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APLICAÇÕES DO BIOGÁS, BIOMETANO

E BIOFERTILIZANTE

Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e


Biofertilizante
Projeto “Aplicações do Biogás na Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil)

Este documento está sob licença Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivatives


4.0 International License.
O GEF Biogás Brasil permite a citação deste material, desde que a fonte seja citada.
Contato: contato@gefbiogas.org.br

COMITÊ DIRETOR DO PROJETO FICHA TÉCNICA


Nome do produto:
Global Environment Facility
Aplicações do Biogás, Biometano e Biofertilizante

Organização das Nações Unidas para o Componente Output e Outcome:


Desenvolvimento Industrial Componente 2.1.4

Ministério da Ciência, Tecnologia, Publicado pela entidade:


Inovações e Comunicações Organização das Nações Unidas para o
Desenvolvimento Industrial - UNIDO
Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento Entidade(s) diretamente envolvida(s):
Centro Internacional de Energias Renováveis
Ministério de Minas e Energia Biogás - CIBiogás
Universidade Federal do Oeste da Bahia - UFOB
Ministério do Meio Ambiente
Autores e coautores:
Centro Internacional de Energias Renováveis Higor Eisten Francisconi Lorin – CIBiogás
Jéssica Yuki de Lima Mitto – CIBiogás
Itaipu Binacional Daiana Gotardo Martinez – UNIDO|CIBiogás
Leonardo Pereira Lins - CIBiogás
PARCEIROS
Revisão Técnica:
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Maico Chiarelloto - UFOB
Pequenas Empresas
Coordenador:
Associação Brasileira de Biogás Felipe Souza Marques

Coordenação Pedagógica:
Iara Bethania Rial Rosa

Data da publicação:
Setembro, 2020.

Ficha catalográfica elaborada por:


APRESENTAÇÃO

O Projeto “Aplicações do Biogás na agrícola. Os benefícios se estendem tanto ao


Agroindústria Brasileira” (GEF Biogás Brasil) produtor agrícola, que reduz os custos de sua
reúne o esforço coletivo de organismos atividade com o reaproveitamento de resíduos
internacionais, instituições privadas, entidades orgânicos, quanto ao desenvolvimento
setoriais e do Governo Federal em prol da econômico nacional, já que um setor produtivo
diversificação da geração de energia e de mais eficiente ganha competitividade frente à
combustível no Brasil. A iniciativa é concorrência internacional. Indústrias de
implementada pela Organização das Nações equipamentos e serviços, concessionárias de
Unidas para o Desenvolvimento Industrial energia e de gás, produtores rurais e
(UNIDO) e conta com o Ministério da Ciência, administrações municipais estão entre os
Tecnologia e Inovações (MCTI) como beneficiários do projeto, que conta com US
instituição líder no âmbito nacional. O objetivo $ 7,828,000 em investimentos diretos.
principal é reduzir a dependência nacional de
combustíveis fósseis através da produção de Com abordagem inicial na região Sul do Brasil
biogás e biometano, fortalecendo as cadeias e no Distrito Federal, a iniciativa pretende
de valor e de inovação tecnológica no setor. impactar todo o país. Entre seus resultados
previstos estão a compilação e a divulgação de
A conversão dos resíduos orgânicos dados completos e atualizados sobre o setor, a
provenientes da agroindústria e da fração oferta de serviços e recursos para capacitação
orgânica do lixo urbano, muitas vezes técnica e profissional, a criação de modelos de
descartados de forma insustentável, pode se negócio e de pacotes tecnológicos inovadores,
tornar um diferencial competitivo para a a produção de Unidades de Demonstração
economia brasileira, além de reduzir a emissão seguindo padrões internacionais, a
de gases de efeito estufa nocivos à camada de disponibilização de serviços financeiros
ozônio e ao meio ambiente. específicos para o setor, a ampliação da oferta
energética brasileira, e articulações
O biogás e o biometano podem ser utilizados estratégicas entre a alta gestão governamental
para a geração de energia elétrica, energia e entidades setoriais para a modernização da
térmica ou combustível renovável para regulamentação e das políticas públicas em
veículos, e seu processamento resulta em torno do tema, deixando um legado positivo
biofertilizantes de alta qualidade para uso para o país.
Aplicações do Biogás, Biometano e
Biofertilizante

Aula 1 – Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato


e Biofertilizante

Data da Publicação:

Setembro/2020
Sumário

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 13
2. PROPRIEDADES DO DIGESTATO E BIOFERTILIZANTE ......................... 13
2.1. Fatores que influenciam na composição química do digestato ................ 14
2.2. Tratamento do digestato ............................................................................... 18
3. BIOENSAIOS PARA AVALIAE O POTENCIAL FITOESTIMULANTE DE
DIGESTATO ............................................................................................................. 20
4. APLICAÇÃO DO DIGESTATO COMO BIOFERTILIZANTE LÍQUIDO........ 22
5. VALORAÇÃO DO DIGESTATO EM UNIDADES PRODUTIVAS ................ 31
6. CONCLUSÃO .................................................................................................... 33
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 34
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Lista de Figuras

Figura 1 - Esquema do processo de digestão anaeróbia (DA). .......................... 13


Figura 2 - Fatores de monitoramento e controle do processo de DA. ................ 14
Figura 3 - Indicador de pH em tiras de papel tornassol (variação de pH: 1 – 14).
................................................................................................................................... 15
Figura 4 - Sistema de aquecimento de um biorreator .......................................... 16
Figura 5 - Composição da alimentação de um biorreator. ................................... 17
Figura 6 - Parâmetros com potencial de inibição do sistema. ............................. 17
Figura 7 - Fluxograma sistêmico da produção e aplicação do biofertilizante .... 19
Figura 8 - Sistema de pasteurização de digestato................................................ 20
Figura 9 - Imagens do ensaio de fitotoxicidade em sementes de Lepidium
sativum. ..................................................................................................................... 21
Figura 10 - Esquema simplificado do uso do digestato como biofertilizante. .... 22
Figura 11 - Aplicação de biofertilizante por aspersão tipo leque utilizando
caminhão tanque. ..................................................................................................... 27
Figura 12 - Implemento acoplado ao trator para aplicação de biofertilizantes por
aspersão tipo leque. ................................................................................................. 27
Figura 13 - Barra de separação rebaixada para a aplicação biofertilizante
líquido. ....................................................................................................................... 28
Figura 14 - Equipamento para injeção de fertilizante líquido no solo (dejeto
líquido de suíno). ...................................................................................................... 29
Figura 15 - Distribuidor de adubo orgânico líquido com incorporador/injetor no
solo. ........................................................................................................................... 29
Figura 16 - Perdas de nitrogênio por volatilização, em forma de amônia (NH3),
quando aplicado em superfície e injetado no solo. ............................................... 30
Figura 17 - Acúmulo de N nos grãos de milho e produtividade do milho em
sistema de plantio direto com diferentes adubações. .......................................... 31
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Lista de Quadros

