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O dualismo Cartesiano é a tese de que o ser humano é composto por duas substâncias distintas
– res cogitans, substância não extensa e pensante ou espírito & res extensa, substância extensa
e corpórea ou corpo. (Cottingham 1986, 174)
Podemos ler o argumento Cartesiano para a distinção sobre mente e corpo seguindo os
seguintes passos:
Segunda meditação: o reconhecimento de que é impossível que a mente não exista (Penso logo
existo) e que o que pertence à natureza intelectual é diferente do que pertence ao corpo
& a mente pode ser concebida sem corpo (penso logo existo) e não é necessária a conceção clara e distinta da existência do
corpo para reconhecer a existência do espírito (basta pensar).
O Dualismo de substância levanta o Famoso problema de perceber e saber qual a interação entre espírito e corpo.
A resposta de Descartes é a conhecida proposta do interacionismo em que a mente e o corpo têm influência um no outro.
Descartes Dualismo
O que retiramos na estrutura argumentativa da Obra de Descartes não é suficiente para
captar toda a riqueza do texto.
Por isso quando estamos atentos ao argumento temos de estar atentos, simultaneamente, a
passagens que fazem pensar (seja sobre o assunto que estamos a trabalhar, seja para outras
questões filosóficas)
“Entretanto, grande é o meu espanto de que o meu espírito se incline tanto para o erro;
porque embora eu reflita em silêncio e intimamente sobre isto, fico todavia preso às próprias
palavras e quase sou enganado pela própria prática da linguagem” (Descartes
(1641)1647/1985, 130)
Por exemplo:
“O erro de Descartes parece ser a tentativa de tirar verdades acerca da ontologia a partir
de verdades epistemológicas ou, para colocar a coisa de maneira menos pomposa, de
tentar deduzir conclusões acerca da natureza real da mente ou do eu pensante a partir de
premissas acerca daquilo de que podemos ou não estar certos, ou de que podemos ou
não duvidar. Ainda assim, aquilo de que sou capaz de duvidar acerca de qualquer item
dado parece depender parcialmente da extensão de minha familiaridade com aquele
item. E a extensão de minha própria familiaridade com mentes, batatas ou com qualquer
outra coisa parece uma base precária para chegar a conclusões firmes acerca de o que é
realmente essencial ou não para sua existência.” (Cottingham 1999, p.21)
Descartes Dualismo
Além disso, quando a obra Cartesiana é estudada de forma mais aprofundada como podemos
ler nos livros de John Cottingham 81986, 1999) e a descrição é acompanhada de mais detalhe
do que é normalmente usado nos textos contemporâneos da Filosofia da Mente.
Por exemplo:
É a estranheza de sensações psicofísicas como fome e dor, sua dissimilaridade inerente com as
perceções transparentes do intelecto, que nos mostra que não somos simplesmente mentes
puras anexadas a corpos. Em lugar disso, este corpo em particular é meu de uma maneira
peculiar, ainda que inegável e vividamente manifesta. Essa é, por assim dizer, a “assinatura”
característica de minha existência não apenas como “coisa pensante” conectada a um corpo
mecânico, mas como um amálgama único de mente e corpo, um ser humano.
Comentadores, pelo menos dentro da tradição anglo saxonica, têm tido a tendência de ignorar
esse aspeto crucial da filosofia de Descartes, preferindo em lugar disso concentrar-se em seus
argumentos a respeito do caráter distinto de mente e corpo.(Cottingham 1999, p.30-31)
Descartes Dualismo
Assim Podemos ver no comentário de Cottingham que Descartes reconheceu não dois mas três
aspetos. (Cottingham 1986, 174)
“A conceção dualista padrão analisa a fome em termos de dois conjuntos de factos – os que envolvem
modificações de extensão e os que envolvem modificações de pensamento. Mas Descartes não
reconhece com efeito a fome como tendo dois aspetos mas sim três.
