Você está na página 1de 29

Educação do Campo e Desenvolvimento Regional

O método de abordagem e os principais enfoques


epistemológicos: o positivismo, a fenomenologia e o
marxismo

Disciplina: Metodologia de Pesquisa II


Professores:
Antônio Carlos Gomes
Rosane Bernardete Brochier Kist
2018/2
O método possui dois significados

Modo de conhecer Conjunto de procedimentos,


Analisar instrumentos e técnicas para
Descrever obter dados e informações
Sintetizar Questionários
Explicar Formulários
Entrevistas
Interpretar
Documentos

Não se constitui como uma receita, pois é construído em cada


projeto de pesquisa.

O método faz parte do projeto de pesquisa, não como peça


isolada, mas como um conjunto de elementos integrantes a
outros elementos, formando um sistema coerente e eficaz. 2
MÉTODO

• Forma de proceder ao longo do caminho.

• Alguns métodos com que se trabalha nas Ciências Humano-Sociais:

• Método Empírico-Analítico
• Método Fenomenológico- hermenêutico
• Método Dialético-crítico

• Esses métodos refletem, encerram diferentes formas de ver a realidade  a


visão de mundo fundamenta esses métodos.

3
PRINCIPAIS ENFOQUES DE
PESQUISA (BULLA, 2006)
EMPÍRICO-ANALÍTICO
FENOMENOLÓGICO DIALÉTICO-CRÍTICO
HERMENÊUTICO
MÉTODO CIENTÍFICO

FORMA TRADICIONAL FORMAS ATERNATIVAS DE PESQUISA

PROCEDIMENTOS PROC. QUANTITATIVOS


PROCEDIMENTOS E QUALITATIVOS
QUANTITATIVOS QUALITATIVOS

4
Concepções e características fundamentais
 
Empírico-analítica Fonemenológico- Dialética
hermenêutica
Categoria central CAUSALIDADE INTERPRETAÇÃO AÇÃO
Explicação científica Fundamento da compreensão dos Intervenção na realidade concreta
Dedução quantificável fenômenos
Função do fenômeno
Uso obrigatório de hipóteses e de
processos lógico-dedutivos para
verificação

Objetividade Subjetividade Concreticidade


Relação sujeito-objeto
Centralidade no Objeto Centralidade no sujeito Centralidade na relação dinâmica
entre o
sujeito e o objeto

Marcada por concepções Visão existencialista de homem Ser racional e histórico


Noção de homem tecnicistas e funcionalistas    
  É tido como ser inacabado, Embora determinado por
Definição de seu perfil enfatizando projeto, ser de relações com o contextos econômicos, políticos e
seu caráter técnico funcional mundo e com os outros sociais, é criador da realidade
5
Fonte: Gamboa, 1994. social e transformador destes
1. MÉTODO CIENTÍFICO TRADICIONAL ou ENFOQUE
EMPÍRICO-ANALÍTICO
 O enfoque empírico-analítico tem raízes no positivismo: Augusto Comte, Bacon,
Hobbes e Hume

 É empírico, porque estuda a realidade (os fatos empíricos), utilizando todos os


sentidos para o estudo dos fenômenos (físicos e naturais ou humanos e sociais).

 É analítico, porque estabelece relação entre duas ou mais variáveis que atuam
sobre o fenômeno, estabelecendo as relações entre elas (de causa-x e efeito-y).

 Nos estudos de caráter empírico–analítico são usados procedimentos


quantitativos de pesquisa, utilizando recursos da lógica formal, da matemática e
da estatística para conseguir o máximo de rigor científico e todo o cuidado na
precisão dos instrumentos de medida. 6
ESTUDOS EXPERIMENTAIS
 OS ESTUDOS EXPERIMENTAIS SÃO OS ESTUDOS MAIS RECONHECIDOS PELA
COMUNIDADE CIENTÍFICA. GRANDE PARTE DOS CONHECIMENTOS OBTIDOS PELA
CIÊNCIA SE DEVE AO EMPREGO DO MÉTODO EXPERIMENTAL

 NO EXPERIMENTO, SÃO MODIFICADAS AS CONDIÇÕES QUE DETERMINAM UM FATO


OU FENÔMENO E SÃO OBSERVADAS E INTERPRETADAS AS MUDANÇAS QUE
OCORREM.

