Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1. História
A Doença de Fabry foi detetada de forma independente pelo Drs. William
Anderson (Inglaterra) e Johannes Fabry (Alemanha). .De facto, Johannes Fabry
teria examinado o seu primeiro paciente portador da doença em abril de 1897 e
William Anderson em dezembro do mesmo ano. Em 1898, foram publicados os
primeiros relatórios sobre a doença de Fabry por William Anderson e Johannes
Fabry, nos quais mencionaram a presença de proteinúria e descreveram os
doentes com Angiokeratoma corporis diffusum', a lesão maculopapular vermelha-
púrpura que representa uma característica desta doença
Após os relatos iniciais de Angiokeratoma corporis diffusum, foram descritas várias outras
manifestações da doença (Tabela 1) até que, em 1939, Ruiter concluiu que o
Angiokeratoma corporis diffusum é a manifestação cutânea de uma doença sistêmica
[5]que, nos anos seguintes, foi classificada como um distúrbio de armazenamento . Em
1951, Scriba confirmou o caráter lipídico do material de armazenamento [7] e, em 1959,
Christian de Duve, laureado com o Nobel, descreveu o lisossoma como uma importante
organela celular. Assim, forneceu a base para o conceito de distúrbios de armazenamento
lisossômico e, mesmo nessa época, sugeriu a substituição enzimática como oportunidade
terapêutica [m 1962, Wise e seus colegas relataram sobre várias famílias com a doença de
Fabry, incluindo a prole do primeiro paciente de William Anderson. Examinaram também as
primeiras pacientes vivas do sexo feminino com doença de Fabry e demonstraram
claramente uma herança ligada ao cromossomo X, o que foi confirmado por análises
genealógicas posteriores nos anos seguintes [9]. Posteriormente, Sweely e Klionsky
caracterizaram a doença como esfingolippidose
Por ter sido o primeiro, a doença herdou o seu nome, no entanto, também é
conhecida por doença de Anderson-Fabry.
2. O que?
3. A doença de Anderson-Fabry, também chamada de doença de Fabry
(DF) ou angiokeratoma corporis diffusum universale A Doença de Fabry é
provocada por uma alteração genética, que conduz a uma deficiência ou disfunção da enzima
alfa-galactosidase A3. Para
além de determinar o nosso sexo, existem outros genes
nos cromossomas X e Y que atuam como código para muitas outras coisas. Por
exemplo, existe um gene que ajuda o sangue a coagular e um gene que
permite ver as cores.
O gene que promove a produção da enzima alfa-GAL está no cromossoma X.
Por esse motivo, a doença de Fabry é chamada uma doença genética “ligada ao
cromossoma X”.
A doença de Fabry é uma doença rara que pode afetar homens e mulheres de todas as idades e
etnias. A doença de Fabry (FD) é uma doença de sobrecarga lisossomal progressiva, hereditária
multissistémica caracterizada por manifestações específicas neurológicas, cutâneas, renais,
cardiovasculares, cócleo-vestibulares e cérebro-vasculares. A doença de Fabry é uma doença do
metabolismo dos glicosfingolípidos causada por atividade lisossomal deficiente ou ausente de
alfa-galactosidase A relacionada com mutações no gene GLA (Xq21.3-q22) que codifica a
enzima alfa-galactosidase A. A atividade deficiente resulta em acumulação de
globotriaosilceramida (Gb3) dentro dos lisossomas, pensando-se que desencadeia uma cascata
de eventos celulares.
4. Causas
Os primeiros sinais de doença podem surgir durante a infância ou já na idade adulta, e evoluir
silenciosamente.
Entre os sinais comumente associados à Doença de Fabry, destacam-se3:
- Cutâneos (angioqueratomas)
- Neurológicos (dores)
- Renais (proteinúria, falência renal)
- Cardiovasculares (cardiomiopatias, arritmias)
- Cerebrovasculares (ataques isquémicos transitórios, AVC)
As enzimas são substâncias produzidas pelas células do corpo que ajudam as reações químicas a
ocorrer. Existem muitas enzimas diferentes, que possuem ações diversas e permitem que o
organismo funcione com normalidade.
