Você está na página 1de 1

A Lenda da Flor de Maresia

Há muitos, muitos anos atrás havia um jovem grumete português que era admirado
por todos pela sua coragem e habilidade para a arte marinheira. Era um jovem destemido, que
enfrentava qualquer tempestade no mar com a coragem de um verdadeiro herói.

Vivíamos na era das descobertas e as trocas comerciais com o Meio Oriente eram
comuns na altura. As nossas naus transportavam verdadeiros tesouros desejados por muitos,
mas apenas ao alcance de poucos. A chegada das naus portuguesas enchia de gente as praias
asiáticas ansiosas pelas oportunidades de negócios e pelas novidades do outro lado do mundo.

Foi a bordo de uma dessas naus (A Nau da Prata) que o grumete da nossa história
conheceu o amor da sua vida. Foi na cidade de Nagasáqui, no Japão que os seus olhos se
cruzaram pela primeira vez. Sendo esta uma viagem comercial, o jovem não ficou em
Nagasáqui durante muito tempo, mas a troca de sorrisos entre ambos ficou para sempre
guardada nas suas memórias.

Ao longo dos anos os dois jovens encontraram-se por diversas vezes até que numa
dessas viagens o grumete ouviu pela primeira vez a voz da sua amada. A sua voz era tão suave
que o jovem não resistiu em dizer-lhe:

- As tuas palavras cheiram a flor de cerejeira.

- E as tuas Português, trazem consigo as frescuras da maresia.

Esta foi a primeira vez que os dois jovens conversaram e foi também nesse dia que o
nosso grumete ganhou coragem e roubou um beijo ao rosto da bela japonesa, corada de
vergonha.

Tudo corria pelo melhor, mas infelizmente o jovem rapaz teve de voltar a embarcar,
desta vez numa viagem a Macau. O desejo de regressar a Nagasáqui era grande, mas tal só foi
possível passados três anos. O nosso marinheiro procurou a jovem pela praia de Nagasáqui
mas não a encontrou e resolveu então perguntar por ela a um padre jesuíta. Ao perceber de
quem se tratava, o pároco respondeu-lhe:

- A flor de cerejeira que procuras murchou com uma febre terrível e nunca mais
voltará a florescer.

O jovem rapaz ficou muito triste e começou a chorar. A sua dor era tal que todos os
que passavam perto de si pela praia comoviam-se também. O rapaz decidiu então regressar a
Portugal e nunca mais voltar ao Japão.

Os anos foram passando, mas o jovem grumete, agora já homem, não esquecia o
primeiro sorriso trocado com a bela japonesa. Foi então que olhando para o Tejo teve a ideia
de mandar construir uma nau e dar-lhe o nome de “Flor de Maresia”. Desta forma a memória
dos momentos vividos com o seu grande amor nunca se perderiam, pois as coisas só morrem
verdadeiramente quando morrem dentro de nós.

Você também pode gostar