Você está na página 1de 7

CULTURA E INTERAÇÃO NO ENSINO DE LÍNGUA E cirurgia, o uso do texto literário como recurso do ensino de

LITERATURA INGLESA línguas ganhou uma nova função, não apenas como
pretexto para a aquisição de estruturas gramaticais, mas
Teresinha de Fátima Nogueira (UNIVAP) também como elemento constitutivo de um saber mais
Claudio Bertolli Filho (UNESP) abrangente, conferindo uma perpectiva holística e
interdisciplinar às atividades que foram tidas como
Texto Disponível em: complementares, porém distintas em objetivos educacionais
http://www.filologia.org.br/anais/anais_iicnlf18.html específicos.
O presente texto insere-se nesta nova tendência do
O ensino de língua e literatura inglesa tem sido, de ensino de línguas, buscando apoios em setores que
regra, tratado como duas atividades estanques, sendo que comumente são qualificados como extra-lingüísticos. Nas
a noção da importância do enfoque cultural e a possível  palavras de Izarra (1996:22), "a abordagem  do texto
interação entre leitor e texto concentra-se no estudo da literário deve implicar uma abordagem interdisciplinar onde
literatura, enquanto que o processo ensino-aprendizagem a crítica literária e os estudos culturais devem interagir com
da língua, ao contrário, parece não carecer tanto dos sociologia, história e teoria da comunicação",
aspectos históricos-culturais quanto de uma maior empatia acrescentando-se também a importância da antropologia e,
com o texto trabalhado. Partindo-se do princípio que o mais do que isto, não só para o estudo da literatura, mas
educando, ao ser apresentado ao campo lingüístico, não se também da lingüística.
depara apenas com palavras e sentenças, mas com A opção pela recorrência a um novo paradigma no
significados que só podem ser apreendidos através de um ensino da literatura e da lingüística, segundo os parâmetros
campo de significantes mais amplo, postula-se que, também apresentados, resultou em algumas questões cruciais, que
nesta atividade, é necessária a ocorrência de uma interação se constituem em objetivo desta pesquisa: Quais são as
positiva, na qual os nexos culturais de uma época estratégias que podem ser empregadas pelo docente de
demonstram importância vital na compreensão das palavras língua inglesa, ao trabalhar um texto literário, auxiliando o
e das estruturas discursivas. educando a apropriar-se de um código lingüístico produzido
Neste encaminhamento, fala-se na insuficiência dos no passado e que sofreu sensíveis alterações no decorrer
paradigmas utilizados nas últimas décadas para o ensino de do tempo? No processo de interação leitor/texto, quais são
línguas estrangeiras. Se até a década de 40, os professores os módulos mediadores que favorecem a atividade
recorriam aos textos literários para o ensino de língua, interativa? Com que intensidade a experiência com a
abordando-os apenas como matéria-prima da história e os valores culturais específicos do alunado
compreensão, identificação de estruturas gramaticiais e favorece ou inibe o processo ensino-apredizagem? Para
tradução, sem haver um diálogo mais aprofundado entre além destas questões, como o ensino de língua inglesa
leitor e obra, tal atitude mostrou-se fator limitante no pode contribuir para a constituição de uma postura crítica
processo de interação, ditando limites comprometedores na acerca do próprio indivíduo e sua postura frente à
apropriação da língua (Paro, 1998). No final dos anos 60, pluralidade de expressões culturais do passado e presente?
tanto na Inglaterra quanto nos Estados Unidos, o
deslocamento da valorização do aprendizado da língua O mundo dos universitários observados
como herança cultural e intelectual de uma sociedade para
ferramenta de comunicação imediata e dinâmica, favoreceu Antes de discutir a problemática desta pesquisa, faz-se
uma redefinição que implicou na substituição dos modelos necessário traçar um perfil dos graduandos observados e
vigentes.  As novas necessidades sociais cobraram novos situar o contexto educacional que os rodeia. Estes alunos
posicionamentos docentes que, a partir de então, passaram são segundanistas do curso de Letras de uma Universidade
a recorrer ao uso de materiais que privilegiavam a particular, situada no Vale do Paraíba paulista. O curso tem
linguagem oral e comunicativa, instigando o diálogo e a duração de quatro anos e, seguindo o parecer no 283/62 do
abordagem de temas relativos a situações cotidianas CFE que fixou o currículo mínimo, é composto por
vivenciadas pelos aprendizes como forma de ensino da disciplinas obrigatórias, a saber, Línguas Materna e
língua alvo (Gumperz e Hymes (1972), Wilkins (1976) e Estrangeira Moderna e suas respectivas Literaturas, Língua
Widdowson (1978). Latina, Teoria da Literatura e Lingüística e pelas matérias
A recorrência a este novo modelo, se importante, pedagógicas por se tratar de uma Licenciatura. O curso é
resultou numa carência cultural e literária dos educandos, oferecido apenas no período noturno, pois a clientela
impondo contínuas retificações da prática de ensino. Afinal, constitui-se, em sua quase totalidade, por alunos que
passou-se a questionar o fato de, se a língua constitui-se trabalham durante o dia. O tipo de atividade profissional
em recurso privilegiado de comunicação, também é destes discentes é variável, desde aqueles que já atuam no
estratégia de apropriação de um conhecimento mais setor educacional até os que trabalham no mercado
complexo e que envolve valores culturais, visões de mundo empresarial e comercial. Cada série possui uma média de
e sensibilidades individuais e coletivas. Em conseqüência, a quarenta alunos, sendo que aproximadamente 10%
língua também passou a se revelar como caminho possível ingressa com domínio das quatro habilidades em língua
de entendimento  do Homem e da Sociedade, podendo ser inglesa, do restante 30% é considerado aluno em nível
pensada como dispositivo de ampliação da capacidade de intermediário e 60% não domina o idioma inglês. Em
análise crítica dos mecanismos da existência individual e decorrência desta escassa competência lingüística os
coletiva, tanto no tempo pretérito quanto no presente. Nesta alunos encontram muita dificuldade quando a atividade em
sala de aula é leitura e análise de obras da literatura praticamente todos os estratos da sociedade, utilizando-as
inglesa, criando uma barreira entre leitor e texto, resultando como matéria-prima de suas composições, especialmente
em desinteresse e desânimo por parte do alunado. Tal The Canterbury Tales.
