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Unidade II
ASPECTOS QUE EMBASAM O PLANEJAMENTO E A AÇÃO DO PROFESSOR NA
ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Partindo daí, cabe então ao professor desprender-se da ideia de detentor do saber, centro do processo,
para dar espaço e poder à criança, pois é por meio das brincadeiras, jogos, observações, questionamentos,
entre outras ações, que a criança explora e constrói conhecimentos.
Para tanto, o professor planeja a ação pedagógica embasado nas teorias que entendem que a criança,
como agente na educação, modifica e é modificada pelo meio, num contínuo processo de adaptação às
novas situações que se apresentam de acordo com valores e normas próprios de sua cultura.
No desempenho de suas funções profissionais, o professor tem como desafio ajudar a criança a
valorizar-se como organismo individual, respeitando o grupo ao qual pertence e oferecendo condições
de ampliação da aprendizagem em situações instigantes e envolventes.
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Unidade II
A tarefa não é fácil, mas possível na medida em que o professor acredite em seu trabalho, se envolva
com o conhecimento e perceba que é também um integrante do grupo, o parceiro mais experiente
da turma, capaz de resistir à tentação de dar uma resposta pronta para ver o empenho da criança em
buscá-la e, assim, proporcionar a ela o prazer da descoberta.
Também é preciso lembrar que para planejar e agir com segurança e criatividade o professor tem que
estar em constante aprimoramento profissional. Pesquisas em livros e na internet, leituras, conversas
com outros professores, sejam da mesma escola ou do outro lado do país, contribuem muito para a
formação continuada dos profissionais da educação. Além disso, escutar verdadeiramente as crianças,
observá-las em suas atividades, participar de suas brincadeiras, descobertas e conversas fornecem ao
professor subsídios para o melhor encaminhamento do trabalho. Quanto mais ele observa, participa e
registra, mais ele conhece cada criança do grupo e pode encaminhar o seu planejamento da forma mais
proveitosa possível.
A criança, sujeito singular, único, possui características próprias e, ao mesmo tempo, faz parte de
grupos diversos, conforme sua cultura, origem, religião, entre outros aspectos.
Ao ingressar na escola de Educação Infantil, a criança passa a participar de mais um grupo social e é
interessante a contradição vivida, não só por ela, mas também pelos adultos que dele participam, pois com
bastante frequência encontra-se, entre os principais objetivos da educação infantil, o desenvolvimento
da socialização e inúmeras vezes o que se presencia são momentos de silêncio, imobilidade e falta de
interação.
Muitos professores esquecem que essa socialização depende da conquista de confiança individual e
da interação entre crianças e adultos. Inúmeras vezes são presenciadas situações em escolas de Educação
Infantil em que a criança é impedida de manifestar suas opiniões, tomar iniciativa ou demonstrar
sentimento.
Pior ainda é quando nessas tentativas a criança, em seu impulso de exploração, por exemplo, mexe
em um material que a professora não queria e o que se vê é que, em vez de se colocar o limite com
afeto e firmeza, há uma sessão de humilhações e xingamentos. Assim fica muito difícil fortalecer-se
individualmente.
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É, portanto, pertinente indagar sobre o real sentido desse objetivo. Os professores estabelecem-no
de fato como um objetivo a ser atingido ou repetem algo que leram em algum lugar, mas não sabem
bem onde nem o que é?
Dessa maneira é possível perceber, em algumas instituições, como o trabalho transcorre de forma
automática, repetindo-se objetivos de um ano para outro no planejamento, sem que haja reflexão.
O volume II do Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil enfatiza a formação pessoal e
social da criança orientada pelo desenvolvimento da identidade e conquista da autonomia, intimamente
relacionados com o processo de socialização, e pode constituir-se em um ótimo material para provocar
a reflexão e orientar as ações do professor, dando-lhe uma visão geral de como promover e integrar os
objetivos relacionados ao desenvolvimento pessoal e social no cotidiano escolar.
Nas interações sociais se dá a ampliação dos laços afetivos que as crianças podem estabelecer com
as outras crianças e com os adultos, mas, conforme já dissemos, não se pode dizer que a socialização
da criança começa na escola de Educação Infantil, pois ela, desde que nasce, participa de outros grupos
sociais. O próprio nascimento, momento em que a criança recebe as primeiras visitas na maternidade e
em casa, já é um evento social do qual um determinado grupo participa.
Lembrete
A ampliação das relações sociais contribui para o reconhecimento das características próprias de
cada um, da constatação das diferenças entre as pessoas, valorizando-as e aproveitando-as para o
enriquecimento de si próprias, na medida em que a criança percebe que é perfeitamente natural que as
pessoas tenham opiniões divergentes e maneiras de agir diferentes.
Além disso, a escola de Educação Infantil é um dos espaços de inserção das crianças nas relações
éticas e morais que permeiam a sociedade na qual estão inseridas. No espaço escolar, por ser parte
de um grupo maior, a criança desenvolve conceitos de cooperação, honestidade, justiça, entre outros
valores que eventualmente não sejam tão valorizados em casa. Também a participação em atividades
coletivas que envolvam divisão e empréstimo de materiais, tão comuns na escola, em algumas famílias,
principalmente as de apenas um filho, podem não ser corriqueiras, simplesmente porque não há como
acontecerem e não por displicência familiar.
Na medida em que se relaciona, então, a criança vai se formando como pessoa que participa de
variados grupos sociais e esse processo é orientado, segundo o Referencial Curricular Nacional para
a Educação Infantil, por dois eixos principais: a construção da identidade e o desenvolvimento da
autonomia, que se referem ao conhecimento, desenvolvimento e uso dos recursos pessoais nas várias
experiências e diferentes situações da vida.
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Unidade II
A identidade se relaciona ao que é próprio, específico e singular a cada pessoa, o que a torna
diferente das demais, seu conjunto de modos de agir e de pensar, além das características físicas.
A autonomia é a capacidade de se conduzir e tomar decisões por si, levando em conta regras, valores,
sua perspectiva pessoal, bem como a perspectiva do outro.
Figura 26 Figura 27
Essa autonomia é conquistada aos poucos, em um processo lento, cheio de avanços e retrocessos.
A princípio, a criança vive um período de heteronomia, ou seja, suas ações, o cumprimento de normas
ocorre por orientação dos adultos, pois ela ainda não é autônoma em seus atos.
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Daí a importância do professor preparar situações nas quais a criança possa perceber-se como
pessoa, construindo sua identidade, e nas quais ela possa exercitar a independência e a autonomia.
Durante o seu desenvolvimento, para firmar-se como pessoa, a criança passa por determinados
processos que reforçam sua identidade. Entre eles estão os processos de fusão e diferenciação, a
construção de vínculos e a expressão da sexualidade.
Nos processos de fusão e diferenciação o que ocorre é que, ao nascer, o bebê encontra-se num
estado de fusão com a mãe e não consegue distinguir a separação entre os dois. Aos poucos adquire
consciência dos limites de seu corpo, bem como das consequências de seus movimentos. São as noções
preliminares de que ele é um organismo independente e então começa a diferenciar-se dos outros.
Também é por isso que o bebê pode manifestar descontentamento e chorar ao passar de um colo para
outro, pois percebe a separação de corpos.
Aos poucos, o bebê adquire consciência dos limites de seu próprio corpo,
bem como das consequências de seus movimentos. Essas conquistas podem
ser exemplificadas pelo encantamento em que fica quando descobre que
pode comandar os movimentos de sua mão, ou pela surpresa com que reage
quando morde o próprio braço e sente dor. A exploração de seu corpo e
movimentos, assim como o contato com o corpo do outro, são fundamentais
para um primeiro nível de diferenciação do eu (RCNEI, 1998, vol. II, p. 15).
Figura 28
A criança também precisa fortalecer laços para se sentir segura em suas relações sociais. Os principais
mediadores da criança são aqueles com os quais ela construiu vínculos afetivos estáveis, ou seja, as pessoas
com as quais convive com frequência e, por isso, sente-se segura em sua presença ou em seu colo.
Figura 29
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ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Outra questão polêmica são as brincadeiras sexuais, que invariavelmente causam constrangimento
aos adultos, porém precisam ser vistas como ações exploratórias necessárias ao autoconhecimento.
Vale lembrar que, do ponto de vista da criança, porém, não é necessário que
ela tenha presenciado a cenas ou a representação de cenas de sexo nos meios
de comunicação para que se envolvam em explorações ou jogos sexuais. A
motivação para essas brincadeiras pode vir exclusivamente de curiosidades
e desejos, integrantes de um processo normal de desenvolvimento (RCNEI,
1998, vol. II, p. 18).
A sexualidade tem grande importância na vida dos seres humanos, pois não está apenas relacionada
à reprodução, mas leva a sensações prazerosas, que interferem na vida psíquica das pessoas.
O professor deve estar atento e tomar cuidado ao interpretar a ação da criança. Muitas vezes, os
professores acreditam que a criança esteja com algum problema relacionado ao desenvolvimento sexual
pelo fato dela manipular-se com muita frequência. Porém, é preciso verificar se não há problema de
ordem física, como uma micose ou outro tipo de infecção que possa causar coceiras e então a criança
mexe em seus órgãos genitais para aliviar o desconforto.
Em todo caso, o ideal é solicitar à família que leve a criança ao pediatra para verificar a causa. Dessa
forma, o professor elimina a possibilidade de causa física, se for o caso, e aí sim pode encaminhá-la a
um psicólogo para levantar possíveis causas emocionais.
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Essa aprendizagem da criança depende dos vínculos que estabelece, das interações com outras pessoas
que farão a mediação de conhecimentos. Para aprender, a criança utiliza alguns recursos tais como a
imitação, o brincar (faz de conta), a oposição, a linguagem e a apropriação da imagem corporal.
A imitação é natural no desenvolvimento da criança, pois está relacionada ao desejo de ser aceita,
de identificar-se ou diferenciar-se usando como referências as pessoas próximas a ela. Não é apenas
repetição mecânica das atitudes dos outros, pois observando, criança vai elaborando, aprendendo e
incorporando novos comportamentos.
Opor-se significa diferenciar-se do outro, afirmar o seu ponto de vista, os seus desejos que, por serem
diferentes, reforçam a identidade da criança e, por isso, a oposição deve ser encarada normalmente
como parte do processo de desenvolvimento.
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Ao perguntar a uma criança bem pequena de quem é uma determinada mochila, a criança que,
hipoteticamente, se chama Carolina, responderá: “é da Carolina”. Tempos depois, ao fazer a mesma
pergunta, ela responderá: “é minha”. O mesmo ocorre quando se pergunta, genericamente, quem quer
tomar sorvete e ela responde: “a Carolina quer”. Tempos depois, a resposta para a mesma pergunta será:
“eu quero”.
