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Filosofia da Mente

(27 Fevereiro 2023)


Dina Mendonça, Ph.D.
Departamento de Filosofia, IFILNOVA
NOVA FCSH, Universidade Nova de Lisboa
(Filosofia da Mente - 2º Semestre de 2023)
Descartes Dualismo
Sugestões na aula de relembrar o que disse Descartes nas
Meditações :

1. três realidades: Res cogitans, Deus e res extensa.

2. Mente / res cogitans é mais fácil de conhecer, mais transparente

3. Um problema é a relação entre mente e corpo (proposta


Cartesiana: interacionismo que reconhece a distinção e a
independência entre a mente e o corpo e aceita a possibilidade que
tanto a mente como o corpo podem ter efeitos causais um no outro)
Descartes Dualismo
Na história da Filosofia da Mente, Descartes (1596-1650) é apontado como o representante da
posição dualista de substância e o iniciador do problema mente-corpo tal como o conhecemos
hoje em dia. (Margoni, 2013, 30)

O dualismo Cartesiano é a tese de que o ser humano é composto por duas substâncias distintas
– res cogitans, substância não extensa e pensante ou espírito & res extensa, substância extensa
e corpórea ou corpo. (Cottingham 1986, 174)

Podemos ler o argumento Cartesiano para a distinção sobre mente e corpo seguindo os
seguintes passos:

Segunda meditação: o reconhecimento de que é impossível que a mente não exista (Penso logo
existo) e que o que pertence à natureza intelectual é diferente do que pertence ao corpo

Sexta meditação: distingue-se o ato do entendimento do da imaginação e descrevem-se os


sinais desta distinção.
Descartes Dualismo
O dualismo de substância de Descartes significa:

1. A mente e o corpo consistem em diferentes substâncias (têm diferentes propriedades)


A mente é feita de um tipo de substancia mental (res cogitans)
Não está localizada nem no espaço nem no tempo
Não tem nem forma nem extensão
Pensa
É indivisível (identificado com facilidade)
E tem as propriedades que as substâncias mentais (age voluntariamente)

O corpo é físico e (res extensa)


a. Tem um local no espaço e tempo
b. Não pensa
c. É feito de partes (divisível e mecânico)
d. Tem propriedades físicas (percebido pelos sentidos)

& a mente pode ser concebida sem corpo (penso logo existo) e não é necessária a conceção clara e distinta da existência do
corpo para reconhecer a existência do espírito (basta pensar).

O Dualismo de substância levanta o Famoso problema de perceber e saber qual a interação entre espírito e corpo.

A resposta de Descartes é a conhecida proposta do interacionismo em que a mente e o corpo têm influência um no outro.
Descartes Dualismo
O que retiramos na estrutura argumentativa da Obra de Descartes não é suficiente para
captar toda a riqueza do texto.

Por isso quando estamos atentos ao argumento temos de estar atentos, simultaneamente, a
passagens que fazem pensar (seja sobre o assunto que estamos a trabalhar, seja para outras
questões filosóficas)

Um exemplo da Segunda Meditação:

“Entretanto, grande é o meu espanto de que o meu espírito se incline tanto para o erro;
porque embora eu reflita em silêncio e intimamente sobre isto, fico todavia preso às próprias
palavras e quase sou enganado pela própria prática da linguagem” (Descartes
(1641)1647/1985, 130)

Passagem especialmente interessante para os próximos textos e o modo como a Filosofia da


Linguagem está ligada à Filosofia da Mente
Descartes Dualismo
Além disso, quando a obra Cartesiana é estudada de forma mais aprofundada como
podemos ler nos livros de John Cottingham 81986, 1999) e a descrição é acompanhada de
mais detalhe do que é normalmente usado nos textos contemporâneos da Filosofia da
Mente.

