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RACIONALISMO E KANT
Carga horária
• Seis horas EAD – 4ª e 5ª semanas.
Objetivos
• Entender a maneira racionalista de pensar a ética.
Conteúdo
• Pensamento de René Descartes.
• Ética kantiana.
UNIDADE 2
Licenciatura em Filosofia
1 INTRODUÇÃO
Na unidade anterior, tivemos a oportunidade de pensar o indivíduo não mais
como um simples servo de Deus, mas como um ser social, e nesta sociabilidade – ora
vista como necessária, ora não – é que se fundará o agir ético moderno. A inserção na
sociedade é que possibilitará o questionamento ético, e quando não há inserção, será com
relação à sociedade que se estabelecerá qualquer caminho de ação.
Como você pôde notar, anteriormente refletimos sobre a ética na obra de alguns
dos pensadores empiristas, como Hobbes, Locke e Hume, por isso, nesta unidade, nossa
atenção será direcionada às concepções éticas dos pensadores racionalistas, tomando
como ponto de apoio as idéias fundadoras de Descartes e também de Baruch Spinoza;
após esta primeira parte, partiremos para o pensamento de Immanuel Kant.
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Desse modo, chegava à conclusão que em mim fora inculcada por uma natureza
realmente mais perfeita do que eu e enfeixando em si todas as perfeições das
quais eu pudesse fazer uma idéia, isto é, para que eu me explique em uma só
palavra: DEUS (DESCARTES, 1972, p. 46).
[...] tira sua existência de alguma outra causa diferente de si, tornar-se-á a
perguntar, pela mesma razão, a respeito desta segunda causa, se ela é por si,
ou por outrem, até que gradativamente se chegue a uma última causa que se
verificará ser Deus (DESCARTES, 1973, p. 119).
O autor fixa três regras daquela que chamou de moral provisória; é provisória,
pois ao estabelecer a dúvida metódica e universal como caminho da verdade, era preciso
uma moral que garantisse uma vida sem grandes problemas justamente enquanto
duvidava.
Fixadas tais regras, apenas um obstáculo restará à ação humana: a não decisão;
o homem que não se decide, acaba se decidindo pelo seu próprio azar. A partir da moral
provisória, Lima Vaz afirma que:
Na ordem do bem, a vontade deve agir mesmo em face do provável que pareça
melhor aos olhos a razão; na ordem do verdadeiro, a razão não deve assentir
senão ao que se apresente como evidentemente certo. Em outras palavras, na
ordem do bem, o sujeito encontra-se em face de um ethos histórico lentamente
constituído pela experiência das gerações e transmitido pela tradição. (LIMA
VAZ, 2002, p. 283)
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O pensador defende que todas as coisas são neutras na ordem moral, a partir do
INFORMAÇÃO: ponto de vista da eternidade; quando algo é classificado como bom ou mau, isto se deve
A obra-prima de Spinoza é a apenas às necessidades e interesses humanos.
Ethica, publicada postumamente,
em 1677.
Para este filósofo, o que contribui para o conhecimento da natureza do ser
humano ou se encontra em consonância com a razão humana é tido como bom. Neste
sentido, a razão é necessária para frear as paixões e alcançar o prazer e a felicidade.
Supõe-se daí que, tudo o que as pessoas têm em comum é o melhor para cada um e o
bem que se proporciona a si próprios.
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Kant crítica as éticas materiais, que seriam aquelas criadas anteriores a ele,
tomando como centro o fato de que elas assinalam conteúdos (bens, fins e valores),
dando caminhos de ação; a partir de tais conteúdos é que seriam extraídos critérios de
moralidade.
A proposta kantiana é de uma ética formal. Tal ética não propõe conteúdos,
pois é de caráter puramente racional e totalmente universal, contrariamente à proposta
de D. Hume.
O agir será guiado, assim, unicamente pela boa vontade que respeita a lei moral,
não havendo um fim determinado a ser perseguido.
Demonstra-se que a razão pode dirigir a vontade enquanto pura razão porque há
uma lei moral com valor universal: este é um “fato da razão” não ulteriormente
justificável. Ora, uma lei universalmente válida deve valer apenas por sua forma
de lei, ou seja, porque é lei, não pelo que (matéria) me ordena fazer [...]. Na
verdade, só há dois motivos possíveis para querer um objeto: ou porque se
deve querê-lo, porque a lei o ordena, ou porque o objeto agrada. Mas o agradar
é subjetivo, pode variar de indivíduo para indivíduo, e portanto não pode fundar
uma lei universal. A quem lhe objetara que deveria ter anteposto a noção de
bem à de lei Kant responde, a seguir, que não se pode definir o que é o bem
moral independentemente do conceito de lei, porque bem moral é aquilo que
a lei ordena. Nisso consiste o formalismo da moral kantiana (ROVIGHI, 2002,
p. 583).
