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Vitaminas

Conceito de vitamina
- São compostos orgânicos ao contrário dos minerais que são compostos
inorgânicos.
- São macromoléculas, mas ao contrário das outras biomoléculas (macromoléculas),
não são oxidadas em CO2 e H20, logo…
- Não têm uma função de conferir energia nem uma função estrutural.
- São fundamentais para as funções vitais tais como o crescimento, o metabolismo e
a integridade celular.
- São substâncias cuja carência se manifesta como patologia.
A Vitamina D e a Tiamina não se encaixam no conceito clássico de vitamina, pois a
Vitamina D é uma hormona que nós conseguimos sintetizar e a Tiamina pode ser
sintetizada a partir do triptofano. Deste modo, elas não são essenciais pois
conseguimos sintetizá-las, mas como a sua carência está acompanhada de uma
patologia são consideradas vitaminas.

As vitaminas podem ser divididas em hidrossolúveis (solúveis em água) e lipossolúveis


(solúveis em lípidos):
Tiamina (B1)
O défice desta vitamina provoca a doença Beriberi, conhecida na China cerca de
2600 anos A.C.
No entanto, em 1890, Eijhmann, médico holandês, em Java, verificou a doença em
aves e só nessa altura é que ele verificou que essa doença era curada pela
administração da cutícula do arroz.
Porém, não se descobriu logo nessa altura o princípio ativo, tendo sido em 1912 que
Funk isolou da cutícula de arroz a tiamina. Deste modo, o défice de tiamina tornou-se
mais popular no século IX pois, nessa altura, começou a ser mais introduzido o arroz
refinado (perda de vitaminas) em detrimento do arroz integral (muito rico em tiamina),
levando à prevalência da deficiência de tiamina.
A tiamina tem como forma ativa a tiamina difosfato ou tiamina pirofosfato, tendo um
papel central no metabolismo energético, particularmente no metabolismo glicídico.

A Tiamina difosfato é uma coenzima de três complexos multienzimáticos que


catalisam reações de descarboxilação oxidativa:
 Desidrogenase do Piruvato, no metabolismo glicídico, descarboxilando o piruvato
a acetil-CoA. A atividade deste complexo depende de 5 coenzimas:
- Tiamina difosfato (TDP) ou tiamina pirofosfato (TPP).
- Lipoamida.
- Coenzima A (derivada do ácido pantoténico).
- FAD (dinucleótido da flavina adenina, derivado da riboflavina ou vitamina
B2).
- NAD+ (nicotinamida adenina dinucleótico, derivado da niacina ou vitamina
B3).
 Desidrogenase do α-cetoglutarato, no ciclo de ácido cítrico, que transforma α-
cetoglutarato em succinil-CoA. A intervenção do NAD+, do FAD e do ácido lipóico
também são de extrema importância na atividade deste complexo

 Desidrogenase de α-cetoácidos ramificados, envolvida no metabolismo da leucina,


isoleucina e valina.

 
Para além destes três complexos, a TPP é também coenzima da transcetolase,
envolvida na via das pentoses fosfato. Esta enzima é muito importante, pois é utilizada
para avaliar o estado nutricional de tiamina, ou seja, esta enzima está menos ativa
quando existe défice de tiamina pirofosfato e, portanto, o doseamento da atividade da
mesma nos eritrócitos pode ser um biomarcador do estado nutricional desta vitamina.

Os valores de referencia para os nutrientes (micro e macro) são estabelecidos por


entidades internacionais como a EFSA. Estes valores são aqueles que são
recomendados e os mais indicados para a manutenção de um bom estado nutricional
e um bom estado de funcionamento do organismo.

Valores nutricionais de tiamina


As necessidades da tiamina são 0.1
mg/MJoule, o que significa que as
necessidades desta vitamina variam com as
necessidades energéticas de cada
indivíduo, visto que a tiamina está envolvida
nas reações do metabolismo energético.
Assim, se um individuo necessita de mais
energia, também terá necessidades
aumentadas de vitamina B1.
Este controlo pode, como já dito, ser obtido
através do doseamento da atividade da
transcetolase.
Fontes alimentares de tiamina
Sendo uma vitamina do complexo B, está presente na maioria dos cereais do
pequeno-almoço (fortificados
nas vitaminas do complexo
B).
Leguminosas (lenteinhas,
ervilhas...).
Carne de porco.
Arroz branco e integral (o
arroz integral possui uma maior
quantidade de tiamina, dado que
esta é muito abundante na
cutícula do arroz, porção esta
que é eliminada no
processamento do arroz branco)

Deficiência em Tiamina
Bériberi:
Para além do seu papel no metabolismo energético, a tiamina tem um papel
importante na condução nervosa, dado que fosforila e ativa um canal de cloro na
membrana dos neurónios. Assim, a sua deficiência afeta a condução nervosa e
origina…
Neurite periférica crónica.