postura não é apenas decorrente da falta de conhecimento Nesta obra, escrita nos anos finais da vida do autor,
lingüístico da língua alvo, mas também de ausência de uma entre 1386 e 1440 e que permaneceu inacabada, Chaucer
prática de discussão de textos litarários em aulas de inglês atingiu o auge da qualidade de sua escrita, alinhando
nas escolas de ensino fundamental e médio (Paro, 1996). personagens e enredos que sintetizam todo um momento
Vários fatores contribuem para manter este fenômeno , mas da história inglesa, marcado menos pela dimensão medieval
no presente estudo, discutir-se-á as questões do dos valores e mais pela problemática estabelecida por um
desconhecimento histórico-cultural dos períodos em que as período de transição do feudalismo para o capitalismo e
obras literárias foram produzidas e da falta de domínio do firmação do "ethos" britânico. A complexidade do tempo
código lingüístico inglês. Em ambos os casos a dificuldade histórico favoreceu a definição de um estilo de escrita,
aumenta quando os textos literários pertencem à época recalcitante em recorrer às alegoriais produzidas pela Idade
medieval e/ou elizabetheana. Média e importadas predominantemente da França,
Para discutir a problemática apresentada nesta também permitindo a apresentação de uma multiplicidade
pesquisa, foram selecionadas duas obras: The Canterbury de tipos sociais e de estratégias de sobrevivência que, em
Tales de Geoffrey Chaucer e As You Like It de Willian conjunto, apresentam-se com um minucioso inventário de
Shakespeare, que foram utilizadas como material de estudo um período histórico (Wright, 1988:XIX).
na aula de Língua Inglesa, integrada com a disciplina A definição de Chaucer como "pai-fundador da poesia
Literatura Inglesa. inglesa" exige, antes de tudo, algumas observações. A
primeira delas refere-se a uma possível imitação por parte
O contexto sócio-histórico da produção literária do autor inglês do Decameron, de Giovanni Boccacio,
composta entre os anos de 1348 e 1353. Se é verdade que
As idéias aqui apresentadas partem do suposto que o Chaucer visitou a Itália, tornando-se amigo de Petrarca,
conhecimento das grandes estruturas da sociedade na qual intelectual que o apresentou à literatura local, também é
é produzida a obra literária constitui-se em estratégia certo que há pouco em comum entre o Trecento italiano e a
fundamental para a compreensão tanto do enredo quanto literatura inglesa do final do século seguinte, ressaltando-se
do vocabulário situado no tempo histórico. A partir disto, que a técnica de relatos conjugados de viajantes ou
pensa-se tal princípio como recurso dinamizador e transfugas sobre episódios vividos ou ouvidos precede ao
fomentador de novas perspectivas do processo de ensino- tempo vivido por Boccaccio. Assim, em relação a esta
aprendizagem, não só referente ao conhecimento da questão, acredita-se mais na existência de similaridades
literatura, mas também de uma língua. Isto porque, se há entre as inserções sociais e os propósitos literários e
muito tornou-se regra pensar a produção literária como políticos dos dois autores do que pura imitação da peça
reflexo de uma conjuntura histórico-social específica, parece italiana pelo escritor inglês (Carpeaux, 1985:227). No
que, com freqüência, os docentes deixam de lado a mesmo sentido, alguns críticos registram que a dimensão
dimensão da língua como um produto histórico, e portanto universalista conferida aos personagens chaucerianos
mutável no tempo, fato que aflora como obstáculo para a deve-se ao propósito de copiar as intenções dos escritores
aprendizagem e contingência desmotivadora do interesse italianos, assim como o experimentalismo com a língua, a
dos discentes pela literatura clássica a partir de textos não pluralidade dos gêneros e a tecitura da The Canterbury
traduzidos para o idioma nacional. Tales em dialeto da média-Inglaterra  e não em latim. Sobre
Esta constatação, definida pelos próprios educandos, estas pontificações, pensa-se mais que o escritor respondia
impõe o enfoque dos autores e do tempo em que teceram às circunstâncias do momento em que vivia do que na
seus textos, colocando em tela, no presente artigo, a hipótese simplista de que Chaucer buscava o êxito literário
inserção social de Chaucer e de Shakespeare e as através da pura imitação de autores estrangeiros (Vizioli,
circunstâncias sócio-culturais que lhes permitiram dedicar- 1992:24).
