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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO

“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

INOVAÇÃO EM MICRO E PEQUENAS


EMPRESAS DE ALIMENTOS E
BEBIDAS: APLICAÇÃO DO RADAR DA
INOVAÇÃO

Claudio Henrique Oliveira


claudio.quintella@gmail.com
Francisco José de Castro Moura Duarte
fjcmduarte@gmail.com

O presente artigo tem como objetivo analisar o resultado do projeto


Agentes Locais de Inovação (ALI) para o segmento de alimentos e
bebidas na zona norte do Rio de Janeiro no período de 2016 até 2017.
A metodologia utilizada para avaliar a inovação foi desenvolvida pelo
SEBRAE, levando em consideração 13 dimensões da inovação. A
revisão da literatura levará em consideração a caracterização de
Micro e Pequenas Empresas (MPEs), a inovação em MPEs e o
segmento de alimentos e bebidas. No resultado da pesquisa foi
observado que o segmento estudado se mostrou pouco inovador e os
radares de inovação não tiveram grandes variações após as ações de
melhoria serem indicadas para as empresas.

Palavras-chave: Inovação, MPEs, Alimentos e Bebidas, Radar da


inovação
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1. Introdução
As Micro e Pequenas e Empresas (MPEs) constituem uma parcela significativa da economia
brasileira, sendo responsáveis por boa parte da geração de empregos. Segundo dados do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), em 2011 as MPEs
representavam 44% dos empregos formais em serviços e aproximadamente 70% dos
empregos gerados no comércio. Além disso, podem possuir características que contribuem
significativamente para o desenvolvimento econômico de uma região, como a capacidade de
inovar (JULIEN, 2010). Faltam estudos no sentido de entender melhor quais são essas
características que as tornam inovadoras e como podem ser desenvolvidas. (CUNHA NETO,
2016)

As MPEs não podem ser consideradas grandes empresas em escala menor. (CURRAN,
BLACKBURN, 2011; JULIEN, 1999) Logo, métodos desenvolvidos para empresas que
possuem departamentos de P&D e mão de obra qualificada podem não se aplicar às
necessidades das pequenas empresas. Outro problema está em caracterizar o que é uma MPE.
Normalmente é utilizado o número de funcionários ou faturamento como parâmetro, mas
claramente essas medidas podem ser imprecisas. Essas medidas são dependentes de cada
segmento da economia, cuja delimitação também pode ser muito ampla. (CURRAN,
BLACKBURN, 2001)

Cunha Neto (2016) argumenta que os trabalhos realizados sobre o tema de inovação em
MPEs apresentam dificuldade de generalização devido ao foco estreito em setores de base
tecnológica. Os estudos da inovação nesse tema são realizados em economias desenvolvidas,
por isso pode haver uma limitação significativa na sua aplicação em países como o Brasil.
(CUNHA NETO, 2016)

No Brasil, o SEBRAE possui diversos projetos a fim de desenvolver MPEs. Entre eles, existe
o programa Agentes Locais de Inovação (ALI), que tem como objetivo disseminar a cultura
de inovação nas MPEs. Nele, os agentes fazem visitas às empresas para determinar seu grau

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de inovação, indicam ações de melhoria e depois de algum tempo fazem outra medida para
determinar a mudança desse grau de inovação. (SEBRAE, 2016)

O objetivo do artigo é entender que mudanças nas dimensões da inovação foram registradas
para empresas do segmento de alimentos e bebidas no programa ALI do Rio de Janeiro.

Inicialmente será feita uma discussão com base na literatura sobre como as MPEs são
caracterizadas atualmente. Em seguida, serão apresentados os resultados obtidos pelos
Agentes Locais de Inovação (ALIs) no programa ALI do SEBRAE em MPEs do segmento de
alimentos e bebidas na cidade do Rio de Janeiro. Finalmente, será discutido o resultado dos
radares da inovação determinados pelos ALIs.

2. Caracterização de MPEs
Conforme Curran e Blackburn (2001) argumentam, pode parecer simples estudar as pequenas
empresas, já que por definição possuem relativamente poucas pessoas e é improvável que
tenham uma estrutura organizacional complexa ou negociações muito elaboradas com o
ambiente externo. Porém, um pequeno número de pessoas engajadas num esforço comum
pode criar interações muito complexas e sutis. Além disso, as MPEs em geral não possuem
uma estrutura clara nem procedimentos de registro, o que torna mais difícil realizar medidas e
testar proposições.

