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O lugar da diferença: nuances essencialistas na reafirmação das diferenças de

gênero e sexualidade em publicações de divulgação científica

Juliana Loureiro de Oliveira1

Resumo: Este artigo discute as articulações de diferentes abordagens explicativas sobre supostas
diferenças de gênero e sexualidade em publicações de divulgação científica. A partir de uma análise
qualitativa de textos publicados em quatro edições de uma coleção especial da revista Mente e
Cérebro, foi possível perceber a coexistência de diversos olhares que atribuem diferenças entre
homens e mulheres a fatores distintos, manifestando muitas vezes perspectivas contraditórias ao
acionar noções relacionadas a categorias como “natureza”, “evolução”, “cultura”, “sociedade”,
“traços psíquicos”, entre outras. A partir da análise, é feita uma reflexão sobre a coexistência dessas
distintas abordagens nas revistas e por vezes nos mesmos textos e o que isso revela em termos de um
esforço para explicar as diferenças de gênero com base em concepções fixas e não relacionais. O
artigo se propõe ainda a pensar como abordagens que buscam atribuir determinadas questões a
aspectos culturais e sociais por vezes acabam produzindo “outros” essencialismos, o que é
problematizado a partir da noção de cultura enquanto categoria não essencialista. Destaca-se, assim,
o papel dos meios de divulgação científica enquanto espaços discursivos que muitas vezes
(re)produzem as diferenças de gênero utilizando-se de diferentes perspectivas.
Palavras-chave: Gênero. Sexualidade. Ciência. Divulgação Científica. Discursos.

O presente trabalho apresenta algumas aproximações e reflexões sobre uma série de


conteúdos, publicados em meios de comunicação de ampla circulação, relativos a características e
comportamentos associados a homens e mulheres, especialmente aqueles que se referem a atitudes e
relações afetivas e sexuais. Destaca-se, nesses conteúdos, a utilização de discursos que se situam sob
a égide do conhecimento científico, seja mediante a utilização de falas de cientistas, de trechos ou
artigos completos escritos por pesquisadores ou de assertivas como “Especialistas afirmam...” ou
“Pesquisas científicas mostram...”. Suponho que esses discursos, mais do que constituir o que se
conhece como divulgação científica, são coprodutores daquilo que é considerado verdade científica.
A partir de Jasanoff (2006), parto neste artigo da noção de que a ciência é coproduzida por várias
instâncias da sociedade, passando por diferentes mediações e usos em contextos políticos, culturais,
sociais e econômicos distintos.
Situo esta pesquisa, portanto, nas linhas de estudos de gênero e de estudos sociais da ciência,
tendo como enfoque a coprodução do conhecimento científico por parte de discursos sobre as
diferenças entre homens e mulheres veiculados em determinados meios de comunicação. O objeto
aqui analisado compreende quatro edições da coleção Sexos, publicada pela revista Mente e Cérebro
entre setembro e dezembro de 2008. O intuito deste artigo é compreender de que forma o discursos

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Mestranda do Programa de Antropologia Social e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Informação da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 10 (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2012. ISSN 2179-510X
presentes nessas publicações participam da produção de verdades sobre as diferenças de gênero e
sexualidade a partir de abordagens explicativas distintas – com base tanto em aspectos
físicos/biológicos e psíquicos quanto em produções sociais e culturais –, acionando muitas vezes
formatos distintos de essencialismo.