se à literatura e, a partir disto, voltar-se para temas Outra questão que se apresenta refere-se à variedade
específicos. de estilos literários empregados por Chaucer, fazendo com
O londrino Geoffrey Chaucer veio à luz em data incerta, que cada uma das narrativas dos peregrinos que se dirigiam
provavelmente por volta de 1340. Membro de uma família ao túmulo do Santo Tomás Beckett caracterize-se por uma
burguesa, dedicada ao comércio, reuniu condições de identidade literária peculiar. Mais do que a incapacidade do
estudar Direito, tornando-se soldado nas guerras contra a escritor de ser fiel a um estilo único, acredita-se que a
França e, na seqüência, perambulou por vários países pluralidade de situações - reais ou imaginárias -
europeus, retornando à Inglaterra para assumir inicialmente experimentadas por uma sociedade em transição, assolada
a posição de valete do rei Eduardo III e, logo após, pela Guerra dos Cem Anos e recém-saída da crise sanitária
participar do alto escalão da burocracia britânica. Nesta que cobrou a vida de mais de 2/3 da população inglesa,
trajetória, Chaucer entrou em contato com os mais exigia tal recurso não só como forma de exposição de um
diferentes tipos sociais, de mendigos a nobres e membros real singularmente complexo, mas também como estratégia
da realeza, ouvindo suas estórias e examinando suas de, com a diversidade da escrita, conferir maior dinamismo
estratégias de sobrevivência. Produto desta experiência ao texto, atendendo a gostos diferenciados do público leitor
social diversificada, o escritor reuniu informações sobre os (Vizioli, 1988:XIV).
valores mentais e os compromissos materiais de
Para além destas questões, acredita-se que seja mais divindades greco-romanas, descrevendo-os com simpatia e,
importante entender The Canterbury Tales a partir de seu não raramente, apresentado-os como seres solidários e até
contexto. Nesta rota, o traço fundamental desta obra amigáveis com os mortais. Ao retratar a cultura inglesa,
consiste na operação chauceriana de dar voz aos diferentes marcada por tons da excessividade, do prazer pelo que até
tipos sociais, não só mediante a apresentação do então constituía-se em pecado mortal e também pelo
taverneiro, do sacerdote, do médico, da viúva em série, grotesco, Chaucer  retratava comportamentos que
dentre outros, mas também de toda uma gama de marcavam o tempo que se aproximava, o do Renascimento,
personagens constantes nos contos recitados, descrevendo com as mesmas cores que hoje predominam na
idéias, valores norteadores da existência, estratégias de historiografia voltada para o estudo das mentalidades,
sociabilidade, trajes,  e aspectos físicos. Rompendo com a espelhada sobretudo num dos textos fundamentais de
tradição insular da poesia medieval britânica e também com Mikhail Bakhtin (Bakhtin, 1987).
a rígida ordem social imposta pelos nexos feudais, nem Transcorridos mais de um século após a produção de
assim Chaucer dedicou-se à produção de uma obra Chaucer, a Inglaterra apresentava novas perspectivas
panfletária, orientando sua escrita para o esclarecimento do sociais; o país firmara-se como monarquia absolutista com
novo momento da história inglesa. Henrique VIII e Elizabeth I, iniciando a construção de um
A dimensão realista da obra em pauta, convergiu para império que, graças à concretização da aliança entre Estado
a articulação do retrato plurifacetado do tempo de transição, e burguesia, sob a égide da Reforma Protestante, definia-
tingido por uma ordem indefinida que concomitantemente se, no final do século XVI, como a principal potência
guardava ranços feudais mas que, mesmo assim, já européia, suplantando tanto a França quanto os Reinos
anunciava a gestação do modelo burguês. Talvez devido a Ibéricos e duelando, em posição de superioridade, com os
isto, cada um dos contos recitados pelos peregrinos da comerciantes dos Países Baixos. A era de indecisões em
Cantuária é impregnado de confrontos nutridos por série vivenciada por Chaucer já se mostrava superada,
personagens que ocupam posições sociais distintas, se não dando vez a um período de otimismo que encontrou em
opostas, fazendo lembrar a estratégia narrativa, empregada Shakespeare um dos seus principais porta-vozes.
no século XX, por vários estudiosos que se reportaram ao William Shakespeare nasceu em Strarford, interior da
período de transição do feudalismo para o capitalismo, Inglaterra em 1564, no seio de uma família burguesa
dentre eles Johan Huizinga e Georges Duby. No contexto ameaçada pela decadência econômica. Esta situação fez
da  inexistência de uma ordem social clara e  que pudesse com que o futuro autor teatral buscasse meios de
se fazer reconhecida coletivamente, os personagens sobrevivência como mestre-escola, transferindo-se para
chaucerianos experimentam uma espécie de liminaridade Londres na última década do século renascentista. Esta
que induz ao igualitarismo, viabilizando o confronto sem mudança permitiu que ele encontrasse oportunidade de
reticências e medos: o mendigo defronta-se com o burguês, fazer encenar suas peças nos principais teatros da cidade
o comprador com o vendedor, o analfabeto com o e, devido ao sucesso quase imediato, manter contato íntimo
universitário, o fiel com o sacerdote. com a nobreza palaciana tornando-se uma espécie de
Uma oposição que merece destaque constitui-se nas "intelectual orgânico", isto é, representante, no campo
relações engendradas entre os homens e as mulheres. A literário, dos interesses da elite dirigente.
