Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
RESUMO
De forma simplificada, niacina ou ácido nicotínico é o verdadeiro
nome da vitamina B3 (ou PP). É fundamental na síntese de NAD(H) e
NADP(H), cofatores das reações de oxirredução celulares no
metabolismo de nutrientes. Seguindo-se esse pensamento, este trabalho
traz aspectos bioquímicos e funcionais das diversas ações da vitamina no
organismo, apresentando assim, suas necessidades e demandas
nutricionais. Todo esse trabalho tem o objetivo de demonstrar e
especificar o tema aqui citado, mostrando as mais variadas funções da
niacina para o melhor funcionamento do corpo, evidenciando sua
importância e fontes alimentares.
2. FUNÇÕES DA NIACINA
A niacina, ácido nicotínico e a nicotinamida, mais comumente
mencionada como vitamina B3, é indispensável para todas as células.
Suas funções praticamente podem ser resumidas em seu papel como
precursores de moléculas bioativas, nicotinamida adenina dinucleotídeo
(NAD) e nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato (NADP) e atuam
como cofatores para grande parte de reações de oxirredução presente
nas células, dessa maneira, são importantes para o metabolismo celular
e respiratório (KIRKLAND; MEYER-FICCA, 2018).
Embora sejam frequentemente utilizadas em vias biossintéticas e
para proteção celular contra tipos reativos de oxigênio, o NADP e NADPH
(formas fosforiladas da nicotinamida dinucleotídeos) realizam também
reações químicas com funcionalidade intracelular. O metabolismo em
células eucarióticas é mediado por meio da cadeia transportadora de
elétrons, onde o NADH exerce uma função essencial no fornecimento de
energia para alimentar a fosforilação oxidativa (SAUVE, 2008).
A nicotinamida também influencia o estresse oxidativo e modula
múltiplas vias ligadas à sobrevivência celular e à morte (MAIESE et al.,
2009). Tem um papel significativo, promovendo um aumento da
sobrevivência celular, bem como proporcionando longevidade às células
(LI et al., 2006). É um citoprotetor durante distúrbios que incluem:
disfunção do sistema imunológico, isquemia cerebral, diabetes e doenças
relacionadas ao envelhecimento como Alzheimer e Parkinson, sendo
capaz de bloquear a ativação celular inflamatória (MAIESE et al., 2009).
Além de ter potencial para influenciar os mecanismos de reparação de
DNA e de estabilidade genética, sistema imune, eventualmente, repercute
sobre o risco de câncer, como bem como os efeitos colaterais da
quimioterapia (KIRKLAND, 2003).
A multifuncionalidade concedida a nicotinamida, ácido nicotínico e
os dinucleotídeos, proporciona grande influência no metabolismo do NAD,
desenvolvendo possibilidades em seu curso metabólico, adquirindo
formas terapêuticas e propriedades farmacológicas, tanto do ácido
nicotínico, quanto de seus precursores (SAUVE, 2008).
A niacina, em termos de disponibilidade comercial, é ponderada
como um importante agente para elevar as concentrações plasmáticas de
HDL (High Density Lipoprotein) e reduzir as concentrações de triglicérides
e LDL (Low Density Lipoprotein) (LIN, et al., 2013). A vitamina B3 aumenta
os níveis de HDL através da redução da remoção da proteína
apolipoproteína A-1, ocasionando um crescimento nos níveis de
apolipoproteína A-1 e HDL (KAMANNA; KASHYAP, 2000), aumentando
assim, o transporte reverso de colesterol (MORGAN et al., 2003).
Com a redução da disponibilidade de ácidos graxos e inibição na
síntese de triglicérides, pode haver limitação da produção de VLDL (Very
Low Density Lipoprotein) e inibição da formação de LDL
(THAVINTHARAN; KASHYAP, 2001), desse modo, a niacina demonstra
capacidade de degradação intra-hepática da apolipoproteína B, que é o
principal constituinte lipoproteico de VLDL, LDL e lipoproteínas de
densidade intermediárias (MORGAN et al., 2003).
3. FONTES ALIMENTARES
A niacina é a única vitamina que tem um aminoácido como seu
precursor, podendo ser sintetizada a partir do triptofano (MARIA;
MOREIRA, 2011).
O triptofano é um aminoácido aromático considerado essencial, ou
seja, não é sintetizado pelo metabolismo humano e por isso a ingestão
diária é indispensável. Pode ser encontrado com facilidade na dieta, pois
é constituinte de variadas proteínas como carnes, ovos, leite e seus
derivados (MARIA; MOREIRA, 2011).
O processo de síntese de niacina a partir de triptofano não é
eficiente, no entanto, a ingestão dietética de triptofano é importante para
o estado geral de niacina no corpo, em quantidades correspondentes, 60
mg de triptofano pode ser convertido em 1mg de niacina e a síntese ocorre
tanto pela flora intestinal quanto nos tecidos (MAHAN et al., 2012).
