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XXXVI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCÃO

Contribuições da Engenharia de Produção para Melhores Práticas de Gestão e Modernização do Brasil


João Pessoa/PB, Brasil, de 03 a 06 de outubro de 2016.

ANÁLISE ERGONÔMICA DO POSTO DE


TRABALHO DE UM TRATORISTA
ATRAVÉS DA APLICAÇÃO DO
MÉTODO RULA
CARLA BEATRIZ DA LUZ PERALTA (UNIPAMPA )
carlablp@gmail.com
FRANCINE MOREIRA FERREIRA (UNIPAMPA )
francine_mf@hotmail.com
Gustavo Deamici Chaves (UNIPAMPA )
gdeamici@hotmail.com
Tagiane Machado Nunes (UNIPAMPA )
taginunes86@gmail.com
Jessica Rehbein Butzke (UNIPAMPA )
jessica.rbutzke@gmail.com

A diversificada economia do Rio Grande do Sul destaca-se no cenário


nacional. Ao mesmo tempo em que a atividade rural evidencia tamanha
representatividade, compreendendo, sobretudo a pecuária, a
agricultura e a indústria. Portanto, a aplicaação progressiva de
máquinas e equipamentos direcionada à otimização desta operação
reflete na expressiva demanda de mão-de-obra alocada. Não obstante,
à proporção que a modernização incorpora-se aos processos, somam-
se também os riscos inerentes a esta. Em vista disso, o presente
trabalho possui o objetivo de idealizar melhoramentos voltados ao
posto de trabalho de um tratorista, que contribuam para que os riscos
ergonômicos oriundos desta atividade sejam atenuados ou eliminados.
Para isso foi realizada a análise ergonômica através da aplicação do
Método RULA, onde foram avaliados distintos ciclos de trabalho.
Nestes, foi possível estabelecer a postura mais significativa e aplicar
os critérios de escores característicos do método ao analisar
especificamente dois grupos de membros, grupo A relativo aos braços,
antebraços e punhos e grupo B referente ao tronco, pernas e pescoço.
Deste modo enquadrou-se a postura em ângulos e, finalmente, foram
pontuados e estabelecidos os níveis de ação necessários, possibilitando
elencar melhorias as quais foram sugeridas ao operador para que sua
atividade não se torne extremamente prejudicial à sua saúde.

Palavras-chave: Ergonomia, Atividade Rural, Método RULA


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1 Introdução
A relevância da agricultura familiar ocupa hoje uma posição de destaque perante os governos
populares, onde as políticas públicas implementadas evidenciam a perspectiva de melhoria da
qualidade de vida direcionada a este público. Estas centram-se fundamentalmente no
reconhecimento da agricultura familiar e na promoção de dinâmicas que favoreçam o
desenvolvimento local, respeitando os princípios da agricultura orientada aos múltiplos
sistemas produtivos e ao meio ambiente (FRITSCH, 2012). Nesta, inevitavelmente, inserem-
se as máquinas e equipamentos agrícolas como instrumentos necessários à geração de
eficiência.

O trator, desse modo, trata-se de um tipo de máquina que exerce processo de tração e
desempenha tarefas produtivas, multiplicando a força humana. Logo, adicionado a diferentes
implementos, possibilita uma vasta gama de aplicações, com economia de tempo e
equipamentos, sendo normalmente projetado para arrastar vários tipos de alfaias ou
implementos de uso específico.

Os tratores agrícolas, mais especificamente, são máquinas autopropelidas projetadas


principalmente a fim de fornecer potência para tracionar, empurrar, acionar e transportar
máquinas e implementos agrícolas de arrasto ou montados. À vista disso, a palavra "trator"
tem sido atribuída a várias fontes, mas segundo o dicionário Oxford foi empregada pela
primeira vez na Grã-Bretanha, em 1856, como sinônimo de motor de tração (BIANCHINI,
2002).

Segundo Júnior (2011), inúmeros critérios podem ser levados em consideração na


classificação de tratores, como tipo de rodado, conformação do chassi, potência do motor,
função de trabalho, dentre outras. De forma didática, pode-se separar essa classificação em
três partes, sendo elas quanto à aplicação, ao sistema de rodado e à potência. Assim, o
presente trabalho tem seu enfoque centralizado no estudo ergonômico de um operador de
trator agrícola destinado ao manejo e cultivo de pastagens e também ao controle de vegetação.

