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Fundamentos das

ciências sociais

Aula 10 - A atualidade das


Ciências Sociais na
compreensão da sociedade
contemporânea: novos padrões
morais e culturais
INTRODUÇÃO

Passada a primeira década do século XXI, verifica-se a ocorrência de novos


padrões de comportamento e estilos de vida.

Grupos sociais historicamente excluídos organizam-se e buscam cada vez


mais inserir-se no mundo globalizado sem abrir mão de suas marcas
identitárias. Novos modelos de família passam a conviver com o modelo
tradicional de família nuclear.

Nesta aula, para finalizar nossa disciplina, analisaremos algumas dessas


significativas mudanças culturais.

OBJETIVOS
Analisar questões contemporâneas da sociedade brasileira e mundial.

Estudar o processo de produção das diferenças.

Analisar o preconceito de raça na sociedade brasileira.

Analisar os preconceitos de gênero e de orientação sexual na sociedade


brasileira.

Descrever o processo de construção de novas identidades e novos padrões de


comportamento.
NOVAS IDENTIDADES ÉTNICAS
Para compreendermos o conceito das novas identidades étnicas precisamos
entender o conceito de grupo étnico.

Grupo étnico designa uma população que:

Fonte: Syndromeda / Shutterstock, Christian Wilkinson / Shutterstock, Blend


Images / Shutterstock e Rawpixel.com / Shutterstock

RECONFIGURAÇÕES IDENTITÁRIAS: O “SER


INDÍGENA” NO BRASIL CONTEMPORÂNEO
Os anos 1970, no Brasil, entre outros processos de buscas políticas por
liberdade de expressão, marcados por movimentos contra-hegemônicos de
dissidentes da ditadura militar, inspirados em parte pelo movimento católico da
Teologia da Libertação, como também pelas ações do Conselho Missionário
Indigenista (CIMI), algumas comunidades indígenas do Nordeste lutaram por
seus direitos à terra e identidade, voltando a pelo menos parte de seus
territórios.

Ainda hoje trabalham pela manutenção de uma identidade que lhes havia sido
subtraída durante o processo colonizatório.
Vera Calheiros, Clarice Mota, Rodrigo Grunewald e outros autores registraram
este constante processo de “reinvenção da tradição” e “etnogênese”, como
ficou conhecido na literatura antropológica.

Esse processo de busca pelo que se considera o elemento principal para a


retomada da terra e dos direitos subsequentes foi motivado pela chamada
cultura ancestral e, consequentemente, pela autoimagem identitária.

Percebe-se um movimento para fora dos limites físicos e culturais da aldeia, ao


mesmo tempo em que tal movimento reflete a busca da identidade indígena
por dois grupos sociais: a própria comunidade indígena e alguns setores
urbanos de classe média e alta.

Grupos que se contradizem, portanto, ao passo que também se encontram em


um espaço recém-construído de necessidades de autoafirmação
interdependentes, onde a antiga exclusão se traduz em inclusão, mesmo que a
custa de invenções e ressignificações das tradições perdidas.

A PRODUÇÃO DAS DIFERENÇAS


Como vimos na aula 3, a diversidade cultural é marca característica das
sociedades humanas. As sociedades humanas são marcadas, entre outras
coisas, pelas diferenças de:
Fonte: creativetan / Shutterstock, hxdbzxy / Shutterstock, StepanPopov /
Shutterstock, Rawpixel.com / Shutterstock, Nejron Photo / Shutterstock e Pla2na
/ Shutterstock

Contudo, muitas vezes essas diferenças são hierarquizadas e passam a


constituir desigualdades concretas, colocando grupos e indivíduos em
patamares diferentes da escala social, privilegiando uns e excluindo outros.

Na sociedade brasileira este processo de produção de diferenças e


desigualdades se constituiu, desde a colonização, numa das questões mais
notórias e discutidas pelos historiadores e cientistas sociais. Some-se a isso o
fato de o senso comum interiorizar e reduzir práticas etnocêntricas, como, por
exemplo, a valorização do trabalho intelectual em detrimento do trabalho
manual, e o tratamento diferenciado - para melhor - daqueles que ocupam
posições superiores na hierarquia social brasileira. É justamente esse tipo de
procedimento que cria o que se denomina exclusão.

Preconceito racial
Embora permaneça, tanto em algumas correntes científicas como no senso

comum, a ideia de que existem raças humanas diferentes, os estudos e


pesquisas

contemporâneos indicam que não há diferenças significativas entre os


indivíduos

oriundas das suas diferenças somatológicas (de aparência física).

