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"O ser humano só brinca quando é Coleção primeira

um ser humano no sentido pleno da


palavra e é plenamente ser humano
quando banca.' in?ôncb
Schiller educar de O a 6 anos
As origens do brincar livre
AUTORAS
Fotografias de MARIAN REISMANN
Éva Kálló
Foto da capa: Janos, 6 meses e meioBalog
GyOrgyi
Edição de STRUB e ANKE ZINSER
Tradução da versão inglesa para o espanhol: SUSANA MARTÍNEZ
Revisáo da tradução para o Espanhol: TERESA GODAIX CASTELL
Tradução livre do espanhol para o português: TAÍS CFSCA
Digitação da tradução livre: LEONARDO CFSCA

As origens
Revisão Técnica: CARMEN OROFINO, MARIANA AMERICANO,

SUZANA MACEDO SOARES Edo brincar


TÂNIA FUKELMANN LANDAU
livre

São Paulo onnnisciência


2017

"É crucial que a criança descubra por si mesma tanto quanto possível. Se a Emmi Pikfer
ajudamos a finalizar cada tarefa, a estamos privando do mais importante
aspecto de seu desenvolvimento. Uma criança que consegue as coisas por
meio do experimentação independente adquire um tipo de conhecimento
completamente diferente daquela criança para qual sôo oferecidas soluções
prontas"'.
Abordagem Pikler; realizando palestras, seminários, cursos,
Responsável pela edição brasileira: cinedebatcs e participando da Rede Pjkler Brasil e da Red
Pikler Nuestra America. Integrantes: Ana Maria Bastos,
Grupo Educar 0 a 3 Carmen Orofino, Cris Meinberg, F liana Sisla, Malu
Vianna, Mariana Americano, Patrícia Gimael, Suzana
Macedo Soares e Tânia Fukelmann Landau.
Grupo Educar O a 3 é composto por profissionais da
cidade de São Paulo e tem como objetivo desenvolver
Mais informaçoes;
consciência quanto ao significado e importância da
www.facebook.com/educacaozeroatres
infância junto a famílias, escolas públicas e privadas. Esse
email: grupo@educarzeroatres.ccm.br
grupo atua traduLindo e publicando livros sobre a
Sumário
Prefácio
Prefácio (Anke Zinser) 9

Prefácio da edição brasileira (Sylvia Nabingerjencontro com Emmi Vikler em 1983, durante sua estadia 1 2em Berlim, foi uma
experiência que mudou minha atitude em relação às crianças para sempre. Naquele momento, ela
Introdução (É,va Kálló)visitava O grupo de bebês da escola 2 de educação infantil que eu dirigia. Estávamos muito nervosas para
saber o que ela pensaria de nosso trabalho como professoras e, por extensão, do meu
Maneiras típicas de manipulação e brinquedos próprio trabalh(L apropriados durante o primeiro ano
(Éva Kálló)os preceitos peda20Sua visita aconteceu numa época em que gógicos convencionais estavam
sofrendo uma revisão em todos

Colecionando (Éva Kálló) 4 1os aspectos. Nossas professoras de desenvolvimento sentiam-se e estabelecer pressionadas
referên-para desenhar programas cias de ensino para bebês e
crianças pequenas. Supunha-se que
Observação da brincadeira de uma criança (Irén Csatári)as atividades, pensadas pelos adultos, os animavam a brincar e 48
aprender sobre higiene pessoal e as refeiçOes "deveria'" ser daIniciando a construção.tão rapidarnente quanto possível
essencial: para a brincadeira termos tempo entre paraas
das"

Objetos apropriados para a brincadeira (Gyórgyi Balog) 50o professoras que se considerava e as crianças. ser o mais Convencidas, pensávamos que nos-

sa [unção era demonstrar às crianças como deveriam brincar,


Notas das Editoras"animá-las" e supervisioná-las uma a uma, Através dos nossos 62
conhecimentos e atividades iriam compreender e aprender a se orientar por
si próprias no mundo,
Nesse contexto, o encontro com Emmi Vikler estava destinado a criar-
nos uma grande confusão e questionar tudo aquilo que considerávamos
correto e que havíamos posto em prática até aquele momento.
O desejo infantil de brincar nasce de uma necessidade fun damental,
Tendo em conta cada etapa do desenvolvimento, a vida da criança consiste
basicamente em brincar. Desse modo,

Prefácio 9
a maior parte da literatura pedagógica tradicional Iernse desenvolvimento satisfatório da brincadeira infantil, se não é
referido à brincadeira, Porém, conhecemos muito poucos nossa função brincar cotil as crianças? Esta pubicaçào nos
estudos de observação realizados especificamente com recém- mostra um estudo sobre qual a nossa responsabilidade e,
nascidos e bebés que começam a andar. Por consequência, como sem interferir, podemos criar, com cuidado e sem
agradecemos este material do Instituto Emmi Pikler de intromissão, as condições para o desenvolvimento livre e
Budapeste (conhecido como Lóczy). Nele, Éva Kálló e sereno. Condições que permitam à criança descobrir e
Gyórgyi Balog descrevem maneiras muito sensíveis, mas relacionar-se com o mundo de forma autónoma e segura.
fundamentais da brincadeira livre, desde o descobrimento listamos rizados cotu as queixas de professores e pais, de
inicial das mãos pelo bebé, a sua manipulação, a que as crianças sao completamente incapazes de brincar
experimentação com objetos, até o ponto em que ele começa
sozinhas. Mas, raramente percebemos que a conduta do adulto
a construir com eles.
A fotógrafa Marian Reisrnann, através de seu trabalho com pode ser a causa de tal passividade e falta de iniciativa. Uma
Fmmi Pikler ao longo de quatro décadas proporcionou a criança obterá muito mais do descobrilnento por si mesma do
documentaçào fotogrática. Suas imagens, junto com as encaixe entre uma tigela pequena e outra maior, do que se
narrações detalhadas, põem em evidência o comportamento indicarmos instrutivamente que "uma tigela grande não
livre do bebêr quando não estimulamos de forma invasiva. Por
meio da observação atenta, muito antes que cotnece a colocar entrará em uma pequena", Tampouco percebemos o fato de
uma peça sobre a outra, nos tornamos sensíveis a tudo que está que pôr um brinquedo nas máOs da criança é equivalente a lhe
oc()rrendo na Vida do bebê_ F assim que adquirimos Ilma sugerir que brinque. Quanto mais complicada for a
melhor compreensão da brincadeira infantil e adaptamos, a brincadeira, mais a criança se torna dependente de nós. Esse
partir disso, nossas atitudes em relação a ela. Exatamente
estudo também aborda o seguinte ponto: como manipular os
quando o bebé começa a brincar? Como são as primei ras
tentativas? O que pode aprender através da experimentação objetos mais simples, alguns dos quais não consideraríamos
autónoma com os objetos, de maneira que o adulto não o brinquedos no sentido convencional, pode ajudar a criança a
confunda com sugestões, mas que realmente o deixe à vontade compreender fenómenos importantes sobre o mundo, em
com seus próprios recursos?
completa liberdade e sem a menor intervenção da nossa parte.
Como indicado, as observações retratadas aqui foram
Quando nos ocupamos das crianças não devemos confiar
feitas em uma instituição, mas 05 princípios de F,mmi Pikler
obviamente se aplicam também a bebês e crianças dentro do cegamente nas convicçóes estabelecidas, e isso permite
convívio familiar. Qual deve ser nossa _funçáo como pais
e/ou educadores? Como podemos contribuir para o

As origens do brincar livre


prestar atenção a qualquer detalhe por insignificante que nos Prefácio I

pareça. Isto é, quem sabe, o que Emmi Pikler tentou nos dizer.

,Anke Zinser
Berlim, janeiro 1996

As origens do brincar livre


Denes,

Emmi
objeto
seja
colorido.
mas,
estuda-o,
e
a
surpreende-se
se

As origens do brincar livre


Introdução

s crianças têm uma profunda necessidade de brincar, O interesse


da criança em observar seu entorno é incansável, Sente prazer em
tocar, sentir, apertar, pegar e deixar cair os obietos, A lista de tudo que
faz com eles poderia ser infinita.
Quando uma criança brinca com diferentes brinquedos
simultaneamente, parece nunca cansar-se de observar como uma coisa
encaixa na outra; que tigelas diferentes, uma dentro da outra, fazem
uma torret ou que, entre vários objetos, dois ou mais são idéntjcos, De
vez em quando enfrenta grandes desafios. Uma ou outra vez joga um
objeto redondo no chão para ver como roda, até que pare.
Pacienternente recolhe os cubos que retirou da cesta, reconstrói uma
torre que derrubou e tenta colocar os cubos sobre a grade que limita o
espaço da brincadeira.
Uma criança emocionalmente bem ajustada tem infinitas ideias, enquanto
que uma criança com dificuldades tem o intecesse reprimido, como se seu
desejo de experimentar, descobrir e aprender fosse abalado. Conl frequência
pode-se identificar urna criança infeliz pela superficialidade de sua
brincadeira.
A espontaneidade natural de uma criança que cresce em uma instituição de
acolhimento é mais vulnerável do que aquela que vive em uma família, por
isso para a educadora não é fácil conseguir essa espontaneidade que requer
unia relação de con liança profunda. Quando isso se dá, a criança se sente
"recarregada" e suficientemente segura para desejar brincar sozinha. Em uma
instituição, a iniciativa de uma criança também é mais vulnerável porque não
se pode protegê-la da perda da educadora ou do companheiro de brincadeira,
o que sugere um reagrupamento de crianças.