Encefalopatia de Wernicke com psicose de Korsakoff:


Frequente em casos de alcoolismo ou toxicodependência, pois o álcool inibe a
absorção de tiamina e, normalmente, estes indivíduos têm uma dieta pobre em
nutrientes.

Acidose Lática
O défice de tiamina leva à diminuição da atividade da desidrogenase do piruvato.
Acumulação do piruvato que é depois reduzido a lactato.
Indivíduos com uma dieta rica em hidratos de carbono e défice de tiamina têm muitas
vezes acumulação de ácido lático.
Vitamina B2-Riboflavina
A riboflavina é responsável por fornecer as moléculas reativas ao mononucleótido de
flavina (FMN) e ao dinucleótido de flavina-adenina (FAD), sendo estas coenzimas
(derivadas da riboflavina) portadoras de eletrões em reações de oxidação-redução:
 Em enzimas chave da oxidação dos aminoácidos e dos ácidos gordos.
 No ciclo do ácido cítrico (desidrogenase do succinato).
 Na cadeia respiratória mitocondrial (complexo II).
 Em conjunto com enzimas da família do citocromo P-450 participam no
metabolismo de fármacos/xenobióticos.

Valores nutricionais de riboflavina


As necessidades de Riboflavina variam um pouco com a idade, sendo o valor de
referência para um adulto cerca de 1.6mg/dia.

Podemos utilizar como marcador do estado nutricional da Riboflavina a atividade


da redutase da glutationa dos eritrócitos, uma vez que o FAD é um importante
cofator desta enzima (reduz a glutationa que, por sua vez, é importante na remoção de H2O2
dos eritrócitos, protegendo-os da hemólise)
Fontes alimentares
Cereais de pequeno-almoço
(fortificados em vitaminas do
complexo B).
Leite e derivados.
Gema do ovo.
Amêndoas.
A riboflavina, dado que possui
uma cor amarela, pode ser
utilizada como um corante
alimentar.

Sinais clínicos da deficiência em riboflavina


- Queilose (fissuras nos cantos da boca).
- Glossite (edema e vermelhidão na língua).
- Dermatite seborreica (produção excessiva de sebo).
Estes sinais não são específicos o que significa que quando uma pessoa apresenta
estes sintomas não apresenta necessariamente défice de riboflavina, podendo
apresentar outras patologias. Este défice é pouco usual visto que é conservada de
uma forma muito eficiente nos tecidos.

Vitamina B3-Niacina
A Niacina não é, em rigor, uma vitamina pois ela pode ser sintetizada a partir do
triptofano, um aminoácido essencial.
É essencialmente na forma de ácido nicotínico e nicotinamida, que a vitamina B3
tem a sua atividade biológica.
Esta vitamina constitui o anel nicotinamida das coenzimas NAD e NADP, sendo este
fundamental em reações de oxidação e redução.

Para além do seu papel como coenzima, o NAD é fonte de ADP ribose, que é
fundamental para a ribosilação de proteínas com ADP, proteínas envolvidas nos
mecanismos de reparação do DNA
PRI
As necessidades energéticas de niacina são de 1.6mg NE/MJ.
Encontram-se expressas em MJoule, pois dependem das necessidades energéticas
de um indivíduo, sendo que também estão expressas em equivalentes, tendo em
conta que são necessários 60mg de triptofano para dar origem a 1mg de niacina/1
equivalente de niacina, logo as necessidades não se encontram expressas em mg
de niacina, mas sim em equivalentes de niacina.

Fontes alimentares
Leite e ovos (fontes de triptofano).
Cereais integrais.
Carne.

Défice de Niacina
Pelagra: mal de la Rosa
 Caracterizada pela dermatite fotossensível.
 Pode também ser provocada pelo défice de triptofano.
 O álcool inibe a absorção desta vitamina, pelo que padrões alimentares em que o
álcool esteja muito presente e que sejam à base de cereais como o milho (não
contém triptofano) podem levar a esta doença.
Na presença de triptofano é necessário que haja também riboflavina e vitamina B6,
visto que estas duas vitaminas são importantes cofatores para catalisarem a
conversão de triptofano em niacina.