 EXIGEM PLANEJAMENTO RIGOROSO ( MAIS DO QUE NOS OUTROS TIPOS DE


ESTUDO )  PARTEM DE UMA EXATA FORMULAÇÃO DO PROBLEMA E DAS
HIPÓTESES,  O QUE PERMITE DELIMITAÇÃO PRECISA DAS VARIÁVEIS QUE ATUAM
SOBRE O FENÔMENO (CAUSA X – EFEITO Y), FIXANDO COM EXATIDÃO A MANEIRA
DE CONTROLÁ-LAS.

 EM GERAL EXISTEM DOIS GRUPOS : EXPERIMENTAL E DE CONTROLE  HÁ


SELEÇÃO CUIDADOSA DOS SUJEITOS E DOS INSTRUMENTOS E  CONTROLE DOS
7

PROCEDIMENTOS DE PESQUISA.
EXEMPLO DE ESTUDO EXPERIMENTAL

• Num hospital, uma equipe de pesquisadores decide experimentar


um novo método de tratamento para pacientes adictos à drogas.
Para verificar a possível superioridade do novo método em
relação ao antigo, foi feita uma experiência com 100 pacientes
em tratamento. Destes, 50 foram tratados com um novo método
(grupo experimental) e 50 receberam o tratamento com o
método antigo (grupo de controle). Após 6 meses de tratamento,
verificou-se que houve menor reincidência no uso de drogas
entre os participantes do grupo que recebeu tratamento novo do
que entre os participantes do grupo tratado com o método
antigo.
8
PROCEDIMENTOS PARA GARANTIR A OBJETIVIDADE DO ESTUDO E A
CONSISTÊNCIA DOS RESULTADOS

A objetividade é garantida na observação controlada dos


fenômenos, que dão origem aos dados; na formalização desses dados
através de instrumentos devidamente testados.
Busca-se garantir a consistência dos resultados da pesquisa,
definindo-se operacionalmente as variáveis que serão relacionadas
entre si, fazendo teste dos instrumentos de coleta dos dados,
utilizando-se procedimentos estatísticos sofisticados no tratamento
dos dados.

9
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS
NA PESQUISA

 Trabalha com hipóteses e variáveis;

 Utiliza entrevistas, questionários, escalas, testes e outros


instrumentos estruturados para a coleta de dados quantitativos, com
uso de procedimentos estatísticos e testes padronizados para
tratamento e a análise de dados.

10
2. ENFOQUE FENOMENOLÓGICO - HERMENÊUTICO

• AUTORES BÁSICOS: HUSSERL, HEIDEGGER, MERLEAU-PONTY

• PRESSUPOSTOS
- O homem é compreendido como existência, como ser-no-
mundo;
- O mundo é construído a partir de significados, através da
Consciência do sujeito;
- A ênfase é dada à subjetividade;

11
ENFOQUE FENOMENOLÓGICO – HERMÊUTIC0

• CATEGORIA EPISTEMOLÓGICA FUNDAMENTAL:


COMPREENSÃO

• PRINCIPAIS INSTRUMENTOS:

 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE,
 ENTREVISTA NÃO ESTRUTURADA,
 QUESTIONÁRIO COM QUESTÕES ABERTAS,
 ANÁLISE DOCUMENTAL,
 ANÁLISE DE CONTEÚDO,
 HISTÓRIA ORAL,
 HISTÓRIA DE VIDA.

12
3. ENFOQUE DIALÉTICO-CRÍTICO

PROPOSTA :

CAPTAR O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DE UM FENÔMENO SOCIAL


DESDE O SEU INTERIOR, DESVENDANDO AS SUAS CONTRADIÇÕES
INTRÍNSECAS E RELACIONANDO-O COM A TOTALIDADE CONCRETA.

13
3. ENFOQUE DIALÉTICO-CRÍTICO

* PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS E EPISTEMOLÓGICOS


MATERIALISMO DIALÉTICO E MATERIALISMO HISTÓRICO
(HEGEL, MARX, LEFEBVRE, ALTHUSSER, GRAMSCI ).

* CONCEPÇÕES :
O CONHECIMENTO É CONSTRUÇÃO SOCIAL
E ESTÁ VINCULADO AO CONTEXTO HISTÓRICO.
O HOMEM É UM SER HISTÓRICO E SOCIAL.
O MUNDO É PRODUTO DA AÇÃO HUMANA.
A REALIDADE SOCIAL ESTÁ EM CONSTANTE TRANSFORMAÇÃO.
A ATITUDE DO PESQUISADOR É DE ENGAJAMENTO CONCRETO NA AÇÃO TRANSFORMADORA.

