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A dimensão relacional

do ambiente e a
aprendizagem integral
Para iniciar este estudo, é importante voltarmos às concepções sobre espaço e ambiente,
abordadas na seção A organização dos ambientes como elemento curricular —
especificamente no tema Espaços, ambientes e garantia de equidade, no qual refletimos sobre
as suas diferenças, a relação indissociável entre eles e as quatro dimensões do ambiente.

Vale relembrar a importância:

• da qualidade do espaço físico no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças;


• da qualidade das interações que as crianças estabelecem com o ambiente, com as
pessoas adultas e com outras crianças;
• do papel da educadora ou do educador dentro dos espaços;
• de preparar os espaços para as crianças e com as crianças, respeitando o direito da
construção da autonomia.

Sabemos que a forma como o espaço está estruturado e a qualidade dos ambientes são
fundamentais para os processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças e, por isso,
devem ser elementos curriculares planejados intencionalmente. Quando os espaços estão
organizados de modo a convidar as crianças para múltiplas interações e aprendizagens, acontece
uma relação pedagógica mais aberta, participativa e potente, visto que ela não fica centrada ou
restrita na relação entre pessoa adulta e criança. É essa importante dimensão do ambiente, a
dimensão relacional, que abordaremos a seguir.

[...] dimensão relacional do ambiente trata da qualidade das relações


estabelecidas, do bem-estar emocional e da implicação das crianças nas
atividades realizadas, bem como do respeito aos seus desejos e preferências.
(Caderno de experiências: assim se organiza o ambiente, 2013, p. 9)
Ao observar as interações das crianças nos espaços, percebemos que eles podem contribuir
para a construção de laços afetivos e de identidade, atuando como mediadores dos processos
dessas aprendizagens.

Toda essa exploração se relaciona com a nova organização curricular proposta pela Base
Nacional Comum Curricular (BNCC), de 2017, que não só nos apresenta uma referência
curricular por campos de experiências, mas também estabelece os seis direitos de
aprendizagem e desenvolvimento (assunto que aprofundaremos na sequência do curso).

Em sua proposta, a BNCC ressalta um aspecto importante, que já estava disposto nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), de 2009: as interações e a
brincadeira como eixos estruturantes do currículo.
Agora, o convite é para que você analise as quatro imagens de espaços abaixo, observando a
qualidade das relações estabelecidas, do bem-estar emocional e da implicação das crianças
nas situações propostas.

Para guiar sua análise, cabem algumas perguntas norteadoras.

Como os espaços privilegiam a autonomia e o protagonismo das crianças?

Eles favorecem a interação entre crianças de diferentes faixas etárias? Por quê?

Oferecem desafios, segurança e bem-estar emocional? Como?

A proposta de organização e utilização dos espaços deve sempre fortalecer a independência


das crianças, permitindo a realização de vivências individuais, em pequenos e grandes grupos,
e oportunizando que elas experimentem seus limites e suas possibilidades. No entanto, os
cuidados com a segurança são primordiais, a fim de evitar quaisquer perigos reais.
Para saber mais

Segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), de 1998:

“O estabelecimento de condições adequadas para as interações está pautado tanto nas


questões emocionais e afetivas quanto nas cognitivas. As interações de crianças com e
sem deficiência, assim como com conhecimentos específicos diferenciados, são fatores
de desenvolvimento e aprendizagem quando se criam situações de ajuda mútua e
cooperação. As características de cada criança, seja no âmbito afetivo, seja no emocional,
social ou cognitivo, devem ser levadas em conta quando se organizam situações de
trabalho ou jogo em grupo ou em momentos de brincadeira que ocorrem livremente.”

A fim de exemplificar o que está sendo tratado, assista ao vídeo “Criança, espaço e relações”,
que nos mostra as interações entre as crianças, os materiais e as pessoas adultas em um
espaço. Para acessá-lo, copie e cole o endereço eletrônico a seguir em seu navegador.

youtube.com/watch?v=kN_c5Mu1SbQ

Após assistir, que tal fazer uma análise específica da situação proposta por lá? Para
explorarmos os aprendizados, considere os aspectos listados abaixo.

O modo como as crianças interagem com outras crianças e pessoas adultas, com os
objetos e com os materiais disponibilizados.

O papel da professora ou do professor antes e durante a proposta.

Se sentir necessidade, assista ao vídeo novamente e anote suas percepções em papel ou de


forma digital.

A seguir, acompanhe um comentário geral sobre cada um dos aspectos.


O modo como as crianças interagem com os objetos e os materiais disponibilizados.

Aos poucos as crianças entram e descobrem o espaço e seus materiais por meio das
explorações sensoriais. Com muita curiosidade, vão tocando os materiais e experimentando
suas propriedades: no chão, com o corpo todo e com cada parte dele. As crianças
demonstram autonomia, potencializam suas investigações e interagem, ora com os materiais,
ora com outras crianças e com a professora, sendo protagonista de suas ações. Elas não estão
seguindo orientações determinadas pela professora, ou instruções, mas estão em interação
com este ambiente rico de possibilidades.

O papel da professora antes e durante a proposta.

Inicialmente, a professora organiza o espaço intencionalmente como um propositor de


múltiplas experiências. Ela escolhe materiais potentes do ponto de vista da exploração
sensorial das crianças, ou seja, planeja cuidadosamente a proposta. Enquanto oferece este
espaço rico em possibilidades, a professora passa a ter, ao longo da exploração das crianças,
um papel de observadora e documenta as aprendizagens, registrando, por meio de fotos, os
movimentos espontâneos das crianças, sua curiosidade, suas investigações e descobertas,
além de interagir com elas, sem direcionar suas ações.
Vale ressaltar que a intenção da professora no vídeo foi dar ênfase à exploração dos sentidos,
que é uma das aprendizagens essenciais a que as crianças têm direito.

Conhecemos neste material


como um espaço bem organizado
proporciona às crianças muitas
possibilidades de exploração,
interação, brincadeiras e
aprendizado — vivências
fundamentais para que elas
exerçam seu protagonismo.
A organização de ambientes na Educação Infantil​

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