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A Labeling Approach Theory também conhecida como etiquetamento, reação

social, rotulação ou interacionismo simbólico, manifestou-se nos anos de 1960 nos


Estados Unidos. De acordo com essa concepção, a criminalidade não é uma qualidade
da conduta humana, mas um “rótulo” concedido a àqueles que a sociedade define como
delinquentes, ou seja, uma conduta considerada desviante recebe uma etiqueta ou rótulo
pela sociedade.

Andrade (1997, p. 205) preleciona que:

[...] o Labelling parte dos conceitos de ‘conduta desviada’ e ‘reação social’


como termos reciprocamente independentes, para formular sua tese central: a
de que o desvio – e a criminalidade – não é uma qualidade intrínseca da
conduta ou uma entidade ontológica pré- -constituída à reação social (ou
controle social), mas uma qualidade (etiqueta) atribuída a determinados
sujeitos através de complexos processos de interação social, isto é, de
processos formais e informais de definição e seleção.

Com o nascimento desta teoria, aparecem novos questionamentos, tendo em vista


que não se questiona mais o que leva o criminoso a praticar crimes, mas por que alguns
indivíduos são tratadas como criminosos, quais são os efeitos negativos desse
tratamento e qual a origem de sua legitimidade.

Assim sendo, surgem questões acerca do desvio, agentes de controle, as formas


de criminalização, os processos e os mecanismos que a sociedade utiliza para etiquetar
as pessoas e quais comportamentos são rotulados como desviantes. Para entender
melhor a teoria, impende-se esclarecer o que seria um desvio sob essa ótica.
A conduta considerada como desviante pode ser vista como a soma de dois
fatores, no qual deve-se analisar a sua natureza, se ele descumpre alguma regra existente
e como a sociedade reagem a esta conduta.
Becker (2008) alude categoricamente sobre o desvio com o seguinte
apontamento:

Se o ato é ou não desviante, portanto, depende de como outras pessoas reagem


a ele. [...] O simples fato de uma pessoa ter cometido uma infração a uma regra
não significa que outros reagirão como se isso tivesse acontecido.
(Inversamente, o simples fato de ela não ter violado uma regra não significa
que não possa ser tratada, em algumas circunstâncias, como se o tivesse feito.
(BECKER,2008, p. 24)
O autor alude que o grau em que um ato passará a ser tratado como desviante,
depende exclusivamente de quem o pratica e de quem se sente afetado pelo fato
qualificado como desviante, posto que as regras tendem a ser aplicadas a alguns
indivíduos, mais do que os outros. Diante deste cenário, entende-se que o mesmo
comportamento que permite remeter alguém à prisão, também permite classificar o
outro como honesto, visto que a imputação valorativa do ato está atrelada as
circunstâncias em que se realiza fato em si, e por este motivo, a teoria do Labeling
Approach enfatiza o seu estudo na reação social, ou melhor, na inter-relação entre o ato
praticado e a sociedade, sendo decisivo para a criminalização da conduta.
O professor Shecaira pontua que:

Para os autores do Labelling Approach a conduta desviante é o resultado de


uma reação social e o delinquente se distingue do homem comum devido à
estigmatização que sofre. Daí o tema central desta teoria ser precisamente o
estudo do processo de interação, o qual o indivíduo é chamado de
delinquente. (SHECAIRA, 2013, p. 253.)

O comportamento desviante associado à criminalidade é dividido pela teoria


entre criminalização primária e secundária. Para Edwin Lemert, a noção de desvio
primário está relacionada a transtornos de ordem mental, defeitos físicos, alcoolismo,
incapacidades pessoais, prostituição e o uso de substâncias ilícitas, associando-se a
fatores sociais, culturais, psicológicos ou até mesmo fisiológicos.
Mesmo que seja considerado malquisto pela sociedade, o desvio primário implica
na marginalização do indivíduo relacionado ao psíquico e o status do indivíduo.
Deste modo, podemos entender o desvio primário como a primeira transgressão à
norma, sendo determinada por um dos fatores previamente citados.
O desvio secundário, por sua vez, corresponde a ação punitiva exercida sobre
pessoas concretas como uma resposta aos problemas ocasionados pela reação negativa
por parte da sociedade ao seu desvio primário.
Esses problemas giram ao entorno da estigmatização do indivíduo, seletividade
penal, segregação e controle social, essa repulsa social acaba se tornando o fator central
na vida do desviante, modificando a estrutura psíquica, autoestima, seu papel social e
atitudes, a vida e a identidade do indivíduo passa, portanto, a ser regulada em função do
desvio cometido.
Portanto, as consequências da rotulação social traduzem o desvio secundário,
cuja a implicação gera efeitos danosos alternado a própria identidade social do sujeito e
a forma como ele se coloca ou se exclui- na sociedade, exercendo o papel que lhe foi
forçosamente imposto, tendo como resultado o aumento do índice de reincidência
criminal.
Mesmo que o indivíduo pratique ações consideradas “positivas” pela sociedade,
basta apenas um único desvio à norma criminal, mesmo que de menor relevância ou
potencial ofensivo, para a sociedade julgar o seu caráter inserindo numa categoria
irreversível.
Assim sendo, Shecaira assevera que:

A concepção de crime como produto de normas (criação do crime) e de poder


(aplicação de normas) define a lei e o processo de criminalização como
“causas” do crime, rompendo o esquema teórico do positivismo e dirigindo o
foco para a relação entre estigmatizarão criminal e formação de carreiras
criminosas: a criminalização inicial produz estigmatização que, por sua vez,
produz criminalizações posteriores (reincidências). (SHECAIRA, 2013,
p.256).

Em linhas gerais, é possível asseverar que essa corrente sociológica deve ser
caracterizada pela asserção de que o sujeito se torna aquilo que os outros enxergam
dele, em consonância com este mecanismo, a pena e a sistemática processual exercem
uma função reprodutora: a pessoa rotulada como delinquente acaba assumindo o papel
que lhe foi atribuído, comportando-se em conformidade com o mesmo. Todo o aparato
do sistema penal encontra-se preparado para essa rotulação e para o amparo desses
papéis.
Portanto, é imprescindível investir em condições adequadas para o cumprimento
da pena bem como no fortalecimento de políticas públicas que tratem a pós prisão,
sobretudo no tocante a reinserção do preso na sociedade.

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