Todos os humanos descendem de um tronco comum, o homo sapiens.

Desta forma, não se pode pensar em raças superiores ou inferiores, pois

herdamos todos o mesmo patrimônio hereditário. No entanto, na prática,


percebe-se

que o conceito de raça continua equivocadamente sendo usado como


justificativa

para a exclusão constante de povos e indivíduos, seja pela força das armas

ou das ideias, seja pelo processode exclusão social ou de não reconhecimento

de seus padrões culturais. A essa prática dá-se o nome de racismo.


O Brasil não conheceu o regime de segregação racial, o apartheid. A sociedade

brasileira, ao longo de sua história, não foi pensada de forma dual (negros x
brancos).

Contudo, isso não significa que o racismo, em suas diferentes manifestações,

não faça parte da vida brasileira.

O debate em relação ao preconceito racial no Brasil tomou vulto

nos últimos anos, com a elaboração do Estatuto da Igualdade Racial

e as políticas de ação afirmativa, em especial a política

de reservas de cotas nas universidades.

Respeito não tem cor

Tem consciência

CONCEITUANDO...

PRECONCEITO DE GÊNERO
As mulheres, desde a Revolução Industrial, vêm ocupando espaço no mercado
de trabalho e, com isso, aumentando sua importância na sociedade. Contudo,
muitos ainda observam o trabalho feminino como uma expansão do trabalho
doméstico, tido como menos importante.

A luta da mulher pela sua inserção no mercado de trabalho, tem sua origem em
tempos passados, e até hoje, a mulher ocupa cargos de trabalho relacionados
com serviços de saúde, de educação, como se o trabalho fosse uma extensão
do trabalho doméstico. Não que esses trabalhos não tenham importância, mas
é paradoxal o fato de cargos administrativos e industriais serem
predominantemente masculinos.

A sociedade brasileira é composta, preponderantemente por mulheres, mas


estas têm participação inferior a dos homens no mercado de trabalho. Além do
mais, a parcela feminina que está empregada precisa enfrentar preconceitos e
inacreditavelmente recebe menos pelo mesmo trabalho exercido por um
homem.

Outro claro exemplo de preconceito contra as mulheres se expressa nos altos


índices de violência doméstica, motivação para a criação de lei específica
visando maior rigor na punição dos agressores, a chamada Lei Maria da Penha.

ian johnston / SHutterstock

PRECONCEITO DE ORIENTAÇÃO SEXUAL


Durante o processo de socialização, aprendemos que existe um padrão de
orientação sexual, baseado na heterossexualidade. A partir daí, tendemos a
identificar e classificar lésbicas, gays, travestis, transexuais e transgênicos
através da representação feita, em geral, pelos meios de comunicação, ou seja,
de forma estereotipada, como faz com as mulheres afrodescendentes e outros
grupos.

Muitas vezes, esse preconceito se expressa em forma de humor, piadas que


satirizam e diminuem os indivíduos de orientação sexual não heterossexual,
passando, depois à discriminação e, não raro, à violência.

Ressalte-se que esta minoria é, historicamente, vítima de violências físicas e


simbólicas e, até recentemente, sua prática era considerada patológica.

Por essa razão, a questão do reconhecimento jurídico das uniões homoafetivas


gerou tanta polêmica, pois trouxe para a agenda nacional a possibilidade da
existência de mais de um modelo de família, o que já é uma realidade não só
no Brasil, como em várias sociedades.

NOVOS PADRÕES FAMILIARES


O modelo tradicional de família

Para Lévi-Strauss (A família, 1972), entende-se por família uma união mais ou
menos duradoura, socialmente aprovada, entre um homem, uma mulher e seus
filhos, fenômeno que estaria presente em todo e qualquer tipo de sociedade.

Como modelo ideal, a palavra família designa um grupo social possuidor de


pelo menos três características:
Fonte da Imagem:

Originada no casamento;

Fonte da Imagem:

Constituída por marido, esposa e filhos;


Fonte da Imagem:

Os membros da família estão unidos entre si


por laços legais, direitos e obrigações
econômicas, religiosas ou de outra espécie, um
entrelaçamento definido de direitos e
proibições sexuais, divisão sexual do trabalho e
uma quantidade variada e diversificada de
sentimentos psicológicos (amor, afeto,
respeito, medo).

