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J.M + J.

Introdução

Queridas madres e irmãs, familiares, amigos e benfeitores: com


grande saudade e gratidão em nossos corações, viemos partilhar um
pouquinho com vossas caridades das preciosas vidas de nossas
queridas irmãs: Ir. Maria Gema da Eucaristia e Ir. Paula Joana da
Cruz.

Cada uma delas em tempos diferentes e seguindo o caminho que


Nosso Senhor escolheu para cada uma, foi em meio à nossa
comunidade um testemunho vivo do Amor e da misericórdia do
Senhor.

Desejamos que todos os que lerem estas linhas possam ser


abrasados no fogo do amor de Deus, para que aprendamos a
contemplar a sua presença junto de nós em todos os momentos,
mesmo nos mais simples ou em meio aos sofrimentos.

Pedimos também que rezem pelas almas de nossas irmãs


encomendando-as à Rainha e Formosura do Carmelo para que
possam estar gozando do face a face no Céu e de lá roguem por
todos nós.

Deus lhes pague!

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Irmã Maria Gema da
Eucaristia

Devido aos anos que se passaram desde a sua


Páscoa, e sendo ela uma de nossas irmãs mais
antigas, sabemos muito pouco sobre sua infância e
vida em família; mesmo de seus anos vividos no
Carmelo não temos muitas lembranças, pois são
poucas as irmãs que ainda estão vivas e que
conviveram por mais tempo com ela. Contudo, apesar
de nossa pobreza, não podemos deixar de partilhar
um pouquinho da vida edificante daquela que foi uma
das joias mais caras do nosso Carmelo.

Ir. Maria Gema da Eucaristia, no século Rosina Chagas de


Almeida, nasceu aos 09 de novembro de 1909, em Caxias, no
Maranhão. Foram seus pais o Sr. João Batista Nunes e a Sra. Virgínia
das Chagas Britto de Almeida; deste matrimônio nasceram 12 filhos,
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dentre os quais uma foi nossa querida Irmãzinha. Rosina foi batizada
aos 17 de janeiro de 1910 e crismada em 26 de outubro de 1926.

Mais ou menos aos oito anos ficou órfã de mãe, por isso
viveu a sua infância junto de sua tia. Desde muito pequena Rosina se
mostrava muito caridosa para com os pobres, chegando a guardar
muitas vezes a sua comida para dar àqueles que mais precisavam.
Passados alguns anos após concluir os estudos, desejou fazer-se
religiosa, e ingressou em nosso Carmelo aos 13 de dezembro de
1934.

Desde a sua entrada Nosso Senhor manifestou-lhe sua


admirável providência. Nossa querida Irmã Gema não tinha
condições para arrumar seu enxoval de carmelita. A jovem Lígia,
também aspirante ao Carmelo, que depois, bem mais tarde se
tornou nossa Ir. Lígia soube disso. Como sua família não lhe permitia
entrar, ela aceitou isto como vontade de Deus e cedeu o seu enxoval
para a Ir. Gema. Assim nossa querida irmã pode realizar o seu
grande desejo de se tornar carmelita descalça.

A comunidade do então nascente Carmelo de Santa


Teresinha do Menino Jesus, fundado em 02 de julho de 1932 na
cidade de Mogy das Cruzes- SP, tendo à frente nossa querida Mãe
Fundadora, Madre Maria Raymunda dos Anjos acolheu com muita
alegria a nova postulante que recebeu o nome de Ir. Maria Gema da
Eucaristia.

Terminando o postulantado, recebeu o Santo Hábito de


Nossa Santa Ordem aos 12 de setembro de 1935. Neste dia o
Revmo. Capelão, Pe. Joaquim Rocha celebrou a Santa Missa à qual

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se seguiu a cerimônia de vestição. Estiveram presentes, além dos
familiares de nossa querida Irmã, muitas pessoas amigas e
conhecidas do Carmelo.

Após um ano de noviciado emitiu os Santos Votos por um


triênio no dia 14 de setembro de 1936, nas mãos de nossa Mãe
Fundadora Madre
Maria Raymunda dos Anjos,
diante da comunidade
reunida na sala do
Capítulo do mosteiro.

Passados os três anos,


nossa querida Ir. Gema fez sua
Profissão Solene. Neste
dia, Nossa Mãe dirigiu-lhe
as seguintes palavras: “Foi
a Virgem Maria, Mãe do
Carmo, que te trouxe a
Jesus, e esta Mãe Imaculada
te conservará junto de
Jesus. Que Ela sempre te
abençoe e proteja esta
filha que tanto a ama e conceda-lhe a graça da perseverança na sua
santa vocação”. A Tomada de Véu realizou-se em outro dia, durante
a celebração da Santa Missa, dando assim testemunho diante da
Igreja e dos fieis do compromisso assumido por amor a Deus.

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Nossa Ir. Gema sempre foi muito generosa. Ajudou na
fundação do Carmelo de Santos e em 1960 acompanhou por 4 anos
o Carmelo São José de Três Pontas.

Por vinte anos, nossa querida Irmã combateu um pequeno


ferimento no lado esquerdo da testa, que posteriormente resultou
em câncer.

Os últimos anos foram particularmente dolorosos, mas nossa


querida irmãzinha soube aceitar a vontade de Deus, invocando
frequente e fervorosamente os santos nomes de Jesus e Maria.

Recebeu por várias vezes a Unção dos Enfermos. Apesar de


suas dores serem muito intensas, ela não se queixava... Algumas
vezes soltava leves gemidos. Na fase final dormia durante o dia, mais
às noites, passava-as angustiada, tanto que as demais irmãs
chegavam a ouvir os seus gemidos.

