Você está na página 1de 26

CENTRO UNIVERSITÁRIO SÃO LUCAS

J E S S I C A S AB R I N A G O T AR D I M AS U N O

A USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DE ACORDO COM A LEI Nº.


13.105/2015

Porto Velho

2016
J E S S I C A S AB R I N A G O T AR D I M AS U N O

A USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DE ACORDO COM A LEI Nº.


13.105/2015

Artigo apresentado à Banca examinadora


do Curso de Graduação em Direito do
Centro Universitário São Lucas como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel em Direito.
Orientadora: Prof. Letícia Botelho

Porto Velho

2016
J E S S I C A S AB R I N A G O T AR D I M AS U N O

A USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DE ACORDO COM A LEI Nº.


13.105/2015

Artigo apresentado à Banca examinadora


do Curso de Graduação em Direito do
Centro Universitário São Lucas como
requisito para a obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Data:____/____/_____

Resultado:__________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________ Centro Universitário São Lucas

Professor Orientador

___________________________________ Centro Universitário São Lucas

Membro da Banca

___________________________________ Centro Universitário São Lucas

Membro da Banca
A USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DE ACORDO COM A LEI Nº. 13.105/20151

JESSICA SABRINA GOTARDI MASUNO2

SUMÁRIO: 1 Introdução 2 Da Usucapião 2.1 Origem Histórica 2.2 Conceito 2.3 Modalidades da
Usucapião 2.3.1 Usucapião Extraordinária 2.3.2 Usucapião Ordinária 2.3.4 Usucapião Especial 2.3.5
Usucapião Indígena 3 Do procedimento da Usucapião na Lei 5.869/73 (Antigo Código de Processo
Civil) 4 O procedimento da Usucapião Extrajudicial de Acordo com a Lei nº 13.105/2015 (Novo
Código de Processo Civil) 4.1 Princípios que regem o registro de imóveis 4.1.1 Princípio da
publicidade 4.1.2 Princípio da força ou presunção 4.1.3 Princípio da legalidade 4.1.4 Princípio da
territorialidade 4.2 Uma Análise Acerca do Procedimento da Usucapião Extrajudicial no Novo Código
de Processo Civil – Lei nº. 13.105/2015 4.3 Da Competência 4.4 Da Legitimidade 4.5 Dos
Documentos Necessários 4.5.1 Ata notarial 4.5.2 Planta e Memorial Descritivo do Imóvel 4.5.3
Certidões Negativas da Comarca da Situação do Imóvel e do Domicílio do Requerente 4.5.4 Justo
Título ou Quaisquer Outros Documentos 4.6 Do Procedimento 4.7 A Judicialização do Pedido 4.8 Dos
Pontos Negativos da Usucapião Extrajudicial 4.9 Dos Pontos Positivos da Usucapião Extrajudicial 5
Considerações Finais

RESUMO: O presente trabalho tem por intuito analisar o procedimento da usucapião extrajudicial sob
a ótica da Lei nº. 13.105/2015, sancionada em 16 de Março de 2015 que em seu artigo 1.071 inseriu
o artigo 216-A na Lei Registro Públicos nº. 6.015/73, possibilitando a usucapião extrajudicial. Com a
posse por um determinado tempo de bem móvel ou imóvel de forma continua e ininterrupta, o
possuidor pode valer-se do instituto da usucapião. Assim, uma vez preenchido os requisitos
necessários o possuidor pode utilizar da usucapião extrajudicial para adquirir o domínio de um bem
imóvel. O referido procedimento extrajudicial fora inserido com o objetivo de se evitar o ingresso de
demandas judiciais. Tal procedimento ocorrerá no cartório de registro de imóveis e não na esfera
judiciária. Outrossim, buscando-se descobrir uma coerência nas respostas da presente problemática,
fora necessário socorrer-se da metodologia da pesquisa bibliográfica através de livros, revistas
jurídicas, informações extraídas de sites da internet, optando-se ainda pela pesquisa dedutiva. Sendo
possível concluir que não basta apenas dar entrada no cartório de registro de imóveis, mas é

1
Artigo Científico entregue ao Centro Universitário São Lucas como requisito para obtenção do título
de bacharel em Direito. Sob a orientação da professora Letícia Botelho prof.direito.leticia@gmail.com
2
Jessica Sabrina Gotardi Masuno. E-mail: jessicamasuno@hotmai.com
2

necessário o preenchimento de todos os requisitos dispostos em para que seja possível o


deferimento da usucapião extrajudicial.

Palavras-chave: Usucapião; Posse; Novo Código de Processo Civil; Usucapião Extrajudicial; Direito
das Coisas.

ABSTRACT: The purpose of this study is to analyze the extrajudicial adverse possession procedure
from the perspective of law number 13.105 / 2015, sanctioned on March 16, 2015, that in its art. 1.071
insert article 216-A in Public Registration Law number 6.015 /1973, making it possible to dispose of
extrajudicial adverse possession. With a possession for a certain period of well-being or in a
continuous and uninterrupted way, the possessor can use the institute of adverse possession. Thus,
once completed the necessary requirements so that the user can use the extrajudicial adverse
possession to acquire the domain of an immovable property. The said extrajudicial procedure to insert
with the purpose of avoiding the entry of lawsuits. There is no record of real estate registration and not
judicial sphere. Moreover, in order to find a coherence in the answers of the present problem, it is
necessary to rely on the methodology of bibliographic research by books, legal journals, information
extracted from Internet sites, and opting for deductive research. It is possible to conclude that it is not
enough to just enter the real estate registry, but it is necessary to fulfill all the requirements required
for the possible deferral of the extrajudicial adverse possession.

Keywords: Adverse Possession; Tenure; New Civil Procedure Code; Extrajudicial Adverse
Possession; Property Law.

