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Sobre o tema

Espaços, materiais
e currículo
Vamos abordar como os espaços e ambientes revelam
concepções e práticas do projeto pedagógico e do
currículo de uma instituição de Educação Infantil.

Cabe, aqui, retomarmos o diálogo entre as concepções


de experiência, campos de experiências e direitos
de aprendizagem e desenvolvimento, referências
estruturadoras da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC), de 2017.

Sabemos que as experiências são importantíssimas para as aprendizagens das crianças. No


texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência”, o pedagogo espanhol e filósofo da
educação Jorge Larrosa afirma que “experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que
nos toca”. Então, se aprender é o mesmo que viver transformações, somente as experiências
(ou seja, aquilo que faz sentido para nós e nos toca) podem nos atravessar, sensibilizar e
gerar aprendizagens.

Partindo dessa colocação, em quais ocasiões a criança está de fato envolvida em situações
geradoras de aprendizagem? Favorecemos situações comprometidas com a promoção de
aprendizagens ou estamos mais focados em “trabalhar” conteúdos?

E o que o espaço escolar tem a ver com tudo isso?

A criança percebe tudo ao seu redor e se envolve nas brincadeiras com os cinco sentidos!
Assim, ao pensar em um espaço para crianças, devemos pensar em aspectos como:
diversidade de texturas, sons, cores, odores e luzes.

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Na Educação Infantil, o espaço é
parte primordial da ação pedagógica.
Ele deve, ainda, considerar as
necessidades básicas das crianças
como parte importante do currículo,
pois estas são promotoras de
bem-estar e desenvolvimento.

Planejar o currículo vivido na Educação Infantil — que se faz ouvindo as crianças — envolve
oferta de condições para situações de exploração a fim de que a criança se construa como
sujeito que pensa, imagina e cria, tanto em momentos coletivos como em momentos de
trabalho diversificado, realizado por grupos, ou em momentos de privacidade, em que ela
possa relaxar, imaginar e realizar explorações próprias. ​

A oferta de materiais variados e acessíveis


às crianças e a organização de ambientes de
forma confortável, acolhedora e instigadora
favorecem a participação e a exploração
pelas crianças.​

O espaço e os materiais organizados devem


convocar, provocar e traduzir a intenção do
professor ou da professora, incentivando a
criatividade e a autonomia da criança. Para
isso, é preciso que a organização dos espaços
gere um ambiente que promova os seis
direitos de aprendizagem e desenvolvimento.

Vamos conhecê-los?
“Expressar, como sujeito dialógico, criativo e sensível, suas necessidades, emoções,
sentimentos, dúvidas, hipóteses, descobertas, opiniões e questionamentos por meio
de diferentes linguagens.”​

“Conhecer-se e construir sua identidade pessoal, social e cultural, constituindo uma


imagem positiva de si e de seus grupos de pertencimento, nas diversas experiências
de cuidados, interações, brincadeiras e linguagens vivenciadas na instituição escolar e
em seu contexto familiar e comunitário.”​

“Explorar movimentos, gestos, sons, formas, texturas, cores, palavras, emoções,


transformações, relacionamentos, histórias, objetos, elementos da natureza, na escola
e fora dela, ampliando seus saberes sobre a cultura, em suas diversas modalidades: as
artes, a escrita, a ciência e a tecnologia.”​

“Conviver com outras crianças e adultos, em pequenos e grandes grupos, utilizando


diferentes linguagens, ampliando o conhecimento de si e do outro, o respeito em
relação à cultura e às diferenças entre as pessoas.”​

“Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos,


com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversificando seu
acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua
criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas,
cognitivas, sociais e relacionais.”​

“Participar ativamente, com adultos e outras crianças, tanto do planejamento da


gestão da escola e das atividades propostas pelo educador quanto da realização das
atividades da vida cotidiana, tais como a escolha das brincadeiras, dos materiais e
dos ambientes, desenvolvendo diferentes linguagens e elaborando conhecimentos,
decidindo e se posicionando.”​

Para refletir​

A partir das informações apresentadas,


observe as imagens abaixo e verifique se os
direitos de aprendizagem e desenvolvimento
das crianças estão assegurados. Ao final
da prática, você pode acompanhar nossos
comentários sobre as imagens.​

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Não se esqueça dos pontos importantes a seguir!