Uma das enzimas que o corpo produz chama-se alfa-galactosidase A - ou alfa-GAL, na forma
abreviada. A alfa-GAL decompõe uma substância chamada globotriaosilceramida, também
chamada GL-3 ou Gb3 na forma abreviada. Nas pessoas com doença de Fabry, o organismo não
produz alfa-GAL suficiente ou esta não funciona devidamente. Isto significa que a GL-3 não
consegue ser degradada de forma eficaz, acumulando-se nas células do organismo, no interior
de umas estruturas chamadas "lisossomas". A acumulação de GL-3 pode danificar as células do
corpo, impedindo que estas funcionem corretamente. Isto leva gradualmente a problemas de
saúde em diferentes órgãos. Na Figura 1 é demonstrado como a GL-3 se acumula nas células
das pessoas com doença de Fabry. Devido à acumulação de GL-3 nos lisossomas, a doença de
Fabry faz parte de um grupo chamado “doenças lisossomais de sobrecarga”.
Quando uma mãe tem doença de FabryA mulher transmite um dos seus
cromossomas X aos seus filhos ou filhas. Quando uma mulher tem doença de
Fabry, em geral apenas um dos seus dois cromossomas X possui o gene alfa-
GAL anómalo. Isto significa que ela tem 50% de probabilidade (em cada
nascimento) de transmitir o cromossoma afetado aos seus filhos ou filhas.
Quando o cromossoma afetado é transmitido aos filhos dessa mulher, qualquer
um deles (filho ou filha) terá a doença de Fabry.
7.
É também uma doença “genética”, ou seja, pode ser transmitida de pais para filhos.
Ligado ao X recessivo , cromossoma sexual
mulheres heterozigotas também podem desenvolver a
doença de Fabry devido à mudança no padrão de
inativação do cromossomo X. Mulheres heterozigotas têm
um espectro mais amplo de manifestações, indo de
portadoras assintomáticas a manifestações clínicas graves,
como é comumente observado em indivíduos do sexo
masculino
A FD é transmitida de forma ligada ao X. A existência de variantes atípicas, de início
tardio, e a disponibilidade de terapia específica complicam o aconselhamento genético.
Como o gene que promove a produção da enzima alfa-GAL está no
cromossoma X, a doença de Fabry é expressa de forma diferente nos homens e
nas mulheres. Os homens com doença de Fabry terão sempre um gene alfa-
GAL anómalo, uma vez que só possuem um cromossoma X. Isto significa que os
homens com doença de Fabry em geral possuem muito pouca ou nenhuma
alfa-GAL ativa. As mulheres possuem dois cromossomas X e, quando têm
doença de Fabry, têm em geral um cromossoma com o gene defeituoso e outro
com o gene a funcionar devidamente. Nas células do corpo de uma mulher, um
dos cromossomas X é inativado por um processo chamado inativação do
cromossoma X (também referido como lionização). É um processo aleatório,
que ocorre em cada célula. Por ser um processo aleatório, nalgumas mulheres
com um gene defeituoso a maioria das células inativa a cópia funcional, noutras
a maioria das células inativa a cópia anómala e noutras ainda há um número
aproximadamente igual de células que inativam as cópias defeituosas e as
cópias funcionais. Como resultado desta variabilidade, os sintomas, a sua
intensidade e a idade a que se iniciam podem variar muito entre as mulheres
mas podem ser tão graves como nos homens.1
8. Características
pode causar lesões em órgãos como os rins, coração, sistema nervoso, trato gastrointestinal, pele e
olhos
A doença de Fabry é uma doença rara e, por esse motivo, nem sempre é bem
reconhecida. A maioria dos sintomas não é específica da doença de Fabry e é
por vezes desvalorizada.
