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ERGONOMIA

Epidemiologia e Saúde Ocupacional

Desenvolvimento da Epidemiologia Ocupacional

Critérios para a avaliação da Investigação

1. Novidade: a investigação numa área específica produzirá novos conhecimentos?


2. Importância para as pessoas: a vida e o bem-estar das populações serão afetadas positivamente?
3. Impacto nas políticas de saúde: a investigação numa área específica produzirá conhecimento que,
de forma significativa, informe as políticas de saúde baseadas em evidência e a prevenção?
4. Inovação técnica e desenvolvimento: a investigação produzirá novas tecnologias e ajudará o
desenvolvimento económico?

Fases na Epidemiologia Ocupacional

A. Fase das séries de caso;


B. Estudo das taxas de mortalidade estandardizadas (desenhos de estudo relativamente simples);
C. Fase da avaliação da exposição avançada (desenvolvimento de métodos avançados de avaliação
da exposição em estudos de coorte e caso-controlo);
D. Fase da epidemiologia molecular (incorporação de técnicas moleculares e “ómicas”);
E. Novas tendências: exposame (vias internas e externas; pooled analysis (partilha de dados); record
linkage (big data); ênfase nos estudos de coorte; novas abordagens à inferência causal.

Saúde ocupacional: Causas e Políticas

Finalidade: Prevenção dos riscos profissionais e proteção e promoção da saúde do trabalhador. Através de:

 Identificação, avaliação e controlo dos riscos existentes no local de trabalho, ou deles emergentes;
 Ações de vigilância de saúde dos trabalhadores;
 Promoção de saúde no local de trabalho;
 Garantir ambientes saudáveis que: evitem ou minimizem a exposição profissional a fatores de risco;
assegurem uma elevada qualidade de vida no trabalho; permitam alcançar elevados níveis de
conforto, saúde e bem-estar físico, mental e social a todos os trabalhadores.
Enfermagem no Trabalho

 Área profissional dirigida à gestão da saúde e segurança do trabalhador na sua relação com o
ambiente de trabalho;
 Focaliza-se no bem-estar, na promoção, proteção, vigilância e recuperação da saúde, bem como na
prevenção de riscos profissionais, de acidentes, doenças profissionais e/ou agravadas pelo
trabalho;
 Promover ambientes de trabalho saudáveis e seguros tendo em conta as características
individuais, do posto de trabalho e do ambiente socio-laboral.

O papel do Enfermeiro no Trabalho

1. Prevenção das lesões e doenças no trabalho através de uma estratégia abrangente e proactiva de
saúde e segurança no trabalho;

2. Promoção da saúde e da capacidade de trabalho centrando-se em doenças preveníveis no local de


trabalho, não ocupacionais que, ainda que não tenham sido diretamente causadas pelo trabalho,
poderão afetar a capacidade dos trabalhadores em manter a comparência ou o desempenho no
trabalho, através de uma estratégia abrangente de promoção da saúde no local de trabalho;

3. Melhoria da gestão da saúde ambiental, reduzindo o risco para a população laboral e a


comunidade mais alargada, o que contribui para a agenda de saúde pública mais alargada.

Pode ser:
o Clínico;
o Especialista;
o Gestor;
o Coordenador;
o Consultor;
o Educador para a saúde;
o Conselheiro;
o Investigador

Enfermeiro do Trabalho deverá integrar a Equipa de profissionais de SST/SO sempre que a empresa/estabelecimento
possua mais de 250 trabalhadores (modalidade de Serviços Internos e Comuns de Saúde do Trabalho).

Vantagens de trabalhar na SO Desvantagens de trabalhar na SO


 Trabalhar na prevenção de acidentes e de  Falta de reconhecimento;
doenças profissionais;
 Falta de colaboração das entidades
 Trabalhar na promoção da saúde dos patronais;
trabalhadores;
 Condições de trabalho deficitárias nas
 Acompanhamento de proximidade dos empresas cliente;
colaboradores;
 Remuneração salarial escassa;
 Exercício autónomo da profissão;
 Falta de interesse manifestado pelos
 Proporcionar melhores condições de
colegas de trabalho relativamente à SO;
trabalho que influenciam a vida de algumas
pessoas;
 Entraves da entidade patronal à atuação da
ESO;
 Área pouco desenvolvida e que oferece
inúmeras oportunidades profissionais.
 Falta de recursos humanos e materiais.

Doenças ligadas ao Trabalho


 Doenças profissionais
 Acidentes de trabalho
 Doenças relacionadas com o trabalho

Doenças Profissionais

Doença Profissional Acidente de Trabalho

Lesão crónica, progressiva Lesão aguda, súbita

Resultado de exposição acumulada Resultante de fatores externos

Segurança Social Companhia de seguros

Lesões Músculo-esqueléticas Relacionadas com o Trabalho (LMERT)


Abrangem o conjunto de patologias do sistema músculo-esquelético ou nervoso que estão relacionadas
com o trabalho forçado e/ou repetitivo no local de trabalho.