Quadro 1 - Caracterização de digestatos de dejeto líquido de suínos


provenientes de biodigestores de lagoa coberta .................................................. 24
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Lista de Equações

Equação 1 ................................................................................................................. 21
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Apresentação do Curso
Sejam bem-vindos alunos do Curso “Aplicações do Biogás, Biometano e
Biofertilizante”. A aula de hoje intitulada “Aplicações do digestato - Manejo do digestato
e biofertilizante” irá lhe inserir em um contexto mais prático e visual, referente à etapa
seguinte da digestão anaeróbia. Iremos lhe mostrar as diversas possibilidades de
aplicação do seu digestato ou biofertilizante após receber um tratamento adequado.
Nosso objetivo é que você assimile o conteúdo e possa visualizá-lo ou até
replicá-lo na prática em sua propriedade, empresa, indústria e demais situações na
agricultura, agropecuária ou agroindústria.
Este curso foi dividido em cinco aulas, sendo elas:

1ª aula: Aplicações do digestato – manejo do digestato e biofertilizante;


2ª aula: Tecnologias disponíveis para conversão de biogás em energia elétrica
e cogeração;
3ª aula: Regulação e legislações para GI e GD no Brasil;
4ª aula: Conversão de biogás em energia térmica;
5ª aula: Regulação e políticas públicas para produção e uso do biometano;
Transporte, armazenamento, distribuição e infraestrutura para uso de biometano.

Na primeira aula, trabalharemos os fatores e características do digestato.


Visando facilitar à tomada de decisão relacionada ao manejo e à aplicação do digestato,
estes parâmetros irão auxiliar e guiar nas etapas seguintes, para que seja escolhida a
opção mais viável socioeconomicamente e ambientalmente correta. Posso aplicar o
digestato ou biofertilizante na lavoura logo após a etapa de digestão anaeróbia (saída
do biodigestor)? Esse biofertilizante precisa receber um pós-tratamento mesmo após
passar pela digestão anaeróbia?
Apresentaremos alguns métodos e materiais mais aprofundados, focados mais
especificamente na influência que o digestato possui no crescimento e desenvolvimento
de um cultivar. De forma a otimizar e facilitar o manejo do digestato, iremos lhes apontar
algumas técnicas e estratégias de aplicação mais adequadas à realidade no campo. Por
fim, lhes mostraremos as possibilidades de valorizar financeiramente o biofertilizante de
sua propriedade rural.
Na segunda aula abordaremos questões sobre a aplicação do biogás em
energia elétrica, tipos, características e operação de grupo motogeradores.
Na terceira aula serão abordados conceitos e definições de geração distribuída,
venda de energia, normativas específicas sobre micro geração e minigeração e
aspectos legais.
Na quarta aula iremos trabalhar com o tema de conversão e aplicação do
biogás em energia térmica.
Na quinta aula abordaremos os aspectos regulatórios do biometano como
resoluções da ANP para especificação técnica do biometano.
Vamos começar os estudos! Com este material de fácil entendimento você irá
se capacitar de forma agradável, poderá transmitir esse conhecimento aprendido para
sua família, seus companheiros de trabalho, sua empresa. Por fim, você poderá atingir
sucesso pessoal ou profissional, cumprir um objetivo e até encontrar soluções
alternativas para um problema local ou regional.

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Esperamos que você consiga se desenvolver ao máximo durante o curso. Bons


estudos e qualquer auxílio que necessite referente as dúvidas, nossa equipe estará à
disposição.

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Desenvolvimento Proporcionado
Nesta aula será proporcionado o desenvolvimento de conhecimentos e
habilidades que poderão ser colocados em prática por você ao longo do curso e após a
finalização das atividades propostas:

COMPETÊNCIAS:
1. Conhecimento aprofundado sobre digestatos;
2. Possibilidade e facilitação da aplicação prática das técnicas aprendidas.

HABILIDADES:
1. Proatividade;
2. Discernimento;
3. Flexibilidade.

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

1. INTRODUÇÃO

Quando se utiliza a digestão anaeróbia para tratamento de materiais orgânicos,


que podem ser derivados da atividade agrícola, agropecuária ou agroindustrial, é
possível ao final do processo, obter dois produtos, o biogás e o digestato.
O digestato que apresente características fertilizantes, concentrações de
macro e micronutrientes e que possa ser utilizado como insumo agrícola é denominado
de biofertilizante.
A avaliação do manejo e das características do digestato, determinando sua
composição, são importantes para o melhoramento de técnicas e estratégias de
aplicação que resultarão em uma aplicação segura e eficaz.
Por fim, todos esses aspectos referentes ao manejo, qualidade, concentração
de nutrientes, do digestato e biofertilizante, mostram as diversas possibilidades de
valorar esse importante produto e como ele pode auxiliar na implantação de plantas de
biogás.

2. PROPRIEDADES DO DIGESTATO E BIOFERTILIZANTE

Utilizando-se de materiais orgânicos (residuais ou não) derivados de atividade


agrícola, agropecuária ou agroindustrial e por meio de um tratamento e estabilização
chamado digestão anaeróbia (DA), é possível obter, ao final do processo, um
subproduto sólido, semi-sólido ou líquido denominado digestato. Existe a possibilidade
que este substrato apresente características fertilizantes, exibindo elevadas
concentrações de macro e micronutrientes e possa ser aplicado na lavoura, caso atenda
normativas e legislações vigentes de saneamento, meio ambiente e insumos agrícolas.
Por fim esse composto recebe o nome de biofertilizante (PENG et al., 2020).
O processo de tratamento e estabilização (DA) do material orgânico ocorre no
interior de um biorreator. Esta estrutura é composta por um compartimento
hermeticamente fechado, impedindo a entrada de ar ou demais contaminantes externos.
Outro subproduto produzido durante o tratamento é o biogás, que pode posteriormente
ser queimado (gerando calor ou energia elétrica), refinado e injetado na rede de geração
distribuída (GD) de gás (KUMAR & SAMADDER, 2020).

Figura 1 - Esquema do processo de digestão anaeróbia (DA).

