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PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA

TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Quinta Câmara Cível

Processo: Apelação n.º 0011153-18.2013.8.05.0080


Foro de Origem: Comarca de Feira de Santana
Órgão Julgador: Quinta Câmara Cível
Apelante : Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia - Coelba
Advogado : Paulo Abbehusen Junior (OAB: 28568/BA)
Apelado : Granita - Brazilian Granites & Italian Technology Ltda
Relatora: Ilona Márcia Reis

ACÓRDÃO

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO MONITÓRIA.


OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO
INTERCORRENTE. APELO QUE NÃO
TROUXE AOS AUTOS CIRCUNSTÂNCIA
APTA À INTERRUPÇÃO DA CONTAGEM
DO PRAZO PRESCRICIONAL. AUSÊNCIA
DE MARCO INTERRUPTIVO. ART. 240,
§2º DO CPC. TENTATIVAS DE CITAÇÃO
FRUSTRADAS. DILIGÊNCIAS
REQUERIDAS CUMPRIDAS. AUSÊNCIA
DE CULPA DO PODER JUDICIÁRIO.
PRESCRIÇÃO RECONHECIDA E
MANTIDA. APELO IMPROVIDO. A alegada
necessidade de intimação da parte para
manifestação, a teor do art. 487, parágrafo único
do CPC, revelou-se desnecessária, pois, ainda
que a sistemática processual e constitucional
imponha que o processo seja conduzido com
observância ao princípio do contraditório e da
ampla defesa, no presente caso, por ocasião do
recurso de apelação aviado, não houve a oportuna
manifestação quanto às causas interruptivas ou
suspensivas da prescrição. Nesse sentido, em que
pese as inúmeras tentativas de localização pela
parte autora, a busca pelo endereço da requerida,
ultrapassaram a razoabilidade, não se mostrando
cabível que se movimente o sistema judiciário
por vários anos para a simples localização da
parte, sendo a demora na realização da citação é
imputável exclusivamente à parte autora, o que
afasta a interrupção da prescrição prevista no art.
240, § 1º, do CPC/2015. Saliente-se, ao longo do
trâmite processual em primeiro grau, foram
realizadas tentativas de citação pessoal e

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deferidas e realizadas as pesquisas nos sistemas


judiciais de dados. O Poder Judiciário deu
andamento a todas as medidas que lhe foram
requeridas e atribuídas. Precedentes. Tratando-se
de ação monitória, na qual se postula a pretensão
de cobrança de dívidas líquidas constantes de
instrumento público ou particular, a prescrição é
de cinco anos, nos termos do §5º, inciso I, do art.
206 do CPC/2015, impondo-se o reconhecimento
da prescrição e a extinção da ação com resolução
de mérito. Prescrição mantida. Apelo improvido.

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de


Apelação nº 0011153-18.2013.8.05.0080, de Foro de comarca Feira De
Santana, na qual figuram como recorrente Companhia de Eletricidade
do Estado da Bahia - Coelba, e recorrido Granita - Brazilian Granites &
Italian Technology Ltda.

ACORDAM os Desembargadores integrantes da Quinta


Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, à
unanimidade, em NEGAR PROVIMENTO à Apelação, pelas razões
alinhadas no voto do relator.

Sala das Sessões, de de 2020.

Presidente

Ilona Márcia Reis


Relatora

Procurador de Justiça

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Processo : Apelação n.º 0011153-18.2013.8.05.0080


Foro de Origem : Comarca de Feira de Santana
Órgão Julgador : Quinta Câmara Cível
Apelante : Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia -
Coelba
Advogado : Paulo Abbehusen Junior (OAB: 28568/BA)
Apelado : Granita - Brazilian Granites & Italian Technology
Ltda
Relatora : Ilona Márcia Reis

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por


COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ESTADO DA BAHIA -
COELBA, na ação monitória movida em face de GRANITA –
BRAZILIAN GRANITES & ITALIAN TECHNOLOGY LTDA, contra
sentença que julgou o feito, nos seguintes termos:

“Assim sendo, a continuada inércia da


parte perdurou por tempo suficiente para
configurar a prescrição, completada antes
mesmo da citação da demandada, sendo
que as providências agora requeridas
resultam insuficientes para afastar a
prescrição já completada. Destaque-se, por
fim, que não há nos autos qualquer das
hipóteses que impeça a fluência do prazo
prescricional na forma dos artigos 197,
198 e 199 do CC. Isto posto, com fulcro
nos citados dispositivos legais, declaro a
prescrição do direito perseguido pela parte
autora, e julgo extinto o processo com
resolução de mérito, nos termos do artigo
487, II, do mencionado Código Processual.
Custas pela parte autora. Publique-se.
Registre-se. Intime(m)-se"
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Em razões recursais, sustenta a apelante, em síntese, a


nulidade do decisum, tendo em vista a necessidade de intimar as partes
para manifestação acerca da prescrição, em observância ao art. 487,
parágrafo único, in verbis:

"Ressalvada a hipótese do § 1º do art. 332


, a prescrição e a decadência não serão
reconhecidas sem que antes seja dada às
partes oportunidade de manifestar-se".

Defende a inocorrência de prescrição no caso concreto,


considerando que não houve desídia por parte do apelante, em vista dos
inúmeros requerimentos de prosseguimento do feito com indicações de
endereços para tentativa de citação ao apelado.
Afirma, por derradeiro, a necessidade de intimação do autor
para manifestar interesse no prosseguimento do feito antes do
reconhecimento da prescrição.
Postula o provimento do recurso.
Não houve contrarraões, consoante certidão de fl. 338.
Conclusos, elaborei o presente relatório, determinando a
inclusão do feito em pauta para julgamento.
É relatório.

Salvador, 04 de maio de 2020.

ILONA MÁRCIA REIS


Relatora

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Foro de Origem: Comarca de Feira de Santana
Órgão Julgador: Quinta Câmara Cível
Apelante : Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia -
Coelba
Advogado : Paulo Abbehusen Junior (OAB: 28568/BA)
Apelado : Granita - Brazilian Granites & Italian Technology
Ltda
Relatora: Ilona Márcia Reis

VOTO

A apelação não merece provimento.

In casu, a alegada necessidade de intimação da parte para


manifestação, a teor do art. 487, parágrafo único do CPC, revelou-se
desnecessária, pois, ainda que a sistemática processual e constitucional
imponha que o processo seja conduzido com observância ao princípio
do contraditório e da ampla defesa, no presente caso, por ocasião do
recurso de apelação aviado, não houve a oportuna manifestação quanto
às causas interruptivas ou suspensivas da prescrição.

Ainda assim, a prescrição, por ser matéria de ordem pública,


pode ser reconhecida de ofício.

O reconhecimento da prescrição é a medida que se impõe


juridicamente.

A presente ação monitória foi ajuizada em 23/04/2013,


sendo realizadas diversas diligências frustradas para citação da parte

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demandada, inclusive por meio de oficial de justiça, além de pesquisa


nos sistemas RENAJUD e INFOJUD, sem êxitos.

O magistrado da origem reconheceu a prescrição


quinquenal em 12/08/2019.

Com efeito, conforme se verifica dos autos, é caso de


aplicação da regra disposta no § 2º do artigo 240 do CPC/2015:

Art. 240. A citação válida, ainda quando


ordenada por juízo incompetente, induz
litispendência, torna litigiosa a coisa e
constitui em mora o devedor, ressalvado o
disposto nos arts. 397 e 398 da Lei nº
10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código
Civil). § 1º A interrupção da prescrição,
operada pelo despacho que ordena a
citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de
propositura da ação. § 2º Incumbe ao
autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias,
as providências necessárias para
viabilizar a citação, sob pena de não se
aplicar o disposto no § 1º. § 3º A parte
não será prejudicada pela demora
imputável exclusivamente ao serviço
judiciário.

Em que pese as tentativas de localização pela parte autora, a


busca pelo endereço da requerida, ultrapassaram a razoabilidade, não se
mostrando cabível que se movimente o sistema judiciário por vários
anos para a simples localização da parte, sendo a demora na realização

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da citação é imputável exclusivamente à parte autora, o que afasta a


interrupção da prescrição prevista no art. 240, § 1º, do CPC/2015.

Vale frisar, ao longo do trâmite processual em primeiro


grau, foram realizadas tentativas de citação pessoal e deferidas e
realizadas as pesquisas nos sistemas judiciais de dados.

Nesse sentido, o Poder Judiciário deu andamento à todas as


medidas que lhe foram requeridas e atribuídas, ao passo que a frustração
da citação se deve, unicamente, à parte apelante, que não instruiu o feito
com os elementos para a efetiva triangularização processual.