Por exemplo:

“O erro de Descartes parece ser a tentativa de tirar verdades acerca da ontologia a partir
de verdades epistemológicas ou, para colocar a coisa de maneira menos pomposa, de
tentar deduzir conclusões acerca da natureza real da mente ou do eu pensante a partir de
premissas acerca daquilo de que podemos ou não estar certos, ou de que podemos ou
não duvidar. Ainda assim, aquilo de que sou capaz de duvidar acerca de qualquer item
dado parece depender parcialmente da extensão de minha familiaridade com aquele
item. E a extensão de minha própria familiaridade com mentes, batatas ou com qualquer
outra coisa parece uma base precária para chegar a conclusões firmes acerca de o que é
realmente essencial ou não para sua existência.” (Cottingham 1999, p.21)
Descartes Dualismo
Além disso, quando a obra Cartesiana é estudada de forma mais aprofundada como podemos
ler nos livros de John Cottingham 81986, 1999) e a descrição é acompanhada de mais detalhe
do que é normalmente usado nos textos contemporâneos da Filosofia da Mente.

Por exemplo:

É a estranheza de sensações psicofísicas como fome e dor, sua dissimilaridade inerente com as
perceções transparentes do intelecto, que nos mostra que não somos simplesmente mentes
puras anexadas a corpos. Em lugar disso, este corpo em particular é meu de uma maneira
peculiar, ainda que inegável e vividamente manifesta. Essa é, por assim dizer, a “assinatura”
característica de minha existência não apenas como “coisa pensante” conectada a um corpo
mecânico, mas como um amálgama único de mente e corpo, um ser humano.

Comentadores, pelo menos dentro da tradição anglo saxonica, têm tido a tendência de ignorar
esse aspeto crucial da filosofia de Descartes, preferindo em lugar disso concentrar-se em seus
argumentos a respeito do caráter distinto de mente e corpo.(Cottingham 1999, p.30-31)
Descartes Dualismo
Assim Podemos ver no comentário de Cottingham que Descartes reconheceu não dois mas três
aspetos. (Cottingham 1986, 174)

“A conceção dualista padrão analisa a fome em termos de dois conjuntos de factos – os que envolvem
modificações de extensão e os que envolvem modificações de pensamento. Mas Descartes não
reconhece com efeito a fome como tendo dois aspetos mas sim três.

Em primeiro lugar , existem os factos puramente físicos – a falta de nutrientes, a contração do


estômago, etc.; estes são puramente físicos no sentido de poderem acontecer a um doente
completamente anestesiado ou em coma. Assim, até mesmo um androide criado artificialmente,
indica Descartes, poderia ter todas as funções fisiológicas associadas à digestão e à nutrição (Tratado
sobre o Homem AT XI 132 e sgts.)

Em segundo lugar, existem os factos puramente intelectuais que Descartes atribui à alam. Estes são
juízos totalmente desprovidos de cor e sentimento tais como o meu corpo necessita de alimento. A
estes poderemos juntar a vontade sem paixão, tal como a formação calma da decisão de tomar
alimentos.

Em terceiro lugar e de forma bem distinta das duas primeiras, existe a tal sensação indefinível – aquilo
a que Descartes chama um-não-sei-quê-que-puxa” isto é a sensação de fome.”
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Gilbert Ryle (1900-1976)


Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A nova era da Filosofia da Mente pode ser datada a partir de 1949 e o
livro de Gilbert Ryle The Concept of Mind

Antes de Ryle tinha havido teorias da mente – famosos “ismos” tal como
o idealismo, o materialismo, o monismo neural, o epifenomenalismo, o
interacionismo - que partilhavam uma série de pressupostos sobre o
problema que definia esta área: o problema mente-corpo.

Ryle sugeriu que não havia este problema de todo, mas apenas uma
confusão criada a partir de um uso (e abuso) da linguagem corrente que
usamos no nosso dia a dia. (Dennett 1978, 249).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
“As teorias foram consideradas como a criação daqueles que
tinham falhado de ver os problemas (...) que apareciam dos
pressupostos naïve sobre o modo como as palavras para
descrever a mente funcionavam na linguagem. A Construção
teórica foi substituída por um a atividade mais cautelosa e
modesta de “análise conceptual” (Dennett 1978, 249).