Por meio das explorações que faz, do contato físico com outras pessoas, da
observação daqueles com quem convive, a criança aprende sobre o mundo,
sobre si mesma e comunica-se pela linguagem corporal (RCNEI, 1998, vol.
II, p. 24).
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Observação
Diante das informações teóricas sobre as concepções, os processos vivenciados pela criança e os
recursos de aprendizagem, os quais ela utiliza para aprender a conviver em sociedade, o professor precisa
estabelecer determinados objetivos para facilitar o desenvolvimento pessoal e social da criança. Assim,
o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil auxilia o professor nessa tarefa, indicando os
objetivos descritos abaixo.
- experimentar e utilizar os recursos de que dispõe, como o choro, a fala, os gestos para satisfazer
as suas necessidades;
- reconhecer e familiarizar-se com a imagem do próprio corpo;
- interessar-se pelo cuidado com o próprio corpo;
- brincar;
- relacionar-se com outras crianças e adultos da instituição de Educação Infantil, demonstrando
necessidades e interesses.
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As orientações didáticas apresentadas no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil são
relevantes para que o professor planeje as situações de aprendizagem que poderá oferecer às crianças.
Começando pela autoestima, o professor deve estar atento a todas as oportunidades em que possa
ajudar a criança a formar uma boa imagem de si mesma. É claro que, como qualquer outro processo de
desenvolvimento, envolve avanços e retrocessos.
Figura 33
Oferecer oportunidades de escolha também faz parte das ações às quais o professor deve estar atento,
pois a criança precisa ter oportunidades de escolhas entre diferentes possibilidades para desenvolver
iniciativa e fortalecer suas opiniões a cerca de suas preferências.
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Figura 34 Figura 35
As brincadeiras de faz de conta ou jogo simbólico precisam ter espaço fixo no planejamento
do professor, especialmente para as crianças maiores, que por volta de três anos de idade já estão
desenvolvendo a capacidade de simbolizar, assim como situações de interação, jogos de esconder e
aparecer (o rosto ou o corpo) e brincadeira de imitação para os bebês desde o nascimento até os dois
anos de idade, aproximadamente.
Figura 36
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Em todos os momentos é preciso que haja interação. A oportunidade de interação deve ser prioridade
máxima na instituição, mesmo que eventualmente possa gerar certos conflitos. Até na hora do descanso
deve-se dar preferência aos colchões organizados no chão em vez de manter as crianças em berços
individuais, que dificultam a visualização umas das outras, impedindo a interação. Incluir as crianças com
necessidades especiais, quando houver, também é uma oportunidade de diversificar a convivência.
Figura 37
As brincadeiras com espelho são recursos importantes para a construção da identidade. A imagem
corporal refletida leva a criança a conhecer-se e reconhecer-se em suas características físicas para, em
seguida, ampliar para a identificação das características de personalidade, o jeito de ser próprio de cada
pessoa.
Figura 38
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O professor pode incentivar a criança a se observar, fazer caretas, dançar, executar movimentos e,
conforme elas vão crescendo, após os três ou quatro anos de idade, incluir brincadeiras que envolvam
o reconhecimento de transformações com uso de fantasias, maquiagem e acessórios, o que para as
crianças menores é ainda muito difícil, pois elas não reconhecem quem está por trás desses apetrechos
e podem ficar com medo.
Outro recurso interessante são as fotografias nas quais as crianças possam identificar parentes,
amigos e reconhecerem a si próprias.
Também é preciso favorecer a independência da criança estimulando-a a realizar ações as quais tenha
condição de fazer, especialmente em relação aos cuidados físicos. Nesse aspecto, os adultos são modelos
para as crianças e assim, observando-os, as crianças vão se interessando por cuidar de si mesmas.
No cotidiano escolar, tratar da segurança do ambiente e das atividades é uma tarefa importante do
professor. Orientar as crianças quanto ao uso de utensílios, brinquedos e outros objetos de forma segura,
como a maneira correta de utilizar um garfo ou uma tesoura, de executar atividades e experiências com
velas ou como manipular objetos que, eventualmente, possam ser engolidos.
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O cuidado com a segurança física das crianças, a colocação de limites transmite a elas um sentimento
de proteção bastante benéfico ao desenvolvimento emocional.
No ambiente escolar não é necessário abolir os materiais que ofereçam certo perigo, mas orientar
a criança quanto à utilização. Por exemplo, em relação ao uso de tesouras, não seria adequado
simplesmente suspender atividades que as envolvam, pois a sua manipulação conduz ao treino
de habilidades motoras importantes para a aprendizagem infantil. Daí a importância do professor
antecipar os riscos, orientar o que será feito com o determinado instrumento e colocar condições
para a manipulação.
Conforme as crianças crescem, o professor vai ampliando as possibilidades de atividades. Entre três
e quatro anos, algumas crianças já começam a interessar-se pela escrita, especialmente do nome, que
é uma marca importante de sua identidade. Cabe ao professor incentivar a criança, estimulando esse
interesse, por exemplo, solicitando uma pesquisa sobre quem escolheu o nome, o que ele significa,
enfim, a história do nome da criança, não menosprezando sua capacidade com a crença de que ela não
será capaz de escrever.
Outra possibilidade interessante é etiquetar os pertences das crianças com cartões que contenham
o nome, a fotografia e um símbolo (sempre igual e próprio para cada um).
CAROLINA
Figura 39 Figura 40
Essa prática pode ser iniciada no berçário, com crianças que ainda engatinham. Além dos objetos de
uso pessoal, como mochilas e lancheiras, o professor pode providenciar pequenos bancos ou almofadas
para as crianças sentarem, identificando-os da mesma forma. Assim que chegam, elas procuram o
seu banquinho ou almofada e é impressionante perceber como desde muito cedo, antes mesmo de
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conseguirem verbalizar, elas são capazes de identificar e alertar os colegas de que pegaram o banquinho
errado.
Ao perceber que a criança distingue o seu cartão com facilidade, retira-se a foto e mantém-se o
nome e o símbolo de cada criança.
CAROLINA
Figura 41
Conforme a criança avança na identificação de seus pertences, o professor retira também o símbolo
e passa a utilizar apenas etiquetas com os nomes, sempre em letra bastão, como mostram as figuras.
As crianças acostumadas a essa prática podem passar a identificar o seu nome de forma escrita muito
precocemente, por volta de três anos de idade.
Depois disso, o professor pode aumentar o grau de dificuldade, trabalhando com os nomes de todas
as crianças misturados para serem encontrados individual ou coletivamente, em brincadeiras ou na hora
de constatar as faltas do dia, entre outras possibilidades.
Outro tipo de atividade interessante é a observação de fotos para que a criança reconheça seus
familiares e amigos e se reconheça entre eles. Solicitar fotos de família e montar álbuns e murais para a
sala estimula a construção da identidade e a noção de pertencimento a grupos sociais variados.
Figura 42 Figura 43
Também vão se ampliando as possibilidades de realização de tarefas e outras atividades, que apesar
de não garantirem a autonomia, são condicionantes para o desenvolvimento, como a organização da
sala, a varredura de uma sujeira que caiu no chão, a arrumação da mesa para o lanche. A imobilidade
é incompatível com a independência e não se pode esquecer que o desenvolvimento pessoal e social é
orientado pela construção da identidade e conquista da autonomia.
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Unidade II
No cotidiano, nas relações entre as pessoas, nas atitudes de cada um é que aparecem os preconceitos
ou o respeito à diversidade. Nesse aspecto, o professor é um modelo observado pelas crianças e, por isso,
a aceitação do outro deve estar presente constantemente na ação do adulto.
Relativa às diferenças também está a identidade de gênero, pois deve haver igualdade e respeito
entre as pessoas de sexos diferentes e, para desenvolver esse sentimento, é preciso permitir que a
criança brinque com papéis de homem e de mulher.
A interação entre as crianças, fundamental nas atividades cotidianas relativas ao grupo social que é
a escola, vai se expandindo na medida em que a criança vai dominando e aprimorando a fala. Com ela,
os modos de interação se diversificam e a troca de ideias é favorecida.
Os jogos e as brincadeiras de reconhecer o próprio corpo e o corpo do outro podem ser atividades
de rotina. Um exemplo de brincadeira pode ser a de sentir os sinais vitais, como a respiração normal e
alterada antes e depois de uma corrida.
Podem ser planejadas articulações com outros eixos de trabalho, como, por
exemplo, pedir que as crianças modelem parte do corpo em massa ou argila,
tendo o próprio corpo ou o do outro como modelo. Essa possibilidade pode
ser aprofundada, se forem pesquisadas também obras de arte em que partes
do corpo foram retratadas ou esculpidas. É importante lembrar que neste
tipo de trabalho não há necessidade de se estabelecer uma hierarquia prévia
entre as partes do corpo que serão trabalhadas. Pensar que para a criança
“é mais fácil” começar a perceber o próprio corpo pela cabeça, depois pelo
tronco e por fim pelos membros, por exemplo, pode não corresponder à sua
experiência real. Nesse sentido, o professor precisa estar bastante atento
aos conhecimentos prévios das crianças acerca de si mesmas e de sua
corporeidade (RCNEI, 1998, vol. II, p. 45).
hábitos a serem despertados nas crianças, bem como a consciência de seus direitos em usar dependências
limpas, como sanitários, cozinha, sala de aula e área externa com recursos materiais apropriados e
adequados, como cesto de lixo, papel higiênico, entre outros.
Alguns professores adoram fazer projetos sobre higiene, trabalhando atividades concernentes por
uma semana ou quinzena, e no cotidiano, quando a criança pede para lavar as mãos, alega que não
é necessário, o que acaba por gerar uma confusão de valores e hábitos. É preciso frisar para que não
restem dúvidas: higiene é hábito e não tema para projeto.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil também lança um tópico chamado
Orientações Gerais para o Professor, no qual traça, em linhas gerais, outras atitudes esperadas de
um bom profissional, tais como o estabelecimento de um clima de segurança, confiança, afetividade,
incentivo, elogios e limites colocados de forma segura e afetiva que determinam a qualidade da interação
entre adultos e crianças. O professor consciente de que o vínculo é, para a criança, fonte contínua de
significações reconhece e valoriza as relações interpessoais. Ele também promove o ambiente físico da
escola e da sala de aula como um espaço de proteção, alimentação, cuidados com os dentes, banho,
troca de fraldas, sono e repouso.
