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PHORTE EDITORA
Diretor-Presidente
Fabio Mazzonetto
Diretora-Executiva
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Editor-Executivo
Fabio Mazzonetto
Diretora Administrativa
Elizabeth Toscanelli
CONSELHO EDITORIAL
Educação Física
Francisco Navarro
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Paulo Roberto de Oliveira
Reury Frank Bacurau
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Educação
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Fisioterapia
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Nutrição
Vanessa Coutinho
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PZ
Project Zero
Harvard Graduate School of Education
email: pzinfo@gse.harvard.edu
website: www.pz.harvard.edu
Centro Internazionale per la difesa e la promozione dei diritti e delle potenzialità dei bambini e delle
bambine
email: info@reggiochildren.it
website: www.reggiochildren.it
edição italiana
© 2009 Reggio Children
Junho 2013 (1a edição)
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer
meio, sem autorização prévia por escrito da Phorte Editora Ltda.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
T638
phr0001
Este livro foi avaliado e aprovado pelo Conselho Editorial da Phorte Editora.
(www.phorte.com.br/conselho_editorial.php)
edição original na
RE: Claudia Giudici, Carla Rinaldi
língua inglesa aos
PZ: Mara Krechevsky
cuidados de
Ilaria Cavallini, Claudia Giudici
edição italiana
com a colaboração de Michela Bendotti, Lorella
aos cuidados de
Trancossi
RE: Paola Barchi, Angela Barozzi, Paola Cagliari,
Tiziana Filippini, Amelia Gambetti, Claudia Giudici,
Giovanni Piazza, Carla Rinaldi, Laura Rubizzi, Paola
textos
Strozzi, Vea Vecchi
PZ: Howard Gardner, Mara Krechevsky, Ben Mardell,
Steve Seidel
direção artística e Isabella Meninno
projeto gráfico com a colaboração de Vea Vecchi, Giovanni Piazza
consultoria
Rolando Baldini
artística
diagramação
Erika Profumieri
edição italiana
coordenação
Annamaria Mucchi
editorial edição
com a colaboração de Marina Castagnetti, Moira Nicolosi
italiana
edição brasileiraPhorte Editora Ltda.
diretora de
Nayara Vicari P. Baradro
coleção
RE: Vea Vecchi, Giovanni Piazza, Mirella Ruozzi
Raffaella Bonetti, Giuliana Campani, Marina Castagnetti,
Marina Ferrari, Eluccia Forghieri, Isabella Meninno,
fotografia
Stefano Sturloni
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PZ: Melissa Rivard and Constance Wolf
Meninos e meninas das creches e das escolas da infância
ilustrações
municipais de Reggio Emilia
tradução do
Thais Helena Bonini
italiano
revisão técnica da
Marilia Dourado
edição brasileira
projeto de Tornando visível a aprendizagem: crianças que
pesquisa aprendem individualmente e em grupo
RE: Carla Rinaldi, Amelia Gambetti, Giovanni Piazza,
coordenação Vea Vecchi
PZ: Mara Krechevsky, Howard Gardner, Steve Seidel
RE: Paola Barchi, Marina Castagnetti, Tiziana Filippini,
Amelia Gambetti, Claudia Giudici, Giovanni Piazza,
grupo de Evelina Reverberi, Carla Rinaldi, Laura Rubizzi, Paola
pesquisa Strozzi, Vea Vecchi
PZ: Howard Gardner, Mara Krechevsky, Ben Mardell,
Steve Seidel, Janet Stork
RE: Francesca Marastoni, Claudia Giudici, Francesca
coordenação
Davoli, Paola Riccò, Luisa Zecca, Emanuela Vercalli
organizacional
PZ: Sara Hendren e Terri Turner
O projeto “Tornando visível a aprendizagem” é fruto da colaboração entre dois grupos de pesquisa
formados pelo Project Zero e Reggio Children/Creches e escolas municipais de Reggio Emilia.
Os pontos de vista expressos neste livro pertencem a esses grupos de pesquisa e, no que concerne ao
Project Zero, não devem ser considerados como representativos de todos os seus membros.
A mão justa
Creches e escolas da infância como lugares de cultura – Carla Rinaldi
O preço justo
Sobre a natureza da organização – Tiziana Filippini
Um dia na escola, um cotidiano extraordinário – Paola Strozzi
Documentação e avaliação: qual a relação? – Carla Rinaldi
Teatralidade
Documentar o documentador – Laura Rubizzi
Conversa com um grupo de professores – Amelia Gambetti
A escola como lugar de aprendizagem de grupo para os pais – Paola Cagliari
e Claudia Giudici
Pais e robótica
A coragem da utopia – Carla Rinaldi
Reflexões finais
Tornando visível a nossa aprendizagem – Howard Gardner
Diálogos – Carla Rinaldi
Apêndices
Bibliografia e notas
Project Zero
Diversas pessoas nos ajudaram ao longo deste projeto.
Somos, também, muito gratos aos nossos numerosos colegas do Project Zero
Reggio Emilia
A equipe de pesquisa de Reggio Emilia gostaria de agradecer a todas as
crianças, pais, professores, equipe e às pedagogistas das creches e das escolas
da infância municipais. Um sincero agradecimento, também, ao sistema
administrativo das creches e das escolas da infância municipais de Reggio
Emilia e à equipe da Reggio Children pela preciosa colaboração.
Somos gratos pela experiência editorial de Vivian Wheeler, cujo olhar atento
e crítico foi precioso paraNoIndent este volume. Agradecemos, também, à
nossa revisora, Kathleen Pearsall, por ter encontrado diversas lacunas no
texto.
Carla Rinaldi
Marilia Dourado
Que esta publicação seja um convite aos educadores que atuam para e com a
infância, para que compreendam, cada vez mais, que a escola é a cidade e a
cidade é a escola, enfrentando, assim, as marcas da sociedade brasileira sem
melindres com a desigualdade, a competitividade e o individualismo,
buscando caminhos e estratégias para a transformação. É buscar, em diálogo
com este livro, o papel da documentação e da avaliação nos processos de
aprendizagem individual e de grupo, aspectos fundamentais para a definição
de um currículo real para autênticas escolas da infância em nosso contexto.
Protagonistas
Erika, 13 meses
Elisabetta, 11 meses
Matteo, 10 meses
Professora
Barbara Fabbi
Creche
Bellelli
Fotografia
Marina Ferrari
Mirella Ruozzi
Texto
Tiziana Filippini
Claudia Giudici
...até rasgá-lo.
O papel rasgado tende a enrolar-se...
Erika olha para o final do tubo e parece esperar por algo, provavelmente, pela
saída da canetinha, mas não acontece nada! Como o tubo está pouco
inclinado, a canetinha ficou parada dentro dele. O que fazer? Abandonar?
...e saem as duas canetinhas, uma após a outra, validando a hipótese inicial
das duas crianças.
Uma brincadeira da qual, provavelmente, Erika e Matteo desfrutaram outras
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vezes: introduzir algo menor em algo maior, com abertura no fundo, e vê-lo
sair. A presença dos amigos e o olhar encorajador das professoras tornam
Erika mais atenta e uma protagonista decidida?
Olha e explora o tubo com atenção. Estaria ela verificando se, dentro dele,
existe uma “fábrica” de canetinhas? Ou ela também quer experimentar a
ação? Para fazê-la, é necessário ter uma consciência da coordenação dos
gestos e uma inclinação certa do tubo. Enquanto Elisabetta fica controlando o
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tubo, podemos somente fazer algumas hipóteses sobre por que não continua
com a sua ação de exploração. Podemos, porém, supor que todas essas
crianças, ainda que de maneiras diferentes, vão se lembrar do ocorrido e
tentarão experimentá-lo em outras ocasiões.
O tempo será o melhor aliado delas. Dar uma pausa, um tempo para parar e
refletir, significa dar qualidade à aprendizagem, às relações e à vida.
avestruzes
Howard Gardner
Carla Rinaldi
Acho que, nessas palavras do professor Malaguzzi, fundador e mentor da
experiência das creches e escolas municipais de Reggio Emilia, esteja não
apenas uma das mais importantes chaves de interpretação para quem quer
compreender a experiência das creches e escolas de Reggio Emilia, mas uma
indicação fundamental para quem é chamado a dar continuidade à
experiência. Não somente isso, mas também penso que esse conceito de
“negociação com a realidade histórica, política, social e cultural” seja a ação
primária que deve caracterizar a própria identidade da escola. Tanto em
Reggio como em qualquer outro lugar. Para nós, foi e é um compromisso
cotidiano e difícil, que nos impõe uma leitura atenta e constante dos
fenômenos que perpassam a escola e a sociedade, não só a italiana.
Tudo isso nos leva, inevitavelmente, a perguntarmo-nos se, nas nossas
escolas e nos outros lugares educativos, estamos nos ocupando
suficientemente de como educar uma nova geração de crianças e de jovens
capazes de enfrentar as oportunidades que terão pela frente, não somente com
o uso da tecnologia, mas, também, com o uso da mente e das sensibilidades.
Sabemos que, para atuar nessa direção, precisaremos não só ensinar
capacidades técnicas e intelectuais, mas apoiar as crianças e os jovens para
que tenham maior confiança em si mesmos, para que aprendam a colaborar,
desde pequenos, com os próprios colegas, para que caminhem, com maior
liberdade e imaginação, em direção ao conhecimento, para serem intérpretes
e criadores dele.
Mesmo sabendo que o nosso esforço em todos esses anos tinha caminhado
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nessa direção, em certo ponto da nossa história, sentimos a necessidade de
um aprofundamento.
Advertimos muitas vezes sobre a necessidade de compreender mais (e não
exclusivamente) sobre a própria natureza da aprendizagem no âmbito escolar,
colocando-o em maior correlação com a construção da identidade pessoal e
da relação com os outros. Estávamos muito convictos de que a
individualidade e a intersubjetividade não estão em oposição, pois são
complementares, mas não éramos capazes de documentar aquela convicção
com sensibilidade e clareza expositiva suficientes.
Quando se observam as relações entre as crianças pequenas, a sensibilidade à
presença do outro é tão forte que se torna impressionante: com Francisco
Varela, podemos dizer que a pergunta pertinente não é como podemos chegar
a perceber a alteridade, o outro, mas como conseguimos nos perceber
separados do outro. Sentíamos que tínhamos uma estratégia nas mãos, aquela
conhecida como documentação, que poderia ajudar a confirmar e a
aprofundar essas nossas declarações.
A própria documentação poderia ter se tornado parte de novas modalidades
de aprendizagem. Sabíamos que esse discurso do aprender com os outros é
um assunto importante, não somente no plano da investigação pedagógica,
psicológica e epistemológica, mas, também (e, sobretudo), pelos seus
significados culturais e políticos. Saber trabalhar em grupo, apreciando as
suas qualidades e o seu valor, e conhecendo as suas dinâmicas,
complexidades e vantagens, é uma consciência indispensável para quem quer
participar, pessoal e profissionalmente, da construção da mudança e do
futuro.
Estávamos nesse nível de elaboração e de problematização quando chegou
até nós a proposta de uma pesquisa comum com o Project Zero, feita pelo
professor Howard Gardner.
Acolhemos a proposta com grande prazer. Era uma adesão consciente: uma
longa história nos unia.
Conhecíamos o professor Gardner e o Project Zero há, aproximadamente,
vinte anos. Nós os estimávamos e os apreciávamos muito por muitas razões
que o tempo nos permitiu aprofundar.
Lembro-me, ainda hoje, da alegria que sentimos quando o professor Gardner
aceitou vir a Reggio para uma conferência sobre o seu novo livro, na época,
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ainda não editado em italiano, Frames of Mind (depois traduzido e publicado
com o título Formae Mentis).
Tinha nos falado demasiada e longamente sobre ele uma cara amiga e colega,
Lella Gandini, umas das “pioneiras” que ajudaram, de maneira fundamental,
o nosso diálogo com os Estados Unidos. Conhecíamos bem e profundamente
muita parte da literatura psicológica e pedagógica desse país.
O pensamento de muitos daqueles “gigantes”, como John Dewey, Jerome
Bruner, David Hawkins, sobre os quais a pesquisa pedagógica e psicológica
do mundo todo repousa, foi interlocutor fundamental (e, por sorte, ainda é até
hoje) do pensamento do professor Loris Malaguzzi e dos educadores
reggianos. Conhecíamos alguns dos textos de Nelson Goodman, da ideia
provocadora que estava por trás da sigla PZ, um pouco enigmática em uma
primeira abordagem, conhecida como Project Zero.
Com a vinda do professor Gardner, tínhamos, pela primeira vez, a
oportunidade de aprofundar o conhecimento do projeto com um dos seus
autores e intérpretes. Mas, sobretudo, teríamos a ocasião de entender melhor
os fundamentos dessa nova teoria das “inteligências múltiplas”. Mais que um
encontro, foi um pouco como um reencontro, companheiros de viagem, ao
longo de um caminho que, ainda com grandes diferenças, mostrava alguns
surpreendentes aspectos comuns. Naquele período, no início dos anos 1980, o
professor Malaguzzi estava definindo e enriquecendo a teoria das cem
linguagens, que caracterizou a experiência das escolas reggianas. Com ele,
estávamos cuidando e preparando a mostra que levava esse título.
Surpreendeu-nos, mas nos agradou e entusiasmou, a ideia de que, em outro
país, em outra cultura, outro autor elaborasse uma teoria que falava “no
plural”.
Não mais uma linguagem (a verbal e escrita), dizia Malaguzzi, mas cem
linguagens.
Não mais uma inteligência, dizia Gardner, mas pelo menos oito ou nove:
além do número, a pluralidade, a possibilidade, a riqueza, a expansão, o
diálogo.
E a criança? Competente, para ambos. Uma criança a quem era necessário
oferecer muitas oportunidades para que a individualidade, a subjetividade de
cada um encontrasse possibilidades para expressar-se, enriquecer-se,
desenvolver-se.