Em segundo lugar, existem os factos puramente intelectuais que Descartes atribui à alam. Estes são
juízos totalmente desprovidos de cor e sentimento tais como o meu corpo necessita de alimento. A
estes poderemos juntar a vontade sem paixão, tal como a formação calma da decisão de tomar
alimentos.
Em terceiro lugar e de forma bem distinta das duas primeiras, existe a tal sensação indefinível – aquilo
a que Descartes chama um-não-sei-quê-que-puxa” isto é a sensação de fome.”
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Antes de Ryle tinha havido teorias da mente – famosos “ismos” tal como
o idealismo, o materialismo, o monismo neural, o epifenomenalismo, o
interacionismo - que partilhavam uma série de pressupostos sobre o
problema que definia esta área: o problema mente-corpo.
Ryle sugeriu que não havia este problema de todo, mas apenas uma
confusão criada a partir de um uso (e abuso) da linguagem corrente que
usamos no nosso dia a dia. (Dennett 1978, 249).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
“As teorias foram consideradas como a criação daqueles que
tinham falhado de ver os problemas (...) que apareciam dos
pressupostos naïve sobre o modo como as palavras para
descrever a mente funcionavam na linguagem. A Construção
teórica foi substituída por um a atividade mais cautelosa e
modesta de “análise conceptual” (Dennett 1978, 249).
(…) teve algumas consequências menos felizes porque “ainda que seja
possível aprender tudo sobre um conceito de cavalo ao estudar o
modo como usamos a palavra “cavalo”, e que seja possível aprender
imenso sobre cavalos ao estudar o conceito de cavalo (…) há no
entanto algumas coisas que ficam de fora e que só podem ser
descobertas ao olhar para cavalos, ou pelo menos a ler o que outras
pessoas que trabalharam com e sobre cavalos disseram” (Dennett
1978, 250).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A filosofia de análise da linguagem comum hoje em dia pode ser vista como um
destruiu a forma tradicional de compor uma teoria filosófica da mente. (Dennett 1978,
250).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Se houvesse teorias da mente de todo, não seriam produzidas pelos métodos
antigos a partir da poltrona.
“Primeiro, ele foi visto como colocando o último prego no caixão do dualismo
cartesiano.
Segundo, como ele próprio antecipou, acredita-se que ele tenha argumentado em
nome da doutrina conhecida como comportamento filosófico (e às vezes analítico)
e sugerindo-o como substituição do dualismo.
Nesta primeira secção, Ryle apresenta o que ele chama de ”doutrina oficial".
A doutrina oficial é a teoria dualista da mente humana que Ryle rejeita e vai
criticar.
Na primeira secção do capitulo, antes de a criticar, ele vai começar por explicar o
que é essa teoria da doutrina oficial. Deste modo, uma grande parte desta
secção apresenta uma visão que ele não mantém e por isso a maioria das frases
que aparecem nesta secção não são o que Ryle pensa, mas o que seus
oponentes pensam.