Ácido Pantoténico
O ácido pantoténico faz parte do grupo prostético da
Coenzima A e da proteína transportadora de
grupos acilo.
Participa em vias como o ciclo do ácido cítrico,
oxidação dos ácidos gordos, síntese do colesterol,
síntese da acetilcolina e síntese do grupo heme.

Esta vitamina encontra-se largamente distribuída na


maioria dos alimentos e, por isso, a deficiência
desta vitamina não foi ainda reportada em humanos. Para além disso, as quantidades
necessárias também são reduzidas.
Biotina
A biotina tem como funções a transferência de CO2 num pequeno número de
reações como aquelas que são catalisadas pela
carboxilase do acetil-CoA e pela carbolixase do
piruvato.
A sua deficiência é desconhecida visto que está
presente na maioria dos alimentos, não
havendo nenhuma consequência para este
défice.
No ovo não cozinhado, está presente um não
nutriente denominado de vidina que quando
se liga à biotina impede a sua absorção e, por
isso, indivíduos que consumam grandes
quantidades de ovo cru apresentam menor
biodisponibilidadede biotina.

Vitamina B6
Esta vitamina presenta seis vitrameros/estruturas químicas
parecidas (piridoxal, piridoxina, piridoxamina e seus derivados
fosforilados) que podem depois converter-se endogenamente
na sua forma ativa, ou seja, em piridoxal fosfato.
O piridoxal fosfato (PLP) é o grupo prostético de cerca de
100 enzimas que estão na sua maioria envolvidas no
metabolismo dos aminoácidos, sendo que a maioria está
ligada à fosforilase do glicogénio, como cofator.
De todas estas enzimas do metabolismo dos aminoácidos,
destaca-se as transaminases ou aminotransferases.
Nestas reações, o PLP serve como transportador dos
grupos amina.
Outro exemplo são as descarboxilases dos aminoácidos que
estão envolvidas na síntese de neurotransmissores, como a
formação da dopamina.
PRI e fontes alimentares
O défice de vitamina B6 é muito raro visto que existe na maioria dos alimentos e as
suas recomendações diárias são baixas.
Vegetais  contêm piridoxina
Alimentos de origem animal  contêm o piridoxal e a piridoxamina.

A atividade das transaminases dos eritrócitos (ex: aminotransferase da alanina)


podem ser utilizadas como marcadores do estado nutricional da vitamina B6.

Deficiência em B6
Esta défice pode provocar anemia
microcítica e hipocrómica visto que
o PLP é grupo prostético da sintase do
ácido aminolevulínico (ALA), percursor
do grupo heme logo, na ausência de
PLP, a síntese do ALA encontra-se
comprometida, não havendo síntese
de hemoglobina.
É microcítica porque não ocorrem
alterações na divisão celular, e é
hipocrómica porque há um défice de
hemoglobina, pelo que as hemácias são
mais claras.
Nos anos 50, nos EUA, registou-se uma epidemia de convulsões em bebés que
eram alimentados com um leite de fórmula que não continha vitamina B6,
apresentando, assim, défice da mesma. Estes episódios desapareceram com a
administração da vitamina B6.
Dada a dua importância no metabolismo dos aminoácidos, as convulsões são
explicadas por alterações do foro neurológico.

Falando agora de vitaminas hematopoioéticas…B9 e B12


Vitamina B9-Folatos
A vitamina B9 é uma vitamina hematopoiética.
Esta vitamina é um conjunto de
folatos, que são substâncias que
diferem do seu ponto de vista
químico, mas têm todas a mesma
atividade vitamínica.
O ácido fólico, um destes folatos,
possui um ácido pteróico ligado a um
único resíduo de glutamato. Já os
folatos que se encontram nos
alimentos, possuem um ácido pteróico
ligado a uma cadeia de resíduos de
glutamato
O ácido fólico é o vitâmero mais utilizado em suplementos alimentares, bem como
para fortificar alimentos (ex: farinhas), uma vez que é a forma quimicamente mais
estável e também mais biodisponível. Mas é muito perecível ao calor e à luz.
Ácido fólico, presente nos suplementos e alimentos fortificados  dihidrofolato 
tetrahidrofolato  5,10- metileno-tetrahidrofolato, utilizado na sintese de purinas e
pirimidinas, para posterior sintese de DNA.
Quando não consumimos alimentos com ácido fólico, temos de obter o
tetrahidrofolato através dos folatos que se encontram na alimentação/dieta, o 5-
metil-tetrahidrofolato. A conversão deste ultimo em tetrahidrofolato, só ocorre na
presença de vitamina B12, dado que esta é grupo prostético da enzima sintase da
metionina.
Assim, na ausência de vitamina B12, a síntese de tetrahidrofolato é comprometida,
bem como a síntese de 5,10-metileno-tetrahidrofolato. Logo há um défice
funcional dos folatos, porque mesmo que estes sejam ingeridos não são passiveis
de converter no que interessa (armadilha dos folatos causada pelo défice de vitamina
B12).
Funções do folato
- Síntese de DNA.
- Síntese de purinas e pirimidinas (importantes para a síntese de DNA).
- Remetilação da homocisteína (biomarcador de risco cardiovascular logo
precisamos de ácido fólico e vitamina B12 para manter estes níveis baixos).
- Reações de metilação (ácido fólico é dador de grupos metil, através da adenosil-
metionina).