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A escola era, portanto, um lugar importante, determinante, para dar a cada um
a possibilidade de ser si mesmo, na sua rica originalidade e inteireza.
Muitas eram, também, as divergências, mas eram ricas e estimulantes. Aliás,
ainda mais ricas e estimulantes, a ponto de nos levar a continuar o diálogo, a
comparar as divergências, a torná-las ainda mais atraentes. E, depois, os
encontros com a equipe do Project Zero – Mara Krechevsky, Steve Seidel,
Janet Stork, Ben Mardell e os demais. Tive a sorte de participar de um
Summer Institute deles e de aprofundar o conhecimento da sua teoria,
sobretudo, de verificar seu profissionalismo e seu compromisso político.
O discurso sobre a arte (“Arts PROPEL”) e a avaliação me encantaram:
compartilho plenamente dessas elaborações muito corajosas e ainda atuais.
Modificar a abordagem à arte e, principalmente, à avaliação naquele país
(como em outros), em que as provas ainda imperam e a arte é, como
infelizmente acontece na Itália, um elemento complementar, pareceu-me um
dos discursos políticos mais explícitos e eficazes de que eu já tivesse ouvido
falar na realidade dos Estados Unidos.
Frequentemente, com os meus colegas, discutia sobre tudo isso e, quando a
proposta de colaboração foi submetida a exame pela equipe de pedagogistas,
o consentimento foi unânime. Assim como foi unânime o consentimento das
escolas interessadas, Diana e La Villetta: para quem trabalha todos os dias
com as crianças e quer refletir e dialogar com outros pontos de vista, não
somente para entender o que aconteceu, mas, também, para fazer acontecer
algo de novo; para quem sabe que o próprio profissionalismo se coloca em
jogo no confronto e diálogo, ocasiões como essas são desejadas e, mais que
nunca, acolhidas. Quando Mara Krechevsky veio a Reggio pela primeira vez
para definir melhor o projeto de pesquisa, foi relativamente fácil e rápido
definir “o que fazer”.
Protagonistas
Lorenzo, 19 meses
Matilde, 20 meses
Creche
Bellelli
Professora
Daniela Chiesi
Fotografia
Raffaella Bonetti
Texto
Tiziana Filippini
Parece mesmo que sim. Lorenzo, de fato, acompanha a amiga, com quem
compartilhou muitas brincadeiras e aventuras, e, juntos, reavaliam o
problema.
Lorenzo poderia conseguir. Pode-se tentar.
Sob o olhar atento e agradecido de Matilde, Lorenzo coloca a mão na fissura.
Carla Rinaldi
Eu gostaria, ainda, de citar um valor, entre muitos, que talvez seja discutível
assumir como tal, mas que acredito ser fundamental para nós e para alguns
aspectos que fundamentam a nossa experiência: o valor da aprendizagem.
A aprendizagem é, e pode ser, um valor se é aceito que a aprendizagem –
decidida por cada sujeito em tempos e maneiras não programáveis – é um
“lugar de relação” que nos faz refletir sobre a educação e nos leva a procurar
novas vias na educação e na formação.
Quer dizer orientar-se para acolher, na práxis da relação educativa, a
complexidade, a conflitualidade, a imprevisibilidade da aprendizagem
humana, onde quer que se desenvolva, dentro e fora dos contextos
institucionais que se dedicam à formação e à educação.
Toda a escola italiana hoje – com fadigas, contradições e muitos riscos – está
envolvida nesse processo evolutivo que transforma uma escola de ensino em
uma escola de aprendizagem.
A aprendizagem é o surgir daquilo que antes não havia, é uma pesquisa do
único, do Outro, dos Outros que se encontram em volta de um assunto.
cambalhota
virar estrela
Protagonistas
Alessandro, 5 anos e 8 meses
Riccardo, 5 anos e 6 meses
Silvia, 5 anos e 4 meses
Escola
Diana
Professora
Paola Strozzi
Fotografia e texto
Vea Vecchi
Todos estão felizes por Silvia ter se saído vencedora nesse difícil encontro
com os números.
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Alessandro e Riccardo se cansaram e preferiram ir brincar em outro lugar.
Entretanto, Silvia não tem intenção de renunciar ao papel de negociante, nem
de experimentar as suas novas capacidades. Então, convence uma amiga a ser
compradora.
Nas diversas ocasiões de pagamento, Silvia usa, várias vezes, a técnica que
acabou de aprender e tenta, também, explicá-la à amiga, usando os dedos
desta.
Mais tarde, ao comentar com a professora, diz: “Sabe o que eu aprendi hoje?
... Aprendi que temos que contar os números. Se você contar os números,
poderá entender melhor, mas tem que contar com os dedos da outra mão
também, senão você pode fazer erros. Para mim, é difícil contar sem os meus
Tiziana Filippini
salto em altura
Paola Strozzi
De um projeto de
Marina Mori
Paola Strozzi
Vea Vecchi
Escola
Diana
Fotografia
Vea Vecchi
Narrativas
Entrada
7h30
A despedida
Acolhimento
Segredos
... que devem comunicar a ele um projeto muito secreto. Por isso, deslocam-
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se até uma sala adjacente à seção e fecham a porta.
Respeitamos o segredo comum e não entramos.
Esperas
Urgências
Pausas
Reflexões
Hipóteses projetuais
Organização
Materiais inteligentes
Pertencimento
8h30
Atenções e cuidado
Corresponsabilidade
Trocas
Trânsito
Cada criança tem uma mochila com o logo da escola para encorajar e
sustentar esse trânsito. Não é pedido para as crianças deixarem de fora nada
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do que as apaixona; os tempos, os modos, as possibilidades de utilização dos
jogos trazidos de casa são negociados individualmente e em grupo.
Espaços pessoais
Auto-organizações de grupo
Transformações
Conflitos
Nem sempre tudo está em paz. As nossas crianças também brigam, discutem
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de maneira vivaz com frequência, até caírem em lágrimas. Às vezes, como
neste caso, consultam a professora como se fosse um “árbitro”, que não se
esquiva desse papel, mas procura, sobretudo, fazer que as crianças,
discutindo, resolvam os problemas da briga com autonomia. Às vezes, os
meninos de 5 anos ainda se batem, mas sempre menos e com menor
obstinação do que quando tinham 3 anos. Todo o nosso sistema educativo
encoraja a se confrontarem, a se sentirem parte da comunidade, a não serem e
não se sentirem excluídos, a serem vistos e reconhecidos pelo grupo de
crianças e pelo pessoal da escola. Esse forte sentimento de pertencimento
abaixa os níveis de agressividade.
Entrelaçamentos
As crianças amam “migrar” para outras seções. Neste caso, duas crianças
“grandes” entraram na seção das crianças de 3 anos e, após terem ajudado as
professoras a preparar o material para as propostas que levarão adiante,
oferecem-se como “tutoras” dos pequenos.
Tempo flexível
9h
Paisagem de grupo
9h15
Interesses e desejos
Assembleia
Propostas
Carla Rinaldi
Creio, de fato, que uma das primeiras perguntas que temos que nos fazer,
como professores e educadores, seja esta: “Como podemos ajudar as crianças
a descobrir o sentido do que fazem, do que encontram, do que vivem? E
como nós mesmos podemos fazer isso?”. Essa me parece ser a pergunta
central que a criança continua se fazendo ininterruptamente, tanto quando
frequenta as nossas instituições como quando sai delas. Perguntas de sentido,
buscas por sentido (Por quê? Como? O quê?).
Trata-se de uma busca e uma operação muito difíceis, sobretudo para a
criança que, hoje, tem mil referências na sua vida cotidiana: há toda a
experiência da família e de fora da escola. É uma operação que procura
juntar, dar sentido a esses acontecimentos, fragmentos recolhidos ao longo
das muitas experiências desiguais.
E a criança faz isso, com teimosia, com fadiga, errando, com os outros, mas,
também, sozinha. Não é possível viver sem sentido: significaria
impossibilitar cada identidade, cada esperança, cada futuro. E isso a criança
sabe, e desde cedo: sabe disso como espécie, como indivíduo, como pessoa.
Essa procura de sentido da vida e de si mesma na vida nasce com a própria
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criança, é desejada por ela: é também por isso que a definimos como
competente e forte. É uma criança que tem o direito de ter esperança e de ser
valorizada; não mais, portanto, uma criança predefinida, considerada frágil,
sofredora, incapaz. Diferente é o nosso pensamento e a nossa atitude com
relação a uma criança que sentimos que é ativa e que está conosco no
explorar, no procurar algo a cada dia, no extrair um significado, um pedaço
de vida.
E, para nós, esses significados, essas teorias explicativas são de grande
relevância e muito reveladoras das maneiras como as crianças pensam,
interrogam, interpretam a realidade e as próprias relações com elas e conosco.
É aqui que me parece encontrar-se a gênese da “Pedagogia da Relação e da
Escuta”, uma das metáforas com que é distinguida a pedagogia reggiana.
Tanto para o adulto quanto para a criança, entender significa conseguir
elaborar uma “teoria” interpretativa, uma narração que dê sentido aos
acontecimentos e às coisas do mundo. Uma teoria provisória, uma explicação
satisfatória que pode ser continuamente reelaborada, mas que é algo mais que
uma ideia ou um conjunto de ideias: deve agradar-nos e convencer-nos, ser
útil e capaz de satisfazer as nossas exigências intelectuais, afetivas e estéticas
(a estética do conhecimento). Ao representar o mundo, representa a nós
mesmos. Deve, se possível, agradar e seduzir os outros. As teorias, se
compartilhadas, permitem transformar um mundo que não é intrinsecamente
nosso em algo compartilhado.
O compartilhamento de teorias é resposta à incerteza.
Eis, então, que qualquer teorização, da mais simples à mais refinada, para
existir, precisa ser expressa, ser comunicada, isto é, escutada. É nisso que se
reconhecem os valores e os fundamentos da “Pedagogia da Escuta”.
A Pedagogia da Escuta
Escuta que não produz respostas, mas constrói perguntas. Escuta que é
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gerada pela dúvida, pela incerteza, que não é insegurança, mas, ao contrário,
segurança de que cada verdade é tal se contiver a consciência dos seus limites
e da sua possível “falsificação”. “Escutar” não é fácil: requer consciência e,
ao mesmo tempo, uma suspensão dos nossos julgamentos, e, sobretudo, dos
preconceitos. Requer disponibilidade para a mudança, requer que mostremos
a nós mesmos o valor do desconhecido e que vençamos o sentimento de
vazio e precariedade que toma conta de nós cada vez que as nossas certezas
são colocadas em crise.
Escuta que faz o sujeito sair do anonimato, que o legitima, que lhe dá
visibilidade, enriquecendo quem escuta e quem produz a mensagem (e as
crianças suportam pouco o anonimato).
Escuta como base de cada relação de aprendizagem. Uma aprendizagem
decidida pelo “sujeito aprendiz” (que aprende) e que toma forma na sua
mente por meio da ação e da reflexão; uma aprendizagem que se torna
conhecimento e competência por intermédio da representação e da troca.
Escuta, portanto, como contexto de escuta, em que se aprende a escutar e a
narrar, em que o sujeito se sente legitimado para representar as suas teorias e
narrar as suas interpretações sobre uma determinada questão. E, enquanto as
representa, ele as “re-conhece”, isto é, permite às suas imagens e intuições
tomarem forma e evoluírem por meio da ação, da emoção, da expressividade,
das representações icônicas e simbólicas (“as cem linguagens”).
O confronto e o diálogo é que geram a compreensão e a consciência.
Nós não só representamos o mundo à nossa mente, mas essa representação é
o fruto da nossa sensibilidade para o modo pelo qual o mundo é interpretado
na mente e nas representações dos outros. É aqui que se evidencia a nossa
sensibilidade de escuta: partindo dessa sensibilidade, formamo-nos e
comunicamos a nossa representação do mundo, não só com relação à nossa
resposta aos acontecimentos (autoconstrução), mas, também, com relação ao
que aprendemos sobre o mundo com a nossa troca comunicativa com os
outros.
A documentação
nuvem
Legibilidade
nuvem
A competência docente
nuvem
Protagonistas
Katherine, 2 anos e 8 meses
Mario, 2 anos e 6 meses e
outras crianças de 2 e 3 anos
Professora
Lucia Colla
Creche
Bellelli
Fotografia
Marina Ferrari
Mirella Ruozzi
Texto
Carla Rinaldi
Laura Rubizzi
De um projeto de
Vea Vecchi
Laura Rubizzi
Isabella Meninno
Escola
Diana
Fotografia
Vea Vecchi
Isabella Meninno
figura sentada
figura sentada
Professoras:
Diário do projeto
13 de maio
14 h
Laura compartilha com Isabella alguns pensamentos que considera
importantes para identificar e entender, ao menos parcialmente, os
significados da proposta que será feita às crianças:
• Como tratar o problema de medição que as crianças estão enfrentando
dentro do projeto?
• Para crianças dessa idade, o que significa tirar medidas?
• Quais experiências de medir fizeram anteriormente?
• Quais aprendizados podem ser previstos para as crianças e para as
professoras?
• A escola dispõe de documentações anteriores sobre o tema que podem ser
consultadas?
Quando a experiência cresce no interior de estratégias projetuais, também
aumenta a capacidade dos professores de antecipar os percursos de
investigação pelos quais as crianças poderiam passar, e fazer hipóteses de
metodologias e linhas de observação flexíveis e próximas das estratégias das
crianças.
Tudo isso colabora para construir nos professores esquemas de expectativa
16 de maio
8h30
Isabella e Laura preparam o jardim para acolher as crianças de maneira
significativa: um lugar aconchegante, onde elas possam ficar prazerosamente
próximas da zona em que construirão o que começaram a denominar “abraço-
ponte”. Elas têm à disposição como “facilitadores” da memória os seus
projetos gráficos e o modelo tridimensional da ponte em argila, construído
anteriormente. Um pouco à parte, é colocada uma coletânea de “materiais
inteligentes” (cordas, tijolinhos modulares, fitas, metros, bastões, fios de
ferro, mesas de madeira etc.), que estimulam pensamentos e ações relativos a
medidas, colocados à dis posição das crianças, se elas perceberem a
necessidade de usá-los.