esta cabe um papel destacado em alguns dos contos, O conteúdo declaradamente simpático à coroa que
tornando-se agente comandante da trama não por seus impregna a produção literária-teatral shakesperiana impôs
padecimentos e santidade, como advogava a literatura que as tramas e os personagens arquitetados sejam
medieval de cunho religioso, mas pela astúcia, capacidade representados, predominantemente, pela problemática da
de engodo e de enriquecimento quase ilícito, pela corte e de seus mais distintos personagens. Isto implicou
capacidade de driblar o mando masculino e impor-se como que, diferentemente dos escritos de Chaucer, os
agente decisório. estamentos mais baixos da sociedade inglesa aflorem, em
No momento de ruptura com os postulados feudais, a Shakespeare, como personagens apagados, na maior parte
sexualidade também se tornou tema abordado, não como das vezes apenas como parte de um cenário montado para
pecado ou apanágio masculino, mas como prática e destacar tramas dominadas pela nobreza, tanto do seu
assunto de exposição pública, inclusive através de tempo quanto do passado britânico e europeu, quanto pela
pronunciamentos articulados pelas mulheres. Vários triunfante burguesia inglesa (Thornley, 1968:49).
personagens femininos buscam declaradamente o prazer, O apego em mostrar as questões que envolviam a nobreza
ora com seus esposos, ora com indivíduos com os quais domina as tramas shakesperianas, anunciando o exercício
não mantinham afetividade mais intensa, ajudando os do poder, tanto nas esferas públicas quanto privadas como
companheiros, quando casadas, a criar armadilhas para tensas e geradoras de padecimentos. Os reis apresentam-
enganar os próprios maridos. se ameaçados, ora por seus súditos mais próximos, ora
No que tange ao aspecto cultural, que não pode ser pela própria consciência. No período em que se teorizava o
analisado como nível desvinculado dos planos econômicos absolutismo político, a questão central não era reformar o
e políticos, tanto o nobre como o burguês e o antigo servo exercício do poder, mas sim como torná-lo mais fluído,
são igualmente marcados por comportamentos que preterindo as questões sociais, como as dificuldades de
convergem para um território nebuloso e indefinido. O vida impostas aos trabalhadores e os motins populares que,
cristão se encanta com os deuses e entidades durante o tempo de vida do autor, quase que anualmente
sobrenaturais execradas pela Igreja Católica, já ocorriam, colocando em risco o funcionamento da city
destemidamente, falando abertamente sobre o Diabo e as londrina.
Filho do seu tempo, o que primou nos textos de questões predominantes no tempo presente. Como marco
Shakespeare foi a preocupação com a esfera privada. A diferenciador, indica-se que Chaucer retratou
intimidade dos nobres, mesmo daqueles que se predominantemente o que hoje pode-se denominar com a
apresentavam decadentes, como em As you like it, "cultura do povo", enquanto que Shakespeare voltou-se
encenada originalmente em 1599, mostrava-se como um para o retrato da vida dos extratos mais privilegiados da
dos veios privilegiados de exposição, certamente sociedade. Esta distinção implica, segundo o próprio
despertando a atenção do público. No contexto dominado alunado investigado, em fator crucial, mesmo que não
pelo individualismo, a dimensão psicológica dos exclusivo, nas formas de recepção e interação das obras
personagens ganhou destaque, no qual desejos e medos indicadas, havendo maior simpatia e empenho discente nas
afinam-se com os princípios da modernidade clássica, tramas expostas por Chaucer porque são mais identificadas
confirmando um modelo literário e teatral destinado a ser e comparadas pelos alunos com os problemas atuais da
reproduzido nos séculos seguintes (Maxwell, 1971:203). sociedade e cultura brasileiras, enquanto que Shakespeare,
A articulação da produção do teatrólogo com a visão de segundo um graduando, "fala dos outros", relegando a
mundo da elite política e econômica fez de Shakespeare experiência e o conhecimento imediato da "gente comum" a
uma espécie de cronista da vida da corte. O caráter um obscuro segundo plano.
protestante e moralista da sociedade inglesa impôs que as
peças praticamente excluíssem vestígios da cultura popular, O campo lingüístico
refletindo-se na concepção da sexualidade como algo
impossível sem o amor, mesmo que este se desse no Apesar das falas do alunado convergirem para a interação
momento da troca do primeiro olhar entre os até então mais positiva em relação aos textos de Chaucer por
estranhos. Ao mesmo tempo, como na política, o enlace encontrar neles maior identificação com as questões
amoroso exigia dos envolvidos o emprego de estratégias de presentes, esta observação não esgota o rol de fatores
guerra, da concentração de poderes, de divagações intervenientes no processo de leitura e recepção dos textos
filosóficas, abrindo possibilidades para a orquestração de utilizados em sala de aula. É necessário frisar também que,
uma espécie de jogo no qual,  invariavelmente, havia  tanto na leitura das obras de Chaucer quanto de
vencedor que não só poderia degladiar-se com a pessoa Shakespeare, os discentes encontraram dificuldades em
amada, mas, solitariamente ou com a cumplicidade do entender e analisar os textos mencionados, pois são
amante, contra o destino e as vicissitudes da vida familiar. A escritos em linguagem literária inglesa de pouco uso
opção pelas questões que atingiam a elite, no entanto, não cotidiano, chegando inclusive, em alguns casos, a manter
inibiu que Shakespeare buscasse - como fizera Chaucer - parcialmente a escrita original, mesmo nas obras publicadas
realizar experiências novas, tanto no campo lingüístico em inglês moderno. Neste sentido, julgamos que a barreira
quanto na recorrência e combinação de gêneros literários lingüística é um fator que gera problemas na interação
distintos, conferindo-lhe uma fluência verbal característica leitor/texto como revelou Paro (1996:30): “Embora enorme,
(Knights, 1960:40). o problema com a língua estrangeira não é, a nosso ver, o
Mesmo que marcada pela tensão, tanto as tragédias maior obstáculo nas aulas de literatura inglesa”. Não
como as comédias shakesperianas convergem para o obstante, a mesma autora ressaltou que uma das maiores
império da ordem. A rebeldia, quando existente, é para barreiras que afeta o entendimento do texto é um
confirmar a ordem moderna, isto é, absolutista e burguesa, conhecimento teórico-prático superficial de estratégias de
regida tanto pelas leis quanto pelo florescimento de uma leitura em língua estrangeira.
