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independencia-e-a-progressiva-autonomia-das-criancas

Publicado em NOVA ESCOLA 28 de Setembro | 2021

Educação Infantil

8 dicas para estimular a


independência e a progressiva
autonomia das crianças
É muito importante que professores da Educação Infantil incentivem os
pequenos nessa busca – e algumas sugestões podem ajudar a construir
ações efetivas no dia a dia escolar
Paula Sestari

Crédito: Getty Images

Recentemente, eu estava participando de um desses momentos importantes de troca e conversa


entre professores, e entre algumas provocações muito pertinentes, uma fala me chamou a atenção:
muitas vezes, tratamos do incentivo à independência das crianças como se fosse um estímulo à
conquista da sua autonomia – e essas são duas coisas distintas.

No contexto da Educação Infantil, é importante que, aos poucos, as crianças conquistem


independência nos cuidados de si, como ao aprender a se alimentar sozinhas, escovar os dentes,
amarrar o cadarço dos sapatos, se locomover de um ambiente a outro da instituição com segurança,
além do contato com brinquedos e outros materiais ao seu alcance, exercendo a livre escolha de
acordo com os seus interesses.

No entanto, em muitos momentos, nós adultos trazemos em nossa fala o “deixar fazer”, que consiste
na perspectiva de que essas ações das crianças só podem ser realizadas caso haja a permissão de um
responsável, associando, assim, a independência delas ao aval de um adulto para exercê-la. É por isso
que o conceito de autonomia vai além: é importante que, progressivamente, as crianças se
desenvolvam nesse campo relacional, e que consigam consolidar as suas ações de maneira
autônoma.

Pensando nisso, resolvi listar 8 dicas que podem ajudar os educadores nessa desafiadora e tão
importante missão de estimular a independência e a gradual autonomia dos pequenos.

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nessa etapa da educação: como realizar planejamentos alinhados à BNCC, experiências das
crianças, e como planejar atividades de leitura.

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1. Estimular a expressividade

Mais do que aprender a se expressar oralmente, as crianças precisam de tempo e espaço para
externalizar seus desejos, necessidades e opiniões. Assim, é importante compreender que o choro é
uma forma de expressão, e reprimi-lo ou desqualificá-lo não contribui para o desenvolvimento da
autonomia da criança.

Nesse sentido, precisamos desenvolver nosso olhar observador para as múltiplas linguagens, e
garantir que as crianças se sintam ouvidas e acolhidas nas questões que compartilham. Por exemplo,
quando demonstram que sentem pelo afastamento da família, é importante apoiá-las para que
entendam isso como algo momentâneo, e mesmo positivo, já que é uma oportunidade para
construírem relações com outros adultos e com seus colegas.

2. Instigar a curiosidade

As crianças são sedentas por conhecer o que as cerca. Por isso, invista em elementos que
oportunizem a investigação, o levantamento de hipóteses e a consulta a diferentes referências. Além
disso, traga em seu planejamento boas perguntas – por meio delas, os pequenos desenvolvem maior
consciência sobre o objeto de pesquisa e podem construir possibilidades ouvindo proposições de
colegas. Assim, além da independência na exploração dos materiais, todos terão condições de criar
conclusões e de fazer escolhas com autonomia.

3. Lançar desafios

No tópico anterior, mencionamos como é importante instigar os pequenos com bons


questionamentos, algo muito relacionado a essa perspectiva de buscar um espaço desafiador, em
que as crianças se sintam provocadas a solucionar alguma questão, elaborando estratégias e
testando suas potencialidades.

No dia a dia, isso ocorre quando as crianças pequenas se mostram intrigadas com alguma situação
que causa desconforto, e o nosso papel é problematizar com elas: o que podemos fazer para
resolver? Além de ocorrer por meio das palavras, esses desafios buscando independência e maior
autonomia podem se dar no próprio ambiente – por exemplo, quando um bebê se vê num percurso
com diferentes obstáculos, e tem que subir um lance de escadas e apanhar um objeto fora de seu
campo físico.