É a partir dos seis direitos de aprendizagem


e desenvolvimento estabelecidos pela BNCC
para a Educação Infantil que o professor ou
a professora poderá trabalhar para garantir
que as experiências propostas a crianças
de zero a cinco anos assegurem que elas
aprendam em situações nas quais possam
desempenhar um papel ativo. ​

Os ambientes devem convidá-las a vivenciar


desafios e a se sentirem provocadas a
resolvê-los, a construir significados sobre si,
os outros e o mundo. ​

O espaço deve valorizar o acesso livre


das crianças aos materiais, aos objetos
(que devem ser adequados à altura da
criança), ao brincar, à comunicação e à
interação considerando todas as
expressões humanas: lúdica, imaginária,
cognitiva, artística, afetiva e social.​

Refletir sobre as experiências além daquelas espontaneamente vividas pelas crianças


deve ser uma constante no dia a dia da professora e do professor. Portanto, é fundamental
basear-se nos campos de experiências propostos pela BNCC, que visam ao estabelecimento
de relações entre a criança, os outros, o seu corpo, os desejos e afetos por meio de
brincadeiras e de atividades lúdicas, além de envolver as relações de cuidado e convívio
coletivo e o enfrentamento de dificuldades. ​
Acompanhe uma descrição mais detalhadas sobre cada um desses campos.​

O eu, o outro e o nós​


Sentimentos, generosidade, diversidade,
respeito cultural; relação com o outro:
família, escola e amizades; identidade.​

Corpo, gestos e movimentos​


Movimentos, gestos, características corporais,
habilidades manuais, exploração do espaço,
dança, expressões corporais e artísticas.​

Traços, sons, cores e formas​


Campos de Sons, ritmos, interação musical, instrumentos
experiências​ musicais, exploração sensorial, cantigas de
roda, arte visual: pinturas e esculturas.​

Escuta, fala, pensamento e imaginação​


Linguagem oral e escrita: gêneros textuais
(poemas, rótulos, bilhetes, jornais, revistas,
histórias infantis), imaginação (faz de conta),
letras (vogais, consoantes, alfabeto).​

Espaços, tempos, quantidades, relações


e transformações​
Formas geométricas, cores, medidas,
classificações, seriações, agrupamentos
e números.​

Que tal recorrer à prática para entender, ainda mais, os campos de experiências?
Abaixo, apresentamos três fotografias de uma atividade proposta por um docente
chamada “Vamos jogar boliche?”.​
A partir das imagens, faça o exercício reflexivo das questões e responda a seguir.​

Quais são os objetivos almejados pelo docente?​

Qual é o papel dos espaços e da organização dos materiais para a promoção de


aprendizagens das crianças?​
Após sua reflexão, leia os comentários que preparamos para contribuir com suas percepções.​

Quais são os objetivos almejados pelo docente? ​

Através de jogos e brincadeiras, a criança desenvolve relações lógicas e espaciais, aprimora


o raciocínio estratégico para resolver situações de conflito, lida com frustrações, desenvolve
autonomia e exercita formas de registro de quantidade e de escrita dos nomes, além de
reconhecer e respeitar as regras do jogo.​

Nesta proposta, podemos perceber que existem conhecimentos já construídos e a exploração


de outras habilidades a serem conquistadas. Nela, as crianças manuseiam livremente os pinos
e a bola, realizam a contagem dos pinos e registram os pontos em um cartaz, assim como
interagem e cooperam com outras crianças nos momentos do jogo e fazem movimentos
amplos com o corpo. ​

Perceba que o docente planejou uma situação em torno de questões específicas, mas que
também surgiram oportunidades para desafiar as crianças e trabalhar outras aprendizagens.

Qual é o papel dos espaços e da organização dos materiais para a promoção de


aprendizagens das crianças?

A organização do espaço, dos materiais e dos brinquedos é determinante na aprendizagem


das crianças. Nessa proposta, o papel da organização de espaços e materiais é, além de muita
interação, promover desafios corporais​que acolhem movimentos amplos: realizar jogadas
livres para acertar os pinos do boliche, comemorar etc. Ao arremessar uma bola na direção
dos pinos do boliche, a criança utiliza todo o seu corpo. Desta forma, espaços amplos e áreas
externas são mais favoráveis.​

Devemos observar, também, a importância de um local de apoio, como uma parede, de modo
que as crianças possam registrar as etapas do jogo, comparar os resultados, quantificar e
exercitar suas hipóteses sobre representação de quantidades. ​

É fundamental que as crianças sempre participem da organização e reorganização do espaço,


de modo que possam acessar os objetos e exercitar sua autonomia.
Para saber mais
Organizar o espaço significa um modo de pensar a
aprendizagem das crianças. Envolve o estudo das
condições, tais como o tempo e as materialidades,
além do próprio espaço. Estas condições são
organizadores da ação da professora e do professor.​

Portanto, cabe ao ou à docente organizar o seu


fazer pedagógico, sempre tendo em vista as
necessidades e os desejos das crianças, organizando
novos espaços, renovando os materiais, fazendo
intervenções nos ambientes.