Normalmente pequenas empresas são tratadas como específicas e definidas pela falta de
alguma coisa. Esse tipo de definição contribui pouco para o entendimento das suas reais
características. Julien e Torrès (2005) argumentam contra a especificidade sugerindo uma
forma fuzzy para caracterizar as MPEs. Segundo eles, a classificação de pequenas empresas é
heterogênea demais para que sejam inferidas características específicas para todo esse grupo.
Logo, especificidades das MPEs podem não ser válidas dentro de determinadas
circunstâncias.

Curran e Blackburn (2001) afirmam que para determinar características gerais para pequenas
empresas deve ser considerado seu ambiente econômico, social, cultural, geográfico e
político. Ao contrário das grandes empresas, as pequenas normalmente têm menos poder para,

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individualmente, influenciar seu ambiente externo. Elas seriam, na realidade, mais próximas
do modelo dos economistas clássicos, onde empresas são ditadas completamente pelo
mercado.

Uma das principais diferenças entre as pequenas e grandes empresas é a quantidade de


recursos disponível para investimentos. De maneira geral, as grandes empresas possuem mais
recursos para investimento em setores dedicados à pesquisa. Para pequenas empresas, é muito
mais difícil investir em marketing, P&D e exportação, o que pode dificultar sua capacidade
para inovar. (SILVA et. al., 2003) Segundo Garsombke (1989), na maior parte dos casos, a
incapacidade de usar novas tecnologias pode ser compensada pela criação de novas técnicas
de gestão, como maneiras originais de administrar recursos humanos, obtendo melhores
performances.

Para Julien, o conceito de pequenas empresas é caracterizado por: gestão centralizada; pouca
qualificação da mão-de-obra; estratégia intuitiva e de curto prazo; sistemas de informação
internos e externos simples e informais; e atuam num mercado local. Devido a essas
características, existem determinados mercados que são mais adequados para a atuação de
pequenas empresas do que as grandes. Como possuem mais flexibilidade, as pequenas
empresas possuem uma capacidade muito maior de ocupar interstícios na economia, ou seja,
nichos mais específicos onde a produção em escala não é favorável. Rothwell (1989, apud
Maia, 2012) também afirma que a ausência de burocracia, a rapidez das decisões e a maior
propensão ao risco constituem vantagens para a geração de inovações em pequenas empresas.

Torrès (2004) utiliza os conceitos de Julien para destacar quatro tipos de proximidade nas
MPES: hierárquica; funcional; temporal; e no sistema de informação.

Devido à sua gestão tipicamente centralizada, os níveis hierárquicos são mais próximos,
algumas vezes completamente centrados no dono da empresa. Essa centralização termina por
caracterizar uma flexibilidade hierárquica.

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Por possuírem baixa especialização da mão-de-obra, possuem proximidade entre as funções, o


que permite versatilidade na organização das tarefas. Isso configura uma flexibilidade
funcional.

Como normalmente sua estratégia é intuitiva e baseada em reação, ao invés de antecipação,


também possuem uma capacidade de adaptar sua estratégia mais facilmente, já que o dono de
uma pequena empresa pode contatar todos os funcionários essenciais rapidamente para uma
mudança de direção. Torrès classifica essa capacidade como flexibilidade temporal.

Seus sistemas de informação normalmente são simples e pouco estruturados, vindo


normalmente de fontes informais e verbais. Para Torrès, isso é classificado como uma
flexibilidade no sistema de informação.

Schumpeter (1942) também enfatizou que o tamanho da firma pode se tornar um entrave para
atividade inovadora, sendo que, para ele, a burocracia poderia até inibir essa atividade.
Portanto, mesmo que grandes empresas possuam mais facilidade para obter capital de risco,
além do capital próprio, pequenas empresas possuem mais agilidade.

Em termos de pesquisa acadêmica, como definir o que é uma pequena empresa? Como
determinar uma amostra que represente toda sua amplitude? Normalmente os autores levam
em consideração variáveis facilmente quantificáveis e operacionais, como o faturamento ou a
quantidade de funcionários.