“No seu melhor, e no trabalho de Ryle, Wittgenstein, Austin


e Anscombe, este método revelou questões conceptuais
profundas que ainda hoje moldam e continuarão a moldar a
nossa forma de pensar” (Dennett 1978, 249).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A teoria do behaviorismo lógico de que a verdade sobre as afirmações
dos estados e acontecimentos mentais implica e é implicado pela
verdade das várias afirmações sobre o comportamento. (…)

(…) teve algumas consequências menos felizes porque “ainda que seja
possível aprender tudo sobre um conceito de cavalo ao estudar o
modo como usamos a palavra “cavalo”, e que seja possível aprender
imenso sobre cavalos ao estudar o conceito de cavalo (…) há no
entanto algumas coisas que ficam de fora e que só podem ser
descobertas ao olhar para cavalos, ou pelo menos a ler o que outras
pessoas que trabalharam com e sobre cavalos disseram” (Dennett
1978, 250).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A filosofia de análise da linguagem comum hoje em dia pode ser vista como um

fenómeno histórico. Como uma reação essencialmente crítica e reativa estava

condenada a morrer quando tivesse esgotado todos os erros e confusões linguísticas a

diagnosticar. (Dennett 1978, 250).

Embora as suas doutrinas e métodos mais característicos tenham sido amplamente

rejeitados ou abandonados, as suas contribuições para o pensamento atual são

positivas e persuasivas. Mais importante, a nova forma com as palavras realmente

destruiu a forma tradicional de compor uma teoria filosófica da mente. (Dennett 1978,

250).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Se houvesse teorias da mente de todo, não seriam produzidas pelos métodos
antigos a partir da poltrona.

Por isso o filósofo da mente tinha três opções:

abandonar a filosofia e seguir teorias empíricas no domínio da psicologia ou da


ciência do cérebro,

abandonar a teoria e contentar-se com as modestas iluminações e confusões-


curas de análise puramente linguística,

ou tornar-se uma espécie de metateorias avançadas pelas ciências relevantes.


(Dennett 1978, 250).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Gilbert Ryle (1900-1976)

“Embora Gilbert Ryle tenha publicado sobre uma ampla


gama de tópicos em filosofia (principalmente na história da
filosofia e na filosofia da linguagem), incluindo uma série de
palestras centradas em dilemas filosóficos, uma série de
artigos sobre o conceito de pensamento e um livro em
Platão, o conceito de mente continua sendo o seu trabalho
mais conhecido e mais importante. Através deste trabalho,
acredita-se que Ryle tenha realizado duas tarefas principais.”
(Tanney, 2015, 1)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Através deste trabalho, acredita-se que Ryle tenha realizado duas tarefas
principais.”

“Primeiro, ele foi visto como colocando o último prego no caixão do dualismo
cartesiano.

Segundo, como ele próprio antecipou, acredita-se que ele tenha argumentado em
nome da doutrina conhecida como comportamento filosófico (e às vezes analítico)
e sugerindo-o como substituição do dualismo.

Às vezes também conhecido como uma "linguagem comum", às vezes como um


filósofo "analítico", Ryle - mesmo quando mencionado no mesmo fôlego que
Wittgenstein e seus seguidores - é considerado como tento uma posição filosófica,
um tanto idiossincrática (e difícil de caracterizar).” (Tanney, 2015, 1)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
• Primeiro capitulo tem três secções

• Na primeira Ryle apresenta o dualismo cartesiano como


a Doutrina Oficial

• Na segunda ele introduz a noção de erro categorial como


forma de criticar a doutrina Oficial

• Na terceira procura explicar as razões que levaram à


formulação da doutrina Oficial
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Nesta primeira secção, Ryle apresenta o que ele chama de ”doutrina oficial".  

A doutrina oficial é a teoria dualista da mente humana que Ryle rejeita e vai
criticar.

