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OFICINA DE MÚSICA: TEORIA E PERCEPÇÃO

DOS RÍTMOS, MELODIA E HARMONIA

Unidade III
Harmonia: uma introdução
Prezado (a) Aluno (a)
Apresentamos um resumo dos conteúdos mais importantes da
Disciplina: Oficina de Música: Teoria e Percepção dos Ritmos,
Melodia e Harmonia retomados aqui para seu estudo e reflexão.
Esse conteúdo será acompanhado de atividades de fixação que não
valem nota, mas prepara você para as demais atividades avaliativas.

BONS ESTUDOS!
Harmonia: uma introdução
Estudamos na Unidade anterior o

reconhecimento e a utilização dos intervalos e


como estes atuam na formação das escalas
maiores e menores, a partir da utilização de
moldes originados nos modos gregos. Apoiado
nessa base teórica, é possível reconhecer a
utilização de um dos pilares da música tonal
como a conhecemos hoje, a utilização coerente
da tonalidade e dos acordes, a harmonia.
Harmonia: Musical. Fonte: Stockphotos
3.1 Tonalidade

Para Candé (1989), existem três significados para a palavra “tonalidade”:


 O equilíbrio particular que pode ser percebido
por qualquer ouvinte, em maior ou menor grau,
de acordes que transitam sobre um centro tonal
único, em que todos os acordes têm relação com
este ou com acordes próximos a este. É o oposto
Tonalidade. Fonte: Stockphotos a atonalidade;
• Conjunto de características que distinguem os modos maior e menor de todos
os outros, dentro do contexto modal que daria origem ao sistema tonal, o
mais utilizado atualmente;

• A determinação do conjunto dos sons de um sistema pela escolha da tônica e


entre as duas diferentes possibilidades (modos maior ou menor). Como
exemplo o autor cita o primeiro coro da Paixão, segundo São Mateus de J. S.
Bach, que foi escrita em mi menor, ou seja, tem a tônica, ou centro
gravitacional, na nota mi e foi construída sobre o modo menor.
A noção de “centralidade” existe não apenas no denominado “Sistema Tonal”,
mas também na Teoria Pós-tonal, por exemplo. Porém, o sentido de
“tonalidade” remete, para além da centralidade, ao conjunto de possibilidades
que determinado “tom” contêm em si. Ou seja, as alturas e acordes que
“encaixam nessa tonalidade”.

Ao estudo dessas possibilidades damos o nome de “Campo Harmônico”.


3.2 Campo Harmônico e o despertar da Harmonia

O Despertar da Harmonia:
Harmonia, na concepção musical, é um
dos campos teóricos que estuda as
relações entre os sons. Estuda as
relações possíveis entre os acordes de
um mesmo campo harmônico ou das
Harmoniaco. Fonte:Stockphoto relações destes com outros gerados por
outras relações.
O processo que levaria ao estabelecimento do sistema tonal teve
seu início por volta do ano 1600 em reação às complexas
estruturas polifônicas do Renascimento Cultural.

No período Barroco, tem-se o desenvolvimento da estrutura


extraída dos modos maior e menor. O Cravo Bem Temperado de
Bach foi escrito em todas as tonalidades (24- sendo 12 maiores e
12 menores) como Dó Maior, Dó menor, Dó# Maior, Dó# menor
etc.
Segue uma dessas tonalidades (as demais constam na Unidade III do seu
livro-texto). Prelúdio e Fuga em Dó# menor:

Escute trecho de O Cravo bem Temperado

No Classicismo, Mozart escreveu uma Sonata n.16 em Dó Maior e no


Romantismo, Chopin escreveu Noturno Op.9 n.1
Campo harmônico é um conjunto de acordes formados a partir de uma
determinada escala. Ex: escala de Dó Maior:

Escute a escala de Dó Maior


Aplicando-se notas uma terça acima, obtemos as tríades (três sons, cada qual
como aparece na escala) sobre cada grau da escala:
Cada acorde recebe um nome, de acordo com as características que apresenta.
Assim temos:
 Acorde Maior: composto por Fundamental, Terça maior e Quinta justa;
 Acorde Menor: composto por Fundamental, Terça menor e Quinta Justa;
 Acorde diminuto: composto por Fundamental, Terça menor e Quinta diminuta;
 Acorde aumentado: composto por Fundamental, Terça maior e Quinta
aumentada.
Escute os acordes

A escala de dó maior gera a construção do Campo Harmônico da tonalidade de


Dó Maior, ou seja, permite-nos conhecer quais são os acordes mais básicos
disponíveis para utilização nesse contexto (tonalidade).
Campo Harmônico de Dó maior:

Escute os acordes de Dó Maior


OBS: o Campo Harmônico de Dó é: C – Dm – Em – F – G – Am – Bm7 (b5)
Uma dica: para entender o campo harmônico, procuramos primeiramente por
todos os graus presentes na tonalidade, não apenas a tônica. Ex: na
tonalidade de Dó Maior, encontramos o 1º grau e na do Fá Maior, o 4º grau.