As origens do brincar livre


16 Introdução 1 7

Essas mudanças afetatn seu estado emocional e, portanto.


seu comportamento durante a brincadeira. Além disso,
existem os problemas da continuidade dentro do grupo, seja
porque os outros atrapalham sua brincadeira, ou porque, com
a rotina paulada por refeições e banho nem sempre poderá
dispor do tempo para brincar como deseja, enquanto espera
chegar a sua vez. Por essas e outras muitas razões, a liberdade
de movimentos e a brincadeira livre são especialmente
importantes para o desenvolvimento saudável da
personalidade da criança que vive na rotina de uma
instituição.
Uma educadora entre crianças que sio incapazes de brincar vive
um grande desconforto. Por mais que tente, pode ser que não
consiga satisfazer as constantes e incomuns.demandas das
crianças. Frequentemente, não reconhece a origem real do que
provoca seu mal-estar. Sem se dar plenamente conta disso,
organiza e direciona a brincadeira da criança entediada, tentando,
dessa maneira, que ela seja criativa. Porém, tais tentativas estão
condenadas ao fracasso desde o início. Ao invés de reafirmar a
iniciativa e independência da criança, cria expectativas de que o
adulto possa dedicar a elas toda sua atenção.
A incapacidade de brincar de maneira independente
reforça inevitavelmente o sentimento de dependência da
criança com relação ao adulto. Da mesma maneira, a
atividade independente permite experimentar autonomia.
Decide com o que quer brincar e depende dela mesma
continuar experimentando ou abandonar a investigação para
escolher outra coisa.

As origens do brincar livre


Quando se permite que a criança experimente um objeto e Introdução 1 9
tente todas as açóes diferentes que pode fazer com ele, ela
descobre suas potencialidades. Percebe que o mundo tem
sentido e também se dá conta de que é capaz de entendê-lo-
Em todos os niveis de seu desenvolvimento, sua própria açáo
a ajuda a aprender a fazer coisas que lhe dão, de alguma
maneira, um sentimento de êxito. Isso lhe abre virtualmente
possibilidades ilimitadas de experimentar, através da
atividade, algo parecido com a competência. A criança que
vive essas experiências ganha confiança em si mesma e pode
agir de forma diferente situações problemáticas que surgem
nas instituições. Por isso, depende claramente do adulto que
o interesse da criança pelo mundo que a rodeia se rnantenha
de forma bem-sucedida; e é tarnbém o adulto que deve
continuamente criar os requisitos e condições para que uma
brincadeira livre e independente possa prosperar.

As origens do brincar livre


outra. Assim, tanto a observação de suas mãos como a interaçáo

l. entre elas ocorrem antes e preparam para a manipulação.


f'ikler

Maneiras típicas de manipulação 20


e brinquedos apropriados
durante o primeiro ano
Éva Kálló

Quando temos que dar à crianço seu primeiro


brinquedo?
o Instituto Lóczy}, as crianças menores a princípio brincam
em uma zona protegida, sobre o piso de madeira, charnada "espaço
da brincadeira". Quando são maiores brincam por toda a casa.
É um momento emocionante quando o bebé descobre pela Denes M., I mês e meio
primeira vez sua mão e mais tarde, atento, dedica seu tempo a Em consequência, esperamos para dar um brinquedo para uma
observá-la. No irlicio percebe sua mão quase por casualidade e, por criança, quando ela começa a observar e brincar regularmente com
um tempo, tende a perdê-la de vista com muita facilidade. Logo a suas mãos ou mostra interesse nas coisas ao seu redor. Olha em sua
mantém à vista durante períodos maiores, seguindo seus volta, olha para sua educadora quando passa perto do berço,
movimentos com a cabeça e os olhos. Cada vez mais a experiência observa suas grades, as agarra e as toca várias vezes ou pega a fita
do movimento e do olhar vão se unindo. Gradualmente, aprende a de sua roupa e a coloca diante de seus olhos. Pode fazer isso por
coordenar os movimentos dos braços, mãos e dedos enquanto os volta dos três meses ou mais tarde.
acompanha visualmente. Colocar um brinquedo na grade do berço, como se fosse um
Quando o bebé está entretido com suas Inaos, as move de uma chocalho, impede o bebé de descobrir suas mãos e o distrai de si
maneira semelhante a como as moverá mais tarde, quando começar mesmo. Além disso, não tira proveito daquilo que só pode olhar.
a manipular objetos. Fará o mesmo com o punho, quando começar Nessa posiçao, no máxirno, poderá fazer contato com o obieto
a observá-lo enquanto flexiona e estende o braço. Da mesma através de um movimento náo intencional com as mãos. Mais tarde,
manefra, depois de um tempo, pegará objetos aproximando-os para qualquer brinquedo preso nas grades do berço, náo o animará a
vê-los e logo os afastará de seus olhos- Abrindo e fechando as mãos brincar, nem lazer uso de suas mãos, na medida em que não pode
se prepara para agarrar, segurar e soltar objetos e, curiosamente, pegá-lo, movimentá-lo, atirá-lo, deixá-lo cair, aproximá-lo,
quando pela primeira vez uma máo toca a outra e se descobrem, somente pode golpeá-lo e puxá-lo.
com o tempo, tocará e sentirá um objeto, preso em uma mão, com a