Sua enfermeira foi a então Ir. Mirian do Espírito Santo, que


lhe dispensou muita dedicação, permanecendo sempre junto do seu
leito ou da cadeira de rodas, levando-a ao recreio enquanto foi
possível. Todas as irmãs a cercavam com amor e carinho e gostavam
de ouvir suas palavras cheias de alegria e também suas lembranças
do passado.

Foi do agrado do Esposo vir busca-la às 15h30min do dia 29


de maio de 2008, véspera do Sagrado Coração de Jesus. Grande era
seu amor para como Coração de Jesus, cuja devoção vivia tão
intensamente e que soube
transmitir com entusiasmos às suas
coirmãs e às pessoas no locutório.
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Estava com 98 anos de idade, 6 meses e 20 dias, dos quais 74 anos
foram vividos no Carmelo.

Nossa querida Irmã Gema foi a primeira das irmãs a ser


enterrada em nosso cemitério dentro da clausura.

Suas jaculatórias preferidas eram: Jesus manso e humilde de


coração, fazei o nosso coração semelhante ao vosso! Jesus
misericordioso, eu confio em Vós! Minha Mãe Maria, minha
confiança!
Que ela, interceda por sua comunidade e por toda a Ordem e que
esteja junto de Deus gozando do face a face.

Segue-se o testemunho de algumas de nossas irmãs que


conviveram com a nossa querida Ir. Gema:

“A Ir. Gema foi realmente uma alma eucarística; tinha um


amor louco pela Eucaristia. Passava horas a fio ajoelhada diante do
Sacrário e nem se movimentava. Era sempre a primeira a estar nas
vigílias e ficava até altas horas da noite e sempre ajoelhada. Ela não
se media. Era uma alma de muito jejum, penitência e mortificação.
Foi priora por um triênio, conselheira por vários anos e também
depositária. Ocupou vários outros ofícios entre eles o de chacareira,
fazendo sempre o máximo pelo Carmelo junto dos operários.

Ela queria muito ser humilde. Mas como frequentemente


sentia toda a sua fraqueza, batia com as mãos e dizia “eu hei de ser
humilde. Eu hei de ser humilde!” Quando ela fazia seu retiro
particular, ao voltar era sempre este o ramalhete que ela trazia:

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“Jesus manso e humilde de coração, fazei o nosso coração
semelhante ao vosso!” E isto era todas as vezes que fazia retiro.

Sofreu horrivelmente por causa da sua saúde: tinha os pés


tortos, os dedos também; e quando encontrávamos com ela pelo
claustro, parecia que estava vendo estrelas em pleno dia, de tanta
dor que sentia. Não se queixava; nunca vi a Ir. Gema se queixando.
Vi-a torcendo-se de tanta dor. Entregava-se inteiramente ao
trabalho. Aos oitenta anos bordou uma estola com ponto cruz. Ficou
linda, e assim ajudou a comunidade que precisava ganhar o seu pão
de cada dia.

Apareceu uma ferida na sua testa, com a qual sofreu muito,


pois aumentava dia após dia. Infelizmente ela não aceitava médico,
com isso sua ferida foi se aprofundando. Então mesmo contra sua
vontade chamamos o médico que começou a queimar a sua ferida,
repetindo por várias vezes este procedimento, porém nada
adiantou. Eu o ajudava segurando os aparelhos e via que nossa irmã
sofria horrivelmente. Quando ele saia da enfermaria comigo, ele me
dizia: “ela vai morrer!”.

Foi preciso leva-la para a Santa Casa, o que a princípio ela


não aceitou. Chegando lá os médicos viram que o caso era sério e
não tinha mais o que fazer. Faleceu lá na Santa Casa tendo a seu
lado sua incansável enfermeira, Ir. Mirian.”(Ir. Maria de São José)

“Recordo da Ir. Gema como uma religiosa muito boa, embora


possuísse um temperamento forte. Era muito penitente e fiel aos
seus compromissos na comunidade. Jejuava a pão e água duas vezes
na semana, às quartas e sextas feiras.

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Na oração gostava de sentar-se nos pés... Ali, às vezes dormia
e ficava virando para frente e para trás; então, dizíamos brincando
que ela era de borracha.

Foi por muito tempo depositária; no depósito era um pouco


“mão fechada”. Comprava queijo e guardava; às vezes até mofava...
Quando lhe pedíamos alguma coisa extra, nos concedia somente
após um sermão. Foi também porteira, o que exigia que andasse
muito, apesar de ter muitas dores nos pés, pois tinha os dois pés
deformados e usava por causa disso umas botas próprias que eram
muito pesadas. Uma vez ela se ofereceu para ser sempre do café.
Naqueles tempos, era tudo muito pobre, não tínhamos nem garrafa
térmica; usávamos o bule. Um dia na hora do café foi surpreendida
por um acidente no abafador: após colocar o café no bule, enrolou-o
bem com cobertores próprios para isso e levou-o ao abafador.
Quando foi tirar percebeu que tinha colocado o bule de cabeça para
baixo e lá se foi todo o café.

Ela nos contava que quando era jovem e vivia no século,


gostava muito de carnaval, e não perdia de modo algum o baile. Era
também vaidosa, quando comprava um sapato novo ao entrar na
Igreja não se ajoelhava para não estragar os sapatos. Por causa
disto, quando entrou no Carmelo, todos os anos no carnaval ela
fazia vigília as três noites para reparar esta vaidade; e enquanto foi
possível, foi muito fiel a este seu costume.

Era muito fiel à pobreza e a obediência. Bastava a madre


dizer para ela ceder em tudo.