As principais fontes de niacina são carnes, peixes, leveduras,
cereais, etc. Leite e ovos não apresentam quantidades significativas, no
entanto são excelentes fontes de triptofano, como citado anteriormente
(MAHAN et al., 2012). Nas plantas encontra-se principalmente como ácido
nicotínico ligado a proteínas dependendo a sua biodisponibilidade do
modo de preparação dos alimentos. Nos tecidos animais, a vitamina
apresenta-se geralmente na forma de nicotinamida na Nicotinamida
Adenina Dinucleotídeo (NAD) ou Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo
fosfato (NADP) (FLORES et al., 2015).
A tabela 1 relaciona o conteúdo de niacina em alimentos
considerados fontes (em medida usual) e foi construída a partir do livro
Tabela de Composição de Alimentos – Suporte para decisão nutricional
da autora Sonia Tucunduva Philippi:
Quantidade Niacina
Alimento Medida usual
(g) (mg)
Peito de frango sem pele 1 unidade 100 24,830
(grelhado)
Salmão cozido 2 filés 200 20,2
Merluza assada 2 filés 200 15,940
Fígado cozido 1 unidade 100 13,862
Peito de peru 1 filé 100 11,3
Bife grelhado de contrafilé 1 unidade 100 4,280
Carne moída refogada 3 1/2 colher de sopa 63 3,599
Linguiça de porco grelhada 1 gomo 50 3,3
Batata inglesa cozida 1 1/2 unidade 202,5 2,916
Bacalhau cozido 1 pedaço médio 135 2,169
Arroz branco cozido 4 colheres de sopa 125 1,640
Milho verde cozido espiga grande 100 1,610
Amendoim (com casca, cru) 25 unidades 10 1,590
Amendoim torrado com sal 25 unidades 10 1,360
Arroz integral cozido 6 colheres de sopa 198 1,2
Goiaba 1/2 unidade 95 1,140
Camarão cozido 13 unidades 104 1,113
Abacate 4 colheres de sopa 45 0,864
Morango 10 unidades 240 0,552
Feijão (50% grão/caldo) 1 concha média 140 0,496
Tomate comum 1 unidade 76 0,479
Cenoura crua 1 unidade 38 0,353
Fonte: PHILIPPI, 2016
Homens
9-13 anos 9 12 20
14-18 anos 12 16 30
19-30 anos 12 16 35
31-50 anos 12 16 35
51-70 anos 12 16 35
> 70 anos 12 16 35
Mulheres
9-13 anos 9 12 20
14-18 anos 11 14 30
19-30 anos 11 14 35
31-50 anos 11 14 35
51-70 anos 11 14 35
> 70 anos 11 14 35
Gestantes
≤ 18 anos 14 18 30
19-30 anos 14 18 35
31-50 anos 14 18 35
Nutrizes
≤ 18 anos 13 17 30
19-30 anos 13 17 35
31-50 anos 13 17 35
4. ABSORÇÃO E EXCREÇÃO
Como visto, as fontes de niacina podem ser endógenas ou
exógenas. A fonte endógena provém da conversão do triptofano em
niacina e a exógena é fornecida através da dieta por absorção no intestino
(NABOKINA et al., 2005).
Contudo, o mecanismo de absorção da niacina e sua regulação
não são muito bem compreendidos, alguns estudos defendem a
existência de um transportador específico, não dependente de sódio, no
fígado e em células epiteliais intestinais humanas. No fígado, esse
transporte é dependente de parâmetros como acidez, pH, temperatura e
energia (MARIA; MOREIRA, 2011). Quando em altas concentrações,
ocorre a absorção por difusão simples (NABOKINA et al., 2005).
A homeostase corporal de niacina depende da sua absorção
normal no intestino. Interferências na absorção, podem ocorrer em
variadas condições (por exemplo, defeitos congênitos do sistema
digestivo ou absortivo, doença intestinal, interação medicamentosa e uso
crônico de álcool levam à deficiência absortiva e podem resultar em
anormalidades clínicas (SAID, 2011).
Em condições normais, há pouca ou nenhuma excreção urinária da
niacina, pois esta é ativamente reabsorvida do filtrado glomerular.
Somente quando a concentração está relativamente alta pode ocorrer
uma excreção significativa. (BENDER, 2003)
Os principais produtos de excreção da niacina são a N1-
metilniacinamida e a N1-metil-2-pirodona-5-carboxamida, seu derivado.
Outros catabólitos pirimidínicos de minoritários também são encontrados
na urina, porém estes são dependentes da quantidade e do tipo de niacina
que foi absorvida assim como do estado metabólico de niacina no
indivíduo (MARIA; MOREIRA, 2011).
5. HIPERVITAMINOSE
De uma forma geral, a niacina não costuma ser tóxica, porém
quando ingerida em grandes quantidades, pode causar efeitos
prejudiciais. O principal efeito colateral da niacina é o ‘’flushing’’, que seria
o calor e rubor que se mostra evidente na pele. A pele desempenha um
importante papel na termorregulação e também no sistema imune, dessa
forma, doses constantes e excessivas de ácido nicotínico, geralmente
quando usadas como fármacos, podem causar toxicidades na pele e em
outras partes do organismo, como: hepatotoxicidade, toxicidade gástrica,
glicotoxicidade e como dito anterior a mais comum dentre elas, a
toxicidade da pele (hipersensibilidade cutânea aguda) (DUNBAR;
GELFAND, 2010).