Gênero enquanto categoria analítica: afastando-se dos essencialismos


Gênero é utilizado aqui como uma categoria de análise, tal como propõe Scott (1995), situada
a partir dos estudos críticos de gênero do final da década de 1980. Essa linha de estudos, segundo
Piscitelli (2008), caracteriza-se pelo questionamento dos pressupostos das primeiras formulações de
gênero e das perspectivas sobre poder que informavam várias linhas de análises feministas até então.
Entre tais pressupostos está a noção dualista de que o sexo estaria situado em oposição ao gênero,
considerando que enquanto o primeiro pertenceria à ordem do “natural”, do biológico, o segundo se
referiria ao construído social e culturalmente. Nessa concepção, o gênero é tido como tudo aquilo que
é inscrito socialmente sobre a suposta matriz biológica do sexo que, portanto, seria imutável e
universal.
Autoras feministas do final da década de 80 criticaram o dualismo sexo/gênero, portanto, por
conter o pressuposto de uma experiência comum a todas as mulheres – o sexo como sendo
significado e vivenciado da mesma forma independentemente do contexto histórico, social e cultural
em que mulheres e homens estão inseridos. Como propõe Nicholson (2000), essa abordagem dualista
obscurecia – e permanece obscurecendo - as formas histórica e culturalmente variadas de
entendimento do corpo, que afetam diretamente o significado da distinção masculino/feminino. Nesse
sentido, é notável o trabalho de Laqueur (2001) ao demonstrar que, até meados do século XVIII,
predominava no campo científico europeu uma noção unissexuada do corpo, que atribuía as
diferenças entre corpos de homens e mulheres a uma questão de grau, uma variação de uma mesma
matriz biológica.
A partir do século XVIII inicia-se, segundo o referido autor, uma busca intensa pela
identificação de diferenças fundamentais nas estruturas corporais e mentais de homens e mulheres.
Houve, a partir de então, a investida de um grande número de especialistas em “descobrir” as
diferenças básicas entre os dois sexos – que supostamente iam desde as estruturas e funções dos
corpos até os traços de comportamento dos indivíduos. De acordo com Laqueur (2001, p. 17),
passou-se a entender que “não só os sexos são diferentes, como são diferentes em todo aspecto
concebível do corpo e da alma, em todo aspecto físico e moral”. Como consequência, as distinções na
vida política, social e cultural de homens e mulheres passaram a ser explicadas com base nesses

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“fatos da natureza”. A biologia do corpo – “estável, não histórico e sexuado” (LAQUEUR, 2001,
p.18) – passou a ser vista como a base da ordem social e, portanto, a “justificativa” dos diferentes
papéis assumidos por homens e mulheres na sociedade.
Trabalhos como o de Rohden (2008) atentam para a maneira como essa busca obsessiva pelas
diferenças biológicas entre homens e mulheres foi sendo readequada a cada momento histórico.
Enquanto no século XVIII as diferenças de gênero eram atribuídas às estruturas corporais,
especialmente à genitália, com o tempo essas diferenças foram sendo deslocadas para as estruturas
ósseas, as gônadas, os hormônios, até chegar, nos dias de hoje, a um nível genético e neurológico.
Rohden (2008) assinala que as mulheres têm sido o foco mais frequente nos discursos atuais que
assinalam a conexão entre cérebro e hormônios e que apresentam as diferenças inatas entre os sexos.
Isso ocorre, segundo a autora, tanto no âmbito científico quanto entre os públicos leigos, o que é
evidenciado pelas falas que assinalam
como a vida das mulheres é ‘indiscutivelmente’ governada pelas transformações hormonais
inerentes aos seus estados cíclicos e instáveis. Fenômenos como a tensão pré-menstrual
(TPM) ou as transformações percebidas com a menopausa têm sido usados como chaves
explicativas para as mais variadas formas de comportamento e têm alimentado uma grande
indústria de tratamento dos ‘problemas femininos’. Além disso, os hormônios estariam na
base das diferenças intelectuais entre homens e mulheres, ‘fato’ contra o qual pouco se
poderia fazer (ROHDEN, 2008, p. 134).

Trabalhos como o de Nicholson (2000), Laqueur (2001) e Rohden (2008) fornecem, portanto,
uma série de críticas às explicações sobre as diferenças de gênero que têm com base supostas
diferenças materiais/biológicas, propondo um novo entendimento do corpo como uma variável.
Nessa “nova” concepção, o pressuposto de que a natureza é algo dado, comum a todas as culturas e
momentos históricos, é afastado para dar lugar a um entendimento de que a própria noção de natureza
varia e, mais do que isso, de que aquilo que entendemos como natureza – e, portanto, como fixo e
imutável – está constantemente sendo modificado. Tal posicionamento, portanto, opõe-se
frontalmente à metafísica materialista ocidental supracitada, predominante desde meados do século
XVIII, que situa no material/biológico as causas das diferenças entre masculino e feminino
(NICHOLSON, 2000; LAQUEUR, 2001).