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Uma coisa engraçada e misteriosa é que antes de morrer de
verdade a Ir. Gema “morreu” por duas vezes: Um dia no recreio da
manhã, a Ir. Gema de repente para de respirar e empalidece como
morta. Enquanto as irmãs se movimentavam para buscar socorro,
do nada ela voltou ao normal. Anos depois enquanto recitávamos
sexta ela levantou a cabeça um pouco para trás e parou de respirar,
ficando pálida e com os lábios roxos como morta. Desta vez, saímos
avisando a comunidade e a Irmã enfermeira telefonou para o
médico comunicando sua morte. Depois de algum tempo, voltou a
si, e vendo as irmãs ao seu redor se assustou e perguntou o que
estava acontecendo... Quando lhe contamos o que havia acontecido
começou a rir e disse que estava bem. Perguntamos se ela tinha
visto alguma coisa, e ela respondeu simplesmente “não vi nada!”

Uma vez amanheceu surda e não sabendo disso foi para o


Ofício Divino. Como não escutava nada dizia em voz alta para a
priora: “Não vai começar o Ofício?” E isso por várias vezes; por fim,
já brava disse: “Mas não vai rezar?” E olhava espantada para o
coro...

Outro fato engraçado da Ir. Gema se deu em um dia de


sábado após rezarmos a Salve: A Ir. Gema não queria de jeito
nenhum apagar a vela e dizia: “não vou apagar porque vou morrer!”
A Irmã que era sua enfermeira, teve de falar firme com ela, dizendo:
“Ir. Gema, com esta braveza vossa caridade não vai morrer agora!”
(Ir. Teresa Margarida)

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“Quando entrei neste Carmelo em 1983, Ir. Gema estava já
com muita idade, mais ainda atuava como conselheira e
depositária, e ajudava também nos ofícios da casa: coro, café,
vestíbulo, etc.

Sua pessoa marcou-me muito em todos os aspectos: vida


fraterna, fidelidade ao carisma teresiano, sua vida de oração,
sobretudo seu grande espírito de sacrifício e penitência; sua
humildade, aquela humildade de que nossa Santa Madre fala: a
verdade. “A humildade é a verdade”. Desta quero falar algo que
muito me edificou: Nas reuniões comunitárias quando devia falar
algo referente à vida fraterna e que deveria ser esclarecido e
corrigido, ela falava com humildade e com toda a verdade e firmeza,
sem medo, pensando na “saúde das almas” como diz nossa santa
Regra. Eu notava que depois surgia bons efeitos; e posso afirma-lo
pois passei por estas exortações da parte de Ir. Maria Gema.

Sua oração era vida; passava horas com Jesus no sacrário:


durante o dia aos domingos e solenidades e nos dias de semana
durante a noite. Na hora da misericórdia fazia um momento de
adoração e rezava a Via Sacra.

Apesar de ter os pés todo deformados devido a artrite,


sempre sentava-se no chão, salvo os atos comunitários.
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Seu amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, como dizia ao falar
com Ele, e à Virgem Mãe do Carmelo era visível e percebia-se em
sua atitude no coro, na Santa Missa e em tudo o que se referia ao
culto divino. Este respeito também percebíamos em seu trato com
os superiores, no caso nossa madre e nosso bispo e ao papa. Pode-
se dizer como se diz de nossa Santa Madre Teresa que ela era
verdadeira filha da Igreja, e pela Igreja destilava sua vida de
penitência. Dormia pouco e alimentava-se pouco- era magérrima-, e
procurava sempre os restos dos alimentos do dia anterior que
colocamos na mesa quando sobra, e que nem sempre é agradável e
saboroso. Fez abstinência do café preto pois gostava muito; daí
tomava chá de hortelã ou leite com cebolas, o que a mortificava
muito e também sua vizinha de mesa.

No coro estava sempre ajoelhada ou sentada no chão.


Muitas vezes eu a via sempre ajoelhada quando fazíamos a
adoração do Santíssimo nas primeiras sextas-feiras do mês como é
costume em nosso Carmelo. Naquele tempo éramos poucas, então
ela supria os horários até que pudéssemos estar, pois a adoração
começava após a Santa Missa, mais ou menos às 8:00h e seguia até
às 15:00h ou 16:00h, dependendo da possibilidade do padre que
viria para dar a benção do Santíssimo Sacramento.

Jesus Eucaristia era seu centro. Quando íamos ao locutório,


em meio às conversas ela sempre perguntava: “Vocês comungam?”
ou: “Vocês visitam o Santíssimo?” E explicava às pessoas que o céu
está onde está Jesus eucarístico... Essas coisas me marcaram muito
como neo-professa.

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A devoção a Jesus Misericordioso entrou em nosso Carmelo
através da Ir. Gema, pois ela tinha amizade com algumas pessoas
que divulgavam essa devoção; no início fazíamos só no dia da festa
da misericórdia o terço da misericórdia e a procissão; eu estava
encarregada de arrumar o altarzinho, os cantos e a procissão e a Ir.
Gema me auxiliava orientando. Com o tempo esta devoção foi
expandindo e temos a Santa Missa participada com benção das
imagens e quadros de Jesus Misericordioso e os demais objetos
religiosos. Também foi entronizado em nossa capela o quadro com a
jaculatória e a mensagem de Jesus a Santa Faustina, e os efeitos
foram grandiosos entre nós: nosso Carmelo é misericordioso, e isto
posso dizer por experiência própria” (Ir. Ana Maria de Jesus)

“Quando entrei para o Carmelo a Ir. Gema já tinha uns 90 anos.


Fazia questão de ajudar as irmãs no que podia. Sua generosidade
era muito grande. Como éramos poucas na época, a irmã varria o
coro e colocava a flanelinha debaixo do andador dela e ai ela ia
andando e passando a flanelinha. Por um tempo deu certo, mais
depois deixávamos mais para que ela se sentisse útil, e a irmã que
era responsável pelo coro voltava sem que ela percebesse e passava
a flanela de novo.