Para Curran e Blackburn (2001), embora definições quantitativas para definir uma pequena
empresa normalmente sejam vistas como objetivas e adequadas para manipulação estatística,
tais medidas também podem apresentar algumas desvantagens. O problema mais óbvio é que
essas medidas são dependentes do setor. Um exemplo é comparar uma “pequena” refinaria de
petróleo, que pode empregar algumas centenas de pessoas, com uma pequena empresa
familiar, que pode possuir três funcionários além do dono, e ser considerada pequena.
Considerando o caso em que a pesquisa é conduzida dentro de um único setor, esse problema
é menos sério, já que se trata de uma amostra menos heterogênea. Curran e Blackburn
também argumentam que utilizar a receita como parâmetro possui os mesmos problemas que

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o número de funcionários, só que ainda piores. Além disso, é mais difícil descobrir qual é a
receita de uma empresa. Empresários podem usar diferentes métodos de contabilidade, o que
pode produzir dados não comparáveis.

Maia (2012) trabalhou a hipótese da heterogeneidade setorial das MPEs brasileiras em relação
à capacidade de inovar, constatando que as características da atividade inovadora nos
empreendimentos de pequeno porte variam entre determinados segmentos. Uma tabela com a
taxa de inovação para os segmentos estudados está disposta no Anexo A.

3. Inovação em MPEs
Para Schumpeter (1982), a inovação pode ocorrer de cinco maneiras:

a) Introdução de um novo produto ou mudança qualitativa em produto existente;

b) Inovação de processo que seja novidade para uma indústria;

c) Abertura de um novo mercado;

d) Desenvolvimento de novas fontes de suprimento de matéria-prima ou outros insumos;

e) Mudanças na organização industrial.

Podemos estudar a inovação em MPEs entendendo como suas características influenciam a


manifestação dessas maneiras de inovar nas atividades da empresa. Como MPEs e grandes
empresas possuem características distintas, a maneira como inovam também deverá ser
distinta.

Para Silveira (2013), a prática de inovar não está necessariamente atrelada a uma grande
descoberta. A inovação, como diferencial competitivo, também pode ser encontrada em
práticas de melhoria de processos e serviços; novas práticas de gestão; na busca por novos
mercados; no fornecimento de produtos e serviços que os clientes valorizem; na solução de
problemas dos clientes; na busca por novos segmentos de clientes; na busca por novas fontes
de renda; no desenvolvimento de novos sistemas de preço; na interação com clientes e
parceiros; na colaboração e no aperfeiçoamento do fluxo de informações na cadeia de

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suprimentos, e também na criação de mecanismos como programas de sugestões, que


incentivem os colaboradores a apresentar ideias.

Oliveira (2007) argumenta que a inovação é um investimento de longo prazo, já que num
primeiro momento, inovação e mudança provavelmente aumentarão os riscos e incertezas,
reduzindo assim a eficiência e produtividade da empresa, mas, caso seja bem sucedida, pode
trazer benefícios e vantagens competitivas no futuro.

Alguns autores dividem a inovação entre radical e incremental. (ROBERTS, 1988) Para
Darcoso e Yu (2000 apud Silveira, 2013), o tipo mais comum nas MPEs é a incremental, que
se desenvolve através da solução de problemas do dia-a-dia. Neste tipo de inovação não se
percebe uma clara intenção de inovar, mas a nítida intenção de resolver um problema.

Como fonte de referência para a interpretação de inovação, a Agência Brasileira de Inovação


utiliza o Manual de Oslo. Por sua vez, o SEBRAE considera que os indicadores
tradicionalmente usados para medir a inovação nas organizações, como “Número de Patentes”
e “Percentual do Faturamento Aplicado em P&D”, apresentam limitações quando aplicados
ao universo das pequenas empresas. (BACHMANN, DESTEFANI, 2008) Portanto, para seus
programas, o SEBRAE desenvolveu uma metodologia que tomou como referência o Radar da
Inovação de Sawhney et. al (2006).