No entanto, essa explicação das diferenças de papeis e comportamentos a partir das


características físicas está associada à consolidação, em um nível mais profundo, de uma forma de
pensar estritamente baseada em oposições dualistas. Segundo Potts (2002), esse modelo de
pensamento produzido pela metafísica ocidental constitui uma tentativa de gerar um sentido de
unidade e totalidade à realidade, produzindo, para tanto, um pensamento binário com base na noção
de complementaridade. Tal modelo acabou configurando, de acordo com a autora, uma ontologia

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política, ao perpassar as representações científicas e populares sobre gênero e sexualidade fixando
uma série de dualismos hierárquicos como presença/ausência(falta), mente/corpo, cultura/natureza,
masculino/feminino, ativo/passivo, etc. Esses pares de oposição são coproduzidos, no campo da
sexualidade, por discursos populares e científicos – presentes especialmente nas áreas biomédicas –
que situam o sexo como uma relação que se dá essencialmente entre homens e mulheres, ocupantes
de “funções” complementares.
Além dos efeitos evidentes dessa matriz de pensamento dualista nas produções culturais
ocidentais, abordagens como a de Marilyn Strathern (2006), em uma reflexão que justapõe
feminismo e antropologia, criticam o fato de cientistas ocidentais tentarem estender essa metafísica
ocidental a outros povos, buscando explicar fenômenos culturalmente distintos com base nas mesmas
categorias, tidas como fixas e essencialmente opostas. A rigidez de algumas análises feministas, ao
situar as relações de gênero com base na noção cristalizada do patriarcado, pressupondo uma grande
estrutura de opressão e dominação dos homens sobre as mulheres, é um dos pontos centrais da crítica
de Strathern. O que ela e outras autoras que passarão a ser situadas na matriz de pensamento pós-
estruturalista irão sugerir é que se pense os processos e experiências que expressam as relações de
gênero em contextos específicos, a partir das negociações e jogos de relações envolvendo diferentes
atores nesses “microcontextos”. Assim, é possível afastar as noções essencialistas sobre a cultura,
como uma estrutura rígida preestabelecida, para situá-la como um processo em constante
transformação, passível de ser analisado a partir de contextos específicos.

Foucault: a colocação do sexo em discurso


A influência da obra de Foucault sobre as relações entre discurso, poder e saber é facilmente
identificada nos estudos pós-estruturalistas de gênero. O trabalho do filósofo francês acerca da
história da sexualidade tornou-se crucial para pensar as relações entre conhecimento científico e
produção de padrões normativos de sexualidade. Para o autor, o poder sobre os corpos e seus
prazeres não pode ser simplificado como algo negativo, repressivo e censurador, mas compreendido
como algo muito mais complexo, que também produz “mecanismos positivos, produtores de saber,
multiplicadores de discursos, indutores de prazer e geradores de poder” (FOUCAULT, 2011, p. 83).
Foucault (2011) mostra, ao longo de sua análise, como uma série de mecanismos
pedagógicos, médicos, jurídicos, científicos, etc. foram sendo criados nesse período para incitar e
organizar o sexo em áreas do conhecimento distintas: biologia, medicina, psicologia, psiquiatria,
literatura, etc. Criou-se, a partir daí, uma scientia sexualis, que passaria a tentar circunscrever o sexo
a um discurso racional e científico. Estabeleceu-se, portanto, uma busca pela verdade do sexo, ou

