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https://novaescola.org.br/conteudo/20680/8-dicas-para-estimular-a-
independencia-e-a-progressiva-autonomia-das-criancas
Educação Infantil
No entanto, em muitos momentos, nós adultos trazemos em nossa fala o “deixar fazer”, que consiste
na perspectiva de que essas ações das crianças só podem ser realizadas caso haja a permissão de um
responsável, associando, assim, a independência delas ao aval de um adulto para exercê-la. É por isso
que o conceito de autonomia vai além: é importante que, progressivamente, as crianças se
desenvolvam nesse campo relacional, e que consigam consolidar as suas ações de maneira
autônoma.
Pensando nisso, resolvi listar 8 dicas que podem ajudar os educadores nessa desafiadora e tão
importante missão de estimular a independência e a gradual autonomia dos pequenos.
1. Estimular a expressividade
Mais do que aprender a se expressar oralmente, as crianças precisam de tempo e espaço para
externalizar seus desejos, necessidades e opiniões. Assim, é importante compreender que o choro é
uma forma de expressão, e reprimi-lo ou desqualificá-lo não contribui para o desenvolvimento da
autonomia da criança.
Nesse sentido, precisamos desenvolver nosso olhar observador para as múltiplas linguagens, e
garantir que as crianças se sintam ouvidas e acolhidas nas questões que compartilham. Por exemplo,
quando demonstram que sentem pelo afastamento da família, é importante apoiá-las para que
entendam isso como algo momentâneo, e mesmo positivo, já que é uma oportunidade para
construírem relações com outros adultos e com seus colegas.
2. Instigar a curiosidade
As crianças são sedentas por conhecer o que as cerca. Por isso, invista em elementos que
oportunizem a investigação, o levantamento de hipóteses e a consulta a diferentes referências. Além
disso, traga em seu planejamento boas perguntas – por meio delas, os pequenos desenvolvem maior
consciência sobre o objeto de pesquisa e podem construir possibilidades ouvindo proposições de
colegas. Assim, além da independência na exploração dos materiais, todos terão condições de criar
conclusões e de fazer escolhas com autonomia.
3. Lançar desafios
No dia a dia, isso ocorre quando as crianças pequenas se mostram intrigadas com alguma situação
que causa desconforto, e o nosso papel é problematizar com elas: o que podemos fazer para
resolver? Além de ocorrer por meio das palavras, esses desafios buscando independência e maior
autonomia podem se dar no próprio ambiente – por exemplo, quando um bebê se vê num percurso
com diferentes obstáculos, e tem que subir um lance de escadas e apanhar um objeto fora de seu
campo físico.
Essa dica diz respeito à organização do trabalho: incentive as pequenas escolhas, e sempre tenha em
mente a necessidade de um planejamento sensível aos interesses das crianças. Outros pontos
importantes são o exercício ético dos combinados coletivos (“o que vale para os pequenos, vale para
os adultos”), reservar momentos para debates sobre diferentes assuntos, e resolver conflitos por
meio de diálogos sem a designação de certo ou errado, sempre visando a garantia do bem-estar e da
boa convivência.
Para além disso, outras atitudes solidárias colaboram nessa busca por independência e,
principalmente, por maior autonomia: podemos pensar no famoso “ajudante do dia”, que fornece os
mais variados suportes aos colegas, como ajudar a encher a garrafinha de água, pegar o lenço para
higiene ou colaborar na finalização de alguma ação.
Por exemplo: na alimentação, eles podem reservar tempo para explorar outros sentidos antes do
paladar; podem ainda expressar suas preferências, trazer questões relacionadas a outras experiências
envolvendo os alimentos, e mesmo vivenciar o cunho social de se alimentar em uma mesa bem
preparada, num espaço agradável, com itens adequados e de preferência, com uma boa conversa.
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Se todos os objetos estão ao alcance das crianças, elas têm condições físicas para pegar e explorar, e
mesmo assim não se sentem confortáveis para apanhá-los porque esperam pela aprovação do
adulto, tem-se aí um exemplo de independência, sem autonomia. No entanto, quando elas se
utilizam da confiança no adulto para se apropriarem dos materiais para suas pesquisas e
investigações, sentem-se também co-responsáveis pelo cuidado e organização desse espaço.
O acompanhamento sistemático das ações das crianças nos mais diferentes contextos da instituição,
e também das formas de relacionamento que estabelecem entre si e com os adultos, contribui para
que o professor identifique quais estratégias podem contribuir para a ampliação da autonomia das
crianças.
Você pode analisar algumas situações de compartilhamento do espaço e materiais, pensando em: as
crianças demonstraram solidariedade entre si? Tiveram iniciativa de modificar o espaço, adequando-o
aos seus propósitos? Os recursos e materiais disponibilizados foram suficientes para a brincadeira de
qualidade? Além disso, os registros com fotos das crianças, no início, durante e ao final de uma
vivência, também nos ajudam a retomar aquele momentos, e a identificar quais foram as estratégias
utilizadas por elas.
Com isso, queridos professores e professoras, fica a principal reflexão: o exercício da independência e
a construção progressiva da autonomia é fundamental para as crianças da Educação Infantil – e
espero que essas dicas possam contribuir para o trabalho de vocês nessa prática tão importante.
Um abraço e até breve!
Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10
anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em
2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano
com um projeto na área de Educação ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.