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A organização

dos espaços e
materiais não
estruturados​
Como vimos em diferentes momentos, os espaços das instituições de Educação Infantil não são
neutros. Muito pelo contrário! Eles possuem dimensões e forças, que podem constituir-se como
elementos estimuladores de aprendizagens e desenvolvimento e colaborar com o protagonismo
das crianças ou limitar a sua capacidade investigativa, imaginativa e cognitiva.​

Tudo depende da forma como são pensados e organizados, concorda?


Como um elemento curricular, os espaços, tanto internos quanto externos, devem possibilitar
emergir todas as dimensões humanas (a lúdica, a fantástica, a artística, a imaginativa, a
investigativa etc.), ou seja, propiciar que a criança amplie suas experiências e referências e
contribua para a construção de sua identidade e sua compreensão do mundo, além de expandir
suas habilidades de manipular, de experimentar texturas, pesos, volumes, aromas, sons e cores.

Já vimos, que os materiais são elementos fundamentais na constituição dos espaços e ambientes.
Portanto, pensar sobre sua qualidade é essencial.

Observe, nas imagens a seguir, os materiais disponibilizados para as crianças.

Nas imagens, podemos observar que as crianças ficam envolvidas, exploram os materiais
e inventam novas funções para eles, criando outras formas de brincar: pequenos pedaços
de madeira e peças de jogos se transformam em um carrinho; ou uma embalagem de
sorvete se transforma em uma forma de bolo, e a areia, em bolo, de acordo com o desejo e a
criatividade das crianças.
Observe que os objetos disponibilizados favorecem a inventividade das crianças. Este
tipo de material é denominado de não estruturado: materiais reutilizados e elementos da
natureza que proporcionam múltiplos significados e sentidos para que as crianças criem
suas próprias brincadeiras.

Com a evolução da Educação Infantil a partir de pesquisas e do entendimento de como a criança


aprende e se desenvolve e do que colabora para este processo, muitos brinquedos e materiais
passaram a fazer parte do cotidiano das escolas ao longo do tempo. Panelinhas, talheres,
bichinhos de borracha e pelúcia, ferramentas e instrumentos médicos de brinquedo, bacias, jogos
e outros passaram a povoar os espaços das escolas. Essa foi uma enorme conquista.

Embora estes materiais, que denominamos estruturados, ofereçam menos desafios e


possibilidades de criação e autoria para as crianças, eles também são importantes. No
entanto, os materiais não estruturados, cuja potência está na amplitude de significados
possíveis atribuídos pelas crianças nas brincadeiras, funcionam como um elemento essencial
para as possibilidades de exploração, comunicação e criação das crianças. Por isso, vale
salientar que devemos ofertar uma variedade de materiais para as crianças, que contemple
não estruturados, industrializados e artesanais.

Hora de praticar​
O projeto Baú Brincante aconteceu em 2016, nas cidades de Salvador e Jequié (Bahia),
em escolas públicas de Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental. Ele tinha
como ponto de partida a colocação de uma grande caixa de madeira contendo materiais
estruturados e não estruturados, disponibilizados para que as crianças produzissem
seus brinquedos e brincadeiras. Dentro do baú brincante, havia cordas, tubos de
papelão, tecidos, roupas e sapatos de pessoas adultas, malas, bolsas, pneus, teclados e
computadores, telefone e fantasias.
Propomos que você organize um “baú brincante”
selecionando objetos e materiais variados (utilize
as sugestões dadas nesta seção, em Materiais
de qualidade na Educação Infantil). Se estiver
atuando em instituições, busque a colaboração
das famílias e crianças para a atividade.

Após a seleção e organização dos materiais,


é tempo de disponibilizar o baú para que as
crianças tenham contato com ele e explorem seu
conteúdo.

Durante esta exploração, observe como as crianças interagem com os materiais, registrando
as narrativas que elas produzem ao brincar.