As origens do brincar livre Maneiras tipicas de manipulaçñ0 brinquedos apropriados durante o primeiro ano
Os móbiles, que são tào frequentes, requerem uma mençao porque a mão esticada ainda não se adapta ao formato dele.
especial. Falamos dessas figuras coloridas e brilhantes presas no Inicialmente, tenta pegar cada brinquedo com o mesmo
teto e que giram, baixam e sobem, mostrando continuamente movimento de mão e quando encontra algum próximo que pode
figuras diferentes, ativadas soniente pelo movimento do ar. Quando pegar desse modo, cada vez o pegará melhon
a Por volta dos 5 meses, a maioria cias crianças pode ter os
brinquedos que deseja, pegando-os deliberadamente. Manipulado-
os de formas diferentes, repetindo açOes como colocá-los de
e 21 outras formas, apertando-os, girando-os e mais tarde mantendo-os
criança percebe essas figuras se excita muito. Está tonto pela sus-
mudança constante de fortnas c apenas pode fugir delas.
Dificilrnente a vemos tão excitada quando brinca ou quando
repentinatnente, por exemplo se dá conta de um novo brinquedo
22
em seu entorncL Uma vez descoberto, normalmente, tenta pegá-lo
e, se tem êxito, visivelmente relaxa e explora com entusiasmo as pensos. Pegam o brinquedo com uma mao e o passam de
diferentes propriedades do novo brinquedo, O móbile, em uma para a outra sucessivamente. O estudam,
movimento, está fora do seu alcance e não pode nunca o tocar. Seu intermitentemente, enquanto o tem em uma das mãos e em
movimento independe dos movimentos feitos pelo bebê e,
seguida na outra,
portanto, sem poder observar o efeito de seus próprios
movimentos sobre o móbile, é incapaz de assimilá-lo em seu novo O primeiro brinquedo que damos a um bebé de 3 a 6 meses
mundo de experiências e tampouco pode familiarizar-se com ele. c" um pano de algodão (cerca de 35 X 35cm de tamanho), de
De maneira parecida ocorre com os outros obietos da casa que
também estão fora de seu alcance, como detalhes do teto, cortinas
ou quadros. O bebé também se dá conta desses objetos, e os olha toca e interage corn o tecido, o qual não cai imediatamente de sua
frequentemente corno se quisesse tocá-los com os olhos. Porém, mao, então ele não precisa pegá-lo. Dessa forma se mantém
como permanecem na rnesrna posição por longos períodos de ocupado com o objeto por mais tempo do que com qualquer outro.
tempo, se misturam com o cenário de seu entorno. O móbile, Coloca o pano em seu rosto para observá-lo. Como ele quase não
apesar de sua constante mudança e movimento, também poderia pesa não lhe causará danos e embora ás vezes possa levar alguns
se transformar em parte da paisagem familiar, mas até que isso minutos para tirá-lo do rosto, facilmente o retira. Os outros
ocorra, atrai a atenção da criança repetidas vezes e a tnantém em brinquedos que damos a uma criança nessa idade são obietos que
estado de estimulação. elevada, sem que permita adquirir nenhuma ela pode segurar total ou parcialmente com uma só tnáo. Talvez
experiência real com ele. uma bola de vime, uma boneca ou animal feito de pano ou
emborrachado. Se vemos que a criança pode pegar esses objetos
Entre a idade de 3 a 4 meses, os brinquedos colocados perto
facilmente, colocamos perto dela algo mais plano, feito de pano
do bebé começam a chamar sua atenção. Olha-os com
ou rnadeira que não seja tão fácil de agarrar. Por volta dos 6 meses
curiosidade, alcança um e o toca. Num primeiro momento, seus
de idade podemos lhe dar brinquedos que pesam um pouco mais.
movimentos são incertos e não consegue calcular distâncias, então
apenas tateia perto do brinquedo escolhido. Pode inclusive ocorrer Poderíamos pensar que os brinquedos convencionais que
que, em sua ânsia, bata e empurre o brinquedo que tenta pegar damos às crianças durante o primeiro ano, como os
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tradicionais animaizinhos de borracha que fazem barulho ao sabe que é ela mesma quem faz o ruído ao balançar ou agitar
apertá-los ou os chocalhos, cumprem nossos critérios como o barbante que une as argolas ou o chocalho. Durante a
brinquedos apropriados, porém há inconvenientes. segunda metade do primeiro ano de vida, pela expressão de
Quando uma criança agarra e aperta um brinquedo percebe seu comportamento, pode-se afirmar se a criança descobriu
suas propriedades tácteis. Por exemplo, que um obieto ou essa conexão. Olha o chocalho, o agita, para e escuta
uma parte dele é mais fácil de apertar, Como a criança atentamente o silêncio. Olha outra vez o chocalho, o agita
também observa o efeito de sua própria açáo sobre os objetos, novamente e assim desfruta do ruído entre risadas e sorrisos.
gradualmente reconhece se um determinado objeto é duro ou Mais tarde quando a criança segura um objeto em cada
macio apenas com o olhar. No entanto, um anilnalzinho de mão, olha para cada um enquanto os une e começa a perceber
borracha que apita ao apertá-lo, não há nada em suas as difetenças. Logo descobre que pode fazer ruído batendo
propriedades visuais ou tácteis que sugira que há um apito um contra o outro.
ilnperceptível dentro dele. Seu som agudo pode assustar a Assim durante o primeiro semestre de vida temos o
criança quando ela o aperta ou se cai sobre ele. Por isso, cuidado de dar a criança brinquedos de vários materiais para
retiramos o apito do brinquedo. Se a criança brinca com um que ao manejá-los, acumule difererltes impressoes e
chocalho convencional, que também contém experiências, dependendo se são feitos de pano, madeira ou
plástico. A partir do momento em que descobre como pode
produzir sons com eles, seus objetos de brincar deveriam
23 continuar sendo de diferentes materiais. Uma tigela pequena
elementos produtores de sotn, nao pode ver o que produz. esse de metal produz som diferente de uma argola de madeira
som. Desde os 5 ou 6 meses o agita e o tnantém suspenso como quando a criança bate com elas
faz com outros brinquedos e observa os efeitos de seus
movimentos. No entanto, se leva o chocalho à boca ou passa de
uma mao a outra ou o toca com sua máo livre ou joga, atira contra 24
alguma coisa e inesperadamente faz um ruído, não se pode saber
o cljao, Além disso, o sol" é diferente dependendo se
qual de seus movimentos produz som e qual não.
os sao batidos contra o chão ou, por exemplo, contra
Já algumas argolas de madeira unidas por um barbante
um esto. Essa é uma maneira de descobrir como segurar
formando um chocalho podem ser agitadas, permitindo a
diferentes para produzir o melhor som.
percepçáo de seus movimentos e o som que emitem. Por isso,
Ouando observamos o bebê de uma maneira muito
preferimos essas argolas aos chocalhos tradicionais. Não lhe
próxima notamos seu interesse espontâneo por novos
damos cilindros tilintantes, objeto cúbicos sonoros ou
objetos introdu/ filos na área da brincadeira. No entanto ele
brinquedos similares.
continua gostan(Io de brincar com o mesmo objeto durante
Em torno da metade do primeiro ano, uma criança um longo período de tempo, inclusive algumas vezes
descobre que pode produzir ruído, batendo. Ela gosta durante meses. Ao brincar jepetidamente com os mesmos
especialmente de bater vários objetos sobre o solo, um objeto objetos pouco a pouco vai descobrindo mais e mais novas
contra o outro ou contra as barras da cerca de madeira da área propriedades. Na medida em que olha urn brinquedo de
da brincadeira. O que não é muito claro, nesse ponto, é se ela muito perto e depois mais de longe, de Vilna, de lado ou de
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frente gradualmente aprende que o objeto o mesmo, tanto
quando vê só uma parte ou distintos ângulos ou distâncias,
Manipula de forma constante um objeto e o faz de diferentes
maneiras, num esforço para descobrir as várias coisas que
pode fazer com ele. Desse modo, manipula e se relaciona
com O obleto cada vez com mais destreza, aprende a pegá-
lo e recolhê-lo com o mínimo esforço.

Piroska, 5 meses

25 c

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Sua aproxitnaçâo na direçáo de um novo objeto demonstra as habilidades que

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adquiriu até o momento. Quando descobre que o novo objeto se comporta
de maneira diferente daquela que lhe é familiar, sente o impulso de
experimentar um enfoque diferente na exploração desse brinquedo e, ao
mesmo tempo, isso lhe permite conhecer novas possibilidades que o objeto
possa oferecer,
Durante o segundo semestre de vida, a criança aprende a pegar os objetos
de diferentes formas, com maior tranquilidade e habilidade.
Frequentemente, a observamos se esticar para alcançar o brinquedo,
ajustando sua mão e seus dedos, antes de tocá-lo, para pegá-lo de modo
eficaz. Pega de maneira diferente o cubo e o chocalho, pinçando o primeiro
com os dedos e o segundo com a parte central da palma da mão.
A criança que repetidamente pega objetos e logo os deixa cair esta
interessada em ver como esses objetos caem e que sons podem obter com
eles, Também aprende como objetos de diferentes pesos formas e superfícies
podem ser melhor apreendidos usando diferentes estratégias. Mais tarde, lhe
agradará atirar uln objeto para longe e engatinhar para recuperá-lo, ou
colocar pequenos brinquedos fora do espaço da brincadeira para logo
recuperá-los,
Para ganhar experiência com "deixar cair e pegar" ou "perder e
encontrar" uma criança necessita recuperar seus brinquedos velhos tanto
quanto os novos, como por exemplo, uma bola ou os pinos do jogo de
boliche. De todas as formas, só devemos lhe dar a bola, se já é capaz de
engatinhar ou arrastar-se pan recuperá-la.
Quando manipula dessa maneira os objetost nos damos conta de como a
açáo de seus dedos cada vez fica Inais refinada. Toca Obietos com os dedos,
os sente e acaricia, encontra ranhuras ou protuberâncias diferentes (todas as
nuances que chamam atençào para a superfícje), os arranha, mete um dedo
nas aberturas ou buracos e aproveita cada oportunidade para usar seus dedos.
Usa o polegar e o indicador para pegar migalhas do chão, tirar o cadarço de
um sapato ou outro obieto que tenha ficado um bom tempo olhando. Uma
criança necessita de brinquedos de diferentes superfícies para comprovar

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continuamente esses tipos de manipulação (no espaço da brincadeira não devem
ser postos
Krisztina, 7 mesesos ohjctos pequenos que as crianças possam engolir).

26
27

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Uma vez que a criança tenha aprendido a reunir vários
brinquedos de uma só vez, começa a experimentar, desejando
descobrir o que pode fazer com eles sem pegá-los. Os empurra,
bate sobre eles, poem no lugar original de novo. Fazendo isso tem
novas aprendizagens: os objetos alongados e finos se inclinam
mais facilmente do que os mais robustos, ou talvez perceba que a
roda de um vagão, que bateu, continuará rodando mesmo que já
não a toque.
Tudo isso é muito emocionante para a criança, que segue
experimentando, tentando reproduzir o que vai conseguindo- Por
isso, lhe damos bolas, copos, cestos, potes e cubos, uns menores,
outros maiores, alguns estáveis, outros delicados, uns mais altos e
outros baixos. Nesse momento ela gosta de pegar objetos grandes
que lhe daremos somente se náo prejudicar outra criança no espaço Jozsef, 6 meses
da brincadeira, quando os utiliza.
Durante o último quarto de seu primeiro ano, irá passar
mais e mais tempo manipulando dois obietos pequenos por
vez. Corno mencionamos, inicialmente, o bebê pega um
28
brinquedo em cada mão e o toca, ou repetidamente bate um
no outro. Quando raz isso gosta de eleger dois brinquedos
idênticos, por exernplo, dois cubos ou duas bolas
preferencialrnenle pequenas.

