Você está na página 1de 12

Aula 1: Igor - Pensar o infinito:

sobre a pretensa realidade objetiva da


ideia de Deus em Descartes
Um primeiro ponto a se destacar nessa discussão é que a ideia do eu enquanto
substância finita possui em si a ideia de Deus, substância infinita. Deus entra na
filosofia como a primeira coisa fora do EU. Portanto, a ideia de Deus também não é
inata para Descartes.

Inclusive Descartes nunca afirmou que a realidade objetiva da ideia de Deus era
infinita;

Quanto a esse aspecto podemos distinguir:


1 – A tese da ideia verdadeira
2 – A tese da verdadeira ideia (basta que ela tenha algo de real)

Descartes afirma que o que está contido na ideia de Deus contém mais realidade
objetiva do que os outros objetos. > Isso significa admitir como finita a realidade de
Deus; isto é, se considerada em sua realidade formal, a mente.

Existe em Deus propriedades que não posso atingir com o pensamento, como a
quantidade de realidade objetiva (isso depende da intelecção clara e distinta das
propriedades)

A ideia de Deus contém todas as perfeições, não é uma ideia imperfeita pois não as
contém de maneira explícita.

Na 3ª meditação por exemplo, a perfeição está contida em Deus, e na 5ª meditação a


perfeição está contida na ideia de Deus.

Nosso conhecimento de Deus é então finito. Gassendi nota a partir de Descartes que é
necessária a ideia de Deus como infinita.

A ideia de Deus é diferente de todas as outras pois não possibilita qualquer conteúdo
representativo. E ai sim a ideia de Deus enquanto representação pode ser finita e
infinita ao mesmo tempo.

Para Alquié, por outro lado, a ideia de Deus não é uma representação, mas presença.

Sendo assim, se a ideia de Deus para Descartes não é o pensamento, o que é então?
- A ideia de Deus é uma presença em oposição à representação, em oposição à Deus
em sua causa formal
Aula 2: Pedro – Substância em
Descartes
O conceito de substância possui um papel central nas concepções metafísicas
ocidentais e consequentemente em Descartes. A depender da compreensão de
“Substância” podemos nos deparar com uma dificuldade na compreensão de outros
conceitos e propostas, como a metafisica

A doutrina da substância aparece em Descartes a partir da reconstrução que advem de


referencias aristotélicas; as referências pra pensar esse tema aqui serão as meditações

Quando nos perguntamos: o que existe?


“Substância” é a resposta – A substância e suas propriedades

A tese de Descartes do dualismo mente vs corpo depende da tese do atributo


principal, ou seja: a tese que afirma que a substância possui um único atributo
principal, que é idêntico à substância, que revela a natureza desta

A partir daí, podemos nos perguntar: Descartes possui uma teoria coerente da
substância? Qual sua teoria da substância? Seria o ser humano uma substância?

A partir disso, temos no campo de discussão duas principais compreensões sobre o


conceito de substância que podem ser articuladas com o ensino de Descartes, mas
não entre si:

1. Substância enquanto um sujeito de propriedades, sujeito de inerência, um


substrato.
2. Substância enquanto entidade independente, que não requer a existência de
nenhuma outra entidade para existir (modelo do substrato)

Porém, somente a segunda definição irá nos permitir fazer uma articulação com a tese
de Descartes que separa mente e corpo enquanto substâncias diferentes

Enquanto se acatamos a tese da substância enquanto inerência, não poderíamos


afirmar que a metafisica para Descarte tem como objetivo investigar o ser enquanto
ser;

Ou seja, compreender substância enquanto inerência ou independência marca uma


diferença entre perspectivas em debate nos comentadores de Descartes

É bom ressaltar que esses conceitos estão vinculados a um conceito de substância que
Descartes apresenta no apêndice, mas o conceito de independência (causal e
existencial) perpassa toda sua obra
Além disso, há momentos na obra do Descartes que dão espaço para que a primeira
tese seja argumentada,

Existem 2 tipos de substâncias, embora não exista uma distinção essencial entre
pensamento e extensão (já que ambos são substâncias)
A substância pensante – natureza: pensamento
A substância extensa - natureza: largura, altura, profundidade

Nesse sentido, a substancialidade da mente parece ser a mesma substancialidade do


corpo, o que muda são as suas propriedades.

