podologia – IBRAP e, no ano
2000, iniciou a primeira turma de Técnico de Podologia. Um ano após esse início, pude fazer meu
complemento como técnico de Podologia pelo IBRAP.
Nesse mesmo ano, Armando Bega, Camilo Azevedo, Marcelo Azevedo e Damaris Damiani
apresentaram um tema sobre as órteses ungueais no Seminário de Pedicuros no Senac em São
Paulo, cabendo a Armando Bega e a Damaris Damiani apresentarem as órteses metálicas e
elásticas. Camilo Azevedo e Marcelo Azevedo apresentaram as órteses acrílicas que haviam sido
aprimoradas por Lacy Azevedo, pai de ambos. No final do seminário, foi feita uma enquete entre
os participantes para saber que curso de extensão eles gostariam de ter e, por quase
unanimidade (eram aproximadamente 120 participantes), foi escolhido o curso de órteses
ungueais metálicas e elásticas.
Figura 5 – Certificado
Fonte: Acervo do Conteudista
Outro fator importante que tem dificultado a regulamentação da profissão de podólogo no Brasil
é a falta de identidade ou a procura por uma identidade podológica que mostra desconhecer as
raízes históricas da Podologia no mundo, confundindo a atuação do podologista com profissões
da estética e da beleza. Junte-se a isso uma cultura que confere à medicina uma supremacia
sobre todas as demais profissões da área da saúde e uma luta encampada pelas profissões já
regulamentadas na referida área buscando ampliar seus atendimentos para além das suas bases,
criando reservas de mercado e entraves para a regulamentação de profissões, como a Podologia,
mesmo sendo esta uma profissão com sólidas raízes históricas e milenares.
As transformações socioeconômicas e políticas pela qual a nossa sociedade passou nos anos de
1960, 1970, 1980 e 1990 mudaram o perfil do profissional de Podologia no Brasil. O desemprego,
a alta taxa de inflação, a fome, a miséria e o difícil acesso à educação superior eram marcantes
nessa época.
Antes, os homens eram os provedores, mas agora eles começavam a perder seus empregos, as
famílias passavam por necessidades e as mulheres começaram a dividir com eles o mercado de
trabalho.
Muitos homens, antes provedores exclusivos do lar, vistos por uma ótica conservadora e
machista, não permitiam que suas esposas trabalhassem, mas elas aos poucos foram minando
esse território machista, algumas começaram a procurar estudos e formações para poderem
ajudar na manutenção da família. Teve aquelas que transformaram uma garagem ou um
quartinho da casa onde moravam num “gabinete” de pedicuro ou de calista, que viria a ser a
Podologia. Essa chegada da mulher em larga escala à Podologia foi vista nos anos de 1980 e
1990, quando os cursos de pedicuro/calista eram antes preenchidos na maioria por homens e
passaram a ser preenchidos por uma maioria de mulheres. Hoje, em pleno ano de 2020, os
cursos de Podologia muitas vezes nem têm homens como alunos e quando têm é na proporção
de um homem para dez, e às vezes até vinte ou mais mulheres.
Essa mudança se deu não somente na Podologia, mas em muitas profissões, porém na
Podologia acabou acontecendo outra situação que surgiu ao mesmo tempo. Acontece que muitas
dessas mulheres antes estavam exercendo a ocupação de manicures, fosse na própria casa ou
em salões de beleza, aliás, a ocupação de manicure, em muitos centros urbanos, se tornou o
modo de muitas mulheres ganharem dinheiro e, assim, poderem ajudar na manutenção da casa.
Por cuidarem do embelezamento das mãos e dos pés e por vislumbrarem na Podologia uma
oportunidade de crescimento, porque ao ouvirem falar da Podologia lhes chegavam informações
de uma profissão antiga e rentável, muitas dessas manicures e pedicures pensaram que se o
podólogo trata de unhas encravadas e elas também desencravam as unhas das suas clientes,
nada mais natural que estudarem Podologia como forma de crescerem profissionalmente e,
assim, poderem ter acesso a uma vida melhor, posto que o podólogo (pedicuro) ganhava,
segundo elas ouviam dizer, muito mais do que uma manicure ou pedicure.