As origens do brincar livre primeiro ano


Maneiras típicas de manipulação brinquedos apropriados durante
Krisztina, 6 meses pequena entra em um cubo pequeno, ou uma maior em uma tigela
grande.
Já mencionamos várias coisas que inspiram a criança a manipular
Outro passo significativo é quando a criança coloca ou deixa
dois ou mais obietos de uma só vez. Os obietos pequenos se prestam
cair um objeto menor dentro de outro maior e oco, tira e logo volta
para brincar de "deixar cair", tanto cotno para serem colocados
a colocar de novo. Mais tarde, mas ainda durante o último quarto
dentro de outros obietos. Os diferentes cubos, cestos e baldes que
de seu prirneiro ano, começa a rnaneiar vários objetos de uma só
pode levantar, mover e empurrar sao recipientes ideais para
vez Põe mais e tnais objetos no mesmo pote ou cubo, vai tirando
colecionar ou agrupar outros brinquedos menores, Selecionando
um a um e devolve todos de uma só vez e depois busca outros que
esses recipientes estamos já antecipando o comportamento
possa agrupar. Através do resultado dessas pesquisas é que a
criança ganha habilidade para calcular quais obietos podem
encaixar em outros. Nesse momento, sabe que uma bola bem
e c 29
Quantos brinquedos damos a criança e como os damos? De a 6 meses, quando
a criança brinca de barriga para cima, tres ou quatro brinquedos que lhe damos
devem ser acessíveis para essa postura, colocados suficientemente perto para que
possa alcançá-los, porém não tão perto que os encontre logo ao Iljover o braço e
náo tenha que esticar-se para alcançá-los. Visto que as açoes de sua mão ainda
são incertas e quando lateia por vezes joga o brinquedo para longe, o adulto
deverá recolocar o hl'inquedo de vez em quando.

origens do brincar livre o ano


A educadora também necessita conhecer com o que cada crian brinca mais frequentemente. Que objeto de pano ou de madeira chama
especialmente sua atenção durante dias ou semanas? Ela continuará colocando esses brinquedos perto da criança até que note que os abandona
por outros. Do mesmo modo, se uma das crianças coloca algo em uma cesta, ela deveria comprovar que existem outros Emilia, IO meses possíveis
recipientes disponíveis ao redor dela. Se a observa com o Inesmo obieto explorando açOes de investigação repetitivas e ela crê que outro objeto
poderia ser mais apropriado, o colocará perto da criança. Se uma das crianças começa a bater um Objeto contra o chão, a educadora aproximará
outro que produza um som ao bater,
Até que os bebês sejam capazes de virar e mudar de posição, é
especialmente importante prestar muita atenção às novas formas de
manipulaçao para poder ofertar-lhes os brinquedos adequados.
Como mencionamos, os brinquedos que ficam presos nos berços não
fazem nada que ajude a promover habilidades manuais na criança, já que
pode alcançá-los, bater ou mover, porém não pode pegá-los, manipulá-los e
estudá-los de diversas maneiras.
Por volta dos 6 meses, uma criança iá está imersa em uma exploração
mais complexa e, por issot necessita de novos brinquedos junto com os
primeiros e mais familiares. Se no espaço da brincadeira as crianças estão
deitadas a uma boa distância entre si, damos a cada um, de seis a oito objetos.
s

que se manifestará nos modos de exploração da criança na idade de um


ano. Por isso, é inrportante rodear a criança com brinquedos que lhe
permitam reunir atividades tanto como explorar os momentos
iniciais do "construir".

30 3 1
Em espaços de brincar menores, nào seriam necessários tantos mais brinquedos do que antes. Nessa faixa etária, muitas vezes
brinquedos porque quando as crianças são capazes de virar de podem alcançar o objeto que desejam com facilidade, seja rolando,
bruços ou alongar-se, podem alcançar facilmente os brinquedos dos arrastandosse ou engatinhando, inclusive se estiver no outro lado
outros. Da mesma maneira, dos 6 meses a 1 ano, quando a da sala,
brincadeira é mais variada, as crianças não necessitam de muito

As origens do brincar livre Maneiras tipicas de manipulação e brinquedos apropriados durante primeiro ano
brincadeira. Na realidade, esses preparativos podem inclusive
chatear a criança porque pode esbarrar neles na medida em que se
move. Em vez disso, colocamos os objctos em diferentes cantos da
sala ou ao longo de uma parede vazia. É interessante colocar os
brinquedos favoritos, com os quais brinca sempre, no mesmo lugar
ou colocá-los em cestas ou potes.
É claro, que essa ordem náo dura muito, as crianças quando
brincam trazem e levam coisas de um lugar para outro, e as
deixam espalhadas. Dos 9 meses a 1 ano, a brincadeira requer
muito mais objetos pequenos. O chão acaba se enchendo de
um lado a outro de objetos espalhados. Nossa experiência
mostra que não podem brincar bem quando está tudo bagun
çado. A educadora evita o caos retirando ocasionalmente
brinquedos abandonados e agrupando objetos menores juntos
ou dentro de cestas ou potes que são adequados para poder
"colocar e tirar". Frequentemente se observa, quase
imediatamente, que as crianças aproveitam essa oportunidade.
Reconhecendo com o que estão interessados em brincar; pode
enriquecer a brincadeira incluindo algumas peças que
poderiam ser interessantes para intensificar a brincadeira. Se
a educadora se dá conta que uma ou outra criança deixou de
brincar e nào está cansada, ofertará objetos com os quais possa
desejar brincar. Aproximando-se do primeiro ano, a criança já
conhece um bom número de objetos pelo nome e assim pode
saber onde está o seu brinquedo favorito ou simplesmente se
Krisztina, IO meses e meio
colocar perto dele.
Para que cada um tenha urna oferta variada, adequada e
ajustada a seus interesses e a seu momento do
32 AS desenvolvimento é necessário uma cuidadosa observação, que
Nessa idade, iá nao é mais necessário colocar obietos ao lado permita saber quais ou quantos brinquedos um grupo
dii criança ou distribuí-los equilibradamente ao redor do espaço da específico de crianças necessita. E importante que se tenha

origens do brincar livre o ano


quantidade suficiente de um mesmo brinquedo, para o caso de
várias crianças quererem brincar ao mesmo tempo com esse
objeto. Contrariamente, um excesso de brinquedos só
interferirá em seu processo,

Maneiras tipicas de manipulação e brinquedos apropriados durante primeiro 33

As origens do brincar livre Maneiras tipicas de manipulação e brinquedos apropriados durante primeiro ano
A educadora nào tem que ter medo que a criança se canse de
brinquedos, nem se preocupar em oferecer-lhe continuaguente
brinquedos novos. Pelo contrário, se seus brinquedos trocados
muito frequentemente, sua brincadeira pode tor rapidamente
superficial.
No momento de introduzir um novo elemento na seleçào de brinquedos,
é importante retirar aqueles que já estão superados e com os que já deixou de
brincar. O Interesse da criança é 0 que norteia a introdução ou a retirada de
brinquedos. Quando a educadora retira os que definitivamente não interessam,
deve introduzir novos.

Istvan, 9 meses

Angela, IO meses

As origens do brincar livre Maneiras típicas de manipulação e brinquedos apropriados durante o primeiro
34 35
Quando o banheiro ou o espaço de alimentação estão separodos área da brincadeira por urna grade, a educadora pode dedicar mais atenção a uma criança
em particular a quem esteja dando de comer ou trocando as fraldas (ao mesmo tempo em que está observando as outras), sem que as demais solicitem sua
(linda, As crianças, por outro lado, se sentem seguras porque po vê-la o tempo todo.
Se o espaço da brincadeira é utilizado por várias crianças juntas, consideramos que cada uma necessita, no mínimo, de um quadrado da sala, ainda
que dispon ham de outros espaços para se movimentar.
O espaço da brincadeira protegido não é adequado para crianças que já exploram o seu entorno dando voltas ou engatinhando, especialmente se convivem
com várias crianças. Sendo assim, a melhor solução é deixá-las fora da área protegida. Desse 1"Odo, há mais espaço e podem expandir suas brincadeiras.

