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Este material de apoio foi especialmente preparado por monitores capacitados com

base na aula ministrada. No entanto, não se trata de uma transcrição da aula e não
isenta o aluno de complementar seus estudos com livros e pesquisas de jurisprudência.

MÓDULO IV

AULA 06 (TEORIA GERAL DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS)


PROFESSOR OSMAR PAIXÃO

OBSERVAÇÃO PRELIMINAR IMPORTANTE: a matéria tratada nesta aula sofreu


significativas mudanças pela Lei Federal nº 13.256/16, cujo conteúdo está devidamente
abordado neste material complementar.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS: a razão pela qual o Poder Judiciário deixa de entregar a


prestação jurisdicional em tempo razoável é, muitas vezes, atribuída aos recursos
excepcionais. Essa crítica não é nova na doutrina, uma vez que, desde a origem dos
recursos excepcionais no Brasil (influenciada pelo sistema norte americano), os
estudiosos já diziam que esses recursos estariam fadados ao insucesso desde a sua
implementação.

Os recursos excepcionais norte americanos são mais efetivos justamente pelo fato de
haver um sistema verdadeiramente federativo, caracterizado pela concentração da
regulamentação normativa nos Estados, que lá possuem maior autonomia, permitindo
que o escopo dos recursos extraordinários em dar unicidade à interpretação do direito
seja de fato alcançado.

No Brasil ocorre exatamente o contrário, ou seja, a concentração de regramento do


direito está eminentemente atribuída à União, deixando aos Estados parcela ínfima
dessa regulamentação jurídica. Portanto, pelo fato de a maioria dos temas estarem
regulamentados por lei federal, toda e qualquer discussão, por mais simples que seja,
poderá chegar aos tribunais superiores.

Por conta dessas razões é que se diz que os recursos excepcionais já nasceram em crise,
em função dessa possibilidade ampla de todo e qualquer conflito desembocar nos
tribunais superiores.

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Foi diante desse contexto que o NCPC tratou dos recursos excepcionais com o intuito
de dar maior efetividade a eles e facilitar o entendimento da matéria pelos advogados
que militam nas instâncias superiores, bem como pelos próprios jurisdicionados.

OBJETIVAÇÃO DA FUNÇÃO DAS CORTES SUPERIORES: há uma grande preocupação em


se alterar a estrutura da recorribilidade extraordinária no sistema brasileiro, no sentido
de facilitar o acesso e objetivar a função das Cortes Superiores, isto é, dar maior
importância à função de fixação de teses e interpretações das normas, proporcionando,
de maneira prospectiva, orientações a serem seguidas pelos demais órgãos jurisdicionais
e, eventualmente, atuar apenas no controle de aplicação dessas teses.

Além desse contexto de implementação de mecanismos de objetivação da função das


Cortes Superiores (ex.: recursos repetitivos, incidente de assunção de competência,
etc.), outras questões introduzidas na parte geral dos recursos excepcionais – que serão
tratadas a seguir – também pretendem facilitar as vias de acesso aos tribunais
superiores.

DUPLA ADMISSIBILIDADE DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS: à luz do CPC/73, a


recorribilidade extraordinária tem dupla admissibilidade, isto é, possui dois momentos
distintos para apreciação do preenchimento dos requisitos recursais de admissibilidade,
quais sejam: os extrínsecos (tempestividade, regularidade formal e preparo) e os
intrínsecos (adequação da via eleita por previsão legal, como, por exemplo, a
interposição de recurso especial contra decisão que viole dispositivo de legislação
federal, por força da previsão do art. 105, inciso III, da Constituição Federal).

Ressalta-se que não mudaram os requisitos intrínsecos ou extrínsecos dos recursos


excepcionais, pois permanece sendo necessário, à luz do NCPC, que se preencham
todos esses requisitos.