Destacando-se que quando a operação de tratores agrícolas não se constitui em um sistema


homem-máquina eficiente, o operador é exposto a uma elevada carga física e mental. O que
resulta em uma redução da eficiência do mesmo (produtividade e qualidade do trabalho),
aumentando a ocorrência de erros, acidentes e o desenvolvimento de doenças ocupacionais
(WITNEY, 1988; MÁRQUEZ, 1990; LILJEDAHL et al., 1996; YADAV & TEWARI, 1998).

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Portanto, visando avaliar o sistema homem-máquina como um todo e torná-lo mais adequado
quanto aos aspectos ergonômicos e consequentemente originar uma maior eficiência, aplicou-
se o método RULA (Rapid Upper Limb Assessment). Por meio do emprego deste viabilizou-
se a análise ergonômica com enfoque no efeito da atividade sobre os membros superiores,
pescoço e tronco do operador, funcionando como uma ferramenta de avaliação rápida
relacionada ao risco de lesões musculoesqueléticas, vinculadas tanto a posturas extremas
quanto a força excessiva e atividades musculares (esforços repetitivos).

2 Referencial teórico

2.1 O uso de tratores

O trator agrícola, conjugado a distintos equipamentos na execução de tarefas desde o preparo


o solo, até a semeadura e o transporte em si, torna-se a fonte central de eficácia na agricultura.
Este é uma máquina autopropelida, que se suprida de ferramentas obtêm sobre uma superfície
horizontal e impenetrável apoio estável, e, com isso, habilita-o a tracionar, transportar e
fornecer potência mecânica, a fim de movimentar os órgãos ativos e máquinas e implementos
agrícolas (MIALHE, 1980).

Conforme Júnior (2011), um trator é composto basicamente pelo motor, um sistema de


transmissão e elementos de direção e locomoção, podendo ser definido, portanto, como uma
unidade móvel de potência, englobando em geral o sistema de tração, o sistema hidráulico de
levantamento por três pontos e as tomadas de potência (tomada de força).

Com o passar do tempo, os tratores foram sendo aperfeiçoados visando atender às diversas
demandas que vão surgindo com a evolução tecnológica. Assim, foram sendo feitas
adaptações como a aplicação em forma de cultivador motorizado, após o que, surgiu o trator
de uso agrícola geral, para executar as principais tarefas agrícolas (OLIVEIRA; VOLPATO;
ALENCAR, 2013).

A eficiência com que o sistema homem–máquina executa suas funções depende de diversos
fatores. A ergonomia age sobre estes fatores, buscando otimizá-los para aumentar a eficiência
do sistema de forma a beneficiar o homem. Para Murrel (1965) alguns fatores destacam-se no
âmbito da operação de tratores agrícolas, dentre eles as condições ambientais do posto de
operação (temperatura, luz, umidade do ar), ruídos, vibrações, comandos e assento do
operador. Para isto, faz-se necessário expandir a análise para a aplicação propriamente dita,
abordada no tópico a seguir, a qual direcionará a disfunções características.

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2.1.1 Aplicação de tratores

Para Araújo (2012), o aporte para que as organizações rurais se tornem competentes e aptas à
renovação contínua, automática, espontânea e reflexa é o grande desafio da administração
rural, isto é, possibilitar que as organizações sejam tão ágeis quanto a própria mudança.
Hamel (2007), corrobora ao relatar que as organizações investem demais no que já é, e não no
que pode ser, razão fundamental pela qual estas fracassam. Dessa forma, a aplicação de
tratores e respectivos implementos colaboram com a atualização na execução dos processos
agrícolas.

À vista disso, os tratores podem ser classificados conforme a fonte de trabalho nas operações
motomecanizadas, em função do tipo de exploração a que serão utilizados, como trator
agrícola, florestal e/ou industrial.

Os tratores agrícolas são aqueles destinados à realização de operações motomecanizadas para


a implantação, manejo e cultivo de culturas agrícolas anuais e permanentes, pastagens e
trabalhos de (pré) processamento, colheita, controle e vegetação, condicionamento de solo,
tratos culturais e transporte de implementos e produtos (JÚNIOR, 2011).