A Irmã Gema me marcou muito, principalmente no coro quando as


irmãs iam rezar. Ela chegava e fazia uma inclinação profunda a Jesus
e logo já se dirigia ao seu lugar. Ao lado da estala dela, no último
lugar, tinha um genuflexório que era dela e imediatamente ela já se
ajoelhava e ali ficava de joelhos até dar o sinal do Ofício, e depois
do Ofício ela continuava o ajoelhada durante boa parte do tempo
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da oração. Isso me chamava muita atenção, e acabou sem querer
me dando várias vezes uma lição em seu testemunho silencioso;
porque eu ainda jovem fazia um pouquinho de faxina e chegava no
coro já acabada. Ficava um pouco de joelhos e depois já queria
sentar. Por várias vezes me aconteceu pelo fato de vê-la em sua
penitência e ascese de ficar envergonhada, muitas vezes eu nem
sentava, pois pensava “ela tem 90 anos e eu ainda estou com19”...
Ela dava “um banho na gente!” Era um exemplo para nós mais
jovens na sua fidelidade, amor a Deus, e também muito penitente.

Eu gostava quando postulante de conversar um pouquinho com ela


e ela contava algumas histórias, por exemplo: Ela dizia que quando
era mais jovenzinha gostava muito de dançar e participar do
carnaval, mais é claro que o carnaval naquela época era bem
diferente do dos nossos tempos. Ela dizia que o sapatinho dela
parecia até que tinha umas rodinhas, pois já começava a se mexer
assim que iniciava a música. Daí ela já olhava para alguém que a
entendia e começavam a dançar... Por conta disso, ela dizia que
queria que sua entrega e sua vida no Carmelo fosse uma reparação
por esse tempo que ela gastou de sua vida e que ela poderia ter
empregado no serviço a Deus.

Ouvi das outras irmãs também que isso sempre voltava na sua
memória como um pedido de perdão a Deus pelo seu passado que
ela considerava ter gasto de uma forma vã. Fazia sempre vigília de
Quinta para Sexta- feira em reparação.

Nesta época o noviciado estava com uma turminha grande e um


pouco barulhenta; nos recreios fazíamos muita bagunça e falávamos
alto. A comunidade sofreu um conflito geracional, pois metade era
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bem idosa e metade jovem. Era difícil equilibrar, e, algumas vezes no
recreio ela perdia a paciência, ficava irritada, pois tinha um
temperamento muito forte, e dizia “Ai meu Deus o Carmelo já não é
mais Carmelo... o Carmelo já foi...” Em algumas outras coisas ela
também chamava nossa atenção, pois não era de acordo com
aquela formação que ela teve; o bonito é que depois ela se
arrependia e vinha pedir perdão e pedia para as irmãs rezarem por
ela pela conversão dela. Ao mesmo tempo que algumas vezes ela
era muito dura na correção era muito autêntica e se tinha que
corrigir alguma coisa falava para a própria pessoa.

Era uma alma que estava sempre lutando consigo mesma,


tanto que a jaculatória que ela mais gostava
era Jesus manso e humilde coração, fazei
o meu coração semelhante ao vosso.

Rezava muito pelos sacerdotes,


amava- os e amava a Igreja.

No final da vida ela sofreu


muito por causa do câncer
de pele na testa que foi se
abrindo. Acompanhei um
pouquinho do seu
sofrimento e dores que eram
sempre oferecidos. Lembro
uma vez em que o médico entrou pra
fazer cauterização e foi muito sofrido para
ela aquele dia, pois parte de sua testa já estava aberta a
ponto de conseguirmos ver por dentro. Ficava sempre
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tampado com curativo mais quando abria estava um
buraco... Neta vez que estou falando estávamos no coro
rezando e escutávamos seus gemidos, percebíamos que não
estava reclamando, mas sofrendo e oferecendo, e nós
também nos unimos a ela oferecendo o seu sofrimento nas
intenções que muitas vezes ela os oferecia. Uma vez lhe
perguntei: “Irmã vossa caridade sofre muito?” Ela respondeu:
“eu ofereço tudo!” “Por quem?” “Pelas almas, pela
conversão dos pecadores e principalmente pela santificação
dos sacerdotes!”

Já no final da vida ficou muito sensível, se tornou um cordeirinho;


era como se toda aquela impulsividade que ela tinha por causa da
cólera transformasse-se em uma sensibilidade. Por isso várias vezes
a encontrávamos chorando após a ação de graças ou em outros
momentos, e quando lhe perguntávamos: “por que vossa caridade
está chorando?” Ela respondia que chorava seus pecados e
continuava chorando. Em outros momentos também respondia que
chorava de gratidão a Deus. Foi sempre uma alma muito edificante;
apesar de sua luta constante contra seu temperamento víamos que
se esforçava muito para santificar-se.

Agora um fato cômico que me lembro da Ir. Gema é que por várias
vezes ela parecia que estava morta e depois voltava... Uma vez no
recreio ela estava com o trabalhinho na mão e de repente
desfaleceu. Chamávamos e ela não respondia, então começamos a
rezar a São Miguel Arcanjo, dali a pouco ela voltou. Então lhe
perguntávamos: “Irmã vossa caridade não morreu?” E ela dava
risada... E nós também. Como isso acontecia várias vezes
brincávamos dizendo “A Ir. Gema não morre!”
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Sempre me recomendava: “Olha quando eu morrer deixa a vela
acessa. Não precisa ficar ninguém lá me velando no coro de noite
não. Vão dormir, só não esquece de deixar a vela acessa!”