1 INTRODUÇÃO

Hodiernamente, no âmbito jurisdicional há uma grande demanda de ações


judiciais envolvendo “direito de propriedade”, como ações de usucapião.
O instituto da usucapião é a aquisição do domínio de bens moveis ou imóveis
pela posse prolongada.
Em 16 de Março de 2015 fora sancionada pela Presidente Dilma Roussef, a
Lei nº. 13.105/2015, o Novo Código de Processo Civil.
O Novo Código de Processo Civil em seu artigo 1.071, incluiu o artigo 216-A
na Lei de Registro Públicos nº. 6.015/1973, possibilitando a usucapião extrajudicial.
O presente trabalho visa analisar o procedimento da usucapião extrajudicial,
uma vez que preenchido os requisitos, o imóvel poderá ser usucapido
extrajudicialmente, não havendo a necessidade de provocar o “judiciário”.
O tema da usucapião extrajudicial será abordado por método dedutivo,
utilizando-se de material bibliográfico.
Para isto, no primeiro capítulo será tratado sobre o instituto da usucapião, sua
origem, seu conceito e suas modalidades, pontos importantes para compreensão da
problemática apresentada.
3

Adiante no segundo capítulo será abordado o procedimento da usucapião


antes do advento da Lei nº. 13.105/2015.
No terceiro capítulo será analisado o procedimento da usucapião extrajudicial
conforme Lei nº. 13.105/2015, sendo explanado seus requisitos, procedimentos,
princípios aplicados no registro de imóveis. Trazendo ainda os pontos positivos e
negativos da usucapião extrajudicial.
Por fim, será apresentado o resultado conclusivo da pesquisa, de forma a
demonstrar o procedimento da usucapião extrajudicial no novo código de processo
civil – Lei nº. 13.105/2015.

2 DA USUCAPIÃO

O presente capítulo propõe elucidar os pontos mais relevantes a respeito do


Instituto da Usucapião, sua origem histórica, conceitos e suas modalidades.

2.1 ORIGEM HISTÓRICA

O instituto da usucapião tem suas raízes no Direito Romano, sendo


disciplinada na Lei das Doze Tábuas.
Segundo os doutrinadores Farias e Rosenvald (2012, p.395) acerca da
origem da usucapião asseveram que “a usucapião restou consagrada na Lei das XII
Tábuas, datada de 455 antes de Cristo, como forma de aquisição de coisas móveis
e imóveis pela posse continuada por um ou dois anos [...]”.
Dados remontam que a usucapião era direito exclusivo apenas para os
cidadãos romanos. Sendo posteriormente reconhecido aos demais habitantes de
Roma.
Tal instituto passou por várias mudanças e adequações desde a Lei das Doze
Tábuas, estando ainda presente hodiernamente no ordenamento jurídico brasileiro
como um instrumento para solução acerca de duvidas sobre a propriedade,
problemas sobre a posse de bens móveis ou imóveis.

2.2 CONCEITO
4

Conceituar o instituto da Usucapião no Direito Brasileiro não é tão simples


quanto parece.
Cabe destacar inicialmente que a palavra “usucapião” é do gênero feminino,
conforme ensinamentos do doutrinador Gonçalves (2014, p.566), vejamos:

Em toda a legislação romana, especialmente no Corpus Iuris Civilis, a


palavra ‘usucapião’ aparece no feminino, ligando-se à capio ou capionis,
que é feminina e quer dizer tomada, ocupação e aquisição, antecedida de
usu (através do uso). A Lei n. 6.969, de 10 de dezembro de 1981, que
dispõe sobre a aquisição, por usucapião especial, de imóveis rurais, utiliza-a
no gênero feminino, assim também procedendo o Estatuto da Cidade (Lei n.
10.257/2001). Desse mesmo modo é ela mencionada nos dicionários Novo
Dicionário Aurélio e Caldas Aulete.
O atual Código Civil emprega o vocábulo usucapião no gênero feminino,
respeitando a sua origem, como ocorre no direito francês, espanhol, italiano
e inglês, malgrado seja o último estranho ao grupo.

Segundo Felippe (2010, p. 248) a definição da usucapião no conceito jurídico


quer dizer:

Modo de adquirir propriedade, pela posse pacifica, por certo tempo. Uma
das formas de aquisição de imóvel pela posse mansa (portanto, excluída a
posse clandestina – às ocultas), pública, totalmente incontestável e de
maneira contínua durante determinado tempo, independentemente de titulo,
mas com boa fé.

Por sua vez, o doutrinador Pacheco (1998, p. 12) assim conceitua usucapião:

[...] forma originária de aquisição da propriedade, ou de outros direitos reais


suscetíveis de apropriação material, através da posse continuada, durante
certo espaço de tempo, com a observação dos requisitos em lei
estabelecidos.

Outrossim, a usucapião conforme ensinamento Diniz (12014, p.357) é um


modo de aquisição originário de bens móveis, senão vejamos:

A usucapião é um modo de aquisição originária de bens móveis. O


fundamento em que se baseia a usucapião de bens móveis é o mesmo que
inspira o dos móveis, ou seja, a necessidade de dar juridicidade a situações
de fato que se alongaram no tempo [...]

E mais:

O legislador permite que uma determinada situação de fato, que, sem ser
molestada, se alongou por certo intervalo de tempo previsto em lei, se
transforme em uma situação jurídica, atribuindo-se assim juridicidade a
5

situações fáticas que amadurecem com o tempo. A posse é fato objetivo, e


o tempo, a força que opera a transformação do fato em direito. O
fundamento desse instituto é garantir a estabilidade e segurança da
propriedade, fixando um prazo, além do qual não se podem mais levantar
dúvidas ou contestações a respeito e sanar a ausência de título do
possuidor, bem como os vícios intrínsecos do título que esse mesmo
possuidor, porventura, tiver.

Por fim, segundo Pereira (2007, pg. 138) assim define a usucapião:

[...] aquisição da propriedade ou outro direito real pelo decurso do tempo


estabelecido e com a observância dos requisitos instituídos em lei. Mais
simplificadamente, tendo em vista ser a posse que, no decurso do tempo e
associada às outras exigências, se converte em domínio, podemos repetir,
embora com a cautela de atentar para a circunstância de que não é
qualquer posse senão a qualificada: Usucapião é a aquisição do domínio
pela posse prolongada.

Sendo assim, o instituto da usucapião tem como ideia principal a proteção da


função social da propriedade, sendo forma originária de aquisição de imóvel
permitida por lei, tendo como objetivo atingir a função social da terra por aqueles
que, atendendo a certos requisitos, garantem a estabilidade da propriedade.