PRI
As grávidas têm necessidades aumentadas, visto que os embriões estão em
constante multiplicação de células, logo há uma necessidade aumentada de DNA,
dado o papel do folato na síntese do mesmo, de modo a prevenir defeitos no
encerramento do tubo neural dos embriões (células em rápida multiplicação).

Fontes alimentares
Oleaginosas (avelãs, nozes, ...).
Hortícolas de folha verde-escura (espinafres, espargos, ...).
Leguminosas (feijão frade).
Cereais de pequeno-almoço.
Farinhas (ex: nos EUA as farinhas são fortificadas).
Défice de folatos (comum)
Anemia megaloblástica
 Deficiência de folatos e vitamina B12 (devido à armadilha de folatos)
condiciona a síntese de DNA (folatos não podem sintetizar de timidilato) mas não
a de RNA (porque usa uracilo), ou seja, a célula deixa de se conseguir dividir,
mas continua a haver transcrição e síntese proteica, levando ao aumento do
tamanho dos eritrócitos imaturos (megaloblastos)
 Em suma, não há divisão celular porque não há folatos para a síntese de
timidilato.

Vitamina B12-Cobalamina
A vitamina B12 (hematopoiética) é o grupo prostético da sintase da metionina,
tendo como núcleo central o núcleo de cobalto (cobalamina).

PRI e fontes alimentares


A vitamina B12 tem a particularidade de só estar presente em produtos de origem
animal. Deste modo, quem segue um padrão alimentar vegetariano tem dificuldade
em ter um bom aporte desta vitamina, a não ser através de suplementos e alimentos
fortificados.
 

Deficiência em vitamina B12


Anemia megaloblástica.
Anemia perniciosa
 Provocada por uma doença
autoimune em que existe uma
produção de anticorpos contra as
células parietais do estômago que
produzem o fator intrínseco. É
este que se vai ligar à vitamina
B12 no estômago e permitir que
ela seja absorvida no íleo
terminal.
 Sem o fator intrínseco, não há
absorção de vitamina B12 

Vitamina C (não é do complexo B)


A vitamina C tem importância na prevenção do escorbuto, que tem como principais
sintomas hemorragias nas gengivas.
James Lind conduziu o primeiro ensaio clínico na área da nutrição, pois na altura dos
descobrimentos os marinheiros morriam de escorbuto devido à falta de alimentos
frescos em vitamina C.
No seu ensaio clínico, ele dividiu os marinheiros em dois grupos em que um grupo
tinha acesso a laranjas e limões e o outro grupo não tinha. Constatou, assim, que o
grupo que tinha acesso a estes alimentos recuperava da doença.
A vitamina C é coenzima da hidroxilase da prolina, que converte os resíduos de
prolina em hidroxiprolina (alteração pós-sintética), essencial na formação do
colagénio. Deste modo, são hidroxilases necessárias para a modificação pós-
transcricional do pró-colagénio em colagénio.

 
Esta vitamina está envolvida em
inúmeras reações que envolvem
hidroxilases, sendo também é
coenzima da 7α-hidroxilase, muito
importante no metabolismo do
colesterol, estando também envolvida
na síntese de neurotransmissores.
PRI
Apesar das necessidades nutricionais serem baixas, um
inquérito alimentar nacional revelou um défice de vitamina
C na população, dado não ter uma boa adequação
nutricional no que diz respeito a esta vitamina.
 

Fontes alimentares
Laranja.
Kiwi.
Apenas com uma peça de
fruta conseguimos obter
100% da dose diária
recomendada, logo quem
tem baixo aporte em vitamina
C devesse à carência de
produtos frescos e
hortofrutícolas na
alimentação.