Quando as irmãs idosas morriam, ela era muito fiel em passar a


noite toda com a defunta. A maioria das irmãs ia dormir, mais ela
sempre estava lá. Quando entrei, eu também costumava ficar
velando as irmãs a noite toda e ela percebeu isto. Neste período
morreram 6 irmãs em 4 anos. Em um dos velórios ela veio atrás de
mim e perguntou: “vossa caridade vai ficar a noite inteira?” Ao que
lhe respondi: “ Vou sim!” E ela: “a então tá bom!”... Com isto
percebi que ela tinha medo de ficar sozinha lá. Dessa vez acabei
cochilando e dali a pouco ela veio até mim e me sacudiu dizendo:
“vossa caridade está dormindo? acorda!” “A desculpa irmã.” “ Vossa
caridade vai ficar acordada né?’ “ A vou sim !”Na verdade ela
mesma mais dormia que ficava acordada. Só que se eu dormisse ela
vinha me acordar, pois não queria se sentir sozinha. Quando a Ir
Evangelista faleceu, as irmãs não a avisaram, porque como ela já
estava debilitada e ia querer passar a noite toda deixaram para lhe
falar na manhã seguinte. Só que acabaram se esquecendo e ela
levantou-se como de costume e foi para o coro. Chegando lá viu o
cachão, levou um susto , ficou muito brava e disse: “Como ninguém
me avisa uma coisa dessa! Imagina só, saio da cela venho pro coro e
chego aqui a irmã tá aí espichada! Vossas caridades deveriam ter
me avisado!” Depois se acalmou e já começou a rezar o terço pela
alma da irmã.

Como ela era mais velha que todas que faleciam ela falava que São
Pedro havia esquecido-se dela. Então brincávamos que ela havia
perdido o ônibus. As irmãs contavam que desde que ela entrou no
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Carmelo costumava dizer “deste ano não passo”, e no ano seguinte
repetia de novo a mesma coisa e assim durante toda a vida.

Costumava dizer que já não desejava mais nada só o Céu. Embora


fosse muito mortificada e penitente, nos dias de festa se alimentava
bem. Então quando a víamos pegando de tudo na mesa
brincávamos: “Mais Ir. Gema, vossa caridade não disse que agora só
quer o céu?” E ela respondia com simplicidade: “ É! Só quero céu e
mais isto e isto...” e ia pegando as guloseimas.

Aos poucos foi percebendo suas limitações, entretanto algumas


coisas foi bem difícil tirar dela. O genuflexório, por exemplo, lhe
custou bastante, mais foi preciso tirar porque por várias vezes ela
quase caiu ao se ajoelhar. Pouco apouco foi morrendo para a sua
vontade... Quando já não podia caminhar esperava sempre alguma
irmã para que pudesse se apoiar. Eu mesma por várias vezes
acompanhei-a... Só que ela andava rapidinho, até mais rápido do
que a gente, daí brincávamos que nós é que tínhamos que seguir ela
e não ela a gente. Sempre dizia: “quando eu podia eu andava
rápido, agora eu preciso de vocês para me dar o braço, mais tá bom,
segurando assim eu consigo!” Percebíamos que caminhar era para
ela uma penitência muito grande.

Outro fato que me marcou muito na nossa Ir. Gema era sua
fidelidade aos atos comuns. Em um domingo de Ramos, como é
nosso costume sempre oferecíamos o almoço para Jesus. Enquanto
pode ela sempre se esforçou para ajudar a comunidade a preparar o
almoço e acompanhava com grande alegria a procissão. Nos últimos
tempos, quando já estava de cama na
enfermaria não pode acompanhar mais
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a procissão. Então em uma dessas ocasiões, a sua enfermeira Ir.
Mirian disse-lhe que esperasse um pouquinho, pois ela iria para a
procissão e depois voltava para lhe levar o almoço. Após o almoço
eu fui perguntar a Ir. Mirian se a Ir. Gema já havia comido, pois
queria lhe fazer uma visitinha. Então a Ir. Mirian me contou que
quando chegou na enfermaria dizendo que ia buscar o almoço, a Ir.
Gema havia lhe dito que ela não precisava de almoço porque Jesus
já havia alimentado e ela não estava com fome. Então fui lá e lhe
perguntei: “mas como Jesus te alimentou?” Ela respondeu: “ Ele veio
aqui!” Ficou um certo mistério...então lhe perguntei: “e Ele era
muito lindo?” ela disse “ora! Ora! claro que é lindo!” Este seu “ora!
Ora!” soou como se fosse algo além daquilo que ela conseguia
expressar ; depois não falou mais nada, e ficamos naquele
sentimento e compreendemos que, como ela não pode levar o
almoço para Jesus na procissão com as Irmãs, Ele de alguma forma
se fez presente levando a refeição para ela. A Ir. Gema foi muito fiel
até o fim. Até o fim foi como uma vela que se consumiu
inteiramente por amor a Deus. (Nossa Madre, Ir. Maria Elisabeth da
Trindade)

