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As coisas em que acredito

A ciência da informação tem mais de 50 anos e é uma senhora que merece respeito. A sua irmã Biblioteconomia vem
de longas aventuras aventuras desde tempos infindos. A CI como uma área de conhecimento não pode mais
justificar seus entraves por "ser uma área nova".

Tem sido sempre difícil a área formular conceitos que sejam de consenso dos pares deste campo. Até mesmo
definições gerais. Seria importante falar a mesma língua para explicitar alguns conceitos. A falta deste consenso
teórico faz com que cada doutorando da área em sua tese dedique um capitulo para definir seu marco teórico, que
segue a visão do orientador, apropriações de outras área, o pensamento de alguns autores selecionados, mas nunca
uma base teoria consensual pre-existente

Valendo desta liberdade revisito os meus marcos e os dissemino, como as coisas em que acredito, mas que creio não
são o pensamento dominante na ciência da informação.

O que penso ser o campo da Ciência da Informação

A ciência da informação se preocupa e se ocupa com as práticas da criação, organização e distribuição da


informação. Estuda os seus fluxos, a passagem por uma variedade de formas e através de uma variedade de canais,
desde sua criação até a sua utilização. Mostra no uso a sua essência quando a transmutação do pensamento do
emissor alcança uma linguagem de inscrição em uma estrutura de informação passível transferência e de
apropriação e geração de conhecimento.

Quais os limites da Ciência da Informação?

A ciência da informação nasce com o pensamento autor se transforma em uma inscrição de informação e se destina
ao conhecimento na consciência do receptor. Teoricamente seus limites estão entre o pensamento gerador e a
consciência recebedora. Mas sua convivência com a área de comunicação nos ajuda a mostrar suas diferenças e seu
contexto de existência.

A ciência da Informação transfere a informação, na sua forma de distribuição, mas na área de comunicação o
gerador que é, na maioria das vezes, institucional ou um agregados de outros interesses, procura atingir uma massa
de recetores que deseja homogênea. Trata, a comunicação, na maior parte das vezes da notícia: um recado verbal
ou escrito de fato ou ideia provocador de uma ruptura no passar do dia. O canal, a mídia, domina e subordina o
processo. O conteúdo da mensagem é fragmentado e existe uma impessoalidade entre os atores do início e do fim
da cadeia de eventos. Na comunicação a mensagem quando colocada em uma ponta inevitavelmente vai sair na
outra para ser assimilada ou não pelos recetores leitores.

A ciência da Informação caracteriza o seu gerador e nomeia o seu destino. Estuda do receptor as suas necessidades e
lhe faz um perfil. Analisa o canal mais adequado, para melhor entregar a informação, considerando a natureza da
qualidade semântica do seu conteúdo em relação ao receptor. Na ciência da informação é o conteúdo que domina
todas as ações de união entre gerador e receptor. Todos os seus propósitos se orientam para uma intencionalidade
na aceitação da mensagem pelos atores nas pontas do processo. O limite de atuação da CI é a competência do
receptor em aceitar uma informação como tal e interromper o processo de geração do conhecimento.

Quais os elementos que constituem o campo da Ciência da Informação

A ciência da informação não existiria sem as seguintes articulações: (a)um ato de transferência, quando um (b)
emissor, envia um significado a um, (c) receptor. Para se realizar de forma eficaz a informação necessita de um (d)
contexto de referência que precisa ser acessível ao emissor e receptor e deve ser verbal ou passível de ser
verbalizado. É necessário ainda um código, total ou parcialmente comum ao emissor e ao receptor e finalmente um
duplo contacto, isto é, um canal físico e uma conexão psicológica entre o emissor e o receptor que permita entrarem
e permanecerem em contato. Cada um dos elementos indicados determina uma forma de atuação dentro da ciência
da informação.

Como a ciência da informação teve início no Brasil.