Em uma resposta a Arnaud, Descartes afirma que concebe clara e distintamente uma
substância como diferente da outra; isso nos leva a fazer a ressalva

Aula 3: Marcio Damin - O homem de


má reputação: a recepção de Descartes
na Inglaterra no século XVII
Aqui se propõe vincular o ambiente inovador dos salões parisienses com Descartes, e
com isso propor também a vinculação de ambos à presença dos ingleses exilados
durante a guerra civil em Paris e o quanto isso influencia a recepção de Descartes em
Paris;

A época da filosofia de salões data de 1625 a 1655 (a filosofia era discutida fora das
universidades)

É importante marcar a vinculação – a troca de cartas – entre a família Carvendish e a


os autores franceses, entre eles Descartes

Inovadores: Não eram educados no âmbito da universidade, mas debatiam sobre


filosofia natural e sobre metafisica fora das universidades; Telesios, Cadrano, Catanela
Descartes. – Embora não tenham muito a ver um com outro, todos desenvolvem
problemas fora da universidade fora de manuais de aristotelismo da escolástica
moderna.

As discussões dos salões giravam em torno de pensar em como prescindir de uma


metafisica;

Os filósofos de salões são marcados pela presença de mulheres aptas ao letramento,


mas que em determinado momento passaram a ser impedidas.
É importante pontuar que as publicações de mulheres até 1640 também foram
notadamente reduzidas em relação a 1641 a 1645, mas voltam a aumentar no
momento da guerra civil inglesa – nesse contexto a elite inglesa está no exilio e assim,
homens e mulheres não se encontram mais.

Margaret Cavendish está em Paris até 1648. E dá atenção ao tema da estabilidade e da


liberdade no corpo político e no campo natural

Margaret não acata a teoria da glândula pineal como lugar do espírito. Para ela, não
podemos atribuir um lugar para o racional, outro para o sensível e para o inanimado,
pois ele são difusos e estão misturados. Essa teoria da matéria concorda com a ideia
de que a natureza possui uma única substância, matéria.

Enquanto isso, os textos dos Descartes apesar de considerados de alta qualidade


frente a outros inovadores, se apresenta de maneira negativa e não é bem recebido,
principalmente por Margaret Cavendish, pela solução de suas substâncias para o
tratamento do homem.

Aula 4:
Esta discussão propõe pensar as correções de relativísticas e isso pressupõe o domínio
da segunda parte dos princípios do movimento tem dentro da filosofia de Descartes (os
princípios das coisas materiais) e suas funções. Estamos falando das regras cartesianas
do choque

Das 4 regras de Descartes acerca do método, uma delas propõe que: Não se deve
admitir nada que não se apresente ao espírito tão clara e distintamente que não
exista a mínima ocasião para duvidar. Esta regra (talvez a única regra) inspirada no
estilo do pensamento matemático;

O ideal de matematização da segunda parte dos princípios do movimento portanto,


não é buscado nessas 4 regras do método, mas nas regras para direção do espírito
(Obra de 1629 – matesis universalis)

Essa segunda parte trata do ideal de matematização da ciência; O método da segunda


parte dos princípios consiste em dar um tratamento matemático à física e à mecânica,
procedendo por dedução a partir de princípios algébricos.

Sistema metafisico de Descartes: a natureza última e de tudo que é material é


determinada pela concepção geométrica da extensão;

Princípios cartesianos do Fundamento metafisico: identidade entre matéria e espaço,


que acarreta que:
- O mundo possui uma extensão infinita
- O mundo está constituído da mesma matéria – anti aristotélico
- A matéria é infinitamente divisível
- Um espaço sem matéria é impossível

Com isso, como se produziu a diferenciação da matéria?


- O movimento ou o repouso relativo entre as partes de matéria parecem ser o
princípio diferenciador que formam um todo coerente em que as partes diferem entre
si.

A matéria é aquilo que tem extensão no espaço; é a extensão em 3 dimensões:


largura, comprimento e profundidade; apesar dos corpos que percebemos terem
outras características, mas estas são qualidades sensíveis causadas pela extensão
material (A extensão dos corpos é a única passível de matematização e, portanto, de
conhecimento cientifico). A matéria é pura extensão

Na 2ª parte Descartes refuta o atomismo, que concorre com sua concepção; Para ele
não há necessariamente uma diferenciação entre o espaço físico e a matéria.

6ª parte do discurso do método: quanto mais se avança no conhecimento, mais se


precisa lançar mão da experiência, dos experimentos, e mais dependemos do outro.