As LMERT podem ser agrupadas:


o Tendinites ou Tenossinovites: inflamação crónica ao nível do tendão ou da bainha peri-tendinosa;
o Síndromes canaliculares: compressão de nervo ao nível do canal anatómico;
o Raquialgias: lesão osteoarticular, ligamentar ou muscular ao nível da coluna vertebral e das
estruturas músculo- esqueléticas;  
o Síndromes neurovasculares: lesão nervosa e vascular em simultâneo.

Regiões do corpo mais afetadas:


o Mão e punho;
o Cotovelo;
o Ombro;
o Coluna cervical e lombar;

Patologias:
o Síndrome do Túnel Cárpico;
o Dedo em mola;
o Tinossinovite de DeQuervain;
o Epicondilite lateral e/ou medial
o Coluna Lombar
Pode envolver patologia da cápsula articular, tendões, músculos ou nervos.

Principais Fatores de Risco de LMERT

Implicações em Saúde Ocupacional


 Peso das cargas levantadas;
 Aumento da distância em relação ao eixo da coluna;
 Levantamento com a coluna em hiperflexão, em rotação ou ambas;
 Frequência dos levantamentos;
 Levantamentos assimétricos;
 Descondicionamento muscular geral, e em particular, dos estabilizadores da coluna lombar, locais e
globais.
Riscos Profissionais

RISCOS FÍSICOS

o Calor
Efeitos diretos: queimaduras; cãibras; exaustão por calor; insolação; desidratação.
Efeitos indiretos: diminuição da eficiência; aumento da fadiga; aumento da taxa
Temperaturas
de acidentes.
Externas

o Frio: feridas; pé de imersão; queimadura por frio como resultado de


vasoconstrição; hipotermia.
Efeitos agudos da má iluminação:
 Cefaleias e dor ocular;
 Lacrimejamento;
 Fadiga visual;
Iluminação  Posturas sustentadas incorretas na tentativa de focagem dos objetos de
trabalho.

Efeitos crónicos:
 Nistagmo ocupacional: movimentos involuntários dos olhos, repetidos e
rítmicos.
Efeitos do ruído
 Perda de audição (reversível ou irreversível);
 Efeitos fisiológicos: exposição ao ruído aumenta a pressão arterial e altera o
ritmo cardíaco e a respiração, causando também perturbações
gastrointestinais;
Ruído  Stress relacionado com o trabalho: o ruído no ambiente de trabalho pode
aumentar a irritabilidade;
 Risco acrescido de acidentes: os elevados níveis de ruído dificultam a audição e
comunicação dos trabalhadores entre si e aumentam, por conseguinte, a
probabilidade de ocorrência de acidentes.

 Localizadas: determinadas partes do corpo (sistema mão-braço).


o Provocadas por ferramentas manuais, elétricas e pneumáticas;

o Consequências: alterações neurovasculares nas mãos; problemas nas


Vibrações articulações das mãos e braços; osteoporose.

 Generalizadas: lesões ocorrem com operadores de grandes máquinas, como


os motoristas de camiões, autocarros e tratores;
o Consequências: lesões na coluna vertebral e dores lombares.

RISCOS QUÍMICOS
Agudo:
 Dose única alta ou múltiplas doses num curto espaço de tempo;
 Efeitos rápidos, normalmente de grande intensidade.

Crónico:
 Baixas doses repetidas por longos períodos de tempo;
 Efeitos tardios, normalmente progressão lenta e insidiosa.

Monitorização: vigilância ambiental, biológica e de saúde.

RISCOS BIOLÓGICOS
Ocorrem devido a exposições a bactérias, vírus, parasitas, fungos e outros organismos, podendo causar
infeções agudas e crónicas, seja por entrada direta no organismo ou através de soluções de continuidade
na pele.

Vias de Transmissão
o Contacto direto e indireto;
o Via aérea;
o Ingestão

o Via percutânea

RISCOS PSICOSSOCIAIS
Aspetos relativos ao conteúdo do trabalho, organização e gestão do trabalho e das condições ambientais
e organizacionais, com potencial para causar danos psicológicos e físicos.

o Suporte psicológico;
o Gestão de carga de trabalho;
o Cultura organizacional;
o Equilíbrio;
o Liderança e expetativas transparentes;
o Proteção psicológica;
o Respeito e consideração;

o Competências psicológicas e requisitos;

o Crescimento e desenvolvimento;

o Reconhecimento e recompensa;

o Envolvimento e influência;

Alavancas no Corpo Humano


Sistema simples que consiste numa barra relativamente rígida, que pode ser rodada em torno de um ponto
fixo (fulcro).