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4. Consolidar uma gestão participativa

Essa dica diz respeito à organização do trabalho: incentive as pequenas escolhas, e sempre tenha em
mente a necessidade de um planejamento sensível aos interesses das crianças. Outros pontos
importantes são o exercício ético dos combinados coletivos (“o que vale para os pequenos, vale para
os adultos”), reservar momentos para debates sobre diferentes assuntos, e resolver conflitos por
meio de diálogos sem a designação de certo ou errado, sempre visando a garantia do bem-estar e da
boa convivência.

5. Incentivar um espaço solidário

As brincadeiras são oportunidades de compreensão de significações simbólicas das relações sociais;


por isso, incentive a ajuda mútua: na casinha, uma criança pode apoiar a outra a se servir, e a cabana
fica mais divertida quando compartilhada. Procure também incentivar os jogos cooperativos ao invés
dos competitivos.

Para além disso, outras atitudes solidárias colaboram nessa busca por independência e,
principalmente, por maior autonomia: podemos pensar no famoso “ajudante do dia”, que fornece os
mais variados suportes aos colegas, como ajudar a encher a garrafinha de água, pegar o lenço para
higiene ou colaborar na finalização de alguma ação.

6. Garantir tempo de qualidade

Ao considerarmos a dinâmica do tempo no planejamento na Educação Infantil, temos uma


possibilidade imensa de garantir ações autônomas, nas quais além de desenvolver habilidades, os
pequenos também vão obter compreensões.

Por exemplo: na alimentação, eles podem reservar tempo para explorar outros sentidos antes do
paladar; podem ainda expressar suas preferências, trazer questões relacionadas a outras experiências
envolvendo os alimentos, e mesmo vivenciar o cunho social de se alimentar em uma mesa bem
preparada, num espaço agradável, com itens adequados e de preferência, com uma boa conversa.

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7. Pensar na organização do espaço e dos materiais

Se todos os objetos estão ao alcance das crianças, elas têm condições físicas para pegar e explorar, e
mesmo assim não se sentem confortáveis para apanhá-los porque esperam pela aprovação do
adulto, tem-se aí um exemplo de independência, sem autonomia. No entanto, quando elas se
utilizam da confiança no adulto para se apropriarem dos materiais para suas pesquisas e
investigações, sentem-se também co-responsáveis pelo cuidado e organização desse espaço.

8. Organizar diversificadas formas de registro

O acompanhamento sistemático das ações das crianças nos mais diferentes contextos da instituição,
e também das formas de relacionamento que estabelecem entre si e com os adultos, contribui para
que o professor identifique quais estratégias podem contribuir para a ampliação da autonomia das
crianças.

Você pode analisar algumas situações de compartilhamento do espaço e materiais, pensando em: as
crianças demonstraram solidariedade entre si? Tiveram iniciativa de modificar o espaço, adequando-o
aos seus propósitos? Os recursos e materiais disponibilizados foram suficientes para a brincadeira de
qualidade? Além disso, os registros com fotos das crianças, no início, durante e ao final de uma
vivência, também nos ajudam a retomar aquele momentos, e a identificar quais foram as estratégias
utilizadas por elas.

Com isso, queridos professores e professoras, fica a principal reflexão: o exercício da independência e
a construção progressiva da autonomia é fundamental para as crianças da Educação Infantil – e
espero que essas dicas possam contribuir para o trabalho de vocês nessa prática tão importante.
Um abraço e até breve!

Paula Sestari é professora de Educação Infantil da rede municipal de ensino de Joinville (SC), com 10
anos de experiência nessa etapa, e mestre em Ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias. Em
2014, recebeu o Prêmio Educador Nota 10, da Fundação Victor Civita, e foi eleita Educadora do Ano
com um projeto na área de Educação ambiental com a faixa etária das crianças pequenas.

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