9h30
Encontro com o grupo das crianças.
Isabella introduz a proposta da manhã: “Ferruccio, Luca, Caterina, Martina,
vocês se lembram do que fizemos até agora?”.*
11 h
No final do encontro com o grupo das crianças, Isabella e Laura fizeram
algumas anotações; Vea, dois rolinhos de slides; as crianças, uma anotação
numérica da “distância” e da “altura” da ponte. Além disso, está disponível a
gravação dos diálogos, que será transcrita e constituirá um elemento
fundamental nos percursos de interpretação e documentação que virão a
seguir.
11h30 – 12h30
Isabella, Laura e Vea encontram-se no ateliê para um primeiro confronto
pessoal sobre a experiência que cada uma observou. A razão de uma troca de
interpretações é a passagem de comunicações em que a emotividade tem um
peso determinante, não somente ao reevocar a experiência da qual
participaram, mas ao ampliar os pontos de vista com os quais podem
confrontar as leituras interpretativas e identificar propostas futuras (propostas
decorrentes das interpretações feitas).
Vea e Laura, conscientes do papel de formadoras, deixam muito espaço para
as interpretações de Isabella. Vea introduz o encontro com alguns quesitos
iniciais que contextualizam tanto a experiência observada quanto o esforço
narrativo e documentativo a ser cumprido, mantendo uma atitude
interlocutória e de relançamento de ideias, comentando brevemente as
afirmações de Isabella.
Laura intervém, argumentando com base nas considerações de Isabella, e
produz um ponto de vista interpretativo e preditivo sobre a possível evolução
do projeto. As intervenções de Isabella são muito longas; reconstroem
detalhadamente, do seu ponto de vista, as passagens que observou em uma
alternância de imagens complexas e, talvez para ela, em certos momentos,
sem orientação. Por exemplo, descrevendo a excitação das crianças no
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momento de tirarem as medidas, comenta: “Para as crianças, medir a ponte
significava medir tudo, a árvore, o tronco, o ambiente”.
15 h – 17 h
No ateliê, Isabella transcreve a gravação de áudio do encontro com as
crianças e dá uma cópia para Laura e para Vea: essa gravação representará
para as três o elemento de referência, mas com a intenção de construir uma
narração que possa ser distribuída, comentada, discutida.
Para que a observação de um grupo de crianças não se reduza a um texto
escrito com os eventos que aconteceram, precisa ser reconstruída e
interpretada com atenção, em diversos níveis, sem perder de vista os sujeitos
que compõem o grupo (as crianças e a professora), o próprio grupo, os
processos de aprendizagem, a qualidade das intervenções e das metodologias
produzidas.
17 h – 17h30
Laura, sozinha na seção, revisita as anotações de observação realizadas
durante o encontro “direto” com as crianças, reconstrói de maneira mais
detalhada os acontecimentos observados, as conceitualizações pelas quais as
crianças parecem ter passado: possíveis focos por meio dos quais continuar o
projeto. Esse é um procedimento que Laura considera muito produtivo ao
longo da liderança de um projeto, uma espécie de “memória recente”, que
será reforçada ou modificada pela releitura dos diálogos e pela consulta de
eventuais imagens fotográficas. Uma estratégia que habitua a professora a
continuar por recognições de significado e permite a construção das primeiras
hipóteses do que será “relançado” para as crianças.
18 de maio
16 h
Isabella, Laura e Vea trocam entre si uma cópia das diversas “Hipóteses
narrativas por palavras e imagens” que construíram, documento ao qual
anexaram também a descrição dos procedimentos utilizados.
Os procedimentos, anotados na ordem cronológica em que foram adotados,
também permitem colher parcialmente as modalidades e os critérios
utilizados para a construção da documentação do episódio observado.
Três hipóteses documentativas que, mesmo partindo de uma situação de
observação comum, ainda que utilizando as mesmas imagens fotográficas e a
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transcrição das falas das crianças, conservam algumas semelhanças, mas,
também, aspectos diversos, porque são ligadas a diferentes esquemas de
expectativa, papéis e subjetividades.
Mais uma vez, é a confirmação do quanto a realidade não é uma situação
objetiva, já dada, mas fruto de interpretações possíveis.
Nota preliminar
Falta o contexto: onde estão as crianças?
O que estão fazendo?
3. É uma boa práxis repetir os nomes dos membros do grupo: eles se sentem
indivíduos dentro do grupo.
10. Ideia que dá força ao grupo e comunica a cada um quem são os autores do
projeto. Ponte e crianças estão unidas no projeto.
17. Boa pergunta, mas introduz um problema difícil de maneira muito direta.
Talvez pudesse ter sido formulada assim: “Como podemos ligar essas duas
árvores amigas com um abraço na ponte?”. A pergunta retoma os conceitos
apenas expressos pelas crianças e, mesmo não modificando o problema que
devem enfrentar, enquadra-o em um modo menos distante e mais aceitável.
19. Qual é a ideia de Caterina? Se alguém tem alguma ideia melhor para
ouvir, qual é?
20. Começam a surgir os papéis que as crianças têm no grupo nesta fase:
Ferruccio, o flexível.
26. Surge a preocupação de Luca com a altura (e ter que subir na escada a
torna visível).
40. Por que as duas meninas não foram envolvidas? É uma boa ideia para a
professora fazer essa pergunta e encontrar uma maneira para encorajá-las a
participar, sem que o seu papel seja caracterizado pelo longo período como
tempo passado em silêncio.
Pensamos que possa ser interessante ver como construímos a narração final,
utilizando as fotografias.
A página de observação levada em consideração até aqui, depois de ter sido
interpretada, é transformada em uma narração, para ser compartilhada com os
outros.
Será comentada com as crianças, as famílias, os colegas; suscitará novas
reflexões e interpretações.
O abraço
“Altura e distância”
Tadinho! Vamos fazer uma ponte para unir o tronco à árvore! (seguem-se
outros comentários)
desenho de Caterina
A nossa previsão era de que essa passagem teria levado as crianças, quase
inevitavelmente, a enfrentar o problema da medição. Agrada-nos sempre
quando, no percurso projetual, entram problemas e saberes diferentes, porque
nos permite ver o quanto a exploração das crianças é rica e sustentada por
uma consciente procura de sentido.
desenho de Martina
Assim que entraram no jardim, Luca e Ferruccio foram atraídos pelo modelo
de ponte feito no computador. Muitas vezes, durante a manhã, recorreram aos
modelos de pontes (desenhos, modelo em argila, modelo no computador)
feitos anteriormente.
Isabella pergunta:
“Podemos construir essa ponte na medida certa para o jardim?”.
Luca: Temos que pegar uma escada... Temos que ver se é realmente alta ou
não. Logo depois: Ah, é um pouco difícil demais.
A primeira abordagem das crianças para tirar a medida é corporal, e faz uma
relação entre altura e dificuldade.
Aqui, Isabella interfere corretamente, perguntando: “Tenta me dizer o que é
difícil”. Com essa pergunta, ajuda Luca e as outras crianças a articular e a
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visualizar a operação complexa que terão que cumprir. Por enquanto, as
dificuldades identificadas pelas crianças se limitam à necessidade de uma
escada e à periculosidade da altura, como será visto mais adiante.
Sempre Luca: Basta que a escada não tenha 10 metros de altura!
Começa a surgir um dos papeis que Luca terá no grupo naquela manhã: o do
cético.
Ferruccio, pelo contrário, será o flexível; Caterina alternará momentos de
silêncio com outros nos quais sustentará, com obstinação, a vontade de fazer
a ponte; Martina (a personalidade mais evasiva do grupo), muito silenciosa,
quase ausente, ativará o seu interesse somente no momento da exploração e
da descoberta do metro, estendendo o seu interesse para sua casa (parece-nos
que, depois, repreendeu seu pai por nunca lhe ter falado sobre o metro e sua
utilização).
Paramos por aqui. O problema de tirar a medida, para ser resolvido, precisará
de um encontro posterior.
Amelia Gambetti
escola La Villetta
Amelia: Houve, porém, logo depois, momentos para compartilhar com você
escada
Amelia: Se você tivesse que compartilhar algo com outras professoras, por
exemplo, dos Estados Unidos, algo que possa ajudá-las em seu trabalho,
quanta importância você daria para o papel da observação?
Simona: Muita importância, tanto para a observação das crianças quanto para
a observação da minha colega. Houve, depois, outra série de fatores que me
ajudaram e que poderiam ajudar os outros: participar das atualizações ou dos
diversos momentos de formação propostos, da exibição de alguns vídeos,
mesmo que estes últimos não tenham me ajudado tanto. Lembro-me de
alguns encontros em que passavam um vídeo ou um documentário em slides,
com uma professora que os explicava. Era tão insólito para mim, que eu não
me sentia envolvida. Sentia-me mais como uma espectadora.
Amelia: Na sua opinião, teria lhe ajudado mais se fosse feito de maneira
diferente? Você disse que foi projetado um documentário em slides ou um
vídeo e os professores explicavam: haveria uma maneira diferente de exibir
tais documentários que, na sua opinião, teria dado mais elementos para o seu
processo de conhecimento?
Simona: Ontem mesmo eu estava olhando as anotações feitas durante a
projeção de um documentário. Falava-se de muitos conceitos complexos, por
exemplo, de perguntas geradoras, de hipóteses projetuais, de documentação,
de participação: talvez, para mim, o importante teria sido poder fazer mais
perguntas durante a projeção e obter logo alguns esclarecimentos.
As novas professoras, juntas, visualizam e discutem a documentação produzida na escola nos anos
anteriores.
Simona: Acredito que muito. Sim, tinha conhecimento das teorias sobre a
imagem da criança, mas não bastava, era como se não soubesse nunca ver o
suficiente.
Amelia: Você não creditava à criança tantas capacidades assim?
Simona: Não creio. Eu tinha, evidentemente sem saber, um estereótipo forte
de criança como “recipiente vazio a ser preenchido”. Assim como eu tinha
um estereótipo de um adulto que, mais que sustentar a ação, a endereçava, a
guiava, levava o outro aonde ele queria.
Orietta: Que era um pouco isso, infelizmente, que nos ensinaram na escola,
durante a formação profissional. Como sabemos, a qualidade da formação,
ainda hoje, é um problema muito debatido, e não só no nosso país.
Simona: Sim, infelizmente, a nossa experiência escolar foi pobre de
conteúdo, de análise e de capacidade de problematizar.
Teresa: Eu tive uma experiência parcialmente diferente da sua. Trabalhei
principalmente com uma só criança, uma criança que tinha dificuldades. Usei
algumas estratégias em diversas partes, ousaria dizer, mais “espontâneas”
para mim, mais idôneas para aquela situação.
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Amelia: Dizendo mais “espontâneas” e “mais idôneas para aquela situação”,
o que você quer dizer?
Teresa: Eu me referia a estratégias “mais imediatas”. Encontrava respostas
imediatas na situação que eu tinha diante de mim.
Diletta: Acredito que, de qualquer forma, você deveria fazer uma análise da
situação, para, depois, fazer algumas escolhas.
Teresa: Sim, eu tinha percebido que tinha que, de alguma maneira, aplicar
estratégias de observação para entender o que estava acontecendo. Tinha que
fazer uma escolha e depois agir. Agora, refletindo sobre isso, talvez eu
estivesse envolvida demais na situação; porém, documentava, fazia escolhas
com base nos muitos eventos e gestos a documentar.
No ateliê, Simona documenta a construção de um robô de papel feito por um grupo de três meninas, na
presença de Giovanni.
Giovanni: Acredito que ela estava construindo uma série de parâmetros para
si. Talvez não estivesse consciente, mas estava construindo, isto é, avaliava e
escolhia.
Paola: Para mim, dentro desses processos, há também uma contínua
autoavaliação e avaliação.
Teresa: E as minhas autoavaliações frequentemente eram negativas, tanto
sobre mim quanto sobre as minhas expectativas com relação à criança.
Amelia: Você se sentia inadequada, talvez?
Teresa: Com certeza, não à altura da situação, porque eu via que, na maior
parte dos casos, as expectativas que eu tinha eram baseadas em preconceitos.
Amelia: Parece-me que vocês fizeram julgamentos severos e quase
implacáveis de si mesmas!
Orietta: Sim, é verdade. Sobre isso me vem à mente um exemplo que talvez
possa ser banal: quando, na família, um pai diz: “Olha, é melhor não fazer
certas coisas porque...” você é levado a se rebelar, a querer decidir com auto-
nomia o que fazer, porque não aceita que alguém lhe diga como se
comportar, mesmo que seja seu pai. “O outro”, com as suas maneiras de agir,
estará sempre presente como confronto, porém você tem que ter certa
autonomia de julgamento e de pensamento, que adquire com o tempo e com
as experiências.
Amelia: Eu gosto de pensar que preciso “do outro” porque penso que o outro
propõe um ponto de vista diferente.
Giovanni: Parece-me muito interessante, porque o reconhecimento das
janela
Giovanni observa e documenta as falas e os gestos das crianças e da professora, fazendo anotações e
tirando fotos.
No dia seguinte, Orietta e Giovanni comparam os documentos produzidos para poder compartilhá-los
com os seus colegas durante o encontro semanal de atualização do pessoal.
São dadas aos pais algumas sínteses das observações; desse modo, eles também se sentem envolvidos e
podem acrescentar suas interpretações.
arbusto
O encontro entre pais e cozinheiras é um momento importante para discutir a dieta das crianças, bem
como para se conhecerem durante um jantar em uma atmosfera de convívio.
Os pais se encontram para ver um projeto realizado pelas crianças e pelas professoras.
Pais, crianças, funcionários e outros membros da comunidade demonstram ser a favor da lei nacional
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que garante o aumento dos financiamentos para as creches da infância.