Deste modo, pode passar muito tempo até que a doença de Fabry seja
diagnosticada. Existe, contudo, uma série de sinais e sintomas que as pessoas
(crianças e adultos) com doença de Fabry tipicamente apresentam:
Doença de Fabry em crianças e adultos
A doença de Fabry desenvolve-se ao longo do tempo e é progressiva (causa
gradualmente mais danos no organismo).1 Alguns sintomas podem piorar e
podem desenvolver-se alguns sintomas novos. À medida que a doença
progride, pode dar origem a problemas de saúde graves. Os sintomas da
doença de Fabry, como referido em cima, podem começar na infância e com
frequência variam significativamente de uma pessoa para a outra. Conforme
explicado anteriormente, a doença pode progredir silenciosamente no interior
do organismo e, em muitos casos, não causar quaisquer sintomas evidentes ou
queixas durante a sua progressão. Se a doença for diagnosticada cedo, os
médicos podem monitorizar os doentes afetados pela doença de Fabry e
controlar devidamente a progressão da doença, com o objetivo de abrandar a
sua progressão e melhorar a qualidade de vida do doente.
A lesão cutânea roxo-avermelhada chamada angioqueratoma, presente em pessoas com doença
de Fabry
9. Diagnostico
avaliação dos indivíduos com história familiar de Doença de Fabry ou programas de rastreio
neonatais são as únicas opções práticas para identificar doentes antes da manifestação dos
sintomas. São realizados testes de atividade enzimática (conclusivos para os homens) e testes
genéticos (para confirmar a doença nas mulheres)3.
Doença rara e limitada leva, em média, cerca de 14 anos nos homens e 16 anos nas mulheres, a ser
diagnosticada1.
Métodos de diagnóstico
O diagnóstico laboratorial envolve a demonstração da deficiência enzimática acentuada
nos homens hemizigóticos. A análise enzimática pode ocasionalmente ajudar a detectar
heterozigóticos, mas muitas vezes é inconclusiva devido à inativação aleatória do
cromossoma X, tornando o teste molecular (genotipagem) obrigatório nas mulheres.
Diagnóstico diferencial
Na infância, outras possíveis causas de dor, como artrite reumatóide e "dores de
crescimento" devem ser descartadas. Na idade adulta, por vezes é considerada esclerose
múltipla.
Diagnóstico pré-natal
O diagnóstico pré-natal, disponível por determinação da atividade enzimática ou testes
de ADN em vilosidades coriónicas ou células amnióticas em cultura é, por razões
éticas, apenas considerado em fetos do sexo masculino. É possível o diagnóstico de pré-
implantação.
Na presença dos sinais e sintomas acima descritos, o médico poderá
suspeitar que você possui a doença de Fabry. O diagnóstico conclusivo só
poderá ser realizado através da análise de uma amostra de sangue, onde
será avaliada a atividade da enzima alfa-galactosidade A (α-Gal A) ou
ainda a análise do DNA(15).
Como a doença de Fabry é transmitida pelo DNA, ou seja, é passada de
geração em geração, é muito importante que o médico peça para que você
o ajude a construir a árvore genealógica da sua família (heredograma),
desta maneira será possível avaliar se outros familiares podem ter sido
afetados pela doença.
O diagnóstico pré-natal está disponível e pode ser solicitado a critério
médico para filhos de pacientes de Fabry (15).
Aconselhamento Genético A doença de Fabry ocorre em famílias. É
importante que toda pessoa do sexo masculino ou feminino com o
diagnóstico confirmado da doença de Fabry consulte um médico
geneticista para que o mesmo conduza o aconselhamento genético. Isso é
particularmente importante para a identificação de novos membros da
família que possam ser portadores da doença (13).
Métodos de diagnóstico
Diagnosticar a doença de Fabry pode ser difícil por várias razões.
Pelo facto de a doença ser tão rara, muitos médicos nunca viram doentes com
doença de Fabry anteriormente e podem não a considerar um possível
diagnóstico.
Muitos dos sinais e sintomas da doença de Fabry (como a febre e o cansaço)
podem facilmente ser atribuídos a doenças mais comuns.
A doença de Fabry pode afetar várias partes do corpo que são muitas vezes
tratadas em separado por diferentes profissionais de cuidados de saúde antes
que alguém reconheça que todos os sintomas estão na verdade ligados a uma
única causa que é a doença de Fabry.