Na primeira secção do capitulo, antes de a criticar, ele vai começar por explicar o
que é essa teoria da doutrina oficial. Deste modo, uma grande parte desta
secção apresenta uma visão que ele não mantém e por isso a maioria das frases
que aparecem nesta secção não são o que Ryle pensa, mas o que seus
oponentes pensam.
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

A doutrina oficial, que vem principalmente de Descartes, é algo assim. Com as


duvidosas exceções de idiotas e bebês de armas, todo ser humano tem corpo e
mente. Alguns prefeririam dizer que todo ser humano é tanto um corpo quanto
uma mente. Seu corpo e sua mente são ordinariamente aproveitados juntos,
mas após a morte do corpo, sua mente pode continuar a existir e funcionar. (Ryle
1949, 11)

Os corpos humanos estão no espaço e estão sujeitos às leis mecânicas que


governam todos os outros corpos no espaço. Processos e estados corporais
podem ser inspecionados por observadores externos. Assim, a vida corpórea de
um homem é tanto um assunto público quanto a vida de animais e répteis e até
mesmo as carreiras de árvores, cristais e planetas. (Ryle 1949, 11)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Mas as mentes não estão no espaço, nem as suas operações estão sujeitas a leis
mecânicas. O funcionamento de uma mente não é testemunha de outros
observadores; a sua carreira é privada. Só eu posso ter conhecimento direto dos
estados e processos da minha própria mente. Uma pessoa, portanto, vive através
de duas histórias colaterais, uma consistindo do que acontece em e para seu
corpo, a outra consistindo do que acontece em e para sua mente. O primeiro é
público, o segundo privado. Os eventos da primeira história são eventos no
mundo físico, os do segundo são eventos no mundo mental. (Ryle 1949, 11)

 Na autoconsciência e introspeção da consciência, ele é direta e autenticamente


informado sobre os estados e operações atuais de sua mente. Ele pode ter
grandes ou pequenas incertezas sobre episódios concorrentes e adjacentes no
mundo físico, mas não pode ter nada sobre pelo menos parte do que
momentaneamente ocupa sua mente. (Ryle 1949, 11)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

É costume expressar essa bifurcação de suas duas vidas e de seus dois mundos,
dizendo que as coisas e eventos que pertencem ao mundo físico, incluindo seu
próprio corpo, são externos, enquanto o funcionamento de sua própria mente é
interno. (Ryle 1949, 11)

Mesmo quando "interior" e "exterior" são construídos como metáforas, o


problema de como a mente e o corpo de uma pessoa influenciam uns aos outros
é notoriamente carregado de dificuldades teóricas. (Ryle 1949, 12)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Mas as transações reais entre os episódios da história privada e os da história


pública permanecem misteriosas, pois, por definição, elas não podem pertencer
a nenhuma das séries. Eles não puderam ser relatados entre os acontecimentos
descritos em a. autobiografia da pessoa de sua vida interior, mas nem poderiam
ser relatados entre aqueles descritos na biografia de outra pessoa daquela
pessoa é carreira evidente. Eles podem ser inspecionados nem por introspeção
nem por experimentos de laboratório. Eles são peças teóricas que estão sempre
sendo usadas desde o fisiologista até o psicólogo e do psicólogo até o fisiologista.

Subjacente a essa representação parcialmente metafórica da bifurcação das duas


vidas de uma pessoa, há uma suposição aparentemente mais profunda e
filosófica. (Ryle 1949, 12)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Há, portanto, uma oposição polar entre a mente e a matéria, uma oposição que
muitas vezes é apresentada da seguinte forma. Objetos materiais estão situados
em um campo comum, conhecido como "espaço", e o que acontece a um corpo
em uma parte do espaço é mecanicamente conectado com o que acontece com
outros corpos em outras partes do espaço. Mas os acontecimentos mentais
ocorrem em campos isolados, conhecidos como 'mentes' e, à parte, talvez por
telepatia, não há conexão causal direta entre o que acontece em uma mente e o
que acontece em outra. Somente através do meio do mundo físico público é que
a mente de uma pessoa pode fazer diferença para a mente de outra pessoa. A
mente é seu próprio lugar e em sua vida interior cada um de nós vive a vida de
um fantasma Robinson Crusoé. As pessoas podem ver, ouvir e sacudir os corpos
umas das outras, mas são irremediavelmente cegas e surdas para o
funcionamento da mente umas das outras e inoperantes para elas. (Ryle 1949,
12)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Que tipo de conhecimento pode ser assegurado do funcionamento de uma


mente? (Ryle 1949, 12)