Dessa forma, a Podologia ganhou muitas podólogas interessadas em aprender uma nova
profissão, que algumas pensavam já conhecer e precisariam apenas de algum aprimoramento –
assim pensavam elas. Mas a Podologia foi colocada numa crise de identidade que não existia até
o final dos anos de 1980, ironicamente quando a Podologia ainda era Pedicuria, como
denominação aqui no Brasil. A Podologia foi apresentada ao salão de beleza, lugar que
historicamente não é a sua morada. Surgiram cursos ensinando Podologia como
embelezamento ou a arte de cutilar e esmaltar unhas, e muitos “neo” podólogos migraram para
os salões de beleza, dividindo cabelos com unhas encravadas e feridas nos pés com resíduos de
cabelos espalhados pelo chão, um podólogo ou uma podóloga cuidando da saúde e uma
manicure sentada ao lado pintando as unhas das mãos e, às vezes, ao mesmo tempo, o
cabeleireiro fazendo um penteado.
Essas desconformidades com a atuação que se espera de um profissional da saúde, que deveriam
estar acomodados numa área separada dentro de salão de beleza, geram resistências para
regulamentarmos a Podologia como profissão da área da saúde.
Porém, se por um lado houve essa contaminação no meio da Podologia, por outro lado, um
grande número de podólogos segue mantendo a tradição da Podologia como profissão da área
da saúde, como mostramos no decorrer dessa obra quando falamos das nossas raízes históricas
e quando olhamos para a atuação regulamentada do podólogo num grande número de países
espalhados por todos os continentes.
Não é possível que queiram dizer que Podiatria é diferente de Podologia. São palavras distintas,
mas que dizem respeito ao mesmo profissional, mudando apenas a formação e a atuação, que é
diferente em cada país, mas o que todas elas têm em comum é que dizem respeito ao
profissional que cuida da saúde dos pés, da relação dos pés com o aparelho locomotor.
Por isso, é preciso que fique claro que no Brasil existem dois níveis de formação: o técnico em
Podologia (denominado técnico de Podologia) e o graduado em Podologia (denominado
podólogo), seja ele tecnólogo ou bacharel em Podologia, porque segundo o Ministério da
Educação do Brasil, tecnólogos, bacharéis e licenciados são todos graduados nas suas áreas de
formação. E o podiatra? Fique bem claro que até o presente momento da publicação deste
material no Brasil ainda não existe graduação com o nome de Podiatria, portanto, esse País não
tem podiatras, não obstante o podólogo seja o mesmo que podiatra para o entendimento do
mundo da Podologia/Podiatria, conforme explicita a Federação Internacional de Podologia ou
Podiatra – FIP. Nesse sentido, é emblemático o logotipo dessa federação, e que sana todas as
dúvidas sobre esse assunto, para quem pensa diferente:
Importante frisar que se usa o termo Podologia na maioria dos países onde o idioma deriva do
latim, e usa-se o termo Podiatria na maioria dos países onde o idioma deriva do anglo-saxão.
Essa explicação faz parte do prefácio da obra “Podología Atención Primaria”, de Robbins, do ano
de 1995, cujo original em inglês chama-se “Primary Podiatric Medicine”:
largo del texto la palavra podiatría, Sin embargo, debe tenerse em cuenta que em
algunos países de habla hispana es más común el uso del término podología.”
- ROBBINS, 1995
Logo no ano de 2001, já surgiu uma tentativa de regulamentação da Podologia. Partiu de uma
iniciativa da Associação Brasileira de Podólogos – ABP e do deputado federal Luiz Antonio
Fleury, que apresentou um projeto de lei, o PL 5.283/2001. Infelizmente, esse PL não vingou e,
entre 2007 e 2008, foi definitivamente arquivado.