Porém, para que as crianças aprendam, não basta planejar, separar os materiais,
organizar um espaço propositor e cuidar da segurança delas. É essencial, também,
que se pense na criança em ação, correndo ou brincando, interagindo o tempo todo
com o espaço e seus materiais.

Já sabemos que os ambientes não são neutros. Eles são organizados a partir das nossas
experiências e de como acreditamos que devem ser as relações que serão ali vivenciadas.

Para que você tenha mais elementos para a reflexão sobre espaços, materiais e currículo,
sugerimos que você assista ao vídeo “O brincar”. Observe os aspectos mencionados no vídeo,
refletindo sobre como as crianças interagem com o espaço e seus materiais e sobre os três
pontos importantes destacados pela BNCC e trazidos no início desse tópico: a experiência; os
campos de experiências; e as interações e brincadeiras como eixos estruturantes do currículo
e dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento.

Para assistir ao vídeo, copie e cole o endereço eletrônico


a seguir em uma aba do seu navegador. Na sequência,
acompanhe também o roteiro que criamos com orientações
para auxiliar na sua análise. ​

Cultura da infância - Ep. 01 - O brincar.


Disponível em: youtube.com/watch?v=38GfSgXpdX4​
1) Identifique a concepção de criança e de educação presentes.​

2) Destaque os materiais e objetos presentes que favorecem a autonomia das crianças.​

3) Analise os materiais e objetos quanto à: ​

a) qualidade;​

b) diversidade;​

c) intencionalidade pedagógica;​

d) adequação às diferentes faixas etárias;​

e) qualidade das interações.

Agora, para complementar sua análise, acompanhe alguns comentários sobre o vídeo.

1) Identifique a concepção de criança e de educação presentes.

O vídeo é um convite à reflexão sobre a Educação Infantil e a importância do brincar nos


primeiros anos de vida. Observe que as crianças podem usufruir de um espaço que respeita,
valoriza, legitima e abriga as brincadeiras livres essenciais na infância, garantindo o respeito
e o protagonismo.​

2) Destaque os materiais e objetos presentes que favorecem a autonomia das crianças.

O ambiente foi configurado de maneira integrada e acessível, potencializando as


interações no grupo. Destacamos a qualidade dos materiais e sua disponibilização
ao alcance das crianças.

3) Analise os materiais e objetos quanto à: qualidade, diversidade, intencionalidade


pedagógica, adequação às diferentes faixas etárias e qualidade das interações.

É possível perceber que a criança é vista como um sujeito de direitos, com suas necessidades
físicas, cognitivas, psicológicas, emocionais e sociais supridas. As imagens revelam um espaço
bem iluminado, amplo e arejado, que garante a mobilidade e o respeito ao protagonismo da
criança e aos direitos previstos na BNCC. ​

O vídeo também destaca a brincadeira como essência da vida cotidiana da criança de


Educação Infantil e como linguagem da infância, enfatizando o caráter pedagógico dos
diferentes ambientes. ​

O espaço externo pode ser percebido como parte do trabalho educativo. O ambiente como
um todo foi configurado de maneira integrada e acessível, potencializando as interações e a
autonomia das crianças. ​
Além da qualidade em sua organização estrutural, a disposição de materiais dialoga com as
diferentes infâncias que ali circulam. Ressaltamos novamente a qualidade dos materiais e sua
posição ao alcance das crianças. Há forte presença de materiais não estruturados — blocos
de madeira, peças plásticas para encaixar e objetos reutilizados, como caixas plásticas, latas e
rolos de papel higiênico.​

Na área externa, observa-se a existência de objetos como pás, bacias, baldes e caixa de areia
para brincadeiras com água, bem como objetos de parque, como escorregador e balanços
feitos de pneus reutilizados.

A intencionalidade docente fica evidenciada não apenas pela organização dos materiais nos
espaços, mas também pelo fato de que, nas situações, as crianças aparecem livres, brincando
sem um direcionamento de docentes, que atuam como observadores. Note que as crianças
mexem, pegam, sentem, interagem, experimentam o espaço e os materiais, aproveitando os
recursos disponíveis, que são diversificados, adequados às faixas etárias e compatíveis em
quantidade em relação ao número de crianças e ao tamanho do espaço.

É um lugar onde as crianças podem ser livres, se desafiam, vivenciam e


produzem cultura.

Finalizamos os estudos sobre espaços,


materiais e currículo. Continue conosco
para expandir seus conhecimentos sobre
campos de experiências e conhecer melhor a
perspectiva do ambiente como um parceiro
pedagógico das e dos docentes.​

Vamos lá?!

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A organização de ambientes na Educação Infantil

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