Os pensamentos, sentimentos e vontades atuais de uma pessoa, suas


perceções, recordações e imaginações são "intrinsecamente fosforescentes"; sua
existência e sua natureza são inevitavelmente traídas a seu dono. A vida interior
é um fluxo de consciência de tal tipo que seria absurdo sugerir que a mente cuja
vida é essa corrente pode não ter consciência do que está passando por ela. É
verdade que as evidências apresentadas recentemente por Freud parecem
mostrar que existem canais tributários desse fluxo, que ficam ocultos de seu
dono. (Ryle 1949, 12)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Os defensores da teoria oficial tendem, no entanto, a sustentar que de qualquer forma,
em circunstâncias normais, uma pessoa deve ser direta e autenticamente tomada do
estado presente e do funcionamento de sua própria mente. (Ryle, 1049, 13)
Essa auto-observação também supostamente é imune à ilusão, confusão ou dúvida. Os
relatos de uma mente de seus próprios assuntos têm uma certeza superior ao melhor que
é possuído por seus relatos de assuntos no mundo físico. As perceções sensoriais podem,
mas a consciência e a introspeção não podem ser confundidas ou confundidas. (Ryle,
1049, 13)  

O acesso direto ao funcionamento de uma mente é o privilégio dessa própria mente; Na


falta desse acesso privilegiado, o funcionamento de uma mente é inevitavelmente oculto
para todos os outros. Pois os supostos argumentos de movimentos corporais semelhantes
aos seus, a funcionamentos mentais semelhantes aos seus, careceriam de qualquer
possibilidade de corroboração observacional. Não artificialmente, portanto, um adepto da
teoria oficial acha difícil resistir a essa consequência de suas premissas, que ele não tem
boas razões para acreditar que existam outras mentes além da sua. (Ryle, 1049, 13) 
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)

Quando alguém é descrito como conhecendo, acreditando ou adivinhando


algo, como esperando, temendo, pretendendo ou esquivando-se de algo,
planejando isso ou divertindo-se com isso, esses verbos supostamente
denotam a ocorrência de modificações específicas em seu fluxo oculto (para
nós). da consciência. Apenas a sua O acesso privilegiado a esse fluxo na
perceção direta e na introspeção poderia fornecer um testemunho autêntico
de que esses verbos de conduta mental eram aplicados correta ou
incorretamente. O espectador, seja ele professor, crítico, biógrafo ou amigo,
nunca se assegura de que seus comentários têm algum vestígio de verdade
(Ryle 1949, 13).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A segunda seção critica a doutrina oficial mostrando que a Absurdidade está em um
erro de categoria. Esta é a seção mais importante do artigo.  Tal em resumo é a
teoria oficial. Frequentemente falarei sobre isso, com deliberado abuso, como "o
dogma do Fantasma na Máquina". Espero provar que é totalmente falso e falso não
em detalhes, mas em princípio. Não é meramente um conjunto de erros particulares.
É um grande erro e um erro de um tipo especial. É, a saber, um erro de categoria.
(Ryle 1949, 14)

Ryle introduz um novo nome para a doutrina oficial, "o dogma do Fantasma na
Máquina". Como o próprio Ryle diz, esse é um apelido pejorativo para a visão. Ryle
depois chama a doutrina oficial de "a teoria da vida dupla". Representa os modismos
da vida mental como se pertencessem a um tipo ou categoria lógica (ou gama de
tipos ou categorias), quando na verdade pertencem a outro. O dogma é, portanto,
um mito do filósofo. (Ryle 1949, 14)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Devo primeiro indicar o que significa a frase Categoria-erro '. Isso eu faço em um
série de ilustrações. (Ryle 1949, 14)

Ilustração

1. Alguém visita Oxford e vê várias faculdades, museus, departamentos científicos,


escritórios administrativos, etc., e então diz: “tudo bem, agora me mostre a
universidade”. O erro que eles estão cometendo é pensar que a universidade existe
da mesma maneira que essas outras coisas. Mas isso não acontece. É uma entidade
mais abstrata que relaciona todos esses locais (entre outras coisas) uns aos outros.