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Irmã Paula Joana da Cruz

Ir. Paula Joana da Cruz, no século Ivanilda Pavoski, nasceu no dia 02


de maio de 1959, no Paraguai. Gostava de dizer que havia nascido
como Jesus, em uma choupana (casa de palha). Foram seus pais:
Francisco Pavoski (que era natural de Santa Catarina) e Clara
Kajewski Pavoski (que era natural do Rio Grande do Sul), que já
tinham um filho, o Wilson.
Logo depois de seu nascimento sua família retornou para Cascavel,
no Paraná, aonde foi recebida pelos seus familiares.
Recebeu o sacramento de Batismo no dia 19
de Julho de 1959, nas mãos do Pe. Germano
Harmig, na Paróquia N. S. Medianeira de
Todas as Graças, sendo seus padrinhos
Albino Kajewski e Julia Kajewski.
Recebeu o sacramento da Crisma no dia
1º de Maio de 1961, sendo sua madrinha
Elzira Fornita.
Sua mãe veio a falecer no parto,
juntamente com seu irmão que estava
para nascer. Ivanilda estava com mais ou
menos dois anos quando ficou órfã de
mãe. Seu pai não sabendo como cuidar,
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Wilson e Ivanilda
resolveu deixá-la aos cuidados de seus padrinhos de batismo, os
seus tios Albino e Júlia e também de seus avós.
Realizou a sua Primeira Comunhão em 12 de Outubro de 1968, na
Paróquia Sagrada Família.
Aos 15 anos entrou para a Congregação das Irmãs Carlistas, em
Cascavel- PR.
Era uma jovem muito bonita, com seus cabelos longos cor de mel
claro, já manifestava seus dons de pintura e sua bela voz já se fazia
ressoar. Tinha um grande desejo de cantar a Ave Maria de Gounot.
No colégio havia uma senhora que tinha uma voz lírica, muito
parecida com a de Ivanilda, e quando esta senhora entoava a Ave
Maria, Ivanilda ficava radiante em escutá-la, e assim desejava muito
participar deste coral, porém nunca houve oportunidade.
Quando Ivanilda chegou à Congregação das Irmãs Carlistas, teve por
companheira de aspirantado durante um ano, a jovem Maria Alves
(a qual no futuro será nossa Ir. Teresa Margarida).
Durante o aspirantado promoveu uma festa surpresa para a Madre
com a ajuda fraterna das aspirantes, comprando assim o bolo e os
refrigerantes. Era algo inovador e diferente para aquele tempo, na
qual não tinham esse costume; mas desta maneira já ia mostrando
sua liderança para certas ações.
Depois de um tempo na Congregação percebeu que lá não era seu
lugar, e assim saiu com a finalidade de procurar um Carmelo para
pedir a entrada. Quando saiu da Congregação, a jovem Maria Alves
também já não estava mais.
A grande surpresa de Maria Alves foi ao chegar ao Carmelo de Santa
Teresinha, reencontrar com a Ivanilda na portaria, e assim descobrir
que ambas alimentavam o mesmo desejo de serem carmelitas,

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porém nunca haviam comentado sobre esse assunto quando
estiveram juntas na Congregação.
Na portaria havia um quarto que era reservado especialmente para
as aspirantes, e assim ambas permaneceram lá durante três meses.
Juntas novamente no mesmo quarto, como no tempo da
Congregação. E ai... já se pode imaginar o que aconteceu.
Lembranças e lembranças do colégio, ou seja, ambas ficavam por
horas conversando. A Ir. Teresa Margarida lembra de uma vez que
ainda como aspirante aprontou com a Ir. Paula; foi assim: havia na
portaria uma caveirinha que quando colocavam uma moeda esta se
levantava, e sabendo que a Ivanilda tinha um verdadeiro pavor, não
pensou duas vezes, em colocar esta embaixo de seu travesseiro. Ao
chegarem ao quarto para dormir, a Maria Alves ficou conversando
com a Ivanilda para ver o momento trágico do susto; e quando este
se deu a Ivanilda ficou bravíssima, mas logo passou a raiva e riram
muito juntas.
Passados os três meses, a Maria Alves precisou retornar para sua
casa no Paraná, marcando sua entrada somente para o mês de
Outubro.
Ivanilda entrou para o Carmelo como
postulante no dia 11 de agosto de 1979,
memória de Santa Clara. Foi recebida
pela Madre Maria José, e teve como
Mestra a Ir. Maria do Carmo, que
atualmente está no Carmelo de Franca-
SP.
Após sua entrada para o Carmelo,
deixou para trás uma prima e grande
amiga chamada Maria Luiza, que tinha
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como apelido Polaquinha. Esta sofreu muito com a separação, e
passando mal foi levada para o hospital e deram-lhe soro glicosado,
não sabendo que ela tinha diabete, e assim veio a falecer.
Após seu falecimento enviaram uma carta a Ivanilda comunicando-
lhe, porém sendo Advento, só recebeu a mesma no Natal. Foi um
grande choque para Ivanilda, mas com a graça de Deus conseguiu
superar.
Recebeu o santo Hábito no dia 02 de Julho de 1980, recebendo o
nome de Ir. Paula Joana da Cruz. Fez sua Primeira Profissão no dia
02 de Julho de 1982 (neste dia
comemorava-se o jubileu de ouro da
fundação de nosso Carmelo).
Após os seus Primeiros Votos, ficou
com sua saúde um pouco debilitada e
assim discerniu que seria melhor ser
Irmã Externa, pois não aguentaria o
ritmo das monjas. Fez assim o pedido
para a então Priora, Me. Marta Maria;
que após ouvir o capítulo consentiu.
Continuou suas renovações dos votos
durante cinco anos.
Fez sua Profissão Perpétua no dia 02 de
Julho de 1988.
D. Geraldo Maria Penido e Ir. Paula em sua
Profissão Perpétua

Escreveu em sua Profissão:

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“Meu Jesus, prostrada a vossos pés humildemente peço que Vos
digneis me receber como esposa vossa, e imprimi em mim o Vosso
olhar, para que nunca me separe de Vós, apesar de minha
indignidade, consagro-me a Vós para sempre. Entrego-Vos também
aqueles que me ajudaram chegar até aqui (meus avós Estanislau e
Eleonora, e meus padrinhos Albino e Júlia) e todos aqueles que me
são caros ao coração. Peço Jesus pelo meu irmão e minha cunhada e
pela minha tia, cuidai deles todos porque são teus.
Peço Jesus à conversão dos sacerdotes transviados que se afastaram
de Vós. Pelas intenções do Santo Padre e de toda Igreja. Peço por
cada uma de minhas Irmãs, para que sejam santas e perseverem.
Sou vossa ó Jesus fazei de mim e em mim o que bem Vos aprouver.
Amém!”