No ano de 2005, surgiu um novo projeto de lei, agora por iniciativa do deputado federal José
Mentor, do Partido dos Trabalhadores – PT, de São Paulo, em conjunto com a Associação
Brasileira de Podólogos – ABP, o PL 6.042/2005.
Esse PL passou pelas comissões de Seguridade Social e Família – CSSF, Trabalho, Administração
e Serviço Público – CTASP e pela comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania. Foram dez
anos tramitando por essas comissões, entre debates, consultas públicas, reuniões infindáveis e
muitas idas a Brasília por parte de vários podólogos, associações e sindicatos da área.
Fui convidado pelo deputado José Mentor, no ano de 2008, para ajudar no desenvolvimento do
PL 6.042/2005 e, desde então, foram muitas reuniões, viagens para a capital federal, noites sem
dormir, discussões com opositores, negociações e luta em prol da Podologia, de uma profissão.
Convidei o deputado José Mentor para abrir o nosso Congresso Internacional de Podologia de
2008, o XIII Congresso Internacional de Podologia, isso depois que eu já havia participado de
algumas reuniões em Brasília.
Um episódio que recordo foi quando, em 2008, estivemos com o deputado José Mentor na
entrada do plenário da Câmara dos Deputados para entregarmos uma moção com mais de 700
assinaturas para a deputada Andréia Zito, do Rio de Janeiro, que era relatora da CTASP, onde
nosso PL seria votado.
Foi marcante, também, a nossa colaboração, negociada pelo deputado José Mentor junto ao
DEGERTS, em 2013, para participarmos do Seminário Internacional de Regulação das Profissões
da Área da Saúde, um evento da Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS, em conjunto
com o Ministério da Saúde e contando com representantes de diversos países, além de
secretários de saúde de diversos estados e municípios do Brasil. Estiveram presentes nesse
seminário eu (Armando Bega), Gyzele Nascimento e Renato Butsher, representando a
Podologia. Eu tive a honra de ser escolhido como relator do nosso grupo de trabalho que reunia
dezenas de representantes de secretarias de saúde de várias localidades, de órgãos e
organizações ligados à saúde.
Figura 8 – Seminário Internacional sobre a Regulação do
Trabalho das Profissões da Saúde, em 15 de agosto de 2013
Fonte: Acervo do Conteudista
Depois de dez anos tramitando pela Câmara dos Deputados, o PL 6.042/2005 foi finalmente
aprovado pela última comissão, a CCJC, mas com uma ressalva. O PL original propunha a criação
do Conselho de Podologia, entretanto, segundo a Constituição da República Federativa do Brasil,
a atribuição de propor a criação de um conselho de classe é do Executivo e não do Legislativo,
por isso, o PL 6.042/2005 tinha um vício de iniciativa e precisava ser sanado, então foi suprimido
o artigo que propunha a criação do Conselho de Podologia e nós nos comprometemos, junto ao
Legislativo, a buscarmos um conselho de classe para nos abrigar até a regulamentação da
profissão, para depois lutarmos pela criação do nosso próprio conselho.
O PL foi, então, enviado ao Senado Federal e lá ganhou o número 151/2015 e chegou à votação na
Comissão de Assuntos Sociais – CAS, antes de ser levado ao plenário para votação pelos
senadores, último passo para posterior sanção da regulamentação da Podologia pelo presidente
da República.
Todavia, precisávamos nos reunir com as lideranças da Podologia para traçarmos estratégias, a
fim de apressar a regulamentação no Senado Federal, e foi isso que fizemos depois da
comemoração. Foi quando resolvemos chamar as lideranças da Podologia para uma reunião e
nos unirmos em prol da regulamentação da profissão, assim criamos o que chamamos de Pacto
Nacional pelo Desenvolvimento da Podologia Brasileira.
Mas esse caminho não foi assim tão simples, pois vamos lembrar que era necessário conseguir
um conselho para abrigar a Podologia.