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pela “verdade no sexo”, como se, buscando conhecê-lo, dominá-lo, pudéssemos conhecer e dominar
a nós mesmos. Assim, foi construído em torno do sexo e a propósito dele “um imenso aparelho para
produzir a verdade” (FOUCAULT, 2011, p. 64), formando uma complexa rede de discursos que
constituem aquilo que o autor intitula “dispositivo da sexualidade”.
Esse dispositivo é visto em Foucault como um jogo de poder, permeado de disputas e
“apropriações de saber”. Os conhecimentos médicos e científicos constituíram-se, assim, em novas
tecnologias de poder e saber sobre o sexo, configurando espaços de classificação e regulação das
práticas corporais humanas intituladas como “sexuais”. Através da linguagem, esses conhecimentos
passaram a organizar os significados que atribuímos ao sexo e aos corpos, definindo “o que o sexo é,
o que ele deve ser e o que pode ser”, como coloca Weeks (2010, p. 43). Parte desse conhecimento
médico e científico foi o que definiu – junto com outros saberes – o que é o sexo em nossa sociedade,
bem como o que são as práticas sexuais “boas” ou “ruins” e quais são os corpos e mentes “saudáveis”
ou “doentes”, “normais” ou “anormais”.
Suponho, portanto, que a relevância hoje conferida ao sexo para se ter uma vida feliz e
saudável, especialmente por parte dos conhecimentos psicobiomédicos, deve muito a esses construtos
científicos que começaram a ser desenvolvidos a partir do século XVIII. Aproximando-me da
perspectiva pós-estruturalista de Foucault (2008), parto do entendimento de que a ciência é uma
prática discursiva e, portanto, um produto de múltiplas relações de poder. Tais relações produzem
uma infinidade de discursos geradores de “efeitos de verdade”, como os da ciência, que ajudam a
normatizar a sociedade, instituindo maneiras de perceber e valorar o mundo. Nesse entendimento,
não é possível falar em um saber científico “neutro” ou “desinteressado”, uma vez que este sempre
reflete interesses, disputas e negociações de sentido por parte daqueles que o produzem.
Sendo assim, situo este trabalho como um saber localizado, tal como proposto por Haraway
(1995). Segundo esta autora, o conhecimento científico sempre é produzido por sujeitos que olham a
partir de um lugar, sendo ocupantes de uma determinada posição associada às suas trajetórias e
posições sociais, emotivas, profissionais, etc. Assim, Haraway se posiciona contra os “postulados de
conhecimento não localizáveis” que prometem “visão de toda parte e de nenhum lugar” (1995, p. 22-
27). Segundo ela, esses postulados serviram para apagar a posição dos sujeitos dominantes na
produção do conhecimento, o que lhes permitiu inscrever olhares sobre todos os corpos “marcados” –
negros, mulheres, povos “primitivos”, etc. – sem serem vistos, escapando à representação.
Gostaria, portanto, de localizar o presente trabalho como resultado de uma aproximação
pessoal/profissional com os estudos de gênero e estudos sociais da ciência, especialmente da
antropologia da ciência, que me permitiu analisar alguns discursos classificados como “de divulgação

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científica”, relativos especialmente às diferenças de gênero e sexualidade. Tendo como base
reflexões de autores como Foucault (2008; 2011) e Jasanoff (2006) sobre os diversos processos de
produção de conhecimento, entendo esses discursos como sendo coprodutores do conhecimento
científico, uma vez que não simplesmente divulgam um conhecimento produzido estritamente no
âmbito científico, como ajudam a conferir sentido e existência a eles. Assim, afasto-me das noções
que entendem a comunidade científica como algo “apartado” de outros espaços e fenômenos sociais,
para inseri-la em uma complexa rede produtora de discursos rotulados como “científicos”, perpassada
por diversas disputas de poder que envolvem diferentes atores e fenômenos culturais, sociais,
políticos e econômicos.

Coleção Sexos: nuances essencialistas na reafirmação das diferenças


O objeto aqui analisado consiste em quatro edições da coleção Sexos, publicada pela revista
Mente e Cérebro entre setembro e dezembro de 20082. A escolha desse conjunto de publicações
como objeto de análise decorre do fato de ele se propor a abordar o sexo – ou “os sexos”, como
sugere o nome da coleção – de uma perspectiva multidisciplinar, a partir de artigos escritos por
autores considerados “especialistas” em determinados assuntos relativos à sexualidade. A partir da
leitura dos 46 artigos que compõem as quatro edições da revista, portanto, foram selecionados 93
trechos que faziam menção a diferenças de comportamentos, características e papéis tidos masculinos
ou femininos. Esses trechos passaram por uma classificação a partir de alguns códigos
preestabelecidos, com base no método Análise de Conteúdo, e uma análise qualitativa, parcialmente
apresentada no presente artigo.
Em muitos dos trechos analisados apresentam-se referências explícitas ou indiretas a
diferenças de gênero e sexualidade a partir da suposta existência de características, comportamentos e
papéis essencialmente masculinos ou femininos. Percebi a utilização das categorias “homens” e
“mulheres” de uma forma universalista na maioria dos artigos, especialmente aqueles assinados por
cientistas das áreas psicobiomédicas. A noção de homem e mulher empregada em tais conteúdos
revela, no entanto, não apenas um determinismo com base biológica, a partir de supostas diferenças
nas estruturas e fisiologias corporais de homens e mulheres, mas também um essencialismo mais
“fluido”, que não explica claramente da onde essas “diferenças naturais” decorreriam. Um exemplo
dessa abordagem encontra-se no seguinte trecho:
Antes de estar pronta para o sexo, a mulher precisa sentir-se ligada ao parceiro, ser
seduzida por ele. Longe de ser um atalho para o ato sexual, a sedução coloca o sexo no