Como Ir. Externa sempre foi de um amor muito grande por Nosso
Senhor, e assim foi colocando seus dons a serviço.Com delicadeza de
alma enfeitava a capela e ajudava a fazer os vasos para o altar,
também tinha uma bela voz de soprano que “enchia a capela”.
Tendo essa bela voz, gravou um CD junto com Nossa Madre
Elisabete com a finalidade de ajudar nas missões.
Também tinha um grande amor e atenção pelos pobres, buscando
ajudar todos aqueles que se aproximavam do Carmelo, oferecendo
cesta básica e tudo quanto necessitavam.
Quando sua avó esteve doente, pediu licença para passar algum
tempo com ela, pois tinha uma grande gratidão para com ela, e
assim ficou com ela durante três meses. Neste período procurava
participar da santa Missa em uma capela bem próxima da casa, e
ficou muito comovida ao ver tamanha pobreza e a limpeza um

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pouco escassa naquela capela, e o que mais a incomodou foi
perceber que guardavam Jesus Sacramentado em uma vasilha de
margarina. Logo se colocou a serviço ajudando e exortando ao zelo
por Nosso Senhor.
Em nossa comunidade teve a iniciativa de colocar no pátio externo
da portaria uma imagem de Jesus Misericordioso.
Algumas recordações engraçadas que aconteceram com nossa Ir.
Paula: certa vez apareceu no portão do Carmelo um senhor bêbado
e começou de certa maneira a incomodar as nossas Irmãs externas
falando algumas besteiras... nossa Ir. Paula se aproximou e tentou
passivamente despachá-lo, mas não conseguiu, então apelou
dizendo que se ele não fosse embora iria soltar os cachorros. O
bêbado olhou para nossa Irmã e disse que tinha mais medo dela que
dos cachorros. No recreio da noite veio contar a comunidade o fato
ocorrido e não se aguentava de tanto rir.
Outro ocorrido engraçado foi quando receberam na portaria
algumas visitas estrangeiras – da Colômbia; nossa Irmã como
sempre muito gentil e querendo ser bem hospitaleira ficou atenta as
necessidades dos visitantes, porém só tinha um pequeno
problema... não entendia nada de espanhol. E assim tentaram dizer
que precisavam ir ao banheiro, e nossa Irmã Paula entendeu que
precisavam tomar banho e assim foi rapidamente providenciando as
toalhas e sabonetes e lhes conduzindo para os quartos da
hospedaria. Os visitantes ainda tentaram dizer que era só o banheiro
que precisavam, mas foi em vão. Depois Ir. Paula ria do incidente.
Em 2009, começou para nossa Irmã seu calvário. Ao sair para o
jardim aonde gostava de trabalhar, sentiu uma grande pontada no
seio direito, e algo que não era seu costume, pediu para ir ao
médico. Chegando lá, logo o Doutor pediu uma mamografia, no qual
obteve o resultado de um tumor. Sendo de uma proporção muito
grande, pediu para fazer a cirurgia com urgência, e assim também

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faria a biopsia, para saber se era maligno. Nesta, descobriu que era
câncer, e que precisaria retirar todo o seio direito.
Quando descobriu a doença, demonstrou ter verdadeira virtude de
fortaleza e paciência, jamais manifestando revolta e também não
gostava quando pediam para que ela fosse curada, pois deseja que
em tudo fosse feita a Vontade de Deus.
Em seguida começou para nossa Ir. Paula, uma grande batalha
contra esta doença, iniciando o tratamento de quimioterapia e
radioterapia. Neste tempo, recebeu o carinhoso apelido de Bebê,
devido à queda de seus cabelos, ficando realmente parecendo um
bebê toda carequinha e com aqueles bonitos olhos azuis.
Durante os cinco anos previstos para ter atenção devido ao
reaparecimento do câncer parecia estar tudo bem, e nossa Irmã
estava muito feliz por ter vencido esta batalha.
Teve a oportunidade de viajar para a cidade de Colíder em Mato
Grosso, pois um benfeitor a presenteou para visitar seu irmão
Wilson, que há muito tempo não via. Ao retornar desta viagem,
recebeu um choque térmico ao chegar ao aeroporto de São Paulo,
pois em Mato Grosso estava muito quente, e em São Paulo muito
frio. Naquele dia, quando chegou ao Carmelo, durante a noite
passou muito mal, tendo febre, falta de ar e tossindo muito. E assim
foi levada naquela mesma noite ao hospital Frei Galvão, e após a
realização dos exames o Doutor chamou nossa Ir. Margarida e
comunicou-lhe que nossa Ir. Paula teria que ser hospitalizada na UTI,
pois havia diagnosticado que o pulmão estava com um tumor. Logo
entraram em contato com o Dr. Ozires, o qual havia tratado de
nossa Irmã do câncer há quatro anos. Permaneceu na UTI durante
quatro dias, depois passando para o quarto onde ficou mais uma
semana. Ao retornar para o Carmelo, devido a sua falta de ar, houve
a necessidade de conseguir um balão de oxigênio, o qual foi cedido