2.3 MODALIDADES DA USUCAPIÃO

O instituto da usucapião pode ocorrer tanto em bens móveis e imóveis.


A legislação pátria prevê as seguintes modalidade de usucapião de bens
imóveis:
a. Extraordinária;
b. Ordinária;
c. Especial, sendo subdividida em rural e urbana;
d. Indígena;
A seguir serão analisadas as modalidades da usucapião em bens imóveis.

2.3.1 Usucapião Extraordinária

A usucapião extraordinária está prevista no artigo 1.238 do Código de Civil,


vejamos:
6

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir
como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e
boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá
de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o
possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado
obras ou serviços de caráter produtivo.

Verifica-se através do dispositivo mencionado que na usucapião


extraordinária deve o interessado ter a posse do imóvel por 15 (quinze) anos com
animus domini, de forma contínua, mansa e pacifica.

2.3.2 Usucapião Ordinária

A usucapião ordinária por sua vez é caracterizada pela posse de maneira


pacífica e sem oposição do proprietário, e depende de justo título e de boa-fé, sendo
disciplinada no artigo 1.242 do Código Civil.
Insta salientar que o prazo de 10 (dez) anos previsto no caput do art. 1.242 do
Código Civil, pode ser reduzido para 05 (cinco) se houver provas que o possuidor
adquiriu o imóvel de maneira onerosa, com registro posteriormente cancelado e
tenha efetuado investimentos de tipo econômico e social no imóvel bem como ter
constituído o imóvel como a sua morada habitual, conforme disposto no parágrafo
único do artigo 1.242 do Código Civil, senão vejamos:

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e


incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o
imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde que os
possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado
investimentos de interesse social e econômico.

2.3.3 Usucapião especial

A usucapião especial também pode ser chamada de “constitucional” vez que


fora inserida pela Constituição Federal, sendo subdividida em: usucapião rural e
urbana.
A usucapião rural é denominada também de “pro labore”, sendo prevista no
artigo 191 da Constituição Federal e artigo 1.239 do Código Civil, os quais
preceituam:
7

Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra,
em zona rural, não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.
Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano,
possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra
em zona rural não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por
seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.

Acerca das características da usucapião rural, o doutrinador Gonçalves (2014,


p. 571) assim aduz:

A usucapião especial rural não se contenta com a simples posse. O seu


objetivo é a fixação do homem no campo, exigindo ocupação produtiva do
imóvel, devendo neste morar e trabalhar o usucapiente. Constitui a
consagração do princípio ruralista de que deve ser dono da terra rural quem
a tiver frutificado com o seu suor, tendo nela a sua morada e a de sua
família.

[...] Tal modalidade não exige, todavia, justo título nem boa-fé.

Por sua vez, a usucapião especial urbana é regulamentada pelo artigo 183 da
Constituição Federal e artigo 1.240 do Código Civil, in verbis:

Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma
vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
o
§ 1 O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem
ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
o
§ 2 O direito previsto no parágrafo antecedente não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.

Analisando os artigos que regulamentam a usucapião especial urbana,


verifica-se que os imóveis devem ter um área de até 250m² (duzentos e cinquenta
metros quadrados), devendo o possuidor ter usado o imóvel para abrigar sua família
8

ou a si mesmo, não lhe sendo exigido o justo titulo, contudo não pode ser dono de
outros imóveis tanto urbanos como rurais.

2.3.4 Usucapião Indígena

A usucapião indígena encontra-se regulamentada no artigo 33 da Lei nº.


6.001/73, que estabelece: “O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, por
dez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a
propriedade plena”.
Pois bem, verifica-se que para a usucapião indígena deve índio possuir área
rural como sua, inferior a 50 (cinquenta) hectares, por um período de 10 (dez) anos
consecutivos.

3 DO PROCEDIMENTO DA USUCAPIÃO NA LEI Nº. 5.869/73 (ANTIGO CÓDIGO


DE PROCESSO CIVIL)

Na Lei 5.869/73 (Antigo Código De Processo Civil), em seus artigos 941 a


945, regulamentavam a ação de usucapião dentre os procedimentos especiais.
Os dispositivos acima mencionados estabeleciam que: competia ao possuidor
a legitimidade para propor a ação de usucapião; determinava que a petição inicial
viesse acompanhada pela planta do imóvel, a citação daquele em cujo o nome
estiver registrado o imóvel usucapiendo, a citação dos réus que estivessem em
lugares incertos ou eventuais interessados, a intervenção do Ministério Publico em
todos os atos do processo, bem como, a intimação dos representantes da Fazenda
Publica da União, Estados e Municípios.
Segundo Brandelli (2016, p. 68), em seu livro O usucapião extrajudicial, assim
ensina:

O procedimento do processo de usucapião encontrava-se regido, no Código


Processual Civil de 1973, nos arts. 941 a 945, exigindo-se petição na qual o
autor identificasse o imóvel usucapiendo explicitando claramente a causa de
pedir e os elementos autorizadores da usucapião, instruída com a planta e
memorial descritivo do imóvel, devendo ser citados o proprietário tabular do
imóvel – aquele em cujo nome encontra-se o registro imobiliário, bem como
os proprietários dos imóveis confrontantes. Os cônjuges do proprietário e
dos confrontantes também deveriam ser inclu- ídos no polo passivo
processual, e, portanto, citados. Deveriam ser citados por edital os réus
(proprietário tabular e confrontantes) em lugar incerto e não sabido, caso
9

em que lhes deveria ser nomeado curador, bem como os eventuais


interessados. Havia a necessidade de instauração de um litisconsórcio –
necessário, portanto – entre os réus, o qual não era todavia unitário,
podendo os réus não receberem, na sentença, tratamento idêntico. Os
prazos, assim, eram contados em dobro. A União, o Estado ou Distrito
Federal, e o Município deveriam ser inti- mados para que se manifestassem
acerca de eventual interesse na causa, na medida em que os imóveis
públicos são insuscetíveis de usucapião. Da mesma forma, deveria ser
intimado o Ministério Público. Embora a lei processual civil determinasse a
intimação em todos os casos, havia entendimento administrativo do próprio
Ministério Público asseverando que somente nos casos em que houvesse
justificativa para que se atuasse como fiscal da lei é que deveria o Ministério
Público atuar, como, por exemplo, por haver interesse de menor envolvido.
Após tais citações e intimações, o procedimento seguiria pelo rito ordinário,
e, excepcionalmente, pelo rito sumário, no caso de usucapião coletiva (art.
14 da Lei n. 10.257/2001), podendo haver julgamento antecipado da lide
caso não houvesse impugnação ao pedido por parte dos entes públicos ou
do Ministério Público, e entendesse o Juiz não haver necessidade de
produção de outras provas.