Já os tratores florestais consistem basicamente em um exemplar com o propósito de remover a


madeira derrubada e/ou processada de florestas para uma área em que caminhões possam ter
acesso (BRESSAN, 2011). E os tratores industriais são aqueles destinados especialmente ao
transporte e manuseio de ferramentas em parques industriais, podendo ser de rodas, esteiras e
de chassi articulado (FILHO; SANTOS, 2001).

Quanto ao sistema de locomoção e direção, os tratores podem ser classificados em trator de


esteira, trator de semi-esteira e trator de rodas. Especificamente os tratores de esteira são
sistemas conhecidos como lagartas, as quais podem ser de borracha ou metálicas
autolimpantes para uso em regiões pantanosas, e sapatas planas. Já os tratores de semi-esteira
são aqueles que utilizam dos dois sistemas de rodado, as esteiras e os pneus. E finalmente os
tratores de rodas, utilizados predominantemente na mecanização agrícola, são encontrados em
grandes quantidades e de vários modelos, com características divididas a parte, podendo ser
equipados com rodas metálicas ou pneumáticas (JÚNIOR, 2011).

Assim, o presente trabalho tem seu enfoque centralizado no estudo de um operador de trator
agrícola, de rodas, destinado ao manejo e cultivo de pastagens e também ao controle de
vegetação. Neste panorama, a operação de tratores agrícolas engloba basicamente dois

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fatores: o homem (operador) e a máquina (trator), onde interagem entre si, formando o
sistema homem–máquina (MURREL, 1965; IIDA, 2005; KROEMER & GRANDJEAN,
2005), os quais foram avaliados ergonomicamente com auxílio da aplicação do método
RULA, explicitado no tópico subsequente.

2.2 Método RULA

Concebido em 1993 por Lynn McAtamney e Nigel Corlett, na Universidade de Nottingham


(Reino Unido), o método RULA surgiu com o desígnio de ser aplicado em investigações
ergonômicas de postos de trabalho onde existe a possibilidade de desenvolvimento de doenças
osteomusculares em membros superiores (MCATAMNEY; CORLETT, 1993).

Figura 1 – Esquema de Aplicação Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

Fonte: Hembecker; Rebeschini (2006)

Este consiste na utilização de diagramas de postura do corpo, utilizados em conjunto a três


tabelas, as quais possibilitam a avaliação do nível de exposição a fatores de risco. Tais fatores
incluem o número de movimentos, a postura estática, a força, a postura de trabalho
determinada por equipamentos e mobiliários e os tempos de trabalho e pausa respectivamente
(HEMBECKER; REBESCHINI, 2006). Desta forma, este método poderá ser esquematizado
em três etapas demonstradas na Figura 1.

Quadro 1 – Escores para classificação do Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

ESCORE NÍVEL DE AÇÃO DESCRIÇÃO DO NÍVEL DE AÇÃO


1 Indica que a postura é aceitável se ela não for mantida ou repetida por
1
2 longos períodos de tempo.
3
2 Indica que investigações são necessárias e alterações devem ser feitas.
4
5 Indica que investigações são necessárias e que alterações devem ser feitas
3
6 em breve.

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Indica que investigações são necessárias e que alterações devem ser feitas
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imediatamente.
Fonte: elaborado pelos autores (2015)

A sequência de avaliação do método RULA compreende a análise referente à posição dos


braços, antebraços, punhos e giro dos punhos, pescoço (em duas etapas de avaliação),
membros inferiores (em duas etapas de avaliação), tempo na postura e carga de trabalho, na
sequência supracitada.

De forma semelhante aos procedimentos adotados no método OWAS (Ovako Working


Analysis System), com base no uso de tabelas padronizadas, os escores obtidos na análise
fornecem o nível de ação a ser seguido para situação estudada de acordo com o Quadro 1.

Assim, ao empregar o método RULA, as posturas devem ser enquadradas conforme os


desvios dos membros, pescoço e tronco relativamente a suas posições neutras. Além disso,
serão observados fatores como o peso das cargas erguidas, o tipo de esforço muscular
(dinâmico ou estático) e a maneira como os membros inferiores estão dispostos. Alguns dos
fatores a serem analisados são apontados na Figura 2.