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pela prefeitura, um aparelho bem moderno. Durante três meses
teve o auxilio do balão de oxigênio.
Diariamente a Irmãs iam na parte das Irmãs Externas para visitarem
a Ir. Paula, e era edificante ver sua docilidade e abandono nas mãos
de Deus. Estava unida ao Crucificado e com Ele oferecia seu
sacrifício com amor.
A Nossa Madre, de maneira ainda mais particular, ia diariamente
visitá-la e via que estava bem inchada, com o rosto bastante
vermelho, era nítida sua dor e sofrimento; porém sempre tinha o
costume de perguntar:
“Ir. Paula, como vossa caridade está hoje?”
E ela respondia:
“Como Deus quer Nossa Madre. Tem gente que sofre muito mais.”
Uma vez partilhou com Nossa Madre que se compadecia muito
daquelas pessoas que encontrava no hospital quando ia fazer a
quimioterapia, principalmente daqueles que tinham filhos para
cuidar. Em uma dessas vezes, ofereceu-se a Jesus por uma mãe que
estava também com câncer e que tinha uma filha para cuidar, pois
acreditava que a vida desta mãe era bem mais útil que a sua e assim
Deus poderia leva-la em seu lugar. Tinha um coração sensível à dor
do outro e sabia se esquecer.
Em outra ocasião, Nossa Madre chegando perto dela perguntou-lhe
o que pensava, e ela respondeu:
“Estou pensando como vai ser do outro lado... como será o meu
encontro com o Patrão (gostava de chamar Deus desta maneira - ou
também de Patrãozinho). Não tenho medo, eu confio nEle, Ele é
misericordioso.”
Nossa Ir. Paula tinha um temperamento colérico, sendo assim
bastante explosiva e impulsiva em suas palavras e respostas; isso de
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certa maneira gerava às vezes certo receio de lhe falar algo sabendo
que iria contrariá-la. Algumas vezes pedia perdão.
No final da vida, devido à debilidade de sua saúde poderia se
esperar, devido ao seu temperamento, talvez uma revolta por conta
do câncer, ou talvez murmuração, ou até mesmo descontar
naqueles que cuidavam dela, e isso jamais vimos e ouvimos.
Pudemos ver que Deus alcançou uma grande graça, no qual houve a
vitória da graça sobre a sua natureza, sobre seu temperamento. E
isto se torna até um consolo quando uma Irmã tem um
temperamento forte, e parece que ela nunca consegue se vencer, se
dominar. Sim, é possível... Nossa Ir. Paula nos mostrou isso. Ela
soube dar abertura para que Deus agisse e assim houve a
transformação. A doença foi transformando-a e purificando-a para o
encontro definitivo com o Amado.
Em uma sexta-feira, como de costume, nossa Ir. Margarida foi levar
a comunhão para nossa Irmã no quarto, pois devido à debilidade de
sua saúde já há tempos não conseguia se locomover, e se isso fazia
era com grande dificuldade. Após receber Jesus permanecia
quietinha fazendo sua ação de graças. Ao término da Santa Missa,
nossa Ir. Margarida ia sempre vê-la, e grande foi o seu susto ao
encontra-la tendo uma convulsão; a princípio pensou que nossa
Irmã Paula estava morrendo e logo chamou o SAMU – ambulância
de emergência; ao chegar o médico, este disse que era uma
convulsão e assim foi chamada a Nossa Madre Elisabete e a
comunidade. Quando a comunidade chegou ao quarto de nossa Ir.
Paula, já havia passado a convulsão, e já estava sendo removida para
a ambulância.

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A partir deste momento já percebíamos que sua saúde estava
piorando ainda mais e que possivelmente logo partiria para a
eternidade.
Foi levada para a Santa Casa de Aparecida, e chegando lá teve outra
convulsão, e assim o médico pediu que fosse levada para a cidade
de Taubaté, aonde realizaria uma tomografia computadorizada. E
não demorou em chegar à notícia de que nossa Irmã estava com um
tumor na cabeça, o qual pressionava o cérebro causando assim as
convulsões.
Retornando para a Santa Casa de Aparecida foi para a UTI, porém
todos tinham consciência que não havia o que fazer neste caso, e
assim foi transferida para o quarto.
Foi um período doloroso, mas ao mesmo tempo muito edificante em
ver a grande caridade de todas as Irmãs da comunidade se
revezando para acompanhar nossa Irmã Paula em seus últimos dias
entre nós; e também houve a grande afluência de amigos e
sacerdotes que vinham vê-la. Nestes dias a Santa Casa liberou para
que todos entrassem no quarto, e era comovente perceber a
quantidade de pessoas ali presentes.
Com grande presteza seu irmão Wilson, juntamente com sua
cunhada Iolanda vieram de Mato Grosso, sem ter data para o
retorno, pois desejavam estarem presentes com a Ir. Paula nesta
fase final.
No dia 16 de setembro nossa Ir. Paula começou a ficar cada vez mais
fraca, e o médico nos comunicou que provavelmente ela não
passaria daquela noite, pois seus órgãos aos poucos estavam
parando. A Nossa Madre, a Ir. Margarida, o irmão de nossa Ir. Paula
o Wilson e sua esposa permaneceram juntos o tempo todo neste
dia. Pela manhã do dia 17 de setembro de 2016 às 04h45 nossa Ir.
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Paula retornou a casa do Pai, durante o momento que Nossa Madre
junto dela rezava a Salve Rainha.
No Carmelo tínhamos acabado de despertar, e até neste detalhe
Nosso Senhor realizou a vontade de nossa Ir. Paula, que sempre
dizia que não queria atrapalhar o sono das Irmãs. Assim já pela
manhã recebemos a notícia do seu falecimento, e começamos a
rezar por sua alma.
O corpo de nossa Irmã chegou por
volta das 8hs no Carmelo, sendo
assim celebrado já a 1ª missa pelo
Pe. Carlos, missionário Lazarista.
Durante o dia o corpo permaneceu
no coro para ser velado. Na 2ª
missa, ás 16hs foi transladado para
a capela externa. Esta missa foi
celebrada pelo Cardeal Dom
Raimundo Damasceno e
concelebraram o Pe. Gerardo, Pe.
Timóteo e Pe. Luiz Carlos. Durante o
dia esteve presentes muitos
sacerdotes redentoristas e também
grande afluência de religiosas, e muitos amigos.
Após a Santa Missa e a encomendação do corpo, seguiu-se o enterro
que foi feito no cemitério da clausura do nosso Mosteiro, no qual
muitas pessoas acompanharam.
Nossa Ir. Paula faleceu com 57 anos de idade, sendo 37 anos vividos
no Carmelo.
Que ela, interceda por sua comunidade e por toda a Ordem e que
esteja junto de Deus gozando do face a face.
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