Protagonistas
Pais, professoras e crianças
da seção de 5 e 6 anos
Professores
Angela Barozzi
Paola Barchi
Giovanni Piazza
Escola
La Villetta
Fotografia
Giovanni Piazza
Paola Barchi
Textos
Angela Barozzi
Paola Barchi
Este episódio, que faz parte de um projeto de pesquisa mais amplo, quer
contar como um grupo de adultos, composto por pais e professores, escolhe
ser parte ativa e de interlocução dentro dos processos de aproximação das
novas tecnologias vividos pelas crianças.
A escola é um lugar de encontro-confronto de ideias, desejos, contexto de
pesquisa individual e de grupo, onde são entrelaçados os significados de vida
que, a partir de diversos pontos de vista, professores e pais estão construindo.
A velocidade das transformações em que as novas tecnologias estão atuando,
na sociedade e na relação entre as pessoas, coloca pela primeira vez, ao
mesmo tempo, os três sujeitos da comunidade escolar em formas de
aprendizagem recíproca, em uma situação dinâmica, evolutiva e de
disponibilidade para “aprender a aprender” juntos.
Luca: Para mim, aqueles ali que aparecem na tela são robôs que fazem as
competições... parece que tem uma pista no computador...
Francesco: É verdade, parece a pista da Fórmula 1! Mas como podemos
construí-la? Eu gostaria que pudéssemos ter uma...
O grupo de pais decide, com base nas competências que cada um declara
possuir, dividir-se em dois subgrupos: um realiza o traço gráfico do percurso
e o outro constrói a estrutura de madeira sobre a qual será colocada a pista.
Carla Rinaldi
Mas temo, e gostaria muito de ser desmentida, que pouco, muito pouco, tenha
mudado no fazer e no ser da escola, no cotidiano da escola; tanto é que as
palavras de Maria Montessori arriscam ser, para muitas situações, na Itália e
no mundo, uma conquista ainda a ser realizada.
Nesse sentido, muitas são as causas e aqui poderemos listar diversas delas:
políticas, culturais, sindicais etc.
É tempo de mudar.
Os lugares de pesquisa sobre a aprendizagem devem se estender às escolas,
devem permitir a professores e estudantes refletir, no cotidiano, sobre os
modos do seu aprender e conhecer.
Dewey afirma que a experiência escolar das crianças deveria ter um alto grau
de continuidade com a vida do mundo adulto. Ousaria dizer que, no contexto
atual, a experiência escolar, se construída em torno de valores e significados
expressos até aqui, poderia contribuir para renovar as qualidades
democráticas do mais amplo contexto social e cultural. Poderia (e deveria)
contribuir para uma definição de contexto democrático capaz de aceitar os
desafios que a globalização propõe e impõe. Uma escola, para o futuro, deve
ser determinante para o presente, ou a sua mensagem e sua própria identidade
não sobreviverão.
cones de sorvete
Vea Vecchi
Individualismo social
Episódio retirado do projeto
“A parede bela”, escultura
coletiva em cerâmica
Autores meninas e meninos
de 5 a 6 anos
Professoras
Marina Mori
Paola Strozzi
Vea Vecchi
Documentação fotográfica
Vea Vecchi
... tornam-se quase um corpo único, com tantas cabeças, braços e pernas. A
união, assim fisicamente declarada, parece antecipar a necessidade, mas
também a solidariedade necessária para se escolher um esboço, eliminando os
outros dois.
As crianças tendem naturalmente a querer manter tudo, e a exclusão, nesse
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caso, parece quase dolorosa demais. Assim, primeiro Daniele e depois
Chiara, propõem duas hipóteses que superam o problema da escolha por
eliminação.
Subgrupos no grupo
Colhido do projeto
“A parede bela”
Autores
crianças de 5 a 6 anos
Professoras
Marina Mori
Paola Strozzi
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Vea Vecchi
Documentação fotográfica
Vea Vecchi
Seis crianças (três meninas e três meninos), sentadas em volta de uma mesa,
estão decidindo e combinando entre si e com a professora sobre o que
construir com a argila. Enquanto discutem, algumas das crianças rodam em
volta da mesa e, em um breve espaço de tempo, passa-se da discussão única
inicial a duas discussões entrelaçadas e contemporâneas do grupo de meninas
e do grupo de meninos.
Acontece com frequência que os meninos e as meninas, mesmo estando bem
juntos, dividam-se autonomamente em grupos separados. Quando
perguntamos por que isso acontece, respondem com frases do tipo: Caterina:
Normalmente os meninos e as meninas não pensam de maneira diferente e
falam um pouco da mesma maneira... Mas acontece que as meninas se
escolhem porque são amigas; a amizade tem a ver, ajuda no grupo. Senão
pode acontecer que as meninas não falem.
As três meninas, após uma negociação bastante longa, decidem que Laura e
Caterina construirão juntas uma grande árvore.
Chiara escolheu a construção de uma rã, um ser que lhe é amigo e com quem
mostra ter uma empatia espacial. Chiara é uma menina muito sociável, mas
ama, às vezes, trabalhar sozinha, sendo particularmente hábil; talvez, tema
que um trabalho coletivo possa abaixar a qualidade estética do produto ou
simplesmente sente mais prazer em um percurso individual.
O grupo se constitui assim, em três subgrupos, mas entre eles a atenção
será total, constante e entrelaçada por todo o tempo.
Auto-organização
Vemos com frequência como, perante representações complexas, as crianças
tendem a fazer organizações coletivas, similares a uma cadeia de montagem,
com distribuição de tarefas fixas para os diversos sujeitos: Você, Elisa, faz
todos os ramos; eu junto e grudo os ramos na árvore; você, Daria, faz as
folhas e Caterina as gruda. E assim por diante.
Esse tipo de distribuição das partes entre os sujeitos é encontrado mais
facilmente em um grupo feminino, mas, já que tememos as generalizações,
acrescentamos que isso pode ser encontrado em grupos masculinos ou
femininos.
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Há tipologias de auto-organizaçnao que são encontradas com maior
frequência em grupos de meninos e outras em grupos de meninas.
A árvore foi terminada. Nesse caso, as meninas usaram como referência uma
árvore que viam do lado de fora do vitral: a cópia da realidade é outra
estratégia proposta frequentemente pelas professoras, por ser considerada
muito eficaz para o conhecimento e para as relações empáticas que realiza
com o sujeito a ser representado. Laura construiu os ramos de argila por meio
de uma estratégia construtiva pouco econômica, mas já utilizada em outra
escultura que, aproximadamente um mês antes, tinha obtido um bom sucesso
formal.
Linguagem verbal
Um elemento frequentemente encontrado nos grupos de aprendizagem é um
uso especial da linguagem verbal. Eis alguns exemplos:
Projetos autônomos
Protagonistas
Crianças de 5 a 6 anos
Documentação fotográfica
Vea Vecchi
Armando quer escrever uma mensagem de amor para Caterina, mas não
reconhece todas as letras; pede ajuda a Michele, que já é autônomo na escrita.
Eis como acontece o ensino.
Armando diz a Michele em voz alta o que quer escrever. Michele pega a
cabeça de Armando entre as mãos e a usa como uma filmadora, dirigindo os
olhos do amigo para o teclado do computador, letra após letra, para compor
as palavras e as frases desejadas.
Caterina, sentada ao lado, escuta a mensagem e escreve imediatamente a
resposta, enquanto parcialmente autônoma na escrita.
Como não apreciar o pequeno projeto de protesto levado adiante pelo grupo?
O episódio prossegue com um esclarecimento posterior entre professora e
crianças.
Documentação fotográfica
Vea Vecchi
Aprende-se a cooperar
Colhido de uma pequena
pesquisa de construção em
colaboração realizada com
todas as crianças de 5 a 6
anos, subdivididas em
grupos só de meninos, só de
meninas e mistos.
Professoras
Sonia Cipolla
Laura Rubizzi
Coautora do projeto e
consultoria
Vea Vecchi
Documentação fotográfica
Vea Vecchi
É a segunda vez que, neste nosso texto, aparece o uso de um material como a
argila, por isso, tínhamos dúvida entre contar ou não o episódio a seguir.
Trata-se, porém, em ambos os casos, de episódios que exemplificam
claramente as afirmações feitas no texto. Por isso, corremos conscientemente
o risco de uma comunicação distorcida em relação aos materiais e às
linguagens utilizados na escola, que são, naturalmente, em maior número
que o indicado aqui.
Giuseppe: Porque, se Michele quer fazer a mesa, isso não é bom; estamos
brigando e depois perdemos muito tempo. Então, temos de decidir se
concordamos assim como eu disse.
Benedetta, que ainda está construindo os pés da sua mesa, em um certo ponto
pega dois pés e os desloca, distanciando-os um do outro.
Professora: Por que você os deslocou?
Benedetta: Aquela mesa lá (a de Caterina, que já está pronta) é grande e
então eu também tenho de fazer uma maior (a parte plana da mesa).
Professora: As duas mesas do miniateliê são iguais ou diferentes?
Caterina: São exatamente iguais, mas eu sei fazer assim.
As falas da professora servem frequentemente apenas como contraponto para
esclarecer melhor uma intuição ou um pensamento já expresso pelas crianças.
É necessário, porém, mais tempo para entender que, para abaixar cadeiras
altas demais, o melhor sistema não é achatá-las com mão, mas tirar um
pedaço de argila dos pés. É preciso sempre lembrar que, para as crianças,
nada é certo, estão explorando tudo e cada contexto novo renova a
experimentação.
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A escultura final
Esforço e prazer
As crianças de hoje têm sempre à disposição, com relação ao passado, uma
grande quantidade de imagens, muitas das quais são provenientes da
televisão. Imagens bonitas ou feias, invenções inteligentes, no padrão ou
estereotipadas.
Ter tantas imagens não significa necessariamente saber desenhar melhor.
Talvez o descarte entre as imagens mentais e as competências gráficas
ligadas à idade biológica tenha aumentado: as crianças parecem ter mais
dificuldade, com relação ao passado, para aceitarem um resultado gráfico tão
distante das representações do real que veem e que contribuem para construir
o imaginário delas. Da mesma maneira, encontram dificuldade para aceitar
que maiores competências representativas, e, consequentemente uma maior
satisfação das suas produções, são obtidas treinando-se mais e aceitando
medir-se mais vezes com os mesmos sujeitos. Como todas as linguagens, a
gráfica também, para desenvolve-se, precisa de ocasiões, de comunicação,
tentativas e treinos. Provavelmente, para as crianças foi diminuído o tempo
entre o desejo de algo e a sua satisfação.
É difícil dar um prognóstico do papel que o desenho terá no futuro: talvez
seja substituído por outras formas de expressão ou se tornará uma linguagem
mais preciosa que hoje; por enquanto, achamos que é uma pena perder uma
linguagem tão rica de expressão e de conceitualização, por isso, procuramos
manter ativo nas crianças o desejo de desenhar e fazer que não se distanciem
do desenho por um excesso de frustração. Acreditamos ser importante, nesse
nosso papel, não separar nunca dois aspectos que pertencem à linguagem
gráfica: o mais propriamente expressivo e o cognitivo. Conscientes de que
uma representação visual é constituída de multiplicidades, estamos prontos
para aproximar a criança de um processo representativo que privilegia, às
vezes, mais um aspecto do que o outro. O que foi narrado aqui é somente um
fragmento de uma experiência que coloca em evidência o esforço da
aprendizagem, mas também o prazer do desenvolvimento das próprias
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competências.
Esforço e determinação, sempre solicitados em uma situação de
aprendizagem, são mais aceitos se endereçados a um objetivo claro e
compartilhados, ou se pertencem a uma situação interessante, mas, sobretudo,
se estão associados ao prazer e à gratificação.
Hipóteses de projeto
Antes de enfrentar o trabalho com as crianças, sempre escrevemos
algumas notas e hipóteses sobre o projeto que realizaremos: servem-nos
como orientação e reflexão iniciais, como base de discussão com os
colegas. Mostramos aqui as considerações e hipóteses iniciais escritas
pelas professoras, porque as consideramos interessantes para entender as
estratégias da abordagem aos novos projetos.
1
Delimitação inicial do campo de pesquisa e identificação do tema a ser
proposto para as crianças
Colher a investigação autônoma das crianças relativa à representação tri-
dimensional, por meio de uma produção bidimensional, como o desenho.
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Com base nesse tema, procuramos um percurso projetual capaz de apoiar
as investigações das crianças, divulgá-las, fazer nascer novas perguntas.
Identificamos, como oportunidade inicial, uma série de propostas gráficas
capazes de fazer surgir com maior clareza os problemas representativos
relativos a contextos diferentes, como a brincadeira da ciranda, um jogo de
bola, a brincadeira de roubar bandeira etc.
2
Identificação de um contexto significativo onde colocar o projeto
Decidimos propor às crianças a realização de um manual de brincadeiras
com as respectivas regras, em parte desenhado, para deixar como presente
(e memória) para as crianças de 3 anos que vão entrar na escola.
3
Quesitos iniciais relativos ao tema identificado
O quanto as crianças, às quais a proposta é direcionada, conseguem ter
uma ideia prévia das dificuldades gráficas e conceituais que encontrarão?
Pedir previsões sobre o desenho delas pode servir para as crianças
focalizarem os problemas, permitindo enfrentá-los com maior
consciência?
4
Primeiras pistas de observação relativas às hipóteses verbais das crianças
Quais são as dificuldades que as crianças encontram na proposta?
• O desenho das figuras humanas?
• Os diferentes pontos de vista com base nos quais as figuras deverão ser
desenhadas para tornar a representação clara?
• A distonia entre contexto tridimensional e representação bidimensional?
Quantas crianças participam desse jogo de hipótese prévia?
Que tipo de articulação verbal constroem?
Com quais escutas por parte dos colegas? Com quais intervenções,
diálogos etc.?
5
Ciranda: identidade da brincadeira
“Brincadeira de crianças que giram numa roda, segurando-se pelas mãos e
cantando uma cantiga de roda que começa com as palavras ciranda
cirandinha” (de O grande dicionário Garzanti da língua italiana).