Isto significa dizer que, se o autor não realiza os atos de


preparação do ato citatório e que, portanto, contribui para a sua
postergação com a ausência de elementos de identificação e a frustração
de seus requerimentos, não é possível falar em interrupção da
prescrição.

Nesse sentido, a lição de Humberto Theodoro Júnior:

Se a citação, por fato imputável à parte,


realizar-se fora do prazo do § 2º do art.
240, não terá efeito retroativo, isto é, não
se haverá a prescrição como
interrompida na data da propositura da
ação, mas apenas na data em que se
ultimou a diligência, se ainda for possível.
(Curso de Direito Processual Civil, Vol. I,
56ª ed., Forense, p. 557).

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Corroborando com o presente entendimento, transcrevo


precedentes judiciais:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO


PRIVADO NÃO ESPECIFICADO.
AÇÃO MONITÓRIA. EMPRÉSTIMO.
PRESCRIÇÃO. INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA.
APLICA-SE AO CASO A
PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL
PREVISTA NO art. 206, §5º, I, do
Código Civil. EMBORA O DESPACHO
ORDENANDO A CITAÇÃO
INTERROMPA A PRESCRIÇÃO (art.
202 do CC), NECESSÁRIO OBSERVAR
A REGRA PREVISTA NO ARTIGO
219, § 2º DO CPC/73 E ART. 240 DO
CPC/02 - QUAL SEJA, QUE O AUTOR
TENHA TOMADO AS
PROVIDENCIAS NECESSÁRIAS
PARA VIABILIZAR A CITAÇÃO, O
QUE NÃO OCORRE NO CASO EM
TELA, POIS A AÇÃO DE COBRANÇA
FOI EXTINTA POR INÉRCIA DA
PARTE. APELO DESPROVIDO.
UNÂNIME. (Apelação Cível Nº
70075473678, Décima Primeira Câmara
Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Katia Elenise Oliveira da Silva, Julgado
em 25/10/2017).

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APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL.


DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO
MONITÓRIA. INSTRUMENTO
PARTICULAR. CONTRATO DE
ABERTURA DE CRÉDITO.
AUSÊNCIA DE CITAÇÃO DO
DEVEDOR. PRAZO PRESCRICIONAL.
NÃO INTERRUPÇÃO. PRESCRIÇÃO
DA PRETENSÃO MONITÓRIA
RECONHECIDA. DEMORA DA
CITAÇÃO NÃO IMPUTÁVEL AOS
SERVIÇOS JUDICIÁRIOS. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
SENTENÇA MANTIDA. 1. A prescrição
é matéria de ordem pública, podendo ser
reconhecida de ofício, a qualquer tempo e
em qualquer grau de jurisdição nas vias
ordinárias. 2. A interrupção da prescrição,
pelo despacho do juiz, retroage à data da
propositura da ação somente se o autor
promover o ato citatório dentro do prazo
estabelecido nos §§ 2º e 3º do art. 240 do
CPC. 2.1. A inobservância do prazo
frustra o efeito interruptivo do despacho
inicial, a teor do que estatui o aludido
artigo 240, § 4º, do CPC. 3. Transcorrido
o prazo prescricional de cinco anos da
pretensão monitória sem a satisfação do
crédito, e não ocorrendo causas
interruptivas, evidente a ocorrência da
prescrição. 4. Não há que se falar em
demora para efetivar da citação imputável
aos serviços judiciários, na medida em

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que todas as diligências requeridas pelo


autor com o fim de localizar o endereço
correto e atual dos réus foram deferidas
pelo Juízo. 5. Honorários majorados. Art.
85, §§ 2º, 8º e 11 do CPC. 6. Recurso
conhecido e não provido. Sentença
mantida. (Acórdão 1185212,
07114811720188070001, Relator:
ROMULO DE ARAUJO MENDES, 1ª
Turma Cível, data de julgamento:
10/7/2019, publicado no DJE: 19/7/2019.
Pág.: Sem Página Cadastrada.)

Ademais, tratando-se de ação monitória, na qual se postula


a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento
público ou particular, a prescrição é de cinco anos, nos termos do §5º,
inciso I, do art. 206 do CPC/2015, impondo-se o reconhecimento da
prescrição e a extinção da ação com resolução de mérito.

Ante o exposto, o voto é no sentido de NEGAR


PROVIMENTO AO APELO, mantendo incólume a sentença vergastada
pelos próprios fundamentos e os acima lançados.

Salvador, de 2020.

Ilona Márcia Reis


Relatora

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