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Projecção Astral 

A separação da consciência de uma pessoa do seu corpo, permitindo


à pessoa viajar sem levar o corpo. A consciência separada pode
perceber realidades fisicas. Duas formas comuns são a experiência de
sair do corpo(Out of Body Experience - OBE) e a quase morte e as
experiências de viagens no espaço. No primeiro, uma pessoa
inconsciente flutua sobre o seu corpo e vê o que se está a passar. No
ultimo, a pessoa visita Jupiter ou outras galáxias.

Dois cientistas popularizaram esta variante moderna


de dualismo metafisico: Elizabeth Kübler-Ross e Raymond Moody. A
primeira é conhecida pelos seus trabalhos sobre morte. O segundo é
um psiquiatra com doutoramento em filosofia cujo titulo favorito parece
ser "parapsicólogo". Escreveu pelo menos quatro livros sobre o
assunto. São basicamente interpretações liberais de testemunhos de
médicos, enfermeiras e pacientes. Caracteristico do trabalho de
Moody é a omissão de casos que não encaixem na hipótese.
Escreveu um livro sobre... Elvis. Kübler-Ross afirma ser possivel ter
sexo com os espiritos dos mortos. Outros populares investigadores
são os Drs. Puthoff e Targ do Stanford Research Institute e o Dr.
Charles Tart, um psicólogo reformado da Universidade da California
em Davis e que está agora no Institute of Transpersonal Psychology.
Este trio tambem investiga a percepção extra sensorial.

A projecção astral exige que acreditemos que (a) a consciência é uma


entidade separada do corpo e que pode existir sem o corpo, pelo
menos em durante curtos periodos de tempo, e (b) que a consciência
sem corpo consiga "ver", "ouvir", "sentir" e, presumo, cheirar.1 A
crença de que a mente e o corpo podem ser entidades separadas e
possam existir separadas do corpo é a base da visão ocidental
tradicional da imortalidade da alma. Na visão tradicional, tem de
morrer para a sua alma poder viajar, e emsmo os destinos estão
limitados: céu ou inferno. A visão Nova Era leva-o onde quiser e não
tem de morrer. Que belo negócio!

Contudo, imagine o que sucede com milhares de almas a fazerem


viagens astrais e a voltarem para o corpo errado. Deviamos esperar
que algumas mentes se perdessem e não encontrassem os corpos.
Devia haver por aí corpos abandonados pelas almas. Devia haver
algumas almas confusas porque se tinham enganado nos corpos. Se
o dualismo fosse verdade, deviamos encontrar almas sem corpos por
todo o lado!
Parece-me óbvio que quando percebo algo é devido a ter sensações
corpóreas (vista, audição, etc) que são estimulados por fenómenos
fisicos (radiação electromagnética, vibração do ar, etc.). De acordo
com os dualistas, contudo, é a minha mente que está a perceber. O
meu corpo é superfluo. Descartes, muitas vezes chamado Pai da
Filosofia Moderna, pensou ter provado este ponto na sua
obra Meditações Metafiisicas. Aqui pede ao leitor para o seguir numa
pequena experiência. Imagine um pedaço de cera de abelha.
Considere o seu odor, a sua textura, o seu tamanho e forma. bata-o e
ouça o som que emite; prove-o e sinta o mel ainda embebido. Agora
imagine que queima a cera. Agora parece, cheira, soa e sabe de
modo diferente. Por outras palavras, todos os dados percebidos lhe
dizem que se trata de um objecto diferente. Contudo, você sabe que é
o mesmo com uma aparência completamente diferente. Sabe que a
essência da cera permanece apesar das transformações das suas
propriedades. Como sabe isso? Não através dos seus sentidos, visto
estes lhe dizerem que não é a mesma cera. Sabe-o através da mente.
Portanto, o seu conhecimento das substâncias materiais não lhe vem
dos sentidos do corpo, mas através da sua mente imaterial.

A principal dificuldade com o argumento de Descartes centra-se nas


ideias de essência e substância. São conceitos superfluos. Tudo pode
ser explicado do mesmo modo sem assumir que por trás de cada
percepção de um objecto fisico existe uma substância chamada mente
e uma substância chamada corpo. A cera de Descartes é a mesma
depois de queimada? Um ovo é o mesmo ovo depois de frito? Uma
nota de mil é a mesma depois de ser cortada em quatro partes? O que
se ganha em assumir que há um ovo-essência que permanece igual
depois de ser frito? De que modo o ovo-essência difere das
propriedades fisicas do ovo? Porquê assumir que o ovo real é uma
substância apenas percebida pela mente?

De igual modo, porquê assumir que para lá de ver uma bola vermelha,
há uma substância não material, a mente, que está realmente a ver, e
o corpo, incluindo o cérebro, é apenas um veiculo para bombear
dados nesta mente? Um dos problemas do dualismo é tentar explicar
como é possivel a uma entidade espacial interagir com uma não
espacial. Como se liga o corpo com a mente se são substâncias
diferentes? Como pode o fisico causar efeitos no não fisico e vice-
versa? (Descartes não sabia explicar como é possivel a interacção da
mente e do corpo, mas afirmou saber onde ocorre: a glandula pineal.)

Podemos perguntar, se os dualistas estão correctos, porque é que a


consciência necessita da assistencia dos orgãos sensoriais em
circunstâncias normais. O corpo torna-se uma entidade superflua
nesta teoria. Se fosse possivel separar a alma do corpo porque é que
a alma voltaria? Se se dá tão bem sem esta prisão material (como
Platão chamou ao corpo), então porque não se aventura sózinha e fica
lá?