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Mas as mentes não estão no espaço, nem as suas operações estão sujeitas a leis
mecânicas. O funcionamento de uma mente não é testemunha de outros
observadores; a sua carreira é privada. Só eu posso ter conhecimento direto dos
estados e processos da minha própria mente. Uma pessoa, portanto, vive através
de duas histórias colaterais, uma consistindo do que acontece em e para seu
corpo, a outra consistindo do que acontece em e para sua mente. O primeiro é
público, o segundo privado. Os eventos da primeira história são eventos no
mundo físico, os do segundo são eventos no mundo mental. (Ryle 1949, 11)
É costume expressar essa bifurcação de suas duas vidas e de seus dois mundos,
dizendo que as coisas e eventos que pertencem ao mundo físico, incluindo seu
próprio corpo, são externos, enquanto o funcionamento de sua própria mente é
interno. (Ryle 1949, 11)
Há, portanto, uma oposição polar entre a mente e a matéria, uma oposição que
muitas vezes é apresentada da seguinte forma. Objetos materiais estão situados
em um campo comum, conhecido como "espaço", e o que acontece a um corpo
em uma parte do espaço é mecanicamente conectado com o que acontece com
outros corpos em outras partes do espaço. Mas os acontecimentos mentais
ocorrem em campos isolados, conhecidos como 'mentes' e, à parte, talvez por
telepatia, não há conexão causal direta entre o que acontece em uma mente e o
que acontece em outra. Somente através do meio do mundo físico público é que
a mente de uma pessoa pode fazer diferença para a mente de outra pessoa. A
mente é seu próprio lugar e em sua vida interior cada um de nós vive a vida de
um fantasma Robinson Crusoé. As pessoas podem ver, ouvir e sacudir os corpos
umas das outras, mas são irremediavelmente cegas e surdas para o
funcionamento da mente umas das outras e inoperantes para elas. (Ryle 1949,
12)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Ryle introduz um novo nome para a doutrina oficial, "o dogma do Fantasma na
Máquina". Como o próprio Ryle diz, esse é um apelido pejorativo para a visão. Ryle
depois chama a doutrina oficial de "a teoria da vida dupla". Representa os modismos
da vida mental como se pertencessem a um tipo ou categoria lógica (ou gama de
tipos ou categorias), quando na verdade pertencem a outro. O dogma é, portanto,
um mito do filósofo. (Ryle 1949, 14)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Devo primeiro indicar o que significa a frase Categoria-erro '. Isso eu faço em um
série de ilustrações. (Ryle 1949, 14)
Ilustração
2. Criança assistindo a uma divisão militar supondo que era uma das unidades desta
(batalhão, companhia, pelotão)
3. Observador de um jogo de críquete que pede para ver o espírito de equipa (esprit
de corps)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
“Os erros de categoria teoricamente interessantes são aqueles feitos por pessoas
que são perfeitamente competentes para aplicar conceitos, pelo menos nas
situações com as quais estão familiarizados, mas ainda são responsáveis em seu
pensamento abstrato de alocar esses conceitos para tipos lógicos aos quais eles
fazem não pertence. ”(Ryle 1949, 15)
“Uma das principais origens intelectuais do que ainda tenho que provar ser o
erro de categoria cartesiana parece ser este. Quando Galileu mostrou que seus
métodos de descoberta científica eram competentes para fornecer uma teoria
mecânica que deveria abranger todos os ocupantes do espaço, Descartes
encontrou em si dois motivos conflituantes. ”(Ryle 1949, 15)
1. Primeiro, o contraste sagrado entre a Mente e a Matéria será dissipado, mas não s
e dissipará por nenhuma das absorções igualmente consagradas da Mente por Matéria ou
da Matéria. pela Mente, mas de uma maneira bem diferente. (Ryle 1949, 18) A crença de
que existe uma oposição polar entre a Mente e a Matéria é a crença de que eles são
termos do mesmo tipo lógico. (Ryle 1949, 18)
2. Também se segue que tanto o idealismo quanto o materialismo são respostas para
uma pergunta imprópria. A "redução" do mundo material aos estados mentais e
processos, bem como a "redução" dos estados e processos mentais aos estados e
processos físicos, pressupõem a legitimidade da disjunção. (Ryle 1949, 18) Nota Histórica:
Também não seria verdade dizer que o mito dos dois mundos não teve nenhum bem
teórico. Mitos muitas vezes fazem muito bem teórico, enquanto eles ainda são novos. Um
benefício dado pelo mito para-mecânico foi que, em parte, se aposentou do então
prevalente mito para-político. Mentes e suas faculdades já haviam sido descritas
anteriormente por analogias com superiores políticos e subordinados políticos. (Ryle 1949
18-19) (….) O novo mito de operações ocultas, impulsos e agências foi uma melhoria
sobre o antigo mito dos ditados, deferências e desobediências. (Ryle 1949, 19)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Nota Histórica:
Também não seria verdade dizer que o mito dos dois mundos não teve nenhum
bem teórico. Mitos muitas vezes fazem muito bem teórico, enquanto eles ainda
são novos. Um benefício dado pelo mito para-mecânico foi que, em parte, se
aposentou do então prevalente mito para-político. Mentes e suas faculdades já
haviam sido descritas anteriormente por analogias com superiores políticos e
subordinados políticos. (Ryle 1949 18-19)
(….) O novo mito de operações ocultas, impulsos e agências foi uma melhoria
sobre o antigo mito dos ditados, deferências e desobediências. (Ryle 1949, 19)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Na última seção do Livro The Concept of Mind , Ryle admite que
a tendência geral de seu livro está vinculada - inofensivamente -
a ser estigmatizada como comportamentalista; embora ele
indique que caracterização não seria, estritamente falando,
verdadeira. (Tanney, 2009, p. X)
o dualismo da substância pode bem ter sido repudiado, mas o dualismo de propriedade
ainda reivindica um número dos defensores contemporâneos. Na verdade, tanto não-
redutora e redutiva fisicalistas estão emaranhados em um supercrescimento metafísico
cujas raízes são firmemente estabelecido no solo da doutrina oficial.