Resumindo…
Passando a falar das vitaminas lipossolúveis… estas têm a absorção facilitada na
presença de lípidos da dieta. As lipossolúveis são as vitaminas ADEK, e as restantes
são as hidrossolúveis.

Vitaminas lipossolúveis
Vitamina A
Divide-se em dois grandes grupos:
 Retinóides – incluem o retinaldeído e ácido retinóico, derivados do retinol
(representam as três formas ativas da vitamina A); estão presentes apenas nos
produtos de origem animal.
 Carotenóides – presentes nas plantas, são facilmente convertidos no organismo
em precursores da vitamina A (ex.: beta-caroteno).
O beta-caroteno, sendo um percursor da
vitamina A, pode ser convertido nesta vitamina.
Esta reação de conversão ocorre, sobretudo,
no intestino, pelo que consideramos que este
é o local primário onde ocorre a conversão dos
carotenóides pro-vitamina A.
Reações de conversão do beta-caroteno:
1. O beta-caroteno sofre ação da 15,15’-
monooxigenase, sendo clivado a
retinaldeído.
2. O retinaldeído é reduzido a retinol.
3. O retinol é esterificado e secretado nos
quilomicrons (grandes partículas
produxidas pelas células intestinais),
juntamente com os outros ésteres
formados a partir do retinol da dieta.

Na teoria, uma molécula de beta-caroteno daria origem a duas moléculas de


retinol. No entanto, na prática não é isso que acontece: devido à baixa atividade das
monooxigenases no intestino (metabolismo incompleto da substancia) e à baixa
absorção do beta-caroteno, são necessários 6µg de beta caroteno para termos 1µg
de retinol (valores EFSA).

Fontes alimentares de Vitamina A


Retinóides
Nos alimentos, o retinol, por ser uma
molécula quimicamente instável,
apresenta-se sob a forma esterificada
(com outros ácidos gordos), sobretudo
de retinil palmitato, e não na forma de
retinol livre.
Está presente no peixe gordo e na manteiga, por exemplo (produtos animais)

Carotonóides
Podemos dividi-los em carotonóides pro vitamina A (ex.: beta-caroteno, alfa-
caroteno, betacriptoxantina) e em carotonóides que não são pro vitamina A (ex.:
luteína e licopeno), que não são convertidos no nosso organismo em retinol.
Por exemplo, o licopeno é, nas plantas, o precursor do beta-caroteno. No entanto,
nós não temos as enzimas necessárias para fazer essa conversão, pelo que o
licopeno não é pro vitamina A, apesar de ser um carotonóide.

Absorção de vitamina A
A absorção de vitamina A é facilitada pela presença de
lípidos na dieta.
Os ésteres de retinol (principal forma de retinol nos
alimentos) são hidrolisados pela lípase pancreática em
retinol, sendo depois incorporados nas micelas lipídicas
para facilitar a sua absorção.
Os carotenoides utilizam vários transportadores não
específicos na membrana do enterócito para entrarem na
célula. Já no meio intracelular, são convertidos a retinol,
que depois se liga a uma proteína de ligação (CRBP2) que
os esterifica, de forma a poderem ser incorporados nas
quilomícrons e depois transportados para os tecidos
através do sistema linfático.
Depois de incorporados nos quilomícrons, os ésters de
retinol são armazenados no fígado (50% a 85% nos
animais) e os beta-carotenos são armazenados nas reservas lipídicas do tecido
adiposo.
Portanto…
1. No lúmen intestinal
 O retinol esterificado (da dieta) é
hidrolisado a retinol e é absorvido.
 O beta-caroteno é absorvido sem
qualquer alteração na sua estrutura.
2. No interior dos enterócitos
 O beta-caroteno é convertido em
retinol.
 O retinol (proveniente da absorção e
conversão do beta-caroteno) é
esterificado e lançado para a
circulação linfática em quilomícrons.
3. Nas células hepáticas
 Os ésters de retinol são novamente hidrolisados a retinol, que pode ser
armazenado ou ser libertado na circulação ligado a uma proteína transportadora
(RBP) para que chegue aos tecidos.
 No caso dos carotenóides, estes são transportados a partir do fígado sobretudo
pelas VLDL (lipoproteínas plasmáticas)
Devido à baixa atividade das monooxigenases, alguns beta-carotenos podem ser
absorvidos e passar para o plasma nesta forma, ou seja, sem ter ocorrido conversão
em retinol. Estes carotenoides são depois transportados nas lipoproteínas
plasmáticas.
As proteínas de transporte (RBP) são cruciais para o metabolismo da vitamina A:
 Conferem solubilidade em meio aquoso.
 Orientam o transporte e o metabolismo de determinados retinóides.
 Modulam determinadas funções dos retinóides.