DÉCADAS DE 1960 E 1970 – AS


TRANSFORMAÇÕES DOS MODELOS DE
FAMÍLIA
Como demonstra Miriam Goldenberg em “Novas famílias nas camadas médias
urbanas”, o final da década de 1960 e início da década de 1970 são marcos
fundamentais nas transformações dos papéis femininos e masculinos na
sociedade brasileira e, consequentemente, da concepção de família em nosso
país.
SAIBA MAIS
,
Clique aqui
(//www.miriangoldenberg.com.br/images/stories/pdf/conjugalidades.pdf) e saiba
mais sobre esse assunto.

MOVIMENTO FEMINISTA

Fonte da Imagem: john dory / Shutterstock

O movimento feminista, que estava sendo organizado na Europa e nos Estados


Unidos, começou a repercutir no Brasil. Os jornais, as revistas, o cinema, o
teatro e a televisão passaram a dar espaço para as reivindicações das
mulheres.

O denominador comum das lutas feministas foi o questionamento da divisão


tradicional dos papéis sociais, com a recusa da visão da mulher como o
“segundo sexo” ou o “sexo frágil”, cujo principal papel é o de “esposa-mãe”.

As feministas reivindicavam a condição de sujeito de seu próprio corpo,


buscando um espaço próprio de atuação profissional e política.

A PARTIR DOS ANOS 1970


A partir dos anos 1970, apesar do predomínio do modelo nuclear conjugal,
entre as famílias das camadas médias, aumentaram as experiências de
vínculos afetivo-sexuais variados e o contingente de mulheres optando pela
maternidade fora da união formalizada.

Castells assinala que houve um crescimento do número de pessoas vivendo


sós e um crescimento expressivo das famílias chefiadas por mulheres.
(glossário)

A coabitação sem vínculos legais ou união consensual como alternativa ao


casamento se tornou cada vez mais expressiva numericamente, e aceita legal e
socialmente (e a duração destas uniões informais começaram a ser cada vez
menores).

O tamanho das unidades domésticas também tendia a diminuir ainda mais,


com o decréscimo do número de filhos.

Cresceram os recasamentos e as famílias recombinada.

OS MODELOS CONTEMPORÂNEOS DE FAMÍLIA


Ao falar-se, na atualidade, de família, o plural impõe-se:

“Já não há um ‘modelo ocidental’ mas vários.”

Segalen

O divórcio, a união livre, as recomposições familiares abalam o que se


chamava, até pouco tempo, de “modelo de família ocidental”. Este modelo será
ainda mais abalado com as novas técnicas de procriação.

A doação de óvulos, a fecundação por inseminação artificial ou in vitro, a


possibilidade de clonagem de seres humanos, levam-nos a refletir sobre os
princípios que assentam o nosso sistema de parentesco. (glossário)
Há uma visibilidade cada vez maior das famílias homoafetivas (glossário), ou
seja, formadas por indivíduos do mesmo sexo.

Cresceram os recasamentos e as famílias recombinada.

REFLEXÃO
,
Essas tendências colocam em xeque a estrutura e os valores da família tradicional.
Não se trata do fim da família, uma vez que outras estruturas familiares estão sendo
testadas e poderemos, no fim, reconstruir a maneira como vivemos uns com os outros,
como procriamos e como educamos de formas diferentes.

ATIVIDADE
Leia atentamente o texto O Paradigma Cássia Eller (glossário). Depois,
responda:

Quais as implicações sociológicas do uso da expressão “família


homossexual”? No caso apresentado, o que caracteriza a relação entre o filho
da falecida cantora e sua companheira?

Resposta Correta
Glossário
FAMÍLIAS CHEFIADAS POR MULHERES

O crescimento dessas famílias ocorreu em função da elevação das taxas de


separações e divórcios; da expectativa de vida maior para as mulheres gerando mais
viuvez feminina e da crescente proporção de mulheres solteiras com filhos, não
apenas por abandono de seus parceiros, mas como opção.

SISTEMA DE PARENTESCO
Sexualidade e parentesco são dissociados, paternidades e maternidades são
multiplicadas (genética e socialmente), o nascimento de um filho não provém
necessariamente de um casal.

FAMÍLIAS HOMOAFETIVAS

Este modelo de família tem recebido o reconhecimento de consideráveis setores da


sociedade, bem como de setores do Judiciário, que vem, desde inédita sentença do
Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul em 2001, até o entendimento do
Supremo Tribunal Federal, em 2010, que reconheceu como entidade familiar o
relacionamento entre duas pessoas do mesmo sexo.

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