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Dentre as principais características de um digestato destacam-se as físicas,


químicas e biológicas.
A característica física está relacionada a composição estrutural do material,
sua palpabilidade e seu aspecto visual. Por exemplo, o nosso substrato está na forma
sólida, semi-sólida ou líquida?
Entende-se por característica química, a composição do material que
estamos trabalhando, a capacidade que este material possui em alterar e transformar-
se em um substrato parecido ou então a capacidade que este elemento possui em
alterar outro tipo de material.
Por fim, a característica biológica geralmente está relacionada aos seres
vivos macro ou microscópicos que existem em um determinado substrato. Analisam-se
as condições para que esse organismo habite um substrato e as características dos
microrganismos (benéficos ou indesejáveis) e sua influência na composição do material
estudado.
Na Figura 2, são apresentados os fatores de monitoramento e controle do
processo de DA, e que influenciam diretamente nas características do digestato.

Figura 2 - Fatores de monitoramento e controle do processo de DA.

2.1. Fatores que influenciam na composição química do digestato


Vamos relembrar dos parâmetros e variáveis que auxiliam no controle e
monitoramento do processo de digestão anaeróbia e influenciarão diretamente no
resultado final do nosso digestato (na saída do biorreator).
Dentre os principais parâmetros físico-químicos temos o potencial
hidrogeniônico (pH), teor de água/sólidos, condutividade elétrica (CE), alcalinidade,
temperatura, ácidos orgânicos voláteis e relação C/N. Por outro lado, podemos

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

monitorar a concentração de alguns parâmetros indicadores de inibição do sistema


como oxigênio, sulfeto de hidrogênio, nitrogênio amoniacal, metais pesados e
antibióticos/desinfetantes agropecuários (LI et al., 2018).
O pH é um parâmetro de monitoramento do digestato durante o processo de
DA de fácil determinação, onde o próprio produtor rural, sob as orientações de um
especialista, pode determinar o valor por meio de métodos simplificados (Erro! Fonte d
e referência não encontrada.Erro! Fonte de referência não encontrada.). Os valores
adequados de pH podem variar de 6,5 à 7,5 e irão depender do material orgânico de
origem que está sendo tratado, lembrando que valores extremos tanto abaixo ou acima
deste intervalo podem levar à inibição parcial ou total do sistema (MAO et al. 2015; LI et
al., 2019).

Figura 3 - Indicador de pH em tiras de papel tornassol (variação de pH: 1 – 14).

O teor de água (%H2O) ou teor de sólidos (sólidos totais - %ST), auxiliam a


classificar o tipo de digestão anaeróbia que será realizada. Podemos submeter o
digestato à DA seca ou de fase sólida (%ST ≥ 15), semi-sólida (10 ≤ %TS < 15) e a
líquida (%ST < 10) (LI et al., 2011). Normalmente o que se vê nas propriedades rurais
e agroindústrias à nível nacional são biodigestores operando a DA em fase líquida.
A condutividade elétrica (CE) representa o grau de mineralização do
substrato, desde sua composição inicial até sua transformação em digestato
estabilizado ao final da DA, já na saída do biorreator. O resultado é um líquido composto
por uma grande concentração de minerais solúveis que podem ser prontamente
absorvidos pelo cultivar (LI et al., 2019).
A alcalinidade é um parâmetro de indicação de a acúmulo de ácidos no
sistema e é considerada mais eficiente e imediata quando comparada ao pH. O aumento
da concentração de ácidos, consome primeiramente a alcalinidade para, posteriormente,
alterar o potencial hidrogeniônico. Geralmente este fator auxilia na agilidade de tomadas

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

de decisão durante a operação de biorreatores de escala plena, a fim de garantir seu


bom funcionamento (KAINTHOLA et al., 2019).
A temperatura influencia diretamente no comportamento dos microrganismos
presentes no biorreator. Existem faixas de temperatura de operação e em cada faixa
existem o favorecimento da atuação de uma comunidade microbiológica. A velocidade
metabólica, o crescimento microbiano e atividades bioquímicas de transformação do
composto orgânico em digestato dependem da variação da temperatura. Existe ainda a
possibilidade de relacionar sua influência na solubilização, ou não, de compostos no
digestato, que podem auxiliar no monitoramento de processos inibitórios. Normalmente
utilizam-se trocadores de calor para auxiliar no controle de temperatura do digestato
(Erro! Fonte de referência não encontrada.) (LIN et al., 2016).

Figura 4 - Sistema de aquecimento de um biorreator

Fonte: Mother Earth News (2014).

Os ácidos orgânicos voláteis são compostos por um grupo de alguns tipos


de ácidos (acético, propiônico, butírico e o valérico) produzidos durante o processo da
DA. Nas etapas finais de estabilização, eles são convertidos em biogás, compostos e
demais subprodutos. A entrada de material orgânico e sua composição influenciam na
quantidade de ácidos produzidos no sistema. Deve-se atentar que tanto a escassez
quanto o excesso de ácidos orgânicos no digestato podem causar processos de inibição
dentro do biorreator (RYUE et al., 2020).
A relação C/N indica proporção de Nitrogênio e Carbono encontrada no
digestato sob estudo. Por meio desta relação é possível controlar a entrada do tipo e a
quantidade de material orgânico no reator, buscando sempre uma proporção adequada
e estratégias de alimentação que favoreçam o equilíbrio (Erro! Fonte de referência n
ão encontrada.). Uma relação ideal para o processo de DA encontra-se na faixa de 20
a 35 (MAO et al., 2015). O nitrogênio é considerado uma importante fonte de nutriente
para o desenvolvimento fisiológico dos microrganismos. Por outro lado, o carbono é
convertido naturalmente em ácidos que são essenciais no processo de digestão e

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

posteriormente em biogás, considerado um subproduto da DA que pode possuir valor


econômico agregado. Assim como em outros parâmetros, o excesso ou escassez tanto
de nitrogênio quanto de carbono podem causar problemas inibitórios e
consequentemente interferindo na qualidade final do digestato (SIDDIQUE & AB.
WAHID, 2018).

Figura 5 - Composição da alimentação de um biorreator.

Dentre os parâmetros que podem causar diferentes formas de inibição do


sistema de digestão anaeróbia, iremos relembrar os mais habituais (Erro! Fonte de r
eferência não encontrada.).

Figura 6 - Parâmetros com potencial de inibição do sistema.

Esses compostos, dependendo de sua concentração dissolvida no substrato,


podem diminuir a eficiência ou então retardar o processo de DA. Conforme o nível de
saturação ou toxicidade relacionada às variáveis inibitórias, existe a possibilidade de
que a digestão anaeróbia seja interrompida ou então, em casos mais extremos, o
colapso total do biorreator. Por fim, conclui-se que os problemas relacionados aos
parâmetros inibitórios, podem impactar diretamente na qualidade final do digestato
(saída do digestor) (RYUE et al., 2020).