14
CATEGORIAS EPISTEMOLÓGICAS PRINCIPAIS:
TOTALIDADE, HISTORICIDADE, CONTRADIÇÃO

 TIPOS DE INFORMAÇÕES COLETADAS :


ADEQUADAS À NATUREZA DO FENÔMENO, PODENDO SER QUANTITATIVAS OU
QUALITATIVAS

 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PESQUISA:


• OBSERVAÇÃO,
• OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE
• ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM ROTEIRO OU
• FORMULÁRIO OU ENTREVISTA LIVRE (não estruturada)

• HISTÓRIA ORAL, HISTÓRIA DE VIDA,


• QUESTIONÁRIO COM QUESTÕES ABERTAS E OU FECHADAS
• ANÁLISE DOCUMENTAL,
• ANÁLISE DE DISCURSO E DE CONTEÚDO 15
MÉTODO DIALÉTICO
O elemento fundamental da tradição dialética consiste no princípio
básico de compreensão do real e do conhecimento que temos dele, que
é a sua condição de radical historicidade.

A realidade não é vista somente como um conjunto de entidades


metafísicas determinadas ou somente como um conjunto de entidades
naturais determinadas pelas leis mecânicas da natureza física, mas é vista
como:

“[...] um processo histórico resultante, a cada momento, de múltiplas


determinações e esse movimento de constituição decorrente de forças
contraditórias que atuam no interior dessa própria realidade”
(SEVERINO, 1994, p. 133). 16
PRINCIPAIS CATEGORIAS DIALÉTICAS CONSTITUTIVAS DO
MÉTODO E DA REALIDADE

TOTALIDADE

Não só as partes estão interconectadas entre si e com o todo, mas


também o todo se cria a si mesmo através da interação entre as partes:

[...] a compreensão dialética da totalidade significa não só que as partes


se encontram em relação de interação e conexão entre si e com o todo,
mas também que o todo não pode ser petrificado na abstração situada
por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na interação
das partes. (KOSIK, 1985, p. 42).

17
CATEGORIAS MÉTODO DIALÉTICO-CRÍTICO,
MATERIALISTA E HISTÓRICO

CONTRADIÇÃO
Base conceitual explicativa mais ampla da dialética.
Constitui a essência ou a lei fundamental da dialética:

“A transformação das coisas só é possível porque no seu próprio interior coexistem


forças opostas tendendo simultaneamente à unidade e à oposição. É o que se
chama de contradição, que é Universal, inerente a todas as coisas materiais e
espirituais”
(GADOTTI, 1992, p. 26).

Expressa uma relação de conflito em que a compreensão de cada coisa existe o seu
contrário, como negação, superação e determinação do outro (CURY, 1986).
18
• A investigação
• Parte da estrutura, ou seja conexões temporais,
realidades em movimento, dos homens em
carne e osso, na sua atividade prática, concreta,
contextualizada, apoderando-se da matéria nos
seus pormenores, o que pressupõe profunda
investigação empírica
• Logo, busca a gênese e a evolução,
transformações sofridas pelo fenômeno,
desvendando contradições, instigando o
desenvolvendo de processos de mobilização e
consciência, buscando remontar os
movimentos que o constituíram e as condições
que o engendraram a partir de sua
historicidade.
• Supera a reflexão pela análise dialética, que
identifica grupos, relações. Utiliza as categorias
(que compõem o real) para análise e
intervenção de modo intrinsecamente
relacionado, articulado.
19
CATEGORIAS MÉTODO DIALÉTICO-CRÍTICO,
MATERIALISTA E HISTÓRICO

HISTORICIDADE

Processualidade, movimento, transformação do homem, da realidade e dos


fenômenos. Ou seja, os fenômenos somente podem ser aprendidos a partir do
desvelamento de recortes históricos (PRATES, 2003).

Resgate da gênese dos fenômenos e dos processos sociais, da qual Marx utiliza-se de
dois procedimentos:
- regressivo: parte do presente, retorna ao passado para descobrir o processo que
permitiu que o presente seja como é.
- progressivo: partindo do passado, retorna ao presente mostrando seu
desenvolvimento.