nova mentalidade social e, decorrente desta, os padrões de Acredita-se que uma prática pedagógica
uma nova sensibilidade individual e coletiva. Fala-se interdisciplinar, envolvendo os professores de língua e de
portanto de estruturas definidoras da "civilidade" presentes literatura pode proporcionar uma participação mais ativa dos
nos manuais de boas maneiras que colocavam os modos e graduandos. O docente de inglês deve criar situações em
os pensamentos dos integrantes da corte como modelo que os alunos percebam as mudanças lingüísticas ocorridas
comportamental ao qual todos deveriam obedecer, ditando na língua, principalmente quando a obra em análise
os padrões possíveis de sociabilidade que a elite deveria pertence a períodos bem antigos e distantes dos leitores e
seguir, ditando um sistema de valores e um imaginário quando se tem em mãos autores consagrados como
social que definiam o tipo cortesão (Elias, 1990-1993 e Chaucer e Shakespeare.
Burke, 1997). A questão de trabalhar técnicas de leitura e de criar
Neste sentido, mesmo que por caminhos diferentes, mecanismos para que o aluno apreenda o funcionamento
Chaucer e Shakespeare atuaram como escritores que da linguagem literária e poética são fatores que estão
apresentaram as questões vigentes no tempo em que interrelacionados com a apropriação do código lingüístico,
viveram, sendo que seus escritos serviram como páginas de portanto é fundamental que o professor universitário seja
instrução das possibilidades e dos limites concernentes a um mediador entre o que o aluno domina/não domina em
como os homens deveriam viver suas existências, relação à obra que está sendo analisada.
conferindo cores nacionais a uma problemática que, com a Em The Canterbury Tales a problemática do domínio
própria configuração da hegemonia européia, ganharam lingüístico se evidencia ora no título do conto, como por
dimensões universais. Em decorrência, os autores exemplo no The Reeve’s Tale, os alunos tiveram dificuldade
mencionados e suas obras apresentam-se atuais, em entender a palavra “Reeve”, termo antigo para designar
envolvendo os leitores e coagindo-os, quase que sem “an English law officer in former times”(Longman Dictionary
perceber, a traçar paralelos entre as tramas literárias e as of Contemporary English), não sendo comumente
encontrada em dicionários mais modernos, principalmente representam”. Neste sentido, pode-se pedir ao alunado que
os bilingues. Pela própria definição da palavra no dicionário analise os tipos de argumentos utilizados pelos
não se torna fácil para o estudante descobrir que seu personagens para convencer os outros através de uma
significado é feitor. Sabe-se que no período medieval muitas estrutura discursiva e trama histórica bem elaboradas.
palavras foram oriundas do latim e, principalmente do Outro fator que deve ter contribuído de maneira positiva
francês, sendo que várias áreas contribuiram para tal no diálogo do aluno com o texto é a sintaxe chauceriana em
origem, tais como, direito, religião, governo, marinha que predomina o uso da coordenação à subordinação. Além
exército, artes, medicina, etc.. Em alguns casos, muitos disso, as obras literárias no período medieval eram
termos não encontram mais correspondentes ou tornaram- produzidas para serem lidas ou cantadas, ou seja, a escrita
se fósseis lingüísticos.  Em outros casos, o estilo poético constituia-se em um instrumento usado pelos autores para
chauceriano aliado à escolha das palavras utilizadas nos atingir um grande número de pessoas, mas através da
contos constituiram-se em obstáculo para os discentes. De linguagem oral, pois as obras eram representadas num
um lado, tem-se as características da estrutura discursiva palco, geralmente na corte.
poética e de outro, o uso de várias palavras desconhecidas, Mesmo havendo um melhor entendimento neste texto,
citadas pelos graduandos, que tendem a impedir uma os graduandos apontaram o nível lexical como o fator de
relação mais dialógica com o texto, pois não fazem parte do maior impedimento de compreensão textual. Dizer que o
vocabulário dominado pelos alunos, configurando-se em léxico não se configura em aspecto relevante no ensino-
palavras que possuem sentidos diferentes, podendo referir- aprendizagem de língua e literatura inglesa é uma
se tanto a um sentido literal como a um metafórico. Neste concepção um tanto simplista. Não se é favorável a uma
sentido, o docente de língua inglesa deve propiciar o prática isolada e centrada na questão lexical per se, mas
desenvolvimento e apropriação dos níveis lexical e advoga-se que o vocabulário é peça fundamental na
semântico. Uma alternativa consiste no professor pedir aos interação leitor/texto e cabe ao professor desenvolver
alunos que tentem produzir um sentido para as palavras atividades criativas e contextualizadas em relação à
desconhecidas e aliado a estas tentativas exemplificar apropriação e entendimento, do que os discentes
utilizando os termos em outros contextos até chegar ao geralmente definem como “palavras desconhecidas” e que
sentido mais próximo, sem, contudo, perder de vista as causam desânimo e desinteresse no aluno no processo de
características do discurso literário poético. leitura de textos estrangeiros, principalmente os literários.
