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CONTEÚDO EXCLUSIVO

ABORDAGEM PIKLER
“Hoje, a abordagem Pikler está longe de ser um método ou uma técnica. É
uma concepção e uma postura ética do cuidar”

Para Emmi Pikler, o carinho e o cuidado atento nos primeiros anos de vida
é responsável por estabelecer a segurança que vai construir as bases de auto-
nomia da criança até a vida adulta.

INTRODUÇÃO
Você já ouviu falar na abordagem Pikler? Desenvolvido pela médica húngara
Emmi Pikler, o método se apoia em princípios que valorizam a atividade autôno-
ma da criança, em momentos fundamentais da educação do bebê.

Essa abordagem, utilizada no Instituto Pikler com crianças de menos de 3 anos,


sugere a importância da autonomia das crianças e de suas primeiras experiências –
mesmo que seja no cuidado e nas relações cotidianas, como o momento de trocar
a fralda, de tomar banho e de se alimentar.

Isso permite que a criança possa se desenvolver em seu próprio ritmo, sem ser
apressada pelos pais. Sozinha, ela começa a se dar conta de que suas ações geram
consequências e aprende a lidar com isso de maneira natural.

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EMMI PIKLER: A MULHER QUE DÁ NOME
À METODOLOGIA
Você certamente já ouviu falar sobre a abordagem Pikler, mas o que você sabe
sobre Emmi Pikler?

Muito se fala da metodologia, mas é importan-


te saber quem é essa mulher que dá nome ao
método e como o trabalho dela influencia na
sua vida e de seus filhos.

A pediatra húngara lançou essa abordagem


histórica que mostra que as crianças, de zero
a três anos, são capazes de aprender a en-
gatinhar e a andar sozinhas. Isso de acordo
com o princípio de respeito à autonomia e
ao tempo de desenvolvimento de cada bebê.

A HISTÓRIA DE VIDA DE EMMI PIKLER


Nascida em 1902, em Viena, Emilie Madeleine Reich é conhecida por seu trabalho
como pediatra e suas teorias de aprendizagem e desenvolvimento infantil. Filha
de uma professora e de um artesão, aos 6 anos mudou-se com a família para Bu-
dapeste, onde cresceu apenas com o pai depois de 19014, quando a mãe faleceu.

O sobrenome mais conhecido da médica veio do casamento com um matemático


e professor. Juntos, quando tiveram o primeiro filho, permitiram que a criança
se desenvolvesse com liberdade e respeitaram seu tempo – princípios da aborda-
gem Pikler.

Entre 1936 e 1945 – no contexto da Segunda Guerra Mundial – o marido da pe-


diatra foi preso por ser judeu. Nessa época, Emmi era médica de família, e foram
essas pessoas que ajudaram a doutora e sua própria família a sobreviver durante
a guerra.

Depois de uma vida dedicada ao trabalho com o desenvolvimento infantil e a


criação de um espaço que se tornou referência nesse assunto, Emmi Pikler fale-
ceu em 1984.

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A HISTÓRIA PROFISSIONAL DE EMMI PIKLER
A jovem Emmi voltou para sua cidade natal para estudar medicina. Sua forma-
ção se deu no Hospital Infantil da Universidade de Viena – o diploma chegou em
1927. Lá ela estudou ainda a cirurgia pediátrica sob a condução de Hans Salzer.

Em 1935, Pikler qualificou-se como pediatra. Desde então, produziu materiais


escritos e palestrou sobre o ensino e a aprendizagem de bebês e crianças peque-
nas. Em 1940, ela fez sua primeira publicação de livro para os pais, que chegou a
diversos países e edições.

Com o fim da guerra, depois de ter mais dois filhos, Pikler trabalhou com crian-
ças abandonadas e desnutridas. Em 1946 fundou o orfanato Lóczy (nome da rua
onde era localizado), do qual esteve no comando até 1979.

O ORFANATO LÓCZY: UM ESPAÇO DE


LIBERDADE E PROSPERIDADE
A pediatra buscou construir, no orfanato, um am-
biente que levasse conforto e segurança às crian-
ças, para que elas crescessem protegidas das se-
quelas sociais que rondavam aquele momento da
história.

Com o passar do tempo e os trabalhos constantes


de Pikler, a instituição foi tornando-se reconheci-
da ao redor do mundo. Mesmo após se aposentar,
a médica não parou de trabalhar em seus estudos
científicos ou consultas. O orfanato passou a ser
administrado pela filha de Pikler, Anna Tardos,
psicóloga infantil.