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Os títulos das publicações que compõem essa coleção são: 1) Invenção da sexualidade moderna (setembro de 2008);
2) Corpos feitos de desejo (outubro de 2008; 3) Uma questão de gênero (novembro de 2008; e 4) Fronteiras da
transgressão (dezembro de 2008).
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contexto do romance. A mulher, diferentemente do homem, precisa enamorar-se antes de
poder chegar lá. [...] Para ela, a jornada é tudo. O finale é unha e carne com o todo, o
orgasmo se mistura com romance, paixão e amor, coisas indissociáveis. Os dois (jornada
e finale) formam uma única e indissolúvel experiência. Não é assim para o homem. Ele é
coagido a tratar o orgasmo como algo separado da jornada; é o ápice, o final dela. [...] O que
é comum entre a maioria das mulheres, se não a todas, é que os sentimentos de confiança e
dedicação devem apossar-se dela antes da excitação propriamente dita, dando início à
jornada sexual que a levará a um estado de quase transcendência (SEXOS, n. 1, p. 32).

Percebo, nesse trecho, que as categorias homem e mulher são empregadas como universais
independentes de variáveis históricas, sociais e culturais, partindo da ideia de que todos os homens e
todas as mulheres – ou, pelo menos, a maioria delas – apresentam diferenças essenciais em relação
aos desejos, necessidades e comportamentos sexuais. Nessa perspectiva, as mulheres são vistas como
mais românticas, como pessoas que valorizam mais o relacionamento afetivo do que o sexual,
enquanto o homem seria exatamente o contrário. Destaco ainda que nesse e em muitos outros artigos
publicados nas revistas, as problemáticas abordadas em torno do sexo restringem-se às experiências
heterossexuais. A predominância dessas experiências no discurso midiático-científico pode ser
compreendida a luz dos estudos de Butler (2010), que utiliza a noção de heteronormatividade para se
referir a uma matriz normativa, amplamente difundida nas sociedades ocidentais, que pressupõe que
todos os sujeitos nascem homens ou mulheres e dirigem seu desejo afetivo-sexual para relações
heterossexuais. Essa centralidade nas experiências heterossexuais fica evidente também no excerto a
seguir:

[...] Parafraseando o neurocientista Gert Golstehe, “durante a relação sexual as zonas


responsáveis pelo processamento do medo, da ansiedade e emoção relaxam. Tudo isso
alcança um pico no orgasmo em que os centros emocionais do cérebro da mulher estão
apagados, produzindo um estado de quase transcendência”. Por isso, quando homem troca
de marchas para disparar em direção à fita de chegada, a mulher é deixada em estado
de plena e compreensível frustração pela brusca e inexplicável interrupção de sua jornada.
Como fazer com que seja diferente: para começar, faça dela a sua jornada. Fazer amor
não é corrida, mas passeio. Além de seduzir a mulher, é preciso ao homem reduzir o
ritmo. Orgasmo à vista tende a colocá-lo em um estado de agitação, de vontade de correr;
controlar essa reação, porém, é a arte de fazer amor. A melhor e mais aprimorada arte
endógena conhecida (SEXOS, n. 1, p. 33).

É interessante notar que o autor parte da premissa de que o homem, em uma relação
heterossexual, ocupa necessariamente a posição de “condutor” do sexo. Essa ideia alinha-se ao a uma
série de discursos do campo da sexologia que Potts (2002) analisa no livro The science/fiction of sex.
A autora neozelandesa assinala como essas produções discursivas produzem perspectivas
essencialistas sobre a sexualidade humana, reificando-a e situando-a a partir de concepções
dualísticas e hierárquicas como duro/mole, penetrador/penetrado, fora/dentro, ativo/passivo,
dominante/submisso, mente/corpo, etc. Segundo ela, a sexualidade produzida pelo campo da
sexologia e pelos manuais de aconselhamento sexual-afeitvo caracteriza-se pela centralidade do pênis