Pensando dessa maneira, ação boa é aquela guiada pela intenção boa,
realizada segundo princípios, e não segundo a vontade (emotiva) que almeja alcançar
determinados fins. Kant quer que a ética seja independente das apetências, gostos e
desejos particulares.
Diz o filósofo alemão que, em qualquer realidade, “nada é possível pensar que
possa ser considerado como bom sem limitação a não ser uma só coisa: uma boa vontade”
(KANT, 1974, p. 203).
Podemos entender que uma ética é heterônoma quando há uma obrigação moral
que é imposta ao ser humano, sendo externa à sua própria vontade. Neste sentido, a ação
boa seria aquela que simplesmente se adequasse a tal imposição.
Aqui, percebemos que, então, não há responsabilidade do homem pelos tais fins
(impostos), por isso, em Kant, vemos
[...] a falência das tentativas de fazer do Bem supremo, por meio dos princípios
heterônimos da felicidade e da virtude, o determinante da vontade. Somente a
lei moral pode determinar a priori a vontade e fundamentar um uso legítimo da
razão prática no conhecimento do Bem supremo como exigência necessária da
vontade do ser racional (LIMA VAZ, 2002, p. 346).
Numa ética autônoma, a obrigação moral (lei) vem do próprio homem, neste
sentido, ele se torna responsável por ela; a ética kantiana é autônoma porque se funda na
própria razão, não necessitando de algo externo.
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Para o pensador, há a certeza da lei moral dentro do ser humano fazendo com
que dela ele não possa escapar, devendo assumi-la.
Aqui, o bem agir – o agir moral – é o cumprimento do dever; este, por sua vez,
é a realização da ação por respeito à lei moral, na liberdade. Um agir que se guiasse pelo
prazer ou unicamente na busca da felicidade não pode ser considerado moral (por ser algo
interesseiro e egoísta) nem livre (por ser determinado por desejos e paixões).
Para o filósofo alemão, não importa que o indivíduo atue com inteligência, pois
as circunstâncias e os acidentes são características às quais a ação humana está sujeita.
INFORMAÇÃO:
Procure anotar as principais Desta maneira, o ato, em sua moralidade, não pode ser julgado pelas suas conseqüências,
informações e conceitos que mas sim pela motivação ética que tem.
surgirem ao longo dos estudos.
Sua organização garantirá o
sucesso de sua aprendizagem. Kant diz que em uma ação, seu valor moral
[...] não reside, portanto, no efeito que dela se espera; também não reside
em qualquer princípio da ação que precise de pedir o seu móbil a este efeito
esperado. Pois todos estes efeitos (a amenidade da nossa situação e mesmo o
fomento da felicidade alheia) podiam também ser alcançados por outras causas,
e não se precisava portanto para tal da vontade de um ser racional, na qual
vontade – e só nela – se pode encontrar o bem supremo e incondicionado. Por
conseguinte, nada senão a representação da lei em si mesma, que em verdade
só no ser racional se realiza, enquanto é ela, e não o esperado efeito, que
determina a vontade, pode construir o bem excelente a que chamamos moral,
o qual se encontra já presente na própria pessoa que age segundo esta lei, mas
se não deve esperar somente do efeito da ação (KANT, 1974, p. 209).
O bem em si mesmo se torna princípio geral, inclinação-raiz, que faz com que
a pessoa aja, como obrigação. Assim, Kant estabelece a regra denominada imperativo
categórico: aja como se a máxima de tua ação pudesse ser escolhida, por tua vontade,
como lei universal; tal denominação (imperativo categórico) se deve por ser geral e, ao
mesmo tempo, encerrar um mandato.
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5 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade estudamos três autores significativos que muito contribuem para
a formação ética do estudante de Filosofia. Na primeira parte, com Descartes e Spinosa,
vimos de que maneira o pensar racionalista nos auxilia a entender o tema ético-moral
tomando por base unicamente o aspecto racional.
Vimos assim, como se deu o pensar ético moderno em sua evolução, teorias que,
aos poucos, vão construindo os caminhos de estabelecimento da ética contemporânea.
6 E-REFERÊNCIAS
Lista de figuras
Figura 1 Spinoza – Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_de_Espinosa>.
Acesso em 03 nov. 2006.
Figura 2 Immanuel Kant – Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Immanuel_
Kant>. Acesso em 03 set. 2006.
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Anotações