• atividades permanentes que constituem a rotina, como hora da roda, hora do faz de conta,
momento em que a criança pode falar de si mesma, suas atividades, sua vida.
• sequência de atividades com o objetivo de construir a identidade e a autonomia. Pode-se,
por exemplo, introduzir passo a passo uma atividade, como escovar os dentes, trabalhando os
movimentos, graduando as dificuldades.
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Nessas complexas relações de convivência, o professor tem uma função de grande responsabilidade,
que é ajudar a criança a internalizar valores e normas específicos de cada sociedade, colaborando para
a formação de um cidadão participativo, cooperativo, solidário, capaz de estabelecer laços afetivos.
O incentivo a condutas de cortesia, cada vez mais escassas nos dias de hoje, é importante para que a
criança vá percebendo as situações pelo ponto de vista coletivo e, aos poucos, procure a solução de
conflitos pelo diálogo ou outras formas que não envolvam comportamentos violentos, tão comuns no
atual cotidiano escolar.
Os sermões e lições de moral não funcionam com crianças tão pequenas. Elas aprendem muito
mais observando os adultos e quando eles cometem atos violentos, sejam físicos ou psicológicos, estão
violando as regras de convivência que procuram ensinar às crianças. Como diz o ditado: “o exemplo vale
mais do que mil palavras”.
Porém, quando crianças de famílias diferentes, com valores e regras de conduta também diferentes,
se reúnem num mesmo espaço, como é o caso da escola de Educação Infantil, é natural que as crianças
adquiram hábitos não aceitáveis em suas famílias, misturam-se normas e crenças e surgem muitos
conflitos.
Ao mesmo tempo em que ocorrem gestos de solidariedade, quando uma criança consola outra que
chora ou um amigo ajuda outro na construção de um projeto, também acontecem as disputas por
brinquedos, os sentimentos de ciúme e raiva.
sobre o que significa ser justo, verdadeiro, belo é uma valiosa arena de
crescimento pessoal (OLIVEIRA, 2010, p. 146).
Estudos recentes como o de Iza Rodrigues Luz sobre a violência, indisciplina e agressividade nas
relações entre adultos e criança, relatados no texto Relações sobre crianças e adultos na educação
infantil, esclarecem as condições de entendimento das crianças a respeito de regras e proibições.
Enfim, o professor, no exercício de suas funções deve observar os objetivos relacionados para o
desenvolvimento da socialização nas instituições de Educação Infantil dispostos na Resolução da Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação - CEB/CNE n. 05, de 17 de dezembro de 2009:
O mundo mudou, as crianças estão muito diferentes. Hoje elas são o centro das organizações familiares e
escolares e estão muito mais participativas, portanto, a escola delas e para elas precisa também mudar. Oferecer
condições para o desenvolvimento pleno, para relações afetivas. A austeridade, seriedade e autoritarismo não
têm mais espaço nas relações entre professores e alunos das escolas de Educação Infantil.
Por isso, o currículo não é um programa predeterminado, fixo, mas possui eixos orientadores
que ajudam o professor a encaminhar as situações de aprendizagem que possam constituir-se em
experiências ricas para as crianças.
Figura 44 Figura 45
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Unidade II
Para orientar a ação do professor, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil indica
os eixos identidade e autonomia na formação pessoal e social e para o conhecimento de mundo, os que
seguirão neste texto.
Os eixos de movimento, música, linguagem oral e escrita e artes visuais são considerados linguagens
expressivas, pois por elas as crianças exploram, apreendem, elaboram e comunicam seus processos de
desenvolvimento e aprendizagem.
As linguagens expressivas permeiam todo o cotidiano escolar e devem ser usadas realmente como
formas de expressão e não como atividades isoladas, como acontecia anteriormente nas escolas.
Não cabe mais no contexto da educação infantil, depois de tantas descobertas interessantes sobre o
desenvolvimento das crianças, um momento para colorir e colar raspas de lápis num desenho pronto ou
o treino exaustivo de letras e números soltos.
A pintura e a escrita de palavras ou de números, entre tantas outras possibilidades, estão a serviço
do registro de informações relevantes, como a quantidade de minhocas recolhidas para a formação do
minhocário da turma ou a escrita dos ingredientes necessários para a receita a ser preparada.
Assim, o currículo deve empreender uma viagem de descobertas instigantes, por meio da pesquisa,
da ação, do dinamismo, contando com uma relação cooperativa entre professores problematizadores do
cotidiano e crianças ávidas em desvendar o mundo.
Um tipo de trabalho como esse, tão rico em possibilidades, requer do professor principalmente
ousadia e segurança na tomada de atitudes e decisões que só podem ser conquistadas com uma sólida
e reflexiva formação teórica.
O professor não pode recuar a cada questionamento feito pela direção da escola ou pelas famílias,
mas fazer deles seus aliados. Deve mostrar seus objetivos e argumentar sobre seus critérios na seleção
dos conteúdos. Quando bem fundamentadas, as explicações convencem e o trabalho comprova o avanço
de conhecimentos das crianças.
A criança, assim que nasce, já procura comunicar-se. Por meio do choro, ela é capaz de alertar o adulto
sobre suas necessidades, como fome e dor, entre outras sensações. Conforme cresce, vai ampliando suas
possibilidades, desde o balbucio até a verbalização.
Ao tentar comunicar-se, a criança lança mão de inúmeros recursos; por exemplo, antes de falar ela pode
apontar para um copo e repetir a vogal “a” diversas vezes e o adulto entenderá então que ela quer água.
Figura 46
Alguns professores acreditam que estarão estimulando a criança se não derem a água até que ela
consiga falar, ao menos, um esboço da palavra. Muitas vezes eles julgam ser “preguiça” da criança o fato
de ela não conseguir falar, mas é, de fato, uma aprendizagem difícil e, portanto, ela usará outras formas,
preferencialmente as corporais, para enviar a mensagem.
A linguagem oral e a escrita são, muitas vezes, consideradas mais importantes do que outras em
certas instituições, o que é um erro, pois a criança constrói conhecimento na interação com o meio e
com outras pessoas e, nessa comunicação, utiliza-se das várias linguagens expressivas para elaborar
o que apreendeu. A criança desenvolverá a oralidade ou a escrita, assim como as outras formas de
expressão, se for incentivada a usá-las, livre e espontaneamente.
É claro que a linguagem oral é absolutamente importante, afinal, é a maneira mais rápida e prática
de comunicar necessidades, realizar pedidos, fazer perguntas, entre tantas outras situações. Os jogos
orais e o diálogo devem ser sempre presentes e incentivados entre as crianças e adultos, mas a oralidade
não é a única forma de expressão, e para que a criança tenha confiança no adulto, precisa sentir que ele
quer compreendê-la, independente da modalidade de comunicação usada.
Para efeito de organização, na intenção de auxiliar o professor na clareza dos objetivos em seu
planejamento, as linguagens expressivas e os demais eixos de conhecimento de mundo são apresentados
separadamente, mas no cotidiano devem ser integrados em torno de assuntos de interesse das crianças,
pois assim o trabalho ganha coerência e consistência.
Movimento
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, em relação ao movimento, esclarece que
ele está presente desde o nascimento, a princípio em manifestações simples que vão se aperfeiçoando
conforme a criança cresce. Não se trata apenas de um deslocamento, mas é, também, um tipo de
linguagem e está relacionado à cultura humana.
O teatro e a dança também são perfeitos exemplos do movimento como forma de expressão. Na
Antiguidade os povos primitivos os usavam nos rituais a fim de agradar aos deuses para conseguirem
boas colheitas ou sucesso em batalhas. Com a compreensão humana dos fenômenos naturais, essas
atividades passaram a ser cada vez mais formas de entretenimento.
Encenar histórias ou criar danças conforme o que a música sugere também são propostas interessantes,
desde que o professor respeite as sugestões das crianças e não exija perfeição nas falas e movimentos
infantis, afinal, a ideia é expressar e não reproduzir.
Figura 47
105
Unidade II
Alguns profissionais da área de Educação Infantil acreditam que o movimento gera indisciplina, por
isso tentam manter a criança imóvel durante a maior parte do tempo com atividades sistematizadas e
períodos longos de espera. Outros desenvolvem exercícios corporais restritos, com comandos específicos,
enfatizando o adequado deslocamento no espaço.
Com bastante frequência, pode-se observar nas escolas de Educação Infantil os grupos de crianças
em longos períodos de espera, como na hora do lanche. Normalmente a professora leva todas as crianças
para lavar as mãos e, enquanto algumas fazem a higiene, outras esperam sua vez. Quando estão todas de
mãos lavadas, muitas vezes sentadinhas num canto de parede com aquelas mãozinhas limpas apoiadas
no chão (ou seja, novamente sujas), forma-se a fila para elas se encaminharem ao local reservado ao
lanche. Todas se acomodam sentadas nas cadeiras, mas ainda não podem comer, pois é preciso esperar
que todas recebam a refeição. E, como se não bastasse, ao final é preciso esperar que todas terminem de
comer para passarem a outra atividade.
O mesmo acontece em outros momentos. Invariavelmente, enquanto não estão todas preparadas, a
atividade não se inicia. Até parece um quartel ou uma fábrica em linha de produção, pois alguns profissionais
não conseguem admitir a ideia de que as crianças possam fazer coisas diferentes ao mesmo tempo.
A questão não é deixar que as crianças façam o que quiserem, na hora que quiserem, como alguns
professores tradicionais podem argumentar, mas sim preparar a rotina para que elas não tenham que
esperar tanto.
Por exemplo, se no refeitório as crianças não estiverem rigidamente separadas em seus grupos,
pode-se fazer um esquema de rodízio. Uma professora fica com aqueles que ainda estão comendo
enquanto outra ajuda na escovação de dentes e outra promove atividades recreativas. Dessa forma,
não há irritação das crianças por terem que esperar nem dos adultos por terem que controlar crianças
agitadas, entediadas por não terem com o que se envolver.
É impossível ouvir uma música sem acompanhá-la com movimentos corporais, justamente porque o
corpo está interpretando a melodia e manifestando-se expressivamente. Reiterando:
106
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Cada cultura possui seu jeito próprio de preservar esses recursos expressivos do
movimento, havendo variações na importância dada às expressões faciais, aos
gestos e às posturas corporais, bem como nos significados atribuídos a eles.
O desenvolvimento motor ocorre por meio de conquistas graduais, iniciando no primeiro ano de
vida, com ações exploratórias que, a princípio, são a única forma de movimento para os bebês. As
expressões faciais de dor ou desconforto atendidas pelo adulto vão mostrando ao bebê a capacidade
expressiva do corpo.