As origens brincar livra e brinquedos apropriados durante o primetro


Maneiras tipicas de manipulação
O chão desse espaço protegido consiste em uma plataforma de madeira,
cuja consisténcja é vital para o desenvolvimento da mobilidade livre da
criança, Uma superfície rígida ensina a criança, de maneira imediata e sem
equívocos, liçOes sobre as leis da gravidade mesmo quando está deitada e se
movimenta ainda muito perto do chão. Essa clareza a obriga, desde uma idade
precoce, a movimentar-se ou a cair com cuidado e assim o faz desde o
princípio com suficiente prudência para não se precipitar e cair. A resistência
de um chio duro impulsiona a verticalidade, apoia seus esforços repetidos pa
ra manter-se na posição correta e a tonicidade necessária. Do nosso
ponto de vista, um chão de espuma é inadequado para o espaço da brincadeira,
pois a criança se afunda nele, tornando mais difíceis os deslocamentos a uma
certa distância e dando uma impressác falsa do mundo real.

ano 3 7

As origens do brincar livre Maneiras típicas de manipulação e brinquedos apropriados durante o primeiro
Ilono, 8 meses e meio e Roni, 7 meses

As origens brincar livra e brinquedos apropriados durante o primetro


Maneiras tipicas de manipulação
supetficie ,tnacia POLICO ajuda a desenvolver suas
habilidades de exploração com os brinquedos. Os objetos
comportaill-se diferentemente sobre esse tipo de superfície do que
sobre uma superfície dura. Quando a criança bate sobre a espuma,
essa altera ou amortece o som resultante.
Os objetos de metal perdem sua sonoridade e soam quase igual
aos de plástico ou de madeira. Os objetos redondos rodam
desajeitadamente e alguns param no primeiro rebaixamento do
solo, o qual inevitavelmente se deforma com o peso de três ou
quatro crianças que se movem no mesmo espaço.
É mais difícil para alguns brinquedos ficarem em posição
vertical sobre a espuma e, quando permanecem, é só outra criança
se mover ou bater sobre o solo para que volte a cair. Inclusive se
não usamos espuma frequentemente, caímos na tentação de cobrir
o solo corn um tapete grande com medo que a criança sinta frio na
falta de um bom isolamento. Esse sistema não dificulta tanto como
a espuma, porém é difícil mantê-lo sem pregas, o que dificulta os
movimentos da criança e, devido a sua textura, ela se vê obrigada a
aplicar mais energia para fazer o que deseja. Os objetos sobre um
tapete se comportam de forma muito parecida com os objetos sobre
a espuma. Essa cobertura também amortece os sons e os brinquedos
também caem mais facilmente, Se existe um risco real de que as
crianças se resfriem sobre o chão, as agasalhamos melhor com uma
roupa quente que não tire sua liberdade de movimento.
No Instituto Lóczy7 cobrimos algumas vezes o solo desse espaço
com um lençol fino de algodão, atado pelas laterais nas grades para
ficar bem esticado.

As origens do brincar livre Maneiras típicas de manipulação e brinquedos apropriados durante o primeiro
ano 39

As origens brincar livra e brinquedos apropriados durante o primetro


Maneiras tipicas de
manipulação
Colecionando

As origens brincar livre Colecionando


Íva Kálló

olecionar faz parte do repertório de brincadeira da criança durante um


bom tempo. Desde o principio, o comportamento colecionador da criança
apresenta variações que podemos agrupar em duas características:
0
principiante" e "esperto", conforme a criança colecione muitas, poucas ou
distintas peças. Sejam brinquedos, objetos cotidianos ou materiais da
natureza, elege os que pensa que são importantes e os guarda em um lugar
particular ou dentro de um recipiente.

O desenvolvimento do colecionar
Por volta de um ano quando a criança começa a manipular tnuitos objetos,
também começa a colecioná-los. Quando o bebé se mantém ocupado com as
coisas ao seu redor, com muitas formas diferentes, se dá conta que muitas
dessas coisas são idênticas. Ocasionalmente, mesmo que só de forma
esporádica, num primeiro momento, agrupa umas poucas bolas de vime ou
borracha. Então, mesmo que a seleçáo tenha Sido totalmente casual, ele segue
com essa brincadeira de maneira rotineira. Contudo, começa a buscar objetos
que tenham a mesma forma intencionaltnente, nota que alguns dos brinquedos
do chão são idênticos aos que já colocou em um cesto, e vai buscá-los, Uma
vez que tern três ou quatro juntos, adiciona um objeto diferente ou vai buscar
algo novo como se tivesse esquecido do critério de seleçào.
Nesse momento evolutivo, normalmente, agrupa coisas idênticas, como
argolas ou bolas ou peças soltas de um jogo de erlcaixe, sem levar em conta as
diferenças de cor ou tamanho de cada um dos elementos individuais. Para
poder encontrar outro brinquedo parecido, esse tem que aparecer em seu
campo de visão. No entanto, se encontra um objeto completamente diferente,
se distrai do brinquedo escolhido ou da atividade enl que estava imerso.

40 da 4 1

As origens do brincar livre Coiecionando


42
cada uma em profundidade e, logo, as poe dentro de um
recipiente vazio, Inclusive se sua atenção se distrai
momentaneamente com outro brinquedo ou acontecimento,
frequentemente volta para sua atividade de agrupar, o que indica
que não só recorda certos objetos e açóes, como também, em
alguns casos, a intenção da atividade ficou retida em sua memória.
Quando a criança agrupa vários elementos e os coloca aqui ou
ali, também descobre que as peças do jogo de construção podem
organizar-se de diferentes maneiras. As ordena em grupos
menores, às vezes pelo formato, às vezes pela cor, Outras vezes
considera dois aspectos simultaneamente ao fazer sua seleçáo, por
exemplo, forma e cor,
A princípio, uma criança no início de um processo de
colecionar está interessada em escolher e comparar coisas e,
portanto, está menos concentrada e ocupada com o número de
obietos recolhidos. Com o tempo, o resultado a preocupa e se
concentra em recolher um grande número de obietos.
Continua buscando coisas novas, completa o cubo ou a cesta
até a borda e descia colocar mais, inclusive quando não cabe
mais nada, Podemos observar como tenta incorporar à sua
coleçao cada elemento daquele tipo determinado que
conseguiu encontrar disposta a buscar até que consiga, por
exemplo, todos os copos ou panos coloridos, como se fosse
importante que a coleçào estivesse completa. Mais tarde, a
criança tenta manter todos os elementos que recolheu e os
guarda, Náo perderá de vista um balde cheio de peças
quadradas ou um monte de panos coloridos, mesmo que não
Zsuzsa, 15 meses esteja mais brincando eles. Protesta no momento que outra
criança quer pegar algo, mesmo que um companheiro de
Com um ano e meio a criança agrupa, mais frequentemente e de
brincadeira quisesse introduzir algo. Frequentemente tenta
forma mais explicita, objetos do mesmo tipo. Reconhece peças
guardar em lugar seguro o que recolheu, seja colocando as
cujas propriedades já lhe são familiares sem ter que exa- coisas na sua cama ou confiando-as à educadora, Quando uma
das crianças do grupo colecionou certos objctos, como
As origens do brincar livre Coiecionando
exemplo, todas as pazinhas de areia, e a educadora pede que comportaguentos relacionados a esse conceito. Inclusive quando
dé algumas para outras crianças, pode acontecer que entregue o colecionar por colecionar perde a importância, sobrevive na
todas. criança como um desejo e mais tarde como uma necessidade de
conservar algo. Essa necessidade se manifesta nos passeios,
quando busca gravetos e pedras e se mostra encantada quando
pode guardar esses preciosos objetos em uma caixa.
43
A partir dos dois anos, colecionar se transforma cada vez Materiais apropriados para colecionar
menos em uma brincadeira em si mesmo. As crianças escolhem
Tudo que se tem em abundância serve para ser colecionado.
e recolhem objetos que utilizarão mais tarde para fazer constru
ções ou para um jogo simbólico. Com dois ou três anos, Além dos brinquedos, a criança se sente seduzida por obietos
observamos que simplesmente colecionam, sobretudo, 05
brinquedos novos como as contas dos colares ou blocos de 44
construção.
domésticos comuns e por outros tantos objetos presentes na
natureza. Podemos mencionar as coleçóes de castanhas ou
O significado de colecionar pinhas junto com caixas ou baldes que as crianças maiores
Nesse processo de recolher, a criança descobre buscando e ele- compartilham para comparar, Inclusive as crianças menores
gendo entre vários objetost que existem diferenças entre eles e precisam de recipientes bem grandes para guardar os objetos
observa suas particularidades. Quando compara coisas, nota suas de sua coleção, Etn geral, as crianças maiores podem usar,
propriedades comuns e as diferentes; quando as põe junto tem o entre outros, caixas de sapato, sacolas de papel ou de pano.
cuidado de agrupá-las de acordo com as características comuns. As sacolas de plástico são totalmente inadequadas porque
Examinar, comparar, abstrair certas propriedades oferecem risco de asfixia. Quando há uma grande variedade
de tamanhos e recipientes a criança não só pode eleger o que
e descartar outras agrupando-as por características. Todos são deseja para colocar seus brinquedos, como também
processos intelectuais repetidamente evidenciados por crianças descobre que um balde grande não se enche quando se
interessadas em colecionar e onde percepção e açâo permanecem despeja nele o conteúdo de um menor e vice-versa; o
estreitamente unidas. excesso cairá porque as coisas de um cesto grande podem
Colecionando-se obtém resultados. Por exemplo, um cesto encher vários menores.
cheio de panos coloridos ou peças de encaixe que recolheu de Quando podemos antecipar que uma criança, por volta de um
todos os cantos da casa, lhe dá uma visão que o enche de ano e meio, pode começar a colecionar brinquedos, é bom que se
satisfaçào e prazer. '[Eu fiz isso!" Portanto, esse tipo de deixe obietos adequados ao seu redor. Uma caixa de blocos de
brincadeira, junto com outras crianças, permite recon hecer construção de madeira servirá para esse propósito, porém pode ser
experiência de atuar e conseguir algo por si mesmo. perigoso se for usada sem supervisão. Para a maioria das crianças,
A criança que tenta manter a posse dos objetos recolhidos construir começa com a coleçáo e o amontoar de blocos, madeiras
experimenta o conceito de "meu seu" e "nosso" e aprende os

As origens do brincar livre Coiecionando


e outros elementos maiores ou menores. Portanto, esse tipo de
caixa deve estar entre seus obietos.