Por sua vez, com o advento da Lei nº. 13.105/2015 trouxe inovações, como
por exemplo o usucapião extrajudicial que será abordado no capitulo seguinte.

4 O PROCEDIMENTO DA USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL DE ACORDO COM A


LEI Nº. 13.105/2015 (NOVO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL)

Fora sancionado pela Presidente Dilma Roussef, no dia 16 de Março de 2015,


a Lei 13.105/2015, o Novo Código de Processo Civil.
O ponto a ser discutido neste capítulo encontra-se previsto no artigo 1.071 da
Lei nº. 13.105/2015, que acrescentou o artigo 216-A da Lei de Registro Públicos nº.
6.015/73, qual seja, a possibilidade da usucapião extrajudicial.

4.1 PRINCIPIOS QUE REGEM O REGISTRO DE IMÓVEIS

Os princípios são as fontes basilares de um estado democrático de direito, na


qual sanam as lacunas deixadas pelas leis. Sabe-se que na ausência de lei deve o
operador do direito fazer uso da analogia e em não sendo preenchida a lacuna
existente, o mesmo deve utilizar-se dos costumes e por fim aos princípios gerais de
direito.
Como já mencionado, os princípios guiam de forma subsidiária as normas já
existentes. Desta forma, explanaremos de forma clara e resumida, os principais
10

princípios que devem ser levados em conta quando da análise do registro publico de
imóveis, que é regulado pela Lei de Registros Públicos, nº. 6.015/73.

4.1.1 Princípio da Publicidade

O principio da publicidade é o principio basilar dos registros públicos, sendo


que os atos e fatos registrados tornam-se publico a todos.
Acerca do referido principio discorre o doutrinador Gonçalves (2014, p. 600)
“O registro confere publicidade às transações imobiliárias, valendo contra terceiros.
Qualquer pessoa poderá requerer certidão do registro sem informar ao oficial ou ao
funcionário o motivo ou interesse do pedido [...]”.

E mais:

O serventuário é obrigado, sob penas disciplinares, a expedir certidões e


informar a parte. O registro, assim, salvo exceções relativas a direitos
alusivos à família e à filiação, torna público o que nele se contém, criando a
presunção de seu conhecimento ou de sua cognoscibilidade.

Por sua vez, para Almeida (1983, p. 56):

[...] a publicidade formal tem o objetivo de criar a cognoscibilidade geral,


possibilitando a verificação dos atos jurídicos que, através dos livros, se
realizam no Registro Imobiliário. A publicidade material é a fides publica, a
fé pública que, no dizer de um jurista europeu, está em íntima relação com o
princípio da legitimação. Alguns autores reúnem esses dois num só
princípio, denominando-o de princípio de exatidão registral.

Assim, o referido principio torna publico todos os atos relativos ao registro de


imóveis, garantindo as pessoas interessadas o livre acesso as informações do
registro de imóveis.

4.1.2 Principio da Força Probante ou Presunção

Pelo referido principio, presume-se que é valido o negócio jurídico que


originou o titulo registrado, sendo-lhe conferida ao titular, uma presunção relativa.
Nos ensinamentos de Gonçalves (2014, p. 600), “os registros tem força
probante, pois gozam da presunção de veracidade”.
11

O principio da força probante ou presunção esta previsto no artigo 1.245, §2º


e 1.247 do Código Civil que assim preceituam:

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do


título translativo no Registro de Imóveis.
[...]
§ 2o Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de
invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a
ser havido como dono do imóvel.
Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o
interessado reclamar que se retifique ou anule.

Desta feita, consideram-se válidos o registro de imóveis sendo-se conferida


presunção relativa, até que prove ao contrário.

4.1.3 Principio da Legalidade

O referido principio encontra-se previsto na Lei nº. 6.015/73, em seu artigo


198, que assim dispõe:

Art. 198 - Havendo exigência a ser satisfeita, o oficial indicá-la-á por


escrito. Não se conformando o apresentante com a exigência do
oficial, ou não a podendo satisfazer, será o título, a seu requerimento
e com a declaração de dúvida, remetido ao juízo competente para
dirimí-la, obedecendo-se ao seguinte:
I - no Protocolo, anotará o oficial, à margem da prenotação, a
ocorrência da dúvida;
Il - após certificar, no título, a prenotação e a suscitação da dúvida,
rubricará o oficial todas as suas folhas;
III - em seguida, o oficial dará ciência dos termos da dúvida ao
apresentante, fornecendo-lhe cópia da suscitação e notificando-o
para impugná-la, perante o juízo competente, no prazo de 15 (quinze)
dias;
IV - certificado o cumprimento do disposto no item anterior,
remeterse-ão ao juízo competente, mediante carga, as razões da
dúvida, acompanhadas do título.

Para Gonçalves (2014, p. 603), o principio da legalidade é:

O princípio da legalidade pode ser mencionado em terceiro lugar.


Incumbe ao oficial do cartório, por dever de ofício, examinar a
legalidade e a validade dos títulos que lhe são apresentados para
registro, nos seus aspectos intrínsecos e extrínsecos.