O que o NCPC tentou mudar (na versão originalmente promulgada) foi a primeira
análise dos requisitos de admissibilidade feito pelo juízo a quo. Essa alteração, por sua
vez, gerou uma preocupação bastante grande no âmbito dos tribunais superiores, uma
vez que, se a intenção seria dar a esses tribunais maiores condições de julgar teses, não
seria coerente eliminar o filtro prévio da análise de admissibilidade feita pelos tribunais
a quo, deixando todo esse trabalho a cargo destas Cortes Superiores (v. redação original
do art. 1.030, que foi substancialmente alterada pela Lei Federal nº 13.256/2016).

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Art. 1.030 (redação anterior ao advento da Lei Federal nº 13.256/2016).
Recebida a petição do recurso pela secretaria do tribunal, o recorrido será
intimado para apresentar contrarrazões no prazo de 15 (quinze) dias, findo o
qual os autos serão remetidos ao respectivo tribunal superior.
Parágrafo único. A remessa de que trata o caput dar-se-á
independentemente de juízo de admissibilidade.

ALTERAÇÕES TRAZIDAS PELA LEI FEDERAL Nº 13.256/2016: a Lei Federal nº


13.256/16 restabeleceu o modelo anteriormente empregado pelo CPC/73, na medida em
que manteve a dupla admissibilidade nos casos de interposição de recursos especial ou
extraordinário, deixando a cargo dos tribunais a quo proceder com o filtro prévio dos
requisitos de admissibilidade destes recursos excepcionais (art. 1.030).

Art. 1.030 (redação atual). Recebida a petição do recurso pela secretaria do


tribunal, o recorrido será intimado para apresentar contrarrazões no prazo de
15 (quinze) dias, findo o qual os autos serão conclusos ao presidente ou ao
vice-presidente do tribunal recorrido, que deverá:
I – negar seguimento:
a) a recurso extraordinário que discuta questão constitucional à qual o
Supremo Tribunal Federal não tenha reconhecido a existência de repercussão
geral ou a recurso extraordinário interposto contra acórdão que esteja em
conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal exarado no
regime de repercussão geral;
b) a recurso extraordinário ou a recurso especial interposto contra acórdão
que esteja em conformidade com entendimento do Supremo Tribunal Federal
ou do Superior Tribunal de Justiça, respectivamente, exarado no regime de
julgamento de recursos repetitivos;
II – encaminhar o processo ao órgão julgador para realização do juízo de
retratação, se o acórdão recorrido divergir do entendimento do Supremo
Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça exarado, conforme o
caso, nos regimes de repercussão geral ou de recursos repetitivos;
III – sobrestar o recurso que versar sobre controvérsia de caráter
repetitivo ainda não decidida pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo
Superior Tribunal de Justiça, conforme se trate de matéria constitucional
ou infraconstitucional:
IV – selecionar o recurso como representativo de controvérsia
constitucional ou infraconstitucional, nos termos do § 6º do art. 1.036;
V – realizar o juízo de admissibilidade e, se positivo, remeter o feito ao
Supremo Tribunal Federal ou ao Superior Tribunal de Justiça, desde
que:
a) o recurso ainda não tenha sido submetido ao regime de repercussão geral
ou de julgamento de recursos repetitivos;
b) o recurso tenha sido selecionado como representativo da controvérsia; ou
c) o tribunal recorrido tenha refutado o juízo de retratação.
§ 1º Da decisão de inadmissibilidade proferida com fundamento no inciso V
caberá agravo ao tribunal superior, nos termos do art. 1.042.

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§ 2º Da decisão proferida com fundamento nos incisos I e III caberá agravo
interno, nos termos do art. 1.021.

Por consequência, a referida legislação também restabeleceu o regime do agravo contra


decisão que inadmite o processamento dos recursos especial e extraordinário,
alterando-se a redação do art. 1.042 do NCPC, de modo a dar compatibilidade com o
retorno do duplo juízo de admissibilidade dos recursos excepcionais.

Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-


presidente do tribunal recorrido que inadmitir recurso extraordinário
ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de entendimento
firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos
repetitivos.
§ 1º (Revogado);
§ 2º A petição de agravo será dirigida ao presidente ou ao vice-presidente do
tribunal de origem e independe do pagamento de custas e despesas postais,
aplicando-se a ela o regime de repercussão geral e de recursos repetitivos,
inclusive quanto à possibilidade de sobrestamento e do juízo de retratação.
§ 3º O agravado será intimado, de imediato, para oferecer resposta no prazo
de 15 (quinze) dias.
§ 4º Após o prazo de resposta, não havendo retratação, o agravo será
remetido ao tribunal superior competente.
§ 5º O agravo poderá ser julgado, conforme o caso, conjuntamente com o
recurso especial ou extraordinário, assegurada, neste caso, sustentação oral,
observando-se, ainda, o disposto no regimento interno do tribunal respectivo.
§ 6º Na hipótese de interposição conjunta de recursos extraordinário e
especial, o agravante deverá interpor um agravo para cada recurso não
admitido.
§ 7º Havendo apenas um agravo, o recurso será remetido ao tribunal
competente, e, havendo interposição conjunta, os autos serão remetidos ao
Superior Tribunal de Justiça.
§ 8º Concluído o julgamento do agravo pelo Superior Tribunal de Justiça e,
se for o caso, do recurso especial, independentemente de pedido, os autos
serão remetidos ao Supremo Tribunal Federal para apreciação do agravo a ele
dirigido, salvo se estiver prejudicado.

EXAME DE MATÉRIA DE FATO PELAS INSTÂNCIAS EXTRAORDINÁRIAS E O PRÉ-


QUESTIONAMENTO NO NCPC: os tribunais superiores têm o específico papel de
preservação da unidade da federação, devendo restringir suas análises apenas aos fatos
apresentados pelas partes e apreciados pelas instâncias ordinárias, à luz da norma
constitucional (no caso do Supremo Tribunal Federal) ou da norma infraconstitucional
(no caso do Superior Tribunal de Justiça).

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Por essa razão é que o pré-questionamento é um tema bastante discutido na doutrina e
na jurisprudência pátria, pois a parte, muitas vezes, deverá prequestionar a matéria para
se esquivar dessa proibição de análise de fatos e provas.

Com o NCPC, pela primeira vez a legislação processual brasileira passa a tratar
expressamente do pré-questionamento (v. arts. 941, § 3º e 1.025, ambos adiante
transcritos).

Esse tema era tratado desde o século XIII no direito inglês, uma vez que, àquela época,
já se exigia que a matéria, para fins de recorribilidade extraordinária, deveria constar
nos registros. Daí porque é possível dizer que o pré-questionamento é o trato da
matéria na decisão recorrida, vale dizer, a matéria que se pretende levar à apreciação
dos tribunais superiores deverá estar tratada na decisão recorrida. Se a matéria não
estiver expressa no acórdão, em regra, a parte deverá opor embargos de declaração para
o fim de sanar essa omissão.

Há três posições doutrinárias clássicas sobre o pré-questionamento, quais sejam: (i) a


ultrapassada corrente que exige na decisão recorrida expressa referência do artigo que
se apontará como violado no recurso; (ii) a segunda corrente, que exige que a matéria
esteja expressamente tratada na decisão, e não o número do dispositivo. Essa corrente
encontra majoritário acolhimento pela doutrina e jurisprudência; (iii) a terceira posição
no sentido de que, opostos os embargos de declaração, a matéria poderá ser considerada
pré-questionada. Essa posição surgiu no âmbito do STF quando foi feita uma releitura
do enunciado nº 356 de sua Súmula, cuja redação dizia que o ponto omisso sobre o qual
não forem opostos declaratórios, não estará pré-questionado. Ao ler a contrario sensu
essa regra, o STF chegou à conclusão que o ponto omisso que foi objeto de embargos de
declaração foi, portanto, pré-questionado.