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

2.2. Tratamento do digestato

Para que o digestato produzido no biodigestor possa ser aplicado na lavoura


ou então comercializado como um biofertilizante, existem normativas e regulamentos
que precisam ser seguidos, tanto a nível nacional, quanto a nível internacional.
Devido à composição e à origem dos materiais orgânicos, podem haver alguns
contaminantes que não são estabilizados ou tratados durante o processo de digestão
anaeróbia. A presença de doenças causadas por microrganismos e macrorganismos
como bactérias, vírus e fungos, a presença de medicação de atividades agropecuárias
compostas por antibióticos e desinfetantes ou até mesmo a elevada concentração de
macro e micronutrientes presentes no digestato podem estar em desacordo com as
legislações vigentes.
Quais procedimentos devem ser realizados para tratar adequadamente o
digestato, quando houver a presença de coliformes, salmonela ou ovos de helmintos?
Caso o digestato apresentar uma elevada concentração de minerais e nutrientes e a
técnica de diluição não for o suficiente? Após saída do biodigestor e não havendo a
possibilidade de aplicação do digestato no local, é permitido seu despejo direto em um
corpo hídrico ou devo tratá-lo anteriormente?

Para saber mais:

- DECRETO Nº 4.954/2004 (Brasil)


- Quality Protocol – Anaerobic Digestate NIEA, 2014
(Reino Unido)
- British Standards Institution - PAS 110:2014 (Reino
Unido)
- Fertiliser Regulation (EC) Nº 2003/2003/EC (União
Européia)
- RAL-GZ 245 - German Institute for Quality Assurance
and Certification (Alemanha)

Além dessas referências, é importante citar a Resolução CONAMA 430/2011 -


Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, pois o digestato pode
ser caracterizado como um efluente gerado proveniente de atividade econômica.
Dentre as tecnologias utilizadas no tratamento e higienização do digestato
temos a pressurização, a utilização de micro-ondas, sendo que as mais utilizadas e
conhecidas são a pasteurização, a aplicação de químicos em estações de tratamento,
alguns tratamentos biológicos e a utilização de radiação UV. Logo, anteriormente à
instalação da planta de digestão anaeróbia, deve-se realizar um planejamento visando
a futura utilização ou destinação do biofertilizante.
Uma vez que decida-se aplicar o digestato na lavoura, processos de
higienização devem ser aplicados no material orgânico antes mesmo que ele passe pela
DA no biorreator (Erro! Fonte de referência não encontrada.). Desta forma, evita-se q
ue todo o sistema de tratamento seja contaminado, resultando, consequentemente, em
um digestato impróprio para uso agrícola.

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Figura 7 - Fluxograma sistêmico da produção e aplicação do biofertilizante

Fonte: Adaptado de Liu et al. 2019

Existem tipos de E. coli que podem ser consideradas infecciosas e deletérias,


porém a maioria não é prejudicial ao ser humano. A presença de coliformes, mais
especificamente da Escherichia coli (E. coli), funciona como um indicador de
contaminação fecal, uma vez que esses microrganismos se encontram em grande
quantidade no sistema digestório de humanos e animais.
Logo, na cadeia produtiva agropecuária a presença das dejeções dos animais
sempre irá apresentar coliformes e deverão ser tratadas com o objetivo de eliminar
esses microrganismos antes de seu descarte ou então inserção dentro de um
biodigestor (MAPA, 2016).
Por outro lado, quando o cenário é a agroindústria, regulamentos internos e
legislações mais rigorosas são adotadas, pois a contaminação pode se espalhar e
atingir diversos setores, impactando a sociedade, a saúde pública e o meio ambiente.
Tem-se a manipulação de matéria-prima e subprodutos animais residuais contém um
risco biológico elevado, pois, os patógenos relacionados são extremamente prejudiciais
à saúde, como Giardíase, E. coli, Salmonella spp., Staphylococcus aureus, dentre
outros (COELHO et al., 2018).
Outro processo é o da pasteurização que é um tratamento térmico aplicado
em diversas cadeias produtivas, porém é mais difundido no setor alimentício, Figura 8.
Em um primeiro momento a temperatura é elevada, mantida durante um determinado
tempo e em seguida a temperatura é reduzida abruptamente. Existem dois tipos de
pasteurização aplicadas à digestatos: a rápida consiste na aplicação de temperaturas
de 70 ºC durante 60 minutos; na lenta a temperatura é relativamente menor indo de 60
ºC durante 210 minutos à 65 ºC durante 90 minutos de acordo com legislações da União
Européia (LIU et al., 2019).

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Figura 8 - Sistema de pasteurização de digestato

Fonte: HRS Heat Exchangers

3. BIOENSAIOS PARA AVALIAE O POTENCIAL FITOESTIMULANTE DE


DIGESTATO

Dentre os ensaios realizados para mensurar o potencial fertilizante que o


digestato possui, um dos mais utilizados é o teste de fitotoxicidade que possibilita
determinar o Índice de Germinação (IG) (COELHO et al., 2018).
A característica fitotóxica nos biofertilizantes pode ser relacionada à elevada
concentração de nutrientes, sais, metais (valores expressivos de condutividade elétrica)
e de N em sua forma amoniacal. Tais características influenciam diretamente nas
diversas etapas do crescimento e desenvolvimento do vegetal. Aplicações realizadas
diretamente na semente podem causar inibição parcial ou total da germinação
(LENCIONI et al., 2016).
Recomendam-se testes preliminares utilizando-se o biofertilizante com o
objetivo de encontrar sua melhor proporção de diluição (COELHO et al., 2018).
Geralmente a partir de diluições abaixo de 20% encontram-se resultados onde o
digestato se mostra mais fitoestimulante. Uma metodologia de ensaio de fitotoxicidade
amplamente conhecida é referente aos trabalhos de Zucconi et al. (1981) utilizando-se
sementes de Lepidium sativum (agrião de jardim) para definição dos IG’s.
O ensaio consiste na inserção de sementes de agrião em Placas de Petri com
disco de papel filtro sob o qual se adicionam 2 mL de extrato de biofertilizante (utilizando-
se a diluição desejada). Em um segundo momento, as placas são colocadas em uma
incubadora tipo BOD1 que possui a capacidade de controlar a temperatura, umidade e
exposição à luz (o uso de luz depende da metodologia). Após 48 horas sob parâmetros
controlados, as placas são retiradas da incubadora. Realiza-se a contagem de
sementes germinadas e o comprimento de sua radícula (ZUCCONI et al., 1981).

1
BOD – Do inglês: Demanda Bioquímica de Oxigênio. Incubadora utilizada para controlar parâmetros
físico-químicos voltados à análise de águas e efluentes.

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Por fim os resultados obtidos são aplicados em uma fórmula (Erro! Fonte de r
eferência não encontrada.) e comparados com os dados coletados no controle. O
controle representa o cenário que não recebeu biofertilizante, apenas aplicou-se água
mineral (não clorada) e devidamente filtrada.