Verifica-se que tal principio tem por objetivo vedar que sejam registrados
imóveis com títulos inválidos.
12

4.1.4 Principio da Territorialidade

O referido principio encontra-se previsto no artigo 169 da Lei de Registro de


Imóveis nº 6.015/73, que assim, preceitua:

Art. 169 - Todos os atos enumerados no art. 167 são obrigatórios e efetuar-
se-ão no Cartório da situação do imóvel, salvo:
I - as averbações, que serão efetuadas na matrícula ou à margem do
registro a que se referirem, ainda que o imóvel tenha passado a pertencer a
outra circunscrição;
II – os registros relativos a imóveis situados em comarcas ou circunscrições
limítrofes, que serão feitos em todas elas, devendo os Registros de Imóveis
fazer constar dos registros tal ocorrência.
III - o registro previsto no n° 3 do inciso I do art. 167, e a averbação prevista
no n° 16 do inciso II do art. 167 serão efetuados no cartório onde o imóvel
esteja matriculado mediante apresentação de qualquer das vias do contrato,
assinado pelas partes e subscrito por duas testemunhas, bastando a
coincidência entre o nome de um dos proprietários e o locador.

O referido principio assegura o registro do imóvel na circunscrição imobiliária


da situação do imóvel.

4.2 UMA ANÁLISE ACERCA DO PROCEDIMENTO DA USUCAPIÃO


EXTRAJUDICIAL NO NOVO CODIGO DE PROCESSO CIVIL – LEI Nº.
13.105/2015

O ponto a ser debatido está no Livro Complementar da Parte Especial do


Código, dentre as Disposições Finais e Transitórias que integram a Lei nº.
13.105/2015.
Conforme já mencionado, fora introduzido o artigo 216-A na Lei de Registro
Públicos nº. 6.015/73, que trouxe inovações em relação ao instituto da usucapião, de
modo a permitir que o referido instituto se realize de forma extrajudicial.
Por meio da nova sistemática, a usucapião poderá ser feita em um primeiro
momento sem precisar provocar o judiciário, sendo feita diretamente junto ao
Cartório de Imóveis em que o imóvel usucapido estiver registrado, desde que
acompanhado por advogado e portando as documentações necessárias exigidos por
lei.
No que pese não existir previsão de procedimento especial de
reconhecimento de usucapião no NCPC, o procedimento deste será comum,
13

diferentemente do que acontecia no CPC/1973, conforme preceitua o artigo 318,


caput, do NCPC “ Aplica-se a todas as causas o procedimentos comum, salvo
disposição em contrário deste Código ou de lei.”
A usucapião extrajudicial é um novo procedimento da usucapião, que esta
prevista no artigo 1.071 do CPC/2015, no qual inseriu o artigo 216-A na Lei 6.015/73
(Lei de Registros Públicos), vejamos:

Art. 1.071. O Capítulo III do Título V da Lei no 6.015, de 31 de dezembro de


1973 (Lei de Registros Públicos), passa a vigorar acrescida do seguinte art.
216-A: (Vigência)
Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de
reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em que
estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do interessado,
representado por advogado, instruído com:
I - ata notarial lavrada pelo tabelião, atestando o tempo de posse do
requerente e seus antecessores, conforme o caso e suas circunstâncias;
II - planta e memorial descritivo assinado por profissional legalmente
habilitado, com prova de anotação de responsabilidade técnica no
respectivo conselho de fiscalização profissional, e pelos titulares de direitos
reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes;
III - certidões negativas dos distribuidores da comarca da situação do imóvel
e do domicílio do requerente;
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a origem,
a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o pagamento dos
impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.
§ 1o O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da
prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.
§ 2o Se a planta não contiver a assinatura de qualquer um dos titulares de
direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do
imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, esse será
notificado pelo registrador competente, pessoalmente ou pelo correio com
aviso de recebimento, para manifestar seu consentimento expresso em 15
(quinze) dias, interpretado o seu silêncio como discordância.
§ 3o O oficial de registro de imóveis dará ciência à União, ao Estado, ao
Distrito Federal e ao Município, pessoalmente, por intermédio do oficial de
registro de títulos e documentos, ou pelo correio com aviso de recebimento,
para que se manifestem, em 15 (quinze) dias, sobre o pedido.
§ 4o O oficial de registro de imóveis promoverá a publicação de edital em
jornal de grande circulação, onde houver, para a ciência de terceiros
eventualmente interessados, que poderão se manifestar em 15 (quinze)
dias.
§ 5o Para a elucidação de qualquer ponto de dúvida, poderão ser
solicitadas ou realizadas diligências pelo oficial de registro de imóveis.
§ 6o Transcorrido o prazo de que trata o § 4o deste artigo, sem pendência
de diligências na forma do § 5o deste artigo e achando-se em ordem a
documentação, com inclusão da concordância expressa dos titulares de
direitos reais e de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do
imóvel usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, o oficial de
registro de imóveis registrará a aquisição do imóvel com as descrições
apresentadas, sendo permitida a abertura de matrícula, se for o caso.
§ 7o Em qualquer caso, é lícito ao interessado suscitar o procedimento de
dúvida, nos termos desta Lei.
14

§ 8o Ao final das diligências, se a documentação não estiver em ordem, o


oficial de registro de imóveis rejeitará o pedido.
§ 9o A rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de ação
de usucapião.
§ 10. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial
de usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e
de outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes
públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis
remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel,
cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao
procedimento comum.’

Em primeiro momento, cabe ressaltar que este dispositivo não criou a


usucapião extrajudicial, vez que já havia um procedimento análogo a este no artigo
60 da Lei nº. 11.977/2009, modificada pela Lei nº. 12.424/2011 – Lei do Programa
Minha Casa Minha Vida, na qual realiza a regularização fundiária dos
assentamentos que se localizam em áreas urbanas.
Neste sentido ensina Kumpel (NÃO PAGINADO):

[...] a implementação do Usucapião Administrativo pelo PMCMV teve efeitos


bastante limitado, pois (I) foi prevista exclusivamente para regularização
fundiária urbana, (II) envolvendo procedimento administrativo bastante
complexo, (III) a contagem do prazo usucapional se atrela ao prévio registro
do título de legitimação de posse (art. 60 lei 11.977/2009). Portanto,
compete ao Registrador de Imóveis o reconhecimento extrajudicial do
usucapião, a partir do registro da legitimação de posse convertida em
propriedade após a passagem de um lustro de tempo (Cinco anos).