Algumas reflexões sobre a resolução de conflitos


Mesmo quando as crianças brinquedos suficientes pa ra
satisfazer seus interesses, às vezes ocorre que, durante a
brincadeira, (e especialtnente durante a fase de colecionar)
uns pegam os brinquedos dos outros. Muitas vezes, uma das
crianças encontra outro objeto para substituir o que lhe
pegaram e tica satisfeita. Porém, pode ocorrer que esteja tão
apegada a esse objeto em particular que fique chateada
quando o pegam ou, até meslno,. que ar) perdê-lo
experimente sua incapacidade de Obtê-lo de volta. Outras
vezes um brinquedo concreto é tão pouco importante que se
dispõe a ceder a um amigo. No entanto, frequentemente,
acontece que as crianças não entram em acordo e brigarm

45

As origens do brincar livre Coiecionando


Essas situaçOes nào sào fáceis para a educadora. Enquanto ela negociar com a criança para que compartilhe seus obietos com os
tem que expressar claramente a regra que um brinquedo da sala outros sem entender que ambos os casos são igualmente difíceis
pertence à criança que está brincando com ele no momento e, para a criança. Quando duas crianças brigam, o que muitas vezes se
portanto, gostaria que a criança que o pegou devolva, também deve ouve é: "agora brinquem juntos"; isso tem uma boa intenção, porém
fazer com que essa criança a compreenda. Não é nada fácil para não é eficaz. Podemos observar as crianças revezarem-se
uma criança renunciar a algo que deseja e muito menos perder algo
que possua. A educadora pode expressar isso, dizendo à criança
onde encontrar um objeto igual ou assegurando que lhe ajudará a 46
encontrar o mais rapidamente possível. Se a segurança verbal náo
para colocar objetos em um mesmo cesto e os dois encontram
funciona e ela tem urn momento para IT até a criança, pode mostrar
onde está ou alcançá-lo. prazer fazendo isso, porém fazem por seu desejo, não pela ordem
do adulto. Obviamente, uma criança pode pedir a um amigo algo
Contudo, também pode ocorrer que nada funcione,
nenhuma criança ceda e um ou ambos acabem chorando. que está colecionando, ou a educadora pode pedir por ela. Também
Nesse caso, a criança de quem algo foi retirado náo é a única pode sugerir que negociem entre eles ou que encontrem uma
que necessita de conforto e compreensáo, a outra também, pois solução aceitável para ambos. Contudo, se a criança preocupada
todos os seus esforços para obter o obieto que buscava com seus brinquedos não quer dar -nenhum, devemos respeitá-la,
falharam. Terá que dizer que por mais que deseje brincar com
enquanto ajudamos a outra criança a entender e aceitar a situaçáo,
ele, não pode tirá-lo de seu amigo. A educadora também pode
decidir não o retirar. A regra é que a criança não está autorizada Se o número de objetos necessários para colecionar está bem
a usar a força para obter o que deseja. calculado, possivelmente a situação poderá ser resolvida
Porém, não necessita dizer isso literalmente, se sua conduta e amigavelmente agrupando uns poucos obietos iguais aos iá
palavras sio coerentes e expressam essa regra. Pode estar segura de existentes.
que a criança, mesmo de má vontade ou sem estar convencida, será
É mais difícil encontrar uma solução adequada para todas as
capaz, ao final, de respeitar a regra.
crianças, se uma delas não só está colecionando um monte de
O que acabamos de dizer essencialmente se aplica aos conflitos obietos como também insiste em ter todos os recipientes
com os objetos colecionados. Esse aspecto deve ser enfatizado em disponíveis. Aqui é inútil proporcionar mais brinquedos iguais; a
separado porque muitos adultos consideram que a raiva da criança situação é mais complicada. O que podemos fazer em um caso
é justificada por se tratar de um objeto concreto que tiraram dela, como esse? Se outra criança quer usar um dos recipientes de uma
porém não assumem a defesa quando ocorre a retirada de um só coleçao para colocar algo nele, podemos dar no lugar ulti pote. Se
obieto entre os que reuniu. No primeiro caso, o adulto protege a ela aceita, as coisas funcionam bem para as duas crianças.
criança e a ajuda a conservar o brinquedo. No segundo, ele tenta

As origens do brincar livre


A situação é diferente se as crianças brigam por um brinquedo estará pronta para ter essa atitude mais tarde, por volta dos três
que só existe um para cada uma do grupo e uma das crianças anos, sem que tenhamos que interferir.
ocupada em colecionar está fazendo tudo que pode para evitar que A experiência mostra que os grupos de crianças que podem ter
os outros peguem. Nesse caso, temos que ajudá-la a entender que seus próprios brinquedos, e podem deixar ou dispor quando
pode brincar com todos os recipientes, pazinhas e bonecas, porém, querem, têm maior facilidade para aceitar que não devem tratar
só quando nenhuma outra criança necessita dos brinquedos nesse com a mesma liberdade os brinquedos coletivos como fazem com
momento. Não é fácil para a criança renunciar a um objeto os seus próprios.
colecionado. Porém, se nos dirigimos a ela, falando com calma e
seriamente, e a deixamos resolver quando e o que está disposta a
Colecicnando 47
ceder, esperando até que decida, podemos estar seguros de que

As origens do brincar livre


Observação
da
Brincadeira de uma criança
Irén Csatári

ivia, 18 meses, pega dois potes: um verde pequeno e um roxo com o


dobro do tamanho. Facilmente coloca o verde dentro do roxo e novamente
o retira. A seguir coloca o verde de boca para baixo no chão e o cobre com
o roxo. Logo pega o roxo novamente, o coloca de boca para baixo no chão
e põe o verde em cima. Pega ambos, coloca o verde de boca para baixo
dentro do roxo. Depois, retira os dois e os coloca um ao lado do outro,
Livia descansa um pouco, deitada de barriga para cima,
observando ao redor. Logo se senta, pega alT1bos os potes, atira um
e depois o outro e em seguida os recupera. Coloca o verde embaixo
do roxo, se aproxima agachada, e enquanto levanta o pote roxo

As origens do brincar livre


observa, até que o verde fique descoberto. Depois retorna a cobri-lo
novamente com o roxo e repete o processo com

Péter, IO meses
muito cuidado, deixando que o pote verde apareça e desapareça oito vezes.
De novo, descansa; porém, mantém o verde em sua mão. Na sequência,
pega o roxo, coloca os potes um em cima do outro, um dentro do outro; os
agita provocando a queda do menor. Na continuação busca um pote ainda
menor, encaixa os três, um dentro do outro e os agita até que os dois
menores caiam. Repete esse processo várias vezes. Essa brincadeira de
Livia durou S minutos. Nesse tempo, seu prazer e interesse foram
evidentes pela expressão de seu rosto.
Katolin, 22 meses e Zsolt, 23 meses

48

Observação da brincadeira de uma criança 49

4
Iniciando a construção.
Objetos adequados para a brincadeira
Gyõrgyi B"iog
As origens do brincar livre
or volta do primeiro ano a criança começa a manipular distintos objetos
ao mesmo tempo, de tal maneira que antecipa que a construção está a ponto
de manifestar-se. Esses tipos de atividades, colocar um objeto sobre o outro,
empilhar coisas, organizar os objetos em filas ou em grupos ou encaixá- los um
dentro do outro, constituem características da brincadeira de construção e é
dessa maneira que a criança inicia esse tipo de prática.
"Colocando coisas uma em cima da outra" S mais cedo ou mais tarde a
criança descobre que quando solta um objeto sobre o outro, esse
simplesmente se mantém em cima. A criança varia esse processo
simples (somente na aparência) para investigar que coisas podem servir
de apoio a outras. Assim, vários objetos, pequenos ou grandes,
permanecem facilmente sobre uma caixa com uma superfície plana e lisa.
A situaçào se complica quando uma criança tenta colocar os
mesmos objetos em cima de um tecido. Sua superfície macia e
irregular dificulta a execução dos seus objetivos. No mesmo
raciocínio, precisará de muito mais destreza para colocar em
equilíbrio objetos no alto de uma superfície cilíndrica, por exemplo. A
mesma tarefa muda dependendo da forma, do tamanho e do peso do
brinquedo que a criança decidiu "colocar em cirna de" a]guma coisa.
O mais difícil é decidir e conseguir estabelecer o equilíbrio em um objeto
redondo sobre qualquer superfície, em especial, se o faz sobre uma base
elevada, lisa e plana.