Figura 2 – Fatores de Risco investigados pelo Protocolo RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

FORÇA

TRABALHO POSTURAS DE
MUSCULAR TRABALHO
ESTÁTICO

RULA
N° DE TEMPO
MOVIMENTOS TRABALHADO
SEM PAUSA

Fonte: Mcatamney; Corlett (1993)

Este é o método mais apropriado quando a finalidade consiste em analisar a sobrecarga


centralizada no pescoço e membros superiores. Pois, com o objetivo de promover a

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identificação das amplitudes de movimentos nas articulações de interesse, utiliza-se de


diagramas que possibilitam uma análise mais exata dos trabalhos sujeitos à predominância de
contração muscular estática (IIDA, 2005).

Portanto, aplicou-se o método RULA com o objetivo de analisar ergonomicamente o efeito da


atividade sobre os membros superiores, pescoço e tronco do operador, onde este funciona
como uma ferramenta de avaliação rápida relacionada ao risco de lesões musculoesqueléticas,
vinculadas tanto a posturas extremas quanto a força excessiva e atividades musculares
(esforços repetitivos).

Aliado a este método, o software Ergolândia, assunto posterior, atuou como um dinamizador,
tornando-se um eficiente processador das informações obtidas ao fornecer um parecer sucinto
que possibilitou o tratamento adequado dos dados na sequência.

2.3 Software ergolândia

Destinado à Ergonomistas, Fisioterapeutas e empresas, o Software Ergolândia auxilia na


avaliação ergonômica dos funcionários e respectivos postos de trabalho, possibilitando
sugestões de melhorias. Somando-se aos profissionais supracitados, o software destina-se
também a classe de profissionais da área de saúde ocupacional e também a professores e
alunos que buscam estudar e fazer uso das ferramentas ergonômicas.

A FBF Sistemas, fundada em 2008 pelos Engenheiros Felipe Loque e Flavio Bissoli, na
cidade de Belo Horizonte/MG, é a detentora dos direitos autorais do Software Ergolândia, o
qual é disponibilizado gratuitamente durante trinta dias em versão DEMO para testes e logo
após a expiração deste período o Software passa a ter o custo de posse da licença de uso que
possibilita a utilização das ferramentas citadas a seguir.

Com isso, este possibilitará a diminuição dos riscos ocupacionais e consequentemente um


considerável aumento na produtividade por meio da aplicação de até vinte ferramentas
ergonômicas disponíveis no software. Porém, conforme estabelecido anteriormente, o foco do
presente estudo prepondera na aplicação do método RULA.

2.4 Cenário confrontativo

Com o passar dos anos, aperfeiçoamentos e automatizações estão surgindo e melhorando a


cada dia mais e, assim como em outras áreas, com as máquinas agrícolas não foi diferente.
Inicialmente criadas para substituir a tração animal, hoje são projetadas para múltiplos usos:

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tração, acionamento de outras máquinas, transporte, irrigação, etc. Este desenvolvimento em


seu projeto visou a melhor adaptação ao trabalho, sempre focando a relação trabalho-máquina
omitindo um componente de proporcional relevância: o homem.

A partir do surgimento da ergonomia foi possível relacionar o homem ao trator e, com isso, os
projetos passaram a contar com dois novos fatores de preocupação para os projetistas: a
segurança e o bem-estar do operador. Com a evolução da relação homem-máquina muitos
trabalhos antropométricos foram realizados com o intuito de se determinar medidas padrões
para o homem e, de posse desses dados, os tratores passaram a ser projetados de forma a se
adaptarem ao homem e não ao contrário, conforme vinha acontecendo. Assim, estudos a
respeito da fisiologia do homem e dos seus sentidos tornaram-se também necessários e muitos
foram realizados a fim de se obter uma melhor relação e, consequentemente, melhorar a
produção da máquina no desempenho de suas funções.

Atualmente, as demandas em conforto e segurança para os operadores têm se tornado cada


vez mais crescente. Segundo Dhingra et al. (2003) a definição científica para a palavra
conforto pode ser "uma harmonia agradável entre fatores fisiológicos, psicológicos e físicos,
entre um ser humano e o ambiente" ou, ainda, referir-se como "ausência de desconforto". Um
local de trabalho deve ser sadio e agradável, proporcionar o máximo de proteção, sendo o
resultado de fatores materiais ou subjetivos, prevenir acidentes, doenças ocupacionais, além
de proporcionar melhor relacionamento entre a empresa e o empregado (FIEDLER et al.,
2006).