“... como se a ciranda das crianças não fosse um girar em volta de nada,
um circundar com o seu giro um espaço que, se não contém nada, é,
porém, delimitado e feito, torna-se algo, graças àquele girar em volta...”
assim escrevem os filósofos Alessandro Dal Lago e Pier Aldo Rovatti no
manual Per gioco (Raffaello Cortina, 1993).
Esse girar em volta é uma brincadeira antiga, brincada, acreditamos, de
maneira diferente, por quase todas as crianças do mundo; do ponto de vista
da representação gráfica é muito complexo, já que prevê a rotação da
figura humana (na frente, atrás, de perfil) em um espaço circunscrito,
delimitado pelas crianças que se seguram pela mão.
Um espaço que, na nossa cultura, é definido como em perspectiva (ainda
sendo sempre necessário lembrar que a perspectiva não é uma situação
objetiva, mas uma interpretação cultural).
Mesmo sendo conscientes das muitas implicações metafóricas e filosóficas
que a ciranda pode ter, nesse caso, pretendemos utilizá-la, sobretudo,
como contexto conhecido, capaz de evidenciar, de maneira clara,
investigações e soluções de figuras representadas com planos de percepção
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diferentes.
6
Metodologia da proposta
Material gráfico variado, folhas de diferentes dimensões; a proposta é feita
para todas as crianças da seção, dando autonomia completa na formação
dos grupos.
Pistas de observação:
• Quais aproximações entre as crianças são escolhidas e por quê?
• Quanto os problemas expressos no momento das hipóteses verbais
voltam para o da representação gráfica? E de que maneira? São
resolvidos silenciosamente, com perguntas? Para quem?
• Quais diálogos? Quais influências?
7
Autoavaliação e avaliação
Para grupos de 4 a 5 crianças, pedir comentários sobre os desenhos
realizados e a comparação entre as previsões verbais e o desenho.
Os grupos são formados levando-se em consideração sintonias
comunicativas e diferentes soluções gráficas.
A intenção é enfatizar e esclarecer o valor dos processos construtivos.
Pistas de observação:
• Quais são os aspectos que as crianças enfatizam mais?
• Com quais modalidades de linguagem verbal?
• Há soluções gráficas que as crianças preferem? Quais e por quê?
• As soluções menos apreciadas são abandonadas ou defendidas pelo
autor? Com quais argumentações? São conservadas e voltarão a surgir
em outras situações?
A ciranda
A proposta envolve todas as crianças da seção, mas o relato que fazemos aqui
é parcial e relativo somente à representação gráfica da ciranda de três
crianças: Giulia, 4 anos e 10 meses; Leonardo, 5 anos e 6 meses; e Giovanni,
5 anos e 7 meses. Trata-se de um contexto em que as aprendizagens
individuais das crianças são construídas no interior e com a contribuição do
grupo.
Leonardo: Para mim é fácil desenhar uma ciranda de crianças, porque se faz
um redondo assim (traça-o no ar) depois as crianças... Depois... Feito! O
redondo parece, para Leo, a forma da representação inteira.
Uma vez terminado o desenho, muito satisfeito, comenta-o assim:
Observa o seu desenho por um longo tempo, parece pensar em como fazer
para assumir aos colegas posição em diagonal que ela desenhou.
Leonardo: Para fazer virar uma ciranda de verdade, precisa que todos
estejam em pé!
Um dos momentos mais divertidos é a passagem da posição deitada para a
posição em pé, pedida por Leonardo.
As crianças ficam em pé, mas se encontram de costas, em uma improvável
ciranda ao contrário. Leonardo: Não, assim não está bom. É uma ciranda um
pouco pequena, um pouco louquinha. As costas devem ser viradas de costas
e o corpo deve ser virado em direção aos outros corpos. Giulia: Mas o
desenho está sempre parado. Como se faz para ver a ciranda?
A ciranda 2
As professoras, nesse ponto, propõem um segundo desenho individual de
uma ciranda, pondo os autores em contextos de grupo misto feminino e
masculino de quatro a seis crianças. Os grupos são propostos de acordo com
as interpretações que as professoras dão da primeira ciranda gráfica.
Continuamos acompanhando Giulia, Leonardo e Giovanni.
Leonardo: Eu sei como fazer uma ciranda de crianças. Primeiro, faço uma
roda, como uma ciranda... Depois precisa da criança que está de fora e
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olha...
O esquema inicial anterior ainda está muito forte e parece que não foi
colocado em crise por causa das tentativas e dos comentários dos colegas; ou,
em caso contrário, é necessário tempo para modificá-lo, já que um esquema
gráfico representa um esquema conceitual. Às vezes, percebe-se que o que se
usa não está bom, mas não se sabe como modificá-lo.
Giulia se volta a Giovanni: Como você fez para fazer aqueles do outro lado?
(as crianças em frente).
Giovanni (indicando uma por uma as três figurinhas de trás de Giulia):
Giulia, tenho uma ideia! Essas crianças estão olhando para quem? Essa
está olhando para quem? Tem que fazer aquelas do outro lado dessas...
Leonardo: Agora, Giulia, vou explicar o perfil para você, olha para mim!
Está vendo? É como uma linhazinha que vai toda para baixo, assim...
Autoavaliação e avaliação
Propomos às crianças, em grupos, para repercorrerem o trabalho feito; não se
trata de um simples conto das ações produzidas, mas de repensar o processo
realizado, as dificuldades encontradas, as dúvidas, as soluções, o que foi
deixado em suspenso. É um processo difícil, mas nos parece importante (e o
colocamos frequentemente em ação), para desenvolver uma atitude de
autorreflexão sobre o que se faz e sobre as próprias estratégias, apoiar e
alimentar, ao mesmo tempo, os processos de compreensão.
Desenhos de Giovanni
Documentação final
Todo o material produzido durante esse projeto foi transformado em um
documentário de slides, e foi:
• apresentado e discutido com as crianças, os pais e os professores das
outras escolas;
• reorganizado em uma documentação na parede por etapas sintéticas: o
precedente que explica as origens do projeto, a apresentação teórica, os
exemplos de algumas crianças, a publicação da investigação e o estudo que
mostra o percurso completo do trabalho.
Indicadores de aprendizagem*
Há elementos de avaliação que nos ajudam a entender se um grupo aprendeu
e em qual nível? Esta é uma das tantas perguntas interessantes que nos foram
feitas pelos amigos do Project Zero.
Após certa resistência filosófica e psicológica para aceitar parâmetros
avaliativos formalizados e não inseridos em um contexto, pareceu-nos
incorreto nos abstermos desse movimento de avaliação final. Ainda com a
convicção de que muitos processos de avaliação já entraram em ação durante
o percurso, identificamos algumas das vozes que consideramos
representativas de um processo de aprendizagem: o uso de certo tipo de
linguagem verbal, a construção de hipóteses, a formulação de teorias, as
estratégias de ação etc.
Protagonistas crianças de 5 e
6 anos da Escola da Infância
La Villetta e do Model Early
Learning Center de
Washington D.C.
Professores
Paola Barchi
Silvana Cucchi
Giovanni Piazza
Jennifer Azzariti
Wendy Baldwin
Sonya Shoptaught
De um projeto de
Amelia Gambetti
Giovanni Piazza
Carla Rinaldi
Fotografias
Giovanni Piazza
A ideia de comunicar a distância entre duas escolas que vivem realidades tão
distantes e diferentes, como a do Model Early Learning Center (M.E.L.C.),
de Washington D.C., e da Escola La Villetta, de Reggio Emilia, surge das
crianças entre 5 e 6 anos, no final de um encontro com Amelia Gambetti,
professora da Escola La Villetta por longo tempo e, naquele período,
professora no M.E.L.C. de Washington.
Durante uma das visitas a Reggio, Amelia deu para as crianças da La Villetta
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muitas notícias sobre as crianças e a escola americana em que está
trabalhando. O desejo das crianças e dos professores de ficar em contato com
Amelia e a curiosidade sobre as experiências das crianças americanas apoia a
ideia de ativar, entre as duas escolas, um fluxo de trocas comunicativas.
A ideia de ser capaz de se comunicar, apesar das distâncias tão grandes,
poder trocar interesses, pensamentos, experiências e construir novas
amizades, gera um grande entusiasmo que contagia as crianças, os
professores, os pais da seção e da escola.
Após numerosas mensagens, presentes, fitas de áudio e vídeo que deixavam
traços da diferença entre as duas culturas, começa a se insinuar nas nossas
reflexões uma suspeita: que os dez dias de espera pela resposta da mensagem
enviada provoquem uma progressiva diminuição das expectativas
comunicativas. Surge, das falas das crianças, uma forte necessidade de se
comunicar de formas mais rápidas.
Mas como?
Crianças do M.E.L.C.
Matteo:
Se quisermos que a nossa mensagem para os nossos amigos de Washington
chegue logo, talvez pudéssemos enviá-la com um míssil.
Roberta:
Vamos mandar a mensagem com o vento. Talvez, para chegar logo, precise
de um vento forte e rápido!
Lucia: Ah, agora eu me lembro! O meu pai tem um no escritório e sabe como
fazer a carta do fax. Quando ele vier me buscar na escola, perguntamos para
ele.
Pai de Lucia: O fax é um telefone que lê as mensagens que uma pessoa quer
enviar e as envia para o número de telefone do fax do amigo...
Luca: O fax é como uma folha com uma mensagem escrita. É como um
pensamento... Rápido como um pensamento.
Lucia: Talvez colocaram um nome curto nele, assim chega mais rápido.
Giacomo: É como um telefone com uma caixa embaixo... Talvez dentro tenha
fios e uma espécie de impressora que copia as cartas que você quer mandar.
Professora: Precisamos tentar fazer e enviar esse fax, como podemos nos
organizar?
Lucia: Precisa ter muitos de nós, porque, se você faz uma coisa a primeira
vez e não sabe como fazer bem, talvez outra pessoa saiba.
Alessandra: Eu tenho uma ideia: quem sabe escrever pode fazer.
Luca: Pode ter crianças que sabem fazer coisas difíceis e crianças que sabem
fazer coisas fáceis... Precisamos de amigos que sabem fazer coisas
diferentes.
Preparação
Entre as muitas regras que são dadas às crianças para o trabalho em grupo,
uma é reconhecida como fundamental: todos devem ser informados e
envolvidos nas decisões a serem tomadas. Antes de enviar o fax, todas as
crianças devem vê-lo, discuti-lo e aprová-lo.
Matteo: Este é o fax! Nós fizemos todos juntos. Simone: Aquilo é... o fax?
Aquilo é uma mensagem, não é uma máquina!
Lucia: Olha que é fax. O meu pai disse que a mensagem também se chama
fax!
Alessandra: É assim! É como quando falamos me dá um 5, você não dá o 5,
mas dá a mão que é feita de 5 dedos. É assim, querido!
Simone: Mas é um fax muito normal, não tem nem cores.
Giacomo: Mas o fax não vê as cores, não é como nós, que vemos as cores
com os olhos. Ele desenha e não tem as cores dentro.
Sofia: Nós fizemos desse jeito porque assim o fax não erra para ler a
mensagem.
Matteo: Nós fizemos assim porque temos que ver se chega logo, não porque
tem que ser bonito.
Sofia: Como é colocada a folha no fax? Giacomo: Lembre que temos que
colocar de cabeça para baixo, assim o fax pode ler a mensagem.
Sofia: Como a copiadora, você diz?
Giacomo: Ei, olha o que acontece, está comendo a folha...
Sofia: É um come-folhas... Mas, se come a folha, como ela vai para os
Estados Unidos?
Giacomo: Talvez dentro do fax tenha um tipo de cérebro que copia a
mensagem e depois envia.
Giacomo: Quando o fax pegou a mensagem na sua boca, parecia que estava
aprendendo as palavras que nós escrevemos.
Sofia: Então depois, talvez estivesse fazendo um fax para os nossos amigos.
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Roberta: Ou talvez fez uma folha leve, leve, que voou para os Estados
Unidos...
Sofia:
O fax parece um telefone que imprime. Você coloca a folha na boca de baixo.
Dentro do fax, tem alguns carimbos especiais, alguns lápis e canetinhas que
escrevem e desenham. Tem buraquinhos onde a cor que faz os escritos na
folha salta para fora.
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Sofia:
Talvez a nossa folha do fax pegou o avião e voou para os nossos amigos até
Washington. Partiu da Itália e chegou até os Estados Unidos.
Teoria de Alioscia:
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Para mim, dentro da máquina tem um tubo grande que vai até os Es tados
Unidos. Dentro tem uma mola grudada que faz a mensagem partir bem
rápido; uma mão falsa que tem dentro da máquina de fax.
Teoria de Lucia:
A nossa mensagem partiu da La Villetta e foi para o céu. Com o vento foi
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para o alto e viajou no meio das nuvens com os pássaros e os aviões.
Girou em volta do mundo e depois parou no M.E.L.C.
Roberta: Vê? No desenho de Alioscia dá para entender bem como um fax faz
para chegar aos Estados Unidos. Vai dentro de um tubo, assim, não se perde
pelo caminho.
Alioscia: Um tubo comprido que gira em volta das coisas que encontra na
viagem.
Matteo: Mas não dá para entender de onde parte e onde vai parar. Não dá
para entender o caminho que faz.
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Alessandra: Dá para entender no desenho da Roberta. Dá pra ver que o fax
passa em cima do mar. A América está do outro lado do mundo, do mar.
Roberta: Dá para ver bem no desenho da Lucia que a América está do outro
lado do mundo; é muito longe.
Matteo: Sim, mas como um fax faz para voar em volta do mundo? Nós não
vemos no céu papéis que dão uma volta e vão para as casas das pessoas.
Giacomo: Para mim, tem um tubo comprido, como diz Alioscia, que dá uma
volta muito grande e vai para longe...