107
Unidade II
O movimento desordenado, aos poucos, vai se transformando em ato consciente. Quando o bebê,
sem querer, bate sua mão num brinquedo e ele, de alguma maneira, responde, provoca a criança a tentar
repetir aquela ação ou quando pega objetos e tenta levá-los à boca. Com o tempo as funções motoras
vão se aprimorando, passando da gratuidade à intenção e consciência dos limites do corpo.
Entre um e três anos de vida a criança aprende a andar e vai gradativamente tornando-se independente
para explorar o ambiente e outros objetos.
Também conhece cada vez mais seu corpo e suas possibilidades, especialmente nas brincadeiras
diante do espelho.
108
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Em torno de quatro até seis anos de idade, o movimento passa a ter caráter voluntário, decorrendo
dos desejos e necessidades da criança. Dessa maneira, a criança amplia seu repertório motor e dá
significado cultural a vários tipos de ações.
Figura 56 Figura 57
Os objetivos estabelecidos no Referencial Curricular para a Educação Infantil são, para as crianças
de zero a três anos, familiarizar-se com a imagem do próprio corpo; explorar possibilidades corporais;
deslocar-se com destreza; confiar no espaço e explorar e usar vários tipos de movimentos. Para as
crianças de quatro a seis anos, ampliar e aprofundar os objetivos anteriores e ainda ampliar possibilidades
de expressão do movimento; explorar diferentes formas, dinâmicas, limites e potencialidades do corpo;
adquirir controle de movimentos; usar os movimentos no manuseio de diferentes materiais e objetos;
apropriar-se da imagem global de seu corpo.
Quanto aos conteúdos, devem priorizar a capacidade expressiva e instrumental dentro de cada
faixa etária e de acordo com a cultura de cada região. A expressividade relaciona-se aos significados
109
Unidade II
Algumas brincadeiras de vibrar a língua, como imitar sons de telefone, motor de caminhão, entre
outros, auxiliam no fortalecimento do tônus da região facial, composta por pequenos músculos, o que
favorece a articulação das palavras. Por outras brincadeiras, como encher balões ou fazer bolhas de
sabão, também são capazes de atingir esse objetivo.
Figura 58 Figura 59
Por meio do corpo, as crianças vivem importantes experiências sensoriais. Os cinco sentidos são os
recursos de exploração do mundo. Ao pegar, cheirar, balançar, arrastar, as crianças vão conhecendo as
propriedades dos objetos e suas reações frente às ações das pessoas.
Na exploração de movimentos como pular, correr, abaixar, subir e descer as crianças também
constroem as relações com o espaço, como posições, alturas, deslocamentos e lateralidade. A lateralidade,
por exemplo, auxilia a criança no entendimento de que a leitura e a escrita são realizadas da esquerda
para a direita.
A princípio, é pelo movimento que as crianças vão formando as conexões neurais e as bases das
estruturais mentais, preparando o cérebro para pensar em situações cada vez mais complexas. Daí a
importância de se promoverem jogos e brincadeiras corporais que, além de agradáveis, são fundamentais
ao desenvolvimento cognitivo das crianças.
Música
110
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Ao explorar os sons em seu dia a dia, a criança brinca com objetos e com o corpo. Fica feliz quando
consegue bater palmas, estalar os dedos ou assobiar. Envolver-se com a música é uma atividade prazerosa,
lúdica e relaxante, como diz o ditado: “Quem canta seus males espanta”.
A linguagem musical tem estrutura e características próprias, devendo ser considerada como:
produção, apreciação e reflexão.
Na apreciação, enfatiza-se a percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações
musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e
reconhecimento.
Na reflexão, exercícios sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais.
Figura 60
As crianças imitam o que ouvem e também inventam linhas melódicas ou ruídos, explorando
possibilidades vocais, da mesma forma como interagem com os objetos e brinquedos sonoros
disponíveis, estabelecendo, desde então, um jogo caracterizado pelo exercício sensorial e motor com
esses materiais.
A escuta de diferentes sons, sejam eles produzidos por brinquedos sonoros ou vindos do próprio
ambiente doméstico, também é fonte de observação e descobertas que provocam reações. A audição de
músicas provoca diversas sensações e respostas. As crianças podem, por exemplo, mostrar-se mais ou
menos agitadas conforme o ritmo musical apreciado.
Em algumas escolas de Educação Infantil não há um trabalho com a música que permita à criança
usá-la como uma linguagem expressiva. Muitas vezes, as atividades se encerram na repetição de um
repertório infantil comercial sem que se possa desenvolver a musicalidade, pois o ritmo dessas músicas
é sempre o mesmo, variando apenas a letra.
Pior ainda é quando o professor deixa a criança ouvir músicas populares cujo conteúdo inclui forte
apelo sexual sem ao menos discutir com o grupo a pertinência desse repertório na sala de aula. O professor
precisa ter cuidado na seleção dos materiais que utilizará para desenvolver atividades musicais.
Há que se tomar cuidado para não limitar o contato das crianças com o
repertório dito “infantil” que é, muitas vezes, estereotipado e, não raro, o
mais inadequado. As canções infantis veiculadas pela mídia, produzidas pela
indústria cultural, pouco enriquecem o conhecimento das crianças. Com
arranjos padronizados, geralmente executados por instrumentos eletrônicos,
limitam o acesso a um universo musical mais rico e abrangente que pode
incluir uma variedade de gêneros, estilos e ritmos regionais, nacionais e
internacionais (RCNEI, 1998, vol. III, p. 65).
O trabalho pedagógico sério e reflexivo deve equilibrar o acervo musical que a criança traz com
as sugestões do professor para a escuta de outros ritmos musicais e não se encerra aí. Ouvir música
se desdobra em atividades como envolver-se com a melodia, entender a letra, procurar sua história,
explorar os instrumentos musicais, entre outras.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil indica como objetivos para as crianças
de zero a três anos que o trabalho com música seja organizado de forma que as crianças desenvolvam
as seguintes capacidades: ouvir, perceber e discriminar sons e ruídos diversos, além de fontes sonoras
e produções musicais; brincar com a música, imitar, inventar e reproduzir criações musicais. Para as
crianças de quatro a seis anos, os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão
ser ampliados e, ainda, as crianças devem explorar e identificar elementos da música para se expressarem,
interagirem com os outros e ampliarem seu conhecimento sobre o mundo; perceberem e expressarem
sensações, sentimentos e pensamentos por meio de improvisações, composições e interpretações
musicais.
Sobre os conteúdos, devem priorizar a música como forma de comunicação e expressão com
possibilidades de exploração de materiais e de escuta de obras musicais; vivência da organização dos
sons e silêncios em linguagem musical; reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano
por meio do fazer musical e da apreciação musical.
O fazer musical indica a ação da criança e é um tipo de comunicação que, de acordo com o Referencial
Curricular Nacional para a Educação Infantil, envolve a improvisação, a composição e a interpretação.
Compor é criar a partir de estruturas fixas e determinadas, como a mudança da letra de uma música
com a sugestão de um tema.
Interpretar é executar uma composição que sofre influência e interferência do intérprete. A imitação
de sons vocais, corporais ou de instrumentos musicais é a forma mais simples de interpretação.
A apreciação musical refere-se à audição e à interação com músicas de diversos ritmos e culturas e
não se deve usar a música apenas como pano de fundo para outras atividades, mas dedicar um tempo
para essa audição atenta.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil também orienta a criação de oficinas, pois
a atividade de construção de instrumentos é importante para a exploração de sons. Também os sons
criados por elementos da natureza que sejam bastante familiares para a criança justifica a organização
de um momento específico de oficina.
113
Unidade II
O espaço no qual ocorrerão as atividades de música deve ter o mobiliário disposto em função das
atividades a serem desenvolvidas.
Em geral, as atividades de música requerem um espaço amplo, uma vez que estão intrinsecamente
ligadas ao movimento. Para a atividade de construção de instrumentos, no entanto, são necessárias
mesas e cadeiras onde as crianças possam sentar-se e trabalhar com calma. O espaço também deve
ser preparado de modo a estimular o interesse e a participação das crianças, contando com alguns
estímulos sonoros.
Como sugestões de obras musicais e discografia, o Referencial Curricular Nacional para a Educação
Infantil indica os acalantos e brincadeiras musicais, muito usados também para acalmar os bebês.
Jogos de escuta dos sons do ambiente, de brinquedos, de objetos ou instrumentos musicais; jogos de
imitação de sons vocais, gestos e sons corporais; jogos de adivinhação ligados a sons.
O trabalho com a música deve reunir toda e qualquer fonte sonora: brinquedos, objetos do cotidiano
e instrumentos musicais de boa qualidade. A voz humana, pios de pássaros, sinos de diferentes tamanhos,
folhas de acetato, brinquedos que imitam sons de animais, entre outros, são materiais interessantes que
podem ser aproveitados na realização das atividades musicais.
Nessa fase é importante misturar instrumentos de madeira, metal ou outros materiais a fim de
explorar os diferentes timbres. Os idiofones são instrumentos de percussão - xilofones e metalofones;
os tambores, que integram a categoria de membranofones; os vários tipos, como bongôs, surdos, caixas,
pandeiros, tamborins; os aerofones, pios de pássaros, flautas de êmbolo; os cordofones ou instrumentos
de cordas.
O registro musical pode ser realizado com movimentos do corpo, por meio de desenho, além da
notação (escrita musical convencional, partituras musicais).
Nessa faixa etária, a criança não deve ser treinada para a leitura e escrita musical na instituição de
Educação Infantil. O mais importante é que ela possa ouvir, cantar e tocar muito, criando formas de
notação musicais com a orientação dos professores.
114
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Todo tipo de instrumento musical pode ser apresentado à criança. Quanto mais materiais sonoros
ela tiver oportunidade de explorar, maior será o seu conhecimento relativo aos sons.
Na atualidade, com os recursos tecnológicos, são inúmeros os recursos disponíveis. É possível acessar
páginas da internet que apresentam os instrumentos musicais, seus sons e possibilidades de arranjos
nas orquestras.
Uma história encantadora é Pedro e o lobo, na qual todos os personagens são representados por
instrumentos musicais.
Artes visuais
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, as artes visuais são formas
de expressar, comunicar e atribuir significado a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por
meio de linhas, formas, pontos, espaço, cor, luz, na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na
arquitetura, nos brinquedos, em bordados e entalhes.