Por vezes, demora anos, ou mesmo décadas, até que as pessoas com doença de
Fabry sejam diagnosticadas. Diagnosticar a doença de Fabry a alguém pode ser
um longo processo, envolvendo vários médicos diferentes e uma vasta gama de
testes. O processo habitual para os médicos consiste na exclusão das condições
mais comuns antes de considerar doenças raras como a doença de Fabry.
Testes genéticos
Os testes genéticos podem ser feitos para diagnosticar a doença de Fabry,
assim como para descobrir que defeitos no gene GLA estão a provocar a
doença. A isto chama-se “genotipagem” e pode dar informações genéticas úteis
aos médicos. Nesta fase, pode ser oferecido aconselhamento à pessoa com
doença de Fabry e à sua família, para que possam aprender qual o impacto que
isso irá ter nas suas vidas.
Métodos de diagnóstico
Testes familiares
Testes familiares
Uma vez que a doença de Fabry é uma doença ligada ao cromossoma X, é
muito provável que outros membros da família do indivíduo afetado também a
tenham. O rastreio familiar permite ao médico diagnosticar e monitorizar
devidamente os familiares com doença de Fabry.
Hoje já existe uma terapia específica para a doença de Fabry chamada TRE-
Terapia de Reposição Enzimática. Estudos demonstraram que a TRE para Fabry é
geralmente bem tolerada e apresenta um efeito benéfico sobre uma ampla gama
das manifestações da doença de Fabry(9) (10).
A introdução da terapia de reposição enzimática (TRE) em 2001 representou um
marco para o tratamento dos pacientes com a doença de Fabry, visto que até
aquele ponto, a única opção terapêutica disponível para os clínicos era a conduta
sintomática. A terapia de reposição enzimática é indicada para o tratamento a
longo prazo nos pacientes com um diagnóstico confirmado da doença de Fabry(9)
(10).
Prognóstico
Com a idade, desenvolvem-se danos progressivos para os sistemas de órgãos vitais,
possivelmente levando à falência de órgãos. O estadio final da doença renal e as complicações
cardiovasculares ou cérebro-vasculares com risco de vida limitam a esperança de vida de
homens e mulheres não tratados com reduções de 20 e 10 anos, respectivamente, versus a
população em geral.
Análises ao sangue
Análises à urina
Testes cardíacos
Testes neurológicos
Testes de audição
Exames oculares
Testes para avaliar a depressão e ansiedade
Terapêutica de substituição enzimática
A doença de Fabry é uma doença para a qual estão disponíveis terapêuticas de
substituição enzimática (TSE) em diversos países. Estas TSE têm como objetivo
substituir a enzima endógena, portanto, remover a GL-3 das células, evitando a
sua acumulação nas células.
Chaperones Farmacológicas
Dependendo da mutação no gene GLA, alguns doentes de Fabry podem
produzir uma quantidade residual da enzima alfa-GAL ou produzir uma enzima
com pequenos defeitos. As chaperones farmacológicas ligam-se a esta enzima
residual/defeituosa estabilizando-a e encaminhando-a para o lisossoma, onde
poderá exercer a sua função. Para esta terapêutica oral é necessário identificar o
tipo de mutação, uma vez que esta não é uma opção de tratamento para todas
as mutações, ou seja, para todas as pessoas com doença de Fabry.
11. Estatística
A incidência anual é de 1 em 80000 nados vivos, afeta uma em cada 20 000 mulheres e um em cada
40 000 homens4,
12. Curiosidades
Fabry Awareness Month têm sido promovidas várias iniciativas de sensibilização do público em geral,
com o intuito de apoiar os doentes de Fabry e as suas famílias.
Descreve-se o caso de
doente do sexo feminino, com antecedentes de acidente vascular
cerebral (AVC) isquémico criptogênico com 38 anos e insuficiência
renal crónica (IRC) com proteinúria, que se apresenta no serviço de
urgência com fibrilhação auricular. O estudo ecocardiográfico revelou
hipertrofia concêntrica do ventrículo esquerdo com disfunção
diastólica e diminuição do strain longitudinal basal. Englobada num
protocolo, de rastreio, foi-lhe diagnosticada doença de Fabry e
identificada uma mutação não descrita previamente.