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e do orgasmo, sendo este o único desfecho possível para o sexo entre homens e mulheres. Para Potts
(2002), essa forma de compreender a sexualidade, centrada na penetração pênis-vagina, é
extremamente normativa e acaba por limitar o repertório heterossexual, relegando outras práticas a
uma posição inferior, como práticas “preliminares”. De acordo com a autora, a quase ausência do
clitóris nessas representações, sendo este colocado muito mais como uma “etapa” a ser vencida,
assemelha-se à percepção freudiana de que o prazer clitoridiano seria uma fase imatura da
sexualidade feminina, devendo ser deslocado para o verdadeiro “lugar” da vida erótica da mulher, a
vagina.
A teoria psicanalítica fornece ainda outros entendimentos essencialistas sobre os papeis e
comportamentos desempenhados por homens e mulheres não apenas em relações sexuais, como
também em relacionamentos afetivos e familiares. O trecho a seguir reforça uma suposta “essência”
biológica ou psíquica da mulher que a coloca como um ser mais frágil, calmo, propenso ao cuidado e
voltado para o Outro:
Na menopausa, quando a imagem corporal muda, somente o olhar do companheiro pode
apaziguar a impiedosa condenação do espelho. Isso decorre da fragilidade da identidade
feminina, sempre em reconstituição pelo descontentamento de não ser a única mulher. [...] A
clínica nos ensina que, em algumas crises de casal, a fragilidade narcísica da imagem
corporal feminina não é a única responsável. Há também o real do corpo do parceiro
masculino. Pesquisas sobre androgenia mostram que em um quarto dos casos a diminuição
das relações sexuais deve-se à dificuldade de ereção do parceiro. Ora, se a identidade
feminina não se sustenta senão sob o olhar-palavra do Outro, é possível que as falhas do
parceiro tenham efeito sobre ela [...] (SEXOS, n. 3, p. 79)
A autora faz uma referência explícita a supostas características femininas, não havendo, no
entanto, uma explicação clara para tais características. Suponho, por algumas referências presentes no
texto, que ela se baseie em noções da teoria psicanalítica sobre a identidade feminina. Assim, o
sentido produzido é de que as mulheres detêm uma suposta fragilidade, o que corresponde a uma
noção bastante presente em uma série de outros discursos produzidos socialmente, que situam as
mulheres como seres frágeis e passionais, facilmente influenciáveis. Nesse sentido, percebo um
alinhamento desses discursos produzidos por especialistas com os sentidos que circulam no “senso
comum” sobre a identidade feminina, o que demonstra como esses conhecimentos tidos como
científicos não estão isolados dos contextos sociais e culturais mais amplos, estando, pelo contrário,
em intensa relação com “outros” discursos.
Outra chave explicativa para as diferenças entre homens e mulheres acionada nos discursos
analisados baseia-se na “história evolutiva” e na existência de supostos “traços naturais” de homens
e/ou mulheres, como pode ser percebido no seguinte excerto, extraído de um artigo sobre fetichismo:
Apesar de, ainda hoje, haver poucos dados sobre fetichistas, a maioria dos pesquisadores
supõe que essa preferência ocorre sobretudo em homens. É provável que o motivo para isso
tenha sua origem na história da evolução: enquanto a sexualidade feminina se orienta

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tendencialmente para a relação, os homens são quase sempre excitados por um
estímulo-chave erótico. Qualquer objeto específico pode ter efeito excitante sobre um
fetichista. Sendo assim, o fetichismo poderia ser compreendido como um traço especial da
“natureza masculina” (SEXOS, n. 4, p. 35).
É interessante como essas explicações com base em “traços” naturais são acionados para
buscar apreender as sexualidades consideradas “saudáveis” e “naturais”, em que homens e mulheres
desempenham seus papeis essencialmente diferentes e complementares. Como colocado na primeira
parte do presente artigo, a substancialização das diferenças de gênero a partir de estruturas e
fisiologias corporais decorre do século XVIII, com o desenvolvimento do modelo bissexuado do
corpo. É curioso, portanto, como vêm assinalando autores como Rohden (2008), como essas
explicações são atualizadas e permanecem produzindo “efeitos de verdade” sobre a sexualidade, tal
como propôs Foucault (2008). A “novidade”, no entanto, decorre de uma busca cada vez mais em um
nível micro, através da busca por verdades a partir de moléculas, genes, etc., como mostra o exemplo
a seguir.