As artes visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao explorar e desenhar no chão,
na areia e nos muros, ao utilizar materiais encontrados ao acaso, como gravetos, pedras e carvão, ao
pintar os objetos e até seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das artes para agregar expressão e
experiências. A arte é linguagem e, portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação
humanas, o que justifica sua presença no contexto da educação infantil.
Figura 65
Desde muito cedo as crianças se interessam por desenhar e pintar, a princípio como atitude exploratória
dos materiais e superfícies de apoio e depois como forma de expressão de pensamentos e sentimentos,
porém, nas escolas de Educação Infantil as atividades com artes assumem funções completamente
dissonantes de suas concepções teóricas.
115
Unidade II
Em muitas propostas de escolas de Educação Infantil, as artes visuais também têm sido usadas como
meros passatempos. Se a criança acabou uma atividade solicitada pelo professor, pode pegar uma folha
e desenhar para esperar até que todos os colegas terminem.
Em outras escolas, ainda, as artes têm uma função decorativa, apenas ilustrando temas de datas
comemorativas. Enfeites confeccionados pelas crianças, em série, todos iguais, como se fosse uma linha
de produção de, por exemplo, coelhos da Páscoa amarelos com orelhas de algodão. Ou então, enfeites
confeccionados pelo professor, os quais as crianças não podem sequer tocar.
A arte sofre influência cultural. As crianças exploram, agem e reagem, sentem, refletem, elaboram
sentidos e sentimentos, constroem significações sobre como se faz, o que é, para que serve e sobre outros
conhecimentos a respeito da arte, que, nesse sentido, devem ser concebidas como uma linguagem com
estrutura e características muito próprias, cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexivo, se dá pela
articulação do fazer artístico com a apreciação e a reflexão.
Desenhos, pinturas com todas as suas técnicas e possibilidades de materiais devem estar à disposição
das crianças. Não há possibilidade de desenvolver um trabalho rico na área artística oferecendo apenas
folhas de papel sulfite e giz de cera. A criança precisa ter contato com vários tipos de suportes; usar
o papel no chão liso é um tipo de exploração completamente diferente de usar no chão crespo, por
exemplo. Colocar embaixo do papel algumas interferências, como lixa de madeira ou ferro, plástico
bolha, papelão ondulado, também oferece outro tipo de sensação. Trocar o papel por materiais plásticos
também é outra possibilidade.
As tintas comerciais não são os únicos recursos materiais para a pintura. Misturas caseiras com sagu
cru ou cozido, farinhas e amido de milho, corantes comestíveis, areia, cola, entre tantos outros elementos,
podem oferecer efeitos admiráveis, além de proporcionar sensações táteis bastante prazerosas.
As construções tridimensionais com papel, sucata, gesso e argila também são explorações artísticas
completamente diferentes, que proporcionam grandes aprendizagens. Quando a criança tem a intenção de colar
objetos plásticos, descobre que os elementos reagem de acordo com sua composição, ou seja, a cola branca não
funciona nesse tipo de material, o que a obriga a repensar seu projeto e levantar novas possibilidades.
Figura 66
Estudar obras artísticas com as quais as crianças desenvolvam identificação é uma maneira eficiente
e prazerosa de aproximá-las da arte que, por muitos anos, parecia algo acessível apenas às pessoas
financeiramente privilegiadas.
Reflexão é pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico, as linhas e formas que se misturam,
os tipos de materiais utilizados, a contextualização espaçotemporal em que a obra foi criada.
Recriá-la é uma maneira de deixar a criança interpretá-la sob seu ponto de vista e apropriar-se de
elementos artísticos que também muitas vezes são considerados inatingíveis.
Figura 67
117
Unidade II
A arte infantil sofre interferência e pode ser enriquecida pela ação intencional do professor, mas a
criação artística é um ato exclusivo da criança. Todas as modalidades artísticas são importantes (pintura,
modelagem, construção tridimensional, colagens), porém, o desenho, recurso que revela com muita
clareza o desenvolvimento infantil desde a passagem dos rabiscos iniciais da garatuja até as construções
cada vez mais ordenadas, nas quais surgem os primeiros símbolos, destaca-se pela simplicidade e
facilidade de materiais.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil define como objetivos para as crianças
de zero a três anos a oportunidade de viver situações nas quais elas possam ampliar o conhecimento
de mundo que possuem, manipulando diferentes objetos e materiais, explorando suas características,
118
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Para as crianças de quatro a seis anos, ampliar e aprofundar os objetivos anteriores e criar condições
para que as crianças sejam capazes de se interessarem pelas próprias produções, pelas produções de
outras crianças e pelas diversas obras artísticas; produzir trabalhos de arte, utilizando a linguagem do
desenho, da pintura, da modelagem, da colagem, da construção, desenvolvendo o gosto, cuidado e
respeito pelo processo de criação.
Os conteúdos estão organizados em dois blocos. O primeiro se refere ao fazer artístico e o segundo
trata da apreciação em artes visuais.
Em relação ao fazer artístico, é importante proporcionar à criança vários tipos de materiais e várias
maneiras de usá-los, permitindo a articulação entre as sensações corporais e as marcas gráficas. Os
diversos materiais para produções artísticas devem ser organizados e identificados de maneira que as
crianças tenham fácil acesso a eles.
Há várias intervenções possíveis, que visam a ampliar o repertório artístico das crianças, e elas devem
ser usadas a fim de contribuir para o desenvolvimento de seus desenhos, no entanto, nenhuma deve
tolher a criação e a expressão infantis.
Apreciação, em artes visuais, se refere às leituras das imagens, gravuras, obras de arte, fotografias,
entre outras, nas quais observam-se materiais e técnicas utilizadas, bem como ao conhecimento da
bibliografia de alguns artistas.
Quanto aos recursos materiais, é importante garantir às crianças acesso a diversos instrumentos,
meios e suportes. Cada região possui uma grande variedade de materiais próprios, tanto naturais quanto
artesanais e industrializados. O professor pode e deve aproveitá-los desde que sejam respeitados os
cuidados relativos à segurança, conforme as faixas etárias.
O trabalho com artes na escola de Educação Infantil também deve ter a intenção de aprendizagem.
É importante incentivar a criança a superar-se a todo momento, dominando técnicas, refletindo sobre
a estética.
É abominável a conduta de desinteresse de alguns professores que mal olham as obras das crianças
e aceitam qualquer rabisco, mesmo sabendo que a criança tem potencial para a realização de trabalhos
mais aprimorados.
O trabalho com a linguagem é a base da educação infantil, em função de sua importância para a
formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na
construção de muitos conhecimentos e na organização e desenvolvimento do pensamento.
Quando a criança fala com mais precisão o que deseja, o que gosta e o
que não gosta, o que quer e o que não quer fazer e a fala passa a ocupar
um lugar privilegiado como instrumento de comunicação, pode haver
um predomínio desta sobre os outros recursos comunicativos. Além de
produzirem construções mais complexas, as crianças são mais capazes
de explicitações verbais e de explicar-se pela fala. O desenvolvimento da
fala e da capacidade simbólica ampliam significativamente os recursos
intelectuais, porém as falas infantis são, ainda, produto de uma perspectiva
muito particular, de um modo próprio de ver o mundo (RCNEI, 1998, vol. III,
p. 126).
A linguagem oral está presente na rotina das escolas de Educação Infantil na medida em que todos
se comunicam, ou seja, crianças e adultos falam expressando sentimentos e ideias. Ela possibilita
comunicar ideias, pensamentos e intenções de diversas naturezas, influenciar o outro e estabelecer
relações interpessoais. Seu aprendizado acontece dentro de um contexto, pois as palavras só têm sentido
em enunciados e textos que significam e são significados por situações socioculturais.
120
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
É muito comum nas escolas de Educação Infantil que o dia comece com uma roda de conversa, que
teria por função promover a comunicação de eventos importantes, acontecimentos com as crianças
ou o que será feito no período. Porém, muitas vezes essa atividade se transforma num monólogo do
professor, que espera as respostas das crianças em coro. É algo mais ou menos assim:
Esse tipo de situação não amplia as possibilidades de uso da linguagem pelas crianças, não é diálogo,
não é conversa, é uma atividade pro forma, pois para que haja comunicação oral é preciso haver
sentimento, troca, uma verdadeira atenção à fala do outro.
Outra questão que precisa ser levantada é o uso de linguagem infantilizada, ou como se pode
encontrar em algumas bibliografias, o tatibitate. O adulto imagina que a criança vai entendê-lo melhor
se usar a mesma forma de falar que ela, como quando lhe pergunta se quer a “dedera”, em vez de
mamadeira, ou se quer “abua” em vez de água. Porém, ao contrário do que esse adulto acredita, a criança
aprenderá a falar corretamente se ouvir as pessoas falando direito. Muitas vezes ela nem entende o que
o adulto quer dizer.
Certa vez, uma criança de aproximadamente dois anos disse para a sua mãe que não gostava do
Batatal. Sua mãe então quis saber mais e perguntou:
— Quem é o Batatal?
A criança respondeu:
— Mamãe, não é Batatal. É Batatao.
Na dúvida, perguntou onde o havia visto, pois a criança já estava nervosa por a mãe não conseguir
decifrar a palavra. A criança disse que era da televisão e então a mãe pediu que quando aparecesse, a
chamasse.
Um pouco depois, a criança chamou e a mãe correu para ver quem era. Era o filme Xuxa contra o
Baixo Astral. Portanto, a criança sabia exatamente o que ouvia e qual era o nome do personagem do
filme, o tal do Baixo Astral, mas não conseguia pronunciar corretamente.
Em situação completamente contrária, alguns adultos são tão ansiosos para que a criança fale
corretamente que ficam corrigindo a todo momento. Esse tipo de atitude também não é adequado, pois
121
Unidade II
acaba inibindo a comunicação espontânea da criança. Enfim, para que ela aprenda a falar, basta que se
fale corretamente com ela.
Na linguagem oral, desde muito cedo os bebês emitem sons articulados que lhes dão prazer e que
revelam tentativas de comunicação com os outros. Além da fala, a comunicação ocorre por gestos,
sinais e linguagem corporal, que dão significado e apoiam a linguagem oral dos bebês. Aprender a falar,
portanto, não consiste apenas em memorizar sons e palavras.
Figura 68
Nas interações, a criança é estimulada a comunicar-se oralmente e com essas aproximações ela
vai aprendendo as regras linguísticas, processo que envolve desenvolvimento cognitivo e não apenas
coordenação dos músculos da face e memorização de palavras.