Efeitos fisiológicos da vitamina A


Visão
 O retinaldeído atua como grupo prostético das opsinas – proteínas sensíveis à
luz presentes nos cones e bastonetes (células da retina).
 A absorção da luz pela rodopsina resulta numa alteração da conformação do
retinaldeído-cis para a sua conformação trans.
 O retinaldeído-trans desencadeia o impulso nervoso que transporta a informação
para o cérebro para que nós consigamos ver, uma vez que permite a transdução
do sinal recebido na geração de um impulso nervoso.
A cenoura faz bem aos ohos, porque contém beta caroteno, precursor da vitamina A.
Regulação da expressão de genes e diferenciação de tecidos, desempenhando um
papel crucial no desenvolvimento embrionário e fetal
 O ácido retinóico, na sua conformação trans ou
cis, regula o crescimento, o desenvolvimento
e a diferenciação de tecidos através da sua
ligação a dois recetores: RAR (recetor do ácido
retinóico) e RXR (recetor do retinoide X).
 Estes recetores nucleares podem formar
heterodímeros com outros recetores,
nomeadamente o recetor da vitamina D.
Assim, um défice de vitamina D pode
comprometer as funções da vitamina A, e vice-
versa, porque não há formação destes
heterodímeros, não havendo ligação aos
recetores nucleares, o que compromete a
transcrição de genes.

Pode ser utilizada no tratamento do acne – a isotretinoína (ácido 13-cis-retinoico) é


utilizada devido aos efeitos dos retinoides na diferenciação e proliferação das células
da pele. Uma das contraindicações deste tratamento é o aumento das lipoproteínas
plasmáticas (colesterol LDL e HDL), dado que estas são as transportadoras da
substancia administrada.
Portanto,
Deficiência de vitamina A
Cegueira noturna – dado que o ciclo visual depende do retinaldeído. É reversível mas
pode evoluir para situações mais graves (o défice de vitamina A constitui a principal
causa de cegueira reversível).
Xeroftalmia – alterações
permanentes na córnea
(opacidade e
queratinização)
irreversíveis, que
comprometem a visão.

Esta carência é um grave


problema na saúde
publica, principalmente em
países em
desenvolvimento. Potencia
uma maior suscetibilidade a infeções (devido ao seu papel na diferenciação das
células do sistema imunitário).
A suplementação com a vitamina em falta pode mesmo reduzir, em cerca de 20 a
35% da mortalidade infantil.

Excesso de vitamina A
Pensou-se que o papel anticancerígeno da
vitamina A poderia reduzir o risco de
desenvolvimento de cancro nos fumadores. No
entanto…
Foi mostrado, num estudo, que a
suplementação de retinol e beta-caroteno em
quantidades elevadas aumentava o risco de
cancro de pulmão (cerca de 50%).
Com isto realça-se que a suplementação em
excesso de vitaminas (não só a A) poderá
acarretar efeitos negativos que não podemos
negligenciar, daí a importância de um equilíbrio de aporte destas.

Vitamina D (não falado em aula)


É fundamental para a absorção de cálcio.
Não se encaixa na definição clássica de vitamina – é uma hormona que conseguimos
sintetizar através da exposição à radiação UV. O 7-dehidrocolesterol (intermediário
da síntese de colesterol que se acumula na pele) sofre uma reação não enzimática
com a exposição aos raios UV, convertendo -se em pré-vitamina D. Esta substância
sofre uma isomerização térmica, formando-se o colecalciferol (vitamina D3), que é
depois absorvida para a circulação.
A vitamina D3 (sintetizada na pele ou obtida na dieta) sofre duas hidroxilações -
posições 25 (hidroxilase do 25-calciol, no fígado) e 1 (hidroxilase do 1-calcidiol, no rim)
-, formando-se 1,25-dihidroxicolecalciferol / 1,25- hidroxivitamina D / calcitriol
(composto ativo). Devido à sua curta semivida, é utilizada como biomarcador do
estado nutricional de vitamina D.
No rim, o calcidiol pode sofrer uma hidroxilação na posição 24, o que inativa este
metabolito de forma a possa ser excretado na urina.
No caso dos protozoários e dos fungos (p.e.), por não terem colesterol, a síntese de
vitamina D, neste caso D2, é feita a partir de ergocalciferol. Nós, mamíferos, só
conseguimos obter ergocalciferol se tomarmos suplementos de vitamina D2. No
entanto, não devemos dar primazia a estes suplementos, pois são menos eficazes na
síntese de calcitriol.