Os graduandos confidenciaram que em vários momentos Quando se trata da leitura das obras de Shakespeare
desconheciam os termos empregados por Chaucer e tal os graduandos de Letras se vêm diante de uma situação
desconhecimento pode causar uma interferência no multifacetada: a curiosidade de conhecer o mundo poético
processo de leitura dos contos, pois estas palavras não do renomado escritor de língua inglesa, as pré-concepções
fazem parte do vocabulário utilizado pelo aluno no uso em relação ao seu estilo e temas, conhecimento de suas
funcional do inglês. Novamente, o docente de língua deve obras por meio de outras fontes, pois muitas já foram
promover atividades que envolvam o desenvolvimento de filmadas ou representadas em teatro, a falta de domínio do
estratégias de inferência lexical e contextual. código lingüístico inglês e um incipiente manejo da
Julgamos de grande importância, também, o professor linguagem literária.
de inglês mostrar o funcionamento da linguagem poética e Ao se deparar com tal situação, o professor de
como a metáfora vai se constituir em recurso prático- literatura inglesa não consegue evitar que os alunos
discursivo muito comum entre os escritores. recorram às traduções das obras shakespearianas como
Embora inacabada, The Canterbury Tales é constituída uma tentativa de amenizar a problemática e ansiedade
por um prólogo geral, em que Chaucer faz uma breve supracitadas. Para evitar esta estratégia, propõe-se um
caracterização e descrição dos personagens da obra, e trabalho interdisciplinar envolvendo os docentes de
pelos contos propriamente ditos, cujo teor é o relato das literatura e língua inglesa.
histórias produzidas pelos personagens-peregrinos. Diante O professor de inglês deve estimular o interesse dos
destes dois momentos de produção literária, o alunado alunos na leitura de obras literárias, no caso de
procedeu a leitura de maneira diferenciada, havendo uma Shakespeare, verificando se eles já tiveram algum tipo de
maior interação e entendimento na parte dos contos. Tal contato com a obra impressa e em caso negativo, comentar
fato, pode ser decorrente da própria estrutura deste alguns aspectos e características do texto selecionado. Em
discurso, que se constitui na narrativa de uma estória e As You Like It, pode-se contar, suscintamente, a trama da
também da linguagem utilizada pelo autor, que, neste caso, peça, que gira em torno das relações amorosas e da vida
faz ouvir a voz de cada personagem, caracterizando-o como da corte e do campo, traçar um perfil dos personagens,
tal, em todos os aspectos. contrastando os bucólicos e os aristocratas.
Uma característica presente nos contos de uma É fundamental que o professor mostre aos alunos o
maneira geral é a ironia. Chaucer manejou com maestria porquê da escolha do texto, a necessidade da leitura da
esta questão e seu entendimento se efetiva se o docente obra literária na formação do profissional de línguas, em
contextualizar tal produção discursiva e se este fenômeno outras palavras, refletir sobre o processo de
for compreendido nos termos apresentados por conscientização, entendido como atitude para promover a
Maingueneau (1989:77): “... um enunciado irônico faz ouvir compreensão de todos os aspectos envolvidos no ensino-
uma voz diferente da do “locutor”, a voz de um “enunciador” aprendizagem. Como observa Scott (1986:04) "If there is a
que expressa um ponto de vista insustentável. O “locutor” reason for teaching a particular part of course content, then
assume as palavras, mas não o ponto de vista que elas presumably it is also possible and desirable to let learners
know what that reason is: otherwise they will either obey em As you like it, quase tornando-se uma comédia musical.
blindly, learning because the subject matter is in the course O docente de língua deve discutir com os alunos qual é, na
and will later be tested, or else they will not trouble to learn visão deles, o objetivo de utilizar a música na referida peça
the content properly because of lack of appreciation of its e nas peças atuais. Esta estratégia enriquece e estimula o
value". processo de entendimento de um texto literário em língua
Outro recurso que pode ser adotado pelo docente é o estrangeira. No caso da obra shakespeariana a função da
de verificar o conhecimento prévio do alunado acerca de música atendia a propósitos práticos, ora para entreter a
questões relativas ao contexto da obra, no caso da peça platéia enquanto os personagens em cena sussurravam
supracitada, pedir aos alunos que comentem o que sabem alguma coisa, ora para indicar a passagem de um dia para
da vida da corte e do período Elizabetheano. Na discussão, outro, como na cena três do ato cinco. Foi pedido que os
mencionar que os temas adotados em As You Like It são graduandos pesquisassem uma peça teatral da atualidade,
relacionados ao período monárquico da rainha Elizabeth e em que a música fizesse parte de sua estrutura. A
que naquela época causavam na platéia um efeito discussão girou em torno da função da música e o resultado
estimulador para a reflexão dos problemas sociais que os foi muito enriquecedor, pois havia músicas e peças
atingia. Tais temáticas não são aparentemente relevantes diferenciadas.