Além do mais, ao contrário do que muitos imaginam, não é uma nova


usucapião, mas sim, um novo procedimento da usucapião no qual será “processado
diretamente no cartório do registro de imóveis da comarca em que estiver situado o
imóvel usucapiendo”, conforme aduz o artigo 216-A, caput, da Lei de Registros
Públicos nº 6.015/73.

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de


reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em
que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do
interessado, representado por advogado, instruído com: (grifo nossos)
[...]

Interessante se faz explanar que esse procedimento da usucapião


extrajudicial abrange a todas as modalidades de usucapião, exceto a regularização
fundiária de interesse social, vez que a mesma já possuí rito próprio.
15

Além do mais, diante da ausência de alguns requisitos para o reconhecimento


da usucapião extrajudicial, bem como, do indeferimento do tabelião quanto ao
usucapião extrajudicial, o interessado poderá recorrer de tal decisão, bem como
invocar a instancia judicial para tentar o reconhecimento.
Por fim, o interessado poderá também utilizar diretamente o judiciário, sem a
necessidade de tentar primeiro o reconhecimento administrativo. E em ambos os
casos, o interessado deverá se fazer representar por advogado, conforme transcrito
no artigo 216-A da Lei de Registros Públicos.

4.3 DA COMPETÊNCIA

O artigo 216 – A, caput, da Lei 6.015/73 aduz que:

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de


reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em
que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do
interessado, representado por advogado, instruído com: (grifo nosso)
[...]

Bem como, o artigo 169 da Lei 6.015/73 deixa claro que: “Todos os atos
enumerados no art. 167 são obrigatórios e efetuar-se-ão no Cartório da situação do
imóvel, salvo: [...]”
Desta forma, a escritura pública pode ser lavrada no Cartório de Notas de
qualquer localidade, contudo, o registro só poderá ser efetuado no Registro de
Imóveis da situação do imóvel.
E nos casos onde existir na comarca mais de uma circunscrição imobiliária,
os atos relacionados ao imóvel será a definida nas leis de organização judiciária.
Sendo assim, ao receber os documentos, o oficial deverá registrar, apurar,
preliminarmente, se é dele ou não a competência territorial, devendo indicar, na
hipótese negativa, a circunscrição correta.
Por fim, em se tratando de bens localizados em comarcas diferentes, o
registro deverá ser feito em todas elas. O desmembramento da comarca não exige
que se faça novo registro no novo cartório, como aduz o artigo 170 da Lei nº.
6.015/73.
16

4.4 DA LEGITIMIDADE

No que tange quanto à legitimidade para fazer o pedido da usucapião


extrajudicial, a situação não se difere da ação de usucapião que estava prevista no
CPC/73, vez que o usucapiente deverá ser o legitimado ativo, se casado ou casada,
é obrigatório à outorga uxória, salvo se casados em regime separação absoluta de
bens (art. 73 do NCPC). Caso o cônjuge não dê a outorga, injustamente, deverá o
usucapiente pedir o seu suprimento por via judicial. Quanto à usucapião coletiva,
todos os usucapientes precisam concordar.

4.5 DOS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS

O procedimento administrativo não inviabiliza a via jurisdicional, contudo, é


necessário que o interessado seja representado por advogado, e o mesmo seja
instruído com as seguintes documentações:

4.5.1 Ata Notarial

Conforme preceitua o artigo 384 do CPC/2015, a existência e o modo de


existir de algum fato podem ser atestados ou documentados, a requerimento do
interessado, mediante ata lavrada por tabelião.
No processo civil brasileiro, a ata notarial é um meio de prova pré-constituida,
na qual se alcança uma produção antecipada de provas.
Segundo Brandelli (2004, p. 44): “Instrumento público através do qual o
notário capta, por seus sentidos, uma determinada situação, um determinado fato, e
o translada para seus livros de notas ou para outro documento.”
Ou seja, na ata notarial o tabelião unicamente transporta para seus livros de
notas ou para outro documento, um determinado fato, uma determinada situação.
Não se confundindo com a escritura publica, sendo a diferença entre elas a
existência ou não de declaração de vontade, que está presente na escritura e
ausente na ata.
Sendo assim, a lavratura da ata notarial deverá ser o primeiro passo do
procedimento da usucapião extrajudicial, no qual essa deverá ser lavrada pelo
17

Tabelião de Notas, sendo este da circunscrição em que estiver localizado o imóvel


usucapido, comprovando o tempo de posse do requerente e a cadeia possessória
que configure o direito de aquisição da propriedade por usucapião.
Vale frisar, que o justo título de posse, que é aquele que serve para legitimar
a consciência do possuidor de quem tem direito à posse do bem em razão de um ato
juridicamente admitido pelo ordenamento, servido de exemplo um contrato de
promessa de compra e venda firmado entre a pessoa que detinha a titularidade do
domínio, ou de uma promessa de compra e venda registrada, ou uma cessão de
direitos possessórios, por exemplo, e ainda outros documentos pertinentes que
auxiliem na comprovação da posse, como por exemplo, pagamento de impostos,
tais como energia, telefone, água entre outros.

4.5.2 Planta e memorial descritivo do imóvel

A planta e memorial descritivo do respectivo imóvel deverão ser assinadas,


juntamente com o ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) por um profissional
legalmente habilitado, proporcionando uma segurança técnica e jurídica para quem
contratar e para quem é contratado, bem como, pelos titulares de direitos reais do
imóvel usucapido. A planta e memorial descritivo, ao serem assinados deverão ter
sua firma reconhecida por autenticidade, tanto pelo profissional habilitado, quanto
pelos titulares de direitos reais.
E em não sendo a planta assinada pelos titulares de direitos reais, os
mesmos serão notificados pelo registrador competente, como veremos mais a frente.

4.5.3 Certidões negativas da comarca da situação do imóvel e do domicílio do


requerente

As certidões negativas deverão ser juntadas à inicial no processo de


usucapião extrajudicial, em sua forma negativa, segundo teor do artigo 216-A, inciso
V da Lei de Registro de Imóveis.
Certamente, as certidões estaduais e as federais da Justiça Federal comum
poderão ser uteis para detectar alguma situação que impeça o deferimento, como,
por exemplo, a informação de que há uma ação possessória do proprietário tabular
18

contra o possuidor requerente, cuja citação teve o escopo de interromper o prazo


prescricional aquisitivo (art. 202, I, do Código Civil), ou uma ação reivindicatória da
União contra o requerente da usucapião, por ser o imóvel público.
Os documentos distribuídos da comarca da situação do imóvel e do domicilio
do imóvel usucapido deverão comprovar a origem, continuidade, natureza e o tempo
de posse, como por exemplo, pagamentos de impostos, taxas, entre outros.