6. HIPOVITAMINOSE
6.1 REVISÃO HISTÓRICA
A pelagra foi relatada pela primeira vez em 1735, pelo médico
espanhol Gaspar Casal, que observou a enfermidade entre aldeões mais
pobres que se alimentavam em maior quantidade de milho (pobre em
triptofano) e praticamente não ingeriam carne (BADAWY, 2014; LÓPEZ,
et al., 2013). Gaspar Casal nomeou de Mal da Rosa, pelas erupções
vermelhas que residiam nas mãos e pés dos pacientes atendidos
(PÉREZ, et al., 2013), e os ferimentos na região do pescoço como
Colarinho de Casal (LÓPEZ, et al., 2013).
Francesco Frapoli nomeou esta doença do italiano pelle agra (pele
áspera) e foi o primeiro a usar este termo em 1771 (LÓPEZ, et al., 2013).
Na década de 1920, Goldberger e seus associados estabeleceram
que a pelagra, apesar de toda uma suplementação de minerais, vitaminas
e proteínas de alto valor biológico, ainda assim se desenvolveu. Assim,
Goldberger após ter feito um levantamento sobre a possibilidade de a
doença ter sido consequência da escassez ou instabilidade de
aminoácidos na dieta, determinou que a pelagra era causada por uma
deficiência alimentar e que poderia ser tratada por um fator preventivo de
pelagra (Fator PP), fator que mais tarde, seria conhecido como vitamina
PP. Porém, ele nunca identificou o indescritível Fator PP, pois as
pesquisas foram interrompidas por sua morte prematura. (LANSKA,
2012).
Mais tarde, em 1937 Elvehjem e colaboradores descobriram que
essa substância se tratava da niacina (BADAWY, 2014).
Krehl, em 1945, estipulou a existência de uma ligação entre niacina
e o aminoácido essencial triptofano (BADAWY, 2014).
8. CONCLUSÃO
O presente estudo teve por finalidade possibilitar um maior
conhecimento da niacina, uma vitamina com grande importância para o
organismo, além de centralizar pesquisas já realizadas sobre as
necessidades fisiológicas do corpo, relacionando-a aos benefícios e
advertindo quanto à falta ou excesso da mesma.
De um modo geral, a niacina tem grande importância,
principalmente por ser precursora de moléculas bioativas, que atuam
como cofatores importantes para grande parte das reações de
oxirredução presentes nas células além de, também possuir influência
quanto ao estresse oxidativo, modulando múltiplas vias ligadas a
sobrevivência celular e a morte. Entre todas as suas funções, também é
um agente importante para elevar as concentrações plasmáticas de HDL
e reduzir as concentrações de triglicérides e LDL.
O estudo também possibilitou um maior conhecimento quanto às
fontes da vitamina e de seu aminoácido precursor, quantidades diárias de
consumo, digestão e absorção, além de suas formas de liberação no
organismo. Problemas como Pelagra ou “flushing,” acarretados
respectivamente, pela carência e pelo excesso desta vitamina, também
foram abordados durante o desenvolvimento deste artigo. Outros
aspectos importantes como problemas absortivos ligados a patologias do
TGI e ao alcoolismo, a hepatotoxidade e o aumento da resistência à
insulina e níveis de ácido úrico foram relatados, bem como efeitos
colaterais relacionados à forma de liberação da niacina. De qualquer
forma foi evidenciada a utilização desta vitamina como citoprotetor,
cardioprotetor e como fármaco hipolipemiante.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DUNBAR, R.L. & GELFAND, J.M. Seeing red: flushing out instigators
of niacin-associated skin toxicity. The Journal of Clinical Investigation,
2010; 120 (8): 2651-2655
KIRKLAND, J.B & MEYER-FICCA, M.L. Niacin. Adv Food Nutr Res,
2018; 83:83 – 149
LI, F.; CHONG, Z.Z. & MAIESE, K. Cell Life versus cell longevity: the
mysteries surrounding the NAD+ precursor nicotinamide. Curr Med
Chem, 2006; 13 (8), 883-895
LIN, C. et al. The Effects of Extended Release Niacin on Lipoprotein
Sub-Particle Concentrations in HIV-Infected Patients. HAWAI‘I
JOURNAL OF MEDICINE & PUBLIC HEALTH, 2013; 72 (4): 123-127
LÓPEZ, M.; OLIVARES, J.M. & BERRIOS, G.E. Pellagra
encephalopathy in the context of alcoholism: review and case
report. Alcohol Alcohol. 2014; 49 (1): 38-41
SEMBA, R.D. The Discovery of the Vitamins. Int. J. Vitam. Nutr. Res.,
2012; 82 (5): 310-315.
SONG, W.L. & FITZGERALD, G.A. Niacin, an old drug with a new
twist. Journal of Lipid Research, 2013; 54: 2586-2594.