Para aprender a ler e a escrever, a criança também precisa construir um conhecimento de ordem
conceitual, pois envolve esforço cognitivo para compreender não só o que a escrita representa, mas
também de que forma ela representa graficamente a linguagem.
122
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Nas sociedades letradas, as crianças, desde os primeiros meses, estão em permanente contato com
a linguagem escrita. É por meio desse contato diversificado em seu ambiente social que as crianças
descobrem o aspecto funcional da comunicação escrita, desenvolvendo interesse e curiosidade por essa
linguagem.
A aprendizagem da linguagem escrita está associada ao contato com textos diversos, para que as
crianças possam construir sua capacidade de ler e as práticas de escrita, podendo, assim, desenvolver a
capacidade de escrever autonomamente.
Não é raro observar as crianças muito pequenas que têm contato com material escrito folhear um
livro, emitir sons e fazer gestos como se estivessem lendo.
Observação
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil destaca como objetivos para as crianças
de zero a três anos organizar um ambiente no qual elas possam participar de variadas situações de
comunicação oral, para interagir e expressar desejos, necessidades e sentimentos por meio da linguagem,
contando suas vivências; interessar-se pela leitura de histórias; familiarizar-se aos poucos com a escrita
por meio da participação em situações nas quais elas se façam necessárias e do contato cotidiano com
livros, revistas, histórias em quadrinhos, entre outros materiais de leitura.
123
Unidade II
Figura 69
Para as crianças de quatro a seis anos, ampliar e aprofundar os objetivos anteriores e ainda propiciar
à criança ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando-se por
conhecer vários gêneros orais e escritos; familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros,
revistas e outros textos; escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; interessar-se por
escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional; reconhecer seu nome escrito, sabendo
identificá-lo nas diversas situações do cotidiano; escolher os livros para ler e apreciar.
Lembrete
Quanto ao estabelecimento dos conteúdos, devem ser selecionados pela aproximação com as
vivências das crianças, ou seja, a linguagem usada em inúmeras situações sociais. Para que a criança se
interesse, é preciso que ela perceba a função da leitura e da escrita nessas situações.
Falar e escutar para conversar, brincar, comunicar e expressar desejos, necessidades, opiniões,
ideias, preferências e sentimentos; relatar suas vivências nas diversas situações de interação presentes
no cotidiano; perguntar e responder de acordo com os diversos contextos de que participa; explicar
e argumentar suas ideias e pontos de vista; relatar experiências vividas e narrar fatos em sequência
temporal e causal; recontar histórias conhecidas com aproximação às características da história original
no que se refere à descrição de personagens, cenários e objetos, com ou sem a ajuda do professor;
conhecer e participar de jogos verbais, como trava-línguas, parlendas, adivinhas, quadrinhas, poemas e
canções.
Lembrete
Pode parecer óbvio, mas as crianças aprendem a falar falando e a escrever escrevendo. Isso significa
que o professor deve oferecer momentos em que a criança possa expressar-se pela fala e pela escrita,
preferencialmente de forma espontânea.
Para as práticas de leitura, o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil sugere:
Os principais recursos que precisam estar disponíveis na instituição de Educação Infantil são os
textos trazidos para a sala nos seus portadores de origem, isto é, os livros, jornais, revistas, cartazes e
cartas.
O gravador ou a filmadora são importantes recursos didáticos por permitirem que se ouça
posteriormente o que se falou. O trabalho com a escrita pode ser enriquecido por meio da utilização do
computador.
A elaboração de raciocínio com começo, meio e fim ou a imitação da ação do adulto numa atividade
de leitura demonstra que a criança já percebe que há uma atitude convencional que deve ser dominada
para que ela possa participar da sociedade letrada.
125
Unidade II
No trabalho com a leitura e a escrita é muito importante que o professor perceba que a interpretação
e o significado são mais importantes do que a codificação. Antes mesmo da aprendizagem da leitura, a
criança já interpreta situações, histórias, gravuras, sabe quem são os personagens mais importantes ou
os que assumem posições características do bem e do mal.
As linguagens expressivas, então, são todas as formas das quais as crianças dispõem para se comunicarem,
o que envolve oralidade, escrita, musicalidade e expressões corporais. Quanto mais hábil para expressar-se,
maior o poder de comunicação da pessoa, o que lhe proporciona facilidade de convivência social.
Saiba mais
126
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Todo ser humano pertence a uma sociedade que está inserida em um meio natural. As sociedades, de
maneira geral, se formam e organizam sua economia, sua vida, em torno do ambiente natural disponível,
assim, é óbvio que uma comunidade de pescadores só pode se organizar em um local onde haja rio ou
mar.
As crianças pertencem a um meio repleto de fenômenos naturais e sociais indissociáveis diante dos
quais são curiosas e investigativas. No contato com os eventos naturais e sociais, as crianças conhecem
o mundo e querem saber cada vez mais sobre ele.
Como parte de grupos socioculturais singulares, vivenciam experiências e interagem num contexto
de conceitos, valores, ideias, objetos e representações sobre os mais diversos temas a que têm acesso
na vida cotidiana, construindo um conjunto de conhecimentos sobre o mundo que as cerca, como os
costumes das sociedades orientais que são bastante diferentes dos hábitos das sociedades ocidentais,
por exemplo.
Figura 70
As escolas de Educação Infantil sempre trabalharam conteúdos da área das ciências naturais e sociais,
porém, algumas visam a preparar as crianças para os níveis escolares posteriores, antecipando assuntos
do Ensino Fundamental.
127
Unidade II
Outras propostas e práticas escolares partem da ideia de que tratar da diversidade cultural, social,
geográfica e histórica significa ir além da capacidade de compreensão das crianças, tratando os eventos
naturais e sociais com superficialidade.
Assim, ainda é bastante comum que as instituições de Educação Infantil tratem sempre dos
mesmos conteúdos, como as diferenças entre o ambiente rural e o urbano ou animais domésticos e
selvagens, girando em torno das mesmas informações, sem aprofundá-las. As datas comemorativas
também constituem um tipo de conteúdo tratado sempre da mesma maneira, sem aprofundamento das
informações. Fala-se sobre o Dia do Índio em vez de propor conhecimento do seu modo de vida, pinta-se
o rosto das crianças sem nenhuma informação adicional que vá além da constatação da data.
As capacidades das crianças não podem ser menosprezadas. Elas têm condições de desenvolverem
pesquisas complexas, com caráter científico, se o professor souber orientá-las.
O trabalho com os conhecimentos derivados das ciências humanas e naturais deve buscar a ampliação
de experiências científicas das crianças, propiciando a construção de conhecimentos diversificados sobre
o meio social e natural e a pluralidade de fenômenos e acontecimentos físicos, biológicos, geográficos,
históricos e culturais.
Costumam repetir uma ação várias vezes para constatar se dela deriva
sempre a mesma consequência. Inúmeras vezes colocam e retiram objetos
de diferentes tamanhos e formas em baldes cheios d’água, constatando
intrigadas, por exemplo, que existem aqueles que afundam e aqueles que
flutuam. Observam, em outros momentos, a presença da lua em noites de
tempo bom e fazem perguntas interessantes quando a localizam no céu
durante o dia (RCNEI, 1998, vol. III, p. 169).
Assim, a criança constrói e reconstrói noções que favorecem mudanças no seu modo de compreender
o mundo, permitindo que ocorra um processo de confrontação entre suas hipóteses e explicações com
os conhecimentos culturalmente difundidos nas interações com os outros, com os objetos e fenômenos
e por intermédio da atividade interna e individual.
Para os objetivos a serem trabalhados com crianças de zero a três anos, o Referencial Curricular
Nacional para a Educação Infantil dispõe que a ação educativa deve proporcionar à criança explorar o
ambiente, para que possa se relacionar com pessoas, estabelecer contato com animais, plantas e com
objetos diversos, manifestando curiosidade e interesse.
129
Unidade II
Com as crianças de quatro a seis anos, o trabalho visa a aprofundar os objetivos anteriores e
organizar situações para que as crianças sejam capazes de interessar-se e demonstrar curiosidade
pelo mundo social e natural, formulando perguntas, imaginando soluções para compreendê-lo,
manifestando opiniões próprias sobre os acontecimentos, buscando informações e confrontando
ideias; estabelecer algumas relações entre o modo de vida característico de seu grupo social e de
outros grupos; estabelecer algumas relações entre o meio ambiente e as formas de vida que ali se
estabelecem, valorizando sua importância para a preservação das espécies e para a qualidade da vida
humana.
As crianças, desde que nascem, participam de diversas práticas sociais no seu cotidiano, dentro e
fora da instituição de Educação Infantil. Conforme a comunidade e a cultura familiar, elas participam de
festas e rituais, conhecem pessoas que exercem determinadas profissões, estabelecimentos comerciais,
fontes de entretenimento e lazer.
Também começam a conhecer os hábitos cotidianos de sua comunidade, como plantar em horta ou
comprar hortaliças no mercado, transportar-se de bicicleta, carro ou ônibus, conforme o local onde vive,
conservar objetos ou jogá-los fora, enfim, é uma série de costumes específicos e relacionados não só à
comunidade, mas à cultura familiar.
É preciso mostrar às crianças como a maneira de viver de cada sociedade, a maneira como procedem
cotidianamente interfere diretamente na natureza, preservando ou prejudicando o meio ambiente.
Nesse sentido, reciclar materiais usando-os na confecção de brinquedos e artefatos é uma ação
importante, mas não basta. É preciso ensinar as crianças a não desperdiçarem, a fabricarem menos lixo,
usando, por exemplo, embalagens reutilizáveis para acomodar o lanche ou aproveitar cascas e sobras de
frutas como adubo, além de tantas outras ações que devem torna-se hábitos cotidianos e não apenas
projetos transitórios.
130
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Com esse conteúdo a criança tem possibilidade de analisar e avaliar a paisagem decorrente da ação da
natureza e da ação do homem. Conforme a interferência humana o meio ambiente pode ser modificado,
em maior ou menor proporção, beneficiando as sociedades humanas, prejudicando, em contrapartida,
o meio ambiente, destruindo ecossistemas, implantando animais e plantas invasores. Um exemplo são
caramujos do litoral norte paulista, que foram trazidos para consumo como “escargots”, mas não caíram
no paladar brasileiro, então foram soltos de maneira inconsequente e hoje são considerados uma praga
a ser combatida na região de São Sebastião.
A percepção dos elementos que compõem a paisagem do lugar onde se vive é uma aprendizagem
fundamental para que a criança possa desenvolver uma compreensão cada vez mais ampla da realidade
social e natural e das formas éticas de nela intervir.