 Força aplicada na alavanca movimenta uma resistência;


 Distância entre o eixo de movimento e o ponto de aplicação de forca sobre a alavanca é definido
como braço de alavanca;
 Quanto mais comprido é o braço de alavanca, menos esforço é necessário para mover a alavanca.

 Ponto de apoio ou eixo, ao redor do qual uma alavanca pode ser


rodada. No corpo humano é representado pela articulação;
Fulcro
 É o ponto onde se apoia a alavanca para realizar um trabalho.
Potência (P) ou Força  É a força que aplicamos à alavanca, para mover ou equilibrar os
sistemas. No corpo humano é representada quase sempre pela ação
dos músculos.
 Pode ser chamada também de força motriz.
 Peso de uma carga, quase sempre representado pelo peso do
segmento ou carga extrema. É a força que deve ser vencida.
Resistência (R)
 O próprio segmento corporal representa uma resistência natural à
alavanca.

 Distância perpendicular da aplicação da força ao eixo de rotação. Ou


seja, é a distância entre o fulcro e o local de aplicação da força.
Braço de Potência (BP)
 Por isso pode ser chamado também de Braço de Força (BF).

Braço de Resistência  Distância perpendicular da aplicação da resistência do eixo de rotação.


(BR) É a distância que vai do fulcro até o ponto de aplicação de resistência.

Alavancas no Corpo Humano

 O fulcro fica situado entre a Resistência (R) e a Potência (P).

 Utilizadas:
o Para ganhar força ou distância;
Alavanca 1º Classe ou
Interfixa o Manutenção da postura ou equilíbrio.

 A força necessária para vencer a


resistência depende do comprimento dos
braços de potência e de resistência.
(R x BR = P x BP)
Alavanca 2º Classe ou  A Resistência (R) fica situada entre o fulcro e a Potência (P).
Inter-Resistente
 As alavancas inter-resistentes podem ser chamadas de alavancas de
força, pois o braço de potência (BP) é maior que o braço de resistência
(BR).

 Fornecem vantagem de força, de modo


que grandes pesos podem ser suportados
ou movidos por uma pequena força.
(BP > BR)
 A Potência (P) fica situado entre o fulcro e a Resistência (R).

 As alavancas inter-potentes são projetadas para proporcionar


velocidade ao segmento distal e mover pesos em longas distâncias.
Alavanca 3º Classe ou
Inter-Potente  A inserção dos músculos próximos das
articulações permite a produção de maior
velocidade, porém a força é diminuída.

(BP < BR)

 Para haver equilíbrio numa alavanca é necessário que o produto da


intensidade da potência pelo braço de potência seja igual ao produto
da intensidade da resistência pelo braço da resistência.

Equilíbrio

Estabilidade de um Corpo

Fatores de estabilidade de um corpo

1. Base de sustentação: quanto maior base de sustentação, maior a estabilidade (relação diretamente
proporcional).

2. Altura do centro de gravidade: quanto menor a altura em relação à base de sustentação, maior a
estabilidade (relação inversamente proporcional).

3. Massa do corpo: quanto maior a massa do corpo, maior a estabilidade (relação diretamente
proporcional).
4. Distância entre o limite da base de sustentação e a linha de gravidade: quanto maior a distância, maior
a estabilidade (relação diretamente proporcional).

ERGONOMIA
Foca-se no individuo e nas suas interações com o meio, incluindo interações com instrumentos de
trabalho.

Bom ergonomista deve ter em conta:

1. O design do posto de trabalho;


2. O equipamento de trabalho;
3. As características da tarefa realizada;
4. Os fatores organizacionais;
5. Os fatores ambientais;
6. As características individuais.

Objetivos gerais da Ergonomia

a. Diminuir taxas elevadas de baixas por acidente de trabalho;


b. Aumento da saúde músculo-esquelética, qualidade de vida e saúde do trabalhador;
c. Aumento de produtividade;
d. Aumento de qualidade;
e. Aumento de lucros e competitividade;
f. Diminuição de despesas com a saúde;
g. Exigência de sindicatos;
h. Cumprir legislação.
Dados Antropométricos
 Medições corporais, particularmente úteis no design de postos de trabalho, tendo em conta as
diferenças em peso, forma, tamanho e proporções de corpo humano;

Objetivo: compatibilizar a forma física do espaço de trabalho e do equipamento às características e


capacidades da população de trabalhadores.