Funções Tonais: são os acordes mais importantes de uma tonalidade,

formados a partir do I grau (Tônica), do IV grau (Subdominante) e do V grau


(Dominante).
Estrutura do Campo Harmônico sobre uma escala maior:
• I. Acorde Maior;

• II. Acorde menor (relativo ao IV);

• III. Acorde menor (relativo ao V);

• IV. Acorde Maior;

• V. Acorde Maior;

• VI. Acorde menor (Relativo ao I);

• VII. Acorde diminuto.


Estrutura do Campo Harmônico menor: utiliza uma escala harmônica menor
I. Acorde menor (Tônica);

II. Acorde diminuto;

III. Acorde aumentado;

IV. Acorde menor (subdominante);

V. Acorde Maior (Dominante);

VI. Acorde Diminuto.


3.3 Harmonia Tradicional

Harmonia Tradicional. Fonte: Stockphotos

A Harmonia Tradicional está ligada ao início do pensamento tonal, sendo a teoria de análise e

nomenclatura de acordes utilizada quando nos referimos especialmente à música produzida no Período
Barroco ou feita para soar como tal. Dessa forma, é possível analisar obras de outros contextos
musicais, porém sua capacidade de responder as questões da música produzida em outros períodos se
mostra limitada.
A Harmonia Tradicional utiliza numerais romanos para indicar os graus
do campo harmônico (I, II, V, IV, etc.) e códigos numéricos como
indicadores de tipos de acordes, em que cada número representa ou o
acréscimo de uma ou mais notas ou, ainda, qual das notas do acorde
assumirá a voz mais grave, a chamada inversão.
Exemplo de Harmonia Tradicional - acordes em posição fundamental (Tônica no
baixo):

Escute os acordes
Acorde de Dominante (V) em primeira inversão (3ª no baixo):

Escute os acordes
Acorde de sétima de Dominante (tonalidade de ré menor):

Escute os acordes
É possível construirmos as características da escrita da
harmonia tradicional, na qual os numerais romanos se
referem aos graus da tonalidade e às outras indicações,
como descritas na Unidade 3 do seu livro-texto.
3.4 Harmonia Funcional e Harmonia Popular:
A Harmonia Funcional, derivada da
Harmonia Tradicional, trouxe novas
perspectivas para a música ocidental por
analisar e propor a utilização dos distintos
acordes a partir de sua função, em que cada
acorde em um determinado campo harmônico
tem um uso (seja para causar tensão,
resolução, afastamento ou aproximação,
Harmonia funcional. Fonte: Stockphotos
etc.) e pode ser substituído por outros com
a mesma função.
Na Harmonia funcional, as funções principais são divididas em repouso e
movimento.
A Harmonia Tradicional utiliza os numerais romanos para a indicação dos graus
da tonalidade, a Harmonia Funcional utiliza letras para denominar esses graus,
como por exemplo:

T – Tônica (I grau)

Sr – Subdominante relativa (II grau)


Dr ou Ta – Dominante relativa ou Tônica antirrelativa (III grau)
S – Subdominante (IV grau)
D – Dominante (V grau)
Tr ou As – Tônica relativa ou Subdominante antirrelativa (VI)
Cadência: é uma sequência ou uma progressão de acordes. Elas podem ser de
vários tipos:

 Cadência perfeita: é formada por uma sequência de acordes – Dominante/Tônica (5º grau e 1º grau)-
Ex: Acorde de Sol (G) – 5º grau – sol/si/ré

 Cadência imperfeita: É formada pela sequência - Dominante/Tônica (5º- 1º)- tem o mesmo sentido de
ordem dos acordes, só que um dos acordes aparece com o formato invertido. Ex: Acorde de sol
invertido – si/ré/sol

 Cadência plagal: não existe um acorde dominante entre eles – subdominante/tônica. Ex: Dm-C

 Cadência deceptiva: temos um acorde Dominante sendo resolvido em qualquer outro tipo de acorde que
não seja a tônica.