Novas formas de ver o velho e de identificar novos significados, novas conexões, novos
caminhos... 20
MEDIAÇÃO
Relativa ao real e ao pensamento, pois procura apreender o fenômeno na
articulação de relações com os demais fenômenos e no conjunto das
manifestações daquela realidade na qual faz parte.

Análise dos fenômenos e dos processos sociais a partir de uma situação singular e
isolada, reconhecendo-se suas interrelações mais amplas a partir de uma visão de
totalidade.

Significa reconhecer que determinados indivíduos ou grupos sociais estão inseridos


em uma realidade global que interfere na sua situação particular (singular-
particular – universal).

Possui uma relação direta com os processos históricos, pois “A História é o mundo
das mediações. E a História, enquanto movimento do próprio real, implica o
movimento das mediações” (CURY, 1985, p. 43).
21
APLICAÇÃO DO MÉTODO NA PESQUISA

Apresentar o método dentro da pesquisa significa explicitar em que ele


consiste, como será aplicado e justificá-lo, o que requer a escolha de
uma bibliografia de forma coerente.

Fragilidades:
- Utilizar o método de forma isolada;
- A teoria, as categorias de análise aparecem como uma “camisa de
força”, não são historicizadas e se tornam abstratas, especulativas.
- A investigação é conduzida pelos dados e não pelo pesquisador.

22
O MÉTODO, O PROBLEMA E A TEORIA

Para a formulação de um problema de pesquisa se parte daquilo que se sabe para


o que não se sabe, estabelecendo uma relação. O problema de pesquisa é
diferente de uma questão.

Para solucioná-lo, é preciso uma teoria e um método.

O problema tem que ser mais abrangente possível, indagando duas ou mais
relações.

- Como tal prática produz tal situação?

Um problema de pesquisa é uma crença que necessita ser demonstrada e


justificada comprovando que é verdadeira. Se for comprovada será
reconhecida como um conhecimento científico.

23
O MÉTODO, O PROBLEMA E A TEORIA

Teoria
Permite descrições e explicações dos fatos, fenômenos, processos sociais.

Teoria Científica
Sistema lógico ordenado de frases ou funções de frases, possui estrutura
formal e poder de aplicabilidade descritiva, explicativa ou interpretativa.

Categorias
São conceitos que servem para classificar aspectos da realidade (explicativas
da realidade ou teórico temáticas); um norte/auxiliar para compreender a
realidade.
24
25
Articulação e coerência interna
Itens da Pesquisa
(PRATES, 2003)

Tema J
O
b
Formulação do Problema j
e
t
i
QN 1 QN 2 QN 3j v
o
s
Instrumento 1 Instrumento 2
26
REFERENCIALIDADE TEÓRICO-METODOLÓGICA DA
PESQUISA

PROBLEMA
JUSTIFICATIVA O QUE? OBJETIVOS
POR QUE? PARA QUE?

OBJETO DE PESQUISA

METODOLOGIA - COMO?

Método de Abordagem
Abrangência populacional – COM QUEM?
Abrangência geográfica – ONDE?
Abrangência temporal – QUANDO? (Cronograma)
Recursos humanos, financeiros e materiais – QUANTO?

COLETA INSTRUMENTOS ANALISE


E TÉCNICAS

DEVOLUÇÃO DOS RESULTADOS 27


“Só é ciência genuína, quando deriva da sensibilidade,
na dupla forma de percepção sensível e de necessidade
sensível”
(MARX, 1975, p. 202).

“Se alguém amar, sem por sua vez não despertar amor,
isto é, se o seu amor enquanto amor não suscitar amor
recíproco, se alguém através da manifestação vital
enquanto homem que ama não se transforma em
pessoa amada, é porque o seu amor é impotente e uma
infelicidade” (MARX, 1975, p. 235).
28
REFERÊNCIAS

FAZENDA, Ivani (Org.). Metodologia da Pesquisa Educacional. São Paulo: Cortez, 1989

GAMBOA, Silvio A. S. A dialética na pesquisa em educação: elementos de contexto. In:


FAZENDA, Ivani. Metodologia da Pesquisa Educacional. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1994.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999.

TRIVINÕS, Augusto N.S. Introdução à pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa


em educação. São Paulo: Atlas, 1995.

RICHARDSON, Roberto Jarry. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3ª ed. São Paulo: Atlas,
1999.
29

Você também pode gostar