Utilização das bases de dados antropométricas – limitações

a. Postura
o As relações entre as dimensões dos objetos e as dimensões antropométricas dos
utilizadores determinam a postura desses utilizadores (altura da bancada de trabalho).
b. Alcance
o Alcance da interface/objeto de trabalho sem ter de elevar demasiado o MS ou fletir/inclinar
o tronco (alcançar um manipulo de controlo).

c. Espaço

Limitações de espaço livre ou de espaço mínimo, tão variadas como:

o Mínimas dimensões aceitáveis para os objetos;


o Altura de uma entrada para que os trabalhadores passem;
o Espaço para as pernas debaixo de uma secretária;
o Espaço de acesso a uma determinada área de trabalho (passagem de duas pessoas ao
mesmo tempo);
o Espaço para aceder/remover um objeto de uma determinada máquina.

d. Força
o O quarto tipo de limitação diz respeito aos limites aceitáveis para a força a exercer em
tarefas de controlo ou noutras tarefas de manipulação.

Plano de Prevenção de
Ergonomia
1. Análise ergonómica do trabalho
2. Avaliação do risco de LMERT
3. Vigilância do trabalhador
4. Informação e formação trabalhador
1. Análise ergonómica do trabalho
 Caraterísticas do individuo;
 Caraterísticas físicas no trabalho;

Ergonomia Física Ergonomia Cognitiva Ergonomia Organizacional


o Postura sentado;
o Área do trabalho
horizontal;
o Altura do plano de
trabalho; o Ritmo de trabalho;
o Telefone; o Monotonia nas tarefas;
o Ângulo de visão; o Insuficiente suporte social;
o Stress laboral;
o Monitor; o Horários;
o Estado emocional;
o Distância de visão; o Modelo organizacional de
o Computador e teclado; produção;
o Clearance; o Pouco controlo sobre o
o Suporte de papeis e rato; trabalho
o Cadeira/assento;
o Movimento de cargas;
o Iluminação;
o Fadiga visual

2. Avaliação do risco de LMERT

Perigos: fonte ou situação com potencial para o dano, em termos de lesões ou ferimentos para o corpo
humano ou danos para a saúde, património, danos para o ambiente do local de trabalho, ou uma
combinação destes.

Riscos: probabilidade da ocorrência de um determinado acontecimento perigoso – risco/probabilidade do


perigo se manifestar.

Métodos de Avaliação de Risco


1. Questionários;
2. Métodos observacionais (incluindo checklists)
Tipologias de tarefas – Critérios:
 Métodos disponíveis na literatura;
 Conhecimento dos postos de trabalho hospitalares;
 Características biomecânicas semelhantes;
 Tipologias de tarefas não exclusivas de determinado grupo profissional;
 Experiência pessoal

Seleção de Métodos
3. Medição direta/instrumentada
o Registo vídeo
o Análise cinemática
o Instrumentação/laboratório

3. Vigilância do trabalhador
É o médico do trabalho, especialista em Medicina do Trabalho, que a legislação prevê que exista em todas
as empresas, que tem o conhecimento que permite esta adequada vigilância de saúde;
 Exames médicos;
 Exames de admissão, periódicos ou ocasionais.

4. Informação e formação trabalhador


Empowerment - Informar os trabalhadores (através de pósteres, panfletos) ou sensibilizar (através de
sessões de educação para a saúde) o trabalhador para:
 Fatores de risco de LMERT, tanto profissionais como pessoais;
 Sinais e sintomas que deve estar atentos;
 Estratégias de prevenção;
 Elevação e movimentação de cargas;
 Capacidade de cuidar da sua própria saúde.

Conselhos ao trabalhador
o Encorajar a mudança de postura frequente;
o Evitar inclinação para a frente da cabela e cervical;
o Evitar inclinação para a frente do tronco;
o Evitar o uso dos membros superios numa posição elevada;
o Manter as articulações na amplitude intermédia sempre que possível;
o Promover encosto adequado na posição de sentado;
o Sempre que seja necessário força, tirar partido da vantagem biomecânica.
Relacionados à promoção de estilos de vida saudáveis:
 Cessação tabágica;
 Controlo da hipertensão;
 Hábitos alimentares saudáveis;
 Lidar com o stress;
 Abstenção de álcool e drogas;
 Recomendar exercício físico, entre outros.

Exercícios de Aongamento ou Ginástica Laboral

Benefícios Objetivos
 Autoconhecimento corporal;  Socialização;

 Perceção da tensão física (individual) ou até  Melhoria do relacionamento interpessoal e


emocional (grupo); da satisfação com o local de trabalho;

 Prevenção do sedentarismo, LMERT,


 Estímulo à prática do exercício físico e
doenças e acidentes de trabalho;
combate ao sedentarismo;
 Diminuição das despesas médicas e faltas
 Prevenção das LMERT; por incapacidade;

 Integração dos trabalhadores.  Melhoria da qualidade de vida.

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