“Much like a map, the innovation radar consists of four key dimensions that serve as
business anchors: (1) the offerings a company creates, (2) the customers it serves,
(3) the processes it employs and (4) the points of presence it uses to take its offerings
to market. Between these four anchors, we embed eight other dimensions of the
business system that can serve as avenues of pursuit. Thus, the innovation radar
contains a total of 12 key dimensions.” (SAWHNEY et. al, 2006, p.77)

Além das 12 dimensões, também é incluída a Ambiência Inovadora, proposta por Bachmann e
Destefani (2008). Nessa metodologia, que será mais explicada posteriormente, as dimensões
do radar recebem notas em uma escala de 1 a 5 baseadas em questionários. Dessa forma,
obtêm-se uma visão geral da inovação em determinada empresa.

4. Segmento de alimentos e bebidas

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A Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (ABIA) divulga estudos


periodicamente que levantam dados acerca desse segmento. Em 2015, a proporção de MPEs
em relação ao total de empresas era de 93.2%. (ABIA, 2016)

Em relação à inovação no segmento, para Almeida (2014), a indústria do segmento de


alimentos e bebidas possui um perfil de inovação com características conservadoras, onde as
inovações são mais incrementais devido à aversão ao risco.

Silva Neto (2012) analisou empresas do segmento de alimentos e bebidas do estado do


Sergipe utilizando o radar da inovação. No seu estudo, encontrou que o grau de inovação
médio era de 1.99, indicando que as empresas desse segmento eram pouco inovadoras. A
dimensão com o valor médio mais elevado (3.84) era a plataforma, o que era explicado por
existirem muitos produtos parecidos com apenas algumas alterações.

De acordo com a tabela do Anexo A, que define a taxa de inovação como o número de
empresas inovadoras dividido pelo total de empresas do segmento, observamos que a taxa de
inovação do segmento de produtos alimentícios é 36,87% e do segmento de bebidas é
28,53%. Considerando uma média ponderada entre os dois segmentos, temos uma taxa de
inovação de 36,33%.

Assim, pode-se observar que existe certo consenso no meio acadêmico que esse segmento tem
características pouco inovadoras, e as inovações que existem são incrementais.

5. Metodologia
A questão da pesquisa foi analisar o resultado do projeto dos ALIs levando em consideração o
que é discutido na literatura sobre micro e pequenas empresas para o segmento de alimentos e
bebidas.

Foi utilizado o método survey, que é caracterizado pelo uso de entrevistas com questões
estruturadas e pré-definidas. (FREITAS et. al, 2000) Neste trabalho, para a obtenção das
argumentações, foram utilizados, além dos dados primários obtidos através dos agentes do
projeto ALI, dados secundários obtidos a partir da literatura sobre inovação e pequenas

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empresas. A pesquisa foi realizada em 142 empresas do segmento de alimentos e bebidas


localizadas na zona norte da cidade do Rio de Janeiro no período de 2016 até 2017.

No Programa ALI, os agentes visitam as empresas e verificam os tópicos definidos na


metodologia por meio de um questionário, a fim de determinar o radar atual de inovação (R0),
que pode ter um valor de 1 até 5 para cada dimensão. Em seguida, formulam um plano de
ações de acordo com o que julgam necessário para a necessidade de cada empresa. Após um
período de tempo o mesmo questionário é aplicado novamente a fim de determinar o novo
radar de inovação (R1). Dessa maneira, é possível determinar a situação da inovação daquela
amostra de empresas, assim como a efetividade das ações indicadas em relação ao aumento da
inovação. O significado de cada dimensão do radar está disposto na tabela 1.

Tabela 1 - Descrição das dimensões do radar da inovação

Dimensão Descrição

Relacionada aos produtos e serviços oferecidos por uma empresa. Inovar


Oferta nessa dimensão requer criar novos produtos ou serviços que tenham valor
para o consumidor.

Plataforma Plataforma é um set de componentes, métodos de montagem ou


tecnologias em comum para um portfólio de produtos ou serviços.
Símbolos, palavras e marcas pelos quais uma empresa comunica uma
Marca promessa para os consumidores. Para inovar nessa dimensão, a empresa
deve alavancar ou estender sua marca de maneiras criativas.
Indivíduos ou organizações que utilizam ou consomem as ofertas de uma
Clientes empresa. Para inovar nessa dimensão a empresa deve explorar novos
segmentos ou novas necessidades de um segmento já explorado.