A teoria matemática não necessariamente representa o mundo físico, não sendo,


portanto, uma teoria das ciências naturais;

Aula 5: Edgard - A influência do


pensamento cartesiano na obra de
Machado de Assis
A proposta desta discussão é pensar a partir de 4 tópicos:
- O filosofar nos estudos cartesianos - o que são os estudos cartesianos?
- Sobre a moral e a generosidade
- A questão Machadiana/ Um debate sobre o texto de Acorde Coutinho – A filosofia de
Machado de Assis e outros ensaios
- Uma ética sem o xadrez de Machado de Assis ou: sobre uma ética sem generosidade

Sendo assim, o principal conceito aqui será o conceito de generosidade, fundamental


na obra de Descartes que trata sobre a moral e teoria do homem em Descartes

A moral é elevada como elemento central em determinado momento da obra de


Descartes, quando propõe a moral como coroamento do sistema. Descartes almejava
uma ciência do homem total, mas ao longo de sua vida isso foi se modificando.
Afirmava, portanto, que a moral perfeita é impossível de alcançar; diante disso,
propõe-se pensar a moral da prudência, a moral da sabedoria, e por fim, a moral da
generosidade;

Para Descartes a verdadeira generosidade faz com que o homem se estime no mais
alto ponto que legitimamente se possa estimar.

Passando a discussão sobre a questão machadiana, é importante demarcar em


primeiro lugar a influência da doutrina pascalina (pessimismo) na questão
machadiana

Nesse texto de Coutinho, para o personagem principal é possível realizar-se através do


amor, mas ele mesmo acredita que não é possível unir o laço da vida através do amor.

Embora não haja evidências empíricas de que Machado de Assis tenha lido
Descartes, sua obra reflete que algumas das ideias deste estão de algum modo
presentes naquele. (A ideia de ser o senhor de si mesmo por exemplo está presente
em “Memorias póstumas de Brás Cuba.)

Descartes usou a moral através do conceito de generosidade como aquilo que


permite a virtude como uma forma de contentamento da alma do homem.

E o problema da virtude é justamente o ponto central que podemos pensar a partir do


trabalho de Machado de Assis – não é possível ser generoso nesse mundo;

Pensando nisso (que não é possível ser generoso neste mundo), como é possível
pensar uma ética sem generosidade?

Para pensar essa questão é preciso fazer uma ressalva: para Descartes só é possível
lidar com as paixões de modo indireto. Por isso, a moral final de Descartes não cumpre
a moral ideal que ele propõe em suas meditações, inclusive ele mesmo reconhece os
limites do seu próprio projeto (em relação à pretensão de uma teoria do homem total)

Aula 6: Paulo Tadeu - O labirinto e o


fio de Teseu: veredas cartesianas para o
filosofar
Descartes fala do método como um fio de Teseu por conduzir à razão e daí o tema
desta aula, que será conduzida a partir do questionamento sobre o que seria a
concepção de filosofia em Descartes.
É importante então pensar os conceitos de dúvida e de método, e articulando estes,
para extrair disso uma concepção de filosofia em Descartes

Seu projeto é inseparável do desejo cartesiano de estabelecer um método certo e


seguro. – Exigência do racionalismo

Alguns preceitos da doutrina de Descartes também podem nos ajudar:


- Jamais admitir como verdadeiro algo que eu não conhecesse evidentemente como tal
- Dividir as dificuldades em quantas partes forem necessárias para resolver o problema
- Conduzir o pensamento em ordem: dos mais simples aos mais complexos
- Nada omitir

A primeira é a condição para o fazer filosófico com rigor. Descartes ressalta que não
basta ter o espírito bom mas é preciso aplica-lo bem.

Seu principal objetivo, poderíamos dizer: é alcançar um conhecimento indubitável,


cuja certeza não possa ser contestada, com uso acertado da razão;

O que asseguraria esse conhecimento indubutável? A resposta é: Estar diante de algo


claro e distinto como o cogito. Pois nem mesmo a dúvida inicial (1ª meditação)
inviabiliza a certeza de que eu sou, eu existo.

Isso permite determinar “ser” enquanto ser uma coisa pensante. – Essa primeira
certeza não é abandonada em Descartes em nenhum momento. Só podemos duvidar
se existimos

Para assegurar o conhecimento, Descartes então dispõe de um método segundo o qual


a ordem e disposição do objeto são utilizados a fim de descobrir a verdade; a
matemática é seu meio

Isso posto, podemos retomar a questão: Qual concepção de Descartes de exercício


filosófico? De que modo devemos abordar a filosofia em Descartes?
- Alquié pode ser um autor útil nesse sentido; segundo ele, a filosofia para Descartes
não é um conjunto de ideias, é um pensamento, a sua ordem verdadeira não se pode
confundir com o sistema; ama a sabedoria sem a possuir completamente

Temos proposto em alguns autores que a filosofia é o conhecimento por meio da


determinação das causas e dos princípios pelo exercício da razão; O exercício filosófico
então é a busca por compreender de modo certo e seguro, discriminando as partes
constituintes, reinterpretando-as como estas compõe isso que se pretende analisar

Mas também podemos pensar o exercício filosófico como resolução de problemas


filosóficos, que fornece uma resposta a uma pergunta filosófico; seu ponto de partida
não tem início apenas com os dados do problema, mas conta com a postura de um
sujeito que coloca em questão o que supunha já conhecer. A dúvida se coloca como
um viés epistêmico que não esgota a atividade filosófica, sendo fundamental para que
o problema seja elevado a suas melhores elaborações e consequentemente para boa
operação das regras do método; E esta segunda alternativa faz muito sentido com a
proposta de Descartes.