O NCPC, por sua vez, encampa essa última tese no art. 1.025.

STF: Súmula 356: “O ponto omisso da decisão, sobre o qual não foram
opostos embargos declaratórios, não pode ser objeto de recurso
extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento”.

Art. 1.025. Consideram-se incluídos no acórdão os elementos que o


embargante suscitou, para fins de pré-questionamento, ainda que os
embargos de declaração sejam inadmitidos ou rejeitados, caso o tribunal
superior considere existentes erro, omissão, contradição ou obscuridade.

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Em que pese o NCPC ter adotado a terceira corrente, isto é, estará pré-questionada a
matéria pela simples oposição dos embargos de declaração, essa teoria não será
automaticamente aplicada a toda e qualquer situação, sendo, por exemplo, casos de não
aplicação automática quando: (i) o embargante trouxer argumentos novos nos
aclaratórios; (ii) os embargos tratarem de matérias estritamente fáticas, de modo que,
caso fosse adotada essa tese, os tribunais superiores estariam reanalisando fatos, o que é
proibido em sede extraordinária.

Outro ponto importante tratado no art. 941, § 3º, do NCPC, é o fato de o voto vencido
integrar o acórdão para fins de pré-questionamento. Na visão do Professor essa
mudança é bastante interessante, na medida em que o voto vencido reflete o debate que
houve no julgamento e, portanto, deve integrar a decisão recorrida.

Art. 941. Proferidos os votos, o presidente anunciará o resultado do


julgamento, designando para redigir o acórdão o relator ou, se vencido este, o
autor do primeiro voto vencedor.
§ 1º O voto poderá ser alterado até o momento da proclamação do resultado
pelo presidente, salvo aquele já proferido por juiz afastado ou substituído.
§ 2º No julgamento de apelação ou de agravo de instrumento, a decisão será
tomada, no órgão colegiado, pelo voto de 3 (três) juízes.
§ 3º O voto vencido será necessariamente declarado e considerado parte
integrante do acórdão para todos os fins legais, inclusive de pré-
questionamento.

EFEITOS DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS: como regra, esses recursos possuem apenas
efeito devolutivo, não possuindo, portanto, efeito suspensivo. Sublinhe-se que essa
devolutividade não é ampla, mas restrita aos limites do cabimento desses recursos de
natureza extraordinária.

A novidade sobre esse tema reside no fato de o NCPC permitir que a parte requeira a
concessão de efeito suspensivo a esses recursos excepcionais mediante mera petição
autônoma. Essa regra acaba com uma tradição exigida na prática de ajuizamento de
ação cautelar para requerer a concessão de efeito suspensivo aos recursos de natureza
extraordinária.

O § 5º, do art. 1.029, do NCPC traz expressamente a regra de competência para


apreciação do requerimento de atribuição de efeito suspensivo aos recursos
excepcionais, sendo que: (i) caso o recurso não tenha sido distribuído, a competência
para apreciação caberá ao tribunal superior respectivo (STF ou STJ), que elegerá um

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julgador para a apreciação, tornando-o prevento para julgamento do recurso; ou (ii) se já
distribuído, caberá ao relator designado.