A todos os interessados em conhecer o teor dessa reunião, pedimos que entrem em contato com
a Associação ou Sindicato de Podologia da sua região. Este é o momento de mostrarmos nossa
verdadeira união. Aproveitando o ensejo do Pacto Nacional pelo Desenvolvimento da Podologia
Brasileira, pedimos a todos que compartilhem esta mensagem para que ela chegue a todos os
podólogos do Brasil.
Estiveram presentes:
Assina:
Obs.: suprimi nessa obra o nome de uma associação por ela ter informado que a representante
que ali estava não falava em nome da Associação de Santa Catarina.
No início de 2016, estivemos reunidos com o deputado José Mentor em seu escritório político,
na cidade de São Paulo, e discutimos vários ajustes para a votação em plenário do PL 151/2015,
como a inclusão dos dois níveis de formação do podólogo, pedido este que era um clamor dos
técnicos de Podologia e contava com o nosso apoio.
Figura 17 – Reunião com o deputado José Mentor
Fonte: Acervo do Conteudista
Comunicamos que no dia de hoje, 11 de fevereiro de 2016, participamos de uma reunião com o
deputado José Mentor, na qual conversamos sobre o projeto de lei que regulamenta o exercício
da profissão de Podólogo. Como sabemos, o PL está no Senado esperando a inclusão na pauta
para votação pelo plenário. Estamos na reta final da regulamentação da nossa profissão. Fiquem
atentos, porque nesses próximos dias informaremos nossas ações de apoio à regulamentação
da profissão, bem como precisaremos de todos engajados nessa luta que é da Podologia em
geral.
Pedimos a todos que compartilhem esta mensagem para que ela chegue a todos os podólogos do
Brasil.
Em novembro de 2016, voltamos a encontrar o deputado José Mentor, em nosso XXI Congresso
Internacional de Podologia, realizado na cidade de São Paulo, nos dias 19 e 20 daquele mês. O
deputado explicou como estava o andamento da regulamentação da Podologia e sobre a
importância de estarmos dentro de um conselho profissional até a conclusão pelo Legislativo e
pelo Executivo. O deputado falou por mais de quarenta minutos e respondeu perguntas para um
público de mais de quinhentos podólogos de todo o Brasil, ali reunidos.
Figura 18 – Encontro com o deputado José Mentor no XXI
Congresso Internacional de Podologia do Brasil, dias 19 e
20 de novembro de 2016
Fonte: Acervo do Conteudista
No ano de 2017, fui apresentado por um amigo, o professor Tangará Mutran, biomédico, ao
presidente do Conselho Regional de Biomedicina da 1ª Região, Dr. Dácio Campos, e este se
mostrou favorável à nossa causa, levando ao Conselho Federal de Biomedicina, o nosso pedido.
Aparentemente, o problema estava resolvido, pois o Senado foi comunicado que tínhamos
encontrado um conselho de classe para nos abrigar, e isso foi decisivo para a aprovação do PL
151/2015 na CAS e depois foi levado ao plenário do Senado.
Em 15 de março de 2018, o CFBM publicou a Resolução 288, que incluía a Podologia nos
Conselhos Regionais de Biomedicina para registro.
Montamos comissões provisórias, câmaras técnicas de Podologia dentro do conselho, tendo
representação em todo o território brasileiro, tudo isso para chegarmos à regulamentação da
Podologia e, posteriormente, podermos ter o nosso próprio conselho.
O Dr. Dácio, presidente do CRBM da 1ª Região, um entusiasta da nossa causa, esteve presente em
vários eventos de Podologia e reunido com representantes da Podologia em várias ocasiões,
como podemos ver em algumas fotos.