Figura 77
131
Unidade II
Além disso, estudar com as crianças formas sustentáveis de uso de matéria-prima para que não se
esgotem os recursos naturais é importante para a formação de um cidadão mais consciente e responsável
em sua atuação, percebendo-se como um ser que realiza a sua parte, independente do restante da
sociedade. Alguém que não espera que os outros também façam para dar sua contribuição individual é
uma pessoa autônoma em relação ao conhecimento sobre as questões ambientais.
- Os seres vivos
O conhecimento é fundamental para que as crianças respeitem e preservem a vida, o meio ambiente
e desenvolvam atitudes relacionadas à sua saúde. Se não há informação, a possibilidade de que as
crianças tenham medo de certos animais é muito maior e elas podem acabar matando-os, especialmente
os insetos, sem necessidade, pois a maior parte deles não oferece riscos à saúde.
Ajudar a criança a entender que alguns animais aparecem em ambientes habitados em função da
diminuição de seus espaços naturais, provocada pelo próprio ser humano.
Também é urgente que a educação ambiental seja uma prática constante desde os primeiros níveis
da Educação Infantil, e o grande desafio é ensinar as crianças a serem menos consumistas, usar menos
recursos naturais e fabricar menos lixo. O impacto ambiental pode ser diminuído e, assim, os seres vivos
podem coabitar o meio ambiente em harmonia.
- Fenômenos da natureza
132
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Os fenômenos naturais geram bastante curiosidade na criança e ela precisa compreender que há
uma relação entre eles e a vida humana.
A vida das pessoas pode ser afetada de uma certa maneira diante de uma chuva e de outra maneira
diante de uma tempestade. As notícias veiculadas pelos meios de comunicação sobre enchente, seca,
terremoto, erupções de vulcão, eclipse, tsunami despertam a curiosidade das crianças, mesmo que elas
não vivenciem esses fenômenos diretamente.
Outros fenômenos, como o arco-íris e a aurora boreal, são instigantes e despertam a imaginação
para histórias encantadoras.
Os conteúdos devem ser trabalhados concretamente, na ligação direta e estreita da criança com a
natureza, pois esse conhecimento não se realiza por meio do papel.
Acreditar que a criança possa perceber elementos com temperatura quente ou fria, objetos ásperos
ou lisos por meio de livros é desrespeitar o direito de ser criança e poder experimentar sensações como
o vento no rosto durante uma corrida, as brincadeiras com água num dia de calor, os sabores diferentes
das diversas frutas, enfim, os prazeres da vida, e só é capaz de compreender tudo isso quem teve uma
infância livre para brincar em contato com a natureza.
Também, o que realmente interessa na aprendizagem não é conhecer as partes de uma planta,
dividida em raiz, caule, folhas e flores ou frutos, mas é vibrar com a transformação da flor em fruto.
Maravilhoso acompanhar o miolo da flor virar um morango ou um maracujá.
Impossível nos grandes centros urbanos? Não, isso é desculpa para não fazer. Uma muda de morangos
consegue crescer e dar frutos em espaços bem restritos e até em vasos, verduras podem brotar em
floreiras e as crianças podem comparar o sabor desses alimentos com aqueles comprados, cheios de
fertilizantes e agrotóxicos. E mais, chega de feijão plantado no algodão. Parece que alguns professores
de Educação Infantil não sabem plantar outra coisa.
Também é importante lembrar que tudo o que se consome mais cedo ou mais tarde virará lixo. Os
elementos orgânicos ainda se decompõem com facilidade na natureza, mas os industrializados, se não
forem reciclados e, principalmente, os eletrônicos, contaminam violentamente o ambiente.
Portanto, consumir freneticamente é ser escravo de um sistema capitalista que propõe, cada vez
mais, o aumento do lucro, o poder financeiro em detrimento de valores como moral, solidariedade,
justiça, entre outros que estão um tanto esquecidos.
As atitudes de preservação do meio ambiente de uma sociedade sustentável, mais justa, precisam
partir do professor. Se ele não estiver compromissado com essas causas, dificilmente conseguirá
envolver as crianças nesse processo, mesmo porque não terá informações suficientes para aproveitar os
momentos e questionamentos das crianças para encaminhar projetos.
A equipe também precisa refletir sobre o que de fato é importante para a aprendizagem das
crianças. Algumas instituições mantêm as crianças confinadas nas salas de aula, realizando exercícios
gráficos de treinos e prontidão, com a possibilidade de brincarem na área externa apenas uma vez
por semana. Dessa forma, o contato com a natureza e com outros grupos de criança é praticamente
nulo.
Saiba mais
http://exame.abril.com.br/economia/meio-ambiente-e-energia/
noticias/aprenda-a-fazer-a-horta-de-garrafa-pet-do-lar-doce-lar
http://www.terrabrasil.org.br/noticias/materias/pnt_problemasamb.htm
http://mundodolixo.tripod.com/index_arquivos/page0006.htm
134
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Desde que nascem as crianças estão inseridas em um universo repleto de informações relacionadas
à matemática. Elas participam de constantes situações envolvendo números, relações entre quantidades
e noções sobre espaço.
Figura 85 Figura 86
Separam e classificam brinquedos por tipo, ordenam os carrinhos para a fila do lava rápido ou contam
quantos bonecos cada criança terá na brincadeira. Dividem baldes, pás e forminhas no tanque de areia.
Utilizando recursos próprios, elas contam e resolvem problemas cotidianos como conferir figurinhas,
marcar e controlar os pontos de um jogo, dividir balas e brinquedos entre os amigos, mostrar com os
dedos a idade, manipular dinheiro e operar com ele.
Também observam e atuam no espaço ao seu redor e, aos poucos, vão organizando seus deslocamentos,
descobrindo caminhos, estabelecendo sistemas de referência, identificando posições e comparando
distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de conhecimentos matemáticos.
número de crianças, graduando as dificuldades de acordo com o que ele acredita que a criança
seja capaz de pensar.
A repetição, memorização e associação também têm se mostrado muito presentes nas propostas das
escolas de Educação Infantil, pois alguns profissionais acreditam que as crianças aprendam esse e outros
conteúdos dessa maneira. A rotina repleta de atividades com sequência linear de conteúdos, encadeados
do mais fácil para o mais difícil, parece ser unanimidade nas instituições escolares.
Exercícios nos quais a criança tenha que ligar a quantidade de elementos ao numeral ou desenhar
quantos elementos pede um determinado número, além daqueles abomináveis pontilhados para treinar
a grafia dos números completamente desvinculados de suas quantidades ainda estão muito presentes
na rotina das escolas de Educação Infantil.
Outra ideia bastante comum nas instituições é a de que a criança, para abstrair conceitos, precisa
primeiramente manipular objetos concretos. Na verdade, a abstração e a manipulação ocorrem
simultaneamente, ou seja, enquanto brinca e explora, a criança estabelece relações cognitivas e constrói
conceitos no campo das representações.
A ampliação dos estudos sobre o desenvolvimento infantil e pesquisas realizadas no campo da própria
educação matemática permitem questionar essa concepção de aprendizagem restrita à memorização,
repetição e associação, que acredita na aprendizagem partindo do concreto ao abstrato.
O raciocínio da criança, tanto para conteúdos matemáticos como para conteúdos de outras áreas,
ocorre de maneira integrada, na qual a manipulação concreta se completa com a abstração de alguns
elementos e conceitos. Quando o sujeito constrói conhecimento, as operações de classificação e seriação
necessariamente são exercidas e se desenvolvem, sem que haja um esforço didático especial para isso.
A matemática, bem como as outras áreas de conhecimento, precisa ser trabalhada de maneira
integrada, em experiências significativas nas quais as crianças possam encontrar a solução sozinhas,
sem que o professor fique direcionando-as para os resultados.
Um bom exemplo são as atividades de culinária. Suponhamos que o professor tenha contado a
história de Chapeuzinho Vermelho e, a partir dela, tenha encaminhado uma discussão sobre o que havia
na cesta de doces que ela levou para a sua avó.
As crianças vão levantar uma série de hipóteses e o professor pode relacioná-las com as verdadeiras
avós das crianças, de que tipo de doce elas gostam. Então ele pode verificar com as crianças, em uma
contagem, qual doce é preferido pela maioria das avós e propor sua culinária.
136
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
As crianças pesquisam receitas do doce eleito para verificarem se sofrem variações e de que tipo.
Se for na quantidade de ingredientes, o professor pode questionar e pedir que as crianças descubram o
motivo da diferença, que provavelmente estará relacionado ao tamanho do doce, ou seja, se leva quatro
ovos, quatro xícaras de farinha e duas de leite, ficará com o dobro do tamanho de uma receita que leva
dois ovos, duas xícaras de farinha e uma de leite.
O professor, quando escreve a receita para que todos a vejam, deve, necessariamente, desenhar
também os ingredientes, então se a receita leva duas xícaras de leite, ao lado ele desenha duas xícaras
e coloca o desenho de uma caixa ou saquinho de leite ou pode ser ainda a própria embalagem
recortada.
Com esse exemplo é possível perceber que o professor pode despertar o interesse das crianças
para a solução de um problema, que é verificar a receita preferida das avós, eleger uma e prepará-
la. Na preparação serão trabalhadas quantidades e medidas, linguagem oral e escrita nas palavras e
símbolos dos ingredientes, transformação dos elementos em função da ação humana, utilização de
recursos inventados pelo homem, presença da culinária nos eventos sociais, entre tantas outras áreas e
integrações.
Lembrando, na história, Chapeuzinho Vermelho é uma menina que recebe esse nome por usar
um casaco com capuz vermelho. Certo dia, sua mãe lhe chama e pede para ir até a casa de sua avó,
que está um pouco adoentada, para levar uma cesta de doces. Recomenda que vá pelo caminho
do rio, pois no caminho da floresta há um lobo mau. Durante o trajeto, a menina vai cantando
feliz quando encontra o lobo que lhe faz uma série de perguntas, consegue todas as informações
que deseja e a engana, mandando seguir o caminho da floresta que é mais comprido. Então ele
aproveita que Chapeuzinho Vermelho demorará para chegar à casa de sua avó e corre para lá. Depois
de devorar a vovó, o lobo veste suas roupas e deita em sua cama para, novamente, enganar a ingênua
menina. Quando finalmente Chapeuzinho Vermelho chega na casa da avó, após uma série de dúvidas
e perguntas, o lobo mau se revela e tenta devorá-la também. Os caçadores da floresta ouvem os gritos
da menina e chegam a tempo de evitar a tragédia. Matam o lobo, retiram a vovó de sua barriga e
todos vivem felizes para sempre.