A palavra húngara "ràtenni" significa colocar em Orna, não basta por, deixar ou colocar, Se pôr,Andrea, IO meses
Ou A."hre

51
Iniciando a

construção. Objetos apropriados para a brincadeira

As origens do brincar livre


50
As crianças engenhosas ensaiando diferentes possibilidacles: ver que
movimento necessita para estender um pano ou colocar um pote em cima de
urna cerca do espaço protegido da brincadeira ou em que ponto específico
da borda da superfície de uma caixa deve colocar uma bola, de tal maneira
que não role, Aprendem a ter seu próprio repertório de habilidades, a base
de infinitos testes sobre como colocar uma coisa em cima da outra.
O jogo que acabamos de descrever também impliCa em retirar um objeto, que
representa risco para as crianças, Praticam inúmeras possibilidades, como, por
exemplo, retirar uma garrafa de plástico que está colocada sobre urna tigela de boca
para baixo, desde levantá-la com cuidado até golpeá-la,

As origens do brincar livre


Da mesma forma é atrativo- para uma criança repor, recolocar coisas sobre
uma superfície de vime, por exemplo. Esse processo lhe oferece uma
mudança constante de percepção, de acordo com o obieto que está sendo
colocado: um tecido, uma bola ou um coador. As superfícies que as crianças
utilizam como base de apoio para essa brincadeira, como caixas ou tigeIas de
boca para baixo, cubos ou prateleiras, são brinquedos e objetos caseiros,
essenciais para a vida cotidiana.

Sustentar direito repetidamente ou fazer que se sustente


na vertical
Em torno de um ano uma criança que encontra bolas, tigeIas de plástico, cubos, latas ou carretéis entre os seus brinquedos,
com o tempo, descobre que os obietos altos e finos podem se manter na vertical. Após repetidas tentativas aprende como precisa pegar e
colocar para que eles permaneçam de pé sobre a sua própria base, relativamente estreita- O êxito nessas tentativas depende de várias
coisas como a forma e o tamanho, o maTibi, 16 mesesterial e o peso do objeto, mas também tem a ver com a posição e a postura da criança,
Ao mesmo tempo em que a criança coloca frequentemente os
obietos para que se mantenham em pé, também busca a verticalidade
em outras brincadeiras. Derruba o pote que está de

52
Iniciando a construçao, Objetos apropriados para a brincadeira 53

As origens do brincar livre


pé ou o tira de algum lugar e observa o que acontece: roda?, faz torres. Cada um desses objetos é aberto e oco em uma de suas
barulho? onde para e como? Então, volta ao começo de novo. extremidades e, sendo de cores diferentes, podem ser unidos
A princípio é suficiente ter um pouco desses objetos. Se no de formas variadas, Um mesmo cubo pode aparecer como
grupo várias crianças querem brincar desse modo, necessitam primeiro ou último ou ainda no meio
de vários exemplares de cada tipo de brinquedo.

Ordenando coisas em séries e em grupos 54


Brinquedos diferentes atraem crianças diferentes, mas de
idade parecida. Uma ou outra vez observamos como a criança
organiza as coisas em séries ou grupos, A princípio, de
maneira náo intencional, coloca dois ou três objetos um ao
lado do outro, depois acrescenta outros, estabelecendo uma
ordem entre eles. Essa ordem é feita cada vez menos de forma
aleatória. A criança põe os objetos juntos ou um ao lado do
outro, Gosta de organizar as coisas segundo suas semelhanças
ou diferenças, especialmente Se são de cores diferentes.
Para poder brincar dessa maneira sem serem incomodadas,
as crianças necessitam de bastante espaço e uma grande
quantidade e variedade de obietos. Se a educadora, de tempo
em tempo, elimina do espaço da brincadeira objetos que as
crianças deixaram de mostrar interesse e, sem atrapalhar, os
Gyóngyi, 9 meses e meio
coloca no lugar original, isso não significa que está tentando
ensinar as crianças o que espera que fáçam ou não façam.
Devemos deixar a criança eleger com o que quer brincar, se
querem colocar os objetos em bacias, colocá-los«le pé da sequência construída. Se os cubos estão virados sobre o
repetidamente ou utilizá-los para um jogo simbólico. solo com a extremidade aberta para o lado, a criança às vezes
os encaixa lateralmente formando uma fileira, um dentro do
Encaixando objetos dentro ou sobre outros outro.
Utilizando recipientes em formas de cone, baldinhos e Em geral, são necessárias muitas tentativas antes que a
outras formas ocas do mesmo tamanho, a criança descobre criança consiga encaixar recipientes de diferentes formas e
outra maneira de manipular distintos objetos tamanhos, Nesse processo, ela aprende princípios básicos
simultaneamente. Encaixando um dentro do outro ou sobre a f01tna e volume desses obietos, e também sobre suas
colocando-os sobre o outro, a criança aprende a construir

As origens do brincar livre Iniciando Objetos apropriados


semelhanças e diferenças. Quando aprende quais coisas voltando a encaixá-los de outra maneira. Porém, depois de um
encaixam e quais coisas não encaixam, aprenderá a certo tempor à medida que começa a estar mais atenta aos
diferenciar, sitnplesmente olhando, que objetos servirão para resultados cie sua açaoj já náD desmonta mais imediatamente
seu propósito. seu trabalho, se ocupa em admirá-lo por um tempo.
A cria nça encaixa e adiciona mais e mais elementos juntos,
Como mencionamos, desde o princípio, visivelmente desfruta
dessa açào e de si mesma e por isso repete todos esses a construção. para a brincadeira 55
movimentos. Encaixa vários elementos juntos e logo os separa

As arigens brincaľ livrc Iniciando Ob,etos apropnados


Geralmente nessa idade, as crianças nào esperam conservar O produto do seu
"trabalho". Nem existem brinquedos suficientes para permitir isso. Uma vez que a
criança se ocupa com outras coisas, perde a conta de quantos cubos havia
encaixado, dessa forma é possível que outra criança possa usá-los. Frequentemente
a criança empresta voluntariamente os cubos, até mesmo seus cubos encaixados a
outro companheiro de brincadeira. Corno os brinquedos usados nesse tipo de
brincadeira estão constantemente "desaparecendo" um dentro do outro, inclusive
se existe quantidade suficiente, é importante que a educadora separe novamente
aqueles que não estão sendo utilizados. Também é importante avaliar como a
educadora intervém, se urna criança, muito implicada em sua brincadeira,
começa a ocupar 'tanto espaço que a outra criança se sente invadida. Quando
existe um cesto com cubos à disposição de cada criança, e uma delas quer
brincar além dos "seus", com os dos outros, a educadora pode explicar que ele
espere o companheiro se ocupar de outra atividade. Ainda melhor, pode mostrar
para a criança brinquedos similares que não estão sendo usados no momento.
Temos que fazer menção especial a habitual sucessão de cubos, copos ou
potes, na qual cada elemento é maior ou Illenor que o seguinte. As crianças
também gostam de brincar com esses elementos, colocando um dentro do outro
ou em cima do outro, Porém, nessa idade não serão capazes de encaixar os
objetos em função
to mais difícil do que encaixar cones do mesmo tamanho,
Por isso, observamos os modos iniciais de brincadeiras espontâneas nas
diferentes modalidades de construção. Essas consistem, por exemplo, em colocar
um obieto
sobre o outro, provar repetidamente como manter um objeto vertical em pé,
organizar objetos em grupos ou séries e encaixar os objetos dentro de outros
ou sobre outros. Isso ocorre, somente se a criança tem ao seu alcance os
objetos necessários. As crianças diferem enor memente quanto à
modalidade da brincadeira que iniciam e a ordem das ações, assim como
também variam as açôes preferidas que, sem dúvida, serão as que repetem com
mais prazer.Ferenc, 20 meses

56 a construção. para a brincadeira 57

As origens do brincar Iniciando Objetos apropriados


Ferenc,
20
meses

58

dö a para
a brincadeira 59

As arigens brincaľ livrc Iniciando Ob,etos apropnados


Esse tipo de atividade de construçao é característico das crianças de
aproximadamente 3 anos. No entanto, inclusive os Inaioresp de tempos em
tempos retomam de maneira natural esse tipo de brincadeira ou a incorporam
a uma brincadeira mais avançada. Por exemplo, podem agrupar garrafas de
boliches em uma fileira e logo anunciar: "Esta é uma barreira".
A educadora que está atenta às diferentes expressões das necessidades que
surgem em relação ao brincar e observa com cuidado o seu desenvolvimento,
saberá quando é o momento preciso para prover o espaço da brincadeira com
aquilo que a criança necessita.