Art. 1.029. O recurso extraordinário e o recurso especial, nos casos previstos


na Constituição Federal, serão interpostos perante o presidente ou o vice-
presidente do tribunal recorrido, em petições distintas que conterão:
I - a exposição do fato e do direito;
II - a demonstração do cabimento do recurso interposto;
III - as razões do pedido de reforma ou de invalidação da decisão recorrida.
§ 1º Quando o recurso fundar-se em dissídio jurisprudencial, o recorrente fará
a prova da divergência com a certidão, cópia ou citação do repositório de
jurisprudência, oficial ou credenciado, inclusive em mídia eletrônica, em que
houver sido publicado o acórdão divergente, ou ainda com a reprodução de
julgado disponível na rede mundial de computadores, com indicação da
respectiva fonte, devendo-se, em qualquer caso, mencionar as circunstâncias
que identifiquem ou assemelhem os casos confrontados.
§ 2º (Revogado).
§ 3º O Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça
poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar
sua correção, desde que não o repute grave.
§ 4º Quando, por ocasião do processamento do incidente de resolução de
demandas repetitivas, o presidente do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça receber requerimento de suspensão de processos
em que se discuta questão federal constitucional ou infraconstitucional,
poderá, considerando razões de segurança jurídica ou de excepcional
interesse social, estender a suspensão a todo o território nacional, até ulterior
decisão do recurso extraordinário ou do recurso especial a ser interposto.
§ 5º O pedido de concessão de efeito suspensivo a recurso extraordinário
ou a recurso especial poderá ser formulado por requerimento dirigido:
I – ao tribunal superior respectivo, no período compreendido entre a
publicação da decisão de admissão do recurso e sua distribuição, ficando
o relator designado para seu exame prevento para julgá-lo;
II - ao relator, se já distribuído o recurso;
III – ao presidente ou ao vice-presidente do tribunal recorrido, no
período compreendido entre a interposição do recurso e a publicação da
decisão de admissão do recurso, assim como no caso de o recurso ter sido
sobrestado, nos termos do art. 1.037.

FUNGIBILIDADE ENTRE OS RECURSOS EXCEPCIONAIS: a denominada fungibilidade


entre os recursos excepcionais significa dizer que um recurso especial poderá ser
recebido como recurso extraordinário e vice-versa, acabando com um grande problema
prático no qual, de um lado, o STF inadmitia recursos extraordinários por considerar
que as violações ali tratadas seriam reflexas à Constituição (STF, Súmula 636); e, de
outro lado, o STJ inadmitia recursos especiais que veiculassem a mesma matéria, sob o
fundamento de que a matéria seria constitucional.

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STF: Súmula 636: “Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao
princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação
pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida”.

Dessa maneira, o jurisdicionado vivia uma situação de total incongruência: interpunha


recursos especial e extraordinário e não tinha a questão analisada nem pelo STF, nem
pelo STJ, o que simplesmente é inconcebível.

A regra da fungibilidade entre os recursos excepcionais está prevista nos artigos 1.032
e 1.033, do NCPC.

Art. 1.032. Se o relator, no Superior Tribunal de Justiça, entender que o


recurso especial versa sobre questão constitucional, deverá conceder prazo
de 15 (quinze) dias para que o recorrente demonstre a existência de
repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional.
Parágrafo único. Cumprida a diligência de que trata o caput, o relator
remeterá o recurso ao Supremo Tribunal Federal, que, em juízo de
admissibilidade, poderá devolvê-lo ao Superior Tribunal de Justiça.

Art. 1.033. Se o Supremo Tribunal Federal considerar como reflexa a ofensa


à Constituição afirmada no recurso extraordinário, por pressupor a revisão da
interpretação de lei federal ou de tratado, remetê-lo-á ao Superior Tribunal
de Justiça para julgamento como recurso especial.

Em suma, o que a nova legislação diz é que se um recurso extraordinário tiver a


possibilidade de ser inadmitido sob o argumento de que a matéria seria
infraconstitucional, o Supremo Tribunal Federal mandará o recurso extraordinário ao
Superior Tribunal de Justiça para julgá-lo como recurso especial (art. 1.033).

E a mesma regra se aplicará nos casos em que o Superior Tribunal de Justiça cogitar que
a matéria tratada no recurso especial é constitucional, devendo intimar o recorrente para
que apresente preliminar de repercussão geral e se manifeste sobre a questão
constitucional e, após isso, remeter para julgamento pelo Supremo Tribunal Federal
(1.032). O STF poderá, em juízo de admissibilidade, devolver o recurso para
julgamento pelo STJ que, nessa hipótese, não terá alternativa senão julgar o recurso (art.
1.033).