Soluções Refere-se a uma combinação customizada de produtos, serviços e


informação que resolvem o problema do consumidor.
Tudo o que um consumidor experiencia enquanto interage com a empresa.
Relacionamento Para inovar nessa dimensão a empresa deve repensar sua relação com os
consumidores.
Mecanismo que uma empresa utiliza para recapturar o valor criado. Para
Agregação de
inovar nessa dimensão, a empresa pode descobrir novas fontes de renda ou
valor
expandir sua capacidade de capturar valor das suas interações.
Configurações das atividades que conduzem as operações internas na
empresa. Para inovar nessa dimensão, é necessário redesenhar os processos
Processos
para se tornar mais eficiente, com maior qualidade ou com um tempo de
ciclo mais rápido.

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Organização Maneira como uma empresa se estrutura em relação a sua organização, suas
parcerias e seus empregados.
Sequência de atividades e agentes utilizados pela empresa que transportam
Cadeia de
suas mercadorias, serviços e informações. Para inovar nessa dimensão a
fornecimento
empresa deve mudar a maneira que essa cadeia está organizada.
Canais de distribuição utilizados por uma empresa onde seus produtos ou
serviços podem ser utilizados pelos consumidores. Inovação nessa dimensão
Presença
significa abrir novos pontos de venda ou utilizar os atuais de maneira
diferente.
Meios utilizados pela empresa para ter conexão com seus consumidores.
Rede Inovações nessa dimensão consistem em melhorar a rede de forma a
aumentar o valor das ofertas da empresa.
Ambiência inovadora é uma dimensão para avaliar se o ambiente é propício
Ambiência para a inovação. Inovar nessa dimensão é realizar atividades que vão ao
Inovadora sentido de buscar novas ideias, como a participação em programas de
melhoria como o SEBRAE. (BACHMANN, DESTEFANI, 2008)
Fonte: SAWNHEY et. al (2006), adaptado pelos autores.

O questionário é composto por 42 questões objetivas. A nota para cada dimensão pode variar
entre 1, 3 ou 5. A nota 1 é para quando a empresa não tem ou não faz determinado processo; 3
para quando tem ou faz o processo ocasionalmente; e a variável 5 quando determinado
processo é feito constantemente.

De acordo com a metodologia, as empresas com média geral acima de 4,0 são consideradas
inovadoras sistêmicas, a média entre 3,0 e 4,0 são inovadoras ocasionais e as empresas com
média entre 1,0 a 2,9 são consideradas pouco ou nada inovadoras.

6. Resultados
Na figura 1 estão dispostos os resultados do radar da inovação do segmento de alimentos e
bebidas para o R0 e o R1.

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Figura 1- Radares da Inovação para segmento de alimentos e bebidas

Fonte: Os autores
Tabela 2 - Variações dos radares de inovação

Dimensão R0 R1 Variação
Oferta 2,5 2,5 0,0%
Plataforma 2,5 2,7 8,0%
Marca 2,5 2,5 0,0%
Clientes 1,8 2 11,1%
Soluções 1,9 2,1 10,5%
Relacionamento 2,1 2,2 4,8%
Agregação de Valor 1,5 1,6 6,7%
Processos 1,6 1,6 0,0%
Organização 1,6 1,8 12,5%
Cadeia de fornec. 1,6 1,6 0,0%
Presença 1,4 1,5 7,1%
Rede 1,8 1,8 0,0%
Ambiência Inovadora 1,5 1,7 13,3%
Fonte: Os autores
Em relação às mudanças do R0 para o R1, é possível observar que as dimensões de
Ambiência Inovadora, Organização, Clientes, Soluções e Plataforma tiveram uma variação
maior do que 10%. As dimensões Plataforma, Presença, Agregação de Valor e

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Relacionamento tiveram uma melhoria menor que 10%. Enfim, as dimensões Oferta, Marca,
Processos, Cadeia de Fornecedores e Rede continuaram constantes.

Podemos observar o percentual das ações recomendadas pelos ALIs para essa amostra de
empresas no gráfico a seguir.