"Recentunente tem ocorrido grandes discussões sohrc se deixar criança


brincar demasiadamente de roryna livre poderia prejudicat seu
desenvolvimento. Nós tenu»s uni ponto de vista oposto, O brincar livre,
independente, sen} ainda ou incitação de a cuida (que no (inibito lcnnili:lt•
significa sem a presença dos pais) é [undamental pura o desenvolvñnenlo.
Gostan105 de chantá-lo 0a universidade do bebé e da criança". Porém, isso só
lunciona se proporcionan10S continuamente os elementos condutores externos
e se a criança está ativa e ocupada, inclusive senl plesenç-a do adulto. Mas isso
só é possível parci a criança leni boa relação corn a educadora e (Ilie se sente
segura brincando, inclusive quando o adulto está tora de sua vista, E es[orço
considerável dar à criança a liberdade e a 'Illietude requer esse tipo de
[•riltcaclcira dentro de

Pikler, li.mmi 1988:


Last Mir /.eit, Richard Pflaum Verlag, Mónaco Cl'yaduçào:
Dai-me tenwo).

Janos, 24 meses

As origens do brincar livre Iniciando Objetos apropriados


a construção. para a brincadeira 6 1

As origens do brincar livre Notas das Editoras


Notas das editoras
Notas sobre as idades mencionadas nos textos

s frequentes e consideráveis discrepâncias de idade, de aquisição no


desenvolvimento dos grandes movimentos, entre as crianças que F,mnvi Pikler
observou, não aparecem no mesmo nivel no desenvolvimento das habilidades
motoras finas. Parece que podemos prever melhor a idade de uma criança
observando corno brinca, do que pelas posições que assume e como se
locomove:

Comentários sobre o espaço da brincadeira na família


No ambiente familiar, o famoso O chiqueirinho" que mede deveria ser
usado somente quando a criança começa a arrastar-se sobre si mesma ou
arrastar-se de bruços, Depois disso, a criança necessita mais espaço, se não,
não tem espaço nem impu Iso para locomover-se, uma vez que tem todos os
brinquedos à mão.
Para que uma criança brinque sem ser incomodada é útil separar urna
parte do espaço da brincadeira (se possível, 2X2 ou 2X3m) para
resguardá-la de outras crianças que querem brincar com ela como se fosse
uma boneca. Do mesmo modo que separar o espaço da brincadeira
protege as crianças maiores da interferência do bebé, em seus
aprcSsados projetos de construção Ou de outro tipo. Assim, o espaço da
brincadeira oferece segurança também para as crianças majores que são
capazes de trepar para entrar e sair, enquanto os mais jovens se
arrastam e brincam do lado de fora. Inclusive, uma áreaEdit, 15 meses

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As origens do brincar livre Notas das Editoras


com dimensóes adequadas, nào só permite lijais liberdade de 64
movimento, como também possibilita uma proteçào tanto l'.nuni Pikler pontuou, em uma ocasiâ0, que as crianças
fisica como psíquica; quer dizer, um universo onde facilmente se movimentam e brincam menos em espaço ilimitados do
pode se sentir em casa, t0 que nos espaços claramente definidos.
O piso de madeira desse espaço ou da casa das crianças está
relacionado com a máxima de Ernmi Pikler sobre como tratar
com bebês até que engatinhem: proteçào contra os perigos
maiores permite o descobrimento independente dos perigos
menores. No que concerne aos pré-requisitos sobre
mobilidade, uma vez Emmi Pikler disse: 'I Nós também
preferimos dançar sobre um assoalho de parquet a dançar sobre
colchões". Para os bebés menores, pensamos que o piso de
madeira do espaço da brincadeira é melhor se está coberto com
um pano de algodão que pode ser mudado. Isso evita deslizar
com os pés sobre o piso liso quando os apoiam com esforço
para mover-se e avançar. Também, no verào, Corn a
transpiração e por estarem com pouca roupa, se movimentam
Inais facilmente sobre o pano. Por outro lado, 'é bom para as
crianças que se familiarizem com a consistência e calor do piso
de madeira antes que comecem a engatinhar. Com o pano, é
fácil manter o piso limpo,
Quando colocamos a criança no espaço da bri ncadeira,
desde que pegue seu primeiro brinq uedo, quer dizer, por volta
dos 3 ou 4 meses e, mais tarde quando começa a engatinhar,
tem a sua disposiçào uma parte da casa para ela, o espaço se
expande à medida que vai ampliando seu repertório de habil
idades 1110toras. As cercas chegam a ser, desde o inicio, uma
paisagem familiar para ela. Equiparar a cerca com
confinamento não tem sentido para a criança: isso é somente
um tema de adultos. Contrariarnente, mantê-la em um berço ou
no bebé-conforto (mesmo que desse modo a criança possa Borbólo, 13 meses e Kotolin, 13 meses
permanecer perto de sua mae e ver o que ela faz) isso sim é
uma prisão de verdade (c
Um simples canal de Lisua colocado no exterior, na parte de
[ora do espaço da brincadeira, permite aprender com a água, em
completa segurança sem a presença próxima do adulto,
As origens do brincar livre Notas das Editoras
socialização "independência corn prazer", não como uma
6S tarefa e obrigaçáoj desde o início nossa atitude é totalmente
diferente e, sobretudo, livre de táticas de pressão: "Você ainda
não só porque restringirnos sua mobilidade). O bebé nio pode
tem que e "Enquanto nao..., entao". Se começamos a recolher,
recuperar os seus brinquedos por si mesmo quando os deixa
sem requerer
cair, o bebê-con forto impede a sua brincadeira independente e
o força a depender dos adultos.
Se, por exemplo, colocamos uma Criança que não se vira de
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bruços nem rola, em um espaço ilimitado pode ser
desconcertante e opressor para ela. Obviamente, não se sentirá nada da criança nos alegramos quando nos ajuda, ela pode
tão segura e confortável como nós em casa, dentro de "nossas experitnentar a satisfação e o prazer de reproduzir o processo
4 paredes" que, certamente, preferiríamos a ter que estar em de organizar, como urna tarefa conjunta.
uma plataforma de estação de trem. O adulto em um Uma criança na escola de educação infantil que não é
restaurante ou café também está mais acomodado escolhendo forçada a recolher seus brinquedos, depois de cada momento
sentar-se em um espaço reservado do que se for colocado em de brincadeira, estará mais disposta a fazê-lo mais tarde.
uma mesa no meio do salão.

Uma palavra sobre como guardar os brinquedos


Recolher brinquedos é um tema que também pode levar a
conflitos entre pais e filhos no ambiente familiar.
Isso não ocorreria se o espaço de brincar não contivesse
mais brinquedos do que os que o adulto está disposto a recolher
e colocar no lugar diariamente. Uma vez que a criança entende
isso» pode evitar-se um número excessivo de brinquedos com
o esforço conjunto de ambos. '"Que brinquedos são
importantes para você agora & quais podemos retirar por um
tempo?" seria a pergunta que respeita a própria iniciativa da
criança, Também é útil ter alguns brinquedos somente para o
inverno ou para o verão; para domingos ou festas, assim corno
existem outros que se guardam para osdias em que estão
doentes.
Náo deveríamos responsabilizar prematuramente a criança
de recolher seus brinquedos. A criança não entende as
obrigaçóes até que atinja a idade da educação obrigatória. Se
levarmos em conta a proposição de Em mi Pikler sobre a
As origens do brincar livre Notas das Editoras
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AS ORIGENS DO BRINCAR LIVRE
Coleçào Primeira Infància
AUTORAS

Ara Kâllé e Gyérgyi Balog


SUPERVISÂO EDITORIAL E

Carmen Orofino, Mariam Americano e Suzana


Macedo Soares
GRÂFtco F. ARTE
Ilernadete Guedes
RFV(SÀO
Katia Ikoclla

Dados Internac•ionais de Catalogaç-ào na Publicaçàf' (CIP)


(Càmara Brasileifil do Livro, SI*, Brasi[)

Éva
MISTO

43
origens CIO brincar livre FSC / Éva Kàllò, GyOrgyi ['alog ;
Itraduçàoxla versào FSC' C01241B
inglesa para o espanhol
Susana Martinezl. Sào raulo: Omnisciencia,
(Coleçào printeira infância: educar gle O a 6 anoS}

Tirulo ortgi The origiras of free play.


978-85-61190-16-3

l. Brincadeiras 2. Crianças Psicologia 3. E.ducaçào infantil


4. pré-escolar I, Balog, Ciyérgyi. Il. Titulo. Ill. Série.

17-07253 CDI)-.172.21
Indices para sistemitico
L Educaçao infantil: Educaçào pré-escohr 372.21

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