Aula 7: Marcos G - A causa suis


(causa de si) e finitude e potência em
Spinoza e Descartes
Partiremos de uma leitura de Spinoza como leitor e crítico de Descartes;

Buscaremos pensar na relação dessas 3 noções da metafísica em Spinoza e Descartes,


que são as noções de causa suis, infinito e potência

Para Spinoza, diferente dos filósofos místicos do helenismo tardio, segundo os quais a
infinitude do ser supremo é aquilo que o subtrai a nossa compreensão, a
racionalização do infinito traz como consequência um Deus totalmente raciona. Em
outras palavras: o racionalismo absoluto de Spinoza argumenta que temos uma
compreensão adequada de Deus quando o concebemos como ser infinito, já que se
apresenta a partir da infinidade de atributos.

Também para Spinoza, o conhecimento verdadeiro procede da causa ao efeito. Sendo


assim, Deus é a causa primeira de todas as coisas, nada pode ser concebido sem ele.
Por isso, Spinoza argumenta que para filosofar o ser infinito deve ser concebido antes
de todas as coisas, com prioridade ontológica, logica e epistemológica para que
possamos conhecer seres finitos.

Em Descartes o conceito de finito contém a negação da noção de infinito. Assim, a


ideia de infinito precede logicamente (mas não epistemologicamente) a ideia que
temos de nós mesmos como seres finitos.

Porém, a partir de seu método, o conhecimento da existência do sujeito pensante


finito precede o conhecimento da existência do ser infinito e por isso é prioritário na
ordem epistemológica.

Para Spinoza, por outro lado, o conceito de finito precede a noção de finito nos 3
aspectos: lógico, epistemológico e ontológico e seu argumento repousa sobre o
princípio de razão suficiente. (Tudo existe se não houver causa ou razao para sua não
existência.) Spinoza não abre mão da noção de eficiência (causa eficiente) em sua
noção de causa suis.

O ser infinito existe em virtude de sua própria natureza, sendo causa de si mesmo,
sendo a causa necessária de tudo que é concebível. Por isso Deus é a causa de todas
as coisas e causa de si.
A racionalização do ser finito em Descartes deriva da exigência de causa ou razão, em
que Deus é causa. Além disso, partindo de sua ontologia da potência (em que ser é agir
e produzir efeito) a potência de Deus é sua própria essência.

Sua tese central é a de que Deus é a causa imanente e não apenas transitiva de todas
as coisas. Não há causa eficiente de si mesmo, então a noção de auto causação é
ininteligível se pensarmos os objetos da experiência sensível. Deus faz-se conhecer
por si mesmo.

A crítica de Spinoza a Descartes repousa então sobre o obscurantismo apontado nas


teses defendidas por este último. Para Spinoza em suma, um ser (Deus) pode ser
causa de si mesmo sem que isso implique que seja anterior a si – já que é eterno –
não sendo também distinto de si, por ser causa imanente (não há distinção entre
causa imanente e seu efeito).

Aula 8: Alfredo Gatto - A


modernidade, uma questão de
Teodisseia
Falar de teodisseia implica falar da justiça de Deus. – a palavra foi usada pela primeira
vez por Leibniz (séc XVIII), que apresenta um contraponto à teoria de Descartes por
razões morais e metafísicas.

Para abordar esse assunto são necessários alguns pressupostos:


- Pensar Deus em função dos atributos de bondade, sabedoria e onipotência
- É preciso reconhecer a existência do mal
- Acesso às razões da criação

Teodisseia é entao a tentativa racional de justificar Deus frente a presença do mal (que
pode ser físico, moral ou metafísico)

Para compreender a centralidade de Deus é preciso recorrer à abordagem de Desartes


sobre liberdade. E para Descartes, por exemplo, Deus não é essencialmente bom, mas
a causa da bondade.

Além disso, para Descartes, diante de Deus o conhecimento humano pode se tornar
frágil.