Equação 1

Onde:

IG - Índice de germinação (%);


Gt - Número de sementes germinadas no tratamento (adimensional);
̅̅̅
Gc - Média de sementes germinadas no controle (adimensional);
̅ - Comprimento médio das raízes germinadas no tratamento (cm);
Lt
̅̅̅ - Comprimento médio das médias das raízes germinadas no controle (cm).
Lc

Na Erro! Fonte de referência não encontrada., é possível acompanhar o d


esenvolvimento do teste e visualizar o crescimento das radículas.

Figura 9 - Imagens do ensaio de fitotoxicidade em sementes de Lepidium sativum.

Fonte: Adaptado de Damaceno et al. 2019

A nível nacional ainda não existem bioensaios de avaliação do potencial


fitotóxico ou fitoestimulante regidos sob uma determinada legislação, normativa ou
regulamento, por esse motivo, são utilizadas referências de outros países ou blocos
econômicos como guias e diretrizes para a aplicação destas metodologias.
Em um trabalho realizado por Belo (2011) foram apresentadas faixas de
classificação do ensaio de fitotoxicidade, onde:

- IG’s abaixo de 30%, muito fitotóxicos;


- IG’s entre 30 e 60% fitotóxicos;
- IG’s entre 60 e 80% moderadamente fitotóxicos;
- IG’s entre 80 e 100% não fitotóxicos;
- IG’s acima de 100% fitoestimulantes;

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Por outro lado, em uma legislação italiana valores de IG’s acima de 60% já
podem ser considerados aceitáveis para biofertilizantes (não fitotóxicos) (ITÁLIA, 2010)
e valores abaixo desse percentual podem apresentar níveis tóxicos para determinados
cultivares (ROS et al., 2018).
Com o objetivo de determinar o motivo de um digestato ou biofertilizante exibir
um comportamento fitoestimulante, Scaglia et al. (2015) realizaram um trabalho
comparando frações de compostos orgânicos com digestatos produzidos na cadeia
agropecuária. Observou-se que o digestato demonstrou um comportamento
fitoestimulante semelhante a fito-hormônios como a auxina, que estimulam o
desenvolvimento do sistema radicular e dos pelos radiculares responsáveis pela
absorção de água, sais e demais nutrientes e podem ser encontrados na fração
dissolvida da matéria orgânica de compostos estabilizados anteriormente em processos
de compostagem.

4. APLICAÇÃO DO DIGESTATO COMO BIOFERTILIZANTE LÍQUIDO

O Brasil possui um enorme potencial para o aproveitamento de resíduos


orgânicos, principalmente, os gerados na extensa cadeia agroindustrial do país
(ABIOGÁS, 2015). Além disso, possui um enorme potencial para a produção de
biomassa, devido ao seu posicionamento geográfico e suas condições ambientais. O
processo DA permite o aproveitamento tanto dos resíduos orgânicos quanto da
biomassa, possibilitando a extração de energia e a reinserção dos nutrientes, contidos
nos materiais orgânicos, nas cadeias produtivas.
Um dos entraves para o crescimento da cadeia da DA e do biogás, é a
necessidade da correta destinação do efluente gerado nos biodigestores, o digestato
(KUNZ et al. 2019). Neste sentido, o uso dos materiais orgânicos, após a digestão
anaeróbia (digestato), como um insumo agrícola (biofertilizante), apresenta-se como
uma excelente estratégia para fortalecer tanto o desenvolvimento do setor da DA quanto
com a cadeia produtiva agrícola. Isto é devido a possibilidade do valor fertilizante,
contido no digestato, poder reduzir os custos de produção na agricultura (substituição
parcial aos fertilizantes convencionais).

Figura 10 - Esquema simplificado do uso do digestato como biofertilizante.

Fonte: O autor (2020).

22
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

O termo digestato é todo o produto resultante do processo de digestão


anaeróbia de materiais orgânicos, residuais ou não. Já o termo biofertilizante é
designado quando o digestato apresenta características fertilizantes de interesse
agronômico, podendo ser aplicado em cultivos agrícolas, quando apresentar
concentrações convenientes de nutrientes e microrganismos que possam contribuir com
a cultura de interesse agrícola.
O uso do digestato como biofertilizante, quando aplicado de maneira adequada,
traz vantagens tanto ambientais quanto econômicas. Isso é devido ao valor fertilizante
do digestato possibilitar a viabilização econômica do tratamento necessário dos
resíduos orgânicos, amortizando os custos intrínsecos do processo (NICOLOSO et al.,
2019). Assim como, pode colaborar com viabilização de usinas de biogás ou
biodigestores de menor escala, absorvendo a expressiva geração de digestato nas
plantas de biogás.
Como já discutimos, as características de um digestato está diretamente
relacionada com o substrato de origem, a diluição empregada, tempos de retenção,
dentre outras variáveis do processo de DA, bem como, o tipo e/ou tecnologia do
biodigestor utilizado, além do armazenamento e tratamento do digestato. É justamente
por isso que há uma enorme variabilidade nas características dos inúmeros digestatos
existentes.
Na prática, haverá um maior ou menor valor fertilizante embutido nos variados
digestatos. Isso é devido as quantidades de macronutrientes (Nitrogênio (N), Fósforo
(P), Potássio (K)) e micronutrientes (Ferro (Fe), Boro (B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Zinco
(Zn), dentre outros) de interesse agrícola, contidos no digestato (discutiremos com mais
detalhes no tópico 5. Valoração do digestato em unidades produtivas). Os
macronutrientes são aqueles que os vegetais necessitam e absorvem em maiores
quantidades. Já os micronutrientes são aqueles requeridos e absorvidos em menores
quantidades.
Como exemplo, temos o quadro abaixo (Quadro 1), acerca da caracterização
de digestatos (biofertilizantes) oriundos de dejeto líquido de suínos. Nota-se as
quantidades significativas de macronutrientes presente nos diferentes biofertilizantes,
incidindo em até 4.089 mg L -1 de nitrogênio, 1.670 mg L-1 de fósforo e 1.438 mg L-1 de
potássio, demonstrando o potencial fertilizante dos digestatos.
Além disso, está evidente a variabilidade tanto dos sólidos totais (ST), quanto
dos macronutrientes (Nitrogênio - N; N-amoniacal - N-NH4; Pentóxido de fósforo - P2O5;
Óxido de Potássio - K2O), mesmo sendo proveniente do mesmo tipo de substrato (dejeto
suíno). Esse fato ocorre devido a influência da quantidade de água utilizada dentro da
granja, durante o manejo dos animais, ou ainda com a variação do sistema de produção
(Unidade Produtora de Leitões - UPL, Unidade de Crescimento e Terminação - UCT,
Ciclo Completo - CC e Unidade de Creche - UC), e no caso do fósforo (P), os
pesquisadores atribuíram a variação, principalmente, pelo longo tempo de
armazenamento do digestato, precipitando o P para o lodo das lagoas (NICOLOSO et
al., 2019).