 Meia-Cadência: existe uma progressão resolvendo em um acorde Dominante. Ex: Dm – G


Lei Tonal (daremos destaques para as três primeiras):
1ª Lei das Funções principais (ou dos acordes vizinhos de quinta): referem-
se aos acordes de Tônica, Subdominante, Dominante e suas possíveis
variações. Vamos ver alguns exemplos com os principais acordes da tonalidade
de Ré Maior:
Posição fundamental – TSD em Ré M:

Escute os acordes
Primeira Inversão:

Escute os acordes

Segunda inversão em Ré M:

Escute os acordes
Acordes de sétima- Dominante:

Escute os acordes

Acordes de Nona em Ré M:

Escute os acordes

Os demais acordes como sexta acrescentada, sétima de tônica e de subdominante, você poderá
consultar na Unidade 3 do livro-texto.
2ª Lei dos acordes relativos (r) e antirrelativos (a) a uma das funções
principais, também conhecidos por Funções Secundárias. Estes acordes podem
ser utilizados como substitutos por conta do número de notas em comum com
as funções principais.

Veremos exemplo em Dó Maior:

Relativas:

As demais relativas, você poderá consultar no livro-texto (Unidade 3).


3ª Lei das Dominantes e Subdominantes individuais: aumenta o leque de
opções em grande medida, por permitir a utilização de acordes emprestados
dos círculos das Funções principais e funções secundárias. A utilização mais
comum é a das Dominantes Secundárias, que funcionam como degrau de acesso
ao acorde que se relacionam.
Exemplo: É possível realizar uma passagem direta entre o acorde 1 (T) e o acorde 2 (D):
Cadência:

Escute os acordes
Ou utilizando a dominante do acorde “2” como preparação harmônica:
Dominante individual:

Escute os acordes
A sequência de usos de acordes de
preparação leva-nos ao chamado
círculo das quintas ou cadência de
jazz, que demonstra todas as
possibilidades de preparação por
quintas possíveis, como pode ser
visto na figura a seguir:

Círculo das quintas. Fonte: commons.wikimedia

Para conhecer mais sobre o Círculo das quintas (e das quartas) assista ao vídeo que está
disponível na Hora de estudo da Unidade 3.
Para finalizar, quando se trata de harmonia funcional,

podemos citar ainda a Quarta Lei Tonal, que trata da


dilatação da tonalidade por meio dos acordes alterados e a
Quinta Lei Tonal, que aborda as regras de modulação, quando
um acorde muda sua função.
Por uma questão didática essas leis não serão abordadas neste
momento, por serem relacionadas a acordes pouco comuns e
com menor utilização prática.
3.5 Harmonia Popular:

A Harmonia Popular, por sua vez,


percebe os contextos harmônicos
da mesma forma, porém, utiliza uma
nomenclatura mais direta, as
denominadas “cifras” e recebe esse
nome pela sua ampla utilização no
contexto da música popular. Harmonia popular; Fonte: Pixabay
Uma das principais diferenças é que a harmonia popular não se
utiliza de códigos numéricos ou nome de funções para identificar
acordes em um contexto. Sua aplicação é prática e baseia-se na
nomenclatura das notas no contexto anglo-saxônico, em que as
notas são nomeadas com as letras “A” até a letra “G”:

A B C D E F G
Lá Si Dó Ré Mi Fá Sol
Crédito: Imagens e Sons
• CIRCULO das Quintas. Disponível em:
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/52/Ciclo_de_quintas.jpg. Acesso em 10 out. 2019
• HARMONIA POPULAR. Disponível em: . https://pixabay.com/pt/illustrations/m%C3%BAsicas-papel-
fundo-design-retro-313575/ . Acesso em: 10 out 2019
• HARMONIA funcional. Disponível em: https://stockphotos.com.br/Home/Image/2/71225336. Acesso em: 10
out 2019
• HARMONIA tradicional. Disponível em: https://stockphotos.com.br/Home/Image/2/57999939. Acesso em:
10 out 2019
• HARMONIA. Disponível em : https://stockphotos.com.br/Home/Image/2/73937065. Acesso em: 10 out.
2019
• HARMONICO. Disponível em: https://stockphotos.com.br/Home/Image/2/55170407. Acesso em: 10 out
2019
• TONALIDADE. Disponível em: https://stockphotos.com.br/Home/Image/2/61459158. Acesso em: 10 out
2019
Crédito dos Livros e Artigos
• ALFAYA, M.; PAREJO, E. Musicalizar: uma proposta para vivência dos elementos musicais. São
Paulo: Musimed, 1987.

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