Efeitos da vitamina D
Envolvida no controlo da secreção de paratormona (efeito clássico)
 A paratormona é libertada em resposta a uma diminuição dos níveis séricos de
cálcio. Esta hormona aumenta a reabsorção e diminui a sua excreção a nível renal
e aumenta a síntese de calcitriol, de forma a estimular a absorção de cálcio ao
nível intestinal. Estimula ainda a reabsorção óssea.
Regulação da pressão arterial (efeito não clássico)
 Inibe a renina, diminuindo a quantidade de angiotensina II, minimizando a sua
ação vasoconstritora.
Proliferação e diferenciação celular (efeito não clássico)
 Forma, juntamente com os recetores da vitamina A, heterodímeros que regulam o
ciclo celular.

Necessidades nutricionais de Vitamina D


15 µg/ dia (EFSA) ou ≥ 50 nm/L (Institute of medicine); no entanto, estes valores só
são necessários quando não há produção suficiente de vitamina D a nível cutâneo.

Fontes alimentares de vitamina D


Peixe gordo (salmão e sardinha).
Ovo.
Leite fortificado.
A principal fonte de vitamina D é a exposição solar e não o alimento.
A intensidade exposição depende da latitude e da altura do ano. Quanto maior for a
intensidade da radiação, menor terá de ser o tempo de exposição para que haja
síntese suficiente de vitamina D.
Para a síntese de vitamina D temos:
 Estar expostos ao sol (pelo menos braços ou pernas) sem proteção solar.
 A nossa sombra tem de ser menor do que a nossa altura.
Deficiência de vitamina D
Raquitismo (na criança) e osteomalacia (no adulto) – fragilidade dos ossos/
desmineralização óssea resultante de baixa absorção de cálcio.

Vitamina E
Existem dois vitâmeros com atividade biológica de vitamina E: tocoferóis (apresentam
uma cadeia lateral com ligações saturadas) e tocotrienóis (têm uma cadeia lateral
com 3 ligações duplas).
O vitâmero com mais atividade biológica é o alfa-tocoferol.

Absorção de vitamina E
É absorvida juntamente com as micelas
lipídicas. É depois incorporada em
quilomícrons e transportada para o
fígado e depois para os restantes tecidos
através de lipoproteínas (ex.: LDL).
Vitamina E da dieta  absorção com as
micelas lipídicas  quilomícrons 
fígado  transporte por lipoproteínas
como as LDL.

A vitamina E é o principal
antioxidante lipídico, presente nas
membranas celulares e nas lipoproteínas
plasmáticas, sendo importante na manutenção da integridade das mesmas:
Os ácidos polinsaturados presentes nas membranas são mais sensíveis à oxidação:
quando reagem com espécies reativas de oxigénio, há formação de radicais livres que
vão reagir com outras moléculas – surge uma cadeia de reações que, se não for
travada pela vitamina E, resulta em danos na membrana das células.
O tocoferol neutraliza o radical livre, travando a reações em cadeia, e forma-se um
radical de tocoferol relativamente estável e não reativo. Este radical é depois
convertido em tocoferol pela ação da vitamina C, que sofre oxidação.
Portanto, as vitaminas E e C são importantes agentes antioxidantes que impedem
reações em cadeia de stress oxidativo, garantindo a integridade da membrana celular
e das lipoproteínas.

No entanto, é importante relembrar que também as lipoproteínas que estão em


circulação no plasma estão sujeitas a estes fenómenos de oxidação por reação com
espécies reativas de oxigénio, sendo que aqui também a vitamina E possui um papel
importante.
As LDL, na presença de espécies reativas de oxigénio, são particularmente
suscetíveis a sofrer oxidação. As LDL oxidadas são as principais desencadeadoras do
processo de aterosclerose: recrutam
macrófagos, que tentam destruir/fagocitar
estas lipoproteínas oxidadas. Ao fazê-lo,
os macrófagos acumulam gotículas de
gordura, formando células-espuma. A
acumulação destes macrófagos na parede
dos vasos sanguíneos forma a placa de
aterosclerose.
A ação antioxidante da vitamina E poder
ser importante para prevenir a
aterosclerose, através da prevenção da
oxidação das LDL.
Fontes de vitamina E
Abundante em alimentos
ricos em gorduras
Oleaginosas.
Sementes.
Óleos vegetais.