Com relação à determinação de controles, para Grandjean (1998), sua escolha se dá pela sua
funcionalidade e necessidade de precisão. Com o objetivo de evitar acidentes, de acordo com
o autor, ao avaliar controles manuais deve-se levar em consideração a análise antropométrica
da atividade, já que devem ser consideradas as variáveis que envolvem o distanciamento entre
cotovelo e ombros.

A partir do trabalho realizado por Rossi, Santos e Silva (2011), pode-se evidenciar que os
equipamentos e implementos agrícolas não se adaptam aos parâmetros antropométricos
brasileiros tendo-se em vista a miscigenação étnica do país. Para tal adequação há a
necessidade do desenvolvimento de um estudo o qual permita a coleta de dados com o
objetivo de traçar o perfil do usuário brasileiro possibilitando uma maior adaptação da
ferramenta de trabalho ao homem.

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Considerando-se o assento do trator, pode-se dizer que este é um dos fatores mais importantes
a ser considerado com relação ao posto de trabalho em questão. Tendo–se em vista o tempo a
qual o operador fica exposto ao posto de trabalho bem como às variáveis atreladas a esta
atividade, é de fundamental importância que sejam desenvolvidos estudos com o objetivo de
minimizar cada vez mais os impactos ergonômicos causados na saúde do operador.

Nos estudos de Deganutti, Palhaci e Hellmeister (2011), foi possível evidenciar a importância
da realização de adequações em assentos de tratores. Estes, após análise antropométrica,
projetaram um assento ergonômico com auxílio da computação gráfica com a finalidade de
melhor adaptação da atividade às necessidades posturais do operador. Desta forma, a partir do
projeto foi possível desenvolver um assento que possibilitaria um maior relaxamento, já que o
encosto proporcionaria variações de postura aliviando pressões sobre a coluna e tensões dos
músculos. Apesar de tal estudo apresentar uma preocupação com a postura do operador,
sugere-se que o assento projetado, ao invés de ser fixo, permita a rotação do mesmo, evitando
que o operador realize a rotação do tronco, fato este que ao longo do tempo pode levar a
problemas de origem ergonômica já que pode ocasionar danos à coluna vertebral.

A vista dos tópicos apresentados anteriormente realizou-se a respectiva análise ergonômica


por meio da observação da atividade, assim como o posto de trabalho em si, contrastando aos
cenários evidenciados e culminando na aplicação do método RULA e respectivo diagnóstico
gerado por intermédio do Software Ergolândia, procedimento discriminado no tópico a seguir.

3 Procedimentos metodológicos

O procedimento de análise, demonstrado na Figura 3, compreendeu a observação da atividade


do operador durante ciclos de trabalho, onde foi selecionada a postura mais significante,
ilustrada na Figura 4.

Figura 3 – Metodologia de realização da análise ergonômica

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Fonte: elaborada pelos autores (2015)

Posteriormente, por esta percepção, foram aplicados os critérios de escore característicos


desta ferramenta por meio do Software Ergolândia, os quais foram utilizados para classificar o
grau de risco das respectivas posturas avaliadas, variando entre a faixa de valores de 1 a 7.
Desta forma, quanto maior a pontuação, mais elevado será o nível de risco ao qual o operador
é submetido. Ao mesmo tempo, escores inferiores não asseguram que o posto de trabalho
esteja isento de carga de trabalho e elevados escores não garantem que problemas críticos
existam (LUEDER, 1996).

Figura 4 – Postura mais significante na atividade do tratorista

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Fonte: registrado pelos autores (2015)

Figura 5 – Análise Grupo A

Fonte: Ergolândia (2015)


Conforme estabelece o método RULA, foram analisados separadamente dois grupos. O grupo
A, constituído pelos membros superiores (braços, antebraços e punhos), demonstrado na
Figura 5. E o grupo B, composto pelo tronco, pernas e pescoço, representado na Figura 6.

Referente à análise de cada grupo, enquadrou-se a postura mais significante em ângulos,


preestabelecidos no método e atribuiu-se a pontuação específica, fornecendo um valor parcial
para cada posição avaliada.