O QUE É A ABORDAGEM PIKLER?


A abordagem Pikler é um conjunto de ideias para a educação de bebês e crianças
pequenas, de até três anos. A ideia central da abordagem é estimular as primeiras
fases do desenvolvimento infantil por meio de atividades que estimulam a inde-
pendência do bebê e práticas que podem ser adotadas pelos cuidadores (ou até
mesmo pelos pais) na hora de lidar com a criança.

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A abordagem se baseia em alguns conceitos básicos:

“É importante que o adulto transmita ao bebê o sentimento de competência,


respeitando seu ritmo e tempo”

MOVIMENTO LIVRE: A criança deve ter liberdade para se movimentar, desco-


brir o potencial do seu próprio corpo e entender, pouco a pouco e de maneira
espontânea, como funcionam suas habilidades motoras. Além disso, os adultos
não devem forçar movimentos que o bebê ainda não saiba fazer sozinho (como
colocá-lo de pé, por exempo).

Enquanto aprende a contorcer o abdômen,


rolar, rastejar, sentar, ficar de pé e andar, (o
bebê) não apenas está aprendendo aqueles
movimentos como também o seu modo de
aprendizado. Ele aprende a fazer algo por si
próprio, aprende a ser interessado, a tentar,
a experimentar. Ele aprende a superar difi-
culdades. Ele passa a conhecer a alegria e a
satisfação derivadas desse sucesso, o resul-
tado de sua paciência e persistência. Emmi
Pikler

AUTONOMIA: Os adultos não devem in-


tervir nas atividades dos bebês. Os cuidado-
res devem deixar que as crianças descubram
o ambiente e interajam umas com as outras.
Mesmo que os pequenos façam coisas que
podem parecer “estranhas”, pois essa é a
maneira que elas têm de descobrir o mun-
do. Entretanto, cabe aos adultos oferecer
atenção quando chamados e garantir que as
crianças estejam em segurança.

ROTINAS E CUIDADOS PRIVILEGIA-


DOS: É preciso estabelecer uma relação
de confiança entre a criança e os adultos, e
essa relação deve basear-se na atenção que o
adulto dá ao bebê ao cuidar do mesmo. Ao
dar banho, vestir, trocar fraldas ou alimen-
tar a criança, por exemplo, o adulto deve ex-
plicar o que está sendo feito e até mesmo
pedir a participação do bebê, que aos pou-
cos passa a adquirir confiança e responsabi-
lidade por suas ações.

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A CRIANÇA PEQUENA E SEU CORPO
A criança pequena, desde o nascimento, consegue conhecer seu corpo essencial-
mente de duas maneiras: por meio de tudo o que se passa com seu corpo, quer
dizer, pela atividade de seu próprio corpo, e por tudo que é feito com e para seu
corpo quando é pego, carregado, alimentado e lhe são dados outros cuidados
corporais.

Se, durante os cuidados, o adulto der, sem


cessar uma atenção particular aos sinais do
bebê, e se os levar em consideração para lhe
oferecer as refeições, para andar, banhar,
vestir ou desvestir, ele cria, desde o início,
a possibilidade de que o bebê, por sua vez,
“intervenha” no processo dos cuidados e na
maneira pelas quais esses cuidados serão sa-
tisfeitos, notadamente em relação à duração
e ao ritmo da refeição, à quantidade e à tem-
peratura da comida, ao ritmo dos movimentos durante o vestir, o despir, à quan-
tidade e à temperatura da água do banho etc.

Uma boa técnica de cuidados procura propiciar à criança o sentimento de segu-


rança de ser pega e carregada por mãos firmes e ternas que lhe permita estar em
um estado de relaxamento. Esses cuidados de boa qualidade conduzem a criança
ao que podemos chamar de um “estado de unidade”, a criança torna-se uma pes-
soa, um indivíduo.

“O bebê ou criança pequena só consegue explorar o ambiente se tiver rece-


bido uma segurança afetiva para dar conta desse momento de exploração”

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COMO A ABORDAGEM FUNCIONA
NA PRÁTICA?
Para que a abordagem funcione, é preciso, em primeiro lugar, que o adulto cui-
dador estabeleça o vínculo de confiança com o bebê. Com essa relação a criança
se sente confortável e segura, o que possibilita que ela se desenvolva através do
brincar livre.