23
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Quadro 1 - Caracterização de digestatos de dejeto líquido de suínos provenientes de


biodigestores de lagoa coberta
Animais alojados Biofertilizante
Tipo de
ST N N-NH4 P2O5 K2O
granja Número Categoria
g.L-1 mg.L-1
mg.L -1
mg.L-1 mg.L-1
UPL 280 matrizes 2,3 550 508 71 384
UPL 400 matrizes 14,8 2.008 1.527 850 576
UPL 300 matrizes 9,9 1.718 1.401 370 715
UPL 150 matrizes 3,1 862 783 86 515
UCT 250 suínos 38,5 4.089 2.568 1.670 1.257
UCT 750 suínos 4,2 987 954 31 919
UCT 1.000 suínos 27,0 2.232 1.301 940 934
UCT 260 suínos 3,6 771 731 41 909
CC 150 matrizes 1,7 125 94 29 447
UC 1.500 leitões 19,4 2.376 1.843 352 1.438
ST: sólidos totais; N: nitrogênio; N-NH4: N-amoniacal; P2O5: Pentóxido de fósforo; K2O: Óxido de
potássio; UPL: unidade produtora de leitões, UCT: unidade de crescimento e terminação; CC:
ciclo completo; UC: unidade de creche.
Fonte: Extraído e adaptado de Nicoloso et al. (2019).

Portanto, quando corretamente manejado, os materiais orgânicos (resíduos


orgânicos e/ou biomassas) se tornam uma ferramenta atrativa e segura de oferta de
nutriente para as áreas agrícolas (lavouras, pastagens, reflorestamentos, etc.). Esta
prática, do uso do digestato como um biofertilizante, poderá substituir parcialmente ou
totalmente os fertilizantes minerais convencionais, demandados na produção agrícola,
com impactos positivos para o ambiente e contribuindo com a viabilidade econômica
dos empreendimentos agropecuários e agroindustriais (NICOLOSO et al., 2019).
Salienta-se ainda, que a aplicação do digestato como um biofertilizante agrícola
está em acordo com os princípios da economia circular. Neste caso, o fortalecimento
desta economia se dá por meio da reciclagem de nutrientes, na qual torna-se possível
a inserção, novamente, destes elementos em outras cadeias produtivas (produção de
alimentos, pastagens, fibras, madeira, energia etc.).

Para saber mais:

O conceito “economia circular” implica em


transformar materiais que estão no final de sua vida
útil em recursos para terceiros, fechando loops em
ecossistemas produtivos, e minimizando o
desperdício. Os princípios da economia circular
sugerem a mudança na lógica da economia linear
atual, maximizando a eficiência dos produtos e
minimizando a extração de recursos naturais
(STAHEL, 2016).

Apesar da extrema conveniência do uso do digestato como biofertilizante,


problemas ambientais, devido a aplicações excessivas, podem ocorrer. Kunz et al.

24
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

(2019) citam Miele et al. (2015) e Nicoloso (2014) para atentar aos aspectos
relacionados à oferta dos nutrientes, contidos no digestato, com as demandas e
aptidões das áreas agrícolas. Portanto, deve-se ter atenção e conhecimento tanto das
características do biofertilizante (teores de nutrientes, sais, metais pesados, etc.),
quanto aos atributos da área destinada para receber a aplicação (tipo de solo, relevo,
cultura agrícola, escoamento, etc.).
A utilização de biofertilizantes em solos muito rasos, declivosos (íngremes) e
pedregosos, deverá ser ainda mais criteriosa, para garantir a infiltração no solo e evitar
o escoamento superficial ou subsuperficial para os corpos hídricos (ZAMPARETTI E
GAYA, 2004). Estes pesquisadores salientam que para uma adequada aplicação de
biofertilizante, com o mínimo risco de poluição, é preciso um levantamento técnico
adequado das características do solo, como análises físico-químicas, determinação da
classe de uso e aptidão do solo, declividade, profundidade, drenagem, dentre outras.
Até agora podemos perceber que a aplicação do digestato, como biofertilizante
líquido, em propriedades agrícolas requer conhecimento puramente técnico tanto de
ordem agronômica quanto ambiental. Abaixo apresenta-se um resumo, em tópicos, de
alguns cuidados técnicos para ter atenção ao aplicar biofertilizantes nos solos agrícolas.

Para fixar:

Recomendações Técnicas para a Aplicação do Biofertilizante no Solo

• Características do biofertilizante (teores de nutrientes, sais, metais


pesados);
• Disponibilidade de área para uso agronômico;
• Características da área (tipo de solo, relevo favorável, cultura agrícola,
escoamento superficial);
• Proceder a análise de solo e fundamentar-se nos princípios do manejo de
fertilizantes e da fertilidade do solo (manuais de adubação e calagem);
• Aplicar, principalmente, em culturas exigentes em N e P;
• Respeitar a capacidade do sistema solo planta (absorção e exportação de
nutrientes);
• Seguir as recomendações sanitárias e limites ambientais determinados pelos
órgãos reguladores.

A aplicação do digestato como biofertilizante líquido poderá ser realizada tanto


em pequena escala, o que geralmente ocorre na própria propriedade onde o digestato
é gerado, quanto em grande escala (usinas de biogás). Neste último caso, é necessário
haver um plano de manejo de distribuição do biofertilizante na região, geralmente em
mais de uma propriedade agrícola e, de preferência, em áreas próximas a planta de
biogás. Isto ocorre devido a logística de distribuição e aplicação, do biofertilizante,
acarretar custos e possuir limitações de ordem econômica e agronômica (NICOLOSO
et al., 2019).
Neste sentido, cabe relembrarmos que a maioria dos digestatos caracterizam-
se por conter de 1 a 10% de sólidos totais. Isto significa que entre 90 e 99%, do digestato,
é composto por água. É justamente por isso, que acarreta o empecilho relacionado aos

25
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

custos de transporte, distribuição e aplicação do material líquido, exigindo investimento


em maquinários, combustíveis, operador de máquinas e manutenção.
Desta maneira, em termos de criação de animais, suínos por exemplo, a
disponibilidade de área agrícola nas proximidades das unidades de criação, para
receber as aplicações do biofertilizante, poderá ser o fator limitante, inclusive, do número
de animais alojados na propriedade (SUINOCULTURA INDUSTRIAL, 2016).
Para exemplificar melhor este ponto crítico da aplicação do digestato como
biofertilizante trabalharemos com um exemplo em duas regiões do Brasil, Região Sul e
Centro-Oeste. Geralmente, uma propriedade produtora de suínos típica da Região Sul
aloja 750 suínos em terminação e pode possuir várias limitações quanto a área de
aplicação do biofertilizante (pequenas áreas (<20 ha), relevo acidentado, solos rasos,
etc.). Já na Região Centro-Oeste, em média, uma unidade de produção de suínos aloja
4.400 cabeças e, geralmente, possuem extensas áreas planas de produção agrícola
(>100 ha), as quais demanda muito mais fertilizantes devido as características edáficas
do solo, permitindo maiores aplicações de biofertilizante às culturas (SUINOCULTURA
INDUSTRIAL, 2016).