O PL 151/2015 foi, por fim, levado para votação no plenário do Senado em 2018, mas um senador
chamado Romero Jucá fez uma emenda nas vésperas da votação em plenário, propondo que
fossem suprimidos os artigos que falavam sobre a necessidade de ter estudo técnico ou de
graduação para formar o podólogo. Em resumo, a retirada desses artigos colocava uma pá de cal
na regulamentação da Podologia. O senador Paulo Rocha, que fora o relator do PL 151/2015 na
CAS, solicitou, então, a retirada do PL da pauta do plenário para evitar maiores estragos e, no
final do ano de 2019, ele propôs uma emenda tirando os efeitos da emenda do senador Romero
Jucá. Todavia, o que parecia ser uma boa notícia, posto que tínhamos um conselho de classe, o
CRVM, nos dando a propositura de uma nova emenda, fazendo valer a formação do podólogo
graduado e do técnico, tornou-se um ponto de luz perdido num oceano de obscuridade. Por quê?
Primeiro, porque os senadores e os deputados foram claros que é necessário ter a Podologia
dentro de um conselho para aprovar o PL no plenário do Senado e para a sanção presidencial e,
depois, sim, podemos lutar pelo nosso conselho. Mas forças contrárias à regulamentação se
levantaram e foram contra a Podologia estar dentro do Conselho de Biomedicina, que nos
acolheu. Instigaram o Ministério Público dizendo que os podólogos estavam sendo forçados a se
registrarem no CRBM e que a Biomedicina não poderia nos representar por não ter nenhuma
interface com a Podologia. Um processo foi instaurado e o juiz concedeu uma liminar
suspendendo, provisoriamente, os efeitos da Resolução 288 de 2018 do CFBM e, por isso, o
podólogo, seja graduado ou técnico, está impedido de se registrar no CRBM até uma decisão
final da Justiça.
O primeiro estado a regulamentar o exercício da Podologia foi Santa Catarina, pela Lei 17.502, de
2 de abril de 2018.
O segundo estado a regulamentar a Podologia foi São Paulo, pela Lei 16.763, de 11 de junho de
2018, assinada pelo governador em exercício, Márcio França, e de autoria do deputado estadual
André do Prado, com apoio da Associação Brasileira de Podólogos – ABP. Participamos de uma
reunião com a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, para discutir ações visando o
exercício da Podologia no estado.
Figura 23 – Reunião com o Deputado André do Prado (ABP)
e o secretário executivo da Secretaria de Saúde do estado de
São Paulo (da esquerda para a direita: Salvador – ABP,
deputado André do Prado, Secretário executivo Eduardo
Ribeiro Adriano, Armando Bega e deputado Marcio Alvino)
Fonte: Acervo do Conteudista
No dia 17 de março de 2022, finalmente o PL 151/2015 do Senado Federal foi votado em reunião
plenária e aprovado por unanimidade o substitutivo do Senado Federal (veja em material
complementar o link para o texto aprovado pelo Senado).
Depois da aprovação pelo Senado, o PL 151/2015 voltou para a Câmara dos Deputados e recebeu o
número 618/2022, para referendar o substitutivo do Senado.
Se aprovado, o PL 618/2022 irá para a sanção do Presidente da República e, depois de sancionada
a lei, o Executivo regulamentará a sua aplicação.
2/3
ʪ Material Complementar
Site
ACESSE
Vídeos
ACESSE
3/3
ʪ Referências
BEGA, A. História da Podologia no Brasil e no Mundo. 1. ed. São Paulo: Expressão & Arte Editora,
2020.
LEVY, L. A.; HETHERINGTON, V. J. Principles and practice of Podiatric Medicine. 2nd. ed.
Maryland: Data Trace, 2006.
ROBBINS, J. M. et al. Podología Atención Primaria. 1. ed. Madrid: Editorial Médica Panamericana,
1995.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 10.068, de 23 de março de 1939. Regula a forma de habilitação
dos enfermeiros, em geral, e dá outras providências. Secretaria de Estado da Educação e Saúde
Pública de São Paulo, São Paulo, 23 mar. 1939. Disponível em:
<https://www.al.sp.gov.br/repositorio/legislacao/decreto/1939/decreto-10068-
23.03.1939.html>. Acesso em: 04/05/2022.