CUIDADOS COM O BEBÊ

Pikler faz algumas recomendações que os


adultos devem seguir na hora de lidar com o
bebê. Veja alguns exemplos:

Conversar com o bebê. Explicar o que está


sendo feito nos momentos de cuidados pes-
soais . Responder (com palavras) às reações
naturais do bebê. Dessa forma, a criança se
sente compreendida e adquire confiança para
o próprio desenvolvimento.

Não apressar o bebê durante esses momen-


tos de cuidados pessoais. Deixar que ele siga
o próprio ritmo. Evitar movimentos brus-
cos nesse momento para que a criança tenha
tempo de entender o que vai acontecer.

Não pegar a criança de surpresa, ou pegá-la


enquanto ela está dormindo. Quando for necessário levar a criança a outro lugar,
avisar que você vai carregá-la, pois desse modo você não interrompe subitamente
o que a criança está fazendo.

Não colocar o bebê em posições em que ele não consegue se colocar sozinho.
Não se deve, por exemplo, colocar em pé o bebê que ainda não consegue fazer
isso sozinho, pois esse tipo de atitude apressa o desenvolvimento que deveria ser
espontâneo.

BRINCAR LIVRE

A segunda etapa da abordagem é garantir que a criança tenha um espaço seguro


para brincar livremente. No momento de brincar livre o adulto deve estar por
perto, mas deve intervir o mínimo possível nas atividades dos bebês.

O espaço deve ter piso de madeira ou tecido, objetos lúdicos ao alcance das crian-

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ças e móveis (também de madeira e bem apoiados no piso) para que as crianças
possam desenvolver suas habilidades motoras.

CUIDAR E EDUCAR

Cuidar é um dos pilares mais importantes da


Abordagem Pikler. É durante os momentos
dos cuidados que o bebê e o adulto vão cons-
truir um vínculo de confiança, indispensável
para o bom desenvolvimento físico e emo-
cional do bebê e da criança pequena. Não são
só as mãos que tocam, mas as palavras tam-
bém tocam o bebê. Enquanto cuida, o adul-
to pode falar com a criança sobre o que está
acontecendo, antecipar suas ações e nomear
as reações do bebê.

A criança já nasce capaz e pode se comunicar com o adulto de referência. Muito


antes de compreender o conteúdo das palavras o bebê vai entendendo os gestos e
percebendo a intenção dos adultos pelo tom e a melodia da voz.

É preciso sensibilidade, gestos lentos e pausas para perceber a reação da criança,


que pode responder com um gesto, com expressão facial, com a pele que se cris-
pa. O adulto deve ser treinado para estabelecer esse diálogo corporal com o bebê
que, mesmo bem pequenininho pode e deve participar desses momentos. Esta-
belecer uma verdadeira comunicação durante os cuidados favorece a segurança
emocional tão necessária para a criança.

Suprida de suas necessidades básicas ela pode, aos poucos, se movimentar no


chão livremente, explorar objetos e interagir com o ambiente ao seu redor.

O novo olhar sobre o desenvolvimento do bebê que a abordagem Pikler nos revela.

Esse novo olhar é a percepção da potência do bebê sadio, que já vem com a pro-
gramação genética para expressar suas necessidades básicas ao adulto de referên-
cia; de seduzir com seu encanto esse adulto e garantir os cuidados; de se mover
e desenvolver sua motricidade livre; de explorar e brincar com os objetos ao seu
redor e desenvolver sua cognição a partir de suas experiências concretas iniciadas
por sua iniciativa e desejo.

Compreendendo essa capacidade inata do bebê, a necessidade dele se interessar


pelo entorno e a engrenagem que rege o desenvolvimento psicomotor, o adulto
precisa controlar seus impulsos de fazer tudo por ele, de adiantar seus desejos e fi-
nalizar algo que ele começou e está tentando terminar. Interromper os processos
iniciados pelo bebê o priva de suas conquistas e do sentimento de competência e
segurança implicados nelas.

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REFERÊNCIAS:
https://lunetas.com.br/para-lidar-com-criancas-e-preciso-observa-las-diz-psico-
loga/

SUGESTÃO DE VÍDEO:
https://www.youtube.com/watch?v=kAiCRe2xIDU&t=37s

SUGESTÃO DE LIVRO:
• Abordagem Pikler Educação infantil
• Organizadora: Judit Falk
• Editora: Omnisciência

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