Prédios de Lucia
Protagonistas
Annarita, 5 anos e 8 meses
Cecilia, 5 anos e 9 meses
Francesca, 5 anos e 7 meses
Emiliano, 5 anos e 6 meses
Giacomo, 5 anos e 8 meses
Simone, 5 anos e 9 meses
Professores
Angela Barozzi
Giovanni Piazza
Teresa Casarini
De um projeto de
Giovanni Piazza
Paola Cagliari
Fotografia
Giovanni Piazza
Cecilia: As cidades não acabam nunca, todas são grudadas como casas. Eu
vivo na Via Città di Reggio e a minha casa é grudada em outra; é uma casa
geminada.
Mais uma vez, a Via Emilia e as praças são os elementos centrais da cidade e
das discussões para decidirem como continuar.
Francesca: Não tem só uma ou duas praças na cidade, tem muitas, não duas,
como nós fizemos. Annarita: Eu acho que tem muitas; algumas naquela parte
da Via Emilia e algumas na outra parte.
No final, decidem que cada uma delas desenhará uma praça, dividindo o
território restante em quatro seções.
Emiliano: Para fazer uma cidade grande de verdade, você precisa ter uma
folha grande. Simone: Grande como a Terra, grande como uma cidade.
Giacomo: Vamos fazer outra praça. Tenho certeza de que tem muitas praças
na cidade. Simone: Poderíamos fazer nela um jogador de futebol treinando.
Giacomo: Boa ideia!
Giacomo: Nós fizemos uma cidade linda, mesmo tendo feito um pouco de
confusão.
Emiliano: Todas as ruas te levam para algum lugar. É uma cidade onde você
não pode se perder e onde você não tem medo.
Simone: É uma cidade que poderia ser Reggio Emilia, porque tem também o
Campo de Marte, mas talvez não seja Reggio. Talvez se chame Cidade do
Mundo, porque todas as pessoas do mundo podem viver nessa cidade.
Mara Krechevsky
Sete proposições
As proposições mostradas aqui são o fruto de mais de trinta anos de
observação, documentação e interpretação dos processos de aprendizagem
das crianças nas escolas e nas creches da infância de Reggio. Cresceram em
um contexto educativo e político de forte colaboração entre os professores, as
crianças, os pais e a comunidade da cidade de Reggio Emilia. Enquanto
algumas dessas afirmações podem parecer familiares para aqueles que
estudam a literatura científica sobre a primeira infância, a carga inovadora
desses materiais reside nas maneiras em que foram feitos e no uso cotidiano
que os professores fazem deles para sustentar a própria prática educativa.
ciranda
a) Dimensão
O número de crianças em um grupo de aprendizagem tem uma influência
significativa em como e o que o grupo aprende. Os grupos mais eficazes são
compostos por dois, três ou quatro crianças, e revelam-se contextos capazes
de favorecer as interações complexas, a solução construtiva dos conflitos e o
automonitoramento.3 Nos pequenos grupos, registra-se uma comunicação
mais frequente e dinâmica; as crianças têm a possibilidade de desenvolver
melhor as capacidades de escuta, de colaboração e de negociação. No interior
do grupo, cada criança pode ser reconhecida pelos outros como portadora de
uma perspectiva e de uma maneira de pensar bem definida. Além disso, os
professores são mais capazes de escutar o que as crianças dizem, dando
visibilidade ao seu pensamento.
A dimensão certa de um grupo de aprendizagem é determinada pela
capacidade do grupo de manter o ritmo de uma conversa ou de trabalhar um
problema e de resolver conflitos. O grupo precisa ser suficientemente
pequeno para permitir a cada participante manter traços das ideias e das
contribuições de todos os outros. Naturalmente, algumas crianças preferem
trabalhar sozinhas, outras em dupla e outras, ainda, em grupos de três
(provavelmente, a formação mais comum) ou quatro indivíduos, no máximo.
Às vezes, quando uma criança se inclui em um grupo de duas, pode acontecer
que o diálogo que se desenvolvia com facilidade na dupla seja interrompido.4
Desenho de uma bicicleta do grupo dos meninos em que foram utilizadas partes das bicicletas
individuais
A menina que fez o desenho explica os motivos das próprias escolhas gráficas
As crianças:
O que você acha?
Tenho uma ideia.
Na minha opinião...
Na sua opinião...
Você gosta?
Você concorda?
Posso ajudar você?
Do que você gosta?
Não concordo.
Os professores:
Quantas descobertas você fez até agora?
Por que não tenta descobrir junto com os outros?
Relendo o que você disse, tem algo que talvez você pudesse entender
melhor...
Temos de decidir como propor essas coisas aos seus amigos. Como vamos
conseguir
fazê-los entender o que você fez aqui?
Você tem tempo para se divertir e fazer outras descobertas.
A teoria de Lorenzo sobre como o fax viaja de Reggio Emilia a Washington D.C.
As crianças combinam a teoria de Alessandra com a de Lorenzo, fazendo avançar as suas ideias e
criando uma primeira teoria de grupo
Observações conclusivas
No seu artigo “Escutar o que as crianças dizem”,27 Vivian Paley, uma
professora de creche e escola da infância, reflete sobre a sua “descoberta” do
gravador de áudio: “O gravador, graças à sua inalterável fidelidade, captura
os sussurros não ouvidos ou os acenos de frases não concluídas, os sinais
incompreendidos e subavaliados do contexto, as vozes sem rosto que pedem
explicações e ajuda. Revela também a impaciência da minha voz, quando as
crianças pedem atenção, confirmação e objetividade. As gravações na fita
provocaram em mim uma necessidade irrefreável de entender mais
profundamente os processos do ensino e da aprendizagem e, em especial, de
estudar a seção como se fosse uma entidade social separada das outras”.
Tendo posto perante nós essas sete proposições com todas as suas
declinações, percebemos que deverão ser, por sua vez, aprofundadas no
interior da cada seção e contexto de aprendizagem. De que maneira essas
mesmas proposições podem ser aplicadas em grupos de aprendizagem de
garotos ou até de adultos? Quais são as implicações dessas proposições em
grupos de aprendizagem de outras culturas e contextos? Quais características
permanecem similares entre as culturas e quais serão diferentes?
Indubitavelmente, as escolas de Reggio promovem uma cultura educativa em
que a aprendizagem de grupo é apoiada e desenvolvida. Quais elementos
dessa cultura podem ser levados com sucesso para outros contextos?
Além disso, enquanto algumas dessas proposições se referem ao papel dos
adultos como componentes de grupos de aprendizagem, seria interessante
observar mais de perto a aprendizagem dos próprios adultos com base nessas
proposições. Por exemplo, qual é a influência que sofrem os estilos de
aprendizagem dos adultos por parte dos indivíduos do grupo e de que
maneira eles os influenciam, por sua vez? De que maneira os adultos
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participam do processo de decisão de um objetivo para um projeto ou uma
realização especial? Como influenciam a construção dos princípios estéticos
do saber?
Para Vivian Paley, o fator-chave da atividade de ensino e de pesquisa é a
curiosidade – não só com relação à aprendizagem e aos pontos de vista das
crianças, mas, também, com relação ao próprio papel no processo de ensino e
de aprendizagem. Vemos essas proposições como um exemplo daquilo que
pode surgir quando os professores se tornam eles mesmos, como diz Paley, as
suas “melhores testemunhas”. Por meio da construção da documentação, os
professores unem teoria e prática, tornam-se pesquisadores da experiência do
ensino e da aprendizagem. As proposições aqui ilustradas enfatizam as
enormes potencialidades do papel que a documentação pode ter na
aprendizagem dos professores e das crianças.
Protagonistas
Aurelia, 5 anos e 9 meses
Ferruccio, 6 anos
Giacomo, 5 anos e 7 meses
Luca, 6 anos e 2 meses
Professora
Laura Rubizzi
Escola
Diana
Fotografias e textos
Vea Vecchi
Ben Mardell
Nós culturais
“Preste atenção em como você define o mundo, porque é assim mesmo.”
Erich Heller, Lo spirito diseredato
As decisões educativas, por exemplo, sobre como desenvolver uma conversa
durante uma assembleia, como escolher o momento de interferir num
conflito, como fazer uma documentação na parede, são condicionadas pelos
preconceitos, pelas convicções e valores que expressamos com relação ao
ensino e à aprendizagem: a partir das nossas visões de conjunto sobre a
educação. Tomemos o caso específico das documentações na parede. As
possibilidades são infinitas. Podemos incluir materiais artísticos, slogans,
documentações do trabalho realizado pelas crianças (fotografias, transcrições
de conversas...), exemplos de produtos finalizados. É provável que a ideia de
exibir o trabalho de cada criança seja baseada no preconceito de que o
princípio de imparcialidade exige que todas as crianças sejam incluídas, na
convicção de que é importante exaltar os resultados dos estudantes e que os
produtos finais representam o melhor desses resultados. Outros preconceitos,
convicções e valores levariam a outras escolhas.
As visões de conjunto sobre a educação – as teorias operacionais sobre o
ensino e a aprendizagem – são radicadas na cultura. São indispensáveis para
entender o sentido das seções e da escola. Todavia, além de serem fontes de
inspiração, podem se tornar limites, porque, às vezes, impedem aos
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professores, aos dirigentes, aos pais e aos políticos avaliar profundamente as
situações e ver as suas potencialidades. Nesse ponto,os preconceitos, as
convicções e os valores se tornam o que nós chamamos de “nós culturais”.
Tal nó é visível na reação à nossa narração das experiências na Escola La
Villetta. Enquanto a maior parte dos americanos reconhece o valor da
exposição aos colegas por parte das três crianças, muitos educadores
americanos se mostram, pelo contrário, surpresos que a relação de somente
três crianças ocupe grande parte do tempo de uma assembleia. Foram levados
a ler a prevalência de poucas crianças, na assembleia, como uma
prevaricação. Essa reação encontra as suas origens nos preconceitos, nas
convicções e nos valores inerentes à relação entre os indivíduos e o grupo.
Em geral, os americanos são desconfiados com relação à coletividade, e
consideram que se unir a um grupo cause ao indivíduo o risco de renunciar à
própria liberdade. Acreditamos que os indivíduos devam ser protegidos pelos
grupos. Uma “proteção” possível é estabelecer mecanismos que assegurem a
igualdade entre os componentes do grupo. E, portanto, durante as
assembleias, nas escolas americanas para a primeira infância, é práxis
habitual estruturar as discussões de maneira a conceder a cada criança uma
breve oportunidade de compartilhar os próprios pensamentos. Normalmente,
não é permitido às crianças falarem uma segunda vez, até quando todos não
tiverem tido a oportunidade de participar. Para muitos professores é natural
que não haja uma alternativa para uma configuração assim. Todavia, a
imparcialidade não deve ser identificada com a igualdade: podem-se excluir
importantes benefícios, adotando essa interpretação das “oportunidades
iguais”. Após ter constatado a importância e a validade dos momentos de
discussão e explicação por parte das crianças, consideramos os preconceitos,
as convicções e os valores que limitam tais conversas como um nó cultural.
Esses nós são difíceis de desfazer. Somos muito fiéis, ainda que
inconscientemente, ao nosso habitus mental tradicional. Tendemos a
incorporar a realidade dentro de uma interpretação geral pré-existente, em
vez de reconsiderarmos as nossas convicções, baseando-nos na experiência.1
Além disso, já que são profundamente radicadas no ambiente social, as visões
de conjunto fogem do nosso exame.2 Os preconceitos, as convicções e os
valores que formam os nós culturais são parte da nossa herança cultural.
Todavia, confrontarmo-nos com ideias e atividades educativas eficazes com
um forte espírito de autorreflexão pode nos ajudar a identificar e a
compreender o que se esconde por trás das nossas práticas educativas.
Falsas dicotomias
Ao longo das nossas reflexões, notamos que, nas escolas reggianas, não
encontramos muitas das dicotomias que estão no coração de muitos de nós –
ensino e aprendizagem, teoria e prática, avaliação e currículo, razão e
sentimento, currículo orientado ao adulto e à criança e, enfim, aprendizagem
individual e de grupo. É conveniente pensar em termos dicotômicos, mas
grande parte dessas dicotomias soam falsas. Banalizar a complexidade do
processo de ensino e aprendizagem faz um mau serviço ao nosso conceito de
escola. O esforço de identificar e de resolver essas dicotomias se mostrou
extremamente útil ao dar novo sentido a algumas teorias muito complexas
relativas à aprendizagem de grupo e à documentação.
Se pensarmos ainda na visita à Escola La Villetta, vemos que as dicotomias
habituais desapareceram. Ao longo da relação das três crianças, a seção
estava aprendendo de modo individual ou coletivo? Era uma atividade típica
de um currículo centrado no adulto ou na criança? As crianças e os
professores estavam aprendendo ou ensinando? A relação era uma forma de
ensino ou de documentação da aprendizagem? O trabalho das crianças
compreendia tudo isso e muito mais. As relações das crianças expressavam a
aprendizagem individual delas e a aprendizagem de grupo. Tanto as crianças
quanto os adultos tinham um papel ativo ao longo daquela exposição.
Enquanto as crianças articulavam as suas ideias e respondiam às perguntas
feitas pelos amigos e professores, toda a seção adquiria conhecimentos sobre
o assunto. Ao mesmo tempo, as três crianças dominavam as suas
investigações com maior segurança. Estavam, por isso, ensinando e
aprendendo. Fornecendo um juízo sobre a maneira de raciocinar e sobre as
habilidades cognitivas das crianças, a relação servia também como avaliação.