4.5.4 Justo título ou quaisquer outros documentos

Aduz o inciso IV, do artigo 216-A, da Lei de Registros Publicos, que:

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de


reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da
comarca em que estiver situado o imóvel usucapiendo, a
requerimento do interessado, representado por advogado, instruído
com:
[...]
IV - justo título ou quaisquer outros documentos que demonstrem a
origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse, tais como o
pagamento dos impostos e das taxas que incidirem sobre o imóvel.

Nas lições de Brandelli (2016, p. 82):

O procedimento extrajudicial de usucapião serve para reconhecer a


aquisição material de um direito real pela usucapião, e o justo titulo
somente será́ necessário quando a espécie de usucapião invocada
reclamá-lo. Assim, se a usucapião invocada for, por exemplo, a
extraordinária, não há que se falar em apresentação de justo titulo.
Em segundo lugar, cumpre entender adequadamente a expressão
“justo titulo ou quaisquer outros documentos que demonstrem a
origem, a continuidade, a natureza e o tempo da posse”. Este “ou” há
que ser entendido apenas como opção porque pode não haver prova
documental a respeito da posse, e não no sentido de que possa o
justo titulo, quando exigível, ser substituído por outros documentos
que provem a posse.

Sendo assim, temos como exemplo de tais documentos como, recibo de


pagamento da compra do imóvel, comprovantes de pagamentos de tributos,
compromisso de compra e venda, entre outros.

4.6 DO PROCEDIMENTO
19

O interessado, por meio de seu advogado, entregara ao registrador de


imóveis seu pedido, junto com os documentos elencados no artigo 216-A da Lei de
Registro de Imóveis.
Ao serem verificado todos os documentos necessários para acompanharem o
pedido, o registrador fará uma apreciação parecida com o juízo de admissibilidade
do processo judicial. E se o oficial entender que falta algum dos requisitos do pedido,
como por exemplo a ausência da ata notarial, o mesmo informara ao interessado
uma relação dos documentos que faltam.
Há a possibilidade de que o interessado discorde das exigências feitas pelo
oficial e peça a instauração de procedimento de dúvida. Sendo assim, o oficial envia
a dúvida para o juiz, que informará seu posicionamento, que enviará juntamente os
documentos trazidos pelo interessado. O objeto da dúvida é apenas a possibilidade
ou não de instauração do procedimento de usucapião perante o registro de imóveis.
Procedente a dúvida, serão devolvidos os documentos ao interessado para
que complete o pedido com as exigências necessárias. No caso de improcedência
dá início o oficial ao procedimento extrajudicial com os documentos presentes.
Conforme o parágrafo 1º do artigo 216-A da Lei de Registro de Imóveis:

Art. 216-A. Sem prejuízo da via jurisdicional, é admitido o pedido de


reconhecimento extrajudicial de usucapião, que será processado
diretamente perante o cartório do registro de imóveis da comarca em
que estiver situado o imóvel usucapiendo, a requerimento do
interessado, representado por advogado, instruído com:
[...]
§1º. O pedido será autuado pelo registrador, prorrogando-se o prazo da
prenotação até o acolhimento ou a rejeição do pedido.(grifo nosso)

Sendo assim, sendo recebido o pedido, o registrador fará a autuação e


prenotará no protocolo. Observa-se que não há prazo determinado para o fim dos
efeitos da prenotação, diferente do que acontece com o procedimento de registro,
que tem prazo de trinta dias. A prenotação do procedimento de usucapião procede
até a decisão final do pedido. Se acolhido, há retroação dos efeitos à data da
prenotação. Se não, cancela-se a prenotação.
Além disso, deverá a Fazenda Pública, municipal, estadual e federal serem
notificadas, para informarem, no prazo comum de 15 dias, se o imóvel usucapido é
público.
Bem como, notificara também algum titular de direitos reais que não tiver
assinado a planta, a se manifestar no prazo de 15 dias, para manifestar se está de
20

acordo, no caso de o mesmo não se manifestar, dár-se-á como ciência tácita. E por
fim, publicarão um edital em jornais de grande circulação, para dar ciência a
terceiros, que poderão impugnar no prazo de 30 dias.

4.7 A JUDICIALIZAÇÃO DO PEDIDO

No procedimento extrajudicial de usucapião não há qualquer impedimento de


que o interessado utilize a via judicial, após ter seu pedido rejeitado pelo oficial de
registro de imóveis, conforme assegurado pelo artigo 216-A, parágrafo 9º da Lei de
Registros Públicos: “a rejeição do pedido extrajudicial não impede o ajuizamento de
ação de usucapião.”
Conforme já explanado em linhas anteriores, todos os titulares de direitos
reais diretamente interessados deverão concordar expressamente com o pedido,
vez que, se não houver a concordância de todos ou se algum órgão público ou
terceiro interessado impugna o pedido, não é possível o reconhecimento
extrajudicial, sendo então necessário o processo judicial, conforme disposto no art.
216, parágrafo 10 da Lei de Registros Públicos:

Art. 216-A:
[...]
§10º. Em caso de impugnação do pedido de reconhecimento extrajudicial de
usucapião, apresentada por qualquer um dos titulares de direito reais e de
outros direitos registrados ou averbados na matrícula do imóvel
usucapiendo e na matrícula dos imóveis confinantes, por algum dos entes
públicos ou por algum terceiro interessado, o oficial de registro de imóveis
remeterá os autos ao juízo competente da comarca da situação do imóvel,
cabendo ao requerente emendar a petição inicial para adequá-la ao
procedimento comum.

Assim, havendo impugnação quanto ao pedido ou não havendo a


concordância expressa dos titulares de direitos reais diretamente interessados, o
oficial de registro envia os autos ao juiz competente para o julgamento do processo
judicial de reconhecimento de usucapião, iniciando-se assim, o procedimento.