2. Criança assistindo a uma divisão militar supondo que era uma das unidades desta
(batalhão, companhia, pelotão)

3. Observador de um jogo de críquete que pede para ver o espírito de equipa (esprit
de corps)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
“Os erros de categoria teoricamente interessantes são aqueles feitos por pessoas
que são perfeitamente competentes para aplicar conceitos, pelo menos nas
situações com as quais estão familiarizados, mas ainda são responsáveis ​em seu
pensamento abstrato de alocar esses conceitos para tipos lógicos aos quais eles
fazem não pertence. ”(Ryle 1949, 15)

“A Constituição Britânica não é um termo do mesmo tipo lógico como“ o


Ministério do Interior ”e“ a Igreja da Inglaterra ”” (Ryle 1949, 15).

Porque não é outra instituição no mesmo sentido desse nome.


Semelhantemente a dizer coisas sobre o “contribuinte médio” sem poder
encontrá-lo na rua “Meu objetivo destrutivo é mostrar que uma família de erros
radicais de categoria é a fonte da teoria da vida dupla.” (Ryle 1949, 15)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
A última seção do capítulo sobre a origem do erro de categoria é um passo
importante que nem sempre é tão visivelmente colocado no esforço filosófico. O
trabalho filosófico não é completo se não explicar a razão pela qual outros
filósofos endossaram em um erro (STRESS THIS).

“Uma das principais origens intelectuais do que ainda tenho que provar ser o
erro de categoria cartesiana parece ser este. Quando Galileu mostrou que seus
métodos de descoberta científica eram competentes para fornecer uma teoria
mecânica que deveria abranger todos os ocupantes do espaço, Descartes
encontrou em si dois motivos conflituantes. ”(Ryle 1949, 15)

 Como homem de gênio científico, não podia senão endossar as reivindicações


da mecânica, mas como homem religioso e moral não podia aceitar, como
Hobbes aceitou, o desencorajador a essas afirmações, a saber, que a natureza
humana só difere em grau de complexidade relógio. O mental não poderia ser
apenas uma variedade da mecânica. (Ryle 1949, 15-16)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Mentes são coisas, mas diferentes tipos de coisas de corpos; processos mentais são causas
e efeitos, mas diferentes tipos de causas e efeitos de movimentos corporais. E assim por
diante. Um tanto quanto o estrangeiro esperava que a Universidade fosse um edifício
extra, mais ou menos como um colégio, mas também consideravelmente diferente, os que
repudiam o mecanicismo representavam as mentes como centros extras de processos
causais, como máquinas, mas também consideravelmente diferentes delas. A sua teoria
era uma hipótese para-mecânica (Ryle 1949, 16).

Problemas de Causalidade Mental “a principal dificuldade teórica em explicar como a


mente pode influenciar e ser influenciada por corpos” (Ryle 1949, 16) Problema do Livre
Arbítrio “o segundo ponto crucial aponta a mesma moral. Uma vez que, de acordo com a
doutrina, as mentes pertencem à mesma categoria que os corpos e como os corpos são
rigidamente governados por leis mecânicas, parecia a muitos teóricos que as mentes
devem ser governadas de forma semelhante por rígidas leis não-mecânicas. O mundo
físico é um sistema determinista, então o mundo mental deve ser um sistema
determinista ”(Ryle 1949, 16).
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Se meu argumento for bem sucedido, haverá alguma consequência interessante.