137
Unidade II
As crianças precisam querer resolver os problemas e, para tanto, o professor tem que encontrar
propostas desafiadoras, instigantes, dentro de temas que sejam atrativos, não para que as crianças usem
os conceitos que já sabem, mas para que produzam novos conhecimentos.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil indica como objetivos para as
crianças de zero a três anos a abordagem da matemática na Educação Infantil com a finalidade
de proporcionar oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade de estabelecer
aproximações com algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem e
relações espaciais.
Para as crianças de quatro a seis anos, o objetivo é aprofundar e ampliar o trabalho para a faixa
etária de zero a três anos de idade, garantindo, ainda, oportunidades para que as crianças sejam
capazes de reconhecer e valorizar os números, as operações numéricas, as contagens orais e as noções
espaciais como ferramentas necessárias no seu cotidiano; comunicar ideias matemáticas, hipóteses,
processos utilizados e resultados encontrados em situações-problema relativos a quantidades,
espaço físico e medida, utilizando a linguagem oral e a linguagem matemática; confiar em suas
próprias estratégias e na sua capacidade para lidar com situações matemáticas novas, utilizando seus
conhecimentos prévios.
138
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
e igualmente importantes, tais como comunicar-se oralmente, desenhar, ler, escrever, movimentar-se,
cantar etc.
Figura 90
- Contagem
Mesmo que haja a recitação oral em jogos e brincadeiras, é necessário que as crianças compreendam
o sentido do que estão fazendo.
- Operações
Ao contar de dois em dois ou de dez em dez, tirando uma quantidade de outra, distribuindo figuras,
fichas ou balas, as crianças estão realizando ações de acrescentar, agregar, segregar e repartir relacionadas
às operações aritméticas. O cálculo é aprendido junto com a noção de número.
- Grandezas e medidas
Explorar diferentes procedimentos para comparar grandezas, medidas de comprimento, peso, volume
e tempo, pela utilização de unidades convencionais e não convencionais, marcação do tempo por meio
de calendários, experiências com dinheiro em brincadeiras ou em situações de interesse das crianças.
139
Unidade II
- Espaço e forma
Com caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras permitem que o grupo se estruture, que as crianças
estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar a sua vez, acostumem-se a lidar com regras,
conscientizando-se de que podem ganhar ou perder.
Nessas orientações gerais para o professor encontram-se várias sugestões de espaços, materiais e
atividades, dentro dos eixos de conhecimento de mundo e organizados como atividades permanentes.
Outra situação semelhante são os ateliês ou os ambientes de trabalho nos quais são oferecidas
diversas atividades paralelas como desenhar, pintar, modelar e fazer construções e colagens, para que as
crianças escolham o que querem fazer.
Cantar e ouvir músicas; leitura, jogos de escrita, faz de conta; uso de calendário, assim como a
distribuição de material, o controle de quantidades de peças de jogos ou de brinquedos, são orientados
pelo Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil como atividades constantes no cotidiano
das crianças e, por isso, chamadas de atividades permanentes.
Também são rotineiros os cuidados com os animais e plantas, jogos e brincadeiras culturais e
folclóricas envolvendo o gesto, o movimento, o canto e a dança. Faz de conta, cirandas, pular corda e
amarelinha também são maneiras de estabelecer contato consigo próprio e com o outro, de se sentir
único e, ao mesmo tempo, parte de um grupo, de trabalhar com as estruturas e formas musicais que se
apresentam em cada canção e em cada brinquedo.
140
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
Nas sequências de leitura pode-se eleger, temporariamente, textos que propiciem conhecer a
diversidade possível existente dentro de um mesmo gênero, por exemplo, ler vários livros da obra de um
escritor.
Os projetos permitem a integração entre os conteúdos dos eixos de trabalho. Nos projetos
relacionados a qualquer eixo de trabalho é comum que se faça o uso do registro escrito como recurso
de documentação. A elaboração de um livro de regras de jogos, de um catálogo de coleções ou de um
fascículo informativo sobre a vida dos animais, por exemplo, pode ser produto final de projeto.
A elaboração de projetos é a forma de organização didática mais adequada para se trabalhar com
essa faixa etária, partindo das indagações infantis sobre eventos da área de natureza e sociedade, devido
à diversidade dos conteúdos que ela oferece por seu caráter interdisciplinar.
Quanto aos itens observação, registro e avaliação formativa, eles são considerados como experiências
prioritárias para a aprendizagem musical das crianças: a atenção para ouvir, responder ou imitar;
a capacidade de expressar-se musicalmente por meio da voz, do corpo e com os diversos materiais
sonoros.
Em artes visuais, a avaliação deve buscar entender o processo de cada criança, a significação que
cada trabalho proporciona, afastando julgamentos, como feio ou bonito, certo ou errado, que utilizados
dessa maneira em nada auxiliam o processo educativo.
É possível aproveitar as inúmeras ocasiões rotineiras em que as crianças falam, leem e escrevem para
se fazer um acompanhamento de seus progressos. A elaboração de perguntas, respostas, ampliação de
vocabulário e do repertório de histórias são aspectos a serem observados na avaliação.
141
Unidade II
A avaliação formativa refere-se ao percurso evolutivo de cada criança, sem idealizar resultados a
serem alcançados por todas, mas observando as conquistas realizadas individualmente.
Saiba mais
http://portal.mec.gov.br/index.php?Itemid=1096&id=15860&option=
com_content&view=article
Resumo
143
Unidade II
145
Unidade II
O movimento
A música
Artes visuais
A natureza e a sociedade
- Os seres vivos.
- Fenômenos da natureza.
A matemática
- Grandezas e medidas.
- Espaço e forma.
Exercícios
Questão 1 (Enade 2005). Após discussão pela disputa de um brinquedo, uma das crianças fica
quieta, senta-se próxima à casinha de bonecas e chora. A professora a observa sem intervir. Após alguns
instantes, conversa com ela e depois a acompanha para que tome um copo d’água e lave o rosto, a
fim de retomarem as atividades, incentivando-a a participar. A professora de Educação Infantil, que
considera o sentimento como uma construção social e se preocupa em observar, escutar e aprender com
a criança, entende o choro como manifestação de medo, insegurança, raiva ou tristeza, sensações que:
C) Fazem sofrer e, por isso, devem ser evitadas ou reduzidas nas situações escolares.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa:
A afirmação não pode ser considerada correta, pois a situação descrita no enunciado não diz respeito
à ansiedade, mas sim à frustração, que é um sentimento que deve ser experimentado e elaborado pela
criança, e não deve sofrer uma intervenção imediata do professor.
B) Alternativa incorreta.
Justificativa:
A afirmação não pode ser considerada correta, pois a situação descrita no enunciado demonstra que
a criança deve elaborar a sua frustração. Quando as crianças são impedidas de vivenciar as manifestações
de medo, insegurança, raiva ou tristeza é que podem se tornar agressivas.
C) Alternativa incorreta.
Justificativa:
A afirmação não pode ser considerada correta, pois a escola não é uma realidade à parte. É impossível
que não surjam situações que façam a criança sofrer de alguma forma, seja disputa, tensão, frustração,
medo, insegurança, raiva ou tristeza. Cabe ao professor tratá-las com equilíbrio e bom senso, ajudando
a criança a vivenciar e aprender com essas situações.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa:
A afirmação não pode ser considerada correta, pois não é papel de nenhuma instituição social
estimular o surgimento situações que façam a criança sofrer de alguma forma, seja disputa, tensão,
frustração, medo, insegurança, raiva ou tristeza. O papel dos adultos é zelar pelo ambiente positivo
e harmônico, porém, quando surgem conflitos, cabe ao professor acolher e auxiliar no processo de
autoconhecimento e autocontrole da criança.
153
Unidade II
E) Alternativa correta.
Justificativa:
A afirmação é correta, pois tanto os sentimentos positivos quanto os negativos fazem parte do
processo de inserção da criança no mundo e no relacionamento com o outro, são emoções que aparecem
no dia a dia, nas relações familiares e na escola. O professor que acolhe as questões ligadas à afetividade
auxilia seu aluno no processo de autoconhecimento e autocontrole.
Questão 2. Leia a passagem dos RCNEI para poder responder à questão: “[...] Tais orientações (sobre as
artes visuais) trouxeram inegável contribuição para que se valorizasse a produção criadora infantil, mas
o princípio revolucionário que advogava a todos a necessidade e a capacidade da expressão artística aos
poucos transformou-se em ‘um deixar fazer’ sem nenhum tipo de intervenção, no qual a aprendizagem
das crianças pôde evoluir muito pouco (RCNEI, vol. III, p. 87).
A) Em muitas propostas de escolas de educação infantil as artes visuais também têm sido usadas
como atividades de avaliação.
B) Em muitas propostas de escolas de educação infantil as artes visuais também têm sido usadas
como meros passatempos.
C) Em muitas propostas de escolas de educação infantil as artes visuais também têm sido usadas
como atividades disciplinadoras.
D) Em muitas propostas de escolas de educação infantil as artes visuais também têm sido usadas
como “punição”.
E) Em muitas propostas de escolas de educação infantil as artes visuais também têm sido usadas
como conteúdos curriculares.
154
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO INFANTIL
FIGURAS E ILUSTRAÇÕES
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
Figura 8
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Figura 9
Figura 10
Figura 11
Figura 12
Figura 13
Figura 14
Figura 15
Figura 16
Figura 17
Figura 19
Figura 20
Figura 21
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Figura 39
Figura 40
Figura 41
Figura 42
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Figura 44
Figura 46
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Figura 48
Figura 49
Figura 50
Figura 51
Figura 52
Figura 53
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Figura 54
Figura 55
Figura 56
Figura 57
Figura 58
Figura 59
Figura 60
Figura 61
Figura 62
Figura 64
Figura 65
Figura 66
Figura 67
Figura 68
Figura 69
Figura 70
Figura 71
Figura 73
Figura 74
Figura 75
Figura 76
Figura 77
Figura 78
Figura 79
Figura 80
Figura 82
Figura 83
Figura 84
Figura 85
Figura 86
Figura 87
Figura 88
Figura 89
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CRIANÇA, a alma do negócio. Direção: Estela Renner. Produção: Marcos Nisti. São Paulo: Maria Farinha
Produções, 2008. 1 DVD.
SUPER Xuxa contra o Baixo Astral. Direção: Anna Penido e David Sonnenschein. Rio de Janeiro:
DreamVision, 1988. 1 DVD.
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Exercícios