para o leitor atual, mas se se adota uma postura de ler o A linguagem metafórica constitui-se em um recurso
passado com os olhos do presente, verificar-se-á que lingüístico-discursivo comumente utilizado pelos escritores
muitas questões discutidas pelos antepassados ainda em suas obras literárias. O entendimento desta linguagem
permeiam o cotidiano de nossa sociedade capitalista. requer uma compreensão do contexto social, político,
Compartilhando com Holmes (1982) o entendimento de econômico, cultural e lingüístico  envolvido na produção do
predição como parte de um processo de compreensão texto. Neste sentido, faz-se necessária uma prática
como redução de incerteza, em que o leitor faz uso de pedagógica multidisciplinar, em que as diversas áreas do
informações lingüísticas, de pistas contextuais e de sua conhecimento se inter-relacionem na tentativa de propiciar
própria experiência, julga-se que tal estratégia deve ser uma interação leitor-texto de forma mais significativa para o
desenvolvida na leitura de textos literários. Quando lemos alunado. Adotar este procedimento para a análise de As you
em língua materna adotamos estes mecanismos de like it contribui para uma participação mais dialógica entre
predição de forma mais natural porque há uma liberdade de os sujeitos envolvidos no ensino-aprendizagem de língua e
escolha do material a ser lido. No contexto de sala de aula literatura inglesa. O docente de inglês verifica junto com os
de literatura inglesa no curso de Letras esta escolha, alunos as metáforas usadas por Shakespeare e o(s)
geralmente, fica a critério do professor. Neste sentido, criar possível(is) sentido(s) que suscitariam no período em que
situações em que o alunado possa fazer uso da predição foram produzidas. A partir deste ponto, pedir que os
torna a relação leitor-texto mais motivadora e interativa. Na discentes criem suas próprias expressões metafóricas, mas
peça shakespeariana, o docente pede aos alunos que leiam mantendo o sentido original proposto pelo autor inglês.
cada cena adotando este critério de leitura e que cada um Refletir sobre os diversos momentos de criação e sobre o
seja convidado a mencionar seu entendimento e também as seu próprio processo de produção escrita constitui-se em
dificuldades encontradas em que o recurso preditivo não foi uma estratégia fundamental na construção do
eficiente. Em As You Like It, o obstáculo encontrado pelos conhecimento.
alunos para realizar tal atividade relacionava-se com o Bakhtin (1981) ao analisar as obras literárias de
desconhecimento do vocabulário. Dostoieswsky verificou que várias vozes se faziam
Finalizada esta discussão, o docente de inglês pode presentes nas falas de um mesmo personagem. Entender o
trabalhar mais detalhadamente, mencionando aos alunos os conceito de polifonia e sua implicação na trama lingüístico-
elementos que aparentemente não são considerados tão literária configura-se em um recurso discursivo que deve ser
importantes, mas que se constituem em questões tema para debate em sala de aula. Na peça
essenciais na composição da obra. No caso de As You Like shakespeariana, vários são os momentos em que
It, o personagem Touchstone ( que não é o protagonista) é deparamos com os personagens falando não sob sua
o que se chamaria de bobo da corte, aquele que diverte e perspectiva, mas de outra. Para ilustrar aos alunos, pode-se
serve a realeza. No entanto, sua função na peça ultrapassa utilizar os diálogos de Rosalind nas suas diferentes
este limite, pois através de suas falas surgem comentários situações enunciativas. Quando ela está diante da prima
sobre os outros personagens, usando uma linguagem seu discurso representa sua própria voz; diante do tio,
poética reveladora e irônica. Outra questão relaciona-se incorpora a fala esperada por ele para poder legitimar e
com o travestir de Rosalind para poder fugir da corte para a manter sua presença na corte. Quando se traveste com o
floresta. Tem que ser mencionado que no período intuito de poder fugir para a floresta, assume o papel
elizabetheano os papéis femininos eram representados por masculino e passa a ser chamada de Ganymede. Enquanto
homens. Shakespeare ultrapassa esta questão e o disfarce homem, sua enunciação configura-se como tal nas diversas
funciona não somente como um recurso cômico, como uma situações em que está exposta. Sua própria voz só é ouvida
maneira de mostrar a riqueza e complexidade da pela prima, que também adotou outra identidade, e por
personagem, mas principalmente discutir as convenções Touchstone, que são seus parceiros de fuga.
dos comportamentos sociais femininos e masculinos da É diante do amado Orlando que sua máscara
época. discursiva pode ser contestada: ao usar a voz de
No período elizabetheano era comum o uso de músicas Ganymede para tentar descobrir se ele realmente amava
nas peças teatrais. Tal recurso foi adotado com freqüência Rosalind, o que prevalece é a sua própria fala e sentimento.
Neste sentido, pode-se discutir que embora aparentemente
polifônico, pois fala sob a perspectiva do personagem Referência Bibliográfica
masculino, seus diálogos com Orlando constituem-se em
discursos monofônicos, por que convergem a uma única BAKHTIN, Mikhail (1981). Problemas da Poética de
voz, a da mulher apaixonada. Dostoiewsky. Rio de Janeiro, Editora Forense-Universitária.