Para Descartes também, não é possível afirmar que Deus não poderia criar algo
simplesmente por este algo ser contraditório a partir da nossa lógica. Não podemos
investigar a razão da criação. Se não há razão para criação, não há razão para justificar
a criação e nem mesmo Deus. E como afirmado anteriormente, a necessidade de
acesso às razões da criação seria um dos 3 pressupostos para abordar a Teodisseia
Ou seja: é preciso que o conhecimento do homem não seja abordado enquanto algo
tão inconsistente e frágil para que se possa assim salvaguardar a ação de Deus.

Para Leibniz as verdades eternas não dependem da vontade de Deus, mas de seu
entendimento e a criação não é indiferente, mas está ligada à essência divina.

Diante disso, Leibniz enuncia os 2 princípios de sua metafísica: o princípio de não


contradição e o princípio da razão suficiente; em que tudo o que acontece tem uma
razão para ser. Entao, qual seria a razão para Deus ter criado o mundo?

Neste ponto encontramos outra disjunção entre sua teoria e a teoria de Descartes, que
argumenta que não é possível investigar a razão da criação.

Aula 9: Ulisses - O cérebro e o rosto


nas paixões da alma de Descartes
Em alguns artigos da paixão da alma Descartes trata dos signos exteriores das paixões
e dos efeitos que elas produzem no corpo de quem a sente.

Corpo e mente podem, em alguns momentos de sua obra, ser compreendidos como
unidade por composição. Mas no caso dos signos das paixões, corpo e mente devem
ser entendidos a partir da união substancial;

Os signos do rosto, particularmente, formam um sistema de expressão que comunica


diretamente o estado da alma de cada um.

Para Descartes, a linguagem verbal é uma mediação corporal arbitrária entre


interioridades mentais, as expressões faciais são aquilo que expressam. Ou seja: o res
cogitans, o próprio sujeito pensante.

Diante disso, coloca-se a pergunta: como caracterizar os signos exteriores das paixões
na teoria dos signos de Descartes, que trata dos signos mentais (sensações) e signos
linguísticos (palavras faladas e escritas)?

É bom ressaltar que a união entre a alma e o corpo é uma unidade por composição (a
união é ela mesma rompida por um registro dualista)

A semiologia de Descartes (sem cientista) é o que veio a se estabelecer hoje como a


nossa visão no senso comum dos signos no senso comum, como teoria da
representação a partir de uma nova concepção do sujeito – a partir de onde se
formula a teoria dos signos faciais das paixões.
Os signos das paixões (“declarações da alma”) promovem uma tensão na teoria
cartesiana. Descartes faz uma diferenciação entre os signos das paixões x linguagem
verbal (que nos distingue dos animais)

Qual o signo da presença de uma alma no corpo?

É importante pensar que é o dualismo da relação mente e corpo que poderia dar a
marca distintiva entre homens e animais.

Uma das hipóteses possíveis para responder a essa questão é que os signos das
paixões só seriam vistos como expressão de alma nos entes que também fossem
capazes de usar a linguagem verbal, isto é, nos humanos, e não nos animais.

As modificações do rosto configuram um código, não passam pela instituição


arbitraria da vontade, se manifestam de maneira sempre idêntica, sem possibilidade
de duplo sentido – possibilidade que surge na linguagem verbal por exemplo.

A unidade do sujeito passional é expressa na experiência

Signo e significado em Descartes são a mesma coisa, expressos em atributos


diferentes, portanto, não existe obstáculo entre signos e coisas. Signo: expressão
direta do significado.

Apesar da nossa concepção usual de signo parecer mais próxima da concepção de


Aristóteles do que de Descartes, precisamos estar cientes do que a modernidade traz
em relação a isso.

Como já dito, o signo é a expressão direta do significado. Para Descartes existe uma
diferenciação entre signos naturais (signos corporais) e sensações (função
representativa - signos mentais). Com isso, os corpos são ao mesmo tempo signo e
significado, ao contrário das palavras.

Mas como os signos exteriores das paixões são entendidos?

Para dar conta dos signos das paixões, é preciso entender como a união da alma com o
corpo nos dá acesso a um conhecimento empírico que faz do corpo a manifestação da
alma reintroduzindo a analogia na teoria da representação

Será que a tese da união entre alma e corpo propõe que signo e o que ele significa no
caso da relação de identidade numérica entre os entes comparados? Parece que não.

Para Descartes os signos exteriores das paixões é justamente a confusão entre signo e
significado que garante a clareza da relação de significação, assim como no caso dos
signos sensíveis que denotam objetos exteriores. É a relação arbitraria que permite a
representação.

Você também pode gostar