O desejo de simplificar, de empacotar a realidade em categorias gerenciáveis,
Há momentos em que algo não é só uma coisa ou outra, mas ambas. Essa
premissa pode ser importante quando refletimos sobre a ideia de
aprendizagem de grupo e de documentação.
touro
tigre
figura 2
Multidão de papel
Nos Estados Unidos, muitos veem a escola como uma maneira para formar as
crianças para se tornarem verdadeiros cidadãos, ajudando-as a adquirir uma
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série de habilidades, de bases essenciais de conhecimentos, ideias e hábitos
mentais. As escolas da infância, em especial, na nossa cultura, não possuem
muito apoio e prestígio. São consideradas como serviços voltados à
assistência, à socialização e à brincadeira, ou lugares para desenvolver
habilidades de pré-leitura e pré-matemática. Em Reggio, as escolas e creches
da infância são consideradas lugares onde documentar a aprendizagem
humana, onde as vozes das crianças encontram escuta, são respeitadas e
compartilhadas com toda a comunidade. As escolas se baseiam em uma rede
de relações. Aqui, as crianças não são simplesmente preparadas para a vida
adulta ou futura; as escolas são consideradas parte essencial da vida. As
escolas de Reggio são vistas como lugares privilegiados, onde a cultura pode
se reproduzir e desenvolver. São ambientes voltados à pesquisa educativa,
fundamentais para a compreensão das modalidades com que os
conhecimentos são adquiridos. Os professores procuram traduzir na realidade
cotidiana um processo permanente de pesquisa que se realiza toda vez que as
crianças e os professores trabalham em grupo. Por meio de uma rica
documentação das aprendizagens das crianças, os professores e as crianças
criam produtos que se tornam a cultura da escola. Os serviços educativos não
se limitam a refletir a cultura local, mas a reelaboram e a desenvolvem. A
partir desse ponto de vista, os grupos de aprendizagem não só transmitem
cultura e conhecimento, mas os criam.
Protagonistas
Alice, 5 anos e 8 meses
Erika, 6 anos
Federica, 5 anos e 7 meses
Professores
Simona Laiacona
Paola Barchi
Giovanni Piazza
Escola
La Villetta
Fotografias e textos
Giovanni Piazza
Alice está muito satisfeita por ter realizado um novo modelo de roda.
Alice: Federica, você gosta da minha roda? Olha como gira!
Federica: Eu vi, ela é muito bonita, é uma roda quase de verdade; a nossa
também é bonita.
Federica: Para mim, precisa também da parte de fora da roda, assim, parece
mais roda.
As meninas fazem Alice explicar como devem fazer e Alice, por sua vez, se
sente muito importante no papel de especialista de rodas.
Steve Seidel
libélula
Duas diferenças
Fizemos o levantamento de duas profundas diferenças entre as nossas escolas
norte-americanas e as de Reggio: a primeira é a nossa tendência a observar,
documentar e relacionar unicamente o trabalho individual, contrariamente ao
interesse colocado por Reggio no grupo e nas maneiras em que os indivíduos
se movem, interagem, colaboram e aprendem com base nos “estilos de
aprendizagem dos outros”; a segunda diferença está relacionada à nossa
preocupação pelos resultados, os objetivos e a medida dos progressos ao
longo do tempo, em contraposição com o interesse de Reggio pelo ato em si
de ensinar, aprender, brincar, pensar, para não citar outras considerações
epistemológicas.
É importante notar que essas diferenças não são relativas somente à corrente
principal da prática educativa americana, mas também algumas das
ciranda
Steve Seidel
Muitos jovens se perguntam por que vão à escola. Para aprender, é lógico, é
a resposta para eles. Mas por que e com qual objetivo, se perguntam. Para se
tornarem membros produtivos da sociedade; lembram-se de que a instrução é
o acesso e a via principal para o mundo das oportunidades. Mas isso
acontecerá no futuro, protestam os estudantes. O que a escola tem a ver com
o agora, o hoje, com esse momento especial de vida? Para muitos jovens a
experiência da escola é um exercício de espera até o momento em que o
presente adquirirá importância. As justificativas para o seu empenho na
escola parecem ligadas unicamente a um futuro invisível. O presente assume
valor operacional: não é colocado o objetivo de alcançar realmente os
significados, os conhecimentos, os produtos e as consequentes satisfações. A
infância é pouco mais que uma estrutura-recipiente, uma fase através da qual
se deve passar para alcançar a maturidade. As crianças não são consideradas
capazes de fazer algo particularmente útil, exceto “preparar-se” para fazer
algo útil. Essa pouca consideração pelas capacidades das crianças e pelo valor
daquele período da vida que não se repete, ao qual chamamos infância, está,
infelizmente, em grande voga no nosso sistema educativo. Não há motivos
para se impressionar se os jovens se perguntarem por que devem ir à escola.
jogo de cartas
Protagonistas
Meninas e meninos de 5 a 6
anos
Escolas
La Villetta e Diana
Professores
Angela Barozzi
Giovanni Piazza
Laura Rubizzi
Fotografias
Vea Vecchi
Athina: Se você combina com os outros, pode fazer algo mais bonito...
Anna C.: Porque o cérebro funciona melhor, porque as ideias, quando são
ditas, elas se unem e, quando as ideias se unem, aparece uma ideia gigante!
Em grupo, pensamos melhor.
Anna: Às vezes, não. Às vezes é melhor fazer as coisas sozinha. Por exemplo,
eu estou aprendendo a pular corda: quando eu treino, tenho que pensar
muito bem no pulo e na corda e, para não errar, não pode ter ninguém que
me confunda.
Anna C.: Eu já prefiro trabalhar sozinha quando tenho que preparar uma
mensagem especial para um amigo meu, porque é um segredo que só eu
tenho que saber!
Anna C.: ... mas os meninos são mais espertos, porque têm a cabeça maior e
cheia de ideias...
Anna: ... como Luca, que tem a cabeça grande como o seu cérebro!
Anna: E então é mais fácil aprender juntos quando esco lhemos os amigos.
Escolhemos também pelas coisas que sabem fazer, ensinamos e aprendemos
um com o outro.
Anna C.: Para mim, é melhor escolher quem é mais inteligente, assim ajuda
a fazer as coisas.
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Athina: Mas, às vezes, mesmo se alguém é inteligente, mas, por exemplo,
como faz Ramona, que briga sempre, é melhor não escolher essa pessoa!
Angela V.: É melhor um grupo em que estão os amigos que sabem fazer
coisas diferentes, porque senão aprendemos sempre as mesmas coisas!
Angela V.: Precisamos ver se alguém sabe mais, porque não sabemos...
Anna C.: Eu me divirto quando construo junto com Jacopo, porque ele
sempre fala coisas engraçadas que me fazem rir; ele inventa coisas também!
Anna C.: Como Lorenzo, que sempre inventa muitas coisas, mesmo as que
ele ainda não aprendeu.
Athina: Às vezes, tem que mudar os grupos, senão a gente se cansa sempre
das mesmas crianças!
Anna: Muitas crianças podem estar num grupo, até toda a nossa escola!
Angela: Talvez, para certas coisas, é melhor que sejam só sete ou oito ou
também três.
Anna: Aprendemos coisas diferentes. Por exemplo, num grupo grande, temos
muito mais ideias.
Angela V.: Pode acontecer que, quando duas ou três crianças começam um
trabalho, depois, se aquele trabalho fica muito grande, você precisa ter
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outros para ajudar, senão não consegue terminar. Às vezes, as professoras
decidem quem pode vir e o que pode fazer; às vezes, porém, nós decidimos
ou só um de nós.
Angela V.: Mas vai! Precisamos combinar as coisas e depois, se alguém não
concordar, faz outra coisa.
Anna C.: Mas às vezes todos precisam concordar, senão não conseguimos
fazer nada. No ano passado, quando desenhamos o grande afresco, se não
concordássemos com as coisas, nunca teríamos acabado! Até agora
estaríamos pintando!
Francesco: A gente se ajuda melhor! Vou dar um exemplo: se você tem que
construir um avião e não sabe como é um pedaço, o outro amigo ajuda a
entender onde é colocado aquele pedaço e, assim, você aprende melhor.
Nicola: Mas eu não sou especialista! O meu pai é, porque, quando era
pequeno, o pai dele – que é meu avô – explicou para ele todas as coisas e
Luca: Nós estamos aprendendo a fazer muitas coisas e, quando você aprende
tanto, vira especialista, e até mais. Superespecialista. Se for muitas vezes nas
construções, você vira especialista das construções, porque aprendeu muitas
vezes a fazer aquela coisa, que faz até de olhos fechados. Eu sei fazer umas
coisas, não todas: sou um pouco especialista em robôs.
Francesco: Quando você trabalha junto, aprende a fazer coisas com os seus
amigos. Quando você faz o grupo, deve escolher os amigos que sabem fazer
aquela coisa, mas que não seja a mesma coisa que você sabe fazer, senão
todos vão saber fazer a mesma coisa.
Nicola: Precisa saber fazer coisas diferentes. Se todos souberem fazer coisas
diferentes, depois o grupo vai saber fazer tudo. As coisas mais bonitas
também.
Francesco: ... em uma seção, você não precisa de um grupo de crianças, mas
de muitos grupos que façam coisas diferentes.
Luca: Sim, as ideias se juntam, como acontece quando você constrói. Você
sente que elas saem da nossa boca e chegam aqui (no meio da mesa) e se
juntam às de Francesco e às de Nicola...
Francesco: Por exemplo: quando você está junto no grupo, sente que não
sabe algumas coisas, porque não é especialista e outro te ajuda, e acontece
que você aprende coisas... A fazer muros, e aquela coisa que você aprendeu
se junta dentro e não se descola mais, porque gruda em outras ideias que
você tem.
Andrea: Na cabeça.
Francesco: Por exemplo: as nossas ideias estão na nossa cabeça. Agora nós
sabemos mais que antes: as ideias se juntaram e todos nós já sabemos,
somos amigos que sabem coisas diferentes dos outros.
Francesco: Quando você deve fazer uma coisa com lembranças que só você
sabe ou quando tem coisas que você tem que pensar sozinho...
Luca: Quando você tem que fazer um experimento que os outros não querem
fazer.
Andrea: Sim, mas não podemos fazer sozinhos sempre, porque o mundo seria
estúpido e não saberia nada.
Luca: Se fizer coisas junto com os outros, você sente o gosto das coisas que
faz junto. Sente uma emoção dentro, que você gosta.
Nicola: Às vezes, nós olhamos no rosto do outro para entender se alguém tem
vontade de fazer alguma coisa ou não.
Luca: Você tem que dizer o que quer fazer, depois vai procurar quem sabe
fazer aquela coisa e quem pode te ajudar.
Nicola: Eu vou até Luca e pergunto se ele quer fazer alguma coisa comigo, e
se ele me diz sim, depois nós fazemos.
Luca: As meninas são especialistas em dançar e elas têm coisas mais bonitas
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dentro delas.
Francesco: Quando você faz um grupo que tem meninas também, precisa
pensar em fazer as coisas que agradam as meninas também, senão você não
sabe o que fazer.
Luca: Bom, você tem que dizer: “Vocês querem fazer um trem?”.
Luca: As meninas também gostam de trens. Precisa gostar das coisas que os
outros gostam.
Nicola: Mas nós temos robôs muito feios que são quase umas feras: elas não
gostam.
Francesco: Bom, vamos dizer que, quando a gente trabalha em grupo com as
meninas, tem uma regra. “Todos devem gostar das coisas que nós
construímos!”
Luca: Sim! Uma regra é que, quando alguém fala, o outro não pode
interromper.
Francesco: Ninguém pode dizer coisas que não têm nada a ver.
Luca: Temos que ter muitas ideias na cabeça sobre o que queremos fazer e
depois escolhemos juntos.
Michele: Eu faço uma pergunta. É ruim estar sozinho quando você brinca,
mas e quando está escrevendo uma coisa difícil? Se eu devo escrever “Te
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amo, amor”, escrever junto, se estamos em muitos, para mim é um pouco
difícil.
Armando: Algumas.
Luca: Então, por exemplo, eu digo uma regra, “não sejam maus”. Pode ser
que o outro não aprenda. Eu aprendo as coisas que os outros dizem, os
outros podem aprender as coisas que eu digo.
Luca: Primeiro, deve decidir o que fazer, por exemplo, “uma mesa”...
Precisa entender como é, grande, pesada, larga, quadrada, comprida... É
como nos jogos, um pergunta ao outro.
Aurelia: Você diz uma coisa, se você quer uma coisa e o outro também, vocês
concordam. O grupo deve escutar e obedecer, eu também faço chantagens.
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Caterina: Com os amigos nós trocamos ideias mais fácil e aparecem outras.
Se alguém não entende uma coisa, o outro sugere. É melhor se temos ideias
diferentes, o grupo serve para saber outras coisas, não aquelas que já
sabemos; os amigos podem ter ideias diferentes; ser amigo quer dizer estar
sempre contente com as ideias que a gente dá.
Quando tem crianças que não se conhecem num grupo, a coisa mais difícil é
explicar de um jei to que os outros entendam.
Steve Seidel
Discussão de grupo
Howard Gardner
Quero ser absolutamente franco – talvez até demais para um texto deste
gênero – e mencionar três obstáculos para a compreensão da experiência
educativa reggiana, pelo menos, no que diz respeito a mim e, talvez, também
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para os outros leitores de origem norte-americana.
Esse enigma sugere a este velho estudioso do cérebro que, talvez, a melhor
solução seja desfrutar a natureza bilateral do sistema nervoso humano: adotar
tanto uma abordagem ligada ao “hemisfério esquerdo” (linguístico e
analítico) quanto uma ligada ao “hemisfério direito” (imaginativo, visual,
holístico), ao aproximar-se desse projeto educativo. Felizmente, o leitor
perceptivo poderá utilizar ambas as lentes e, se dispõe de um “corpo caloso”
suficientemente válido, poderá fazer as conexões e integrações necessárias.
Em todo caso, este trabalho tem um objetivo bem preciso e seria importante
para o leitor não esquecê-lo. O refletor, podemos dizer, aponta decisivamente
Carla Rinaldi
Para mim, isso pode ser visto em muito do que está escrito neste livro.