Mas, nada há de mistico ou misterioso em viajar enquanto o corpo fica


quieto. A maior parte das pessoas do planeta fazem-no todas as
noites quando adormecem e sonham. Muitos de nós viajamos
acordados até lugares exóticos no estrangeiro. Muitos fazem-no sob o
efeito de drogas. Alguns fazem-no devido a desordens cerebrais.2

James Randi cita o caso de dois cientistas no Stanford Research


Institute, Dr. Russell Targ e Dr. Harold Puthoff, que compararam
favoravelmenteos achados da Mariner 10 e Pioneer 10 (naves de
pesquisa) com os "achados" de Ingo Swann e Harold Sherman que
afirmam ter visitado Mercurio e Jupiter em "viagens astrais" antes das
naves terem sido lançadas.3 Estes cientistas afirmam ter encontrado
notáveis semelhanças entre o que Swann e Sherman relataram e o
que as naves informaram. Pediram mais estudos, usando os viajantes
astrais como guias da exploração espacial. Isaac Asimov pegou nas
afirmações e comparou-as com o que era conhecido da informação
transmitida pelas naves. Asimov concluiu que 46% das afirmações dos
viajantes era falsa. Classificou apenas uma das 65 afirmações como
uma facto que não era óbvio ou não podia ser obtido de outras fontes.
Os cientistas não se preocuparam com o facto de Swann afirmar ter
visto uma cadeia de montanhas de mais de 9000 metros em Jupiter
quando não há tal coisa. Não se percebe como alguem pode confiar
nisto. Se lhe disser que estive na sua terra e que vi uma cadeia de
montanhas com 9000 metros e você sabe que não existem, pensava
que eu lá tinha estado, mesmo se dissesse correctamente que lá
havia um rio? Swann, a propósito, agora afirma que as viagens astrais
são tão rápidas que provavelmente ele não estava a ver Jupiter mas
outro planeta em outro sistema solar! Portanto, há realmente uma
grande montanha, algures!

Apesar do apoio de parapsicólogos como Moody, Tart, Targ e Puthoff,


não há uma evidência a suportar a afirmação de que alguem pode
projectar a mente ou alma ou psique ou espirito ou seja lá o que fôr
para algum lado neste ou noutro planeta. Tudo o que temos são
testemunhos. Como podia ser de outro modo? A questão real para a
psicologia é porque é que quando confrontados com a mesma
evidência, dois grupos de pessoas inteligentes e conhecedoras, cada
um armado com Doutores, Professores, Mestres e Prémios Nobeis, os
cépticos e os crentes, respondem tão diferentementemente. Os
cépticos repelem as afirmações das testemunhas do paranormal e
consideram os crentes como ingénuos enganados. Os crentes
consideram os cépticos como detractores profissionais de mentes
curtas, mais guiados pela teimosia e preconceitos do que pelo
pensamento critico.

Em conclusão, devemos notar que os puristas fazem uma distinção


entre projecção astral e OBE. A primeira é um ensinamento de Madam
Blavatsky 4 e envolve a crença em diferentes corpos, um dos quais é o
corpo astral. O corpo astral percebe outros corpos astrais em vez do
corpo fisico. Porque, estritamente falando, não é a alma ou
consciência que parte na projecção astral, mas uma espécie de corpo.
É este corpo, já agora, que tem aura. É tambem o lugar da
consciência e geralmente descrito como estando ligado ao corpo fisico
durante a projecção por um fio fino prateado e infinitamente elástico,
uma espécie de cordão umbilical cósmico ou fio de Ariana.

Links
 Jouni A. Smed's OBE-FAQ.
 Keith Augustine's essays
 The Astral Projection Home Page

Blackmore, Susan J., Beyond the Body: an Investigation of Out-of-


Body Experiences (London: Heinemann, 1982).

Blackmore, Susan. Dying to Live: Near-Death Experiences (Buffalo,


N.Y.: Prometheus Books, 1993). 

Grof Stanislav. Realms of the Human Unconscious: Observations from


LSD Research (New York: Viking Press, 1975)

Ryle, Gilbert. The Concept of Mind (Chicago: University of Chicago


Press, 1984).

Sacks, Oliver W. The Man Who Mistook His Wife for a Hat and Other
Clinical Tales (New York: Harper Perennial Library, 1990).

Sagan, Carl. Broca's Brain (New York: Random House, 1979), pp. 47-


48.
Siegel, Ronald K. Fire in the Brain : Clinical Tales of
Hallucination (New York: Dutton, 1992).

notas

1. Ou isso ou pior, que o cérebro e os sentidos conseguem operar a grandes


distâncias e perceber através de objectos por algum misterioso poder ainda
não descoberto. Ou seja, é o corpo fisico que percebe, digamos Marte, numa
viagem astral: visões miraculosamente a milhões de quilómetros sem perder a
acuidade visual; ouvir vibrações a milhares de quilómetros, etc.. Se está
interessado em tomar isto a sério ver Jane Duran, "Philosophical Difficulties
with Paranormal Claims," em Philosophy of Science and the Occult, editado por
Patrick Grim. 2nd ed. (Albany: State University of New York Press, 1990), pp.
196-206.

2. Ver, por exemplo, Stanislav Grof, Realms of the Human Unconscious :


Observations from LSD Research (New York: Viking Press, 1975); Ronald K.
Siegel, Fire in the Brain : Clinical Tales of Hallucination (New York: Dutton,
1992).

3. James Randi, Flim-Flam! (Buffalo, New York: Prometheus Books,1982), pp.


68-69.

4. Foi o fundador da Theosophical Society em Nova Iorque em 1875. Reuniu


um conjunto de ensinamentos baseados nas suas viagens à India e nos
estudos das religiões e ciências orientais.

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