Figura 6 – Análise Grupo B e Atividade

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Fonte: Ergolândia (2015)

A seguir, as pontuações parciais de cada grupo (A e B) foram modificadas de acordo com o


tipo de atividade muscular desenvolvida e também relativamente à força muscular empregada
na prática da atividade. Ao possuir os valores parciais dos grupos, estes foram cruzados pelo
próprio Software Ergolândia, obtendo-se finalmente o valor total, o qual possibilitou o
enquadramento relativamente ao nível de necessidade da postura que demanda maior atenção
devido ao risco de lesões, o qual está especificado nos resultados, conteúdo do capítulo
seguinte.

4 Resultados

Com a aplicação do método RULA, primeiramente direcionado à observação dos ciclos de


trabalho e preenchimento da planilha específica contida no Anexo A e posteriormente à
transferência dos dados verificados – supracitados – ao Software Ergolândia, pode-se realizar
a análise ergonômica do posto de trabalho de um tratorista, destacada na Figura 7.

Figura 7 – Banco de Dados do operador gerado pelo Software Ergolândia

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Fonte: Ergolândia (2015)

Ao interligar os valores referentes aos grupos A, B e à atividade em si, obteve-se a pontuação


6 e o decorrente nível de ação 3. Sabendo-se que a pontuação máxima possível é 7, percebe-
se a severidade da postura evidenciada na atividade do operador observado nesta análise.

Figura 8 – Resultado gerado pelo Software Ergolândia

Fonte: Ergolândia (2015)

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Logo, o Software Ergolândia gerou também, por meio da pontuação e respectivo nível de
ação, as orientações quanto a intervenções necessárias no posto de trabalho, enfatizadas na
Figura 8, e adequadamente tratadas no capítulo subsequente.

5 Conclusão

A presente análise possibilitou a percepção do quanto a atividade de tratorista demanda


atenção e respectivo tratamento, uma vez que a pontuação resultante desta análise em diversos
postos de trabalhos semelhantes não deve dispersar muito do evidenciado, pois a postura não
sofre grandes alterações. Somando-se a isso, esta não se trata de uma atividade rara em nosso
estado, comprovando tamanha relevância deste estudo.

Desta forma, conforme proposto nos resultados obtidos pelo Software Ergolândia,
recomenda-se uma investigação mais aprofundada. Uma das propostas sugeridas abrange a
análise referente ao arranjo físico e layout do posto de trabalho, a qual pode servir como
ferramenta fundamental à adequação deste.

Além disso, pode-se perceber que devido ao fato de possuir outra atividade lucrativa durante
os dias úteis, o operador acaba sobrecarregando-se nos finais de semana para suprir a
demanda da atividade rural. Dessa forma, torna-se pertinente uma avaliação quanto aos turnos
de serviço, fator este que deve possuir parcela na postura adotada e também quanto aos
fatores humanos resultantes como estresse e fadiga que podem advir da execução desta
atividade por períodos prolongados de tempo. Esta avaliação deve possibilitar o
estabelecimento da proporcionalidade entre tempos de trabalho e pausas para descanso, o que
deve agir no sentido de minimizar os efeitos oriundos da atividade.

Porém, visando atenuar temporariamente estes efeitos, antes da realização das análises
sugeridas, indica-se a adaptação do posto de trabalho relativa ao assento do trator, a qual
poderá ser proporcionada por meio da elaboração de um projeto que inclua apoio para os
braços, estofamento apropriado, cinto de segurança e trilho que possibilite a rotação do
mesmo, proporcionando conforto e segurança ao operador, diminuindo com isso os impactos
ergonômicos a que o tratorista é submetido no decorrer da operação. Além disso, recomenda-
se o ajuste dos controles manuais de acordo com os aspectos antropométricos do trabalhador.

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REFERÊNCIAS
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<http://itarget.com.br/newclients/sober.org.br/congresso2012/extra/pdf/LUIS.pdf>. Acesso em: 12 set. 2015.

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Disponível em: http://www.afe.com.br/noticia/2925/o-que-sao-tratores-florestais?. Acesso em: 05 nov. 2015.

DEGANUTTI, R.; PALHACI, M.C.; HELLMEISTER,L.A. Projeto ergonômico de assento para tratores
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FILHO, Abílio Garcia dos Santos; SANTOS, João Eduardo Guarnetti Garcia dos. Apostila de Máquinas
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ANEXOS

ANEXO A – Planilha de Aplicação do Método RULA (Rapid Upper Limb Assessment)

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