1. Primeiro, o contraste sagrado entre a Mente e a Matéria será dissipado, mas não s
e dissipará por nenhuma das absorções igualmente consagradas da Mente por Matéria ou
da Matéria. pela Mente, mas de uma maneira bem diferente. (Ryle 1949, 18)  A crença de
que existe uma oposição polar entre a Mente e a Matéria é a crença de que eles são
termos do mesmo tipo lógico. (Ryle 1949, 18)

2. Também se segue que tanto o idealismo quanto o materialismo são respostas para
uma pergunta imprópria. A "redução" do mundo material aos estados mentais e
processos, bem como a "redução" dos estados e processos mentais aos estados e
processos físicos, pressupõem a legitimidade da disjunção. (Ryle 1949, 18)  Nota Histórica:
 Também não seria verdade dizer que o mito dos dois mundos não teve nenhum bem
teórico. Mitos muitas vezes fazem muito bem teórico, enquanto eles ainda são novos. Um
benefício dado pelo mito para-mecânico foi que, em parte, se aposentou do então
prevalente mito para-político. Mentes e suas faculdades já haviam sido descritas
anteriormente por analogias com superiores políticos e subordinados políticos. (Ryle 1949
18-19) (….) O novo mito de operações ocultas, impulsos e agências foi uma melhoria
sobre o antigo mito dos ditados, deferências e desobediências. (Ryle 1949, 19)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Nota Histórica:  

Também não seria verdade dizer que o mito dos dois mundos não teve nenhum
bem teórico. Mitos muitas vezes fazem muito bem teórico, enquanto eles ainda
são novos. Um benefício dado pelo mito para-mecânico foi que, em parte, se
aposentou do então prevalente mito para-político. Mentes e suas faculdades já
haviam sido descritas anteriormente por analogias com superiores políticos e
subordinados políticos. (Ryle 1949 18-19)

(….) O novo mito de operações ocultas, impulsos e agências foi uma melhoria
sobre o antigo mito dos ditados, deferências e desobediências. (Ryle 1949, 19)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Na última seção do Livro The Concept of Mind , Ryle admite que
a tendência geral de seu livro está vinculada - inofensivamente -
a ser estigmatizada como comportamentalista; embora ele
indique que caracterização não seria, estritamente falando,
verdadeira. (Tanney, 2009, p. X)

Sessenta anos depois, ele é reconhecido como o pai do


comportamento filosófico (às vezes analítico), portanto, se esse
é o caso, é importante ver porque persiste esta interpretação e
qual a sua motivação. (Tanney, 2009, p. X)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Na tentativa de derrotar o cartesiano ou o platônico e nos lembrar que os
predicados mentais têm padrões de aplicação perfeitamente comuns, Ryle se
concentra no que é observável. Faz parte de sua guerra contra o que não é apenas
oculto (e observável apenas através da introspeção), mas também contra o que é
(Tanney, 2015, p. 25) escondido do ponto de vista de um observador de terceiros.

Mas, ao focar no que é observável, ele não se compromete a reduzir o que é


observável a sequências de "comportamento muscular". Aqueles que atribuem a
Ryle um comportamento "suave" têm pelo menos a razão de que os lembretes
que ele envia para afastar o cartesianismo incluem um apelo franco ao que mais
tarde ele descreverá como ações muito mais altas na "escada da sofisticação",
como pagar uma conta ou pontuar um objetivo, bem como o que mais tarde ele
chamará de ações "concretas", "per se" ou "infra", como rabiscar números em um
talão de cheques ou chutar uma bola entre dois postes. (Tanney, 2015, p. 26)
Gylbert Ryle Chapter 1 Descartes Myth of The
Concept of Mind (1949)
Argumentarei que a visão que acabamos de esboçar, apesar de generalizada, representa
uma incompreensão fundamental do trabalho de Ryle. Primeiro, o oficial A doutrina está
morta em apenas um dos seus aspetos ontológicos:

o dualismo da substância pode bem ter sido repudiado, mas o dualismo de propriedade
ainda reivindica um número dos defensores contemporâneos. Na verdade, tanto não-
redutora e redutiva fisicalistas estão emaranhados em um supercrescimento metafísico
cujas raízes são firmemente estabelecido no solo da doutrina oficial.