Existe uma certa emoção de repugnância que eu sinto, e espero que muitos bons futuros
filósofos a partilhem, quando me perguntam a pergunta convencional: “Se és um filósofo, a
que escola de pensamento pertences? És um idealista ou um Realista, um Platonista ou um
Hobbista, um Monista ou um Pluralista? (Ryle, 1973, 137)
Não se trata de não preferir um lado da discussão, ou de nos sentir-mos inclinados para
certas escolas mas antes de reconhecer que queremos contribuir para a Filosofia e por isso
pertencer a esta ou aquela escola (se é o caso) passa por confessar as nossas opiniões
tendenciosas (e por isso também vulneráveis) e confiar que estamos a elaborar essa
perspetiva o mais rigorosamente que podemos para que, caso estejamos errados se ver
todos os detalhes desse engano e, caso tenhamos razão, que seja inevitável que outros
reconheçam as nossas contribuições mesmo que pertençam a escolas de pensamento
diferentes.
Vocabulário
Behaviorismo filosófico é uma família de pontos de vista. O espírito do behaviorismo é que
não há nada mais no mental para além do comportamento.
O behaviorismo analítico (também conhecido como behaviorismo lógico) diz que as frases
sobre mentalidade podem ser traduzidas sem perdermos nada em frases sobre o
comportamento observável. Esta é uma afirmação sobre a semântica, ou significado, de
afirmações sobre o que é mental. (lógico-positivistas Carnap + Hempel)
O behaviorismo ontológico diz que os estados mentais são apenas comportamentos
(disposições para algo que é observável). Esta é uma tese ontológica sobre mentalidade.
(Watson + Skinner)
Os behaviorismos analítico e ontológico são logicamente independentes um do outro:
nenhum implica o outro.
Um tipo de proposta diferente é o behaviorismo metodológico, que diz que a explicação
psicológica não deve se referir a estados mentais internos privados ou subjetivos. Isso pode
ser verdade mesmo que o behaviorismo filosófico seja falso. A motivação para o
behaviorismo metodológico é garantir a testabilidade pública das hipóteses, que é necessária
para a objetividade e a concordância intersubjetiva racional. É assim que a ciência prossegue.
Bibliografia
Cottingham, John (1989) A Filosofia de Descartes (trad. Mª do Rosário Sousa
Guedes; tit orig. Descartes 1986) Lisboa: Edições 70.
Cottingham, John (1999) Descartes (Trad. Jesus de Paula Assis; tit Orig. Descartes.
Descartes' Philosophy of mind 1997) São Paulo: Editora UNESP.
Gilbert Ryle, (1949) “Descartes Myth” in The Concept of Mind, London: Hutchinson’s
University Library.
Tanney, Julia (2009) Rethinking Ryle: A Critical Discussion of the Concept of Mind in
The Concept of Mind. 60º Anniversary Edition, London and New York: Routledge, pp.
ix-lix.