Deficiência de vitamina E
Doenças cardiovasculares.
Diabetes mellitus – relacionada com o aumento do stress oxidativo.
Cancro.
Alterações neurológicas (demência).

Vitamina K
Participa na coagulação sanguínea.
Apresenta vários vitâmeros (diferente estrutura química, mas igual atividade biológica):
filoquinonas ou vitamina K1 (presente nos vegetais e hortícolas de folha verde-escura),
menaquinonas ou vitamina K2 (sintetizadas por bactérias intestinais).
O dicomarol e a varfarina são antagonistas da vitamina K, sendo muitas vezes
utilizados na redução da coagulação sanguínea em doentes em risco de trombose.
Embora as menaquinonas sejam sintetizadas pelo microbiota, a quantidade produzida
não é suficiente para suprir as nossas necessidades de vitamina K. Isto deve-se ao
desfasamento de locais de produção e absorção: a produção de vitamina K por ação
bacteriana ocorre no cólon; no entanto, a absorção de vitamina K ocorre íleo
terminal.
Assim, ainda não está estabelecido se estas são absorvidas e se se relacionam com o
estado nutricional da vitamina em questão.

Ciclo da vitamina K
A vitamina K atua como cofator da carboxilação do glutamato, originando um
aminoácido, o carboxiglutamato (modificação pós-sintética), essencial para a formação
de proteínas envolvidas na cascata de coagulação.
1. A hidroquinona é oxidada, originando o seu epóxido e ativando o resíduo de
glutamato no substrato, que reage com o CO2, formando carboxiglutamato.
2. O epóxido é reduzido a quinona pela redutase sensível à varfarina.
3. A quinona é reduzida a hidroquinona pela redutase sensível à varfarina ou pela
redutase da quinona, não sensível à varfarina.
Na presença de varfarina, a redutase
sensível à varfarina não funciona.
Assim, nesta situação não haverá
redução do epóxido, pelo que este
será posteriormente excretado.
No entanto, se continuarmos a obter
vitamina K sob a forma de quinona,
esta será reduzida a hidroquinona
por ação da redutase da quinona,
que não é sensível à varfarina.
É importante, por isso, ajustar a dose
de varfarina de acordo com a
ingestão de vitamina K (nuca reduzir
a ingestão normal de vitamina K do
doente, uma vez que os alimentos
onde esta está presente são bastante
ricos a nível nutricional). Apesar disso,
o seu consumo deve manter-se
regular ao longo dos dias.

A presença de varfarina impede a


formação do resíduo
carboxiglutamato. A ausência destas
modificações pós-sintéticas nas proteínas envolvidas na coagulação impede a
quelação de Ca2+, impedindo a ligação das proteínas às membranas, o que é
essencial no processo de coagulação.
Na ausência de proteína K, há formação de um percursor da pró-trombina, pelo que
a coagulação fica comprometida dado que esta substancia não pode ser transformada
na sua forma ativa.
Em suma, na presença de varfarina, esta modificação pós-sintética não ocorre pelo
que não se forma carboxiglutamato, o que condiciona a atividade de muitas proteínas
envolvidas na coagulação, dado que esta substância permite a quelação de cálcio e,
consequentemente, a ligação das proteínas às membranas. Nestes casos, não há
ativação da cascata de coagulação, verificando-se uma maior fluidez sanguínea.

Muitos dos fatores essenciais para a síntese


de fibrina apresentam na sua composição
resíduos de carboxiglutamato.
Utilizam-se, muitas vezes, inibidores da
vitamina K para aumentar a fluidez do sangue
e impedir a coagulação. No entanto, existem
outros fármacos inibidores da coagulação que
inibem diretamente o fator X (dez), não
interferindo com o ciclo da vitamina K.

Fontes alimentares de vitamina K


Hortícolas de folha verde-escura (ex.: espinafres, couve, brócolos), fontes de
filoquinonas.
Efeitos fisiológicos da vitamina K
Coagulação sanguínea.
Formação óssea – a osteocalcina, presente na matriz óssea, também apresenta
resíduos de carboxiglutamato.
Reparação de tecidos.

Défices da vitamina K
A doença hemorrágica era bastante frequente nos recém nascidos, dada a
incapacidade de formar o carboxiglutamato. Nos dias de hoje, os bebes levam uma
injeção de vitamina K que permita a inibição da doença hemorrágica.

Resumindo e relembrando…

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