O problema de encontrar um lugar para o mental no mundo físico, de acomodar o poder


causal do mental, e de explicar o fenomenal aspetos da consciência são todos os
problemas vivos na filosofia da mente hoje porque eles compartilham uma combinação
de ontologia da doutrina, pressupostos epistemológicos e semânticos. Então chegou a
hora de pagar nova atenção para a pouca "dissolução" de Ryle da mente-corpo
problema. (Tanney, 2009, p. X)
Gostaria de colocar-me do lado de Gilbert Ryle quando em Taking Sides (1973) ele escreve:

Existe uma certa emoção de repugnância que eu sinto, e espero que muitos bons futuros
filósofos a partilhem, quando me perguntam a pergunta convencional: “Se és um filósofo, a
que escola de pensamento pertences? És um idealista ou um Realista, um Platonista ou um
Hobbista, um Monista ou um Pluralista? (Ryle, 1973, 137)

Não se trata de não preferir um lado da discussão, ou de nos sentir-mos inclinados para
certas escolas mas antes de reconhecer que queremos contribuir para a Filosofia e por isso
pertencer a esta ou aquela escola (se é o caso) passa por confessar as nossas opiniões
tendenciosas (e por isso também vulneráveis) e confiar que estamos a elaborar essa
perspetiva o mais rigorosamente que podemos para que, caso estejamos errados se ver
todos os detalhes desse engano e, caso tenhamos razão, que seja inevitável que outros
reconheçam as nossas contribuições mesmo que pertençam a escolas de pensamento
diferentes.
Vocabulário
 Behaviorismo filosófico é uma família de pontos de vista. O espírito do behaviorismo é que
não há nada mais no mental para além do comportamento.
 
O behaviorismo analítico (também conhecido como behaviorismo lógico) diz que as frases
sobre mentalidade podem ser traduzidas sem perdermos nada em frases sobre o
comportamento observável. Esta é uma afirmação sobre a semântica, ou significado, de
afirmações sobre o que é mental. (lógico-positivistas Carnap + Hempel)
 
O behaviorismo ontológico diz que os estados mentais são apenas comportamentos
(disposições para algo que é observável). Esta é uma tese ontológica sobre mentalidade.
(Watson + Skinner)
 
Os behaviorismos analítico e ontológico são logicamente independentes um do outro:
nenhum implica o outro.
 
Um tipo de proposta diferente é o behaviorismo metodológico, que diz que a explicação
psicológica não deve se referir a estados mentais internos privados ou subjetivos. Isso pode
ser verdade mesmo que o behaviorismo filosófico seja falso. A motivação para o
behaviorismo metodológico é garantir a testabilidade pública das hipóteses, que é necessária
para a objetividade e a concordância intersubjetiva racional. É assim que a ciência prossegue.
 
Bibliografia
Cottingham, John (1989) A Filosofia de Descartes (trad. Mª do Rosário Sousa
Guedes; tit orig. Descartes 1986) Lisboa: Edições 70.

Cottingham, John (1999) Descartes (Trad. Jesus de Paula Assis; tit Orig. Descartes.
Descartes' Philosophy of mind 1997) São Paulo: Editora UNESP.

Gilbert Ryle, (1949) “Descartes Myth” in The Concept of Mind, London: Hutchinson’s
University Library.

Gilbert Ryle “Taking Sides” (1937) Philosophy, 12 (47) 317-332.

Margoni (2013) O Funcionalismo na Filsoofia da Mente. Porto Alegre: RS : Editora Fi

Tanney, Julia (2009) Rethinking Ryle: A Critical Discussion of the Concept of Mind in
The Concept of Mind. 60º Anniversary Edition, London and New York: Routledge, pp.
ix-lix.

Tanney, Julia, "Gilbert Ryle", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Spring 2015 Edition),


Edward N. Zalta (ed.), URL = <https://plato.stanford.edu/archives/spr2015/entries/ryle/>.

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