Exemplo

Criação de suínos e potencialidade de aplicação do biofertilizante

Região Sul: Região Centro-Oeste:


Permite maior número de
Número de animais: mais restritivo
animais
Permite maiores volumes de
Aplicação mais restrita
aplicações
Propriedades agrícolas (>100
Propriedades agrícolas (<20 ha)
ha)
Topografia fortemente ondulada Extensas áreas planas
(Relevo acidentado) (Relevo suave)
Baixa demanda por fertilizantes Alta demanda por fertilizantes

Na maioria das vezes, os digestatos com potencial biofertilizante apresentam


altos teores de N, principalmente, os oriundos de dejetos e/ou abate de animais. Já
comentamos que este macronutriente possui um valor fertilizante, e por isso há um valor
econômico associado a ele e nos demais elementos. Culturas agrícolas do tipo
gramíneas (família das Poaceae) como milho, trigo, arroz, aveia, cana-de-açúcar,
pastagens, dentre outras, possuem uma alta demanda por N no solo.
No entanto, Schirmann et al. (2013) revelam, por meio de revisão bibliográfica,
que na maioria dos trabalhos de pesquisa constata-se a baixa recuperação do N,
aplicado ao solo, pelas culturas de milho e trigo. Para este fenômeno, tem sido atribuído
às perdas de N por lixiviação, na forma de nitrato (NO3-), volatilização de amônia (NH3)
e desnitrificação. Para os pesquisadores, essas perdas, além de reduzirem o potencial

26
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

fertilizante dos dejetos, podem resultar em poluição da água pelo NO 3;- e do ar pela
amônia e, principalmente, pelo óxido nitroso (N2O).
Neste sentido, vimos que as perdas de N podem ocasionar prejuízos tanto
econômicos (perda de um macronutriente valioso) quanto ambientais (potencial poluidor
de ar e água). Para reduzir as perdas de N, técnicas, no momento da aplicação do
biofertilizante no solo, tem sido empregada. O uso de inibidores de nitrificação, por
exemplo, reduz as emissões de N2O. Já a incorporação e a injeção dos dejetos no solo
podem reduzir a volatilização de NH3 em pelo menos 90% (WEBB et al., 2010) citado
por Schirmann et al. (2013).
Um método muito difundido, adotado para a distribuição de biofertilizantes, é a
aplicação por aspersão tipo leque, na qual consiste no bombeando do fertilizante líquido,
armazenado em um tanque, contra uma aba metálica na traseira do equipamento,
formando assim, uma aspersão em formato de um leque (Figuras 11 e 12). Este tipo de
distribuição é considerado aplicação de superfície. Como vimos, a literatura esclarece
que há inúmeras desvantagens nesta forma de aplicação, sobretudo prejuízos
econômicos e ambientais, relacionados ao N.

Figura 11 - Aplicação de biofertilizante por aspersão tipo leque utilizando caminhão tanque.

Fonte: Google imagens. Disponível em: https://i.ytimg.com/vi/22KN8aBvYds/maxresdefault.jpg

Figura 12 - Implemento acoplado ao trator para aplicação de biofertilizantes por aspersão tipo
leque.

Fonte: Fatritol Ballottin Máquinas Ltda

27
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Em detrimento à aspersão em leque, métodos de aplicação que expõe, o


mínimo possível, o biofertilizante na atmosfera é desejável, e, de preferência e se
possível, a injeção e incorporação no solo. Segundo o fabricante, a Figura 13 apresenta
um modelo de implemento com as barras de distribuição rebaixada para a aplicação do
biofertilizante líquido, caindo diretamente no solo. Além disso, distribui de maneira mais
uniforme, evitando a sobreposição, mesmo em condições de vento.

Figura 13 - Barra de separação rebaixada para a aplicação biofertilizante líquido.

Fonte: Adaptado de GEA - Engineering for a better world.

Neste cenário, tecnologias mais eficientes, como a injeção do biofertilizante no


solo, deverão, quando possível, serem adotadas. Estes métodos de aplicação já se
encontram disponíveis no mercado (Figuras 14 e 15), visando aumentar a eficiência
agronômica e reduzir o impacto ambiental do uso agrícola dos biofertilizantes
(SUINOCULTURA INDUSTRIAL, 2016).
Aliado ao modo de aplicação, aconselha-se sempre a adoção de boas práticas
para o uso de fertilizantes líquidos, como por exemplo, adoção do sistema de plantio
direto, cobertura do solo, rotação de culturas construção de terraços e cultivo em nível,
palhada e intensificação de culturas, respeitar a capacidade do sistema solo planta
(demanda da cultura e oferta de nutrientes), dentre outras.

28
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Figura 14 - Equipamento para injeção de fertilizante líquido no solo (dejeto líquido de suíno).

Fonte: Potencial agronômico dos dejetos de suínos - Embrapa Suínos e Aves.

Figura 15 - Distribuidor de adubo orgânico líquido com incorporador/injetor no solo.

Fonte: MEPEL Máquinas e Equipamentos. Modelo: DAOL incorporador 15000 litros.

Portanto, podemos resumir, como mostrado abaixo, as vantagens da injeção


de biofertilizantes no solo sobre a aplicação do tipo aspersão (aplicação em leque),
aliado às boas práticas para o uso de biofertilizantes líquidos.

29
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Para saber mais:

Vantagens da injeção sobre a aspersão

Mitigação das perdas de nutrientes, reduzindo prejuízos econômicos e


ambientais
Reduz as perdas de N por volatilização de amônia
Reduz as perdas por escoamento superficial
Evita impactos ambientais relacionado aos corpos hídricos e a
atmosfera
Reduz os odores durante a aplicação
Aumenta a eficiência do fornecimento de nutrientes contidos no
biofertilizante
Substituição parcial de fertilizantes minerais convencionais
Pode incrementar a produtividade das culturas

Pesquisas sobre a injeção de dejetos líquidos de suínos no solo em plantio


direto, liderada pelo professor Dr. Celso Aita do Departamento de Solos da Universidade
Federal de Santa Maria (UFSM), demonstraram alguns resultados relevantes quando
comparado aos mesmos dejetos aplicados em superfície. A Figura 16 apresenta os dois
gráficos comparativos (no cultivo de milho e aveia) entre os dois métodos de aplicação
dos dejetos, em superfície e injetado no solo, além da testemunha (nenhuma aplicação).