4.8 DOS PONTOS POSITIVOS DO USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

Com a introdução do artigo 216-A na Lei de Registros de Imóveis, que


regulamenta o procedimento da usucapião extrajudicial, podemos analisar que
21

existem pontos positivos com a inovação desse novo procedimento da usucapião,


vez que o mesmo tem como objetivo evitar demandas judiciais, vez que, é publico e
notório que o judiciário brasileiro está sobrecarregado e que os processos judiciais
se estenderão por muitos anos ainda, sendo um procedimento mais célere,
comparado ao procedimento judicial.

4.9 DOS PONTOS NEGATIVOS DO USUCAPIÃO EXTRAJUDICIAL

Em linhas gerais os pontos negativos da usucapião extrajudicial se dão


quanto a sua aplicabilidade e eficácia, tendo em vista que a na ausência de qualquer
documento, ou assinatura e consentimento de uma das partes, o oficial de registro,
indeferirá o pedido de usucapião extrajudicial e remeterá os autos ao juízo
competente para a realização do procedimento judicial.
Bem como, tem-se que tomar cuidado no que diz respeito a ata notarial, no
qual esta ao ser formulada pelo tabelião, se o mesmo inserir na ata qualquer
informação que não seja “verdadeira”, poderá responder civil ou penalmente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de todo o exposto, podemos concluir com a análise do presente artigo


científico que o Código de Processo Civil da Lei 5.869/73 previa algumas
modalidades de usucapião, tais como a extraordinária, ordinária, especial, indígena,
entre outras, sendo que o instituto da usucapião poderia se dar apenas com o
ingresso da ação judicial, sendo esta por vezes muito demorada, em razão da
grande demanda de processos no judiciário.
Porém, com o advento da Lei nº. 13.105/2015, surgiu a usucapião
extrajudicial que é uma forma de se evitar o processo judicial, vez que, é publico e
notório que o Judiciário brasileiro está sobrecarregado e que os processos judiciais
se estenderão por muitos anos ainda.
Contudo, o interessado, juntamente com seu advogado, deverá analisar, no
entanto, se será possível a realização do procedimento extrajudicial, vez que, como
observado anteriormente, é necessário neste procedimento a concordância de
diversas pessoas, situação esta que poderá muito difícil se obter, como por exemplo,
22

ter conhecimento do domicilio de uma parte que seja, tendo em vista que nesse
procedimento não é possível a citação por edital, tornando-se um empecilho ao
reconhecimento extrajudicial da usucapião.
Bem como, estando ausente qualquer um dos requisitos elencados nos incisos do
caput do novo artigo, não é possível esse reconhecimento extrajudicial. Apenas o
judicial.
Vale ressaltar que o procedimento extrajudicial é alternativa do interessado,
não sendo obrigatório que ele teste esse procedimento para ingressar em juízo,
como em outras situações, na qual para a analise da ação, é necessário ter a
negativa do processo administrativo. Diante disso, se o interessado não tiver como
preencher os requisitos necessários é melhor que ingresse diretamente em juízo. De
outra forma, o pedido extrajudicial será mera perda de tempo, pois será certamente
rejeitado pelo oficial, que o remeterá finalmente ao juiz.

REFERÊNCIAS

ALMEIDA, Tabosa de. Das inexatidões registrais e sua retificação. Revista de


Direito Imobiliário, São Paulo, n. 11, p. 41-63, jan./jun. 1983.

BRASIL, Constituição da república federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da


União, Brasília, 5 out. 1988. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acessado em:
09 de novembro de 2016.

BRASIL, Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário
Oficial da União, Brasília, 10 jan. 2002. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acessado em: 09 de
novembro de 2016.

BRASIL, Lei nº. 13.105, de 16 de março de 2015. Institui o Código de Processo


Civil. Diário Oficial da União, Brasília, 16 mar. 2015. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Lei/L13105.htm>.
Acessado em: 09 de novembro de 2016.

BRASIL, Lei nº. 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do


Índio. Diário Oficial da União, Brasília, 19 dez. 1973. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6001.htm>. Acessado em: 09 de
novembro de 2016.
23

BRASIL, Lei nº. 6.015, de 31 de dezembro de 1973. Dispõe sobre os registros


públicos, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, 31 dez. 1973.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6015consolidado.htm>.
Acessado em: 09 de novembro de 2016.

BRANDELLI, Leonardo. Usucapião administrativa: de acordo com o novo


código de processo civil – São Paulo: Saraiva, 2016. Disponível em:
<https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788502637009/cfi/0 >. Acessado
em: 04 de novembro 2016.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro, volume 4: direito das coisas.
29ª ed. São Paulo: Saraiva, 2014.

FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de direito civil: reais,
8. ed. Salvador: Juspodvm, 2012.

FELIPPE, Donaldo J. Dicionário jurídico de bolso: terminologia jurídica: termos


e expressões latinas de uso forense. 20ª ed. Campinas: Millennium Editora, 2010.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil esquematizado, v. 2, 2. ed. rev. e atual.


São Paulo: Saraiva, 2014.

KUMPEL, Vitor Frederico. O novo Código de Processo Civil: o usucapião


administrativo e o processo de desjudicialização. São Paulo: 2014. Disponível
em:<http://www.portaldori.com.br/2014/09/23/o-novo-codigo-de-processo-civil-o-
usucapiao-administrativo-e-o-processo-de-desjudicializacao-por-victor-frederico-
kumpel/> Acessado em: 04 de novembro 2016.

PACHECO, José Ernani de Carvalho. Usucapião. 10ª ed. Curitiba: Juruá, 1998.

PEREIRA, Caio Mário da Silva.Instituições de Direito Civil: Direitos Reais.


V.IV,19.ed. Rev. e atual. Rio de Janeiro:Forense, 2007.

RAYMUNDO, Francisco. Cartilha usucapião extrajudicial. São Paulo: 2016.


Disponível em:
<https://www.oficioeletronico.com.br/Downloads/cartilha_usucapiaoadm.pdf>
Acessado em: 27 de outubro 2016.

Você também pode gostar