Todavia, o Professor ressalta que essa fungibilidade entre os recursos excepcionais não
resolve os problemas advindos da dupla interposição, isto é, de o recorrente interpor

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recurso especial (contra violação de lei federal) e recurso extraordinário (impugnando
violação de norma constitucional) em face do mesmo acórdão.

Desse modo, haverá situações que a solução trazida pelo Novo Código não resolverá,
tais como: (i) hipótese em que o Superior Tribunal de Justiça julgar o recurso especial e
o Supremo não julgar o recurso extraordinário por entender que ele restou prejudicado;
e (ii) hipótese de o Superior Tribunal de Justiça não conhecer o recurso especial e o STF
não julgar o recurso extraordinário, sob a justificativa de que o acórdão recorrido foi
mantido pelo fundamento infraconstitucional e não haveria motivos para a decisão sobre
a matéria constitucional.

Essas posições adotadas pelos tribunais superiores nem sempre estão corretas, na
medida em que existem situações nas quais os fundamentos impugnados são
independentes entre si, razão pela qual não haveria que se falar em recursos
prejudicados. O Professor adverte que esses problemas só seriam possíveis de serem
ajustados por via da jurisprudência, não cabendo à legislação cuidar dessas situações.

Outro problema da dupla interposição reside na dificuldade de comprovação da


interposição de dois recursos que muitas vezes se exige para o recorrente demonstrar
que não houve o trânsito em julgado da questão constitucional ou infraconstitucional
que seria capaz de manter o acórdão recorrido. Essa situação vem sendo mitigada com a
crescente adoção do processo eletrônico pelos tribunais, de modo a facilitar a
comprovação de recorribilidade simultânea em face do mesmo acórdão.

De outro lado, o legislador infraconstitucional se preocupou em deixar claro que o


recorrente deverá especificar exatamente os fundamentos que demonstram a
necessidade de reforma da decisão recorrida, não podendo simplesmente reproduzir as
razões de apelação.

PREPARO DOS RECURSOS EXCEPCIONAIS: o preparo consiste no recolhimento de


determinado valor para recorrer. Sobre esse tema, o legislador se preocupou em dar a
oportunidade de sanar o vício em casos de insuficiência e até mesmo de falta de preparo
(art. 1.007, §§ 2º e 4º, NCPC).

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará,


quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive
porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.
§ 1º São dispensados de preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, os
recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelo Distrito

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Federal, pelos Estados, pelos Municípios, e respectivas autarquias, e pelos
que gozam de isenção legal.
§ 2o A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de
retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu
advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias.
§ 3º É dispensado o recolhimento do porte de remessa e de retorno no
processo em autos eletrônicos.
§ 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso,
o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será
intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em
dobro, sob pena de deserção.
§ 5º É vedada a complementação se houver insuficiência parcial do preparo,
inclusive porte de remessa e de retorno, no recolhimento realizado na forma
do § 4º.
§ 6º Provando o recorrente justo impedimento, o relator relevará a pena de
deserção, por decisão irrecorrível, fixando-lhe prazo de 5 (cinco) dias para
efetuar o preparo.
§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a
aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida
quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no
prazo de 5 (cinco) dias.

Note-se que, no art. 1.007, é possível identificar que o legislador se preocupou em dar
maior oportunidade ao recorrente de sanar meros vícios formais eventualmente
constantes nos recursos excepcionais, em consonância com a primazia do julgamento do
mérito (ex.: possibilidade de correção de guia de custas equivocadamente preenchida –
§ 7º).

Merece destaque, também, a regra do § 3º, do art. 1.007, no sentido de dispensar o


recolhimento de porte de remessa e retorno nos casos de autos que tramitam
eletronicamente, pela simples razão de não se justificar essas despesas diante do envio
eletrônico das informações.

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