Alterne os locais onde o baú


será colocado e, de acordo com
o interesse das crianças, crie
outras propostas. É importante,
também, renovar constantemente
o conteúdo do baú.​

O baú brincante possibilita que as O brincar livre proporciona Ao encaixar, equilibrar, empilhar,
crianças desenvolvam a imaginação, a partilha, a manipulação e a recriar e inventar outros
a curiosidade, a inventividade, a experimentação dos materiais. ​ significados, as crianças ampliam
autonomia e a autoria.​ seus conhecimentos. ​
Neste sentido, é fundamental reconhecer a potência de brincadeiras dessa natureza para a
garantia dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento — brincar, conviver, expressar,
explorar, conhecer-se e participar — e de diversos campos de experiências, como O eu, o
outro e o nós, Corpo, gestos e movimentos, Espaços, tempos, quantidades, relações e
transformações e Escuta, fala, pensamento e imaginação.

Assim, a criança experimenta a essência do


ser e estar junto, expressando sentimentos,
revelados nas brincadeiras ou interações, e
vivendo consigo e com os outros a beleza de
ser criança em qualquer idade.

Não deixe de observar atentamente as ações


das crianças e realizar registros que podem
apoiar novas intervenções, inclusive a adição
de outros materiais no baú — que pode
e deve se renovar ao longo do tempo. Dê
abertura às sugestões das próprias crianças,
lembrando que bebês o fazem a partir de
seus interesses e da demonstração de prazer
com cada tipo de material.

Outros materiais potentes não estruturados são aqueles coletados na natureza. Os elementos
naturais, como terra, areia, ar, água, barro, gravetos, folhas e pedras, oportunizam às crianças
sentirem texturas, volumes, densidade, porosidade, temperatura, cor e som, promovendo
a percepção das propriedades e características destes materiais. Essa aproximação propicia
aprender pela ação, pela experimentação; viver a natureza, se desenvolver com a natureza,
brincar e cuidar dela!

Ao oportunizar que as crianças


criem suas próprias brincadeiras
e brinquedos feitos com materiais
naturais, possibilitamos que elas
os transformem e deem novos
sentidos e significados a eles.
Portanto, é fundamental oferecer
este brinquedo chamado natureza
para as crianças. ​
Para saber mais​

Em entrevista ao projeto Criança e Natureza, a professora Lea Tiriba chama a atenção para a
importância de “desemparedar” as crianças na escola, permitindo que elas se relacionem com
os elementos do mundo natural para que possam realizar plenamente seu potencial, indo ao
encontro de sua própria natureza. ​

Para facilitar e apoiar o que vimos até aqui, propomos a análise do


vídeo a seguir, em que Lea Tiriba fala sobre a criança e sua relação
com a natureza. Para acessar, copie e cole o endereço eletrônico
abaixo em seu navegador. Vamos assistir?

Inspirações | Desemparedar as crianças na escola


| Criança e Natureza. Disponível em: youtube.com/
watch?v=CB1qg43k05A​

Após assistir ao vídeo, reflita sobre a seguinte questão:​


Por que as crianças passam tanto tempo em espaços internos, cercadas por quatro paredes?

Muitas vezes, a única coisa que as liga à natureza são as janelas. Precisamos voltar nossa
percepção para a potência dos ambientes na natureza como espaços de crescimento e
desenvolvimento das pesquisas, curiosidades e aprendizagens das crianças.

A natureza oportuniza a socialização, a troca, o convívio, a experimentação, a exploração, o


desafio e a consciência ambiental.​

Convidamos você a pensar em como transformar a rotina de modo a possibilitar um tempo


maior de contato com a natureza e com os ambientes externos. Sugerimos que, se estiver em
sala de aula atualmente, estenda essa reflexão a demais profissionais da escola.

Sabemos que nem todas as escolas contam com espaços que proporcionam o contato direto
com a natureza. Como sugestão, que tal estender a interação para o entorno, para locais
como parques, praças, clubes e terrenos vazios? Afinal, os espaços da cidade devem ser vistos
como espaços de aprendizagem e, portanto, podem ser ocupados com e pelas crianças.

Quantas possibilidades de reflexão a temática da qualidade dos materiais nos trazem!

No próximo tema, nos aprofundaremos no papel dos espaços e dos materiais para o brincar
das crianças! Vamos lá?!
A organização de ambientes na Educação Infantil

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