Figura 16 - Perdas de nitrogênio por volatilização, em forma de amônia (NH3), quando aplicado
em superfície e injetado no solo.

É evidente a enorme perda de nitrogênio (em forma de amônia) que ocorre


quando na aplicação dos dejetos em superfície em relação ao injetado no solo, tanto no
cultivo de milho quanto na aveia (Figura 16). Cabe lembrar que há prejuízos econômicos
e ambientais decorrentes desta perda de N.
A Figura 17 evidencia que o modo de aplicação, em superfície e injetado no
solo, também interfere no acúmulo de nitrogênio nos grãos de milho (gráfico a esquerda),
bem como, na produtividade de grãos de milho (gráfico a direita).

30
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Figura 17 - Acúmulo de N nos grãos de milho e produtividade do milho em sistema de plantio


direto com diferentes adubações.

O cultivo de milho sob a aplicação de dejetos suínos, injetado no solo,


apresentou maior acúmulo de N nos grãos e maior produtividade, em relação aos outros
tratamentos, Testemunha, Dejeto aplicado em superfície e, inclusive, sobre a adubação
mineral convencional (NPK).

5. VALORAÇÃO DO DIGESTATO EM UNIDADES PRODUTIVAS

Para que possamos atribuir valor ao nosso biofertilizante, deve-se definir os


elementos principais para o desenvolvimento do vegetal. Esses elementos recebem o
nome de macro e micronutrientes, onde cada um possui um papel específico em uma
determinada etapa de crescimento da planta. Dentre os macronutrientes primários
temos o nitrogênio (N), o fósforo (P) e o potássio (K); como macronutrientes secundários
temos o enxofre (S), o cálcio (Ca) e o magnésio (Mg). Inseridos no grupo de
micronutrientes temos o molibdênio (Mo), o zinco (Zn), o ferro (Fe), o cobre (Cu) e o
manganês (Mn) (DHALIWAL et al., 2019).
O N possui o papel de crescimento do vegetal, auxiliando na formação dos
tecidos vegetais. Esse macronutriente atua nos cloroplastos, influenciam na produção
de clorofila, que por sua vez possui um papel importante no processo de fotossíntese
das plantas em geral. Vegetais com deficiência de nitrogênio exibem folhas com
coloração verde-pálida ou amarelada proveniente da escassez de clorofila. Porém, caso
o N seja utilizado em excesso, pode haver uma vegetação elevada da planta, de forma
a reduzir a produtividade da cultura (MENDES, 2007; HERNANI & KURIHARA, 2020).
O P tem a função de estimular o crescimento e a formação do sistema radicular
no início do desenvolvimento do vegetal, auxilia ainda na formação das sementes.
Devido sua configuração molecular e características físico-químicas, o fósforo é
dependente da acidez e umidade do solo, podendo ser facilmente fixado e causando
problemas relacionados à sua restrição e escassez. Logo, deve-se estudar manejos e
técnicas de aplicação do digestato, com o objetivo de que o vegetal absorva a maior
quantidade possível de P (SANTOS et al., 2008).
O K está relacionado às funções metabólicas e reações enzimáticas do vegetal.
Durante a fotossíntese possui o papel de síntese de carboidratos para o
desenvolvimento e consumo da planta. Ainda se atribui uma ligação ao controle do
tamanho da folha da cultura, ou seja, de acordo com a variação de sua concentração,
maior ou menor será o tamanho da área foliar e como resultado, tem-se o impacto
positivo ou negativo na produção de carboidrato disponível ao cultivar (MENDES, 2007).

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Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

Com o objetivo de valorizar o digestato em uma unidade produtiva, se


estabelece um cenário simplificado que leve em consideração apenas os
macronutrientes primários presentes no biofertilizante.
Uma vez que esse critério foi estabelecido, são realizadas análises físico-
químicas com o intuito de quantificar as concentrações de N, P e K. Em seguida
realizam-se as conversões de suas formas moleculares equivalentes aos fertilizantes
comerciais disponíveis: sulfato de amônio ((NH₄)₂SO₄), superfosfato simples (P2O5) e
cloreto de potássio (KCl). Realiza-se um levantamento dos custos atuais dos fertilizantes
relacionando-os às suas quantidades (ex: R$ (NH₄)₂SO₄ / tonelada) (DAMACENO et al.,
2019).
Em seguida visualiza-se o cenário de demanda de insumo agrícola atual da
propriedade e da infraestrutura que possibilitará a sua aplicação na lavoura. A
quantidade produzida de biofertilizante e suas respectivas concentrações de N, P e K,
é capaz de suprir o consumo de todo o fertilizante utilizado na cultura? Ou a utilização
do digestato entrará como um auxílio e complemento (ex: 50% biofertilizante + 50%
fertilizante comercial) durante a adubação na propriedade?
A partir deste momento, são utilizadas ferramentas de viabilidade econômica
como o período de recuperação do capital (Payback)), Valor Presente Líquido (VPL),
Taxa Interna de Retorno (TIR), Índice de Lucratividade (IL) e taxa mínima de atratividade
(TMA), baseando-se ainda na situação financeira do produtor, avaliando a possibilidade
de desenvolvimento e aplicação de um projeto visando a utilização do biofertilizante
(MONTORO et al., 2019).
De uma forma ou de outra, deixa-se de comprar parte (ou todo) do insumo
agrícola utilizado pelo agricultor, resultando em uma economia significativa de sua renda,
acrescida da possibilidade de aplicar uma técnica sustentável em sua propriedade.

32
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

6. CONCLUSÃO

O volume de digestato e biofertilizante produzidos na digestão anaeróbia é alto,


e interrupto. E por isso é necessário que haja um destino para esse material. Um destino
que seja ambientalmente correto.
Diante desse fato, o uso e aplicação de biofertilizante, em áreas agricultáveis
é considerado uma ótima forma de se destinar esse importante produto da digestão
anaeróbia. E também de se fazer uma economia significativa de renda na propriedade,
uma vez que pode substituir ou ser aplicado em conjunto com fertilizantes comerciais.
Porém é importante sua avaliação com relação as concentrações de macro e
micronutrientes e potencial de nutrição do solo, pois quando aplicado fora de parâmetros
de lançamento, podem ocasionar em contaminação do solo, ar e água.

33
Aplicações do Digestato – Manejo do Digestato e Biofertilizante

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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