Modelos psicanalíticos esclarecedores do fetichismo parecem bastante plausíveis


aplicados a cada caso, mas não podem ser comprovados empiricamente. Além do mais,
as teorias não explicam por que apenas algumas pessoas cedem ao estímulo do fetiche. [...]
será que alguns são mais suscetíveis a estímulos fetichistas que outros? Os psicólogos já
queriam descobrir isso no século passado. Contudo, até agora, ninguém nunca cogitou
seriamente em considerar a existência de uma espécie de “gene do fetichismo”. A
sexualidade humana é complexa demais para que uma única variante genética possa
definir traços comportamentais de modo tão profundo. Certas predisposições, porém,
poderiam se desenvolver de maneira a tomar uma pessoa mais suscetível ao surgimento
de um fetichismo que outras. Possivelmente é congênita a forma como alguém estrutura
suas ligações com os pais ou substitutos. Algumas variantes genéticas poderiam, então,
tomar uma pessoa mais suscetível e outras mais resistentes. Se o fetichismo for mesmo
filogeneticamente determinado, um modelo animal talvez ajude. Em 2006, Michael
Domjan, da Universidade do Texas, em Austin, Estados Unidos, realizou um experimento
com codornas japonesas (Coturnixjaponica). Aos machos foram apresentados bichos de
pelúcia durante a copulação com fêmeas vivas, tomando-se assim um estímulo condicionado.
Curiosamente, só cerca de metade dos animais copulou com o bicho de pelúcia após a
exposição ao estímulo. Conclusão: também entre as codornas japonesas existem
indivíduos mais suscetíveis ao fetiche que outros (SEXOS, n. 4, pp. 36-37).

Neste trecho, o autor curiosamente supõe que possa ser congênita a forma como alguém
“estrutura” suas ligações com os pais ou substitutos, mas não esclarece em que se baseia para fazer
tal suposição. Assim, ele supõe que determinadas variantes genéticas também poderiam fazer com
que algumas pessoas sejam mais suscetíveis e outras mais resistentes ao fetichismo. Chamo a atenção
para o fato de ele recorrer a uma experiência empírica feita com animais para tentar explicar essa
hipótese. Essa comparação entre a sexualidade humana e a animal é recorrente no âmbito científico.
Constantemente são realizadas pesquisas que demonstram, por exemplo, que existem relações
sexuais entre animais do mesmo sexo em várias espécies, o que supostamente “justificaria” a
existência desse comportamento entre os humanos. Parece que essa tentativa de compreender os

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comportamentos humanos em bases genéticas, hormonais ou simplesmente através da observação da
ocorrência de comportamentos similares entre animais, nos “tranquilizaria”, indicando que tais
práticas são “normais” ou “justificáveis”, já que acontecem “até mesmo” na natureza. Considero
curiosa essa necessidade de olhar para outras espécies para reconhecer como legítimas e normais as
práticas e os comportamentos adotados por humanos, como se supostas variáveis biológicas ou
genéticas fossem capazes de fornecer alguma certeza explicativa em relação à diversidade de
comportamentos, práticas e desejos presentes na espécie humana. É interessante notar como essas
análises estão baseadas no dualismo natureza/cultura que supõe a primeira como algo fixo, detentor
de uma “verdade” que poderia ser trapaceada e até mesmo “solapada” pela cultura através, por
exemplo, de comportamentos não verificados em outras espécies – o que contraditoriamente revela
que esta não pode ser “tão” fixa assim.
Essas concepções essencialistas sobre as características e comportamentos sexuais humanos,
no entanto, estiveram presentes não apenas nos artigos que evocavam a existência de traços
genéticos, biológicos ou psíquicos, como vimos acima. Foi possível perceber como mesmo
abordagens que consideravam os aspectos sociais, históricos e culturais como sendo centrais a essas
demarcações de diferenças, acabaram acionando noções essencialistas de cultura e sociedade. Alguns
desses discursos mesclavam olhares e perspectivas por vezes contraditórias, como no trecho a seguir.
Incapaz de formular uma interpretação satisfatória para o que ouço no consultório e na vida,
dou voltas em tomo desse mal-estar. Tento cercar com perguntas aquilo para o que não
encontro resposta. É possível que a relação consciente/inconsciente se modifique à
medida que mudam as normas, os costumes, a superfície dos comportamentos, os
discursos dominantes? A questão remete, sim, à relação entre recalque e repressão. Se
mudam as normas, mudam os ideais e o campo das identificações - e, com eles, parte das
exigências do superego, parte das representações submetidas pelo menos ao recalque
secundário -, mudam também as chamadas soluções de compromisso, os sintomas que tentam
dar conta simultaneamente da interdição e do desejo recalcado... Dito de outra forma: os
“novos tempos” nos trazem novos sujeitos? Novos homens e mulheres colocam outras
questões à observação psicanalítica? (SEXOS, n. 2, p. 41).