A CI no surgiu Brasil na segunda metade dos anos 50, devido a desordem causada no mundo pelo crescimento
desordenado de documentos no pós-guerra. A Unesco induziu o Brasil a criar um ambiente e instituições para
formar novos recursos humanos para esta nova área. No mundo o marco de criação da ciência da Informação foi a
publicação do artigo "As we may think" de Vannevar Bush em 1945 publicado no periódico Atlantic Monthly e a
consequente reunião da Royal Society, a Royal Society Scientific Information Conference de 1948 em Londres, na
Inglaterra.

A ambiência da Biblioteconomia e Documentação forte no Brasil originou um contexto para a criação da Ciência da
Informação vinculado ao campo da Biblioteconomia, seus princípios, suas técnicas e reflexões. Isso talvez ilustre
porque todo um pensamento subsequente relacionado ao ensino e à pesquisa da nova área ficou cativo até os dias
de hoje aos eventos resultantes de uma ideologia tecnicista que opera para a reunião, o acervamento e a
distribuição por demanda de documentos em ciência e tecnologia. Nascida na dependência de outra área a CI
explica pela sua condição históricas de criação o que hoje acontece com a reflexão de pesquisa, seu ensino na pós-
graduação e o conviver peculiar de seus profissionais.

Qual o destino final da ciência da Informação

Muitos serão os seus destinos, seus contextos e aplicações mas acredito que sua essência pode ser resumida em três
simples equações:

a) K= f (I)
O conhecimento é uma função da informação.

b) D = f (K)
O desenvolvimento, do indivíduo e da sociedade, é função do conhecimento acumulado.

E operando a e b acima:

c) D = f (I)

O desenvolvimento é uma função da informação.

Acreditamos que o destino final, o objetivo do trabalho com a informação, é promover o desenvolvimento do
indivíduo em seu grupo. Entendemos que tal progresso, de uma forma ampla, permitiria o indivíduo ir a um novo
estágio de qualidade de convivência econômica e social. Em meu trabalho nestes anos acredito que a informação
sintoniza o mundo quando referencia o homem ao seu passado histórico, às suas cognições prévias e ao seu espaço
político, colocando-o em um ponto do presente, com uma memória do passado e uma perspetiva de futuro. O
indivíduo se localiza em um presente contínuo que seria o espaço de apropriação da informação.

Assim, qualquer reflexão sobre as condições políticas, econômicas ou sociais de um produto ou serviço de
informação está condicionada a uma premissa básica da existência de uma relação da informação com o
conhecimento. Acredito, também, que os fluxos de informação se movem em dois níveis: em um primeiro nível os
fluxos internos de informação se movimentam entre os elementos de um sistema de agregação, armazenamento e
recuperação da informação, e se orientam para sua organização e controle. Estes seriam os fluxos internos com uma
premissa de razão prática e produtivista, um conjunto de ações pautadas por decisões de um agir baseado em um
pensar instrumental.

Em outro nível existem dois fluxos extremos. No fluxo extremo a direita, a premissa se transforma na promessa, uma
promessa de que a informação gerada pelo autor possa ser assimilada como conhecimento pelo receptor. No fluxo
extremo esquerdo se realiza um fenômeno de transferência do pensamento do autor para uma inscrição de
informação, cuja essência está na passagem de uma experiência, fato ou ideia, que existe em uma linguagem de
pensamento para um texto de informação editado.

Vejo nestes fluxos as possíveis diferenças e harmonias entre a biblioteconomia e a ciência da informação; a ciência
da informação focada nos fluxos extremos e a biblioteconomia realizando os fluxos internos do sistema de
armazenamento e recuperação da informação.

No fluxo a esquerda acontece uma desapropriação cognitiva, quando o pensamento, do autor, se arranja em
informação em uma linguagem com inscrições próprias. Aqui a passagem ocorre na direção dos labirintos do pensar
privado do autor para um espaço de vivência pública do leitor. No fluxo à direita temos um processo de cognição
que transforma a informação em conhecimento. Uma apropriação da informação para um subjetivismo que se quer
privado. Um desfalecer da informação para renascer o conhecimento. Uma outra pulsão de criação da narrativa.

Aldo de A Barreto

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