Figura 2- Percentual das ações indicadas pelos ALIs

Fonte: Os autores

7. Discussão
Com esses resultados, é possível observar que esse segmento se mostrou pouco inovador, já
que nenhuma das dimensões possui valor acima de 3. As dimensões mais inovadoras são a
Plataforma, Oferta e Marca, o que parece ser condizente com o fato de ser um segmento em
que as empresas costumam estar em contato com o cliente.

Relacionando as ações indicadas com as mudanças nos radares de inovação, podemos ver que
o Plano de Marketing e o Registro de marca, embora representando juntos 16% das ações
recomendadas, não pareceram fazer efeito na dimensão “Marca”, que continuou constante.

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Outro ponto é que a ação Ampliação de mercado, que corresponde a 7% das ações, pode ter
relação com o aumento na dimensão Clientes. As ações focadas na parte de processos de
produção também podem ter uma relação com o aumento na dimensão Plataforma, já que com
os processos organizados, as empresas têm mais capacidade para desenvolver famílias de
produtos.

O resultado dos ALIs para essa amostra de empresas no Rio de Janeiro parece estar de acordo
com o que é esperado para as MPEs do segmento de alimentos e bebidas. De fato, o segmento
se mostrou pouco inovador, não foram observadas grandes inovações, tanto que não houve
grandes variações entre o R0 e R1.

Devemos ter cuidado ao relacionar mudanças no radar diretamente aos planos de ação dos
ALIs. Devido a limitações da pesquisa podemos apenas sugerir causas prováveis. Uma análise
mais precisa teria também um agente de implementação das ações indicadas pelo ALI, o que
atualmente é feito somente pelo empresário.

A inovação é um tema de alta complexidade, e na metodologia, sua medição é extremamente


simplificada a um questionário, o que pode causar uma discrepância em relação ao que
realmente é inovação. Além disso, pode existir uma grande variação nas medidas, de forma
que as diferenças entre o R0 e o R1 não sejam estatisticamente significantes, o que também se
torna uma limitação da pesquisa.

O radar também considera “imitação” como inovação, logo ele não abrange apenas novas
formas de fazer algo para o segmento como um todo, mas para cada empresa. A justificativa
para isso é que imitações podem gerar inovações no futuro, mas não há nenhuma garantia de
que isso ocorrerá de fato. Logo, sua aplicabilidade para determinar o grau de inovação de todo
um segmento fica limitada.

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TORRÈS, Olivier. “The SME Concecpt of Pierre Andre Julien: An Analysis in Terms of Proximity”, Piccola
Impresa/Small Business, n. 2, 2004.

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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

ANEXO

ANEXO A – Taxa de inovação das MPEs brasileiras, segundo cada segmento

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XXXVIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
“A Engenharia de Produção e suas contribuições para o desenvolvimento do Brasil”

Maceió, Alagoas, Brasil, 16 a 19 de outubro de 2018.

Número de empresas Empresas inovadoras Taxa de inovação


Setor
(A) (B) (B)/(A)

Produtos alimentícios 10.488 3.867 36,87%

Bebidas 722 206 28,53%

Fumo 38 7 18,42%

Produtos têxteis 3.098 1.089 35,15%

Artigos do vestuário 13.996 5.151 36,80%

Artefatos de couro 4.545 1.629 35,84%

Produtos de madeira 4.949 1.148 23,20%

Celulose e papel 1.791 603 33,67%

Impressão e reprodução de
2.785 1.312 47,11%
gravações
Derivados do petróleo e
150 84 56,00%
biocombustíveis

Produtos químicos 2.595 1.482 57,11%

Farmoquímicos e
336 206 61,31%
farmacêuticos

Artigos de borracha e plástico 5.772 2.011 34,84%

Produtos de mineirais não


7.425 2.543 34,25%
metálicos

Metalurgia 1.348 505 37,46%

Produtos de metal 9.422 3.643 38,66%

Informática e eletrônicos 1.209 658 54,43%

Máquinas, aparelhos e
1.640 701 42,74%
materiais elétricos

Máquinas e equipamentos 4.990 2.478 49,66%

Veículos automotores 2.205 930 42,18%

Outros equipamentos de
410 124 30,24%
transporte

Móveis 4.763 1.601 33,61%

Produtos diversos 2.405 819 34,05%

Manutenção de máquinas 2.200 580 26,36%

Fonte: Maia (2012, página 51) a partir de tabulação especial do IBGE

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