Destaco aqui como a autora, proveniente do campo da psicologia, produz uma ideia de que
existem “novos tempos”, produtores de um certo “mal-estar”, demonstrado pelo que ela ouve de seus
pacientes. Esses “novos tempos” diferenciam-se, portanto, de um tempo primeiro, em que as
identificações, as normas, os costumes e inclusive os sujeitos, estavam mais “estabelecidos”,
“definidos”. Assim, partindo da ideia de que existem mudanças no âmbito social, ela
contraditoriamente parece fixar um passado, em que os ideais e o campo de identificações dos
sujeitos estavam estabelecidos. A autora parece projetar o passado como algo fixo, o que acredito
revelar uma suposta crença de que as culturas e as sociedades, pelo menos em alguns momentos, são
fechadas e totalizadas. Acredito que esse entendimento acaba negando os contínuos processos de
mudanças e as negociações e disputas que permeiam os diferentes contextos sociais e culturais. Além
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disso, ao falar desses “novos tempos” de uma forma a não explicá-los, a autora parece considerar a
cultura e a sociedade como um mero cenário, ganhando também um entendimento essencialista, ao
não explicar no que constituem esses “novos tempos” e em que contextos sociais e culturais eles de
fato estão operando.

Considerações finais
A partir das análises parcialmente apresentadas neste artigo, pude perceber a coexistência de
diferenças abordagens empregadas para explicar as diferenças de gênero e sexualidade nas revistas
que compunham o objeto de pesquisa. Enquanto algumas dessas abordagens atribuíam essas
diferenças a aspectos biológicos/físicos, acionando noções próximas a categorias como “evolução” e
“natureza”, outras localizavam as diferenças em supostos “traços” ou vivências psíquicas
supostamente comuns a todos os homens ou a todas as mulheres, apoiando-se principalmente nas
teorias psicanalíticas freudianas. Por outro lado, alguns artigos situavam as diferenças em aspectos
sociais e culturais, evocando, no entanto, algumas noções essencialistas de cultura e sociedade, tidas
como fixas e afastadas de processos de disputas, negociações e mudanças. Assim, acredito que a
análise aqui empreendida apresenta algumas nuances essencialistas que, ao localizar as diferenças em
“lugares” distintos, acabam coproduzindo diferentes determinismos relativos a características,
comportamentos e papeis de gênero.
Considero, portanto, bastante significante essa mescla de olhares e perspectivas sobre as
diferenças de gênero e sexualidade nos conteúdos analisados e destaco o fato de os artigos terem sido
escritos por acadêmicos brasileiros e estrangeiros de áreas distintas, como psicologia, medicina,
pedagogia, etc. Assim, creio ser interessante perceber como esses artefatos situados como de
“divulgação científica” produzem interações entre conhecimentos científicos e de “senso comum”,
sendo possível pensar como se dão esses processos de idas e vindas entre esses diferentes campos de
discursos. Acredito, no entanto, que essas publicações, dirigidas a públicos mais ampliados, revelam-
se como importantes espaços discursivos que não apenas “divulgam” os conhecimentos produzidos
no âmbito científico, como coproduzem tal conhecimento, conferindo novos sentidos a eles.

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pedagogias da sexualidade. 3. ed., Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2010.

THE PLACE OF DIFFERENCE: essencialist nuances in the reaffirmation of gender and


sexuality differences in publications of scientific disclosure

Abstract: This article discusses the joins of different explanatory approaches about supposed
differences of gender and sexuality in publications of scientific disclosure. From a qualitative
analysis of texts published in four editions of a special collection of Mente e Cérebro magazine, it
was possible to realize the coexistence of different looks which attribute differences between men
and women to distinct factors, manifesting often contradictory perspectives to trigger notions related
to categories such as “nature”, “evolution”, “culture”, “society”, “psychic traits”, among others. From
analysis, is performed a reflection about the coexistence of these different approaches in magazines
and sometimes in the same texts and about what it reveals in terms of an effort to explain the gender
differences based on fixed and nonrelational conceptions. The article also proposes to think how
approaches that seek assign certain issues to cultural and social aspects sometimes end up producing
"other" essentialisms. It thus stands out the role of scientific media as discursive spaces that often
(re)produce the gender differences using different perspectives.

Keywords: Gender. Sexuality. Science. Popular science. Discours.

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