Notamos, de fato, que, perante a necessidade de refletir e reformular os
próprios conhecimentos, como acontece usando a documentação, adultos e
crianças desenvolvem estratégias frequentemente comparáveis. São
estratégias essencialmente voltadas à pesquisa de um “comportamento”
teórico, moral e, às vezes, também físico, que permitem ao indivíduo exercer
um controle maior sobre as mudanças em ação: mudanças que se referem e,
às vezes, minam tanto os sistemas conceituais quanto os de valor
anteriormente formulados. A natureza da relação entre o problema que surge
e o indivíduo que deve resolvê-lo é essencialmente análogo, justamente como
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natureza das estratégias que as crianças e os adultos colocam em prática para
explorar, definir e formular hipóteses e também o envolvimento emocional, a
paixão, o senso de humor e diversão que pode ter conotações similares. Uma
experiência de aprendizagem é, portanto, um “esforço educativo”,
independentemente do fato de que envolve adultos, crianças ou ambos.
O segundo aspecto que considero que pode ser coletado no livro é relativo ao
trabalho das professoras. Graças aos colegas do Project Zero, às suas
perguntas e à maneira em que, inexoravelmente, modificaram as ações
cotidianas das nossas escolas, tornou-se ainda mais evidente aos nossos olhos
que o trabalho “prático” das professoras é uma “teoria interpretativa”, que
integra histórias e micro-histórias de pesquisa com contextos de vida real.
Esse enobrecimento do trabalho prático das professoras, no qual sempre
acreditamos, adquiriu agora mais valor, graças ao fato de ser compartilhado
com os colegas do Project Zero.
Talvez tenha sido após o fato de que procurávamos definir novos conceitos
no âmbito desta pesquisa e que nos esforçávamos para entender, em primeira
pessoa, que a metáfora (e com ela os exemplos) parecia representar uma boa
estratégia de suporte. Parece-me – depois o leitor poderá julgar melhor por si
só – que fomos capazes de estruturar o que Kenneth G. Gergen chama de
“diálogo transformacional”, ou seja, um diálogo capaz de transformar a nossa
relação e, portanto, de certa maneira, as nossas identidades profissionais e de
grupo. Ao invés de adotar uma abordagem “do alto para baixo”, com
Por tudo isso, desejo agradecer Mara Krechevsky, Steve Seidel e Bem
Mardell: palas suas capacidades heurísticas, pela capacidade de participar e
nos permitir participar de seu pensamento filosófico, dos seus conhecimentos
e experiências. Gostaria de agradecer, principalmente, Howard Gardner, pois,
durante as reuniões conjuntas entre os grupos de pesquisa do Project Zero e
de Reggio, foi capaz de desarrumar os conhecimentos que tínhamos
acumulado com uma só pergunta, obrigando-nos a nos empenharmos em
processos sadios de repensamento. Por último, gostaria de agradecer ao leitor
pela confiança que tiveram com relação a nós e também porque, lendo o
livro, mantêm viva a nossa pesquisa.
Apêndice A
História e descrição do Project Zero
O Project Zero, grupo de pesquisa com sede na Graduate School of Education
de Harvard, há quarenta anos atua no campo da pesquisa do desenvolvimento
de aprendizagem nas crianças, nos adultos e nas instituições educativas. Hoje,
o Project Zero está colhendo os frutos da sua obra de pesquisa, contribuindo
com a criação de comunidades de pessoas que aprendem de maneira reflexiva
e autônoma, aprofundando os conhecimentos ligados aos âmbitos das várias
disciplinas e promovendo um pensamento crítico e criativo.
O Project Zero foi fundado em 1967 pelo filósofo Nelson Goodman, para
estudar e desenvolver a educação artística. Goodman acreditava que a
aprendizagem das artes deveria ser considerada como uma atividade
cognitiva em plena regra, e o “zero” representava o ponto de partida de uma
exploração totalmente nova: a partir daquele momento, o projeto assumiu o
seu nome definitivo.
David Perkins e Howard Gardner assumiram o cargo de codiretor do Project
Zero em 1972. De 2000 a 2008, o diretor foi Steve Seidel; e, atualmente,
Shari Tishman ocupa a posição.
Ao longo dos anos, o Project Zero manteve um constante e vigoroso
compromisso de pesquisa no campo das artes, expandindo, ao mesmo tempo,
os próprios interesses para a educação no geral. Grande parte dessas
atividades é desenvolvida nas escolas públicas norte-americanas,
principalmente naquelas situadas em contextos sociais em situação de
desvantagem. Uma quantidade crescente de pesquisa é realizada hoje também
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em outras organizações educativas e culturais, no mundo dos negócios e em
realidades educativas de outros países. Os objetivos dos projetos de pesquisa
do Project Zero são a compreensão aprofundada do desenvolvimento
cognitivo humano e dos processos de aprendizagem nas artes e em outras
disciplinas educativas. Os pesquisadores do Project Zero colocam o estudante
no centro do processo educativo, respeitando as diferentes modalidades de
aprendizagem do indivíduo nas diversas fases da vida e se interessam pelas
diferenças existentes entre os indivíduos, pela maneira em que percebem o
mundo e expressam as ideias. A pesquisa compreende uma ampla gama de
idade, de disciplinas acadêmicas e de áreas geográficas, mas visa a um
objetivo comum: o desenvolvimento de novas abordagens para ajudar os
indivíduos, os grupos e as instituições a aprender melhor as próprias
capacidades. As pesquisas atuais colocam (mas não se limitam) os seguintes
objetivos:
• explorar como ensinar a compreender – em outras palavras, ajudar os es
tu dantes a aprenderem a usar o conhecimento para resolver problemas
imprevistos, em vez de repetirem simplesmente fatos e noções;
• projetar estratégias para criar uma “cultura do pensamento” dentro da
classe, que encoraje os estudantes a pensar crítica e criativamente;
• fazer da atividade de avaliação um componente constante do currículo,
para reforçar os conhecimentos e influenciar os estudantes a refletirem
sobre o próprio trabalho;
• colocar em relação a instrução em classe com as ações e as experiências
que os estudantes enfrentarão fora da escola e no mundo do trabalho;
• estarmos conscientes das potencialidades oferecidas pelas novas
tecnologias, principalmente os computadores, para progredir na
aprendizagem e permitir o acesso a novos âmbitos do conhecimento.
O trabalho do Project Zero está amplamente documentado por uma
quantidade de publicações e materiais. Além disso, o Project Zero organiza
congressos, workshops (entre eles – principalmente – dois Summer Institutes)
e diversas conferências fora da própria sede.
www.pz.harvard.edu
www.scuolenidi.re.it
Apêndice C
Os Conselhos são eleitos a cada três anos, embora os pais possam se tornar
membros participantes a cada novo ano escolar, expressando o próprio
interesse e disponibilidade durante os encontros de seção.
As eleições não têm o objetivo de selecionar ou apoiar uma parte ao invés de
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outras: são uma ocasião para manifestar apoio à vontade e generosidade de
todos aqueles pais que se oferecem voluntariamente, no interesse de todos,
para assumirem o papel de pais-cidadãos.
O percurso que leva à eleição é acompanhado de uma série de eventos e
iniciativas. “Pensar nas eleições como em um percurso significa atuar em um
espírito realmente democrático, que envolve os protagonistas na construção
daquele percurso (escuta, recepção, desenvolvimento etc.) e permite a cada
pessoa – pela assimilação de informações e construção de um senso
compartilhado de significado e de valores – ser mais consciente do próprio
voto.”*
As eleições dos Conselhos representa um momento importante não só para as
escolas e as creches da infância municipais, mas para muitos cidadãos e para
a própria cidade.
Apêndice D
Aspectos organizacionais das escolas e
creches da infância municipais
No projeto educativo da Instituição Escolas e Creches da Infância do
Município de Reggio Emilia, a organização é um marco.
A abordagem de Reggio Emilia à educação é caracterizada por essa tentativa
de combinar os aspectos organizacionais do trabalho com as bases da
pesquisa educativa e o pensamento projetual.
A organização de cada escola e creche da infância se fundamenta no valor do
colegiado, da relação, do confronto e da corresponsabilidade entre todas as
pessoas que trabalham na escola. O horário de trabalho semanal do pessoal é
de 36 horas e compreende tanto as horas de contato direto com as crianças
quanto as horas de atualização, formação profissional e encontro com as
famílias, tanto para as professoras quanto para o pessoal da cozinha ou as
auxiliares, respeitando-se os diferentes papéis profissionais. Pela manhã, está
prevista a copresença de todo o pessoal (professores, auxiliares, cozinheira,
atelierista), e isso contribui para dar qualidade às experiências das crianças.
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As escolas e as creches da infância têm como referência uma única
coordenação didático-pedagógica, composta pelo Diretor da Instituição, pelo
Dirigente administrativo, pelo grupo de pedagogistas, cada uma responsável
por algumas creches e escolas, e por uma psicóloga, que coordena a inserção
escolar das crianças com direitos especiais. É um grupo de trabalho que
elabora as orientações pedagógicas dos serviços, coparticipa dos encontros
com as famílias usuárias, realiza funções formativas e de coordenação.
A coordenação é crucial para não criar e não legitimar separações entre as
creches (0-3 anos) e as escolas da infância (3-6 anos), diferenciações entre as
diversas tipologias de instituições ou diferenças no tratamento das profes
soras, tanto econômica quanto administrativamente. A atenção para esses
aspectos favorece um senso de pertencimento ao sistema geral.
www.reggiochildren.it
Apêndice F
Fundação Reggio Children – Centro Loris
Malaguzzi
A Fundação sem fins lucrativos de participação da Reggio Children – Centro
Loris Malaguzzi foi constituída em 2011 para difundir a educação de
qualidade em Reggio Emilia e no mundo. A Associação Internacional
Amigos de Reggio Children – nascida em 1994 e que, pelo trabalho
voluntário dos associados, colaborou com muitas iniciativas junto com as
creches e escolas da infância e com a Reggio Children – tornou-se parte da
Fundação. A Fundação tem o objetivo de reforçar a experiência educativa
reggiana, de modo que possa continuar mantendo a própria qualidade,
respondendo a tantas solicitações de trocas e colaborações e para levar
adiante projetos de pesquisa juntamente a outras realidades nacionais e
internacionais.
www.fondazionereggiochildren.it
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Apêndice G
Centro Internacional Loris Malaguzzi
O Centro Internacional Loris Malaguzzi, aberto em 2006 e finalizado em
2012, surge para valorizar um elemento caracterizador da cidade de Reggio
Emilia: a capacidade de dar escuta, visibilidade e apoio aos direitos e às
instâncias das crianças, pais e professores. Promovido pelo município de
Reggio Emilia, Instituição Escolas e Creches da Infância, Reggio Children e
Fundação Reggio Children – Centro Loris Malaguzzi, o Centro de
Documentação e Pesquisa Educativa, o Auditório Annamaria e Marco Gerra,
as salas para encontros Sala Kuwait e Sala Sweden, a Sala de mostras Marco
Gerra, o Ateliê Raio de Luz e os Ateliês Cidadãos, o Espaço Pesquisa e
Inovação, o Laboratório teatral Gianni Rodari, o Centro Vídeo e Pausas –
Ateliê dos Sabores com Cafeteria, Restaurante, BookFoodShop.
www.reggiochildren.it
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Assistência editorial
Liris Tribuzzi
Assessoria editorial
Maria Apparecida F. M. Bussolotti
Edição de texto
Gerson Silva (Supervisão de revisão)
Fernanda Fonseca, Gabriela Teixeira e Roberta Heringer de Souza Villar
(Preparação do original e copidesque)
Gabriela Teixeira, Gerson Silva e Jonas Pinheiro (Revisão)
Editoração eletrônica
Neili Dal Rovere (Diagramação de capa e miolo)
Fotografia da p. 364
© Ted Russell – Image Bank
Experimentos contagiantes
* N.T.: seção é o termo utilizado pelas creches e escolas de Reggio Emilia para designar o lugar de
referência para cada agrupamento de crianças, diferenciando-se da ideia de sala convencional.
O preço justo
* Nesta edição brasileira, a transcrição das falas das crianças foi feita de modo mais próximo à norma
culta da língua.
Documentar o documentador
* A primeira parte do encontro é a que, no final do capítulo, é apresentada de maneira mais
aprofundada, para que os leitores entendam melhor a utilização dos instrumentos e do confronto em
ação.
* A breve narração a seguir é tirada de outra página de anotações de Isabella.
A curiosidade do entender
* No capítulo “Documentação e avaliação: qual relação?” Carla Rinaldi oferece explicações claras e
aprofundadas desse conceito.
* O papel da dimensão estética na aprendizagem foi sucessivamente retomado em alguns artigos e no
volume Bambini, arte, artisti, Reggio Children, 2000.
* Na mostra realizada em 2008 com o título O estupor do conhecimento, a parte mais inovadora refere-
se à estrutura narrativa e comunicativa da documentação. Trabalhar na estrutura narrativa significa
refletir sobre os processos interpretativos e sobre os significados.
* Esboço com colagem: a parede na qual a escultura de cerâmica será feita foi fotografada e reduzida e
é utilizada pelas crianças como base para construírem o esboço. Os diversos desenhos feitos pelas
crianças para a escultura foram fotocopiados e reduzidos, de modo a serem recortados e,
posteriormente, montados e colados na parede de papel.
* O projeto “A parede bela” aconteceu alternando momentos em que eram envolvidas todas as crianças
da seção e outros, como no episódio narrado, em que era envolvido, sobretudo, um grupo restrito. Tal
alternância tinha sido sugerida no desenrolar do projeto.
* Às vezes, são as próprias crianças, se assim desejam e consideram interessante, que documentam,
pelas fotografias, algumas fases de seu trabalho.
* Essa experiência é relatada por Laura Rubizzi no capítulo “Documentar o documentador”.
* Ruggero Pierantoni, Verità a bassissima definizione, Einaudi, 1998.
* A brincadeira começa com uma criança que, na sua vez, conta voltada para a parede, de costas para
os outros jogadores, os quais, partindo da mesma linha de base, movimentam-se rapidamente, tendo
Apêndices
* Participação e gestão social. Significados e finalidades, Reggio Emilia, Município de Reggio Emilia,
1984.
* Paola Cagliari, apresentação do encontro interconselhos, Reggio Emilia, outubro de 1999.