.................(1987). A Cultura Popular na Idade Média e no
Considerações Finais: Renascimento. São Paulo, Hucitec.
BURKE, Peter (1997). As Fortunas d'O Cortesão. São
O ensino-aprendizagem de língua e literatura inglesa Paulo, Edunesp.
nos cursos de graduação em Letras pode obter resultados CARPEAUX, Otto Maria (1985). História da Literatura
mais efetivos se houver uma integração entre estas duas Ocidental. 3ª ed., Rio de Janeiro, Alhambra, vol. 2.
disciplinas, sob uma ótica multidisciplinar, em que os CHAUCER, Geoffrey (1988). The Canterbury Tales. Oxford,
aspectos históricos, sociais e culturais sejam incorporados Oxford University Press.
na prática de leitura e análise de textos literários. Se aceita ELIAS, Norbert (1990-1993). O Processo Civilizador. Rio de
esta proposta, o docente deve comprometer-se com o Janeiro, Jorge Zahar, 2 vols.
desenvolvimento em sala de aula de atividades que GUMPERZ, J. J. & HYMES, D. (eds.) (1972). Directions in
promovam a inferência lexical e especificar estratégias de Sociolinguistics: The Ethnography of Communication. New
leitura que favoreçam a contextualização dos textos, tanto York, Holt, Rinehart and Winston.
no que se refere ao momento de produção textual quanto HOLMES, John (1982). “The Importance of Prediction”.
empenhar-se na discussão comparativa entre as questões Working Paper, no 5, abril, PUC-SP.
sociais tratadas no texto estudado e a problemática IZARRA, Laura P. Z.(1996) “Transitando Pelas Fronteiras
contemporânea da sociedade brasileira. A partir disto, da Narrativa”. Contexturas, 3:21-28.
acredita-se que tal postura docente favoreça uma interação KNIGHTS, L.C. (1960). Some Shakespearean Themes and
mais eficiente entre leitor e texto, alertando-se sobre a an Approach to Hamlet. London, Penguin.
necessidade tanto do professor quanto do discente para MAINGUENEAU, Dominique (1989). Novas Tendências em
uma maior atenção sobre o conhecimento e o debate das Análise do Discurso. Campinas, Pontes Editores.
temáticas próprias, não só de saberes de sua área MAXWELL, J.C. (1971). "Shakespeare: the middle plays".
profissional, mas também da História e da Antropologia. In: Ford, Boris (ed.) - The Age of Shakespeare. London,
Neste encaminhamento, avalia-se o compromisso do ensino Penguin.
e da aprendizagem sob duas perspectivas: a primeira, de PARO, Maria Clara B. (1996). “O Ensino de Literatura
âmbito específico, refere-se ao conhecimento e aplicação Estrangeira na Universidade: Uma Experiência
de conteúdos relativos a uma ou mais disciplinas. A Pedagógica”. Contexturas, 3:29-36.
segunda perspectiva afina-se com um saber mais amplo, .................(1998). “De Volta Para o Futuro: A Literatura na
que se relaciona com a construção de uma consciência Sala de Língua”. Claritas, no 4:17-25, São Paulo, Educ.
crítica que, a partir de conteúdos particulares, direciona-se SCOTT, Michael (1986). "Conscientização". Working Paper,
para uma aplicabilidade referente à realidade circundante, no 18, novembro, PUC-SP.
que envolve aluno, professor e a sociedade brasileira como SHAKESPEARE, William (1979). "As You Like It". In: - The
um todo. Complete Works of William Shakespeare. London, Spring
A universidade pesquisada, espelhando a problemática Books.
geral das atividades desempenhadas nos cursos de Letras, THORNLEY, G.C. (1968). An Outline of English Literature.
entende a reestruturação curricular como alternativa para London, Longman.
concretizar a postura aqui sugerida, seguindo as recentes VIZIOLI, Paulo (1988). "Apresentação". In: Chaucer,
tendências teórico-práticas que, aliás encontram-se Geoffrey - Os Contos de Cantuária. São Paulo, T.A.
implicitamente presentes na nova Lei das Diretrizes e Base. Queiroz.
Se esta lei propõe um novo reagrupamento de disciplinas, ------------------- (1992). A Literatura Inglesa Medieval. São
também cobra dos docentes uma posição favorável à Paulo, Nova Alexandria.
transversalidade, a qual mostrar-se-á eficiente, mediante WIDDOWSON, Henry (1978). Teaching Language as
um maior diálogo entre saberes distintos e também através Communication. Oxford, Oxford University Press.
do empenho docente em realizar um trabalho plurifacetado WILKINS, D. A. (1976). Notional Syllabuses. Oxford, Oxford
que envolva os personagens da sala de aula e suas University Press.
condições de vida. WRIGHT, David (1988). "Introduction". In: Chaucer,
Para além destas questões, deve-se buscar o Geoffrey - The Canterbury Tales. London,  Oxford University
desenvolvimento e apropriação de competências e Press.
habilidades que estimulem o pensamento reflexivo, Longman Dictionary of Contemporary English. London,
incluindo uma atitude investigativa que confira continuidade Longman, 3rd edition, 1995.
ao processo de construção do conhecimento. Mais do que  
nunca, a função docente no curso de Letras mostra-se
como um desafio, cabendo a nós buscar soluções para as
questões do ensino, da aprendizagem e – por que não? –
do mundo que nos envolve.

Você também pode gostar